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PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO AULA 09 de 2016.2 PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Historicamente, a Psicologia de Testemunho é uma das primeiras articulações entre Psicologia e Direito. Determina que não só os criminosos devem ser examinados, mas também os processos internos que propiciam ou dificultam a veracidade do relato das testemunhas a respeito do que foi visto ou vivido. A entrevista forense é um dos componentes mais importantes da investigação. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO O juiz não presenciou o fato em relação ao qual irá sentenciar, portanto se faz necessário o testemunho, em que as pessoas relatam os detalhes do ocorrido (Souza, 1988). As entrevistas forenses, portanto, são aquelas projetadas para facilitar o recolhimento de evidências pelas declarações da vítima ou testemunhas (PISA, 2006). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Os depoimentos, englobando todas as formas, estão sujeitos a imperfeições, como erros, falhas, excessos e outros riscos, decorrentes de defeitos na fixação, conservação e evocação da percepção, e também fatores específicos ligados à idade, sexo, nível mental, condições sociais e familiares (SOUZA, 1988). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO O testemunho de uma pessoa sobre um acontecimento qualquer depende essencialmente de cinco fatores (MIRA Y LOPEZ, 2005): 1- do modo como percebeu esse acontecimento; aspecto que envolve condições externas (meios) e internas (aptidões) de observação; 2- do modo como sua memória o conservou, processo neurofisiológico que sofre influências das condições orgânicas e do funcionamento mnêmico (memória); PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 3- do modo como é capaz de evocá-lo, processo mais complexo, que envolve aspectos psico-orgânicos que sofrem influências de mecanismos psíquicos como repressão e censura; 4- do modo como quer expressá-lo, referente ao grau de sinceridade, puramente psíquico; 5- do modo como pode expressá-lo, aspecto que engloba o grau de precisão expressiva, grau de fidelidade e clareza com que o indivíduo é capaz de descrever suas impressões e representações no intuito de que as demais pessoas as sintam ou compreendam como ele. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO O desafio de julgar A personalidade do juiz nos aspectos referentes à sua capacidade perceptiva, temperamento, memória, inteligência, caráter e outros fatores psicológicos aliados às experiências adquiridas e incorporadas progressivamente ao seu aparelho psíquico dão-lhe características únicas e pessoais que refletem em todo o processo de julgamento (SOUZA, 1988). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO O exame de uma questão judicial envolve compreender o confronto de linguagens e pensamentos entre o que pergunta e o que responde. O escopo metodológico de domínio de técnicas e procedimentos de entrevista e o estabelecimento de uma sintonia emocional com o entrevistado determinam a qualidade dos resultados obtidos nesse confronto. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A sintonia emocional “consiste em atingir uma interação entre entrevistador e entrevistado por meio da qual o entrevistador consiga compreender a natureza das principais emoções que dominam o entrevistado” (FIORELLI; MANGINI, 2009, p. 173) PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO O entrevistador deve estar atento a fatores que contribuem para o desvio da atenção, como cansaço físico, mecanismos psicológicos de defesa (atenção seletiva, discriminação de determinados detalhes e esquecimento ou desconsideração de outros), pensamentos automáticos, crenças arraigadas, esquemas de pensamento. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A conduta criminosa pode ser entendida de três maneiras diferentes pelo julgador, e a escolha por um viés de compreensão irá determinar os próprios critérios de avaliação dos fatos e de conduta em relação a eles. São elas (FIORELLI; MANGINI, 2009): 1- anormal, considerada criminologia tradicional, em que o conflito e seu contexto perdem a relevância; PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 2- derivada de conflitos interpessoais e processos sociais, porém responsabilizando cada indivíduo por seus comportamentos, considerada criminologia moderna; 3- derivada da sociedade, cabendo a esta assumir a responsabilidade pela conduta criminosa, incluindo identificação de formas de reinserção do indivíduo no meio social, considerada criminologia crítica. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Relato Espontâneo, Interrogatório e Confissão a) O relato espontâneo apresenta um relato menos deformado, mais vivo e puro. No entanto, pode ficar incompleto e irregular, apresentando elementos interpolados e com detalhes irrelevantes ao processo. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO b) O testemunho por interrogatório representa o resultado do conflito entre o que o indivíduo sabe de um lado e o que as perguntas que se lhe dirigem tendem a fazê-lo saber. A resposta mistura vivências espontâneas da pessoa interrogada, como também representações e tendências afetivas evocadas pela pergunta a que responde. A resposta pode não ser verdadeira porque a ideia que se encontra implícita na pergunta pode evocar por associação outra lembrança, não concordante com o que se deve testemunhar. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO c) Outra forma de testemunho pode acontecer por meio da confissão. Confessar um crime é expor-se voluntariamente à respectiva punição ou pode ser imposta pela evidência dos fatos (FIORELLI; MANGINI, 2009). A confissão, porém, não Constitui prova plena de culpabilidade. Deve haver harmonia entre a confissão e as demais provas e nenhuma discrepância, atestando assim que a confiabilidade se firme. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A confissão pode também ser falsa, motivada por valores morais (confissão para livrar outra pessoa), coesão grupal, solidariedade familiar, artifícios de defesa, obtenção de álibi, motivos materiais (pagamento e bonificações), fragilidade emocional (aparecimento de provas incriminadoras, influência do advogado) ou induzida por tortura. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Testemunho da Criança e do Idoso O pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet ficou conhecido por sua contribuição à psicometria com os primeiros testes de inteligência. Publicou a obra La Suggestibilité, após ter constatado erros involuntários de crianças submetidas a testes de recordação. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Ainda que os adultos e jovens sejam sugestionáveis, as crianças mais jovens apresentam um grau de sugestionabilidade significativamente maior por conta de apresentarem um cognitivo que desenvolve uma resposta segundo suas fantasias, do que deveria acontecer e por um desejo de se adequar às expectativas e pressões do entrevistador, culminando em um fator social. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO As declarações infantis também podem ser influenciadas pelo método de interrogatório e linguagem, enfim, a sensibilidade e a competência dos entrevistadores são elementos fundamentais para a obtenção do relato infantil, evitando problemas que podem interferir em sua confiabilidade. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO As declarações do testemunho de uma criança possuem valor. No entanto, alguns fatores podem comprometê-las e devem ser considerados, como o nível de desenvolvimento cognitivo, linguagem, coação, fantasia, memória e sugestionabilidade.As técnicas de inquirição ou tipos de entrevistas utilizados para se obterem as informações das crianças são alguns dos fatores externos que podem levar uma criança a distorcer internamente fatos por ela vivenciados ou testemunhados. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A adoção de técnicas de entrevista inadequadas pode levar a uma falta de base no julgamento, além da absolvição dos acusados ou acusação de um inocente (PISA, 2006). Acima de tudo, a criança deve ter sua integridade psíquica preservada e não ser submetida a situações que possam comprometê-la. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Há diferenças entre as características do âmbito do testemunho e a atuação clínica. A Psicologia do Testemunho prioriza ajudar os operadores da lei (juízes, promotores e advogados), usando técnicas adequadas ao aparato psicológico da criança e buscando um relato fidedigno dos fatos. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Na Psicologia Clínica, o foco é ajudar o paciente, utilizando técnicas psicodiagnósticas e terapêuticas, com base interpretação e representação dos fatos para o paciente. O contexto do testemunho também difere da perícia psicológica, pois no testemunho a busca de evidências é baseada na memória para os fatos. Já a perícia faz uma avaliação das condições e danos psicológicos. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A necessidade de cuidados na abordagem de testemunhas infantis deve priorizar a não contaminação dos relatos, de forma que seja possível identificar a fonte da declaração da criança; se foi proveniente da recordação de um evento experimentado ou de falsas memórias implantadas por entrevistas inadequadas. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO As crianças não estão habituadas a fornecer um relato de suas experiências, principalmente no caso de uma lembrança dolorosa de eventos estressantes; torna-se difícil reportar detalhes constrangedores no relato. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO A criança que passou por alguma situação criminosa, constrangedora, violenta ou presenciou algum delito, sobre os quais terá que testemunhar, torna-se fragilizada diante do interrogatório, podendo apresentar um relatório imaginativo e sugestionável (FIORELLI; MANGINI, 2009). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Faz-se necessário o treinamento dos entrevistadores para utilização de técnicas que protejam a vítima e garantam dados confiáveis para a resolução do caso. Para Pisa (2006), a adoção de um sistema de gravação das entrevistas ou inquirições realizadas com a vítima em áudio pode se traduzir em uma medida de auxílio ao no exame de confiabilidade do relato da vítima. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Foi observada a importância do rapport (técnica usada para criar uma ligação de sintonia e empatia com outra pessoa) ou da construção das regras da entrevista (PISA, 2006), para que a criança seja informada sobre o propósito da entrevista, favorecendo sua ambientação. Tais informações e contato possibilitam que o entrevistador conheça seu grau de compreensão e estabeleça um vínculo de confiança. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Para que a criança entenda o processo de inquirição, é necessário salientar as características e regras básicas do procedimento ao qual ela se submeterá: priorizar e enfatizar que a criança diga a verdade e faça a descrição dos fatos, já que o entrevistador não estava presente, permitir que ela questione quando não compreender uma pergunta, explicar que as perguntas podem se repetir e isso não implica no fato de a resposta estar errada, encorajá-la a corrigir o adulto, quando este não interpretar corretamente sua resposta. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO No testemunho de crianças, é necessário o uso de uma voz ativa, com frases simples, vocabulário que ela possa entender, evitando perguntas múltiplas e de difícil compreensão. A criança deve ser orientada a fazer o relato livremente sobre o evento, com todos os detalhes que puder recordar. O entrevistador não deve interromper o relato livre, que, embora seja menos detalhado, tende a ser mais preciso do que os relatos com questionamentos específicos. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Assim como o testemunho infantil, o depoimento do idoso pode ser caracterizado por falhas e imprecisões, visto que a velhice engloba um processo de desagregação psíquica, debilidade senil, queda da eficiência das funções psíquicas e consequentemente debilidade no processo de atenção, capacidade de fixação de estímulos. As novas percepções se fixam fracamente, desaparecendo rapidamente da recordação, podendo tornar o depoimento do idoso lacunar, confuso e incoerente em que fatos verídicos são confundidos com fatos imaginários (SOUZA, 988). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Tipos de Perguntas e Obtenção da Verdade As perguntas se configuram de forma diferente e podem se classificar como (PISA, 2006): 1- pergunta aberta: permite uma resposta detalhada com base na recordação; 2- pergunta fechada: o entrevistador fornece opção de escolha forçada, como sim/não, são perguntas de reconhecimento; PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 3- pergunta ou confirmação sugestiva: pergunta ou afirmação que apresenta alguma informação até então não mencionada pela criança, independentemente de ser correta ou não a informação; 4- pergunta múltipla: são feitas duas ou mais perguntas, sem permitir pausa para a resposta; PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 5- interrupção: a entrevistadora interrompe o relato da criança; 6- repetição: repetir a pergunta dentro de uma entrevista, ou seja, perguntar o que já havia sido perguntado anteriormente; 7- confirmação: afirmação ou pergunta feita imediatamente após a resposta do entrevistado com o objetivo de confirmar a resposta da criança. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Para Mira y Lopez (2005), as perguntas se apresentam em sete classes (seis), segundo o ponto de vista psicológico e gramatical: 1- determinantes: perguntas com pronomes interrogativos (como?, quando?, por quê?) são consideradas imparciais; 2- disjuntivas completas: são as perguntas formuladas explicitamente por duas possibilidades (era assim?, não era assim?); PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 3- diferenciais: são parciais (era preto o casaco?), probabilidade de obter respostas afirmativas são as mesmas que as de obter uma negação. Porém, na prática, é maior a probabilidade de se obter uma resposta afirmativa, ou seja, a maioria das testemunhas tende a responder de acordo com o conteúdo positivo da pergunta; 4- afirmativas e negativas condicionais: acarretam uma sugestão de obrigar a pessoa a decidir entre o sim ou não, condicionando a resposta ao que o interrogador espera; PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 5- disjuntivas parciais: situação em que o interrogado escolhe entre duas possibilidades, excluindo-se as demais, entre as quais pode estar a opção correta; 6- afirmativas por presunção: supõem que a testemunha possui uma lembrança, sem se verificar antes. Deve-se evitar esse tipo de pergunta, pois acarreta uma maior capacidade sugestiva para o erro. 7- ??? PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Os meios para obtenção de máxima sinceridade possível nas respostas dos testemunhos implicam em considerar a consciência moral dos declarantes, ou seja, o quanto levam em conta e acreditam em dizer a verdade à justiça. A estrutura de personalidade também deve ser reconhecida nessa situação, a fimde analisar como o indivíduo estabelece relações afetivas e a forma como os aspectos psíquicos influenciam o testemunho. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO No testemunho quando ocorre o caso de uma parcialidade, deve-se analisar se essa parcialidade acontece por uma razão imoral, por um motivo nobre ou características egoístas. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO É necessário distinguir duas espécies de verdade, a formal ou ideal e a real ou imaterial. A verdade formal ou ideal é pertinente ao processo civil, em que o juiz forma sua convicção através de provas constantes dos autos e consistentes em fatos e atos jurídicos, enquanto a verdade real ou imaterial diz respeito ao processo penal, exigindo um maior aprofundamento na sua verificação, incluindo o exame biopsicossocial da personalidade do agente. Nesse caso, o interesse público prevalece sobre o privado (SOUZA, 1988). PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Pessoas capazes e bem intencionadas, desejosas por relatar a verdade são levadas a cometer erros e distorções dos fatos, mesmo em condições favoráveis. Tal fato apresenta reflexos danosos às questões judiciais. A formulação errônea de perguntas pode provocar desvios e erros, cabendo ao juiz evitá-los com a formulação precisa das perguntas do inquérito. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Para a obtenção de uma maior veracidade possível do testemunho, algumas técnicas podem ser empregadas. Na suspeita de uma parcialidade do discurso, em que o testemunho tem interesse em favorecer ou atuar contra o acusado, é necessário esclarecer que uma atuação parcial desfavorece o acusado, ao invés de ajudá-lo e que a descrição dos fatos deve ser feita baseada na verdade. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Não é possível estabelecer critérios para uma conclusão segura sobre a veracidade de um testemunho. Entretanto, o autor relata que um dos indícios para verificação da verdade é a observação da fisionomia e suas reações. Através da movimentação e expressão faciais é possível se ter uma ideia da personalidade do indivíduo, analisando-se posicionamento da testa, sobrancelhas, olhos, narinas e boca. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Alguns sintomas podem evidenciar uma possível mentira no interrogatório, dentro de um relativismo, já que nenhum desses comportamentos isolados é determinante para a constatação da verdade e podem ocorrer também nas pessoas inocentes (SOUZA, 1988): 1- a precisão excessiva nas recordações permite supor algo irreal no discurso do acusado. A excessiva precisão das recordações, em especial de eventos distantes, pode ser uma tentativa de dar à sua narrativa uma aparência de veracidade; PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO 2- a prontidão ou a hesitação nas respostas podem ser indicadores de mentira; 3- o silêncio é um direito, porém, ao silenciar-se, o indivíduo está abdicando da oportunidade de defender-se. O silêncio pode ser considerado um frágil indicio de culpa. 4- Outros sintomas são: laconismo, reserva excessiva, obscuridade, imprecisão, inquietação, olhar aterrorizado, furtivo ou fugidio e voz baixa. PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO Outra importante área que vem em pleno crescimento e que faz parte do escopo de atuação relacionada à psicologia do testemunho é o depoimento sem dano, o qual, segundo Lago et al., tem como objetivo proteger psicologicamente crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações penais que deixam graves sequelas no âmbito da estrutura da personalidade. DEPOIMENTO SEM DANO A preocupação em assegurar os direitos infanto- juvenis dispostos na Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças (1989) e especificados no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) vem sendo evocada na exposição de diversos projetos de lei, na busca bem intencionada de respostas às dúvidas e impasses que se apresentam em situações do contexto contemporâneo. DEPOIMENTO SEM DANO DEPOIMENTO SEM DANO: O QUE É? No depoimento sem dano, crianças e adolescentes são ouvidos em uma sala aconchegante, especialmente preparada para o atendimento de menores de idade, equipada com câmeras e microfones para gravação do depoimento. O Juiz, o Ministério Público, os advogados, o acusado e os servidores judiciais assistem ao depoimento da criança por meio de um aparelho