Buscar

O DEBATE SOBRE AS ORIGENS DA GRANDE DERESSÃO E AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS

Prévia do material em texto

O DEBATE SOBRE AS ORIGENS DA GRANDE DERESSÃO E AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS
INTRODUÇÃO
Seguindo anos de grande prosperidade econômica, o monstro da Grande Depressão veio para ser a mais duradoura e profunda de toda a história até então. Mesmo anos após a quebra da Wall Street, a economia continuava condenando grande parte da força de trabalho ao desemprego, levando muitos homens de negócios e fazendeiros à deriva, e quase levando o sistema bancário a um naufrágio.
No debate sobre da Grande Depressão, ainda é difícil um consenso, porém, mesmo uns não querendo atribuir suas origens a uma debilidade do sistema capitalista, preferindo culpar erros nas políticas governamentais ou erradas decisões das autoridades monetárias, há uma grande convergência de ideias em que a Grande Depressão tem seu início com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929.
Os ortodoxos e defensores do sistema capitalista vigente diziam que com o tempo, os mecanismos de mercado gerariam suas próprias forças e se autorregulariam. Porém, isso não aconteceu, e a economia foi afundando cada vez mais e assim, aumentando assustadoramente a taxa e desemprego.
A severidade da Grande Depressão e seu prolongamento levaram a uma falta de confiança na visão econômica ortodoxa, ao mesmo tempo em que as soluções apresentadas não funcionavam ou até pioravam a situação. E, na medida em que a base para o liberalismo econômico foi recebendo mais e mais golpes, novos conceitos, ou antigos que ressurgiram, começaram a ganhar força. Toma-se uma nova direção enquanto buscavam explicações para a profundidade e duração da depressão, a expansão economica teria agora que se ser revivida por novas políticas que somente o Estado poderia implementar.
AS ORIGENS DA GRANDE DEPRESSÃO
A teoria desenvolvida por Milton Friedman serve de base para a compreensão da Grande Crise. Considerado um dos mais influentes economistas do século, Friedman acreditava em um sistema de livre mercado e na mínima intervenção estatal. Sua teoria, baseada na escola monetarista, via a moeda como a protagonista da economia e a seria a maior das fontes de perturbações econômicas. Para este grande intelectual, as instabilidades nas políticas econômicas, principalmente na política monetária, seriam as principais geradoras das crises na economia.
Nesta visão, a oferta de moeda entra como principal coadjuvante econômico, isto é, quanto maior a oferta de moeda, a economia será prospera, e quanto menor for, a economia não se sustentaria e romperia com o sistema. Assim, para ele, a Crise de 1929 teria origem em uma política monetária contracionista. Então, o próprio FED, o ofertante de moedas, seria o culpado da Crise que posteriormente se transformaria na temida Grande Depressão.
Portanto, na visão de Friedman, a origem da Grande Depressão se deu na contração da oferta de moedas na economia, redução que esteva relacionada ao aumento na quantidade de compulsórios que os bancos comerciais deveriam deixar no FED. Para ele o Banco Central deveria manter uma oferta fixa de moedas para que fossem evitadas grandes contrações que poderiam gerar grandes problemas como fora a Grande Depressão. Porém, como não há um consenso em relação às origens da Grande Depressão, muitos descordam da teoria de Friedman.
Para Tom Kemp, o crescimento súbito das ações, causada pela expansão dos negócios e pela grande lucratividade do fim dos anos 20, através do aumento significante da participação e dos empréstimos no comércio de capitais do mercado, levou a uma grande especulação e ao encorajamento de investidores para superarem a si mesmos, levando ao aumento artificial dos preços sem terem alguma relação com o valor real dos haveres. Os especuladores da bolsa estavam vagamente cientes disso, mas ninguém poderia saber quando o apogeu poderia chegar; todos esperavam sair fora no momento certo.
Quando finalmente chegou o apogeu e a bolha estourou, todos tentaram vender suas ações ao mesmo tempo, o que levou os preços a uma queda drástica. Junto com a devastação da Wall Street, toda a nação americana estava afundando. E não somente o EUA, mas o mundo todo sofreu com o colapso da economia. As produções, que antes já estava em gradual declínio na Europa, caíram assustadoramente; os preços decadentes faliram fábricas e fazendeiros, que tiveram que fechar portas ou reduzir drasticamente a produção. A falência e o desemprego atingiram todo lugar em nível recorde.
Para Kemp, os efeitos de acumulação de capital, os investimentos vitais americanos em fábricas e maquinários na Europa para a recuperação dos países após a Primeira Grande Guerra, e a nova capacidade industrial que, em 1929, chegou no limite do existente mercado e a crescente competição internacional pela exaustão de novas oportunidades, somados a queda da Wall Street, foram a origem da Grande Depressão que levou a um aumento do desemprego e uma enorme miséria que fez dos anos 30 os piores da história social americana.
