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CoachingPGE intervencao do estado na propriedade

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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO – DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR 
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO – CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO 
CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO – RAFAEL CARVALHO REZENDE OLIVEIRA 
MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO – JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO 
A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO – LEONARDO CARNEIRO DA CUNHA 
I. Introdução; 
II. Limitações administrativas; 
III. Servidão administrativa ou pública; 
IV. Ocupação temporária; 
V. Requisição administrativa; 
VI. Tombamento; 
VII. Desapropriação; 
1. Legislação; 
2. Sujeitos ativo e passivo; 
3. Objeto; 
4. Procedimento; 
a) Fase declaratória; 
b) Fase executória. 
5. Indenização e acessórios; 
6. Desapropriação indireta; 
7. Direito de retrocessão; 
8. Desapropriação por zona. 
 
______________________________________________________________________ 
 
 
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I. INTRODUÇÃO: 
 Nos termos do art. 5º, XXII, XXIII, XXIV e XXV, CF/88: 
XXII - é garantido o direito de propriedade; 
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; 
 Portanto, o Brasil, na linha dos demais Estados contemporâneos, 
garante o direito de propriedade em sua Constituição, condicionando-o, 
todavia, ao seu exercício conforme a função social. 
 Assim, a função social da propriedade autoriza o Estado a intervir 
na propriedade privada sempre que seja necessário adequar o seu uso ao 
interesse público. Esse poder de intervenção se instrumentaliza por meio 
de limitações e servidões administrativas, requisição administrativa, 
tombamento e desapropriação. 
______________________________________________________________________ 
II. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS: 
 São restrições gerais e abstratas emanadas do poder de polícia do 
Estado, que atingem o caráter absoluto da propriedade, tolhendo o poder 
de uso, gozo e disposição de um número indeterminado de propriedades 
particulares. 
 As limitações administrativas encerram uma relação de direito 
pessoal, materializada em obrigações de conduta, sendo as obrigações 
negativas (ou de não fazer) mais comuns. Ex.: obrigação de não construir 
edifício até determinada altura. 
Por serem genéricas, as limitações administrativas, em regra, NÃO 
ensejam direito à indenização. 
 
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ATENÇÃO: Direito à indenização por limitação administrativa: regra 
e exceção: 
Comentários: Dizer o Direito 
Conceito: 
Limitação administrativa é: 
▪ uma determinação de caráter geral (é um ato normativo), 
▪ por meio da qual o Poder Público impõe a proprietários 
indeterminados 
▪ obrigações positivas (de fazer), negativas (não fazer) 
▪ com o objetivo de fazer com que aquela propriedade atenda à sua 
função social. 
Exemplos: 
▪ O plano diretor da cidade impõe que os prédios construídos em 
determinada área do município devem ter, no máximo, 8 andares. 
▪ A criação de áreas especiais de proteção ambiental pode 
configurar limitação administrativa (STJ AgRg no AREsp 
155302/RJ). 
Principais características: 
As limitações administrativas, em regra, são: 
▪ Atos legislativos ou administrativos de caráter geral (leis, decretos, 
resoluções etc.); 
▪ Definitivas (tendem a ser definitivas, podendo, no entanto, ser 
revogadas ou alteradas); 
▪ Unilaterais (impõem obrigações apenas ao proprietário); 
▪ Gratuitas (porque o Estado não precisa pagar indenização aos 
proprietários); 
▪ Intervenções que restringem o caráter absoluto da propriedade. 
 
 
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O proprietário deve ser indenizado por conta das limitações 
administrativas que incidam sobre sua propriedade? 
Em regra, não. Na generalidade dos casos, a limitação 
administrativa é gratuita. No entanto, excepcionalmente, a 
jurisprudência reconhece o direito à indenização quando a limitação 
administrativa reduzir o valor econômico do bem. Essa é a jurisprudência 
do STJ: 
Sendo imposições de natureza genérica, as limitações 
administrativas não rendem ensejo a indenização, salvo 
comprovado prejuízo. (REsp 1233257/PR, rel. Min. Eliana 
Calmon, 2ª Turma, julgado em 16/10/2012, DJe 
22/10/2012) 
Qual é o prazo prescricional para que o proprietário busque essa 
indenização? 
5 anos, nos termos do Decreto-Lei nº 3.365/1941. Segundo decidiu 
o STJ, os danos eventualmente causados pela limitação administrativa 
devem ser objeto de ação de direito pessoal, cujo prazo prescricional é de 
cinco anos, e não de direito real, que seria o caso da desapropriação 
indireta. 
Em resumo: 
Em regra, o proprietário não tem direito à indenização por 
conta das limitações administrativas que incidam sobre sua 
propriedade (a limitação administrativa é gratuita). No entanto, 
excepcionalmente, a jurisprudência reconhece o direito à 
indenização quando a limitação administrativa reduzir o valor 
econômico do bem. O prazo prescricional para que o proprietário 
busque a indenização por conta das limitações administrativas é de 
5 anos. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.317.806-MG, rel. Min. Humberto Martins, julgado em 
06/11/2012 
 
 
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Vale ressaltar, ainda, que o proprietário não terá direito à 
indenização se adquiriu o bem APÓS a limitação administrativa já ter 
sido imposta: 
É indevido o direito à indenização se o imóvel for 
adquirido APÓS o implemento da limitação 
administrativa, porque se supõe que as restrições de uso 
e gozo da propriedade já foram consideradas na fixação do 
preço. (REsp 920.170/PR, Min. Mauro Campbell Marques, 
2ª Turma, julgado em 09/08/2011) 
______________________________________________________________________ 
III. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA OU PÚBLICA: 
 As servidões administrativas são restrições estatais específicas que 
atingem parcial e concretamente o direito de propriedade, incidindo sobre 
o caráter exclusivo de propriedades determinadas. 
 Tem natureza de direito real, pois, na servidão administrativa, 
estabelece-se uma relação entre coisas: a serviente e a dominante. Coisa 
serviente é a propriedade privada que possui o encargo real de suportar 
a servidão; a dominante, por sua vez, é o serviço público concreto ou um 
bem afetado a uma utilidade pública. 
 A servidão consiste em uma obrigação de tolerar ou de deixar fazer, 
a qual, porque imposta a propriedades determinadas, pode gerar o dever 
de indenizar, desde que o ônus imposto tenha causado algum dano. Essa 
indenização, contudo, não pode elevar-se até o montante do valor da 
propriedade, pois que sobre esta não foi imposta supressão, mas mera 
restrição. 
Há que se ressaltar, por oportuno, que o valor da indenização deve 
compreender os juros moratórios e compensatórios, assim como a 
correção monetária, os honorários de advogado e as despesas judiciais, 
se for o caso. 
 
 
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Súmula 56 do STJ: Na desapropriação para instituir servidão 
administrativa são devidos os juros compensatórios pela limitação 
de uso da propriedade. 
Por fim, impõe-se aduzir que a servidão, a depender da origem, 
pode ser legal, convencional ou judicial. 
 
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ATENÇÃO: Quadro comparativo entre limitação e servidão 
administrativa: 
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA SERVIDÃO ADMINISTRATIVA 
Intervenção restritiva da propriedade; Intervenção restritiva da propriedade; 
Incide sobre o caráter absoluto da 
propriedade; 
Incide sobre o caráter exclusivo da 
propriedade; 
Natureza de direito pessoal; Natureza de direito real; 
Restrição genérica e abstrata; Restrição individual e concreta; 
Obrigação de fazer ou não fazer; Obrigação detolerar ou de deixar de 
fazer; 
Em regra, não gera o dever de indenizar. Em regra, gera o dever de indenizar. 
Obs. 1: A diferença entre a restrição sobre o caráter absoluto e exclusivo da 
propriedade está em que, na primeira, minoram-se os poderes de uso, gozo ou fruição 
 
 
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do proprietário sobre a sua propriedade; na segunda, ele é obrigado a suportar que 
outrem também usufrua de sua propriedade. 
Dica do Coach: o dever de indenizar, em um e outro caso, segue a linha de raciocínio 
construída pela teoria da responsabilidade civil do Estado por ato lícito. Ambos os 
institutos – limitação e servidão – são atos lícitos levados a cabo pelo Estado em prol 
de um interesse coletivo. Ainda como premissa, mencione-se, que a responsabilidade 
civil do Estado por ato lícito exige que o dano suportado pelo particular seja anormal 
e específico. Logo, em conclusão, apenas a servidão administrativa rende ensejo ao 
dever reparatório, pois a limitação administrativa é dirigida aos particulares 
genericamente considerados. 
 
