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Estatuto do desarmamento Lei 10826 de 2004

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TÓPICOS DE DIREITO PENAL
ESTATUTO DO DESARMAMENTO – Lei 10.826/03
FINALIDADE DA LEI
O Estatuto do Desarmamento – Lei 10.826/03 – foi regulamentado pelo Decreto 5.123/04 e modificado pelas Leis 10.867/04 e 10.884/04. O Decreto 3.665/00 trata dos produtos controlados.
A Lei 10.826/03 trata de armas de fogo, munições, acessórios para armas, artefatos explosivos e/ou incendiários (objetos materiais da lei). 
Só há previsão de um crime culposo no Estatuto do Desarmamento – o art. 13, caput (omissão de cautela). O PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 13 É CRIME QUE SÓ SE PUNE A TÍTULO DE DOLO. Estes dois crimes, o do caput e o do p. único do art. 13, são os únicos crimes da Lei 10.826/03 que são da competência do JECRIM.
SUJEITOS DOS CRIMES
Os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento podem ser praticados por qualquer pessoa, não sendo crimes próprios. Porém, os crimes previstos nos artigos 14 a 18, terão a pena aumentada quando praticados por uma das pessoas elencadas nos artigos 6º, 7º e 8º, desde que tais pessoas estejam no exercício de suas funções. Esta regra encontra-se no art. 20.
Os crimes do Estatuto do Desarmamento têm como BEM JURÍDICO TUTELADO A SEGURANÇA PÚBLICA (incolumidade pública). Portanto, são crimes vagos – o sujeito passivo é a coletividade.
COMPETÊNCIA PARA PROCESSO E JULGAMENTO
Existe discussão acerca da competência para processo e julgamento dos crimes de que trata a Lei 10.826/03.
Em se tratando de tráfico internacional de armas, previsto no art. 18 da Lei 10.826/03, a competência será da Justiça Federal, pois, existe uma Convenção internacional em que os Países se obrigam a reprimir o comércio de armas.
Não é a origem da arma que determina a competência (ex.: não é o fato de uma arma ser de origem norte-americana que faz com que a competência seja da Justiça Federal). Assim, não é pelo fato de que uma arma tenha sido furtada das Forças Armadas que a competência passa a ser da Justiça Federal, isto é, se a arma é furtada de um quartel do Exército, por exemplo, mas é apreendida depois com traficantes, a competência passa a ser da Justiça Estadual. Porém, o furto será considerado crime militar, de competência da Justiça Militar Federal.
Se houver comércio ilegal de armas, desde que não seja comércio internacional, mesmo que a repressão seja feita pelas Forças Armadas, a competência será da Justiça Estadual (e o inquérito será realizado pela Polícia Civil).
	NATUREZA DAS INFRAÇÕES PENAIS
	As infrações previstas no Estatuto do Desarmamento (ainda) são consideradas crimes de perigo abstrato. Isto significa que o perigo é presumido de forma absoluta pelo legislador (é presunção iuris et de iure), sempre que há uma arma em desacordo com determinação legal ou regulamentar (arma sem registro; arma com registro, mas portada sem autorização para porte etc.). Em resumo, a lei presume (de forma absoluta) que a existência de uma arma em desacordo com determinação legal ou regulamentar lesiona a segurança pública.
LEI 10.826/03 – DOS CRIMES
ARTIGO 12
Trata da posse ou guarda irregular de arma de fogo de uso permitido. Refere-se à prática de tais condutas intramuros (dentro de casa, no local de trabalho, neste caso, desde que seja o titular ou responsável legal da empresa, pois, caso contrário o crime será o do art. 14).
Se as condutas descritas no art. 12 forem praticadas extramuros e, se a arma for de uso permitido, o crime praticado será o do art. 14 do Estatuto.
Caso a arma de fogo seja de uso restrito, não se aplica o art. 12, nem o art. 14. Nesse caso aplica-se o art. 16, caput do Estatuto. O entendimento prevalente no Ministério Público é o de que, se a arma de fogo é de uso restrito, pouco importa que a conduta seja praticada intramuros ou extramuros, o crime será sempre o do art. 16.
O art. 12 é punido com detenção de 1 a 3 anos e multa e, portanto, admite suspensão condicional do processo e fiança. Porém, admite também a liberdade provisória. No caso de prisão em flagrante, a autoridade policial poderá conceder fiança.
