Buscar

Aula Tipo Penal MAR 2017

Prévia do material em texto

TIPO PENAL														MARÇO 2017
1.CONCEITO:
	Por imposição do princípio do “nullum crimen sine lege”, o legislador quando quer impor ouproibir condutas sob ameaça de sanção, deve, obrigatoriamente, valer-se de uma lei. Quando a lei em sentido estrito descreve a conduta (comissiva ou omissiva) com o fim de proteger determinado bem, cuja tutela mostrou-se insuficiente pelos outros ramos dodireito, surge o chamadoTipo Penal.
	Assim, TIPO PENAL “tatbestand”, é o modelo, o padrão de conduta que o Estado, por meio de seu único instrumento, a lei, visa impedir que seja praticada ou determina que seja levada a efeito por todos nós.
	É a descrição precisa do comportamento humano, feita pela lei penal.
	O Estado, v.g., entendendo que deveria proteger nosso patrimônio valendo-se de um instrumento legal, criou o tipo existente no art. 155, caput, CP.
	Com essa redação, o Estado descreve. Precisamente, o modelo de conduta que deseja proibir, sob pena de quem lhe desobedecer ser punido de acordo com as sanções previstas no seu preceito secundário.
	Se alguém, portanto, subtrai para si ou para outrém a coisas alheia móvel, terá praticado uma condutaque se adapta perfeitamente ao modelo em abstrato criado pela lei penal. Quando isso ocorrer, surgirá outro fenômeno, denominado TIPICIDADE.
2.TIPICIDADE PENAL:
	A Tipicidade é a perfeita subsunção da conduta praticada pelo agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, isto é a um tipo penal incriminador.
	A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal(tipo) faz surgir atipicidade formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será considerado formalmente atípico (p.ex., não existe furto de uso).
	Esse simples conceito de acomodação do comportamento do agente ao tipo não é suficiente para que possamos concluir pela tipicidade penal.
	Fórmula	-	TP=TF + TC (antinormatividade + TM)
P.ex., TÍCIO, carrasco, que tem aobrigação legalde executar um condenado, atira em MÉVIO, condenado a morte por fuzilamento, matando-o.
	O conceito analítico de crime deve ser analisado (FT+A+C).
	Por sua vez, o FT é composto de: (Conduta-Resultado-NexoCausal-Tipicidade), senão vejamos:
a)-o carrasco agiu com dolo;
b)-houve o resultado morte do acusado;
c)-foi a conduta do carrasco que produziu o resultado morte;
d)-o fato é típico (art. 121, CP).
	Logo,HÁ TF-TIPICIDADE FORMAL.
	Em seguida, indaga-sese há TC-Tipicidade Conglobante. Para tal é preciso que seja verificado o seguinte:
a)-a conduta do agente seja antinormativa: contrária a norma penal;
b)-que haja tipicidade material: que seja ofensiva a bens de relevo para o direito penal (tipicidade material).
	Assim, não é possível que num ordenamento jurídico perfeito, uma norma proiba aquilo que a outra norma imponha ou fomente.
	Logo, no caso em questão, o art. 121, CP, impõe a proibição que se dirige a todos de matar alguém, salvo aqueles que têm odever de matar.
	No confronto entre a PROIBIÇÃO (norma contida no art. 121, CP) e uma IMPOSIÇÃO (norma que determina que o carrasco execute a sentença de morte), conclui-se que a proibição de matar nos casos em que a lei prevê, não se dirige ao carrasco.
	A conduta do carrasconão é antinormativa(não há mera permissão para que o carrasco cause a morte do condenado, mas, sim, uma imposição feita pela lei).
Outro exemplo:
1.Médico realizacirurgia para salvar a vida do paciente(este procedimento é imposto,fomentado pelo direito(medicina terapêutica)). Sua conduta não é antinormativa, mas, sim, atípica;
2.Médico realizacirurgia estética(atividade permitida, tolerada pelo Estado). Embora típica, sua conduta não seria ilícita (art. 23, III, CP).
	Finalmente, é preciso verificar a ocorrência daTM-Tipicidade Material.
	É sabido que a finalidade do Estado é proteger os bens mais importantes existentes na sociedade.
	Oprincípio da intervenção mínima, assevera que nem todo e qualquer bem é passível de ser protegido pelo direito penal, mas somente aqueles que gozem de certa importância.
P. ex., TÍCIO, imprudentemente, ao fazer manobra com seu carro, encosta na perna de CAIO, causando um pequeno ferimento de 2cm. Analisemos o fato:
a)-houve conduta? - sim – culposa;
b)-houve resultado? - sim – pequeno ferimento de 2cm;
c)-a nexo de causalidade entre a conduta e o resultado? Sim;
d)-a tipicidade formal? Sim – art. 129, CP.