Nos EUA, Hoover que acreditava nas forças de livre mercado, recorreu ao comércio para manter o emprego e impedir o corte nos salários, porém não conseguiu resistir a crescente reação protecionista dos, principalmente por parte dos fazendeiros. O resultado foi o oposto do procurado; tarifas retaliatórias feitas por outros países precipitou o declínio das exportações americanas, agravando ainda mais a depressão. As forças de livre mercado pareciam ameaçar a auto-destruição do sistema de economia na medida em que os empresários apenas procuravam fazer o que era melhor para suas próprias empresas e suas contas de ganhos e perdas. E até mesmo Hoover teve de se afastar do voluntarismo em direção a algum grau de intervenção pública e de controle. E, na medida em que a base para o liberalismo econômico foi recebendo mais e mais golpes, novos conceitos, ou antigos que ressurgiram, começaram a ganhar força.
Se as forças de mercado falharam em trazer a recuperação, isto automaticamente colocou em questão o que poderia ser o papel do governo para solucionar isto. Em sua ideologia econômica, o sucessor de Hoover, não seria menos conservador. Roosevelt, prometeu uma economia de governo e um orçamento equilibrado. A intervenção do governo seria limitada a necessidade de ajudar as instituições básicas do capitalismo; a nacionalização de indústrias chaves ou empresas centrais nunca foi considerada. A crença na propriedade privada, no livre empreendimento e na economia de mercado, foi parte tanto dos ideais de Roosevelt como nos de Hoover.
AS POLÍTICAS ANTICÍCLICAS
As políticas clássicas para conter a catástrofe foram falhas, e os governos, ainda com fé nas soluções apresentadas pelo padrão-ouro, permaneciam insistindo nesse tipo de regime que pioravam cada vez mais as condições. Assim, a economia ortodoxa, que defendia a neutralidade da moeda e a tendência natural ao equilíbrio econômico em pleno emprego, a existência uma força que ajusta o mercado de forma livre, sem a necessidade de pressões externas, e a Teoria do Equilíbrio Geral que diz que com a flexibilidade de preços e dos fatores de produção levaria a um ponto de máxima eficiência, tinha ficado obsoleta. A severidade da depressão econômica refletiu a contradição fundamental existente entre os princípios tradicionais da economia mundial clássica e a nova organização das sociedades internacionais e domésticas.
A velha ordem não promoveu crescimento econômico, nem estabilidade, tampouco proteção contra o caos. Também não trouxe paz nem cooperação. E um novo capitalismo foi sendo organizado em torno de grandes empresas e movimentos trabalhistas fortes, junto com a fragilidade financeira e a rigidez de preços e salários. 
A teoria keynesiana afirma que a política fiscal, no curto prazo, tem efeito positivo sobre o nível de atividade econômica, logo, os gastos públicos causariam mudanças no nível agregado do PIB real sendo usados para corrigir as flutuações cíclicas da economia. Ou seja, para a política fiscal anticíclica keynesiana, o aumento da participação do investimentopúblico seria o mais importante para a estabilização do investimento e da demanda efetiva.
Com base nos princípios apresentados por Keynes nos seus escritos sobre o financiamento dos gastos do governo britânico para o período pós-guerra, a política fiscal deve: 
a) gerar equilíbrio intertemporal do orçamento público;
b) apoiar-se na realização de investimentos públicos como “estratégia preventiva” para a estabilização do nível de demanda efetiva.
Hyman Minsky, economista do paradigma pós-keynesiano, enfatizada o papel endógeno da moeda e as especulações financeiras. Minsky, em sua teoria tem como estrutura uma economia intensiva de capital, com investimentos de longo período de maturação, instituições financeiras complexas e em constante evolução. Diferente da teoria de Keynes, onde a instabilidade do investimento era a causa imediata das crises, para Minsky a causa mais profunda dos ciclos econômicos em uma economia com as instituições financeiras do capitalismo é a instabilidade dos portfólios e as inter-relações financeiras. 
De acordo com Friedman, da escola monetarista, a política keynesiana não movimenta a economia, não é eficiente para o trato dos ciclos e é inflacionária, apenas gera variações nos preços e não da riqueza. Ele considera inútil e prejudicial a intervenção estatal no desenvolvimento da economia por meio de despesas de investimento. Para ele, a teoria keynesiana não é capaz de tirar a economia da crise e a inflação surgiria dos desequilíbrios entre oferta e demanda agregada. Políticas monetárias e fiscais mudam a demanda agregada, mas não mudam a oferta agregada no mesmo momento e na mesma proporção, o que gera inflação.
Para Friedman, todas as regras que atrapalhavam a acumulação de lucros deveriam ser extintas, e acreditava que muitas das deficiências do mercado seriam consequências das intervenções estatais. É necessário abandoná-las, e as crises seriam momentos adequados para tal ato. Nas crises, os governos e a sociedades estariam mais vulneráveis e suscetíveis a mudanças, e quanto mais livre for o mercado, mais eficiente ele será.
BIBLIOGRAFIA
KEMP, Tom. “The Climax of Capitalism: The US Economy in the Twentieth Century”, 1990.
FRIEDMAN, Milton. “The Quantity Theory of Money, a Restatement”, 1956.
FRIEDMAN, Milton; SCHWARTZ, Anna J. “Money and Business Cycles”, 1965.
FRIEDEN, Jeffry A. “Capitalismo Global: História Econômica e Política do Século XX”, 2006.
LOCHER, Lucas. “A Grande Depressão de 1929: Friedman e Minsky”, 2015.
MINSKY, Hyman. “John Maynard Keynes”, 2011.
MINSKY, Hyman. “Stabilizing na unstableeconomy”, 1986.

Continue navegando