ARTIGO 13
Trata-se do único crime previsto na Lei 10.826/03, de menor potencial ofensivo, pois a pena é a de detenção de 1 a 2 anos (art. 2º, p. único, do art. 10.259/01) e, portanto, aplica-se a Lei 9.099/95 – processo e julgamento no JECrim. Portanto, é admissível a suspensão condicional do processo (não admite composição civil por tratar-se de crime vago – sujeito passivo indeterminado); trata-se também de crime afiançável. Entretanto, dificilmente será necessário o depósito de fiança, pois, tratando-se de infração de menor potencial ofensivo, de acordo com a previsão do p. único do art. 69 da Lei 9.099/95, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, SALVO SE O AGENTE SE RECUSAR A COMPARECER AO JECrim IMEDIATAMENTE, OUQUANDO FOR INTIMADO.
O caput do art. 13 traz previsão da única modalidade de crime culposo do Estatuto do Desarmamento – omissão de cautela necessária. 
O art. 13 refere-se a qualquer arma de fogo (de uso permitido ou restrito), pois, somente menciona “arma de fogo”. Porém, se houver dolo em entregar arma de fogo a menor de 18 anos, o crime passa a ser o previsto no art. 16, p. único, V da Lei 10.826/03. 
Parágrafo único, art. 13 – deve ser combinado com o art. 7º, § 1º do Estatuto. Este dispositivo determina que as empresas de segurança e transporte de valores, podem utilizar armas de fogo no exercício de suas atividades. Os responsáveis legais pelas empresas devem, sob pena de responsabilidade penal, comunicar roubo, furto, extravio e perda da arma no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas de sua ocorrência. Isso é assim, pois, a intentio legis é a de que haja um controle maior das armas de fogo. Caso a comunicação não seja feita em 24 (vinte e quatro) horas, o crime será o do art. 13, p. único, do Estatuto do Desarmamento. 
ARTIGO 14
O art. 14 tem pena de reclusão de 2 a 4 anos, não sendo possível a suspensão condicional do processo. O parágrafo único do referido dispositivo foi considerado inconstitucional.
A controvérsia acerca da constitucionalidade ou não da referida disposição foi definitivamente resolvida pela Adin 3.112 que declarou o art. 21 inconstitucional, pois fere o princípio da presunção de inocência – art. 5º, LVII, da CF/88, além de ofender também a disposição do art. 5º, LXVI, da CF/88 que determina que ninguém será preso quando a lei admitir liberdade provisória – para quem adota este entendimento, o inciso LXVI do art. 5º da CF/88 só poderia admitir, e nunca vedar liberdade provisória. 
Art. 14 – trata das armas de fogo de uso permitido. É crime de ação múltipla ou de conteúdo variado e, portanto, a prática de mais de uma conduta, dentre as descritas no tipo, dentro de um mesmo contexto fático, não configura concurso de crimes, mas sim crime único. 
Este artigo não apresenta o núcleo “VENDER”. O art. 17 do Estatuto, trata de exercício ilegal de atividade comercial ou industrial, no que se refere a arma de fogo. O seu parágrafo único, trata do exercício ilegal de atividade comercial ou industrial por equiparação, referente a arma de fogo. Há quem diga que para o exercício ilegal de atividade comercial ou industrial em relação à arma de fogo, mesmo na equiparação prevista no p. único do art. 17, DEVE EXISTIR A HABITUALIDADE e, assim, se o agente vende sua única arma de fogo ilegal, de forma irregular, o fato seria atípico, pois, não há a habitualidade exigida para a configuração do art. 17, nem existe previsão do núcleo vender nos arts. 14 e 16. Porém, é preciso não olvidar que, antes de vender, o agente já havia adquirido (art. 14), já estava portando (art. 14) e já estava possuindo (crime permanente – art. 12) a arma ilegal e, portanto, já poderia responder pelo art. 14 (que absorve o art. 12) ou, subsidiariamente, pelo art. 12 e, sendo arma de fogo de uso restrito, responderia pelo crime do art. 16. Porém, se a arma é legalizada e o agente tem o porte de arma, O FATO É ATÍPICO, pois, se a arma é inteiramente legalizada, não há problema em vendê-la. Não se pode aplicar o art. 35do Estatuto, pois, o seu § 1º dispõe que o dispositivo somente entrará em vigor após referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.