______________________________________________________________________ 
 
IV. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA: 
 É uma restrição estatal que atinge o caráter exclusivo da 
propriedade particular, fundada na necessidade pública normal de 
realização de obras ou exercício de atividades. 
É provisória e incide tão somente sobre bens imóveis, em razão, 
reitere-se, da necessidade que pode ter o Estado de utilizar, 
temporariamente, um imóvel particular para realização de obras públicas 
ou execução de serviços públicos. 
Diógenes Gasparini assenta que o imóvel, para ser objeto de 
ocupação temporária, deve estar desocupado ou ser improdutivo. De 
qualquer modo, se causar dano, rende ensejo à indenização posterior. 
 
 
______________________________________________________________________ 
 
 
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V. REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA: 
 Consoante dispõe o art. 5º, XXV, da CF/88, 
 
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade 
competente poderá usar de propriedade particular, 
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver 
dano; 
 Requisição administrativa cuida, portanto, de restrição da 
propriedade particular decorrente de atividade estatal fundada na 
urgência. Por meio dela, o Estado utiliza bens móveis e imóveis ou, 
mesmo, serviços prestados por particulares, em face de situações de 
iminente perigo, como calamidades públicas, epidemias e etc. 
 Não se confunde com a ocupação temporária, na medida em que, 
enquanto a requisição administrativa tem fundamento numa situação de 
perigo público iminente, na ocupação temporária a intervenção está 
assentada na necessidade pública normal de realização de obras ou 
exercício de atividades de interesse público. 
 Nos termos do comando constitucional acima transcrito, a 
requisição gera o dever de indenizar, que é, contudo, condicionado à 
ocorrência de dano. 
 
 
 
 
 
 
 
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ATENÇÃO: Quadro comparativo entre ocupação temporária e 
requisição administrativa: 
OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA 
Intervenção restritiva da propriedade; Intervenção restritiva da propriedade; 
Incide sobre o caráter exclusivo da 
propriedade; 
Incide sobre o caráter exclusivo da 
propriedade; 
Incide somente sobre bens imóveis 
desocupados ou improdutivos; 
Incide sobre bens móveis, imóveis ou 
serviços; 
Funda-se na necessidade normal de 
realização de obras ou exercício de 
atividades de interesse público; 
Funda-se em situação de perigo público 
iminente ou urgência; 
Gera o dever de indenizar, se houver 
dano. 
Gera o dever de indenizar, se houver 
dano. 
 
 
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VI. TOMBAMENTO: 
 Trata-se de restrição estatal na propriedade privada, que se destina 
especificamente à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, 
assim considerado o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país 
e cuja conservação seja de interesse público. 
 Depende o tombamento de procedimento administrativo prévio, 
necessário para se aferir o valor histórico e artístico do bem, assegurado 
ao proprietário o direito de ampla defesa, para, caso queira, contestar o 
 
 
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valor referido. Ao final, não havendo contestação ou sendo ela 
improcedente, o bem será inscrito no livro chamado “Livro do Tombo”. 
 O tombamento pode gerar direito à indenização, a depender da 
maneira que afete a propriedade. Se, por exemplo, gerar desvalorização 
do bem, ele enseja o direito à indenização. 
 Impõe-se consignar, por fim, que é possível o destombamento, 
sendo esse entendido como ato de cancelamento do tombamento, 
motivado pelo desaparecimento dos motivos que levaram o bem à 
inscrição no Livro do Tombo. 
MODALIDADES DE TOMBAMENTO 
 
 
 
Quanto à constituição: 
1. De ofício: incide sobre os bens públicos da União, 
Estados ou Municípios; 
2. Voluntário: ocorre em duas hipóteses: (i) quando o 
proprietário solicitar e a coisa se revestir dos requisitos; 
ou (ii) quando o proprietário anuir, por escrito, à 
notificação que se lhe fizer, para inscrição da coisa em 
qualquer dos Livros do Tombo. 
3. Compulsório: ocorre quando o proprietário se recusar 
a anuir à inscrição da coisa. 
 
Quanto à eficácia: 
1. Provisório: curso do processo administrativo ainda em 
andamento; 
2. Definitivo: depois de concluído o processo 
administrativo, o Poder Público procede à inscrição do 
bem como tombado. 
 
 
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Quanto aos destinatários: 
1. Geral: incide sobre todos os bens situados em um 
bairro ou cidade; 
2. Individual: atinge bem determinado. 
Obs. 1: A doutrina diverge sobre a possibilidade de tombamento de bens da União pelos 
Estados e Municípios, e dos Estados pelos Municípios. É pacífica apenas a possibilidade 
de tombamento de bens dos entes menores pelos maiores. O tema será retomado abaixo; 
Obs. 2: Para todos os efeitos, o tombamento provisório se equiparará ao definitivo. 
 
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ATENÇÃO: Responsabilidade pela conservação do imóvel tombado: 
Comentários: Dizer o Direito 
Por meio do tombamento, são impostas algumas obrigações de 
fazer e de não fazer ao proprietário do bem tombado. Uma das obrigações 
de fazer (também chamadas de obrigações positivas) do proprietário do 
bem tombado é que ele terá que fazer todas as obras que forem 
necessárias para a conservação da coisa (art. 19 do Decreto-lei nº 25/37). 
Se o proprietário da coisa tombada não dispuser de recursos para 
proceder às obras de conservação e reparação necessárias, ele deverá 
comunicar essa circunstância ao órgão competente que decretou o 
tombamento para arcar com as despesas necessárias à sua conservação. 
Em outras palavras, a responsabilidade de reparar e conservar o imóvel 
tombado é, em princípio, do proprietário. Tal responsabilidade somente 
é elidida quando ficar demonstrado que o proprietário não dispõe de 
recurso para proceder à reparação. 
Em resumo: 
 
 
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A responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é 
do proprietário, salvo quando demonstrado que ele não dispõe de 
recurso para proceder à reparação. 
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 176.140-BA, rel. Min. Castro Meira, julgado em 
18/10/2012. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Intervenções do Estado em propriedade pública: 
“hierarquia federativa” e (in) constitucionalidade do art. 2°, §2°, do 
Decreto-Lei 3.365/41:Respeitando-se as exigências constitucionais e legais, maiores 
dúvidas não surgem quanto à intervenção do Estado na propriedade 
privada. Ocorre que entes públicos também podem titularizar a 
propriedade de bens móveis e imóveis. Seria possível, então, algum ente 
político intervir na propriedade de outro? O Município pode tombar bens 
estaduais e federais? O Estado pode instituir servidão administrativa 
sobre bem federal? Ou apenas é possível o tombamento de bens públicos 
pertencentes aos entes menores pelos entes maiores? 
Conforme anunciado acima, nos termos do art. 5° do Decreto-lei 
25/1937 (Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico 
nacional), é possível se tombar bens públicos: 
Art. 5º O tombamento dos bens pertencentes à União, aos 
Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do 
diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico 
Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem 
pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, afim 
de produzir os necessários efeitos 
 
Rafael Oliveira de Rezende apresenta a divergência doutrinária 
sobre a possibilidade de entes menores inscreverem bens de entes 
maiores no “Livro do Tombo”. 
 
