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Leitura introdutória FTB - B

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Noções Gerais
Ao iniciar-se o século XV a Europa sentia falta de dinheiro, de capital. No entanto, as pessoas não sabiam bem de que precisavam para ser ricas. Terras ou Dinheiro?! Quem possuía terras sentia falta de dinheiro, mas quem possuía dinheiro não tinha o prestígio dos donos de terra.
Tal situação tinha uma razão de ser. Iniciava-se um período de transição. Era a Época Moderna que se anunciava no Mundo Ocidental.
Todo o período compreendido entre os séculos XV e XVIII, vulgarmente chamado de Idade Moderna, caracterizou-se por uma série de transformações na estrutura da sociedade européia ocidental.
Lembra-se do que isso quer dizer?
Isso é o mesmo que dizer que ocorreram transformações em todos os níveis da realidade social: ao nível do jurídico-político, do econômico, do social e do ideológico. Melhor ainda seria dizer que ocorrem transformações ao nível da infra-estrutura — econômica e social — que, por sua vez, determinam as mudanças da superestrutura — jurídico-política e ideológica.
Você compreende, agora, o que significa falar em período de transição? Mais ou menos? . . .
Uma era de transição apresenta a coexistência do velho com o novo. Na Época Moderna era velho tudo o que era feudal e novo tudo o que era capitalista. No entanto, esse período é confuso, pois nem sempre podemos distinguir bem o que sèja o velho e o que representa o novo. Você deve se lembrar de que os níveis da realidade social são interdependentes, entretanto as mudanças não ocorrem simultaneamente em todos os níveis da realidade. Embora o que determine as transformações estruturais sejam as mudanças nas bases materiais, nem sempre o aspecto dominante do péríodo é o econômico.
Percebeu agora a razão da dúvida sobre a fonte das riquezas? Foi a transição da valorização das terras para a valorização da riqueza móvel — do dinheiro!
O que basicamente caracteriza a Época Moderna é a passagem do feudalismo para o capitalismo: é a Era Pré-Capitalista, em que se forjaram as precondições para o advento do sistema capitalista.
PARTE I: TERRAS OU DINHEIRO?
Vamos, agora, nessas noções iniciais, mostrar, em linhas gerais, as mudanças ocorridas nos diversos níveis da sociedade européia ocidental durante a Época Moderna.
Em termos econômicos é marcada pelo predomínio do capital comercial e pela afirmação das manufaturas.
O que vem a ser capital comercial?
É o capital proveniente do comércio. E as manufaturas?
É exatamente nesse ponto que você encontrará resposta para aquela questão inicial — desde quando as pessoas recebem um salário pelo seu trabalho?
Ora, se havia o predomínio do capital comercial, é porque havia um mercado em expansão.
Quando, na Baixa Idade Média, estruturaram-se as corporações de ofício, elas se destinavam a atender um mercado local. Mas o mercado se ampliou, tornando-se nacional e, com as Grandes Navegações, internacional, o que tornou superadas as corporações de ofício. Nesse momento entrou em cena o intermediário entre o produtor e o consumidor. O produtor — mestre artesão das Corporações — era, ao mesmo tempo, negociante, empregador, trabalhador, capataz e comerciante-lojista. O intermediário tomou para si as atividades comerciais e percebeu que era preciso produzir mais — crescia a demanda, o mercado se ampliava. Muitos deles procuraram então, reorganizar a produção, mas sem modificar a técnica de produção — apenas dividindo as tarefas, e, sem de
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NOÇÕES GERAIS
mora, perceberam as vantagens da especialização, que poupava tempo, acelerando a produção.
William Petty, economista do século XVII, pôs em palavras aquilo que muitos intermediários estavam fazendo na prática: "A fabricação da roupa deve ficar mais barata quando um carda, outro fia, outro tece, outro puxa, outro alinha, outro passa e empacota, do que quando todas as operações mencionadas são canhestramente executadas por uma pessoa só, por uma só mão." ( PETTY, W., Economic Writings, vol. 1, pág. 260_ Citado por HUBERMAN, L., História da Riqueza do Homem, Zahar Editores, pág. 120.)
Muitos intermediários aos poucos se tornaram empresários. Veja: com o capital comercial acumulado eles puderam organizar sua indústria. Em vez de só levarem a matéria-prima para o artesão e pagar-lhe pelo produto acabado, eles, agora, podiam comprar um prédio, todos os instrumentos necessários à execução do trabalho e, depois, contratar os artesãos, a quem pagariam um salário. Surgiu, então, a manufatura, onde o trabalhador já era assalariado, ou seja, ele vendia a sua força de trabalho para alguém que era o dono dos meios de produção.
Por isso, em termos sociais, a Época Moderna se caracterizou pela lenta afirmação da burguesia mercantil, que estava por trás de quase todos os grandes empreendimentos, e pelo aparecimento de uma forma acanhada da burguesia manufatureira.
No entanto, juridicamente, a sociedade se caracterizava pela divisão em Ordens ou Estados: Clero, Nobreza e Povo. Clero e Nobreza tinham posição e prestígio assegurados pela posse de terras, e por isso estiveram sempre juntos na defesa de seus interesses. Entre o Terceiro Estado — o Povo — estava a burguesia que, embora sem poder de decisão, era a mola-mestra dessa sociedade.