Se o agente pratica atividade comercial ou industrial relativa a arma de fogo, de forma irregular, pouco importa que as armas sejam legais ou ilegais, se houver habitualidade, responderá pelo crime do art. 17, caput ou parágrafo único, pois, o crime, aqui, é o de não ter autorização legal para o comércio ou indústria de arma de fogo, ou seja, mesmo que a arma de fogo seja legalizada, só pode ser comercializada de forma habitual se houver a autorização para o comércio (ou indústria).
Notícias STF
Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
2ª Turma reafirma entendimento sobre porte de arma sem munição
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu na sessão desta terça-feira (28) o julgamento conjunto de três Habeas Corpus (HCs 102087, 102826 e 103826) impetrados em favor de cidadãos que portavam armas de fogo sem munição. Por maioria de votos, o colegiado entendeu que o fato de o armamento estar desmuniciado não descaracteriza o crime previsto no artigo 14 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003), que pune com pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa, quem porta ilegalmente arma de fogo de uso permitido.
A decisão de hoje reafirma posição que já vinha sendo adotada no STF: a de que o Estatuto do Desarmamento criminaliza o porte de arma, funcione ela ou não. O julgamento foi retomado com o voto-vista do ministro Gilmar Mendes, que abriu a divergência e foi seguido pelos demais integrantes da Turma. Para o ministro, a intenção do legislador ao editar a norma foi responder a um quadro específico de violência, não cabendo, nesse caso, discutir se a arma funcionaria ou não.
O relator dos três HCs, ministro Celso de Mello, ficou vencido, na medida em que concedia as ordens por entender inexistente a justa causa para a instauração da persecução penal nesta circunstância. Seu posicionamento levou em consideração princípios como a ofensividade e a lesividade. 
“Como nas três situações as armas de fogo se apresentavam completamente desmuniciadas e sem a possibilidade de imediato acesso do seu portador às munições, entendi inexistente a justa causa, que seria necessária a legitimar a válida instauração de persecução penal. Entendo não se revestir de tipicidade penal a conduta do agente que, embora sem a devida autorização, traz consigo arma de fogo desmuniciada e cuja pronta utilização se mostra inviável ante a impossibilidade material de acesso imediato à munição”, explicou o decano do STF. 
VP/AD
ARTIGO 15
Prevê o crime de DISPARO DE ARMA DE FOGO ou ACIONAMENTO DE MUNIÇÃO. A pena é de 2 a 4 anos de reclusão e multa. Há previsão de subsidiariedade expressa, pois, somente se aplica o crime do art. 15 do Estatuto do Desarmamento se o agente não tem por finalidade a prática de outro crime (homicídio, por exemplo).
O parágrafo único art. 15 é inconstitucional.
Quando o agente dispara arma de fogo com intenção de praticar crime mais grave não há maiores discussões, responderá pelo crime mais grave (ex.: dispara arma de fogo para praticar homicídio, este crime absorve o crime do art. 15 do Estatuto). Porém, pode acontecer que o agente dispare arma de fogo com intenção de praticar outro crime menos grave – ex.: dispara arma de fogo para expor a perigo a vida de outrem – art. 132 do CP; ou, dispara arma de fogo para causar lesão corporal leve em outrem – art. 129, caput do CP. Nestes dois crimes, a pena máxima não ultrapassa um ano e, portanto, da competência do JECrim. Já o crime previsto no art. 15 do Estatuto do Desarmamento é infração de maior potencial ofensivo, não sendo da competência do JECrim. Em razão disso, surgiram três correntes:
1. Para a primeira corrente, deve ser feita uma análise literal do art. 15 da Lei 10.826/03, isto é, se a finalidade é a de praticar outro crime, o agente responde pelo crime que quis praticar, ainda que menos grave, ficando o disparo de arma de fogo absorvido. Para esta corrente, nos exemplos acima, o agente responderia apenas pelos crimes dos arts. 132 e 129, caput do CP. Aplica-se aqui o que a doutrina denomina de PRINCÍPIO DA FINALIDADE – o agente deve ser punido pelo crime que tinha a FINALIDADE de praticar. Não há consunção, pois para isso o crime consumido deveria ser menos grave do que o crime que consome, embora haja quem entenda que, para que haja consunção, basta que o crime consumido seja caminho necessário para a prática do crime que consome. 