 
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A primeira corrente, sustentada por José dos Santos Carvalho 
Filho, aduz que não seria possível o tombamento, por exemplo, de bens 
federais e estaduais por Municípios, eis que se aplicaria por analogia o 
disposto no art. 2°, §2°, do Decreto Lei 3.365/41 que impede essa via “de 
baixo para cima” em relação à desapropriação, baseando-se na lógica da 
supremacia de interesse: primeiro o nacional (União), depois o regional 
(Estados) e, só então, o local (Municípios). 
De forma contrária, uma segunda corrente afirma a possibilidade 
do tombamento entre entes federados indistintamente, seja de “baixo 
para cima” ou de “cima para baixo”. Para tanto, defende que a previsão 
constante no art. 2°, §2°, do Decreto-Lei 3.365/41 possui 
constitucionalidade duvidosa ao criar uma hierarquia entre os entes 
federados. Sustenta, ademais, que a norma é especificamente 
relacionada à desapropriação, devendo, por isso, ser interpretada 
restritivamente, e não ampliativamente. Aduz, ainda, que o exercício de 
uma ponderação de interesses entre as normas constitucionais em 
conflito (princípio federativo e proteção do patrimônio cultural) aponta 
que a permissão ao tombamento de “mão dupla” é a posição que melhor 
salvaguarda os valores constitucionalmente tutelados. No sentido da 
segunda corrente, já decidiu o STJ: 
ADMINISTRATIVO – TOMBAMENTO – COMPETÊNCIA 
MUNICIPAL. 
1. A Constituição Federal de 88 outorga a todas as 
pessoas jurídicas de Direito Público a competência para o 
tombamento de bens de valor histórico e artístico nacional. 
2. Tombar significa preservar, acautelar, preservar, sem 
que importe o ato em transferência da propriedade, como 
ocorre na desapropriação. 3. O Município, por competência 
constitucional comum – art. 23, III –, deve proteger os 
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, 
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais 
 
 
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notáveis e os sítios arqueológicos. 4. Como o tombamento 
não implica em transferência da propriedade, 
inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 
3.365/1941, que proíbe o Município de desapropriar 
bem do Estado. 5. Recurso improvido. (RMS 18.952/RJ, 
Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado 
em 26/04/2005, DJ 30/05/2005, p. 266) 
Em relação à servidão administrativa, José dos Santos Carvalho 
Filho defende o mesmo raciocínio empreendido quanto ao tombamento. 
Segundo o autor, à semelhança do que ocorre com a desapropriação, é 
de se aplicar as servidões administrativas o princípio da “hierarquia 
federativa”: não pode um município instituir servidão sobre imóveis 
estaduais ou federais, nem pode o Estado fazê-lo em relação aos bens da 
União. Segue aduzindo que a recíproca não é verdadeira, já que a União 
está habilitada a fazê-lo em relação aos bens estaduais e municipais, e o 
Estado, em relação aos bens do Município. Nesse caso, adverte o autor 
que é necessária autorização legislativa, conforme exige o art. 2, §2º, do 
Decreto-Lei n.º 3.365/41. Essa posição parece ser majoritária na 
doutrina, sendo adotada pelo CESPE: 
 
 
PGE/PI 2014: Se, em determinado município, nas obras de 
implantação de rede elétrica, em certo trecho, for necessário passar 
o cabeamento por baixo de um imóvel de propriedade do estado, o 
município poderá instituir servidão administrativa sobre esse 
imóvel, em razão do interesse público envolvido. 
INCORRETA 
 
 
 
 
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Em resumo: 
(i) A doutrina majoritária defende, com base no art. 2º, §2º, do 
Decreto-Lei n.º 3.365/41, o princípio da “hierarquia federativa”, 
sendo, por isso, vedado aos entes menores intervirem na 
propriedade dos entes maiores. Posição considerada pelo 
CESPE na PGE/PI 2014 e que deve ser seguida, via de regra; 
(ii) O STJ já entendeu, em 2005, que é possível a instituição de 
tombamento de bem estadual por Município. Essa posição 
somente deve ser adotada se a questão vier “blindada”, ou seja, 
se perquirir especificamente o posicionamento do STJ em 
relação ao tombamento de bens estaduais por municípios. 
______________________________________________________________________ 
VII. DESAPROPRIAÇÃO: 
 A desapropriação é a forma mais drástica de intervenção estatal na 
propriedade, que afeta o próprio caráter perpétuo e irrevogável do direito 
de propriedade. Por meio dela, o poder público toma o domínio da 
propriedade de seu titular para o fim de vinculá-la a algum interesse 
público, consistente em necessidade ou utilidade pública, bem ainda em 
interesse social. 
Nesse sentido, dispõe o art. 5º, XXIV, da CF/88: 
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para 
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou 
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em 
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta 
Constituição; 
 A ressalva constante do final do dispositivo deve-se à circunstância 
de que a própria Constituição Federal autoriza a desapropriação 
mediante o pagamento de indenização em títulos da dívida pública de 
 
 
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emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, no caso de área 
urbana não edificada, subutilizada ou não utilizada, como instrumento 
de política urbana (art. 182, §4º, III), de pagamento em títulos da dívida 
agrária, no caso de reforma agrária, por interesse social (art. 184). 
 A Constituição, no art. 243, uma modalidade especial de 
desapropriação, denominada expropriação, que NÃO gera direito a 
qualquer indenização ao proprietário. Essa desapropriação recai sobre 
glebas de terras de qualquer região do País onde forem localizadas 
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou, a partir da EC 81/2014, 
exploração de trabalho escravo. As terras expropriadas por esses motivos 
terão destinação específica: reforma agrária ou programas de habitação 
popular. 
1. LEGISLAÇÃO: 
DL 3.365/41: Lei 4.132/62: LC 76/93: Lei 10.257/01 
(Estatuto da 
Cidade): 
Lei 8.257/91: 
Desapropriação 
por 
necessidade ou 
utilidade 
pública. 
Desapropriação 
por interesse 
social. 
Desapropriação 
para fins de 
reforma 
agrária. 
Desapropriação 
como sanção 
ao proprietário 
de solo urbano 
não edificado, 
subutilizado ou 
não utilizado. 
Desapropriação 
de glebas de 
terras onde 
forem 
cultivadas 
ilegalmente 
plantas 
psicotrópicas. 
Obs.: o DL 3.365/41 deve ser lido e revisado muitas vezes! Bem curto e bastante 
cobrado.Portanto, o custo-benefício dessa leitura é altíssimo. 
 
 
 
 
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2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DA DESAPROPRIAÇÃO: 
Sobre o sujeito passivo, não há maiores questionamentos: é o 
expropriado, que pode ser pessoa natural ou jurídica, pública ou privada. 
Sujeito ativo é quem tem competência para desapropriar, 
expedindo o ato declaratório de utilidade pública ou interesse social do 
bem. Nos termos do art. 2º do DL 3.365/41, podem ser sujeitos ativos da 
desapropriação a União, os Estados-membros, o DF, os Municípios e os 
Territórios. 
Especificamente em relação à desapropriação por interesse social 
de que trata o art. 182 da CF/88, compete privativamente ao Município 
efetuá-la. Já em relação à desapropriação por interesse social positivada 
no art. 184 da CF/88, a competência privativa é da União. 
CF, Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada 
pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas 
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das 
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus 
habitantes. 
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, 
obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o 
instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão 
urbana. 
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando 
atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade 
expressas no plano diretor. 
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas 
com prévia e justa indenização em dinheiro. 
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei 
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos 
da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, 
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado 
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: 
I - parcelamento ou edificação compulsórios; 
 
 
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II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana 
progressivo no tempo; 
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da 
dívida pública de emissão previamente aprovada pelo 
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em 
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor 
real da indenização e os juros legais. 
________________________________________________________ 
CF, Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse 
social, PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA, o imóvel rural 
que não esteja cumprindo sua função social, mediante 
prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com 
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de 
até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja 
utilização será definida em lei. 
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas 
em DINHEIRO. 
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, 
para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de 
desapropriação. 
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento 
contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de 
desapropriação. 
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da 
dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender 
ao programa de reforma agrária no exercício. 
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as 
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins 
de reforma agrária. 
 
ATENÇÃO: Os Estados e Municípios podem desapropriar imóvel 
rural, desde que NÃO se destine à reforma agrária, pois, neste caso 
sim, a competência é privativa da União (STF). 
 