Politicamente, vamos observar a formação dos Estados Nacionais e a posterior centralização do poder: a descentralização feudal foi substituída pela Monarquia Absoluta de direito divino, da qual a França é o modelo clássico. As únicas grandes exceções no processo de formação do Estado Nacional Moderno foram a Alemanha e a Itália, fracionadas em inúmeros pequenos Estados, constituindo-se apenas em expressões geográficas.
Tudo estava mudando.. .. Iniciavam-se os Tempos Modernos . . . Logo no seu alvorecer, até os horizontes geográficos se alargaram como resultado das Grandes Navegações, empreendidas de forma pioneira pelos países ibéricos: Portugal e Espanha_ O Oriente — genericamente denominado de "índias" — era o ponto visado pelos navegantes, sendo, então, incorporado ao circuito comercial europeu.
O caráter mercantil da expansão explica a exploração das novas áreas. A América foi colonizada e explorada em benefício das metrópoles européias.
Nas áreas coloniais americanas o escravismo surgiu como única solução para realização do trabalho agrícola, ao passo que na Europa, gradualmente, o trabalho servil -- sistema feudal — deu lugar, aos poucos, ao trabalho assalariado — sistema capitalista_
Agora, tente responder a essas questões:
Se as pessoas não percebiam bem o que precisavam para ser ricas, o que fazia o Rei — monarca absoluto — para tornar seu país — seu Estado Nacional — rico?
O que tornaria um país rico? Era a pergunta corrente na época. Precisava ser respondida.
Os homens inteligentes tentaram respondê-la. Adam Smith, em 1776, sintetizou bem o pensamento da maioria dos autores daquele período, embora dele discordasse porque suas idéias já refletem o pensamento econômico burguês: "Um país rico, tal como um homem rico, deve ser um país com muito dinheiro; e juntar ouro e prata num país deve ser a mais rápida forma de enriquecê-lo." (Citado por HUBERMAN, L., História da Riqueza do Homem, Zahar Editores, pág. 130.)
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E foi dessa forma que os Reis procuraram fortalecer o Estado Nacional. Começaram a pôr em prática uma série de medidas no sentido de fortalecer a economia nacional. Ao conjunto dessas medidas empíricas damos o nome de Mercantilismo. É evidente que cada país estabeleceu as medidas que mais lhe convinham. Por isso o Mercantilismo não chegou a ser uma doutrina, apresentando uma série de variantes nacionais.
Seu pressuposto básico era de que a riqueza de uma Nação é medida pela quantidade de metais preciosos que consegue manter dentro de suas fronteiras.
Mas como fazer isso?
A resposta era "vender o máximo e importar o mínimo", a fim de ter uma balança comercial favorável. Tais práticas levaram ao exclusivismo, ao monopólio. As colônias vinculavam-se às suas metrópoles através do Pacto Colonial, que nada mais era do que o monopólio metropolitano. Todoum sistema colonial foi criado levando ao fechamento de grandes áreas comerciais às outras nações. Daí o recrudescimento da pirataria e do corso e as guerras da Idade Moderna.
Muito interessante seria para você procurar saber o que faz a riqueza de uma Nação hoje.
Leia jornais, revistas, tudo o que você encontrar.
Você vai gostar de pesquisar este assunto. Mas não se prenda só aos textos escritos, converse sobre o assunto com todo o tipo e classe de pessoas. Ficará fascinado ao ver como seu estudo ganhará vida, abertura e, é claro, estará bem mais próximo da realidade.
Nesta conversa com as pessoas, poderá observar que nem todas têm exatamente as mesmas idéias, mas que existe alguma coisa de parecido nas diversas opiniões . . . O que será?
Talvez o que as aproxima seja apenas a forma de raciocínio. O que você acha?
Essa forma de raciocínio é o que chamamos de estruturas ideológicas. E você lembra que elas são determinadas pelas bases sociais e econômicas que as sustentam.
Pois é, estávamos vendo as transformações sociais, econômicas e políticas da Era Pré-Capitalista. Muito bem. Todas as modificações na maneira de viver da sociedade européia ocidental afetaram, é claro, o plano das idéias.
Homem, preterido na Idade Média por Deus, passou a ser o centro das atenções dos pensadores e homens de Ciência. Afinal tudo estava sendo sua obra! E "que obra de arte é o homem" (W. Shakespeare).
O século XVI foi, assim, marcado pelo Humanismo e pelo Renascimento: passou-se do teocentrismo medieval para o antropocentrismo — foi o primeiro passo para o individualismo, para a idéia de que o Homem se faz por si mesmo.
E, logo, começou-se a valorizar aquilo que faz do homem um homem: a Razão.
A cristandade viu-se subitamente dividida pela quebra dos velhos padrões ideológicos da religião: era o advento do movimento reformista iniciado na Alemanha. A Reforma, que difundiu uma série de Igrejas Protestantes por toda a Europa, possui um complexo de causas que fez do século XVI uma época de intolerância.
Enfim, era de transição, de transformações várias e rupturas violentas, das quais, no final do período, as Revoluções Burguesas, e com elas a Revolução Francesa, foram o marco final. E o início de uma nova era. . . a Era Capitalista!
Vamos agora programar nosso estudo desta Parte I?