2. De acordo com o segundo posicionamento, o crime-fim, isto é, aquele que o agente quer praticar através do disparo de arma de fogo, só absorverá o delito previsto no art. 15 do Estatuto se for mais grave do que este. Assim, nos exemplos acima, subsistiria apenas o crime de disparo de arma de fogo – art. 15 do Estatuto – ficando absorvidos os crimes previstos nos arts. 132 ou 129, caput. Porém, se o crime-fim for, por exemplo, o homicídio, este absorverá o disparo de arma de fogo.
3. Um terceiro posicionamento inclina-se no sentido de que, se o crime-fim for menos grave do que o crime previsto no art. 15 do Estatuto, haverá concurso (formal imperfeito) – nos exemplos acima, haveria concurso formal imperfeito entre o crime do art. 132 ou do art. 129, caput do CP e o crime do art. 15 da Lei 10.826/03.
NÃO HÁ CORRENTE MAJORITÁRIA.
Obs.: há quem entenda que, se o agente portar ilegalmente arma de fogo e, depois dispara esta arma, haverá concurso material entre os dois crimes – artigos 14 e 15 da Lei 10.826/03; há, no entanto, quem entenda que haverá apenas um crime, pois, o bem jurídico tutelado e a pena, são os mesmos. Assim, o agente responderia somente pelo crime de porte ilegal de arma de fogo – art. 14 do Estatuto. O disparo de arma de fogo (art. 15 do Estatuto) seria considerado um post factum impunível.
Entretanto, se o agente tem autorização para portar arma de fogo, não responde pelo crime previsto no art. 14 da Lei 10.826/03, mas, se disparar sua arma, responderá pelo crime previsto no art. 15 da mesma lei.
A questão, porém, é diferente no caso de arma de fogo de uso restrito. O art. 16 da Lei 10.826/03 prevê pena de 3 a 6 anos para o caso de porte ou posse ilegal de arma de fogo de uso restrito. Assim, se o agente porta ilegalmente uma arma de fogo de uso restrito e faz disparo com esta arma, há quem entenda que não poderá responder pelo art. 15 do Estatuto, pois, este tem pena menos grave do que a do art. 16. Nesse caso, responderia apenas pelo porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), sendo o disparo da arma de fogo, considerado um post factum impunível. Há entendimento no sentido de que deve haver concurso (material) entre os delitos previstos nos artigos 16 e 15 da Lei 10.826/03. Ainda não há posicionamento majoritário, pois, a Lei 10.826/03 ainda é muito recente e não houve tempo para a consolidação de jurisprudência a respeito. 
Há quem diga que, se um policial dispara sua arma de fogo para conter uma multidão enfurecida (agindo no exercício de sua atividade), mas, o projétil, na queda, mata uma pessoa, se ficar comprovado que partiu da arma do policial, este não responderá por disparo de arma de fogo, mas, responderá por homicídio culposo.
O disparo acidental é fato atípico, pois, o art. 15 do Estatuto só é punido quando praticado a título de dolo. Se, nesse caso, o disparo causar lesão corporal ou morte de outra pessoa, o agente não responderá também por este resultado, salvo se comprovada a existência de culpa (imprudência, negligência ou imperícia no manuseio da arma), pois, se o disparo for totalmente acidental (imprevisível), será totalmente atípico, ainda que cause resultado mais grave.
ARTIGO 16
Trata das armas de uso restrito. É crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Apresenta os mesmos núcleos do art. 14. A pena é de reclusão de 3 a 6 anos. Se o agente está portando ilegalmente e ao mesmo tempo, duas armas de fogo de uso permitido comete apenas um crime – art. 14 do Estatuto. Se, porém,estiver portando ilegalmente e ao mesmo tempo, duas armas de fogo de uso restrito, também não cometerá dois crimes, mas, responde uma única vez pelo delito previsto no art. 16 do Estatuto. Situação diversa é aquela em que o agente está portando ilegalmente e ao mesmo tempo, duas armas de fogo, mas, uma de uso permitido e outra de uso restrito. Nesse caso surgem dois entendimentos: 
Para a primeira corrente, há um fato único, uma única conduta – portar ilegalmente arma de fogo – o bem jurídico tutelado é o mesmo, o sujeito passivo é o mesmo e, assim, como o art. 16 é mais grave, absorve o art. 14 e o agente responde somente por aquele crime. 
