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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO Flávio Tartuce I. CONCEITO DA LINDB; II. ESTRUTURAÇÃO DA LINDB; III. VIGÊNCIA DAS NORMAS (ARTS. 1º E 2º): a. Lei como fonte primária; b. Vacatio legis; c. Norma corretiva; d. Princípio da continuidade; e. Repristinação; f. Características da lei. IV. OBRIGATORIEDADE (ART. 3º); V. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS; a. Analogia; b. Costumes; c. Princípios gerais de direito; d. Equidade; e. Lacunas de conflitos (antinomias). VI. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS (ART. 5º); VII. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO (ART. 6º). I. CONCEITO DA LINDB: A LINDB (antiga LICC) é norma de sobredireito, ou seja, norma jurídica que visa regulamentar outras normas (lei sobre lei/lex legum). Vale ressaltar, entretanto, que a LINDB não é a única lei que disciplina outras leis. Existe também a Lei Complementar n. 95/1998, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis. A alteração do nome de LICC para LINDB deixou claro que a Lei de Introdução dispõe sobre todos os ramos do direito. A LINDB apenas está anexa ao CC, mas dele não faz parte. O seu conteúdo interessa mais à Teoria Geral do Direito do que ao Direito Civil propriamente dito. Portanto, a aplicação da LINDB é universal a todos os ramos do Direito. Repare, contudo, que algumas disciplinas do Direito excepcionam as regras da LINDB. Por exemplo, a analogia é um meio geral para supressão de lacunas legais. Todavia, no Direito Tributário, a analogia não poderá resultar na exigência de tributo (art. 108, §1º, do CTN). No Direito Penal, por sua vez, a analogia só poderá ser usada em favor do réu (analogia in bonam partem). II. ESTRUTURAÇÃO DA LINDB: A LINDB está estruturada da seguinte maneira: Vigência das normas – Arts. 1.º e 2.º Obrigatoriedade das leis – Art. 3.º Integração da norma – Art. 4º Interpretação das normas – Art. 5º Aplicação da Lei no Tempo – Art. 6.º Aplicação da Lei no Espaço – Arts. 7º ao 19. Observação! A aplicação da norma jurídica no espaço não interessa tanto ao estudo do Direito Civil, vez que se trata de matéria afeta ao Direito Internacional Privado. Por constar no Edital de forma genérica, aconselha-se apenas a leitura dos artigos 7º a 19 da LINDB, sem maiores aprofundamentos. III. VIGÊNCIA DAS NORMAS (ARTS. 1º E 2º): Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. § 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). a. Lei como fonte primária: O Civil Law (sistema jurídico romano germânico) é sistema adotado pelo direito brasileiro. Todavia, hodiernamente, com o advento da súmula vinculante e a valorização dos precedentes judiciais pelo novo CPC, o sistema brasileiro aproxima-se do Common Law. Vale, ainda, dizer que Estado de Direito é diferente do Estado de Legalidade. No Estado de Direito, o ponto de partida é a lei, mas outros valores são levados em conta pelo intérprete da lei. No Estado de Legalidade, impera o legalismo puro, sendo a lei o ponto de partida e o ponto de chegada, não importando o resultado que da literalidade da lei possa advir. a. Vacatio legis: Em território nacional, tem-se o seguinte quadro: Regra geral de vacância: 45 dias. Exceção: outro prazo específico previsto na lei. Vacatio legis é o prazo previsto em lei para que dela todos tomem conhecimento. É um prazo de espera que, apesar de a lei já ter sido promulgada e publicada, ela ainda não ganhou vigência. Veja o seguinte quadro para compreender melhor o tema: PROMULGAÇÃO Ato formal e solene atestando a existência e validade da norma (como uma homologação). Segundo Cristiano Chaves, a lei só “existe” quando é “promulgada”. PUBLICAÇÃO É a divulgação oficial que possibilita que todos tenham ciência do conteúdo da norma, tornando-a inescusável pelo não conhecimento; em regra, feita um tempo antes à entrada em vigor pelo princípio da não surpresa. VACATIO LEGIS É o período entre a publicação e o início de vigência da norma. Vacatio legis indireta: a lei está em vigor, mas autolimita a vigência de alguns dispositivos. Ex.: abolitio criminis temporária do Estatuto do Desarmamento). VIGOR A norma está pronta e vigente para aplicação, sendo obrigatória. EFICÁCIA Aptidão para produção de efeitos concretos. O que é eficácia social? É a efetiva produção de efeitos concretos. Ex.: Norma em desuso é válida, vigente e eficaz juridicamente, sem, contudo, apresentar eficácia social. CESPE, INSS, 2008: As leis, em sentido amplo, nascem com a promulgação. CERTO CESPE, TJ-AC, 2012: A vigência da norma começa com sua promulgação. ERRADO Segundo o art. 8º, da LC 95/98, toda lei tem que contemplar prazo razoável de vacatio para que todos dela tomem conhecimento, in verbis: Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. Como visto, apenas aplica-se a fórmula “esta lei entra em vigor na data de