Para que ele seja completo, precisamos procurar identificar, relacionar e localizar os elementos que caracterizaram a transição da sociedade feudal medieval para a socie
dade capitalista moderna no Mundo Ocidental. Os conceitos mais importantes são: Feudalismo, capital comercial, Mercantilismo, Absolutismo, Estado Moderno, Antigo Regi-
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Unidade I
Cristãos e especiarias
A EXPANSÃO MARÍTIMA E COMERCIAL
1. NOÇÕES INICIAIS
Para que servem as especiarias?
Você já deve ter ouvido essa pergunta várias vezes e certamente sabe respondê-la. Mas se nós lhe perguntássemos, como, onde e quando o seu uso foi difundido, você talvez se atrapalhasse para responder .
O consumo das especiarias se difundiu na Europa na época das Cruzadas. As Cruzadas, você sabe, é o nome dado às expedições militares cristãs que, dos séculos XI ao XIII, se dirigiram ao Oriente, a pretexto de libertar a Terra Santa do domínio muçulmano. A intolerância dos turcos seldjúcidas, novos senhores da Síria-Palestina, havia tornado impossível o prosseguimento das peregrinações dos cristãos aos Lugares Santos.
Repare bem que usamos a palavra pretexto, pois muitos eram os interesses que levaram os europeus aos choques com as civilizações bizantina e muçulmana. Para as cidades comerciais italianas, por exemplo, era muito vantajoso que as Cruzadas utilizassem suas embarcações para atingirem terras orientais. Desejavam aumentar seus lucros mediante a expansão das transações comerciais.
E atingiram seus objetivos?
Claro! As Cruzadas reabriram o Mediterrâneo Oriental às embarcações ocidentais, em especial às frotas de Gênova e Veneza. Dinamizavam-se, assim, as relações mercantis Oriente-Ocidente. Aumentava a procura de produtos do Oriente — difundia-se o consumo do açúcar, das sedas, porcelanas, artigos de luxo e especiarias .. .
Tal expansão do comércio concorreu para o enriquecimento da burguesia. E quando chegamos ao século XV, observamos que as principais rotas comerciais mediterrânicas continuavam a ser monopólio das cidades italianas. Aliadas aos muçulmanos do Oriente, elas estrangulavam o comércio europeu.
O Mediterrâneo continuava a ser o eixo econômico milenar da Europa em seu comércio com o Oriente, dessa vez nas mãos dos italianos. Logo, é nas cidades italianas que vamos encontrar maior número de burgueses enriquecidos com os lucros provenientes do comércio ...
Existiam várias famílias burguesas riquíssimas, como é o caso dos Médici, dos Függer . . . Entretanto, um fato que contribuiu para aumentar o preço dos produtos orientais foi a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453. Embora não impedissem o comércio por Constantinopla, os turcos otomanos passaram a cobrar novas taxas, encarecendo ainda mais o preço de revenda das especiarias. Além do mais, as minas européias de metais preciosos começavam a se esgotar, o que reduzia a possibilidade de cunhar mais moedas.
Qual seria a solução para tais problemas? A solução seria chegar às fridias, nome genérico pelo qual era conhecido o Extremo-Oriente, por um caminho marítimo, que evitasse o Mediterrâneo.
Muito bem. Mas quem financiaria tais empreendimentos?
A burguesia, é claro. Pois era a mais interessada e a classe social que tinha suas bases materiais fundamentadas em uma riqueza móvel — no dinheiro. E, embora as viagens pudessem dar muitos lucros, eram necessários gastos bastante altos na sua preparação.
Assim, a burguesia foi a financiadora de tais empreendimentos. Enquanto os Reis foram os patrocinadores . . .
Os Reis viriam a concluir no século XVI que a riqueza do país seria medida pela quantidade de ouro e prata existente dentro das fronteiras do Reino e para isso precisariam "vender o máximo e comprar o mínimo".
Vamos, então, estudar todos os detalhes da Expansão Marítima e Comercial dos séculos XV e XVI?
2. ANTECEDENTES
Desde fins do século XI, mas sobretudo a partir do século XII, ocorreu, na Europa Ocidental, o Renascimento Comercial e Urbano.
A paralisação das invasões, que marcaram os séculos precedentes, juntamente com a ação das Monarquias Feudais e da Igreja, empenhadas em restabelecer a ordem nos Reinos, contribuíram para uma relativa segurança, criando condições favoráveis às transações mercantis realizadas pela burguesia.
A prosperidade comercial encontrou sua razão de ser no retorno a uma economia monetária, na disponibilidade de excedentes de produção, na melhoria dos transportes marítimos e na intensificação da vida urbana.
"Parece que o acontecimento decisivo foi a Primeira Cruzada (1097), pois abriu o Mediterrâneo e criou uma corrente entre os povos do Ocidente e a Síria, ocupada pelos francos." ( ELLUL, J., Histoire des Institutions, tomo II, P. U. F. pág. 83.) Ainda que aumentassem as relações comerciais com o Oriente, intensificando a procura de produtos asiáticos (especiarias, seda, tapetes, açúcar etc.) e arruinassem Bizâncio, que perdeu a posição mantida há séculos, as Cruzadas beneficiaram principalmente os comerciantes das cidades italianas.
