Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL I PROFESSORA: Alexsandra Gato Rodrigues Aula 6 DO JUIZ E OS AUXILIARES DA JUSTIÇA Dos Poderes, Dos Deveres E Da Responsabilidade Do Juiz Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; Assegurar às partes igualdade de tratamento, velar pela duração razoável, prevenir ou reprimir atos contrários à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórios são deveres tradicionais do juiz. IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; Determinar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial são expressões que, parece, abrangem qualquer ato juridicamente possível; da referência às ações que tenham por objeto prestação pecuniária decorre que o juiz pode aplicar astreintes mesmo em se tratando de obrigação de pagamento de quantia em dinheiro. V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; O Código não se contenta com impor ao juiz o dever de promover, a qualquer tempo, a autocomposição, acrescentando que deve fazê-lo preferencialmente com o auxílio de conciliadores e mediadores judiciais. VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; Constitui novidade do Código o poder do juiz de alterar a ordem de produção dos meios de prova e o de dilatar os prazos processuais, mas somente antes de encerrados (parágrafo 1o); do contrário, estaria a afastar preclusão já consumada, em detrimento da parte por ela favorecida. Prazo extinto pode ser reaberto por justo motivo, nos termos do artigo 223 do CPC. O poder de polícia é tradicionalmente assegurado ao juiz. VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; O Código permite que o juiz determine, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para esclarecimento a respeito das alegações e dos fatos da causa, mas sem que da recusa resulte confissão. Conforme Guilherme Rizzo Amaral (2.015, p. 224), as partes comparecerão acompanhadas de seus advogados que, para isso, deverão ser intimados IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; Determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais e dever que não é novo. X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva. Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular. O Código impõe ao juiz o dever de noticiar ao Ministério Público, à Defensoria Pública e a outros legitimados, hipótese de possível ação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos. Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. O juiz deve julgar a causa conforme o Direito objetivo, ainda que este se apresente lacunoso ou obscuro. Julgamento por equidade é permitido apenas nos casos expressos em lei, como, por exemplo, nos procedimentos de jurisdição voluntária. Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Embora tendo amplos poderes na condução do processo, são as partes que definem o seu objeto. É o que decorre do art. 141. Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé. Esse artigo repete disposição do Código anterior, com o mesmo sentido. Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias. O juiz responde por perdas e danos se, no exercício de suas funções, procede com dolo ou fraude. Também responde por perdas e danos, no caso de recusa, omissão ou retardamento de ato devido se, instado pela parte a praticá-lo no prazo de dez dias, ainda assim não o pratica. A responsabilidade do juiz é regressiva, a significar que a ação de indenização deverá ser proposta contra a União ou o Estado, conforme o caso, que denunciará a lide ao juiz. Observe-se que, nesse caso, a denunciação à lide não introduz fundamento novo. Dos impedimentos e da suspeição O impedimento implica proibição absoluta ao exercício da jurisdição, cabendo ação rescisória da decisão proferida por juiz impedido. A suspeição apenas autoriza a recusa do juiz, que pode ser aceito pela parte, o que não impede que o juiz de ofício declare a própria suspeição. A sentença proferida por juiz suspeito não é nula nem rescindível. Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; Está impedido o juiz que haja anteriormente intervindo no processo como advogado de qualquer das partes, como órgão do Ministério Público, oficiado como perito ou que houver prestado depoimento como testemunha. A hipótese de o juiz haver anteriormente atuado no processo pela Defensoria Pública enquadra-se na de haver atuado como advogado da parte. II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; O juiz que haja proferido decisão em um grau de jurisdição não pode atuar, no mesmo processo, em outro grau de jurisdição. III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; § 1º Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. § 2º É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. § 3º O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seusquadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo. O juiz está impedido quando, antes de iniciar sua atividade no processo, nele houver atuado seu cônjuge ou companheiro, ou parente, mesmo que por afinidade e na linha colateral, até o terceiro grau inclusive, como, por exemplo, seu cunhado, colateral no segundo grau ou a esposa de seu sobrinho, colateral no terceiro grau. Primos são parentes no 4o grau. Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável (Cód. Civil, art. 1.595, § 2o). O impedimento estende-se ao escritório de advocacia, ainda que o cônjuge, companheiro ou parente não haja intervindo diretamente no processo (parágrafo 3o). O impedimento estende-se ao cliente do escritório de advocacia, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório (inc. X). Observa Guilherme Rizzo Amaral (2.015: p. 230) que, “ao fazer referência a escritório de advocacia e não a sociedade de advogados, o § 3o não restringe o impedimento à condição de sócio do advogado parente do juiz. Basta que ele integre, na condição de advogado – e não de estagiário, por exemplo – escritório de advocacia que atue na causa. O juiz, porém, não se torna impedido, se já estava atuando no processo, quando nele passa a atuar, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge, companheiro ou parente (parágrafo 2o), porque isso constituiria modo de, a qualquer tempo, provocar o impedimento do juiz. Nesse caso, conforme Carreira Alvim (2.015: p. 374-5), é o defensor público, advogado, membro do Ministério Público, cônjuge, companheiro ou parente, que fica impedido de atuar no feito, devendo ser substituído, sob pena de extinção do processo ou de revelia, conforme o caso. IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; Não há hipótese mais clara de impedimento do que aquela em que o próprio juiz seja parte no processo, porque ninguém pode ser juiz em causa própria (nemo iudex in rem suam). Há impedimento também se é parte no processo o cônjuge, companheiro ou parente do juiz até o 3o grau. V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; O juiz não pode atuar em processo em que é parte empresa de que seja sócio. Pode, porém, atuar em processo com empresa de que seja acionista, suposto que não integre sua direção ou administração. O Estatuto da Magistratura (Lei Complementar 35/79) veda ao magistrado exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou quotista bem como exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe e sem remuneração. O associado de uma associação, com finalidade social, cultural, desportiva etc. (Cód. Civil, art. 52) não é sócio. Pode haver suspeição, mas não há impedimento do juiz. VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; O juiz também não pode atuar em processo com parte de que seja possível herdeiro, ou de que seja donatário, ou empregador. Conforme Carreira Alvim (2.015: p. 371), o impedimento estende-se ao diarista, ainda que não se configure emprego, nos termos da legislação trabalhista. VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; O juiz não pode atuar em processo em que seja parte instituição de ensino em que seja professor. VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. Conforme Carreira Alvim (2.015: p. 373), a recíproca é verdadeira, havendo impedimento também quando o juiz for réu, em ação proposta pela parte ou por seu advogado O artigo 145 CPC trata das hipóteses de suspeição do juiz. O artigo 146 CPC regula o procedimento da alegação quer de impedimento, quer de suspeição. Observe-se, porém, que o impedimento pode ser arguido a qualquer tempo, não se submetendo ao prazo preclusivo de 15 dias. O juiz arguido de impedido ou suspeito não pode praticar ato algum no processo, até que o relator declare que o recebe sem efeito suspensivo ou sua rejeição pelo tribunal. Recebido o incidente sem efeito suspensivo, o processo, suspenso pela arguição de impedimento ou de suspeição, volta a correr e perante o juiz arguido de impedido ou suspeito. Observe-se que a tutela de urgência é requerida ao substituto legal apenas enquanto não declarado em que efeito foi recebido o incidente e quando recebido o incidente com efeito suspensivo. O artigo 147 CPC proíbe que atuem no mesmo processo juízes que sejam parentes entre si, até o terceiro grau inclusive, caso em que o primeiro juiz que pratique ato no processo impede a atuação do segundo.O artigo 148 CPC determina a aplicação dos motivos de impedimento e de suspeição ao membro do Ministério Público, aos auxiliares da justiça e as demais sujeitos imparciais do processo, e regula o procedimento da respectiva alegação. Dos auxiliares da Justiça O artigo 149 enumera alguns dos auxiliares da justiça: São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. Dentre os auxiliares da justiça não enumerados no artigo 149 podem-se citar o avaliador e o leiloeiro. Dispondo sobre matéria própria das Leis de Organização Judiciária, o Código exige que, em cada juízo, haja pelo menos um Ofício de Justiça e, em cada comarca, tantos oficiais de justiça quantos sejam os juízos (arts. 150 e 151 CPC ) O artigo 152 enumera as atribuições do escrivão ou chefe de secretaria: Art. 152. Incumbe ao escrivão ou ao chefe de secretaria: I - redigir, na forma legal, os ofícios, os mandados, as cartas precatórias e os demais atos que pertençam ao seu ofício; II - efetivar as ordens judiciais, realizar citações e intimações, bem como praticar todos os demais atos que lhe forem atribuídos pelas normas de organização judiciária; III - comparecer às audiências ou, não podendo fazê-lo, designar servidor para substituí-lo; IV - manter sob sua guarda e responsabilidade os autos, não permitindo que saiam do cartório, exceto: a) quando tenham de seguir à conclusão do juiz; b) com vista a procurador, à Defensoria Pública, ao Ministério Público ou à Fazenda Pública; c) quando devam ser remetidos ao contabilista ou ao partidor; d) quando forem