 
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______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Sujeito ativo da desapropriação e competência delegada 
para promover atos de execução: 
 A doutrina esclareça que não se confunde com sujeito ativo a 
competência que têm, por delegação, as entidades da Administração 
Indireta e as concessionárias de serviços públicos para promover as 
medidas de execução (fase executória) da desapropriação, após o ato 
declaratório expedido pelo sujeito ativo. 
 Assim, segundo adverte a doutrina, não se deve confundir sujeito 
ativo da desapropriação com competência para promovê-la ou executá-
la. Sujeito ativo é só quem tem a competência legal para expedir o ato 
declaratório da desapropriação, sujeitando o bem à força expropriatória. 
 Todavia, MUITO CUIDADO: a FCC não faz a leitura proposta pela 
doutrina. Em várias questões, interpretando de forma rasa o art. 3º do 
DL 3.365/41, a banca afirma que entes privados podem ser sujeitos 
ativos de desapropriação. Veja-se com a banca cobrou o tema, nesta 
ordem, no MPE/AL 2012 e no TRT da 3ª Região: 
“O direito brasileiro permite que um particular seja sujeito ativo na 
desapropriação judicial em face de outro particular, cujo imóvel seja 
objeto da expropriação” (CORRETO, segundo a FCC). 
“O titular do direito é o poder público ou seus delegados, isto é, pessoas 
jurídicas públicas ou privadas autorizadas por lei ou por contrato” 
(CORRETO, segundo a FCC). 
 Portanto, muito CUIDADO com a forma que o tema pode ser 
cobrado. 
De todo modo, impõe-se registrar que o art. 3º do DL 3.365/41, 
exige, ainda, que os delegatários dos atos materiais de desapropriação 
estejam autorizados a fazê-lo por lei ou contrato: 
 
 
20 
 
Art. 3º Os concessionários de serviços públicos e os 
estabelecimentos de caráter público ou que exerçam funções 
delegadas de poder público poderão promover 
desapropriações mediante autorização expressa, 
constante de lei ou contrato. 
______________________________________________________________________ 
 
3. OBJETO: 
Todos os bens podem ser desapropriados, incluindo: 
a) Coisas corpóreas (móveis ou imóveis); 
b) Coisas incorpóreas, como direitos (menos os personalíssimos, que 
são inexpropriáveis), as ações, patentes, fundos de comércio, nome 
de empresa e etc.; 
c) Bens públicos ou privados. 
Quanto ao espaço aéreo e ao subsolo, a regra é a não 
desapropriação. Todavia, consoante a norma contida no §1º do art. 2º do 
DL 3.365/41, a desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo é cabível 
excepcionalmente, quando de sua utilização resultar prejuízo patrimonial 
do proprietário do solo. 
 Conforme anunciado em tópico antecedente, o art. 2, §2º, do DL 
3.365/41 consagra a possibilidade de bens públicos serem 
desapropriados, desde que o ente expropriante esteja “acima” do ente 
expropriado em uma escala de “hierarquia federativa”. Assim, desde que 
haja autorização legislativa, a União pode desapropriar bens dos 
Estados e Municípios; e os Estados, os bens dos Municípios. O inverso, 
contudo, não é possível. 
 
CESPE, PGE/PI, 2014: Nos termos da lei, os bens da União não 
podem ser desapropriados. 
CERTO 
 
 
21 
 
 Ressalte-se, contudo, que o §3º do art. 2º franqueia, em tom de exceção, 
a possibilidade de desapropriação bens incorpóreos, como ações, cotas e 
direitos representativos de capital de instituições controladas e 
fiscalizadas pelo Governo Federal, desde que haja prévia autorização, por 
decreto, do Presidente da República. Atenção: os bens não são federais, 
mas estão simplesmente sob a custódia e fiscalização do Governo 
Federal. 
§ 3º É vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito 
Federal, Territórios e Municípios de ações, cotas e direitos 
representativos do capital de instituições e empresas cujo 
funcionamento dependa de autorização do Governo Federal 
e se subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia 
autorização, por decreto do Presidente da República. 
 
4. PROCEDIMENTO: 
A desapropriação é um procedimento que se realiza emduas fases: 
FASE DECLARATÓRIA FASE EXECUTÓRIA 
Consiste na indicação na indicação 
da necessidade ou utilidade pública, 
ou do interesse social do bem, assim 
como das próprias características do 
objeto da intervenção; 
Compreende a fixação do preço (justa 
indenização) e a efetiva transferência 
do bem para o domínio do 
expropriante. Pode se dar: 
i. Extrajudicialmente: quando o 
proprietário do bem aceita o preço 
ofertado; ou 
ii. Judicialmente: com a propositura 
da ação judicial de desapropriação, 
quando o proprietário do bem 
discordar da indenização oferecida e 
não aceitar o acordo proposto. 
 
 
22 
 
 FASE DECLARATÓRIA: 
A fase declaratória dá início ao procedimento, sendo, por isso, 
pressuposto de uma regular desapropriação: sem a fase declaratória, não 
é possível passar para a fase executória. No decreto expropriatório, 
indicam-se os fundamentos, o sujeito passivo, o objeto e a destinação a 
ser dada ao bem. 
Importa pontuar que, com a simples expedição do decreto 
expropriatório, ainda não há transferência do bem, que permanece com 
o proprietário, com todos os poderes inerentes ao direito de propriedade. 
Sendo assim, não assiste direito de indenização ao proprietário pela 
mera declaração de necessidade ou utilidade pública do bem a ser 
desapropriado. 
Já se viu que a declaração de interesse do Estado em determinado 
bem não pode ser delegada a outras pessoas, ainda que da Administração 
Indireta, pois tal expediente é afeto apenas aos entes políticos. Isso não 
significa, todavia, que somente o Poder Executivo tenha competência 
para tanto, eis que a iniciativa da desapropriação pode partir do Poder 
Legislativo (art. 8º do DL 3.365/41). Nesse caso, cumpre ao Executivo 
praticar os atos necessários à sua execução ou efetivação. 
São efeitos da declaração: 
(i) Sujeição do imóvel à força expropriatória do Estado; 
(ii) Fixação do “estado do bem”. Isso significa que, após essa 
fase, as benfeitorias de mero deleite ou voluptuárias feitas no 
imóvel não serão indenizáveis. O proprietário as fez porque 
assim desejou. Contudo, as benfeitorias necessárias serão 
sempre indenizáveis, independe de autorização do Poder 
Público. Por outro, as úteis serão indenizáveis apenas se 
autorizadas pelo Estado (art. 26 do DL 3.365/41). Assim, em 
resumo, antes da fixação do estado do bem com a declaração, 
 
 
23 
 
todas as benfeitorias serão indenizáveis; se feitas depois, 
deve-se seguir as regras acima anotadas. 
Súmula 23 do STF: Verificados os pressupostos legais para o 
licenciamento da obra, NÃO o impede a declaração de utilidade 
pública para desapropriação do imóvel, mas o valor da obra NÃO se 
incluirá na indenização, quando a desapropriação for efetivada. 
 
(iii) Atribui ao Estado o direito de adentrar no imóvel 
declarado (art. 7º do DL 3.365/41). Porém, em face da 
garantia constitucional da inviolabilidade o domicílio (art. 5, 
XI, CF/88), esse efeito deve ser conciliado com a exigência de 
prévia autorização judicial. 
(iv) Fixação do termo inicial para o prazo de caducidade da 
declaração (prazo que o Poder Público possui para dar início 
à fase executória e efetivar a desapropriação. Esse prazo é de 
5 anos quando o fundamento da desapropriação for utilidade 
ou necessidade pública; e de 2 anos quando o fundamento 
for interesse social, inclusive para fins de reforma agrária. 
Obs.: Na primeira hipótese, o decurso do prazo de 5 anos não 
é fatal, pois é possível a renovação do ato declaratório 1 ano 
após expirado o prazo de decadência (art. 10 do DL 
3.365/41). 
 
a) FASE EXECUTÓRIA: 
A fase executória compreende atos pelos quais se efetiva a 
transferência do bem expropriando, com sua integração ao patrimônio 
Público. Podem executar a desapropriação tanto as entidades jurídicas 
competentes para a sua declaração, como as entidades que agem por 
delegação do Poder Público, compreendendo as autarquias, fundações 
instituídas e mantidas pelo Poder Público, empresas públicas e 
 
 
24 
 
sociedades de economia mista, bem como concessionárias e 
permissionárias de serviço público. 
Essa fase pode ser: 
(i) Administrativa ou extrajudicial: a transferência do bem 
ocorre de forma amigável, aceitando o proprietário a 
indenização oferecida pelo Poder Público. 
CESPE, PGE/PI, 2014: Com fundamento no princípio da supremacia 
do interesse público sobre o privado, não se admite que a 
desapropriação se dê por acordo realizado, na via administrativa, 
entre a administração pública e o proprietário do bem. 
ERRADO 
 