Veneza, em especial, estabeleceu forte monopólio, graças sobretudo às estreitas ligações fixadas com os muçulmanos: nos portos litorâneos do Mediterrâneo Oriental obtinha os produtos vindos do Extremo Oriente ("índias"), através da "rota das especiarias" (cujos terminais eram Alexandria, no Egito, e Acra, Trípoli e Beirute, na Síria-Palestina), revendendo-os a altos preços na Europa. Seus lucros fabulosos estimularam os comerciantes de outras regiões européias — tais como os portugueses — a tentar quebrar o monopólio veneziano, mediante expedições marítimas, visando atingir, diretamente, os centros produtores das Índias.
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"Então o Capitão-Mor enviou um degredado a Calicute. Oshabitantes trouxeram até o nosso homem dois intérpretes que falavam castelhano, mouros de Unis. O primeiro cumprimento que lhe deram foi textualmente o seguinte: Diabo, o que o traz aqui?' Em seguida perguntaram o que vínhamos procurar tão longe. Ele lhes respondeu que vínhamos procurar crist-os e especiarias."
(Jornal da viagem de Vasco da Gama, citado por GOTHIER, L. e TROUX, A., Recueils de Textes d'Histoire, tomo III, pág. 17.)
Além do mais, a crise final da Idade Média (séculos XIV e XV) assistiu a verdadeira fome de metais preciosos, necessários à cunhagem de moedas. A necessidade de obter ouro e prata, revitalizando as transações mercantis enfraquecidas com a depressão econômica, igualmente funcionou como poderoso fator para a expansão atlântica dos séculos XV e XVI.
formação dos Estados Nacionais, paralelamente ao fortalecimento do poder monárquico, implicava crescentes despesas, levando os Reis a favorecerem os empreendimentos marítimos como um meio de ampliar suas fontes de receita, fundamentais para a consolidação da autoridade real.
3. A EXPANSÃO PORTUGUESA A. A primazia de Portugal
Coube aos Países Ibéricos desempenhar um papel pioneiro na expansão marítima e comercial atlântica, o que se explica por fatores específicos, criando condições sócio-econômicas e políticas favoráveis, inicialmente, em Portugal.
Desde a Terceira Cruzada (século XII), as cidades litorâneas portuguesas, em particular Lisboa, vinham servindo de ponto de escala à ligação marítima entre o comércio mediterrâneo e o norte europeu. A progressiva integração ao circuito comercial europeu reforçou a burguesia mercantil de Portugal, fortalecida com o afluxo de mercadores e capitais genoveses e flamengos, favorecida, também, por leis promulgadas pela dinastia de Borgonha, como a Lei das Naus, a dos seguros náuticos, a de criação da Bolsa de Lisboa etc. Desejosa de manter e ampliar suas conquistas, essa burguesia mercantil apoiou a Revolução do Mestre de Avis (1383-1385), que levou ao poder D. João I, fundador da dinastia de Avis, impedindo a subordinação do Reino a Castela, cujo governante se casara com a filha -de D. Fernando I (1367-1383), o último representante da dinastia de Borgonha. A vitória de Aljubarrota reafirmou a independência do Reino português e frustrou a solução antinacional e feudal, defendida pela maioria da nobreza e do clero, interessados na união com Castela, porque ficariam subordinados à autoridade de um Rei distante. 
Ainda que vitorioso, D. João I (1385-1433) fizera concessões, visando a obter apoio de parte da nobreza feudal para prosseguir a guerra contra Castela. Isto esclarece caráter conflitante da dupla orientação seguida pela Monarquia ao empreender a expansão pelo Norte da África e pelo Atlântico Sul, costeando o litoral africano para atingir as índias:
→ orientação mercantil, atendendo aos interesses da burguesia comercial;
→ orientação territorial, satisfazendo aos desejos da nobreza feudal.
-13-
É certo, porém, que a expansão, inicialmente, uniu o Estado em torno do Rei e satisfez a interesses gerais, afetados pelo declínio do comércio com a Europa setentrional, devido à Guerra dos Cem Anos, envolvendo a França e a Inglaterra que, dentre outras coisas, disputavam a Flandres.
B. O processamento da expansão
Se à dinastia de Borgonha coube formar o Estado Nacional português, foi a dinastia de Avis quem promoveu a empresa mercantil expansionista, iniciada com a conquista de Ceuta (1415) e continuada no século XV com a exploração e conquista das ilhas e regiões litorâneas da África no Atlântico Sul. Mediante a implantação de feitorias e fortalezas, visando a impedir a ação de concorrentes europeus e assegurando ouro, escravos, pimenta, presas de elefante, almíscar, panos de algodão e outras mercadorias revendidas na Europa, a empresa mercantil tornou-se autofinanciada, embora os riscos fossem assumidos, basicamente, pela burguesia, que via os lucros serem canalizados para as mãos da Monarquia.
A viagem de Bartolomeu Dias (1487), atingindo e dobrando a extremidade meridional do continente africano (o Cabo da Boa Esperança), abriu a rota do Oceano Indico, através da qual Vasco da Gama (1498-1499) chegou a Calicute, na índia.
	
"(. . .) se partiu para Calicute que é além setecentas léguas (. . .) há nela muitos mouros que até agora sempre nela trataram de especiaria, porque é assim como Bruges em Flandres, escapo principal das cousas da Índia que de fora vêm a ela, e nela não há senão canafístula e gengibre (. . .) e começou logo de tratar suas mercadorias e de carregar as naus de especiaria."