remetidos a outro juízo em razão da modificação da competência; V - fornecer certidão de qualquer ato ou termo do processo, independentemente de despacho, observadas as disposições referentes ao segredo de justiça; VI - praticar, de ofício, os atos meramente ordinatórios. §1º O juiz titular editará ato afim de regulamentara atribuição prevista no inciso VI. O Código permite que o juiz nomeie escrivão ad hoc: § 2º No impedimento do escrivão ou chefe de secretaria, o juiz convocará substituto e, não o havendo, nomeará pessoa idônea para o ato. No artigo 153, o Código de Processo Civil co-responsabiliza o escrivão ou chefe de secretaria pela observância da ordem cronológicaprevista no artigo 12 CPC. Art. 153. O escrivão ou chefe de secretaria deverá obedecer à ordem cronológica de recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos judiciais. § 1º A lista de processos recebidos deverá ser disponibilizada, de forma permanente, para consulta pública. § 2º Estão excluídos da regra do caput: I - os atos urgentes, assim reconhecidos pelo juiz no pronunciamento judicial a ser efetivado; II - as preferências legais. § 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-ão a ordem cronológica de recebimento entre os atos urgentes e as preferências legais. § 4º A parte que se considerar preterida na ordem cronológica poderá reclamar, nos próprios autos, ao juiz do processo, que requisitará informações ao servidor, a serem prestadas no prazo de 2 (dois) dias. § 5º Constatada a preterição, o juiz determinará o imediato cumprimento do ato e a instauração de processo administrativo disciplinar contra o servidor. O artigo 154 enumera as atribuições do oficial de justiça: Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: I - fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora; II - executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar o mandado em cartório após seu cumprimento; IV - auxiliar o juiz na manutenção da ordem; V - efetuar avaliações, quando for o caso; VI - certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação que lhe couber. Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa. Nos termos do artigo 155 CPC, o escrivão ou chefe de secretaria e o oficial de justiça respondem regressivamente por perdas e danos, quando, sem justo motivo, se recusarem a cumprir no prazo os atos devidos e quando com dolo ou culpa praticarem ato nulo. Trata-se de responsabilidade regressiva, a significar que a ação de indenização deverá ser proposta contra a União ou o Estado, conforme o caso, que denunciará a lide ao servidor. Observe-se que se trata de hipótese em que a denunciação da lide não implica a inserção de fundamento novo. Do perito, do depositário e do administrador, do interprete e do tradutor Dispõe o artigo 156: Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. O perito precisa ter habilitação legal e estar inscrito no cadastro organizado pelo respectivo tribunal. Somente não havendo na localidade perito inscrito no cadastro é que o juiz pode nomear perito de sua livre escolha. § 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. § 5º Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento necessário à realização da perícia. Os parágrafos 2o e 3o do artigo 156 dispõem sobre a formação do cadastro de peritos: § 2º Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circulação, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de profissionais ou de órgãos técnicos interessados. § 3º Os tribunais realizarão avaliações e reavaliações periódicas para manutenção do cadastro, considerando a formação profissional, a atualização do conhecimento e a experiência dos peritos interessados. Além do cadastro, dispõe o Código sobre uma lista de peritos, em cada vara ou secretaria, para fins de distribuição equitativa. O artigo 157, § 2o, dispõe: § 2º Será organizada lista de peritos na vara ou na secretaria, com disponibilização dos documentos exigidos para habilitação à consulta de interessados, para que a nomeação seja distribuída de modo equitativo, observadas a capacidade técnica e a área de conhecimento. Aplicam-se ao perito os motivos de impedimento e de suspeição estabelecidos para o juiz (art. 148CPC), estabelecendo o parágrafo 4o do artigo 156 CPC que, para fins de verificação de eventual impedimento ou suspeição, órgão técnico ou científico nomeado para a realização da perícia deverá informar ao juiz os nomes e os dados de qualificação dos profissionais que realizarão a tarefa. A recusa do perito faz-se na forma estabelecida nos parágrafos do artigo 148. O artigo 157 trata da escusa do perito: Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. § 1º A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação, da suspeição ou do impedimento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a alegá-la. O artigo 158 dispõe sobre a responsabilidade do perito: Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis. Os artigos 159, 160 e 161 tratam, respectivamente, das atribuições, da remuneração e da responsabilidade do depositário ou administrador: Art. 159. A guarda e a conservação de bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados serão confiadas a depositário ou a administrador, não dispondo a lei de outro modo. Art. 160. Por seu trabalho o depositário ou o administrador perceberá remuneração que o juiz fixará levando em conta