(ii) Judicial: não havendo acordo quanto ao valor da 
indenização, outra alternativa não resta ao poder público 
senão a via judicial. 
Em relação à efetivação da desapropriação por meio judicial, 
alguns pontos merecem relevo: 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Contestação limitada e direito de extensão: 
O mérito da contestação, em sede de desapropriação, é de cognição 
limitada, pois o expropriado pode erigir discussão apenas sobre o valor 
indenizatório, descabendo, por isso, o manejo de reconvenção no 
procedimento referido. 
CESPE, PGE/PI, 2014: O expropriado pode discutir, em sede de 
contestação, eventual desvio de finalidade na desapropriação. 
ERRADA 
 
 
25 
 
Todavia, excepciona tal regra a possibilidade de o contestante 
postular o chamado “direito de extensão”, entendido como o direito que 
assiste ao particular de, impugnando o valor ofertado pelo Poder Público, 
pleitear a extensão da desapropriação, para que esta alcance parte 
remanescente do bem que se tornaria inútil ou de difícil utilização, caso 
desapropriado apenas parcialmente. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Necessidade peremptória de perícia: 
O valor oferecido pela Fazenda Pública NÃO pode ser reputado 
inconteste, por ocasião da não apresentação de defesa, já que a realização 
de perícia é imprescindível, quando não há concordância expressa do 
expropriado. Ou seja, a revelia, no âmbito do processo expropriatório, NÃO 
induz presunção sobre o valor ofertado pelo Poder Público, pois vigora 
nesta seara o princípio constitucional da justa indenização. 
 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Imissão provisória na posse: 
A imissão provisória é uma alternativa para que o Poder Público 
tenha a posse provisória do bem expropriando, antes de finalizada a ação 
de desapropriação. Para isso, o ente expropriante precisa alegar a 
urgência da imissão e, posteriormente, depositar o valor arbitrado na 
forma do art. 685 do CPC. Nesse sentido, preconiza o art. 15, §1º, do DL 
3.365/41: 
Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar 
quantia arbitrada de conformidade com o art. 685 do Código 
de Processo Civil, o juiz mandará imiti-lo provisoriamente na 
posse dos bens. 
 
 
26 
 
Declarada a urgência, que pode ser feita até na fase declaratória de 
utilidade pública ou interesse social, o Estado tem o prazo de 120 dias 
para requerer ao juízo a imissão provisória, sob pena de caducidade da 
referida declaração. 
Uma vez realizada a imissão provisória, por determinação judicial, 
o proprietário do bem tem o direito de levantar até 80% do valor constante 
no depósito, mesmo que não o entenda justo. 
Leonardo Carneiro da Cunha apresenta os entendimentos do STJ 
e STF sobre o que seria o preço justo para fins de imissão provisória na 
posse: 
(i) Para o STJ, a imissão provisória na posse somente é possível 
se efetuado o depósito prévio do valor apurado em avaliaçãojudicial provisória. Portanto, não serve para tal fim mero 
laudo particular. 
(ii) Para o STF, porém, não se exige que o depósito prévio para 
fins de imissão provisória na posse seja efetuado no “justo 
preço”, apurado em avaliação judicial. Isso porque a 
Constituição Federal (art. 5ºXXIV) exige que o justo preço 
seja pago apenas por ocasião da imissão definitiva na posse 
do bem expropriado, pois, apenas a partir desse momento, 
haverá a sua transferência para o patrimônio público. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Desistência da desapropriação: 
 Uma vez iniciado o procedimento de expropriação, seria possível o 
Poder Público dele desistir? 
 Para o STJ, que acompanha a doutrina de José dos Santos 
Carvalho Filho, a desistência seria possível até que fosse pago 
integralmente a indenização ao particular. Assim, mesmo que iniciado 
o pagamento, a desistência seria viável, se não concluído. 
 
 
27 
 
 Leonardo Carneiro da Cunha aponta, ainda, outros requisitos para 
que a desistência seja possível: 
(i) O bem deve estar em iguais condições de uso, com suas 
características essenciais preservadas; 
(ii) Não se deve ter operado o trânsito em julgado da sentença de 
desapropriação e se encerrado o pagamento do preço, pois 
haveria, nesse caso, ofensa à coisa julgada. 
A desistência da desapropriação é instrumentalizada pela 
revogação do ato expropriatório, tendo, por isso, fundamento no poder de 
autotutela. 
5. INDENIZAÇÃO E ACESSÓRIOS 
A Constituição Federal estabelece a forma como a indenização deve 
ser paga: 
Desapropriação ordinária 
(art. 5, XXIV, CF/88 e art. 
182, §3º, CF/88): 
Desapropriação por 
descumprimento de função 
social de imóvel urbano (art. 
182, §4º, CF/88): 
Desapropriação, para fins de 
reforma agrária, por 
descumprimento de função 
social de imóvel rural (art. 
184 da CF/88): 
Justa e prévia indenização em 
dinheiro. 
Títulos da dívida pública de 
emissão previamente aprovada 
pelo Senado Federal, com prazo 
de resgate de até DEZ anos, em 
parcelas anuais, iguais e 
sucessivas, assegurados o valor 
real da indenização e os juros 
legais. 
Prévia e justa indenização em 
títulos da dívida agrária, com 
cláusula de preservação do 
valor real, resgatáveis no prazo 
de até VINTE anos, a partir do 
segundo ano de sua emissão. 
 
 
28 
 
Obs. 1: No caso de desapropriação para fins de reforma agrária, dispõe o §1º do art. 184 da CF/88, 
que as benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. 
 
______________________________________________________________________ 
MUITA ATENÇÃO: Jurisprudência sobre os acessórios da 
indenização: 
Os acessórios que devem compor o valor da indenização são 
esclarecidos pelas seguintes súmulas do STF e STJ: 
CORREÇÃO MONETÁRIA: 
Súmula 561 do STF: Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data 
do efetivo pagamento da indenização, devendo proceder-se à atualização do 
cálculo, ainda que por mais de uma vez. 
Súmula 67 do STJ: Na desapropriação, cabe a atualização monetária, ainda que 
por mais de uma vez, independente do decurso de prazo superior a um ano entre 
o cálculo e o efetivo pagamento da indenização. 
JUROS: 
Súmula 164 do STF: No processo de desapropriação, são devidos juros 
compensatórios desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por 
motivo de urgência. 
Súmula 113 do STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem 
a partir da imissão na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido 
monetariamente. 
 
 
29 
 
Súmula 114 do STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, 
incidem a partir da ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido 
monetariamente. 
Súmula 69 do STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos 
desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da 
efetiva ocupação do imóvel. 
Súmula 102 do STJ: A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, 
nas ações expropriatórias, não constitui anatocismo vedado em lei. 
Súmula 12 do STJ: Em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e 
moratórios. 
Súmula 618 do STF: Na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros 
compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano. 
Obs. 1: A súmula permanece válida, mas atenção para o período de 11/06/1997 até 
13/09/2001. Nesse período vigorou a MP 1.577, que reduziu os juros para 6% ao ano. O STF, 
em cautelar, declarou a inconstitucionalidade dessa medida provisória. 
Obs. 2: NÃO CONFUNDIR! A taxa dos juros MORATÓRIOS é de 6% ao ano. A dos 
COMPENSATÓRIOS, conforme visto acima, é de 12% ano, obedecendo o período de vigência da 
MP sobredita. 
Súmula 416 do STF: Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não 
cabe indenização complementar além dos juros. 
Súmula 56 do STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são 
devidos os juros compensatórios pela limitação de uso da propriedade. 
 