sua publicação” às leis de pequena repercussão. No período de vacatio, conta-se o dia da publicação e o dia do término. O primeiro e o último dia podem cair em feriados e finais de semana. Isso não importa. A lei entra em vigor no dia seguinte à consumação integral da vacância. O período da vacatio legis conta-se em dias. Não é em meses, nem em anos. O CC de 2002 tinha vacatio legis de 1 ano. No REsp 1052779, ficou consignado que o novo CC entrou em vigor no dia 11 de janeiro de 2003, levando-se em conta a contagem dia a dia. CESPE, TCE-SC,2016: Caso determinada lei tivesse sido publicada no dia doze de fevereiro — sexta-feira —, o prazo de vacatio legis começaria a fluir no dia quinze de fevereiro. ERRADO Por fim, vale ressaltar que a LINDB acolheu o sistema da obrigatoriedade simultânea ou vigência sincrônica, ou seja, a lei entra em vigor na mesma data em todo o território nacional. Nos Estados estrangeiros, por sua vez, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. b. Norma corretiva: § 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. § 4º. As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Se a lei for publicada com incorreções e erros materiais, mas não entrou em vigor, não é necessária nova lei para corrigi-la. Basta a repetição da publicação, sanando os erros e reabrindo, destarte, o prazo da vacatio legis em relação aos artigos republicados. Entretanto, se a lei já entrou em vigor, é necessária a edição de uma nova lei para corrigi-la, que é denominada lei corretiva, cujo efeito, no silêncio, se dá após o decurso do prazo de 45 dias a contar da sua publicação. c. Princípio da continuidade: Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1º. A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava alei anterior. § 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. Não sendo temporária, a lei tem vigor até que outra modifique ou revogue. Esse é o princípio da continuidade das leis. Vale dizer que a regra é que a lei não seja temporária. Logo, em regra, a lei posterior revoga anterior quando: expressamente o declare; seja incompatível; regule inteiramente a matéria. FCC, PGM-SLZ, 2016: A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. CERTO REVOGAÇÃO (EXTENSÃO) TOTAL >>> ABROGAÇÃO Ex: CC/1916 foi ab-rogado por CC/2002. PARCIAL >>> DERROGAÇÃO Ex: 1ª parte do CCom foi derrogado por CC/2002. REVOGAÇÃO (MODALIDADES) EXPRESSA/DIRETA: Declara a revogação ou aponta os dispositivos que pretende retirar. TÁCITA/OBLÍQUA: Lei posterior incompatível, não havendo previsão expressa da revogação. A exceção fica por conta das leis temporárias. Nesse caso, a retirada da norma do mundo jurídico não significa a impossibilidade de aplicação da norma revogada, vez que as leis temporárias possuem ultratividade. Como visto, a lei posterior geral não revoga lei especial. Igualmente, a lei especial não revoga a geral. A essa regra, dá-se o nome de princípio da conciliação ou das esferas autônomas, o qual consiste na possibilidade de convivência das normas gerais com as especiais que versem sobre o mesmo assunto. d. Repristinação: § 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. A repristinação significa que a lei revogadora restabelece os efeitos da lei revogada. A repristinação não é a regra no ordenamento jurídico, mas pode ocorrer se houver expressa previsão legal. Não se pode confundir a repristinação com a ocorrência de efeitos repristinatórios. Esses últimos são afetos ao controle de constitucionalidade concentrado. e. Características da lei: Generalidade: erga omnes; Imperatividade: deveres e condutas; Permanência: perdura até revogação; Autorizante: autoriza ou não a conduta; Competência: deve emanar de autoridade competente. IV. OBRIGATORIEDADE (ART. 3º): Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Não há presunção absoluta do princípio da obrigatoriedade. Ao revés, o CC prevê de forma expressa exceção. Com efeito, o art. 139, III, do CC admite a existência de erro substancial quando a falsa noção estiver relacionada com um erro de direito (error iuris). V. INTEGRAÇÃO DAS NORMAS (ART. 4º): Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Quando a lei for omissa, diz-se que há lacuna da lei. Repare que a lacuna é da lei e não do Direito, pois há um dever do aplicador do direito de corrigir as lacunas (vedação do não julgamento ou do non liquet - artigo 126 do CPC/1973). No caso de lacunas da lei, devem ser aplicadas as seguintes técnicas: analogia, costumes e princípios gerais do direito. As espécies de lacunas são: 1.Normativa: ausência total de norma para um determinado caso concreto. 2.Ontológica: presença de norma, mas sem eficácia social. 3.Axiológica: presença norma, mas cuja aplicação é insatisfatória ou injusta. 