a situação dos bens, ao tempo do serviço e às dificuldades de sua execução. Parágrafo único. O juiz poderá nomear um ou mais prepostos por indicação do depositário ou do administrador. Art. 161. O depositário ou o administrador responde pelos prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, perdendo a remuneração que lhe foi arbitrada, mas tem o direito a haver o que legitimamente despendeu no exercício do encargo. Parágrafo único. O depositário infiel responde civilmente pelos prejuízos causados, sem prejuízo de sua responsabilidade penal e da imposição de sanção por ato atentatório à dignidade da justiça. Quantias em dinheiro, papéis de crédito, pedras e metais preciosos são preferencialmente depositados no Banco no Brasil, na Caixa Econômica Federal, em Banco estatal ou, não os havendo, em outra instituição de crédito. É o que dispõe o artigo 840. O artigo 162 trata da atividade processual do interprete ou tradutor: Art. 162. O juiz nomeará intérprete ou tradutor quando necessário para: I - traduzir documento redigido em língua estrangeira; II - verter para o português as declarações das partes e das testemunhas que não conhecerem o idioma nacional; III - realizar a interpretação simultânea dos depoimentos das partes e testemunhas com deficiência auditiva que se comuniquem por meio da Língua Brasileira de Sinais, ou equivalente, quando assim for solicitado. O artigo 163 enumera as pessoas que não podem exercer, no processo, a atividade de intérprete outradutor: Art. 163. Não pode ser intérprete ou tradutor quem: I - não tiver a livre administração de seus bens; II - for arrolado como testemunha ou atuar como perito no processo; III - estiver inabilitado para o exercício da profissão por sentença penal condenatória, enquanto durarem seus efeitos. O intérprete ou tradutor pode ser recusado pelas partes na forma prescrita nos parágrafos do artigo 148 CPC. O artigo 164 CPC declara que o intérprete ou tradutor nomeado pelo juiz tem o dever de exercer a atividade que lhe foi cometida, tanto quanto o perito, podendo escusar-se nos casos legais e respondendo pelos prejuízos que causar à parte, se prestar informações inverídicas. Dos conciliadores e mediadores judiciais Os juízes e tribunais existem exatamente para compor conflitos entre partes que não se autocompuseram. Contudo, o Código trata de resolver os conflitos preferencialmente por autocomposição, para o que o artigo 165 CPC determina a criação, nos tribunais, de centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. O mediador atua preferencialmente nos casos de existir vínculo anterior entre as partes, auxiliando-as a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que possam identificar, por si próprios, soluções consensuais (art. 165, § 3o CPC). O conciliador atua preferencialmente nos casos de não existir vínculo anterior entre as partes, podendo sugerir soluções para o litígio, vedado qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes se conciliem (art. 165, § 2o CPC). A principal diferença entre o mediador e o conciliador está em que o mediador busca reaproximar as partes, para que elas próprias encontrem solução para o conflito, ao passo que o conciliador pode ele próprio sugerir soluções. Prefere-se a mediação no caso de vínculo continuado entre as partes. Ao conciliador, o Código veda expressamente a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes se conciliem, proibição que logicamente se estende ao mediador. Observa Guilherme Rizzo Amaral (2.015: p. 252). que a transação poderá ser anulada nos termos do art. 966, § 4o (ação anulatória), se for verificado que a coação foi determinante para a realização do ato. O artigo 166 trata dos princípios que regem a conciliação e a mediação: Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada. § 1º A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes. § 2º Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação. § 3º Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo de proporcionar ambiente favorável à autocomposição. § 4º A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais. A Resolução n. 125, de 2.010, do Superior Tribunal de Justiça, contém um Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, cujo artigo 1o reza que saõ princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade, competência, imparcialidade, neutralidade, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes. Sobre o dever de confidencialidade, observa Guilherme Rizzo Amaral (2.015: p. 255) que não se trata primordialmente de proteger dados confidenciais das partes, mas de estabelecer incomunicabilidade entre os procedimentos de mediação ou conciliação e o processo contencioso, impedindo-se que uma das partes utilize, no segundo, declarações do adversário feitas no primeiro, para que se maximizem os resultados na tentativa de composição amigável do litígio. Para exercer sua atividade em processo judicial, o conciliador ou o mediador precisa fazer um curso de capacitação, realizado por entidade credenciada e obter o respectivo certificado. Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação precisam inscrever-se em cadastro nacional, ou em cadastro de tribunal local. Dispõe o artigo 167: Os conciliadores, os mediadores e as câmaras privadas de conciliação e mediação serão inscritos em cadastro nacional e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, que manterá registro de profissionais habilitados, com indicação de sua área profissional. § 1º Preenchendo o requisito da capacitação mínima, por meio de curso realizado por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça, o conciliador ou o mediador, com o respectivo certificado, poderá requerer sua inscrição no cadastro nacional e no cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal. § 2º Efetivado o registro, que poderá ser precedido de concurso público, o tribunal remeterá ao diretor do foro da comarca, seção ou subseção judiciária onde atuará o conciliador ou o mediador os dados necessários para que seu nome passe a constar da respectiva lista, a ser observada na distribuição alternada e aleatória, respeitado o princípio da igualdade dentro da mesma área de atuação profissional. § 3º Do credenciamento das câmaras e do cadastro de conciliadores e mediadores constarão todos os dados relevantes para a sua atuação, tais como o número de processos de que participou, o sucesso ou insucesso da atividade, a matéria sobre a qual versou a controvérsia, bem como outros dados que o tribunal julgar relevantes. § 4º Os dados colhidos na forma do § 3o serão classificados sistematicamente pelo tribunal, que os publicará, ao menos anualmente, para conhecimento da população e para fins estatísticos e de avaliação da conciliação, da mediação, das câmaras privadas de conciliação e de mediação, dos conciliadores e dos mediadores. O advogado cadastrado como mediador ou conciliador fica impedido de exercer a advocacia nos juízos em que desempenha tal função (art. 167, § 5 CPC) e poderão ser criados cargos públicos de conciliador e mediador (art. 167, § 6o CPC). O artigo 168 CPC estabelece que o conciliador ou mediador será preferencialmente escolhido pelas partes, podendo a escolha recair sobre pessoa ou câmara privada de conciliação e mediação, ainda que não inscritos no respectivo cadastro, procedendo-se à distribuição, na falta de acordo. O artigo 169 trata da remuneração e da gratuidade, conforme o caso, da atividade desenvolvida por mediador, conciliador ou câmara privada de conciliação e mediação: Art. 169. Ressalvada a hipótese do art. 167, § 6º, o conciliador e o mediador receberão pelo seu trabalho remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal, conforme parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça. § 1º A mediação e a conciliação podem ser realizadas como trabalho voluntário, observada a legislação pertinente e a regulamentação do tribunal. § 2º Os tribunais determinarão o percentual de audiências não remuneradas que deverão ser suportadas pelas câmaras privadas de conciliação e mediação, com o fim de atender aos processos em que deferida gratuidade da justiça, como contrapartida de seu credenciamento. A Lei 9.608/98 regula o trabalho voluntário, comotal considerado a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, ou a instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício, nem obrigação de natureza trabalhista previdenciária ou afim, podendo o prestador do serviço ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho de sua atividade. A remuneração, se houver, paga conforme a tabela fixada pelo tribunal, constitui despesa do processo; não havendo autocomposição, será devida pelo vencido. O artigo 170 CPC trata da comunicação que o conciliador ou mediador deve fazer, no caso de impedimento e, acrescente-se, também no de suspeição. O artigo 171 CPC trata da comunicação que o conciliador ou mediador deve fazer, no caso de impossibilidade temporária de exercer a sua função. O artigo 172 CPC proíbe o conciliador ou mediador de representar ou patrocinar qualquer das partes, pelo prazo de 1 ano, contado da última audiência em que houver atuado. O artigo 173 CPC trata da exclusão do cadastro de conciliadores e mediadores e do respectivo processo: Art. 173. Será excluído do cadastro de conciliadores e mediadores aquele que: I - agir com dolo ou culpa na condução da conciliação ou da mediação sob sua responsabilidade ou violar qualquer dos deveres decorrentes do art. 166, §§ 1º e 2º; II - atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de impedido ou suspeito. § 1o Os casos previstos neste artigo serão apurados em processo administrativo. § 2o O juiz do processo ou o juiz coordenador do centro de conciliação e mediação, se houver, verificando atuação inadequada do mediador ou conciliador, poderá afastá-lo de suas atividades por até 180 (cento e oitenta) dias, por decisão fundamentada, informando o fato imediatamente ao tribunal para instauração do respectivo processo administrativo. O artigo CPCtermina que a União, Estados e Municípios criem câmaras de mediação e conciliação. Trata-se, aí, de prevenir a instauração de processo judicial, matéria alheia, portanto, ao um código de processo civil. Finalmente, o artigo 175 CPC admite a existência de outras formas de conciliação e mediação extrajudiciais, vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por intermédio de profissionais independentes, às quais se aplicam os dispositivos acima apontados, acrescentando que poderão ser regulamentadas por lei específica, como se o Código de Processo Civil pudesse proibir a edição de lei a respeito. Bibliografia AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: Thompson Reuters, 2015.
Compartilhar