(Segundo Carta de D. Manuel I aos Reis Católicos, em 28 de agosto de 1501, citada por DIAS, C. M. História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. 2, Litografia Nacional, págs. 165-167.)
O sucesso dessa viagem abria excelentes perspectivas para Portugal, que podia substituir Veneza como centro redistribuidor dos produtos asiáticos. Impunha-se, porém, controlar o comércio das Índias mediante o domínio das rotas asiáticas que desembocavam no Mediterrâneo Oriental e a eliminação dos comerciantes muçulmanos que o exerciam.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral, após "descobrir" o Brasil, atingiu Calicute onde derrotou uma frota muçulmana.
Seguiram-se outras expedições, destacando-se a ação de Afonso de Albuquerque, estabelecendo fortificações e feitorias nas entradas do Mar Vermelho e Golfo Pérsico, na Índia, Indonésia, China e Japão, vem a ser o criador do Império Asiático Português.
	
"(. . .) porque nos parece que nenhuma coisa poderia mais importar a nosso serviço que termos uma fortaleza na boca do Mar Vermelho ou perto dele, assim dentro como fora, onde melhor disposição para ela houver, porquanto por aqui se faria que não pudesse mais passar nenhuma especiaria (. . .)"
(Regimento de D. Manuel 1 a D. Francisco de Almeida, in História de Portugal, dirigida por PERES, D., vol. IV, Portucalense Editora Ltda., pág. 35.)
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ETAPAS DA EXPANSÃO PORTUGUESA
C. O declínio
Por algum tempo, Portugal teve a supremacia comercial na Europa, com Lisboa convertendo-se no centro de revenda, principalmente de especiarias. Todavia, "em meio da aparente prosperidade, a Nação empobrecia. Podiam os empreendimentos da Coroa ser de vantagem para alguns particulares (. .)" ( AZEVEDO, J. L. de, Épocas de Portugal Econômico, Livraria Clássica Editora, pág. 180.) Mas, desde o início, a empresa mercantil fora extremamente dispendiosa e, muitas vezes, ilusória. Basta lembrar, por exemplo, a conquista de Ceuta, que se converteu em um peso econômico porque o comércio da África, que se esperava monopolizar, deixou de afluir à cidade, desviado pelos próprios muçulmanos que dominavam as rotas transaarianas.
À medida que o Império tricontinental na Ásia, na África e na América (Brasil) se expandia, o número de funcionários civis e militares aumentava, acarretando crescentes despesas para o Estado. Os gastos da Coroa, para tentar manter o monopólio das especiarias, eram acrescidos pela manutenção de fortalezas, constante patrulhamento feito pelas frotas de guarda-costas, sem esquecer que as embarcações eram caras, duravam poucas viagens, e os naufrágios, freqüentes.
A emigração (retirando do Reino sobretudo homens jovens), as epidemias e as crises - de fome foram fatores que agiram para provocar o de Plínio demográfico, o que contribuía para afetar a economia, atingida tanto no setor da produção como no de consumo.
	
	"Vimos muito espalhar portugueses no viver, Brasil, ilhas povoar, e às índias ir morar, natureza lhes esquecer.
	Vimos no Reino meter tantos cativos crescer, e irem-se os naturais, que se assim for, serão mais eles que nós, a meu ver."
(Segundo Garcia de Rezende, em 1534, citado por GODINHO, V. M., Os Descobrimentos e a Economia Mundial, vol. II, pág. 519.)
-15-
Carente de capitais, a Coroa recorreu à política de elevação dos impostos e de empréstimos a banqueiros flamengos e italianos, que ficavam com a maior parte dos lucros, enquanto queo Estado sempre arcava com os riscos e perdas.
A própria economia nacional entrou em colapso: os campos se despovoaram com o recrutamento para a Marinha e as tropas de além-mar, e com a emigração pela possibilidade de enriquecer no exterior. Por conseguinte, a produção agrícola decaiu, não só pela diminuição da mão-de-obra, mas também pelo desvio de capitais para os empreendimentos mercantis marítimos. Com isso, tornou-se necessário importar o que antes se produzia, sem se esquecer de .que os lucros, cada vez mais reduzidos, não foram reinvestidos nas atividades industriais, com o que se criaria uma produção nacional capaz de suprir o mercado interno e evitar a importação de produtos pagos a peso de ouro.
Acrescente-se que a Coroa, monopolizando a empresa mercantil, aplicou grande parcela de seus lucros na realização de obras dispendiosas, concedeu amplas vantagens à aristocracia decadente (pensões, cargos, terras, monopólios) em detrimento da burguesia, ainda mais debilitada com a expulsão dos judeus no reinado de D. Manuel I (1495-1521), pela emigração de cristãos-novos, devida à implacabilidade da Inquisição, e com a dependência à Coroa, que procurava reservar-se os maiores lucros.
À debilidade interna juntou-se a pressão externa aumentada com a União Ibérica (1580-1640), quando o Império Português na Ásia e na África começou a desmoronar e a cair em poder da Holanda e da Inglaterra.