Analisemos agora a tipicidade conglobante:
a)-a conduta praticada é antinormativa? - sim,pois não é imposta ou fomentada pelo Estado;
b)-há tipicidade material? -
NÃO!
	Embora a integridade física das pessoas seja importante para o Estado, a ponto de ser protegida pelo Direito Penal, nem toda e qualquer lesão estará abrangida pelo tipo penal.
	Somente as lesões corporais que gozem de certa importância, é que nele estarão previstas.
	Em virtude do conceito de tipicidade material, excluem-se dos tipos penais aqueles fatos reconhecidos como de BAGATELA, nos quais têm aplicação oprincípio da insignificância.
	Assim, pelo critério da tipicidade material é que se afere a importância do bem no caso concreto, a fim de que se possa concluir se aquele bem específico merece ou não ser protegido pelo direito penal.
	Logo, conclui-se que para falar emTIPICIDADE PENAL, é preciso haver a fusão entreTIPICIDADE FORMAL ou LEGALcom aTIPICIDAE CONGLOBANTE(formada pela antinormatividade e pela tipicidade material).
	Somente assim, o fato será considerado penalmente típico.
3.ADEQUAÇÃO TÍPICA:
	Vimos que há Tipicidade Formal ou Adequação Típica, quando a conduta do agente se amolda, perfeitamente, a um tipo legal de crime.Espécies:
a)-Adequação Típica de Subordinação Imediata ou Direta:ocorre quando houver perfeita adequação entre a conduta do agentee o tipo penal incriminador.
P.ex., no homicídio, quando houver a morte da vítima, art. 121, CP; no furto, quando houver a subtração da mercadoria, art. 155, CP.
b)-Adequação Típica de Subordinação Mediata ou Indireta:ocorre quando não houver a perfeitaadequação entre a conduta do agente e o tipo penal incriminador, exigindo que nos utilizemos das chamadasnormas de extensão, que têm por finalidade ampliar o tipo penal.
b.1)-Norma de extensão ou ampliação temporal da figura típica:norma da tentativa
-art. 14, II, CP;
b.2)-Norma de extensão ou ampliação espacial e pessoal da figura típica:norma do concurso de pessoas
-art. 29, caput, CP.
OBS:se o legislador não nos tivesse fornecido a norma de extensão prevista no art. 14, II, CP, o fato de alguém atentar contra a vida de outrem seria considerado atípico, caso não viesse a ocorrer o resultado morte. Isso porque o art. 121, CP, prevê a conduta deMATAR ALGUÉM.
OBS:as contravenções penaisNÃO ADMITEMa tentativa(art. 4º do Dec-lei 3.688/41).
4.FASES DA EVOLUÇÃO DO TIPO:
a)-caráter puramente descritivo (Beling):o tipo apenas descrevia as condutas proibidas (comissivas ou omissivas) pela lei penal;
b)-caráter indiciário da ilicitude (Mayer, Zaffaroni):quando o agente pratica um fato típico, provavelmente ele também será antijurídico.
	O tipo, portanto, exercendo essa função indiciária é considerado aRATIO COGNOSCENDIda antijuridicidade.
c)-o tipo é a própria razão de ser da ilicitude:não há que se falar em fato típico se a conduta praticadapelo agente for permitida pelo direito.
	O tipo, portanto, é aRATIO ESSENDI.
	Para essa teoria, o art. 121, CP estaria assim redigido: “Matar alguém, ilicitamente”.
	O fato, para essa teoria, ou é típico e antijurídico desde a sua origem, em razãoda ausência de qualquer causa de exclusão da ilicitude, ou é atípico e lícito desde o início, em face da presença de uma causa de justificação.É como se houvesse uma fusão entre o fato típico e a antijuridicidade.
5.TEORIA DOS ELEMENTOS NEGATIVOS DOTIPO:
	Em face de ser o tipo aratio essendida antijuridicidade, toda vez que não for ilícita a conduta do agente não haverá o próprio fato típico.
	É que para esta teoria, estando a antijuridicidade fazendo parte do tipo penal, se a conduta do agenteforlícita, em face da existência de uma causa de justificação, o fato deixará de ser típico.
6.INJUSTO PENAL (INJUSTO TÍPICO):
	Uma vez analisados o FT e a A e concluído que a conduta do agente é realmente típica e ilícita, dizemos que houve um injusto penal.
	Resta agora ser realizado somente o estudo da culpabilidade do agente.