 
30 
 
Registre-se, por fim, que a Súmula 70 do STJ, segundo a qual “os juros moratórios, na 
desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença”, restou 
superada com a promulgação do art. 100, §1º, da CF/88, que com a EC/62 passou a ser o §5º 
do mesmo artigo. Segundo a referida norma, os juros moratórios são devidos contra o Poder 
Público apenas a partir de 1º de janeiro seguinte ao exercício financeiro em que o pagamento 
deveria ter sido efetuado (e não a partir do trânsito em julgado, como preconizava a súmula). A 
Súmula Vinculante 17 ratifica esse entendimento: “Durante o período previsto no parágrafo 1º 
[5º] do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam 
pagos”. O art. 15-B do DL regulamentou a matéria no plano infraconstitucional. 
 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Súmula 378 do STF: Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do 
advogado do expropriado. 
Súmula 617 do STF: A base de cálculo dos honorários de advogado em 
desapropriação é a diferença entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas 
monetariamente. 
Súmula 141 do STJ: Os honorários de advogado em desapropriação direta são 
calculados sobre a diferença entre a indenização e a oferta, corrigidas 
monetariamente. 
Súmula 131 do STJ: Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verba 
advocatícia as parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, 
devidamente corrigidas. 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Quadro-resumo sobre juros compensatórios e moratórios 
na desapropriação: 
Critério 
Juros 
COMPENSATÓRIOS MORATÓRIOS 
 
Devidos a partir: 
Da efetiva ocupação do imóvel 
– Súmula 69 do STJ; 
A partir de 1º de janeiro do 
exercício seguinte àquele em 
que o pagamento deveria ser 
feito – art. 15-B do DL 
3.365/41; 
 
Base de incidência: 
- Na desapropriação direta, 
diferença eventualmente 
apurada entre 80% do preço 
ofertado em juízo e o valor do 
bem fixado na sentença (art. 
15-A do DL 3.365/41). 
- Na desapropriação indireta, 
valor da indenização corrigido 
monetariamente (Súmula 114 
do STJ); 
Valor da indenização corrigido 
monetariamente; 
 
Percentual: 
12% ao ano, ressalvando-se o 
período de vigência da MP 
1.577, em que vigorou a taxa 
de 6% ao ano. 
6% ao ano – art. 15-B do DL 
3.365/41. 
 
 
 
______________________________________________________________________ 
 
 
32ATENÇÃO: Qual é o momento básico em que se calcula o valor do 
bem expropriado? 
Comentários: Dizer o Direito 
O STJ entende que, nas ações de desapropriação, o valor da 
indenização será contemporâneo à data da perícia (avaliação judicial). 
Desse modo, não importa o valor do bem na data em que ocorreu a 
imissão na posse ou na data em que se deu a vistoria do expropriante. 
A posição do STJ é baseada no art. 26 do Decreto-Lei nº 
3.365/1941: 
Art. 26. No valor da indenização, que será contemporâneo 
da avaliação, não se incluirão os direitos de terceiros contra 
o expropriado. 
Essa é também a opinião da doutrina especializada: 
Nos precisos termos do art. 26 do Dec.-lei 3.365/41, o valor 
da indenização será contemporâneo à avaliação. Vale dizer: 
o perito e os assistentes técnicos, na busca do justo valor 
de mercado do bem expropriando, deverão levar em 
consideração o valor do momento em que é feita a avaliação 
e não, como dispunha o referido artigo em sua redação 
anterior, o que possuísse no instante da declaração de 
utilidade pública (SALLES, José Carlos de Moraes. A 
Desapropriação à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. 4. 
ed. São Paulo: RT, 2000, p. 567). 
 Em resumo: 
Nas ações de desapropriação o valor da indenização será 
contemporâneo à data da avaliação judicial, não sendo relevante a 
data em que ocorreu a imissão na posse, tampouco a data em que se 
deu a vistoria do expropriante. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.274.005-MA, rel. originário Min. Mauro Campbell Marques, red. 
para acórdão Min. Castro Meira, julgado em 27/03/2012. 
 
 
33 
 
6. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA: 
É a que se realiza sem o atendimento das formalidades legais. Não 
passa de um esbulho estatal e ocorre quando o Poder Público interfere 
na propriedade e lá pratica atos de domínio, sem prévia ação ou prévio 
título. Por se tratar de ato ilícito, suscita direito de defesa por meio de 
ações possessórias e até mesmo desforço incontinenti. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta 
é de 10 anos. 
Comentários: Dizer o Direito 
Desapropriação indireta 
A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público) 
se apropria do bem de um particular sem observar as formalidades 
previstas em lei para a desapropriação, dentre as quais a declaração 
indicativa de seu interesse e a indenização prévia. 
Trata-se de um verdadeiro esbulho possessório praticado pelo 
Poder Público. 
A desapropriação indireta é também chamada de apossamento 
administrativo. 
O que a pessoa que teve seu bem desapropriado indiretamente 
poderá fazer? 
• Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma 
finalidade pública: pode ser proposta uma ação possessória visando a 
manter ou retomar a posse do bem. 
• Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: 
considera-se que houve fato consumado e somente restará ao particular 
 
 
34 
 
ajuizar uma “ação de desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. 
Nesse sentido é o art. 35 do Decreto-Lei 3.365/41: 
Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à 
Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, 
ainda que fundada em nulidade do processo de 
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, 
resolver-se-á em perdas e danos. 
Ação de desapropriação indireta 
Consiste, portanto, na ação proposta pelo prejudicado em face do 
Poder Público, que se apossou do bem pertencente a particular sem 
observar as formalidades legais da desapropriação. 
Trata-se de uma ação condenatória, objetivando indenização por 
perdas e danos. 
Também é chamada de “ação expropriatória indireta” ou “ação de 
ressarcimento de danos causados por apossamento administrativo”. 
Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? 
• No CC-1916: era de 20 anos. 
• No CC-2002: é de 10 anos. 
Foi o que decidiu a 2ª Turma do STJ no REsp 1.300.442-SC, Rel. 
Min. Herman Benjamin, julgado em 18/6/2013. 
Repetindo: atualmente, segundo este julgado do STJ, o prazo de 
desapropriação indireta é de 10 anos. Cuidado porque todos os livros de 
Direito Administrativo trazem informação diferente disso. No entanto, em 
concursos CESPE, deve-se adotar o entendimento do STJ. 
Qual é o fundamento jurídico para esse prazo? 
 
 
35 
 
Segundo o STJ, a ação de desapropriação indireta possui natureza 
real e pode ser proposta pelo particular prejudicado enquanto não tiver 
transcorrido o prazo para que o Poder Público adquira a propriedade do 
bem por meio da usucapião. 
Em outras palavras, como não há um prazo específico previsto na 
legislação, o STJ entendeu que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo 
da usucapião extraordinária. 
Assim, enquanto não tiver passado o prazo para que o Estado 
adquira o imóvel por força de usucapião, o particular poderá buscar a 
indenização decorrente do ato ilícito de apossamento administrativo. 
Qual é o prazo de usucapião extraordinária? 
No CC-1916: era de 20 anos (art. 550). 
No CC-2002: 15 anos (art. 1.238). No entanto, este prazo passa a 
ser de 10 anos se o possuidor tiver realizado obras ou serviços de caráter 
produtivo no local (parágrafo único do art. 1.238). Como na 
desapropriação indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha 
realizado obras no local ou tenha dado ao imóvel uma utilidade pública 
ou de interesse social, entende-se que a situação se enquadraria no 
parágrafo único do art. 1.238 do CC, de sorte que o prazo para a 
usucapião seria de 10 anos. 
Logo, atualmente, o prazo prescricional aplicável às expropriatórias 
indiretas passou a ser de 10 anos, com fundamento analógico no 
parágrafo único do art. 1.238 do CC. 
Súmula 119-STJ 
A Súmula 119 do STJ prevê o seguinte: “A ação de desapropriação 
indireta prescreve em vinte anos”. 
Cuidado. A súmula 119 do STJ foi editada em 1994 e não está mais 
em vigor, considerando que utilizava como parâmetro o CC-1916. 
 