4. A EXPANSÃO ESPANHOLA
A. O atraso espanhol
Cronologicamente, a Espanha foi o segundo país a se lançar em busca de um caminho marítimo para as índias, tendo a sua empresa marítima mercantil sido retardada pelos seguintes motivos:
prosseguimento da Reconquista, ou seja, a luta para expulsar os muçulmanos, só concluída com a tomada do Reino de Granada (1492);
ausência de unidade política e territorial, porquanto permanecia dividida em
Reinos independentes e envolvidos em constantes guerras. Com a união de Castela e Árag-do (possível com o casamento de seus respectivos governantes, Isabel e Fernando), seguida da conquista de Granada e da posterior incorporação de Navarra, completou-se o Estado Nacional;
a política mediterrânea de Aragdo: desde o século XIII, os governantes aragoneses
lançaram-se a uma vigorosa política marítimo-comercial mediterrânea levando-os a formar um império, que englobava ilhas (Majorca, Sicília) e terras meridionais da Itália. A burguesia catalã, aliada à Monarquia, tentou concorrer com Veneza no comércio mediterrâneo, disso resultando estreitas ligações com Gênova, rival de Veneza, fato que serve como explicação da afluência de capitais, comerciantes e navegadores genoveses à Catalunha e, também, à Andaluzia (esta, no Reino de Castela). Mesmo após a criação do Estado Nacional, a Coroa espanhola seguiu dupla orientação: européia e mediterrânea, segundo interesses aragoneses; americana e atlântica, atendendo às aspirações castelhanas.
B. O processamento da expansão
Não obstante a burguesia mercantil da Andaluzia (região de Castela) viesse realizando empreendimentos marítimo-mercantis nas regiões litorâneas da costa ocidental africana (a conquista e colonização das Ilhas Canárias, por exemplo), foi somente com a forma
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ção do Estado Nacional, apesar de incompleta, que os espanhóis iniciaram uma e=f-s.a ultramarina de ampla envergadura.
VIAGENS ESPANHOLAS, FRANCESAS E INGLESAS NOS SÉCULOS XV E XVI
Impossibilitados de costear a África para atingir as índias, devido à precedência portuguesa que impedia a ação de concorrentes, viram-se obrigados a navegar pelo Ocidente para chegar ao Oriente. O ponto de partida foi a viagem do genovês Cristóvão Colombo, que resultou no descobrimento da América (1492), acarretando problemas internacionais com Portugal, resolvidos pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
Novas expedições foram enviadas ao continente americano, por algum tempo considerado parte da Ásia, até que Vasco Núilez de Balboa atravessou o Istmo do Panamá e descobriu o Oceano Pacífico (1513). Durante esse ciclo antilhano a empresa espanhola foi passando de puramente mercantil a colonizadora; os núcleos de colonização serviam, inclusive, como focos de irradiação da Conquista das terras continentais, onde a descoberta de fabulosas riquezas minerais deu à Espanha a condição de primeira potência européia (século XVI).
Embora outras viagens acabassem revelando novo caminho marítimo para as índias (entre 1519 e 1522, Fernão de Magalhães costeou a América do Sul, atravessou o Estreito de Magalhães e o Pacífico, atingindo a índia e retomou à Espanha através do Atlântico Sul), para os espanhóis a Ásia permaneceu como um apêndice do Império que conquistaram na América.
C. O declínio
A hegemonia espanhola no século XVI, sucedendo à preponderância portuguesa no século XV, foi acompanhada de sintomas que constituíram germes da decadência evidenciada no século XVII.
Assim como em Portugal, a empresa mercantil era monopólio régio e os Reis espanhóis foram governantes que permaneceram vinculados às suas origens feudais. Por conseguinte, não se preocuparam em investir as riquezas, carregadas da América, em
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atividades economicamente produtivas. Antes, pelo contrário, dissiparam essas riquezas em construções faustosas, em guerras continentais constantes e desastrosas, na manutenção de requintada Corte, em pensões dispendiosas e inúmeras doações.
A política religiosa intolerante, igualmente, dissolveu a burguesia, que foi atingida pela expulsão dos judeus, por perseguições aos cristãos-novos (os marranos) e pelo banimento dos mouriscos (1609), privando o Estado de capitais, empresários e mão-de-obra qualificada.
Como ocorreu em Portugal, a economia desintegrou-se, arruinando-se a agricultura e a indústria, obrigando o país a importar a maior parte do que consumia.
"Não obstante as leis e pragmáticas deste Reino que proíbem que qualquer estrangeiro possa ir negociar nas Índias (ou seja, na América ou Índias Ocidentais), a não ser os espanhóis, já se sabe que a maior parte das mercadorias carregadas nas frotas é de origem estrangeira sob o nome de espanhóis, embora pertença a mercadores dos Estados de Holanda e de outros inimigos desta Coroa."
(Segundo Alberto Struzzi no Diálogo sobre o Comércio, de 1624, citado por 	LARRAZ, J., Laépoca de Mercantilismo em Castilla, Ediciones Atlas, pág. 144)
O aumento crescente de elementos economicamente parasitários (funcionários, eclesiásticos etc.) porque só consumiam sem produzir, também contribuía para manter a balança comercial deficitária, retirando ao Estado os metais preciosos em troca dos produtos comprados no estrangeiro.
O declínio da natalidade, a emigração para as diversas regiões do Império, a elevada mortalidade em decorrência de epidemias e guerras, acabaram por provocar a diminuição da população, o que, também, agravava a decadência.
Acrescente-se a isso que a pressão externa, principalmente por parte de ingleses, holandeses e franceses, foi minando o poderio espanhol que, no século XVII, se viu suplantado pela preponderância da Holanda.