	O injusto, portanto, é a conduta valorada como ilícita.
	Para os que adotam a teoria total de injusto (ratio essendi), não existem 2 momentos distintos para análise, mas um único,ou seja: o fato é típico e ilícito desde o início.
	Para essa teoria o estudo analítico de crime é composto somente por 2 características: tipo total de injusto (conduta típica e ilícita) e culpabilidade.
	Para nós,haverá crimese o agente cometer umFT+A+C, uma vez que essa divisãotripartida, bem como a teoria daratio cognoscendi, é a que tem a preferência da maioria dos autores.
7.TIPO BÁSICO E TIPOS DERIVADOS:
a)-tipo básico ou fundamental: a forma mais simples da descrição da conduta proibida imposta pela lei penal. P. ex., art. 121, CP;
b)-tipos derivados: em virtude de determinadas circunstâncias, podem diminuir ou aumentar a reprimenda prevista no tipo básico. P. ex., art. 121, § 1º ou § 2º, CP.
8.TIPOS FECHADOS E TIPOS ABERTOS:
a)-tipos fechados:são aqueles que possuem a descrição completa da conduta proibida pela lei penal. P. ex., art. 121, CP;
b)-tipos abertos:não há a descrição completa e precisa do modelo de conduta proibida ou imposta. Nesses casos, faz-se necessária a sua complementaçãopelo intérprete.
	É o que ocorre com os crimes culposos.
	É preciso que sejam completados por uma valoração judicial e, por isso, não apresentam o mesmo rigor de definição legal dos tipos dolosos.
	Art. 121, § 3º, cuidou legislador do homicídio culposo.
	Aqui é preciso verificar como se deu a morte da vítima, ou seja: se ocorreu em face de imperícia, imprudência ou negligência do agente, em face de sua inobservância do dever de cuidado, ou se o resultado tinha condições de ingressar na esfera de previsibilidade do agente.
	O artigo que prevê o crime culposo, não se satisfaz por si próprio.
	Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão, previstos no art. 13, § 2º, CP, também são exemplos de tipos abertos.
9.TIPOS CONGRUENTES E TIPOS INCONGRUENTES:
a)-tipos congruentes:são aqueles em quea parte subjetiva da açãoSEcorrespondecom a parte objetiva.
	É o que ocorre com ostipos dolosos, ondea vontade alcança a realização objetiva do tipo.
	Há coincidência entre o dolo e o acontecer objetivo, ouseja, quando o elemento subjetivo se esgota, confunde-se com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo. P. ex., homicídio, furto, lesões, etc...
b)-tipos incongruentes:são aqueles em quea parte subjetiva da açãoNÃO SEcorrespondecom a parte objetiva.
	A lei estende o tipo subjetivo mais além do tipo objetivo, ou nos casos em que restringe o tipo subjetivo frente ao objetivo.
	Ao 1º grupo pertencem todos aqueles casos caracterizados por uma direção da vontade do autor que se superpõe ao dolo e o sobrepassa: delitos de motivo, propósito e tendência, a exemplo do que ocorre com o crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP), em que o agente atua impelido por um fim especial de obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate.
	SegundoMaurach, também são incluídos nessa categoria de tipos incongruentes, oscrimes preterdolosos, uma vez que o dolo precisa estender-se somente a um resultado parcial, enquanto que, a respeito do resultado que excede, causado sem dolo pelo autor, é suficiente que haja culpa, tal como ocorre no delito de lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, CP).
10.TIPOS SIMPLES E TIPOS MISTOS:
a)-tipo simples ou uninucleares:são aqueles em que o tipo penal prevê apenas um comportamento, um único núcleo. P. ex.,art. 121, “caput”, CP;
b)-tipos mistos ou multinucleares:são aqueles em que o tipo penal prevê mais de um comportamento, mais de um núcleo em seu preceito primário.Podem dividir-se em:
b.1)-tipo misto cumulativo:aqueles onde a prática de mais de um comportamento previsto no tipo faria com que fosse aplicado ao agente o raciocínio relativo ao concurso de crimes. P. ex., art. 244, CP (responde pela mesma infração, mas em concurso material);
b.2)-tipo misto alternativo:aqueles onde vários comportamentos (núcleos) são previstos no tipo penal, fazendo com que a prática de mais de um deles, importe num crime único. P. ex., receptação (art. 180, CP).
	Para GRECO, o art. 213, CP (estupro) – agente pratica conjunção carnal e sexo anal, ou mesmo oral, responderá por um único crime de estupro.