4.Conflito/antinomia: choque de duas ou mais normas válidas. A LINDB especifica os métodos de integração da lei. A ordem desses métodos de integração é preferencial? Sobre o tema, há duas correntes. A primeira corrente defende que a ordem é preferencial e taxativa. Trata-se de uma posição doutrinária clássica. É a linha adotada pelo CESPE. Veja: CESPE, TCU, 2015: A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro prevê, em ordem preferencial e taxativa, como métodos de integração do direito, a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. CERTO Todavia, há uma linha mais moderna que afirma que nem sempre essa ordem será preferencial. Isso porque muitos princípios gerais do direito foram transportados para a Constituição Federal, de modo que, por ser norma superior, não podem ser vistos como último recurso na integração das normas. Ex: princípio da dignidade da pessoa humana. O tema traz à tona a constitucionalização do direito civil, que é a releitura dos institutos clássicos do Direito Civil a partir da Constituição Federal. PERGUNTA: Qual a diferença entre constitucionalização e publicização do Direito Civil? Segundo Paulo Luiz Netto Lobo: “Pode afirmar-se que a constitucionalização é o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. Durante muito tempo, cogitou-se de publicização do direito civil, que, para muitos, teria o mesmo significado de constitucionalização. Todavia, são situações distintas. A denominada publicização compreende o processo de crescente intervenção estatal, especialmente no âmbito legislativo, característica do Estado Social do século XX. Tem-se a redução do espaço de autonomia privada para a garantia da tutela jurídica dos mais fracos. A ação intervencionista ou dirigista do legislador terminou por subtrair do Código Civil matérias inteiras, em alguns casos transformadas em ramos autônomos, como o direito do trabalho, o direito agrário, o direito das águas, o direito da habitação, o direito de locação de imóveis urbanos, o estatuto da criança e do adolescente, os direitos autorais, o direito do consumidor.” a. Analogia: A analogia é a aplicação de norma próxima ou conjunto de normas próximas quando não há norma para o caso concreto. A analogia pode ser de duas espécies: analogia jurídica ou analogia juris. A analogia legal ou legis é a aplicação de somente uma norma próxima. Ao passo que a analogia jurídica ou iuris é a aplicação de um conjunto de normas próximas. ANALOGIA ≠ INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA A analogia é método de integração. Ela transporta uma norma aplicável a uma determina situação para aplicação em outra norma. Já a interpretação extensiva é a ampliação do sentido da norma, de modo que há mera subsunção. b. Costumes: O conceito de costumes é a prática e usos reiterados com conteúdo lícito. COSTUMES: REITERAÇÃO + CONTEÚDO LÍCITO Os costumes podem ser: a) Secundum Legem: Não há integração, mas subsunção. O texto legal faz referência expressa aos costumes, logo a própria norma jurídica é aplicada. b) Praeter Legem: Quando a lei for omissa. O costume, nesse caso, é integrativo. Ex: Cheque pós-datado. Como não há lei proibindo, as práticas comerciais levaram ao uso reiterado do cheque pós-datado, tanto que o STJ sumulou o entendimento, segundo o qual “Configura dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado” (Súmula 370 do STJ) c) Contra Legem: Contrário à lei. Havendo desuso, poderá o costume ser aplicado (não é pacífico). Não há integração. c. Princípios gerais de direito: O CC/2002 baseia-se em três pilares fundamentais: 1.Eticidade: Ética e boa-fé. Lealdade na conduta. Tríplice função da boa-fé objetiva (integração, interpretação e controle). 2.Operabilidade: Simplicidade (facilitação) + Efetividade + Concretude (Cláusulas gerais). PERGUNTA:Qual a diferença entre cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados? Cláusulas gerais são normas com diretrizes indeterminadas, que não trazem expressamente uma solução jurídica (consequência). A norma é inteiramente aberta. Conceito jurídico indeterminado ocorre quando palavras ou expressões contidas numa norma são vagas/imprecisas, de modo que a dúvida encontra-se no significado das mesmas. Todavia, as consequências legais de seu descumprimento são conhecidas. Assim, na cláusula geral a dúvida está no conteúdo e na solução legal, enquanto que no conceito jurídico indeterminado a dúvida somente está no conteúdo, e não na solução legal, pois esta já está predefinida em lei. 3.Socialidade: Superar o individualismo do CC/1916. Tudo tem função social: posse, empresa, propriedade, contrato, etc. CAIU NA PGE SP 2012 – PROVA DISCURSIVA – DIREITO CIVIL! Falar sobre a função social da posse e citar exemplos previstos no Código Civil. d. Equidade: É fonte informal/indireta do Direito. O julgamento “por” equidade é fonte do direito quando a lei atribui ao juiz a possibilidade de julgar conforme os seus ditames. A equidade classifica-se como: 1. Equidade legal: aplicação prevista no próprio