 
36 
 
Atualmente, a ação de desapropriação indireta prescreve em 10 
anos. 
O que acontece se o prazo prescricional iniciou na vigência do CC-
1916 e se estendeu para o CC-2002? 
Nesse caso, deverá ser aplicada a regra de direito intertemporal 
prevista no art. 2.028 do CC-2002: 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando 
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em 
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo 
estabelecido na lei revogada. 
Interpretando esse art. 2.028 do CC: 
Continua sendo o prazo do CC-1916: 
• quando ele foi reduzido pelo CC-2002, e 
• se, na data da entrada em vigor do CC-2002, já tinha transcorrido 
mais da metade do tempo estabelecido no CC-1916. 
Exemplo: 
A pretensão de indenização por desapropriação indireta prescrevia 
em 20 anos no CC-1916. No CC-2002 prescreve em 10 anos. 
Se uma pessoa sofreu o desapossamento administrativo em 1991, 
em 2003 (data em que entrou em vigor o CC), já havia se passado 12 
anos. Logo, prevalece o prazo do CC-1916 e esta vítima só terá mais 8 
anos para ajuizar a ação. 
Se a pessoa sofreu o desapossamento em 1994, em 2003 havia se 
passado apenas 9 anos. Logo, será aplicado o novo prazo do CC-2002 (de 
 
 
37 
 
10 anos). A partir de 11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC-2002) 
iniciará o prazo de 10 anos para que a vítima ajuíze a ação. 
E se o CC-2002 aumentou o prazo? 
Nesse caso, aplica-se o do CC-2002. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Fixação do quantum indenizatório e princípio da 
congruência: 
O STJ, com base princípio constitucional dajusta indenização, 
entende que é possível ao juiz, acolhendo laudo pericial imparcial, fixar 
valor diverso daquele pretendido pelo autor em sua inicial, não 
importando tal expediente violação ao princípio da congruência: 
O valor da indenização pleiteado pelo autor da Ação de 
Indenização por Desapropriação Indireta é meramente 
estimativo, posto preponderar o cânone constitucional da 
justa indenização. Consectariamente, não incorre 
julgamento ultra petita nas hipóteses em que a 
decisão acolhe o laudo pericial imparcial e fixa a 
indenização em patamar superior ao formulado pelo 
autor na inicial. (...) Deveras, esta e. Corte, em 
atendimento ao princípio da justa indenização, firmou 
entendimento no sentido de não ocorrer julgamento extra 
petita quando a indenização é fixada em valor inferior ao 
ofertado pelo Poder Público, por isso que “ubi eadem ratio, 
ibi eadem dispositivo”. (REsp 87256/GO) 
 
______________________________________________________________________ 
MUITA ATENÇÃO: Desapropriação indireta e limitação 
administrativa: 
 
 
38 
 
A desapropriação indireta pressupõe o efetivo desapossamento 
da propriedade pelo Poder Público. É, pois, intervenção supressiva do 
Estado na propriedade alheia. A limitação administrativa não se 
confunde com a desapropriação, pois nela somente há restrição ao uso 
da propriedade imposta genericamente a todos os proprietários, via de 
regra, sem qualquer indenização, diferentemente da desapropriação em 
que há transferência do domínio mediante pagamento de preço justo e 
prévio. 
Por essa razão, as restrições ao direito de propriedade impostas por 
normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico do bem, 
não constituem desapropriação indireta, mas sim limitações 
administrativas. Tal distinção reverbera na definição do prazo 
prescricional da pretensão indenizatória, pois, cuidando a hipótese de: 
(i) Desapropriação indireta: a ação reparatória terá natureza 
real e, por isso, a prescrição será decenal, nos termos do 
parágrafo único do art. 1.238 do CC/02; 
(ii) Limitação administrativa: a ação reparatória terá natureza 
pessoal e, por isso, a prescrição será quinquenal, nos termos 
do parágrafo único do art. 10 do DL 3.365/41, segundo o 
qual “extingue-se em cinco anos o direito de propor ação que 
vise a indenização por restrições decorrentes de atos do Poder 
Público”. 
 
Especialmente em relação ao enquadramento das leis ambientais 
em uma ou outra espécie de intervenção, o STJ assentou recentemente: 
A edição de leis ambientais que restringem o uso da 
propriedade caracteriza uma limitação 
administrativa, cujos prejuízos causados devem ser 
indenizados por meio de uma ação de direito pessoal, e não 
de direito real, como é o caso da ação contra a 
 
 
39 
 
desapropriação indireta. Hipótese em que está 
caracterizada a prescrição quinquenal, nos termos do 
art. 10, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 3.365/41. (AgRg 
no REsp 1.359.433/MG, 2013). 
No mesmo sentido: 
Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo 
apossamento da propriedade pelo Poder Público. Desse 
modo, as restrições ao direito de propriedade, 
impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem 
o conteúdo econômico, não se constituem 
desapropriação indireta. O que ocorre com a edição de 
leis ambientais que restringem o uso da propriedade é a 
limitação administrativa, cujos prejuízos causados devem 
ser indenizados por meio de ação de direito pessoal, e não 
de direito real, como é o caso da ação em face de 
desapropriação indireta. Assim, ainda que tenha havido 
danos ao agravante, diante de eventual esvaziamento 
econômico de propriedade, deve ser indenizado pelo 
Estado, por meio de ação de direito pessoal, cujo prazo 
prescricional é de 5 anos, nos termos do art. 10, parágrafo 
único, do Decreto-Lei n. 3.365/41. Agravo regimental 
improvido. (AgRg nos EDcl no AREsp 382944 / MG, 2014) 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
Em resumo: 
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 
Supressão da propriedade; Restrição da propriedade; 
Ação indenizatória tem natureza 
real; 
Ação indenizatória tem natureza 
pessoal; 
Prescrição da pretensão 
reparatória: 10 anos. 
Prescrição da pretensão 
reparatória: 5 anos. 
Obs.: As normas ambientais que restrinjam o direito de propriedade 
caracterizam limitação administrativa. 
 
CESPE, PGE/PI, 2014: A incidência de limitações administrativas 
sobre áreas localizadas em Áreas de Preservação Permanentes 
enseja, via de regra, indenização por desapropriação indireta. 
ERRADA 
 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Legitimidade do compromissário comprador para propor 
ação de desapropriação indireta: 
Consoante jurisprudência do STF e do STJ, no âmbito de 
desapropriação indireta, têm direito à indenização não só o titular do 
domínio do bem expropriado, mas também o que tenha sobre ele direito 
real limitado, bem como direito de posse. O promissário comprador, desde 
o momento da celebração do contrato, detém a posse do bem, salvo 
estipulação contratual em sentido contrário. 
 
 
41 
 
Desta feita, tomando-se em conta as premissas acima, impõe-se 
concluir que o compromissário comprador tem legitimidade para pleitear, 
em face do Poder Público, indenização por desapropriação indireta. 
Questiona-se, ainda, se seria necessário o registro do contrato de 
compra e venda em cartório, para que a pretensão reparatória surgisse. 
Segundo o STJ, o registro não interfere na relação de direito obrigacional 
firmada entre as partes do negócio jurídico, mas apenas confere eficácia 
do negócio perante terceiros. A partir daí, concluiu: 
O promissário comprador do imóvel tem direito de receber a 
indenização no caso deste imóvel ter sofrido desapropriação 
indireta, ainda que esta promessa não esteja registrada no Cartório 
de Registro de Imóveis. 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.204.923-RJ, rel. Min. Humberto Martins, julgado em 20/03/2012. 
 
______________________________________________________________________ 
7. DIREITO DE RETROCESSÃO: 
Na esteira de Celso Antônio Bandeira de Mello, o Poder Público, 
uma vez efetivada a desapropriação, deve aplicar o bem desapropriado à 
finalidade pública que suscitou o desencadeamento de sua força 
expropriatória. Não o fazendo, terá ocorrido o que se denomina de 
“tredestinação”, conceituada por José dos Santos Carvalho Filho como 
“destinação desconforme ao plano inicialmente previsto”. 
 A “tredestinação” pode ser classificada em lícita e ilícita. A primeira 
ocorre quando, persistindo o interesse público, o expropriante dispensa 
ao bem desapropriado destino diverso do que planejara no início. A 
segunda, por sua vez, acontece quando o Poder Público transfere a 
terceiro o bem desapropriado ou pratica desvio de finalidade, permitindo 
que alguém se beneficie de sua utilização. 
 