	Para o STJ, será um tipo misto cumulativo, uma vez que as condutas possuem autonomia funcional e respondem a distintas espécies valorativas, com o que o delito se faz plural.
11.TIPOS COMPLEXOS:
	Ocorrem quando em um único tipo ocorre a fusão de dois ou mais tipos penais, ou quando um tipo penal funciona como qualificadora de outro.
	Nessas hipóteses, há tutela de dois ou mais bens jurídicos.
	Pode-se citar como exemplo de crimes complexos a extorsão mediante sequestro (art.159, CP) e o latrocínio (art. 157, § 3º, CP).
12.ELEMENTARES:
	São dados essenciais à figura típica, sem os quais ocorre uma atipicidade absoluta ou uma atipicidade relativa.
a)-atipicidade absoluta:quando falta uma elementar indispensável ao tipo, o fato praticado pelo agente torna-se um indiferente penal. P.ex., TÍCIO subtrai o próprio guarda-chuva, supondo-o de outrem, não pratica o delito de furto, uma vez que se encontra ausente a elementar “coisa alheia móvel”, a fim de caracterizar aquela infração;
b)-atipicidade relativa:quando pela ausência de uma elementar, ocorre a desclassificação do fato para uma outra figura típica. P.ex., funcionário público, que não se valendo da facilidade que seu cargo lhe proporciona, subtrai um computador de sua repartição.
	Embora o fato não seja considerado crime de peculato-furto (art. 312, § 1º, CP), o agente responderá pela subtração a título de furto (art. 155, CP). P.ex., art. 123, CP para art. 121, CP.
13.ELEMENTOS QUE INTEGRAM O TIPO:
a)-elementos objetivos dotipo:têm a finalidade de descrever a ação, o objeto da ação e, em sendo o caso, o resultado, as circunstâncias externas do fato e a pessoa do autor.
	Há tipos penais que descrevem, ainda, o sujeito passivo, como no caso do crime de estupro devulnerável (art. 217-A, CP).Dividem-se em:
a.1)-elementos descritivos:são aqueles que têm a finalidade de traduzir o tipo penal, isto é, de evidenciar aquilo que pode, com simplicidade, ser percebido pelo intérprete.
a.2)-elementos normativos:sãoaqueles criados e traduzidos por uma norma ou que, para sua efetiva compreensão, necessitam de uma valoração por parte do intérprete, ou, na definição de Zaffaroni, “são aqueles elementos para cuja compreensão se faz necessário socorrer a uma valoração ética ou jurídica”.
	Conceitos como “dignidade e decoro” (art. 140, CP), “sem justa causa” (arts. 153, 154, 244, 246, 248, CP), podem variar de acordo com a interpretação de cada pessoa ou em virtude do sentido que lhe dá a norma.
	São considerados, portanto,elementos normativos, porque sobre eles, necessariamente, deve ser realizado um juízo de valor.
a.3)-elementos subjetivos:o dolo é, por excelência, o elemento subjetivo do tipo.
	Elemento subjetivo quer dizer elemento anímico, que diz respeito à vontadedo agente.
	Para alguns autores, além do dolo também a culpa, que consiste na representação do risco que ameaça um bem jurídico, faz parte do elemento subjetivo do tipo penal.
	Além do dolo e da culpa, há outros elementos subjetivos que dizem respeito às intenções e às tendências do agente, como as expressões: “especial fim de agir”, a exemplo do art. 159, CP.
14. FUNÇÕES DO TIPO:
a)-função de garantia ou garantidora:quando o agente somente poderá ser penalmente responsabilizado se cometer uma das condutas proibidas ou deixar de praticar aquelas impostas pela lei penal (princípio da anterioridade e da reservalegal);
b)- função fundamentadora:o Estado, por intermédio do tipo penal, fundamenta suas decisões, fazendo valer o seuius puniendi.
	A relaçãoentre a função garantidora e a fundamentadora é como se fosse duas faces de uma mesma moeda.
	Numa das faces está o tipo garantista, vedando qualquer responsabilização penal que não seja pelo tipo penal prevista, e na outra, a função fundamentadora, por ele exercida, abrindo-se a possibilidade ao Estado de exercitar o seu direito de punir sempre que o seu tipo penal for violado.
c)- função selecionadora de condutas:função de selecionar as condutas que deverão ser proibidas ou impostas pela lei penal, sob a ameaça de sanção.
	Nessa seleção de condutas feita por intermédio do tipo penal, o legislador, em atenção aos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social, traz para o âmbito de proteção do Direito penal somente aqueles bens de maior importância, deixando de lado as condutas consideradas socialmente adequadas ou que não atinjam bens de terceiros.

Continue navegando