texto. Todavia, o texto não fala expressamente em equidade, deixa implícita a ideia. Ex: 413 do CC. 2. Equidade judicial: presente quando o texto fala expressamente que o juiz deve decidir por equidade no caso concreto. Ex: 127 do CC. e. Lacunas de conflitos (antinomias): A antinomia é a presença de duas normas válidas que conflitam entre sim, sem que se possa saber exatamente qual mereça aplicação no caso concreto. Os metacritérios clássicos construídos por Norberto Bobbio são: i. Hierarquia: A norma de hierarquia superior prevalece sobre a norma de hierarquia inferior. ii. Especialidade: A norma especial prevalece sobre a geral. iii. Cronológico: A norma mais nova prevalece sobre a mais antiga. MAIS FORTE >>>>>>>>>>>>>>> MAIS FRACO HIERARQUIA > ESPECIALIDADE > CRONOLÓGICO DECORAR: H.E.C. Estabelecidos os metacritérios básicos, as antinomias classificam-se pela quantidade de metacritérios utilizados: 1. Antinomia de 1º grau: 1 metacritério. Ex: Norma geral x norma especial – prevalece a norma especial, segundo o metacritério da especialidade. 2. Antinomia de 2º grau: 2 metacritérios. Ex: Norma superior anterior x norma inferior posterior. Observa-se o envolvimento dos metacritérios hierarquia e cronológico. Segundo a força dos metacritérios, prevalece a hierarquia. Logo, a norma superior anterior prevalece. Se os metacritérios podem solucionar a antinomia, logo a antinomia é aparente. Se os metacritérios não conseguem solucionar a antinomia, logo a antinomia é real. VI. INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS (ART. 5º): Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Vale lembrar que a intepretação do Direito Civil deve sempre levar à aplicação do Direito conforme os preceitos constitucionais. O dispositivo, com efeito, sugere intepretação teleológica/finalística. Todavia, é cediço que outros modelos interpretativos podem ser utilizados. VII. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO (ART. 6º): Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. Uma lei nova, em regra, produz efeito geral e imediato, não se aplicando a fatos pretéritos. Aplica-se, contudo, a fatos pendentes e futuros. FCC,TRT-23R,2016: Objetivando construir uma casa, Cássio adquiriu terreno no qual existe um pequeno riacho. Depois da aquisição, entrou em vigor lei proibindo a construção em terrenos urbanos nos quais haja qualquer tipo de curso d'água. Referida lei possui efeito imediato, atingindo Cássio, porque este não possui direito adquirido. CERTO É importante frisar que não há impedimento a edição de leis retroativas. Veda-se apenas a retroatividade que atinja o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A retroatividade é possível mediante dois requisitos, em regra: a) cláusula expressa de retroatividade; b) respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. Exemplos: lei interpretativa, lei penal benéfica ao réu. CESPE, MC, 2013: O direito pátrio permite a retroatividade de lei cível se expressamente previsto e não ofender o direito adquirido, o negócio jurídico consumado de acordo com a lei vigente à época de sua realização, e a coisa julgada. CERTO Os três institutos (direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada) são corolários da segurança jurídica. Todavia, não são absolutos. A coisa julgada, por exemplo, é relativizada com a possibilidade de ajuizamento de Ação Rescisória. Há quem defenda que o ato jurídico perfeito e o direito adquirido também podem ser mitigados. Segundo o art. 2.035 do novo CC, “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar os preceitos de ordem pública tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.” Todavia, a matéria é bem controversa. No tocante às relações jurídicas continuativas, vale dizer que os preceitos de ordem pública podem atingir os efeitos pendentes, mas sua existência e validade fixam-se de acordo com a lei vigente à época da celebração. A eficácia será regida de acordo com a lei vigente no tempo da produção dos efeitos da relação jurídica. Sendo assim, nos atos ou negócios de execução continuada, a proteção ao direito adquirido ou ao ato jurídico perfeito é limitada à data de entrada em vigor da lei de ordem pública, estancando os seus efeitos a partir de então. Veja o seguinte quadro: RETROATIVIDADE DEFINIÇÃO MÁXIMA A lei nova atinge fatos praticados e consumados (exauridos) antes de sua vigência. (ex.: Poder Constituinte Originário – No RE 140.499, o STF disse que a regra é a retroatividade minima do PCO. Todavia, ele pode prever a retroatividade máxima ou média) MÉDIA A lei nova atinge os direitos que, embora exigíveis desde antes da sua vigência, ainda não foram efetivados. (ex.: Normas de Ordem Pública como a Função Social do Contrato no CC/02) MÍNIMA A lei nova incide apenas sobre os efeitos futuros dos atos passados. (ex.: Regra do CC/02)
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