 
42 
 
Nesse último caso, deixando o expropriante de atribuir uma 
finalidade pública ao em desapropriado, evidentemente a desapropriação 
terá se revelado sem razão de existir. Daí reconhecer-se ao expropriado o 
direito a uma satisfação jurídica pelo fato: direito de retrocessão. 
O direito de retrocessão é, pois, aquele que assiste ao proprietário 
do bem de exigi-lo de volta caso o mesmo não tenha o destino declarado 
na desapropriação. Surge, portanto, quando é dada ao bem destinação 
diversa e descompassada com o interesse público. Cumpre reiterar, desta 
feita, que só haverá retrocessão quando ocorrer tredestinação ilícita, 
entendida esta como traspasse do bem de finalidade pública,para 
finalidade não pública. 
Assim, se a tredestinação for lícita, passando o bem para finalidade 
diversa, mas ainda pública (ex.: bem desapropriado para construção de 
uma escola, mas se construiu um hospital), não haverá direito de 
retrocesso. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Natureza jurídica do direito de retrocessão: 
 Dispõe o art. 35 do DL 3.365/41: 
Art. 35. Os bens expropriados, uma vez incorporados à 
Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, 
ainda que fundada em nulidade do processo de 
desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente, 
resolver-se-á em perdas e danos. 
 A partir do dispositivo referido, surgiram três correntes para 
explicar a natureza do direito de retrocessão: 
(i) Natureza real (Celso Antônio Bandeira de Mello, Seabra 
Fagundes, STF e STJ): a retrocessão é direito real, consistente 
no poder de o ex-proprietário reaver o bem pelo mesmo preço 
 
 
43 
 
pelo qual foi desapropriado. Possui fundamento no direito 
constitucional de propriedade, que só pode ser limitado por ato 
fundado no interesse público. Para essa corrente, o art. 35 do 
DL 3.365/41 somente é aplicável se a desapropriação atendeu 
aos requisitos constitucionais. Sendo real, a pretensão de 
retrocesso prescreveria em 10 anos, com base no art. 205 do 
CC/02; 
(ii) Natureza pessoal (José dos Santos Carvalho Filho e Hely Lopes 
Meirelles): a retrocessão não existe mais como direito real de 
reivindicar o bem de volta, mas tão somente como direito 
pessoal de pleitear perdas e danos. Para essa corrente, a 
pretensão de retrocesso funda-se no direito de preferência 
previsto no art. 519 do CC/02, segundo o qual “se a coisa 
expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por 
interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou 
não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao 
expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa”. 
Assim, conclui essa corrente que a retrocessão é direito 
obrigacional/pessoal, pois assim o é o direito de preferência. 
Sendo pessoal, a pretensão de retrocesso prescrevia em 5 anos, 
com base no art. 1º do DL 20.910/32. 
(iii) Natureza mista (Maria Sylvia Zanella Di Pietro): a natureza do 
direito de retrocessão seria definida conforme a pretensão do ex-
proprietário, que poderia reivindicar o bem de volta (natureza 
real; prescrição decenal), ou, caso preferisse, pleitear perdas e 
danos (natureza pessoal; prescrição quinquenal). 
 
 
 
 
 
44 
 
Em resumo: 
NATUREZA DO DIREITO DE RETROCESSÃO 
NATUREZA REAL: 
CABM, STF, STJ; 
NATUREZA PESSOAL: 
JSCF, HLM; 
NATUREZA MISTA: 
MSZP; 
Fundamento: 
Direito constitucional de 
propriedade – art. 5º, XXII, 
CF/88; 
Fundamento: 
Direito de preferência – art. 
519 do CC/02; 
Fundamento: 
Ambos; 
Prazo prescricional: 
10 anos. 
Prazo prescricional: 
5 anos. 
Prazo prescricional: 
5 ou 10 anos, a depender 
da pretensão. 
 
Para as provas de concurso público, recomenda-se levar em 
consideração a posição de Celso Antônio Bandeira de Mello, pois esta é 
abonada pelo STF e STJ: natureza real e prazo decenal de prescrição. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Tredestinação lícita e teoria dos motivos determinantes: 
 A doutrina pontua que a tredestinação lícita é exceção à nulidade 
do ato administrativo, por desrespeito aos motivos determinantes. Isso 
porque, em relação aos atos administrativos em geral, há nulidade, caso 
seja desviada a finalidade, ainda que mantido o interesse público. 
No caso da tredestinação lícita, contudo, se houver desvio de 
finalidade, mas restar mantido o interesse público, a desapropriação não 
 
 
45 
 
será nula, não assistindo, por isso, direito de retrocessão ao ex-
proprietário. 
CUIDADO! Em relação ao direito de retrocesso e tredestinação 
lícita, há uma especialidade no DL 3.365/41 que merece relevo: 
§ 3º Ao imóvel desapropriado para implantação de 
parcelamento popular, destinado às classes de menor 
renda, NÃO se dará outra utilização nem haverá 
retrocessão. 
 Nesse caso particular, portanto, não haverá discricionariedade do 
Administrador, para decidir como satisfazer o interesse público. 
______________________________________________________________________ 
ATENÇÃO: Tredestinação, adestinação e desdestinação: 
 Já se pontuou que a tredestinação ocorre quando o bem objeto da 
desapropriação é afetado à finalidade diversa daquela constante do ato 
expropriatório, podendo ser permanecer o interesse público 
(tredestinação lícita), ou não (tredestinação ilícita). Apenas nesse último 
caso será fraqueado o direito de retrocessão ao ex-proprietário. 
 Todavia, e se não for dada destinação alguma ao bem? Teria o ex-
proprietário o direito de exigi-lo de volta? A partir de quando restaria 
configurado o desinteresse do Poder Público no bem? 
 A omissão ou inércia estatal, neste particular, recebe o nome de 
ADESTINAÇÃO. Rafael Rezende Oliveira apresenta a divergência 
doutrinária sobre os questionamentos suscitados: 
(i) Primeira posição (majoritária): a mera omissão do Estado não 
configura tredestinação e não gera direito à retrocessão. Em 
razão da ausência de prazo legal para destinação pública do 
bem desapropriado, apenas por meio de ato concreto e 
comissivo, que deixe clara a intenção de não utilizar o bem na 
 
 
46 
 
satisfação do interesse público, será possível falar em 
tredestinação. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho, 
Celso Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, 
José Carlos de Moraes Salles. Esse entendimento deve ser 
assinalado como correto em provas objetivas; 
(ii) Segunda posição: apesar de não haver prazo estipulado, em 
regra, na legislação para que o Poder Público conceda 
destinação pública ao bem desapropriado, seria possível a 
aplicação analógica do prazo de caducidade do decreto 
expropriatório. De acordo com esse raciocínio, na 
desapropriação por utilidade pública ou necessidade pública, o 
prazo seria de cinco anos (art. 10 do Decreto-lei 3.365/1941). 
Caso a omissão permaneça, ao final do prazo de cinco anos 
estaria configurada a tredestinação, nascendo o direito à 
retrocessão. Nesse sentido: Miguel Seabra Fagundes. O autor, 
Rafael Oliveira, adere a essa corrente. 
Celso Antônio Bandeira de Mello, por outro lado, aduz a seguinte 
questão: se o bem expropriado foi inicialmente aplicado a uma finalidade 
pública, mas, tempos depois, foi dela desligado, persiste ou não o direito 
de o ex-proprietário reivindicá-lo? 
A essa supressão da afetação do bem desapropriado dá-se o nome 
de DESDESTINAÇÃO. Na hipótese, o bem desapropriado é inicialmente 
afetado ao interesse público, mas, posteriormente, ocorre a desafetação 
(ex.: bem desapropriado é utilizado como escola pública que vem a ser 
desativada). 
Sustenta a doutrina majoritária que, em casos de desdestinação, 
NÃO assiste direito de retrocessão ao ex-proprietário, pois o bem 
chegou a ser utilizado na satisfação do interesse público. Bandeira de 
Mello ensina que o bem não precisa ficar perpetuamente vinculado à 
destinação constante da declaração do ato expropriatório. 
 
 
47 
 
8. DESAPROPRIAÇÃO POR ZONA: 
Segundo o art. 4º do DL 3.365/41, 
Art. 4º A desapropriação poderá abranger a área contígua 
necessária ao desenvolvimento da obra a que se destina, e 
as zonas que se valorizarem extraordinariamente, em 
consequência da realização do serviço. Em qualquer caso, a 
declaração de utilidade pública deverá compreendê-las,mencionando-se quais as indispensáveis à continuação da 
obra e as que se destinam à revenda. 
 O dispositivo citado consagra, pois, a desapropriação por zona ou 
extensiva, que se caracteriza por abranger: 
(i) Área contígua necessária ao desenvolvimento da obra a que 
a desapropriação se destina. Nesse caso, a desapropriação por 
zona possibilita a continuidade ou complementação da obra 
pública já iniciada no local; 
(ii) As zonas que se valorizarem extraordinariamente, em 
consequência da realização do serviço. Nesse caso, a 
desapropriação por zona possibilita a venda das áreas ou zona 
excedentes que se valorizaram em consequência da realização 
da obra ou do serviço público. 
 
 
 
 
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