de TV instalado na sala. DEPOIMENTO SEM DANO No Depoimento Sem Dano (DSD), o profissional que entrevistará a criança possui um ponto eletrônico, através do qual o juiz direciona as perguntas a serem feitas à criança. Além disso, o depoimento fica gravado, constando como prova no processo. A escuta de crianças nessas situações ocorre em consequência da incapacidade de detectar a materialidade do fato por não haver, a priori, provas físicas. DEPOIMENTO SEM DANO DEPOIMENTO SEM DANO: O QUE É? Mais comumente, o profissional que tem sido designado pelo Juiz para inquirir as crianças é o assistente social ou o psicólogo, que permanece com fone no ouvido para que o Juiz possa indicar perguntas a serem formuladas à criança. DEPOIMENTO SEM DANO DEPOIMENTO SEM DANO: O QUE É? A gravação é mantida nos autos, o que “permite que não só as partes e o Magistrado tenham a possibilidade de revê-lo a qualquer tempo para afastar eventuais dúvidas que possuam, mas também que os julgadores de segundo grau, em havendo recurso da sentença, tenham acesso às emoções presentes nas declarações” DEPOIMENTO SEM DANO DEPOIMENTO SEM DANO: O QUE É? • A ideia de implantação do Depoimento sem Dano é atribuída ao magistrado gaúcho Daltoé Cezar (2007). • O projeto foi pensado a fim de evitar “perguntas inapropriadas, impertinentes, agressivas e desconectadas não só do objeto do processo, mas principalmente das condições pessoais do depoente.” • Assim, visava-se poder extrair a verdade real sem causar danos psíquicos à criança ou adolescente. DEPOIMENTO SEM DANO Vantagens preconizadas Característica do local • Sala especialmente projetada, com “brinquedos espalhados pelo chão, quadros coloridos nas paredes, almofadas, tapetes, mesinha, cadeiras, lápis de cor, pincéis, canetinhas”. • Visa-se “deixar a vítima mais à vontade” DEPOIMENTO SEM DANO Vantagens preconizadas Profissionais capacitados Muitas vezes a criança, ao não conseguir se expressar verbalmente, é capaz de fazê-lo por meio da linguagem que lhe é familiar. “Através de desenhos, jogos, brincadeiras com bonecos que reproduzem a cena traumática e demonstrem a sexualidade, é possível fazer com que a criança manifeste os sentimentos que está vivenciando”. DEPOIMENTO SEM DANO Objeções levantadas Na ciência da Psicologia Desvirtuamento da função do psicólogo No Brasil, no entanto, há entendimento do CFP de que esta técnica distancia-se do trabalho a ser realizado por um profissional de psicologia, acarretando confusão de papéis ou indiferenciação de atribuições, quando se solicita ao psicólogo que realize audiências e colha testemunhos. DEPOIMENTO SEM DANO Para o Conselho Federal de Psicologia (CFP), essa prática coloca os psicólogos em um lugar que não é o seu, o de inquiridor, uma vez que a função do psicólogo é fazer uma escuta acolhedora, ouvir a criança em seu tempo, sem pressão ou direcionamento da fala. Outro argumento é que a situação do DSD coloca a criançae o adolescente no lugar de denúncia, de delação, responsabilizando-os pela produção de provas. DEPOIMENTO SEM DANO O CFP, em junho de 2010, publicou a Resolução CFP n. 010/2010, a qual institui a regulamentação da escuta psicológica de crianças e adolescentes envolvidos em situação de violência. O texto inicial define que: A escuta de crianças e de adolescentes deve ser em qualquer contexto fundamentada no princípio da proteção integral, na legislação específica da profissão e nos marcos teóricos, técnicos e metodológicos da Psicologia como ciência e profissão. DEPOIMENTO SEM DANO O CFP, em junho de 2010, publicou a Resolução CFP n. 010/2010 Consta ainda que A escuta deve ter como princípio a intersetorialidade e a interdisciplinaridade, respeitando a autonomia da atuação do psicólogo, sem confundir o diálogo entre as disciplinas com a submissão de demandas produzidas nos diferentes campos de trabalho e do conhecimento. Diferencia-se, portanto, da inquirição judicial, do diálogo informal, da investigação policial, entre outros. DEPOIMENTO SEM DANO Objeções levantadas Na ciência da Psicologia Sessão única e impossibilidade de aferição A oitiva da vítima uma única vez também tem sido alvo de críticas pelos psicólogos, sob o argumento de que nem sempre em apenas uma sessão a criança revele todo o fato que interessa ao processo. Muitas vezes a criança necessita de tempo e criação de laços de vínculo e confiança para falar daquilo que prefere calar. DEPOIMENTO SEM DANO Apesar de todas as objeções levantadas, a proposta de uma nova forma de tomada de depoimento de crianças e adolescentes em Juízo tem se revelado eficaz tanto na melhoria da produção probatória para instrução do processo criminal quanto na mitigação dos danos antes infligidos aos agora submetidos à inquirição. Como toda inovação, o método tem sido objeto de ressalvas, mas estas devem servir para aprimorá-lo, a fim de possibilitar um maior bem-estar das crianças envolvidas.
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