Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO 19 Muito prazer! Sou o professor Alcir. Você já me conhece, desde o início do curso, como Coordenador do Programa de Educação a Distância, Pró-Licenciatura. Também sou professor da UnB, nas disciplinas Crescimento e Desenvolvimento Motor e Futebol e Prática Desportiva. Agora, nos encontramos de outro modo: além de coordenador, sou o responsável por esta disciplina que me fascina, porque tem uma conexão muito forte entre a nossa vida cotidiana e a prática da Educação Física, que nos desafia e se renova, a cada dia. Assim, procuro compartilhar experiências com você e contribuir para aprofundar a nossa compreensão sobre o papel do professor de Educação Física no desenvolvimento motor humano. É muito gratificante estar aqui, trilhando este caminho, junto com você! Crescimento e Desenvolvimento Motor Humano Prof. Alcir Braga Sanches Graduado pela Escola Superior de Educação Física do Estado de Goiás e mestre em Educação Física pela Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo – área de concentração Aprendizagem e Desenvolvimento Motor. Doutorou-se pela Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília – área de concentração Psicologia do Esporte. Prof. Luiz Cezar dos Santos Ph. D. em Kinesiology, pela University of Waterloo, Canadá. Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especialista em Motricidade Humana pela UNESP – Rio Claro. Licenciado em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da UnB. Prof. Osmar Riehl Licenciado em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP), mestre em Educação Física, pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Ciências da Saúde, pela Universidade de Brasília (UnB). 20 Olá, sou o professor Luiz Cezar e já nos encontramos em outros momentos deste curso. É uma satisfação nos reencontrarmos. Como sabe, sou professor de graduação e pós-graduação na UnB. Atuei, como coordenador, supervisor e orientador na especialização Esporte Escolar, ofertada pela Faculdade de Educação Física/UnB, em parceria com o Centro de Educação a Distância (CEAD – UnB) e o Ministério do Esporte e, fui professor de Educação Física, no Ensino Médio, na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Então, deixo o meu convite para continuarmos, juntos, esta caminhada! Sou o professor Riehl e você já me conhece. Fui parceiro da profa. Keila na autoria da disciplina Medidas e Avaliação em Educação Física. E, agora, cá estamos, novamente. Só para lembrar, leciono as Disciplinas Medidas em Educação Física e Prática de Ensino, no curso de graduação em Educação Física, da UnB, e respondo pela área de Cineantropometria do Laboratório de Aptidão Física e Movimento (AFIM) dessa mesma Universidade. Assim, proponho que continuemos a “jogar o nosso bom jogo”, para vencer mais uma etapa de aprendizagem. Sei que faremos um excelente trabalho! 21 Caro (a) aluno (a), Seja bem-vindo à disciplina Crescimento e Desenvolvimento Motor, que faz parte do eixo didático-pedagógico do nosso projeto de curso. Como tal, ela estabelece a relação entre teoria e prática, de forma a instrumentalizar o professor ou outros profissionais que atuam com movimento humano. A instrumentalização do profissional ocorre pela possibilidade do uso dos conceitos e das normas apresentadas, durante os estudos da disciplina, na observação do comportamento motor humano. Aprender a observar o desenvolvimento de habilidades motoras é uma das competências primordiais de um professor de Educação Física. Esta disciplina lhe fornecerá elementos para o planejamento, a execução e a avaliação do ensino de habilidades motoras, tanto na escola como em outros campos de intervenção profissional. Os autores deste material são professores da Universidade de Brasília com ampla experiência de estudo e docência nos temas que aqui foram desenvolvidos em 5 (cinco) unidades: Unidade 1 – Fundamentos Básicos em Desenvolvimento Motor. Prof. Alcir Braga Sanches Unidade 2 – Desenvolvimento de Habilidades Motoras. Prof. Alcir Braga Sanches Unidade 3 – Crescimento Físico de Crianças e Adolescentes. Prof. Osmar Riehl Unidade 4 – Desenvolvimento Perceptivo-Motor na Infância. Prof. Luiz Cezar dos Santos Unidade 5 – Desenvolvimento do Autoconceito na Infância. Prof. Luiz Cezar dos Santos Apresentação da Disciplina 22 OBJETIVOS Após finalizar esta Unidade, esperamos que você seja capaz de: ■ analisar o processo completo do crescimento e desenvolvimento motor humano, considerando sua dimensão global e interdisciplinar; ■ relacionar o desenvolvimento motor ao meio e à herança genética; ■ explicar os fatores que interferem no desenvolvimento motor, durante o ciclo da vida; ■ caracterizar as especificidades do crescimento físico de crianças e adolescentes; ■ analisar os elementos do desenvolvimento perceptivo-motor na infância; ■ examinar a influência dos tipos de autoconceito no desenvolvimento motor humano. Aproveite esta oportunidade! CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 Fundamentos Básicos em Desenvolvimento Motor 23 Bons estudos! OBJETIVOS Após finalizar esta Unidade, esperamos que você seja capaz de: ■ caracterizar o processo de desenvolvimento motor; ■ descrever os conceitos básicos do desenvolvimento motor, como: maturação, aprendizagem, crescimento e desenvolvimento; ■ relacionar faixas etárias, fases e estágios de desenvolvimento motor; ■ relacionar a influência dos fatores (restrições) do ambiente, da tarefa e do indivíduo no desempenho motor; ■ identificar a integração dos aspectos cognitivos, motor e afetivo no processo de desenvolvimento motor. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 24 1.1 O que é o Desenvolvimento Motor O desenvolvimento motor é um processo contínuo de mudanças que se inicia na concepção e só termina após a morte. A continuidade das mudanças resulta da integração de processos que possibilitam o surgimento de comportamentos motores capazes de atender às demandas ambientais e de atingir novos objetivos em qualquer fase da vida (MANOEL, 1989). Ao longo do desenvolvimento, passamos a realizar ações motoras cada vez mais complexas e com alto nível de proficiência. De acordo com Haywood e Getchell (2004), o desenvolvimento motor é um processo seqüencial e contínuo relacionado à idade, em que o indivíduo progride de um movimento simples, não organizado e não habilidoso, evolui para uma habilidade motora complexa e altamente organizada e, em seguida, ajusta-se às necessidades que acompanham o envelhecimento. Muitas vezes pensamos que o desenvolvimento motor está relacionado somente com crianças. Este equívoco acontece porque, ao longo dos primeiros anos de vida, as mudanças no comportamento motor são muito grandes e acontecem num ritmo muito acelerado. De acordo com Gallahue (2005, p. 6), “o desenvolvimento é relacionado à idade, mas não depende dela”. Isto significa que as idades são apenas uma referência para olharmos o processo de desenvolvimento e não uma forma de explicá-lo. A proficiência motora expressa- se no alcance de uma determinada meta, tanto pela forma que se usa o corpo, como pelo resultado alcançado pelo movimento executado. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 25 Para entender melhor o processo de desenvolvimento, precisamos olhar para dois tipos de mudanças: 1) as mudanças quantitativas, e 2) as mudanças qualitativas. Vejamos cada tipo. 1) Mudanças quantitativas – Referem-se às alterações diretamente mensuráveis. As medidas de crescimento físico, como peso, altura ou de desempenho,que você estudou na disciplina Medidas e Avaliação em Educação Física, ou a medida do aumento de uma estrutura, como a do coração, são exemplos de mudanças quantitativas. 2) Mudanças qualitativas – Estão relacionadas à melhoria nas funções. Mudanças típicas do processo maturacional ligadas aos aspectos biológicos, especialmente nos primeiros anos de vida, ou o surgimento de uma nova habilidade, são mudanças qualitativas. Quer ver alguns exemplos de mudanças qualitati- vas? Andar, falar, melhorar o funcionamento de um órgão ou sis- tema, aprender uma nova habilidade, como escrever ou chutar uma bola… (PAPAGLIA, OLDS e FELDMAN, 2009, p. 10). Você percebeu, pelos tipos de mudança que são observadas, como essas alterações refl etem processos integrados? Na verdade, as mudanças no nível de funcionamento do ser humano, ao longo do tempo, típicas do desenvolvimento, é a expressão dessa integração. Além das mudanças funcionais (desenvolvimento) e das estruturais (crescimento), você viu também que a maturação e a aprendizagem estão presentes nos dois tipos de mudança. Do ponto de vista biológico, a maturação refere-se às fases e aos produtos do crescimento, os quais estão diretamente relacionados a fatores endógenos e inatos. As mudanças maturacionais possuem uma ordem fi xa de progressão, ou seja, a seqüência do surgimento das características não varia, como, por exemplo, os eventos e as idades aproximadas de sentar, fi car em pé e andar sem ajuda. O crescimento refere-se ao aumento das proporções corporais e estruturais. Vamos refl etir… Pense nos efeitos das mudanças que acontecem na adolescência que difi cultam a aprendizagem e a execução de habilidades motoras. O desenvolvimento refere-se a uma melhoria de uma determinada função. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 26 Porém, ocorrem variações na velocidade e no nível das mudanças infl uenciadas por oportunidade de experiências (práticas) ambientais não relacionadas à idade, mas sim à aprendizagem. A infl uência da maturação é maior nos primeiros anos de vida, mas a infl uência das experiências vai aumentando ao longo do tempo. Assim, com essa complexa interação de processos, é possível emergir as mudanças adaptativas necessárias para a ação humana durante todo o período de vida. Para entender o desenvolvimento humano, precisamos considerar a integração de todos os fatores e processos que infl uenciam o surgimento de um comportamento novo, tais como: características herdadas, infl uências ambientais ou experiências, contextos e maturação biológica (PAPAGLIA, OLDS e FELDMAN, 2009). Além dos tipos de mudanças que observamos, uma outra questão importante é... Como essas mudanças ocorrem ao longo do tempo ? Papaglia, Olds e Feldman (id.) falam sobre uma série de modelos teóricos que buscam responder a essa pergunta. Esses modelos podem ser agrupados em dois tipos de orientação: 1) os modelos tipo fase / estágio, e 2) os modelos do tipo não estágios. 1) Modelos tipo fase / estágio – Para as teorias orientadas na idéia de estágios, as mudanças ocorrem de forma linear, seqüencial, contínua e hierarquicamente ordenada. As características típicas de cada estágio aplicadas a determinadas faixas etárias são utilizadas como normas na verifi cação de estados de desenvolvimento. As teorias de estágio tornaram-se CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 27 populares e são muito usadas porque proporcionam uma visão ou um quadro geral aplicável à maioria dos indivíduos, embora existam problemas, pois não explicam as diferenças individuais. 2) Modelos dos tipos não estágios – Os modelos do tipo não estágio, na visão de desenvolvimento da abordagem dos sistemas dinâmicos, enfatizam que o indivíduo desenvolve padrões preferidos de mudança conforme a integração sinérgica de diferentes sistemas em um determinado contexto. Outro exemplo de modelo não estágio é o da teoria ecológica, ramo do ambiente comportamental de Bronfenbrenner. Nessa visão, o desenvolvimento resulta da interação das percepções do indivíduo em relação aos seus ambientes comportamentais (GALLAHUE, 2005, p. 38-40). Para as teorias dinâmicas ou contextuais, os padrões de referência relacionados a faixas etárias, estabelecidas nas teorias do tipo fase-estágio, atendem à maioria da população, mas negam o conceito de individualidade no processo de desenvolvimento. Nesse sentido, o desenvolvimento é entendido como sendo não-linear e descontínuo, pois a alteração individual não é necessariamente hierarquizada no sentido de mover-se a níveis superiores de complexidade (GALLAHUE, 2005). Hora de praticar Vamos construir o conhecimento sobre teorias do desenvolvimento humano no fórum. Participe do fórum programado para a discussão desse tema no AVA do curso. O tutor da disciplina vai gerenciar os debates. Gallahue (id.) disse que o desenvolvimento é contínuo-descontínuo. Integração sinérgica corresponde a uma atuação cooperativa de subsistemas na realização de uma tarefa ou função. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 28 No próximo tópico, estudaremos uma teoria de desenvolvimento motor que concilia conceitos de estágio e conceitos da abordagem ecológica do ramo do sistema dinâmico. 1.2 Um modelo teórico de Desenvolvimento Motor Pois bem, agora, você estudará a teoria do desenvolvimento motor, de David Gallahue (2005). Para integrar os conceitos das teorias do tipo fase-estágio com os conceitos da teoria do sistema dinâmico ao estudo do desenvolvimento motor, o autor desenvolveu dois modelos. O primeiro modelo estabelece a relação entre fase– estágio idade aplicada ao ciclo da vida. Os movimentos que observamos em determinadas faixas etárias das fases motoras possuem características que permitem fazer inferências sobre mudanças que estão ocorrendo internamente, por meio dos estágios (GALLAHUE e OZMUN, 2005). Veja a representação do modelo, abaixo. Fonte: Gallahue, 2005 O ciclo da vida inicia-se no nascimento e termina na morte. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 29 O que você pôde notar? Bem, o modelo de Gallahue é um modelo descritivo e, por isso, traz informações importantes sobre as mudanças de movimentos observáveis relacionados a faixas etárias aproximadas. Descreve o que e quando muda, mas não explica o porquê muda. É hierarquizado e as idéias de seqüência, ordenação e progressividade estão bem expressas. As fases motora reflexa e motora fundamental, relaciona- das aos movimentos que se iniciam na vida intra–uterina e que vão até os 2 anos de idade, são as primeiras formas de o ser humano relacionar-se com o mundo externo. A fase motora reflexa é controlada no nível subcortical e é o início de todo o processo de desenvolvimento motor. Pelos movimentos involuntários, o recém-nascido obtém, armazena e começa a processar informações mediante os estágios de codificação (período de armazenamento) e decodificação (período de processamento) das informações e passa para a fase motora rudimentar, fase de transição dos movimentos involuntários – estágio de inibição dos reflexos – para os primeiros movimentos voluntários, estágio de pré-controle. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 30 A seqüência de mudanças motoras desse período é previsível e predominantemente infl uenciada pelos processos maturacionais – desenvolvimento do córtex cerebral – e envolvem: ■ movimentos estabilizadores, comoos de controle da cabeça, do pescoço e dos músculos do tronco; ■ movimentos manipulativos de alcançar, agarrar e soltar objetos, e ■ movimentos locomotores de arrastar, engatinhar e caminhar. Todas as habilidades motoras a serem desenvolvidas futuramente podem ser classifi cadas em uma ou em combinações dessas categorias de movimento. Agora que você já entendeu a fase motora refl exa, vejamos a fase motora fundamental, em que os movimentos surgem como conseqüência da fase dos movimentos rudimentares. A melhoria do controle do movimento proporcionada pela maturação dos sistemas perceptivos e motor dá oportunidade para a criança explorar ainda mais o ambiente e, assim, conhecer melhor o seu corpo, os objetos e o ambiente que a cerca. Essa fase é denominada fase motora fundamental, por ser a base para o desenvolvimento de habilidades motoras mais complexas. Sem o pleno desenvolvimento de movimentos fundamentais, são inibidos o desenvolvimento e a aplicação na fase posterior (GALLAHUE, 2005). Nesta etapa, que vai dos 2 aos 7 anos de idade, é descoberta uma grande variedade de movimentos manipulativos (receber, arremessar e chutar), locomotores (correr, saltar) e estabilizadores (girar, empurrar, rolar). A fase motora fundamental é composta por três estágios: 1) inicial, 2) elementar e 3) maduro. Cada fase tem características que ajudam a avaliar o estado de desenvolvimento motor da criança. Vejamos cada estágio, mais detalhadamente. Os movimentos fundamentais referem-se a tarefas que possuem metas gerais e que formam a base para o desenvolvimento de habilidades específi cas e de maior complexidade. São exemplos os movimentos de andar, correr, saltar, bater, rebater, rolar, girar, esquivar, entre outros. Você sabia que uma ótima posição para a mãe estimular o desenvolvimento do bebê é mantê-lo na posição com o rosto voltado para frente? Pois é, assim, ele terá mais estímulo visual e principalmente poderá fortalecer os músculos do pescoço e das costas, porque deverá vencer a força de gravidade para manter o corpo estendido e não cair para frente. Você sabia que uma CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 31 1) No estágio inicial, a criança faz as primeiras tentativas de atingir um determinado objetivo ambiental, utilizando uma determinada habilidade fundamental. O movimento apresenta uma seqüência imprópria, há um grande dispêndio de energia pelo uso exagerado dos diferentes segmentos corporais e uma defi ciência da coordenação e da seqüência rítmica de movimentos. 2) No estágio elementar, há uma diminuição da quantidade de erros e a melhoria das coordenações rítmicas e dos movimentos com conseqüente diminuição do dispêndio de energia. A maioria das crianças consegue atingir esse estágio em um grande número de movimentos fundamentais, por meio do processo de maturação. Embora no estágio elementar ocorra uma melhoria em relação ao estágio anterior e uma aproximação das características do estágio subseqüente, ainda podemos observar defi ciências na sincronização espaço-temporal dos movimentos. 