Outra corrente vai no sentido de que haverá concurso de crimes entre o art. 14 e o art. 16 do Estatuto.
Não há entendimento majoritário, embora haja uma leve tendência a que prevaleça a primeira corrente, pois, na vigência da Lei 9.437/97, quando isso acontecia, o agente era denunciado apenas pelo crime do seu art. 10, § 2º.
Se o indivíduo estiver portando ilegalmente uma arma de fogo de uso restrito, pratica o crime previsto no art. 16 da Lei 10.826/03. Em um determinado momento, o agente avista seu desafeto e resolve matá-lo – depois de já se ter configurado o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito – e, pratica o crime de homicídio simples (art. 121, caput, do CP). O art. 16, caput, não admite liberdade provisória em razão da previsão contida no art. 21 do Estatuto, mas, o art. 121, caput do CP, admite. Nesse caso, o agente responderá somente pelo homicídio, que absorve o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, ou seja, o crime no qual não cabe liberdade provisória é absorvido pelo crime no qual cabe liberdade provisória. Situação idêntica é a do crime de roubo praticado com emprego de arma de fogo de uso restrito. Isso significa que, se o agente for apanhado na rua portando ilegalmente arma de fogo de uso restrito, é mais vantajoso dizer que pretendia matar ou roubar!!!! Porém, há entendimento no sentido de que pode haver o concurso entre o crime dos arts. 14 e 16 da Lei 10.826/03 e o crime de homicídio ou de roubo, desde que reste comprovado que, em um contexto fático distinto, a pessoa já possuía ou portava ilegalmente a arma – exemplo: testemunhas afirmam que o agente já andava armado há muito tempo. Nesse caso o agente terá praticado o crime do art. 14 ou do art. 16 do Estatuto e, se praticar também o homicídio ou o roubo, responderá pelos dois crimes em concurso – porte ilegal de arma de fogo (de uso permitido ou restrito) e homicídio ou roubo. 
No caso do roubo, há quem entenda que o agente responde apenas pelo roubo com aumento de pena pelo emprego de arma; por outro lado, há entendimento no sentido de que deve incidir o concurso de crimes entre o roubo com aumento de pena pelo emprego de arma e pelo porte ilegal de arma de fogo (de uso permitido ou restrito), mas, a meu ver, nesse caso haveria um bis in idem e, mais correto, então, seria a punição do agente pelo porte ilegal de arma de fogo e pelo roubo simples. Quanto ao roubo não há entendimento majoritário.
ANÁLISE DO PARÁGRAFO ÚNICO
O parágrafo único do art. 16 do Estatuto vai dispor sobre armas de fogo de uso permitido e de uso restrito.
O parágrafo único do art. 16 refere-se a qualquer arma de fogo (de uso restrito ou permitido). O caput, porém, trata de arma de fogo de uso restrito. Inclusive, o nomen iuris (rubrica) do artigo 16 é a seguinte: “posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito”. Portanto, é preciso ter atenção, pois, o referido dispositivo não trata apenas de arma de fogo de uso restrito. A doutrina amplamente majoritária (quase unânime) já se pronunciou no sentido de que o caput do art. 16 do Estatuto é disposição completamente independente do parágrafo único do mesmo artigo. Somente o art. 16, caput é que trata de arma de fogo, acessório e munição de uso restrito. O p. único não usou a expressão “de uso restrito” em nenhum dos seus incisos e, portanto, está tratando de arma de fogo, acessório e munição de uso permitido ou restrito. 
Se o agente entrega dolosamente arma de fogo a deficiente mental, sendo de uso permitido, o crime será o previsto no art. 14 e, se for de uso restrito, o crime será o previsto no art. 16 do Estatuto, porque, quanto ao deficiente mental, não há regra expressa para o caso de entregar dolosamente a arma, como acontece no caso de criança e adolescente.
Incisos III e VI – estes incisos devem ser confrontados com o art. 253 do Código Penal que foi derrogado pelo art. 16, p. único, III e VI da Lei 10.826/03. Aquele artigo continua em vigor, apenas no que diz respeito a gás tóxico e asfixiante. 