5. A EXPANSÃO INGLESA E FRANCESA NOS SÉCULOS XV E XVI
Igualmente, franceses e ingleses procuraram novas rotas para o Extremo Oriente, buscando passagens a nordeste (norte da Eurásia) e a noroeste (norte da América). Mencionam-se, entre outras, as expedições de John Cabot (ou Giovanni Cabotto) e John Davis que, partindo da Inglaterra, exploraram o litoral americano, enquanto que, a serviço da França, Giovanni Verrazzano e Jacques Cartier velejaram pelas costas da América setentrional.
A ineficácia dessas rotas levou-os a renunciar a novas empresas exploradoras, concentrando-se em empreendimentos mais lucrativos, como atividades corsárias e piratas, incluindo-se o contrabando. Nessas práticas sobressaíram os ingleses Francis Drake e John Hawkins com intensa atividade na América Espanhola.
Somavam-se a tudo isso infrutíferas tentativas de fixação no continente americano: o inglês Walter Raleigh, por duas vezes, fundou a colônia de Virgínia, na Ilha de Roanoke(1585 e 1587), em terras dos atuais EUA, ao passo que o francês Nicolau Durand de Villegaignon estabeleceu a França Antártica em territórios da América Portuguesa (1555).
Não obstante essas atividades diversas, os franceses e ingleses só empreenderam uma expansão sistemática no século XVII, quando superaram os problemas internos
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6. A PREPONDERÂNCIA HOLANDESA formação da Holanda
A Holanda (denominação usualmente dada às Províncias Unidas dos Países Baixos), muito antes de se tornar independente, constituía uma das regiões mais florescentes da Europa.
Sua agricultura, apesar da escassez de terras, progredia e suas indústrias desenvolviam-se, principalmente, na produção de tecidos de linho, estofos de lã, tapeçarias, construção naval, peixe salgado etc. O comércio, beneficiado com as vitórias sobre a Hansa Teutônica e pelos progressos da marinha, expandiu-se rapidamente, aproveitando-se das rotas fluviais (o Escalda, o Reno e o Mosa ligavam a região com a França e com o Sacro Império Romano-Germânico) e marítimas. Aspecto importante, na atividade mercantil, era sua intensidade com o porto de Lisboa, de onde transportavam produtos vindos do Brasil, da África e da Ásia. A propósito, a Hansa Teutônica foi uma associação de cidades alemãs; formada no século XIII sob a liderança de Lubeck, até o século XV dominou o comércio marítimo da Europa Setentrional; seu declínio deveu-se ao deslocamento do eixo econômico para o Oceano Atlântico, consequência da Expansão Marítima e Comercial.
O banqueiro e sua mulher (pintura de Metzys).
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Com as rápidas transformações econômicas do século XVI, a sociedade assistiu ao fortalecimento de rica e ativa burguesia, sobretudo nos centros urbanos setentrionais dos Países Baixos, onde o Calvinismo converteu-se na religião predominante.
Politicamente, os Países Baixos integravam-se ao Império Espanhol, cada uma das dezessete províncias dispunha de um Conselho e de um governador (Estatúder) e enviava representantes aos Estados Gerais. As instituições comuns e a autonomia desfrutada, ao longo do governo de Carlos V, acabaram de forjar o sentimento nacional.
A ascensão de Felipe II ao trono espanhol marcou brusca mudança política em relação aos Países Baixos, ocorrendo crescentes choques contra a intolerância religiosa, manifestada pela introdução da Inquisição; a opressão fiscal, mediante a criação de novos impostos e elevação dos já existentes; regulamentação econômica promulgada em moldes mercantilistas e disposições administrativas suprimindo a autonomia existente.
A revolta conduziu à divisão dos Países Baixos: o Sul permaneceu unido à Espanha pela União de Arrás, enquanto os burgueses calvinistas do Norte formavam a União de Utrecht (1579), contando com a ajuda da Inglaterra de Elizabete I.
Apesar de a Espanha só haver reconhecido, diplomaticamente, a independência das Províncias Unidas mediante o Tratado de Vestfália (1648), estas já se haviam organizado em uma república federal, burguesa e calvinista.
A hegemonia
"Os holandeses aproveitaram-se de várias circunstâncias favoráveis: sua localização em frente ao Mar do Norte; a ruína de Antuérpia; o declínio dos portos hanseáticos; e, sobretudo, a decadência de Portugal, que, então, estava anexado à Espanha." (ARONDEL, M., e outros, Du Moyen Âge aux Temps Modernes, Collection d'Histoire, Bordas, Págs. 232 e 233.)
Ainda no decorrer da luta contra Felipe II, a Holanda procurou conquistar colônias aos lusos-espanhóis (de 1580 a 1640 houve a União Ibérica), daí os ataques aos domínios ultramarinos daqueles países visando a efetuar pilhagens (foi, por exemplo, o caso das diversas incursões ao litoral brasileiro) e, principalmente, o estabelecimento definitivo. Na América, os holandeses se apoderaram da Guiana, da Ilha de Curaçao, diversos pontos da América do Norte, tendo dominado o litoral norte e nordeste do Brasil durante algum tempo. Na África, estabeleceram-se na Colônia do Cabo e, temporariamente, em Angola, Benguela, São Tomé etc. No Oriente, criaram feitorias na Índia e dominaram Java, Ceilão, Málaca, Célebes, Molucas (as ilhas das especiarias), Nova Guiné, Sonda e Timor.
Para o processamento dessa intensa atividade, os holandeses construíram numerosas embarcações, formando a primeira frota naval do mundo.
Graças a tudo isso, Amsterdã, com suas feiras, sua Bolsa, seu Banco, companhias de comércio (das Índias Ocidentais, das Índias Orientais), converteu-se no principal centro comercial e financeiro da Europa durante a primeira metade do século XVII.
O declínio
Embora a ascensão hegemônica fosse rápida e se mantivesse na primeira metade do século XVII, o declínio se precipitou na segunda metade do mesmo século, quando guerras desastrosas, contra a Inglaterra (1652-1654 e 1665-1667) e contra a França (1672-1679), arruinaram o país e reduziram sua participação no comércio mundial.
Aos fatores externos somaram-se os de ordem interna, que apresentaram características distintas daquelas ocorridas nos países ibéricos. Com efeito, os holandeses foram incapazes de passar do capital comercial para o capital industrial: as excelentes possibilidades de lucro oferecidas pelas transações mercantis desviaram capitais de outras atividades, como a indústria, que estagnou e declinou; as perdas sofridas, externamente, acabaram dissipando a maior parte do capital de giro acumulado.
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7. EFEITOS DA EXPANSÃO NOS SÉCULOS XV E XVI
A expansão marítimo-comercial provocou ou acelerou profundas transformações no Mundo Europeu Ocidental.
Apesar de a expressão Revolução Comercial ser discutível, é inegável que, a partir de 1450, o comércio europeu conheceu extraordinária dinamização envolvendo:
a distensão das rotas comerciais a uma escala mundial;
o deslocamento do eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico; não que as transações mercantis mediterrâneas houvessem estagnado, mesmo porque as correntes terrestres do tráfico com o Extremo Oriente continuaram a afluir ao Mediterrâneo Oriental; simplesmente, foram superadas em volume, valor e variedade pelo comércio transatlântico;
a multiplicação de companhias de comércio, privilegiadas pelos governantes europeus e correspondendo à adoção de políticas mercantilistas;
o aperfeiçoamento de instituições financeiras, visando a facilitar as transações mercantis; desenvolveram-se os bancos e bolsas, expandiram-se as letras de câmbio e títulos etc.
as cidades italianas perderam o monopólio do comércio oriental, sendo suplantadas por Lisboa (transformada, por certo tempo, em Centro revendedor de especiarias) e, mais tarde, por Sevilha, eixo de convergência dos metais hispano-americanos;
"Aproximava-se a época da vinda de novas notícias de Portugal sobre a chegada de suas caravelas e tais notícias eram esperadas com muito receio e apreensão; e, por causa disto, não havia trocas, a não ser que fosse por um ducado (.. .)" (a chegada dessas notíticas) "(. . .) fez baixar em muito os preços de todas as especiarias, bem como de outras mercadorias complementares deste comércio, levando os mercadores ao desespero (. . .)" 
(Notícia e especulação em Veneza no século XVI, segundo P. Sardella, in Du Moyen Áge aux Temps Modernes, de ARONDEL, M., e outros.)
a valorização do capital comercial (aquele que atua, basicamente, no setor de trocas, sendo o lucro proveniente da diferença entre o valor da compra e o valor de venda do produto), beneficiado com o enorme afluxo de ouro e de prata, procedentes, sobretudo, da América Espanhola; o aumento do capital circulante estimulou a intensificação das atividades econômicas em geral;
 a alta geral de preços decorrente da defasagem entre o ritmo mais lento do aumento da produção e a rápida cunhagem de moedas pela maior disponibilidade de metais; o fenômeno, bastante sensível no século XVI, atingiu a sociedade em geral, com efeito contraditório: se a burguesia viu-se fortalecida, em contrapartida os assalariados e a nobreza feudal conheceram crescentes dificuldades.	
	"A principal e quase causa única da carestia (. . .)é a abundância de ouro e de prata, existentes neste Reino em maior quantidade do que houve em quatrocentos anos (. . .) É inacreditável e, contudo, verdade, que veio do Peru após 1533 (. . .) mais de cem milhões de ouro e duas vezes mais de prata (. . .)"
(Segundo Jean Bodin, in Réponse aux paradoxes de M. de Malestroit.)
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Além do mais, a ampliação dos mercados e a maior disponibilidade de capitais contribuíram para transformações no setor da produção industrial (surgimento das manufaturas) e agrícola (expansão do cercamento dos campos, introdução de novos cultivos como a batata, o tomate, o cacau etc.).
No plano político, o controle da economia pelo Estado permitiu maiores recursos para as monarquias, facilitando a consolidação do Absolutismo.
No plano ideológico, a valorização da riqueza móvel estimulou a formulação e teorias justificadoras do lucro e da acumulação de riquezas, sem esquecer influências sob o Renascimento, enriquecido com novos temas literários, dados científicos e concepções artísticas.
Fonte:
AQUINO, Rubi Santos Leão de. (et alli) História das sociedades: das sociedades modernas às atuais. 21ed. ver. e atualizada, Rio de Janeiro : Ao Livro Técnico, 1988.
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