Inciso IV – este inciso pode ser considerado uma qualificadora para o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. Se o agente está portando ilegalmente uma arma de fogo de uso restrito, responde pelo crime do art. 14 do Estatuto. Se, no entanto, a arma está com a numeração suprimida ou raspada, o crime será o do art. 16, p. único, IV da Lei 10.826/03. Porém, no que tange a arma de fogo de uso restrito, não há que se falar em qualificadora, pois, para o porte ilegal de arma de fogo de uso restrito com numeração íntegra, suprimida ou raspada a pena é a mesma, embora, no primeiro caso, incida o art. 16, caput e, nas outras, incida o art. 16, p. único, IV (é importante a correta capitulação do fato quando responder a questões de prova)
Inciso V – este artigo é mais específico do que o art. 242 da Lei 8.069/90 (E.C.A.).
O art. 16, p. único, V da Lei 10.826/03 derrogou o art. 242 da Lei 8.069/90 que, agora, somente se aplica aos casos de arma que não é de fogo. Tratando-se de arma de fogo, munição, acessório para arma de fogo e explosivo, aplica-se aquele artigo e não este.
O art. 16, § 2º, “c” do DL 3.688/41 prevê a contravenção penal de omissão de cautelas necessárias para impedir que menor de 18 anos, deficiente mental, ou PESSOA INEXPERIENTE se apodere de arma (de fogo ou que não é de fogo) ou munição. Se o sujeito, culposamente, deixa que se apodere de arma de fogo, menor de 18 anos ou deficiente mental, comete o CRIME do art. 13, caput, da Lei 10.826/03; se, culposamente, permite que menor de 18 anos, deficiente mental ou pessoa inexperiente, se apodere de ARMA QUE NÃO É DE FOGO, comete a CONTRAVENÇÃO PENAL do art. 19, § 2º, “c” do DL 3.688/41; se o agente, culposamente, deixa que PESSOA INEXPERIENTE, se apodere de arma de fogo, surgem alguns entendimentos divergentes: 1) responde pela CONTRAVENÇÃO PENAL do art. 19, § 2º, “c” do DL 3.688/41, pois, se a lei posterior não dispõe sobre o assunto, não houve revogação tácita da LCP que continua vigendo; 2) A Lei 10.826/03, realmente não tratou especificamente do assunto, mas tratou das armas de fogo. Assim, a Lei 10.826/03 teria revogado o art. 19, § 2º, “c” do DL 3.688/41 como um todo, no que pertine a arma de fogo (aplicando-se ao menor de 18 anos, deficiente mental e pessoa inexperiente). Para esta corrente, se a lei posterior, regulou o mesmo assunto, ou seja, omissão de cautela necessária em relação à arma de fogo, mesmo não se referindo a pessoa inexperiente, significa que não quis mais que continuasse vigendo a contravenção penal acima mencionada. Portanto, para esta segunda corrente, a omissão de cautela necessária para impedir que PESSOA INEXPERIENTE se apodere de arma de fogo, é fato atípico. Não há corrente majoritária. Nesse caso não se poderia aplicar o art. 14, nem o art. 16, pois, estes são praticados a título de dolo e a omissão de cautela é culposa. Mesmo que haja dolo eventual na omissão, não se poderia aplicar o art. 14 nem o art. 16, pois, todas as condutas previstas nestes dois dispositivos são comissivas e, não há como fornecer, ceder, emprestar etc., de forma omissiva.
ARTIGO 17
Este dispositivo refere-se a arma de fogo de uso permitido ou restrito, mas, neste último caso, incidirá o aumento de pena previsto no art. 19 do Estatuto. 
ARTIGO 18
Este artigo, da mesma forma que o anterior, refere-se a qualquer tipo de arma – de uso permitidoou de uso restrito – mas, no caso de arma de fogo de uso restrito, incide a causa especial de aumento de pena do art. 19 da Lei 10.826/03.
O art. 18 da Lei 10.826/03 é mais específico do que o art. 334 do Código Penal e, portanto, importar ou exportar ilegalmente arma de fogo não é mais considerado crime de contrabando, mas sim, o previsto no art. 18 do Estatuto.
ARTIGO 20
Traz outra causa especial de aumento de pena, dessa vez, para o caso de os crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18 do Estatuto, virem a ser praticados por integrantes das empresas e órgãos referidos nos arts. 6º, 7º e 8º da mesma lei.
ARTIGO 21
Veda a concessão de liberdade provisória para os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 do Estatuto. Este foi considerado inconstitucional.

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