3) As características dos movimentos no estágio maduro da fase dos movimentos fundamentais expressam-se pela forma mecanicamente efi ciente, coordenada e controlada. O padrão motor estabiliza-se e o dispêndio de energia diminui bastante. Segundo Gallahue (2005, p. 61), (...) a maioria dos dados disponíveis sobre a aquisição de habilidades motoras fun- damentais sugere que as crianças podem e devem atingir o estágio maduro aos 5 ou 6 anos de idade (...). Porém, o alcance do estágio maduro continua dependente da interação da maturação e da oportunidade de prática, mas, ao contrário do estágio elementar, a infl uência do ambiente aumenta agora e, sem essa oportunidade, a grande maioria não alcançará o desenvolvimento pleno das habilidades motoras fundamentais. Vamos entender melhor tudo o que vimos, observando alguns jogos que envolvem movimentos fundamentais? O estudo de Sanches (1989) sobre a habilidade básica arremessar, com estudantes universitários, demonstrou que um número reduzido de indivíduos conseguiu atingir o estágio maduro da habilidade. A maioria dos sujeitos alcançou o estágio elementar. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 32 As habilidades fundamentais, como andar, correr, saltar, arremessar, chutar, entre outras, que são consideradas naturais, dependem de oportunidade de prática, ou seja, de experiência (aprendizagem) para o alcance do estágio maduro. Bem, até aqui, vimos as características da fase motora fundamental. Então, vamos, agora, explorar, a fase seguinte da fase motora fundamental: a motora especializada, que vai dos 7 aos 14 anos. Nessa fase, os movimentos de estabilidade, de loco- moção e de manipulação, desenvolvidos na fase anterior, continuam a ser refi nados e combinados em um processo do aumento progressivo de complexidade expressa em habilidades motoras, como pular corda, chutar e arremessar bolas em movimento, saltar obstáculos, dançar, ou em quaisquer outras habilidades motoras presentes no dia-a-dia. Fatores individuais, ambientais e da tarefa infl uenciam o desenvolvimento dessa fase. A fase motora especializada possui três estágios: 1) transitório; 2) de aplicação, e 3) de utilização permanente. 1) estágio transitório – Primeiro estágio relacionado à faixa etária dos 7 aos 10 anos de idade. As habilidades motoras são as mesmas da fase anterior, mas com forma, precisão e controle maiores, e são usadas em ambientes recreacionais, esportivos, nas aulas de Educação Física e nas atividades diárias. É um momento de descoberta e de combinação de padrões motores que possibilitam um rápido desenvolvimento de habilidades motoras mais complexas. É um momento de acesso a inúmeras oportunidades de prática. Uma ênfase restrita, típica de uma especialização, nesse estágio, pode ocasionar problemas para os estágios subseqüentes (GALLAHUE, 2005). Os movimentos de estabilidade referem- se à habilidade de manter em equilíbrio a relação indivíduo/ força de gravidade. Os movimentos de girar, esquivar e rolar enquadram-se nesta categoria. Os movimentos de locomoção referem- se ao deslocamento do corpo em relação a um determinado ponto fi xo na superfície. Os movimentos de correr, andar, saltar e escalar enquadram-se nesta categoria. Os movimentos de manipulação referem-se ao relacionamento de um indivíduo com objetos, pela aplicação de força neles e absorção de força dos mesmos. Os movimentos de receber, arremessar e chutar enquadram-se nesta categoria. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 33 2) estágio de aplicação – Surge entre 11 e 13 anos, após uma fase em que predominou a ênfase sobre movimentos amplos e generalizados em todos os tipos de atividades. A combinação de fatores relacionados à maturação, à experiência acumulada em estágios anteriores e ao início de um estágio de desenvolvimento cognitivo – em que o indivíduo torna-se capaz de construir idéias e tomar decisões – possibilita a escolha de participação em uma determinada especialidade. A avaliação das facilidades ou dificuldades individuais diante das exigências da tarefa e das condições ambientais servirá de parâmetros para a escolha. No Brasil, um adolescente, por volta de 12 anos, com boa coordenação e agilidade para o uso dos pés com a bola, pode optar por jogar futebol. Se tiver 1.90 m de altura e habilidade no uso das mãos/braços com a bola, pode escolher o voleibol. Esse é o início da participaçãomais efetiva no tipo de atividade escolhida. Há uma ênfase crescente na exigência de melhoria do desempenho motor, tanto em aspectos qualitativos (forma), como em aspectos quantitativos (produto). Este é o momento de dar continuidade no processo do refinamento e do uso de habilidades mais complexas de forma mais sistemática em jogos, atividades de liderança e em atividades relacionadas com o tipo de escolha feita pelo indivíduo. 3) estágio de utilização permanente – Tem início por volta dos 14 anos de idade e continua até a morte. Representa o ponto mais elevado de todas as fases e estágios anteriores, ou seja, todo esse processo foi progressivo e inter-relacionado. Assim, com a estruturação de experiências de movi- mentos apropriadas, é possível desenvolver um repertório amplo de habilidades motoras, respeitando as necessidades e as características individuais, que será útil, conforme sugere o CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 34 topo do modelo de fases de desenvolvimento motor de Gallahue (2005): para a utilização permanente na vida diária, no tempo livre ou em competições esportivas. Dessa forma, pode-se conseguir um desenvolvimento motor equilibrado benéfi co, para toda a vida do indivíduo, em todos os tipos de habilidades que exijam uma ação motora. A especialização precoce, por exemplo, em uma determinada modalidade esportiva, pode produzir uma limitação para todos os tipos de utilização de movimentos na vida do indivíduo, inclusive na própria especialidade escolhida. Muito cuidado com a fase motora especializada. O ganho de tempo com a especialização precoce, nessa fase, pode ser prejudicial à oportunidade de aprendizagem de uma ampla série de movimentos benéfi ca para todo o tipo de utilização na vida adulta. Acabamos de descrever o modelo de fases do desenvolvimento motor de Gallahue, o da ampulheta. A ampulheta representa o curso do tempo no qual descreve as mudanças que se aplicam à maioria das pessoas. Pois bem, agora, vamos conversar sobre o segundo modelo do autor, o modelo da ampulheta ampliado. Ele oferece normas indicadoras sobre como buscar respostas para determinados problemas. Assim, busca explicações para o entendimento das mudanças que acontecem ao longo do tempo, especialmente pela interação de fatores relacionados ao indivíduo, ao ambiente e à tarefa. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 35 Fonte: Gallahue, 2005 O modelo primeiramente reconhece a integração da hereditariedade (recipiente com tampa) e do ambiente (recipiente sem tampa). Essa integração acontece pela possibilidade de contribuição de cada um desses fatores no processo de desenvolvimento motor, expressa simbolicamente pela quantidade de areia que cada recipiente pode contribuir para o preenchimento da ampulheta. Veja que a discussão sobre as contribuições relativas da hereditariedade e do ambiente nesse processo não é proveitosa, porque ambas influenciam o processo de desenvolvimento. Até a fase motora rudimentar predomina a influência da hereditariedade. Nesse período, a seqüência de desenvolvimento é muito previsível, ou seja, a maioria das crianças engatinha, antes de ficar de pé e caminha antes de correr. O recipiente da hereditariedade com tampa demonstra os limites que a carga genética estabelece, para o nível de desenvolvimento, pela quantidade fixa de areia contida no recipiente. O recipiente do ambiente sem tampa expressa que a quantidade de areia desse fator pode ser utilizada conforme as oportunidades e o interesse de cada indivíduo. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 36 Conforme o tempo passa, especialmente após a fase motora rudimentar, aumenta a contribuição relativa do ambiente. O triângulo na ampulheta, baseado no conceito de restrição da linguagem dos sistemas dinâmicos, tem a função de explicar o desenvolvimento motor do indivíduo. Em uma situação–problema ou contexto que exija uma solução motora, a maneira de utilização do corpo e o resultado alcançado pelo movimento executado são infl uenciados por fatores (restrições) impostos pela tarefa, pelas condições do ambiente e pelas difi culdades ou facilidades individuais (NEWEEL in HAYWOOD e GETCHELL, 2004). Um exemplo típico dessa relação seria uma criança de 6 anos (indivíduo) arremessar uma bola de basquetebol na cesta que fi ca a 3.10 m do solo (tarefa), em uma quadra ofi cial dessa modalidade esportiva (ambiente). Você ac ha que essa crian ça conse guiria a perfo rman ce es perad a? O conceito de restrição explica a relação dinâmica entre o indivíduo, a tarefa e o ambiente no movimento que surge dessa interação. Uma restrição é algo como uma limitação (HAYWOOD e GETCHELL, 2004, p.20). No exemplo acima, as restrições da criança são a altura, o tamanho da mão e o sistema muscular que a impossibilitam de cumprir a tarefa conforme o esperado. A restrição imposta pela tarefa é a altura da cesta. A restrição imposta pelo ambiente são as dimensões e os limites de uma quadra ofi cial de basquetebol. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 37 Os modelos de Gallahue, com orientações gerais sobre o processo de desenvolvimento motor, podem ser de grande valia para o professor que lida no dia-a-dia com o ensino de habilidades motoras. 1.3 Dimensões do Desenvolvimento Humano O desenvolvimento humano resulta da interação das mudanças que acontecem nas dimensões cognitiva, motora e afetiva/social. Os tipos de desenvolvimentos interagem continuamente ao longo do tempo, e um infl uencia o outro. O reconhecimento da interação dos domínios possibilita que tenhamos uma visão mais integral do ser humano. A interação entre dimensões é considerada por diferentes teóricos que estudam o desenvolvimento. Você deve se lembrar do que aprendeu sobre as teorias de aprendizagem e desenvolvimento, na Disciplina Psicologia da Educação. Na teoria de desenvolvimento cognitivo de Piaget, o movimento é colocado como um elemento fundamental para o desenvolvimento de estruturas cognitivas (estágios), particularmente nos primeiros anos de vida. Hora de praticar Vamos discutir no fórum temático as teorias do desenvolvimento humano no contexto das aulas de Educação Física. O tutor da disciplina vai atuar como mediador nesse debate. Após a leitura desse tópico, você acha que poderá observar melhor o comportamento motor dos seus alunos? Interação é a infl uência recíproca das dimensões cognitiva, motora e afetiva/social no desenvolvimento humano. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 38 Wallon, por sua vez, desenvolve conceitos fundamentais que ajudam a compreender a dimensão afetiva e a sua relevância para o entendimento do processo de desenvolvimento humano. Como na teoria de estágio cognitivo, ela reconhece a integração ser humano–meio ambiente e a integração das dimensões cognitiva, afetiva e motora humana (MAHONEY e DE ALMEIDA, 2005). Mahoney e De Almeida (id.) expõem com propriedade a teoria Walloniana. Para explicar a integração das dimensões, Wallon desenvolveu uma teoria, que chamou de conjuntos ou domínios funcionais. A pessoa é considerada parte dos domínios. Assim, Wallon descreve a contribuição das dimensões afetiva, motora e cognitiva no processo de mudanças psicológicas e coloca a pessoa como um quarto elemento funcional que expressa a integração em todas as suas inúmeras possibilidades. Alémdas dimensões cognitiva, afetiva e motora, Payne e Isaacs (2007) destacam uma quarta dimensão relacionada a mudanças de crescimento, chamando-a de domínio físico. Nessa dimensão, os autores listam alguns tipos de mudanças quantitativas que influenciam o desempenho motor, como peso, e altura, gordura corporal, endurance cardiovascular, amplitude de movimento ao redor de articulações. Endurance cardiovascular – Refere-se à capacidade de o coração prover oxigênio para os músculos, durante a atividade física, por um longo período de tempo. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 39 Como vimos, as mudanças típicas do processo de desenvolvimento ocorrem em diferentes dimensões. Acontecem mudanças cognitivas, mudanças emocionais, físicas e motoras. O alcance da visão integral do ser humano só é possível a partir do reconhecimento dessas interações. Está curioso? Então, busque nos endereços abaixo, usando as palavras: teorias de desenvolvimento motor; dimensões do desenvolvimento humano. www.cev.org.br www.capes.gov.br (link periódicos) www.google.com.br Para entender a individualidade, além das normas, é preciso considerar a interação entre as dimensões cognitiva, afetiva, motora e física. Hora de praticar Descreva uma situação-problema em sua aula ou em outro espaço de intervenção profi ssional que evidencie a integração das dimensões cognitivas, afetiva e motora. Esta tarefa deverá ser postada no AVA do curso, conforme as orientações contidas naquele ambiente e os encaminhamentos que serão fornecidos pelo seu(s) tutor(es). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 1 I FUNDAMENTOS BÁSICOS EM DESENVOLVIMENTO MOTOR 40 O desenvolvimento mo- tor é um processo contí- nuo de mudanças que se inicia na concepção e só termina após a morte. As mudanças no nível de funcionamento do ser humano, ao longo do tempo, típicas do desenvol- vimento, é a expressão da integração en- tre os fatores hereditário e ambiental. Os aspectos biológicos relacio- nados às mudanças maturacionais, às experiências ambientais que condu- zem ao aprendizado e às alterações fi siológicas na idade adulta ensejam respostas motoras adaptadas às de- mandas ambientais e a novos objetivos em qualquer fase da vida. O acúmulo de fatos em estudos do desenvolvimento humano possibilitou a construção de modelos teóricos descriti- vos e explicativos para as mudanças que acontecem ao longo do tempo. Esses modelos podem ser agru- pados em dois tipos de orientação: 1) os modelos tipo fase/estágio e 2) os mode- los do tipo não estágios. Em desenvolvimento motor, os modelos de ampulheta de fases e o am- pliado de Gallahue (2005) tentam des- crever e explicar o processo contínuo- descontínuo de mudanças motoras, ao longo do tempo. Finalmente, o reconhecimento da interação contínua das dimensões cog- nitiva, motora, física e afetiva/social per- mite uma visão mais integral do ser hu- mano e ajuda a entender as diferenças individuais. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 Desenvolvimento de Habilidades Motoras 41 OBJETIVOS Após finalizar essa unidade, esperamos que você seja capaz de: ■ explicar o papel da Educação Física na educação das pessoas; ■ descrever os princípios do movimento e da estabilidade nas habilidades básicas; ■ categorizar as habilidades básicas em estágios de desenvolvimento motor; ■ avaliar habilidades básicas, utilizando listas de seqüência de desenvolvimento motor; ■ discutir as diferenças de desenvolvimento interindivíduos, intertarefas e intratarefa. Nesta Unidade 2, você estudará estas questões, na visão desenvolvimentista. Vamos lá? CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 42 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO 2.1 Introdução A Educação Física é um componente curricular obrigatório no ensino básico da educação brasileira e, como tal, integra-se à proposta pedagógica das escolas (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996, complementada pela Lei nº 10.793, de 2003). Assim, ela é uma disciplina responsável pelo desenvolvimento de habilidades e competências, da mesma forma que Português, Matemática, Biologia, entre outras. Veja o seguinte: ao recebermos uma formação em: Historicamente, na Educação Física, muita discussão e abordagens teóricas trazem uma grande difi culdade para que ela se estabeleça como um componente legítimo do currículo escolar. A Educação Física, como qualquer outra disciplina, deve reconhecer e respeitar as experiências e as necessidades dos seus alunos – colocando- os integralmente, nos seus aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor, no centro do processo educacional – e assumir o movimento como o seu objeto de aprendizagem no projeto pedagógico das escolas. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 43 A Educação Física, como as demais disciplinas, deve se estruturar em teorias contextualizadas ao seu objeto de ensino conseguindo definir, dessa forma, a sua função no âmbito das demais aprendizagens escolares. 2.2 Educação Física Desenvolvimentista Na visão desenvolvimentista, o movimento é o objeto de aprendizagem da disciplina Educação Física. Pela riqueza de oportunidades relacionais que o movimento proporciona, essa disciplina desempenha um papel muito importante no processo de desenvolvimento humano. Assim, a parte da educação que cabe à Educação Física é a educação motora. A reconhecida inter-relação entre os aspectos motores, cognitivos e afetivos nessa disciplina possibilita aprendizagens: 1. Nos aspectos motores, tanto de habilidades motoras fundamentais e especializadas como de atividades físicas que proporcionam aptidões relacionadas à saúde e à performance; 2. Nos aspectos cognitivos, relativos ao conhecimento do corpo e do mundo ao redor na aprendizagem perceptivo- motora, bem como de aprendizagem de conceitos relacionados ao movimento, às habilidades motoras, à aptidão física e até mesmo a conhecimentos acadêmicos; 3. Nos aspectos afetivos, a melhoria dos componentes do autoconceito e da socialização. Para compreender melhor, observe a Figura 1, de Gallahue e Donnelly (2008), que nos mostra uma síntese da Educação Física Desenvolvimentista proposta. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 44 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Figura 1. Fonte: GALLAHUE e DONNELY, 2008. Se considerarmos, no processo educacional, que o papel da Educação Física é ensinar o aluno a mover-se e aprender por meio do movimento, o conteúdo, as metas e as estratégias devem ser direcionadas para atender os objetivos dessa disciplina. Os objetivos da Educação Física na escola são promover a aprendizagem do movimento e a aprendizagem mediante o movimento. Bem, Gallahue (2008) nos diz que, em termos de habilidades e conhecimentos, a pessoa educada especifi camente na Educação Física deve ser capaz de: Mas o que signifi ca um indivíduo educado na Educação Física Desenvolmentista? CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 45 1. Demonstrar competência em habilidades motoras gerais e profi ciência em algumas habilidades específi cas. 2. Aplicar conceitos e princípios de movimento (consciência corporal, consciência espaço-temporal, esforço e relação) ao aprendizado de habilidades motoras. 3. Exibir um estilo de vida fi sicamenteativo. 4. Alcançar e manter um nível bom de saúde e de porte físico. 5. Exibir comportamento social e pessoal responsável em locais de atividade física. 6. Manifestar compreensão e respeito pelas diferenças entre as pessoas em locais de atividade física. 7. Compreender que a atividade física dá oportunidade de diversão, desafi o, auto-expressão e interação social. Assim, na Educação Física desenvolvimentista, a partir do reconhecimento da natureza inter-relacionada dos aspectos motor, cognitivo e afetivo social, os objetivos e as metas da disciplina devem ser direcionados para a educação motora. 2.3 Aquisição de habilidades motoras Vamos parar por um momento e pensar em alguns aspectos do movimento. Hora de praticar Antes de passarmos para o próximo tópico, faça um relatório descritivo de como está inserida a Educação Física no projeto pedagógico da sua escola. Caso necessite, vá a uma escola e converse com os professores para saber como é que funciona a Educação Física nesse estabelecimento. O conteúdo desta disciplina associado ao de outras, como a de Fundamentos da Educação Física, por exemplo, vai ajudá-lo nessa observação. Encaminhe essa tarefa conforme solicitado no AVA do curso e, também, conforme as orientações do (s) seu (s) tutor (es). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 46 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Lembra-se que, na Unidade 1, estudamos o modelo de desenvolvimento motor? Lá, verifi camos que o pleno desenvol- vimento de habilidades motoras fundamentais e especializa- das – durante os primeiros anos de vida até aproximadamente os 14 anos de idade – é essencial para a expressão de um com- portamento motor adequado ao longo da vida. Nas próximas unidades, estudaremos vários conceitos relacionados à educação motora, a exemplo do crescimento/ aptidão física e de aspectos afetivos e cognitivos que envolvem aprendizagens relacionadas com o processo educacional do ser humano. Especifi camente, neste tópico, conversaremos sobre a questão hierárquica do desenvolvimento motor e a importância da observação desse processo, ao longo do tempo. As fases do desenvolvimento motor – lembra do modelo de ampulheta de Gallahue? – iniciam-se na fase motora refl exa. Os refl exos, como primeiras formas de movimento humano, são movimentos involuntários que formam a base para as fases do desenvolvimento motor (GALLAHUE, 2005). Os primeiros movimentos voluntários acontecem na fase dos movimentos rudimentares e envolvem os movimentos estabilizadores de controle de cabeça, pescoço e tronco; movimentos manipulativos de alcançar, agarrar e soltar objetos e movimentos de locomoção de arrastar, engatinhar e caminhar. Como conseqüência da fase dos movimentos rudimentares, surge, então, a fase motora fundamental na qual as experiências de aprendizagem, combinadas com o As habilidades motoras fundamentais são categorizadas em habilidades de equilíbrio, manipulação e locomoção. Quais são as competências ou habilidades que devem ser desenvolvidas, ao longo do tempo? Existe uma relação de interdependência, na seqüência de aprendizado? CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 47 processo maturacional, iniciam um período de crescente aumento do controle dos movimentos e de aquisição de habilidades motoras mais complexas. Assim, por analogia ao processo de alfabetização das crianças, as habilidades motoras fundamentais de equilíbrio, manipulação e de locomoção (Figura 2) funcionam como letras do alfabeto motor que se combinam, como, por exemplo, no futebol as habilidades de receber, correr e chutar uma bola (GALLAHUE, 2008). Inúmeras combinações de habilidades fundamentais formam o universo das habilidades motoras especializadas relacionadas aos esportes, à ginástica, à dança, às lutas, à recreação e ao lazer. Figura 2. Fonte: GALLAHUE, 2008. Assim, a combinação de correr, saltar e cair no solo amaciado com areia compõe uma habilidade mais complexa, no caso uma habilidade esportiva: salto a distância do atletismo. Veja, a seguir, outros exemplos de habilidades esportivas que expressam a combinação de habilidades fundamentais. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 48 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Como vimos, a aprendizagem de habilidades fundamentais é a base para o aprendizado de habilidades mais complexas, como no exemplo das habilidades esportivas. Nesse sentido, saber observar e avaliar a aprendizagem desses conteúdos torna-se uma tarefa importante para o professor. 2.4 A observação e a avaliação de habilidades motoras O acompanhamento das mudanças que ocorrem no aprendizado motor, especialmente no período escolar, é um desafi o que precisa ser enfrentado pelo professor. O conhecimento sobre o movimento humano é importante para que o professor seja capaz de avaliar esse aprendizado ao longo do tempo. No dia-a-dia, o professor enfrenta duas situações de avaliação, em que usa diferentes técnicas de acompanhamento das mudanças: Hora de praticar Dê uma olhada nas fotos 1, 2 e 3 acima. Agora, descreva a combinação de habilidades básicas presentes em cada uma das habilidades especializadas. Vamos bater papo sobre essas e outras combinações que deverão ser alvo de discussão no Fórum Fases Motoras, conforme a programação estabelecida no ambiente de comunicação e aprendizagem do curso. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 49 1. Avaliação do processo – Referente à forma de utilização do corpo (avaliação qualitativa). Como técnica de acompanha- mento das mudanças usa as avaliações observacionais; 2. Avaliação do produto – Referente ao resultado produzido pelo movimento, como distância, altura, tempo ou quantida- de (avaliação quantitativa). Como técnica de acompanha- mento das mudanças usa as avaliações de desempenho. Na próxima unidade, veremos a questão de desempenho. Para o momento, trataremos das avaliações observacionais. Para Gallahue e Donnelly (2008), na avaliação do progresso do aluno, o professor pode utilizar dois tipos de abordagem: a do tipo auto-referenciada e a do tipo normativa. Avaliação auto-referenciada Avaliação normativa É importante porque realiza a avaliação do indivíduo comparando o seu progresso em mais de uma avaliação, reforçando o conceito de diferenças individuais. É baseada em faixa etária e pode ser útil para entender o progresso da maioria dos estudantes, mas deixa de lado a infl uência de fatores (restrições) no desempenho avaliado. Nos dois tipos de avaliação, o professor tem de saber o que observar e o como observar. Duas maneiras podem ser empregadas para a análise dos movimentos: 1) observando o emprego dos princípios de movimento e da estabilidade; 2) utilizando o conceito de estágio de desenvolvimento motor relacionado à idade que descreve seqüências de desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais. Na observação que utiliza os princípios básicos de movimento e da estabilidade, é importante ter em mente os tipos de restrições que explicam determinada expressão motora. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 50 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Pergunte-se... Será a lei da gravidade restrição ambiental? Será a estrutura óssea ou a estrutura muscular restrição do indivíduo? Ou o tipo de tarefa restrição imposta pela tarefa?Vamos utilizar os exemplos de seqüências de desenvolvimento de habilidades básicas para compreender os princípios de movimento e estabilidade. Observe a criança, na Figura 3, a seguir, com uma bola pequena e leve na mão, preparada para fazer um dos seus primeiros arremessos. Para conseguir mover essa bola, ela precisará aplicar uma determinada quantidade de força no objeto que tem nas mãos (lembra-se da 1ª Lei de Newton?). Figura 3. Estágio inicial do arremesso. A tarefa pouco conhecida e vivenciada pela criança e as suas condições de desenvolvimento biológico (restrição do indivíduo) indicam que a bola não será arremessada a uma grande distância, porque, embora a massa (peso) da bola seja compatível com o tamanho da criança, o movimento realizado não será capaz transferir força sufi ciente para o deslocamento rápido da bola (agora, falamos da 2ª Lei de Newton). A Figura 3 mostra-nos que, no estágio inicial do arremesso, a ação é feita a partir do cotovelo, com um movimento que se assemelha a um empurrão; o tronco permanece perpendicular Haywood e Getchell (2004) descrevem conceitualmente os princípios básicos do movimento e da estabilidade aplicados à performance de habilidades básicas como um guia prático para o professor de Educação Física. A 1ª Lei de Newton – também chamada de Princípio da Inércia: um corpo, em repouso ou em movimento retilíneo e uniforme, tende a manter seu estado inicial (de movimento ou de repouso). A 2ª Lei de Newton (Princípio Fundamental da mecânica) estuda a causa dos movimentos: um corpo em repouso precisa receber uma força para se movimentar. Para um corpo em movimento parar, é preciso aplicar uma força. Um corpo adquire velocidade e sentido, conforme a intensidade da aplicação da força. Isto signifi ca que, quanto maior for a força, maior será a aceleração adquirida pelo corpo. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 51 ao alvo; os pés paralelos e parados. Mesmo que movidos ao acaso, os pés, durante a fase preparatória do arremesso, pouco ajudam na performance do arremesso. Agora, observe a melhoria do movimento, na Figura 4, que nos mostra a criança beneficiando-se das leis do movimento para melhorar a sua performance. Figura 4. Estágio avançado de desenvolvimento (estágio maduro) Desde a fase preparatória do arremesso, podemos observar uma postura favorável para um melhor aproveitamento da 1ª e da 2ª lei de Newton, inclusive combinadas com outros princípios relacionados à força. Primeiro, a passada à frente, com a perna contrária ao do braço de arremesso, aumenta a distância linear (linha reta), a partir da qual a força é aplicada. Também verificamos o aumento da amplitude do movimento pela rotação dos quadris e do tronco e elevação do braço flexionado acima do ombro, aumentando a distância angular para o movimento que possibilita uma transferência maior de força ao objeto, no caso a bola. O braço estendido, no momento final do arremesso possibilita, também, o aumento da velocidade do objeto projetado. Essa aplicação da 1ª e da 2ª Leis de Newton na melhoria do movimento repete-se em outras habilidades básicas, como, por exemplo, o chutar (Figura 5). Figura 5. Estágio maduro do chute (aplicação da 1ª e da 2ª Leis de Newton para a melhoria da habilidade de chutar). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 52 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Uma outra lei muito presente no estágio avançado do arremesso é a cadeia cinética aberta. Para aplicá-la, verifique a seqüência ordenada de movimentos sucessivos dos pés, da rotação da pelve, do tronco e dos braços que somam forças para serem transferidas no momento do arremesso. A tarefa é capaz de produzir alterações na relação entre força e velocidade no arremesso. Vejamos um exemplo: o arremesso de uma bola de 1 kg. Para maximizar a velocidade da bola, será exigida a aplicação de mais força do que em uma bola de 325g (é exigida mais aplicação de mais força para arremessar um objeto mais pesado do que para arremessar um objeto mais leve). A corrida nos permite analisar outra lei do movimento: a 3ª Lei de Newton. Na Figura 6, a seguir, podemos observar bem a aplicação do princípio da ação e reação. Figura 6. A 3ª Lei de Newton na corrida. Estágio inicial da corrida (Gallahue, 2005) No estágio inicial da corrida, o aproveitamento, por parte do aprendiz, da lei da ação e reação é muito precário. Os movimentos dos pés e das pernas mostram uma indefinição na direção das passadas, amplitude de passada muito pequena, uma base de apoio muito larga e extensão incompleta da perna de apoio. Nos movimentos de braços, verificamos o balanço rígido do braço com graus variados de flexão de cotovelo nas direções lateral e mediana do corpo. Cadeia cinética aberta refere-se à seqüência bem sincronizada de movimentos que o indivíduo usa para realizar uma habilidade com sucesso (HAYWOOD e GETCHELL, 2004). A 3ª Lei de Newton – também chamada de Lei (Princípio) da ação e reação. Em palavras simples: para toda força aplicada, existe outra força de mesma intensidade, mesma direção, mas com sentido contrário. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 53 O mesmo não acontece com a corrida, no estágio maduro (Figura 7). Os movimentos das partes do corpo acontecem de modo a maximizar o deslocamento da corrida em linha reta. A força aplicada no movimento dos pés (ação), para baixo e para trás, produz uma reação do solo, que projeta o corpo para cima e para frente. Figura 7. Estágio maduro da corrida (GALLAHUE, 2005). Para explicar a aplicação do princípio de absorção de força, utilizaremos o exemplo do estágio maduro do salto em distância (Figura 8), enfatizando a fase de aterrissagem. Podemos verificar que, para diminuir o impacto da aterrissagem (lembra-se do princípio da ação e reação?), no momento da queda, os joelhos do saltador encontram-se flexionados. Dessa forma, a força contrária à da ação (queda) é absorvida pelo aumento do tempo e da distância da aterrissagem, diminuindo o risco de contusão no salto. Figura 8. Estágio maduro do salto horizontal (GALLAHUE, 2005). A aplicação da lei da ação e reação também pode ser a alternância do movimento de braços e pernas. O quarto quadro da Figura 7 mostra a alternância da perna impulsionada para frente (ação) e o braço, do mesmo lado, impulsionado para trás (reação). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 54 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO Outras habilidades básicas são otimizadas com o uso do princípio de absorção de força, como, por exemplo, recepção da bola com as mãos (Figura 9). Figura 9. Outros usos do princípio de absorção de força. Observe: nos dois casos, as superfícies de contato, as mãos e os pés, são levadas na direção do objeto para recebê-lo – no caso, a bola –, seguida de retração dos braços e da perna receptora com conseqüente absorção da força da bola que chega. Além dos princípios de movimento é importante ressaltar a importância dos princípios de estabilidade. Estabilidade e equilíbrio são elementos distintos, mas essenciais para qualquer tipo de movimento ou habilidade motora, e dependem do posicionamento da base de apoio em relação ao seu centro de gravidade, conforme podemos observar na figura abaixo. Figura 10. Posicionamento da base de apoio na parada de mãos.Equilíbrio está relacionado à capacidade de um objeto ou uma pessoa em manter certa posição ou postura sobre uma base (HAYWOOD e GETCHELL, 2004). Centro de gravidade é o ponto onde se concentra a atração gravitacional da terra sobre um indivíduo (CARR,1977, in: HAYWOOD e GETCHELL, 2004). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 55 A quantidade de estabilidade em um movimento está relacionada à necessidade de mobilidade que ele exige. Por exemplo, as habilidades da ginástica artística na trave de equilíbrio, que exige uma mobilidade maior, são realizadas com uma estabilidade menor do que as do atleta que atua com levantamento de peso. Em todo tipo de habilidade existe a necessidade de o indivíduo manter-se em uma posição ou postura sobre uma base, ou seja, equilibrado. A estabilidade refere-se à capacidade de um indivíduo ou objeto de resistir ao movimento ou a perturbação. Para melhorar a estabilidade deve-se aumentar a base de apoio, abaixando-se o centro de gravidade e mantendo-o dentro da base de apoio (HAYWOOD e GETCHELL, 2004). Escolha uma habilidade motora e descreva como as leis do movimento e de estabilidade podem ser utilizadas para maximizar o desempenho dessa habilidade. Você deverá encaminhar esta tarefa para o tutor corrigi-la, atendendo às orientações enviadas por ele, quando solicitado. Uma outra forma de observar o progresso do desenvolvi- mento de habilidades motoras é utilizar instrumentos baseados em seqüências de desenvolvimento de habilidades motoras re- lacionadas à idade. Com base nessa visão, inúmeros estudos focalizados nas alterações qualitativas do movimento, realizados a partir dos anos de 1960, apontaram para o conceito de estágios de desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais no início da infância (GALLAHUE e OZMUN, 2005). Para receber instruções de como utilizar os princípios de movimento e estabilidade para detectar e corrigir erros, consulte as dicas de Carr (1977), in Haywood e Getchell, 2004, p. 115. Hora de praticar CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 56 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO No período dos 2 aos 6 anos de idade, as crianças possuem potencial para avançarem do estágio inicial até o estágio maduro das habilidades fundamentais, as quais formam a base para o desenvolvimento de habilidades especializadas. Dessa forma, surgiram inúmeros estágios com descrições seqüenciais de desenvolvimento de diferentes habilidades motoras fundamentais, como andar, correr, arremessar, entre outras. Com base nas pesquisas referenciadas em estágios, surgiram três métodos de classificação para avaliar o desenvolvimento de habilidades fundamentais (GALLAHUE e OZMUN, 2005): 1) pela configuração total do corpo (SEEFELDT e HAUBENSTRICKER, 1976); 2) pelos segmentos ou componentes corporais (ROBERTON, 1978), e 3) pela combinação de configuração total com análise segmentar (GALLAHUE e DONNELLY, 2008). A avaliação empírica por estágios de habilidades motoras fundamentais é muito usada e produz informações muito importantes sobre o processo de desenvolvimento motor. Na avaliação por estágios, porém, é preciso considerar o conceito de restrição que estudamos na Unidade 1, lembra-se? O estado de desenvolvimento da habilidade observada resulta da interação entre as restrições do ambiente, do indivíduo ou da tarefa (Figura 11). Figura 11. Interações no desenvolvimento motor (adaptado de GALLAHUE, 2005). CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANOCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 57 Assim, é possível entender as diferenças de desenvol- vimento: 1) entre crianças; 2) entre padrões; e 3) no padrão de movimento de uma mesma habilidade. Sobre as diferenças desenvolvimentais entre crianças, precisamos considerar que, embora a seqüência progressiva dos estágios inicial, elementar e maduro seja a mesma para a maioria delas, o ritmo varia conforme a interação de fatores hereditários e ambientais. A diferença entre padrões signifi ca que o desenvolvimento de diferentes habilidades fundamentais não acontece também de forma homogênea, ou seja, o indivíduo pode estar no estágio inicial do arremesso e no estágio maduro da corrida e no estágio elementar do salto. O desenvolvimento motor está relacionado à idade, mas não é dependente dela. A progressão para estágios mais avançados está vinculada às experiências individuais. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS 58 As diferenças de estágios intrínsecas ao padrão de uma determinada habilidade, como, por exemplo, no arremesso, podem ser observadas quando a criança encontra-se no estágio inicial na ação do braço, no estágio elementar na ação do tronco e no estágio maduro na ação das pernas dessa habilidade. Como vimos, na observação empírica de habilidades fundamentais, pela complexidade do fenômeno, verifi cam-se diferenças de estágios de desenvolvimento entre crianças, entre habilidades e até mesmo em uma mesma habilidade. Assim, os métodos de classifi cação referenciados foram desenvolvidos empiricamente, conforme as diferenças de desenvolvimento eram observadas. Uma forma prática e de fácil aplicação que possibilita a avaliação da maioria das habilidades motoras fundamentais é a que possibilita a observação de três estágios tanto pela confi guração do corpo como pela abordagem segmentária (GALLAHUE e OZMUN, 2005). Como já sabemos, o pleno desenvolvimento dessas habilidades forma a base para o desenvolvimento de habilidades mais complexas importantes aplicáveis no esporte, no lazer, na vida profi ssional e no dia-a-dia das pessoas. Hora de praticar Utilizando um instrumento de observação por estágios, que será disponibilizado em nosso ambiente de comunicação e aprendizagem, faça a avaliação empírica de habilidades motoras fundamentais e apresente o relatório dos resultados, conforme as orientações que lhe serão fornecidas pelos seus tutores presenciais e a distância. A avaliação empírica das habilidades motoras fundamentais é um procedimento que pode contribuir com uma atuação efetiva do professor, especialmente no planejamento das suas aulas. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO 59 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 2 I DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS As diferenças de estágios intrínsecas ao padrão de uma determinada habilidade, como, por exemplo, no arremesso, podem ser observadas quando a criança encontra-se no estágio inicial na ação do braço, no estágio elementar na ação do tronco e no estágio maduro na ação das pernas dessa habilidade. Como vimos, na observação empírica de habilidades fundamentais, pela complexidade do fenômeno, verifi cam-se diferenças de estágios de desenvolvimento entre crianças, entre habilidades e até mesmo em uma mesma habilidade. Assim, os métodos de classifi cação referenciados foram desenvolvidos empiricamente, conforme as diferenças de desenvolvimento eram observadas. Uma forma prática e de fácil aplicação que possibilita a avaliação da maioria das habilidades motoras fundamentais é a que possibilita a observação de três estágios tanto pela confi guração do corpo como pela abordagem segmentária (GALLAHUE e OZMUN, 2005). Como já sabemos, o pleno desenvolvimento dessas habilidades forma a base para o desenvolvimento de habilidades mais complexas importantes aplicáveis no esporte, no lazer, na vida profi ssional e no dia-a-diadas pessoas. A Educação Física en- quanto componente curri- cular obrigatório deve-se integrar à proposta pe- dagógica da escola com objetivos bem defi nidos, assim como ocorre com as demais disciplinas. No processo educacional, cabe à Educação Física ensinar as crianças a moverem- se e aprender, por meio do movimento. Assim, considerando a natureza inter-relacionada dos aspectos cognitivo, afetivo e motor, o professor deve se preocupar com o ensino–aprendizagem de habilidades motoras, de atividade física e de aptidão física, bem como com o aprendizado perceptivo-motor e afetivo social. Sobre o desenvolvimento de habilidades motoras, o professor deve se preocupar especialmente com as habilidades motoras fundamentais que formam a base para o desenvolvimento de habilidades específi cas e mais complexas. Para avaliar o progresso dos seus alunos nessas habilidades, o professor pode utilizar: 1) as leis do movimento e da estabilidade mais apropriadas para a avaliação do progresso individual; ou 2) a avaliação por estágios relacionados à faixa etária, que é uma norma aplicável à maioria dos indivíduos avaliados. O desenvolvimento de habilidades motoras é um fenômeno complexo infl uenciável por restrições impostas pelo indivíduo, pelo ambiente e pela tarefa capazes de criar diferenças de desenvolvimento entre crianças, entre habilidades e numa mesma habilidade. A escolha e o uso adequado de um método de avaliação ajudam o professor a planejar e a executar, com maior efi cácia, o seu programa de ensino. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 Crescimento Físico de Crianças e Adolescentes 61 O que é crescimento físico? E aptidão física? As curvas de crescimento (altura e peso) são indicadores que avaliam o progresso de um indivíduo? O cre scime nto fí sico a conte ce de form a nor mal e ord enada ? É ig ual pa ra tod as as crian ças? A maturação desenvolve-se de maneira integral e objetiva em cada organismo? Crianças diferentes desenvolvem-se fi sicamente a taxas ou ritmos diferentes? Programas de atividades físicas precisam levar em consideração o estágio atual de crescimento da cada criança em particular? CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 62 Professor, eis uma dica inicial... Faça mensurações antropométricas de seus alunos, para identificar em que fase do crescimento corporal encontram-se e para poder melhor acompanhá-los. A partir dessas informações, tome decisões na elaboração de seu programa de aulas. Agindo dessa forma, você poderá visualizar em que estágio os alunos encontram-se agora e aonde poderão chegar. Devemos partir da compreensão dos princípios que norteiam o ciclo da vida e suas etapas, levando-se em consideração que se trata de um processo lento e contínuo, devendo ser mais perceptivo nas orientações às crianças e aos adolescentes visando à melhoria da saúde e do condicionamento físico. As mudanças e as modificações que ocorrem no corpo de seus alunos devem orientar quais atividades serão mais adequadas às características do grupo de alunos. Veja quantos assuntos importantes veremos nesta unidade, em que abordaremos, sinteticamente, os conceitos de crescimento físico e de aptidão física de crianças e adolescentes, com a utilização de quadros para avaliar e acompanhar as transformações corporais. Analisaremos os fenômenos biológicos que se desenvolvem no período dos 2 (dois) aos 20 (vinte) anos de idade. OBJETIVOS Após finalizar esta unidade, você será capaz de: ■ analisar o processo de crescimento físico em crianças e adolescentes; ■ descrever os conceitos básicos do crescimento físico, como crescimento em estatura, peso e maturação; ■ calcular o IMC, a partir da realização das medidas de altura e peso; ■ considerando o IMC calculado, localizar a posição de seu aluno no percentil da curva normal de crescimento físico; ■ interpretar os gráficos de curva normal do crescimento físico; ■ comentar a influência da capacidade física no desenvolvimento motor. Avante! CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 63 3.1 O que é o Crescimento Físico? O crescimento físico refere-se a um processo biológico de aumento quantitativo do tamanho físico, ou seja, um aumento da massa corporal total no sentido longitudinal e transversal. A medida do crescimento é feita por meio da verifi cação das alterações de peso, altura, perímetros e diâmetros e dobras cutâneas. As transformações físicas de crescimento ocorrem desde a concepção até os 20 anos de idade, de maneira geral (idade cronológica). Segundo Malina, Bouchard e Bar-Or (2009), as alterações no tamanho corporal são o resultado de três processos celulares: hiperplasia (aumento do número de células), hipertrofi a (aumento do tamanho das células) e agregação (aumento da substância intracelular). Durante todo o período de crescimento, sofremos infl uências do meio em que vivemos, sob os mais variados aspectos, como os fatores socioeconômicos, psicossociais e familiares; principalmente da alimentação e das atividades físicas desenvolvidas nesse período. No período da infância, o desenvolvimento é marcado por alterações estáveis e progressivas das áreas cognitiva, afetiva e motora (GALLAHUE e DONELLY, 2008). Em outras palavras, o crescimento refere-se a mudanças quantitativas (aumento da estrutura), enquanto que o desenvolvimento refere-se a mudanças qualitativas (melhoria nas funções). A adolescência é considerada uma fase de transição gradual da infância para a idade adulta e representa um dos períodos mais importantes do ciclo de vida do ser humano, Esta melhoria depende dos estímulos que o indivíduo recebe do ambiente e das suas experiências. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 64 pois é quando o crescimento e o desenvolvimento do indivíduo se completam, culminando com a completa capacidade de reprodução (NACIF e VIEBIG, 2008). Acontece que o crescimento ocorre paralelamente ao desenvolvimento, sem que a velocidade, obrigatoriamente, seja a mesma, para ambos, pois são dependentes da carga genética recebida, pelo indivíduo, de seus pais. Tais mudanças ocorrem automaticamente, sem a necessidade de experiência; por isso, pode haver crescimento sem desenvolvimento, visto que o desenvolvimento depende de experiências. Para Gallahue (2005), experiência refere-se a fatores que, no meio ambiente, podem alterar ou modificar o aparecimento de várias características do desenvolvimento mediante o processo de aprendizagem. Conseqüentemente, se a aprendizagem for considerada um processo que advém da prática e do esforço de cada indivíduo, e se a maturação for considerada o desabrochar das aptidões potencialmente presentes nesses mesmos indivíduos, devemos admitir a existência de uma interação bastante íntima entre maturação e aprendizagem. Isso porque, por meio da aprendizagem, os indivíduos deverão adquirir capacidades para utilizar suas aptidões potenciais (in GUEDES e GUEDES, 1997). Nesse período, ocorre o fenômeno conhecido como puberdade, em que uma série de modificações biológicas e fisiológicas, entre elas o estirão de crescimento (aceleração e desaceleração do crescimento do esqueleto e dos órgãos), o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e as alterações na composição corporal, principalmente na distribuição de gordura e massa muscular. A puberdade também altera o estado emocional dos adolescentes e, ainda, o comportamento, particularmente em relação ao desejo sexual. Dessa forma, as mensuraçõesCRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 65 corporais e os índices antropométricos tornam-se um poderoso auxiliar do professor de Educação Física – lembra-se da nossa dica inicial? As medidas adequadas a serem tomadas para avaliação do crescimento devem ser específi cas para cada fase do ciclo da vida. As medidas recomendadas para a avaliação do crescimento físico e o acompanhamento durante o crescimento estão especifi cadas na Tabela 1 abaixo. Essas variáveis permitem monitorar, comparar, verifi car normalidade e proporcionalidade, além de outros dados referenciais de crianças saudáveis por faixa etária e gênero. Tabela 1. Medidas antropométricas recomendadas para o acompanhamento do crescimento físico (GUEDES e GUEDES, 2006). Agora, faça uma experiência... As técnicas padronizadas da coleta de dados foram apresentadas na disciplina Medidas e Avaliação em Educação Física. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 66 Elabore um projeto de pesquisa de acompanhamento das transformações antropométricas. Pense em um período de tempo (seis meses ou um ano), observando as mudanças de algumas variáveis (Tabela 1) escolhidas por você. Selecione um grupo de alunos de mesma faixa etária e sexo, faça uma coleta de dados iniciais e, após o período, retorne às medições. Analise as transformações individuais de cada aluno. Desta pesquisa, certamente serão obtidos dados interessantes sobre a dinâmica das transformações corporais. 3.2 Das Razões, Proporções e Índices Sozinhos os valores das medidas não disponibilizam informações precisas, porém, quando essas medidas são relacionadas umas às outras, proporcionam índices ou razões que facilitam a compreensão dos fenômenos biológicos. Há muito tempo, a razão entre o peso e a altura é utilizada em estudos de crescimento e composição corporal, para a tomada de decisão sobre os aspectos nutricionais. Por exemplo, quando o indivíduo tem peso elevado e baixa altura, isso indica risco de sobrepeso e obesidade. Orientação alimentar e atividades físicas específicas deverão ser propostas para que a pessoa torne-se saudável. Dois são os índices que usam essas medidas: 1) IMC (o mais conhecido deles), idealizado por Quetelet – o peso é dividido pela altura ao quadrado; 2) Índice Ponderal Recíproco – obtido pelo cálculo da altura dividido pela raiz cúbica do peso. Veja que razões ou índices são informações específicas obtidas de medidas isoladas e que, quando relacionadas umas às outras, nos fornecem informações sobre a forma e as proporções corporais. Vejamos, a seguir, alguns índices e razões mais utilizados nos estudos do crescimento físico. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 67 Teoricamente, podemos fazer qualquer relação entre as medidas antropométricas e, a partir de uma pesquisa, propor novos índices ou razões. 3.3 Considerações sobre as Fases dos Ciclos da Vida O Ministério da Saúde divide o ciclo da vida com as seguintes denominações para as diversas idades: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 68 Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência compreende o período entre os 10 e os 20 anos de idade. A adolescência pode ser dividida em duas fases: 1ª) entre 10 e 14 anos, dando início às mudanças puberais; 2ª) é compreendida entre 15 e 20 anos, quando há o término do crescimento e do desenvolvimento morfológico. Enquanto a adolescência refere-se ao conjunto de mudanças, a puberdade refere-se exclusivamente às mudanças de caráter biológico que ocorrem durante os anos da adolescência. A puberdade apresenta três classifi cações, por faixas etárias: 1) pré-púbere (entre 10 e 13 anos de idade); 2) púbere (entre 13 e 16 anos de idade; e 3) pós-púbere (entre 16 e 20 anos de idade). Todas são dependentes da avaliação do processo da maturação sexual. Embora esse referencial estabeleça tempos defi nidos de transição de um estágio para outro, existe um desencontro entre a idade cronológica e a idade biológica. Jovens crescem a ritmos e a momentos distintos. Todos os indivíduos atingem seu potencial de crescimento individual na sua hora apropriada. Na literatura, encontramos diversas nomenclaturas delimitando os diferentes períodos da vida, com divisões e subdivisões por faixa etária, cada uma com sua própria denominação. A puberdade é um período de transição do desenvolvimento humano correspondente à passagem da fase da infância para a adolescência, circunstanciada por transformações biológicas de âmbito comportamental e corpóreo, conferido pelo surgimento dos caracteres sexuais secundários diferenciados de acordo com o gênero. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 69 Os critérios para a avaliação da maturação sexual estão defi nidos por meio (fi guras) dos estágios ou descritos na observação do desenvolvimento da genitália e dos pêlos pubianos para o sexo masculino e das mamas e dos pêlos pubianos para o sexo feminino, proposto por Tanner, em 1962 (NACIF e VIEBIG, 2007). No organismo masculino, tais variações da maturação geralmente ocorrem entre a faixa etária dos 12 aos 14 anos de idade e, para o biótipo feminino, esse marco caracteriza-se a partir da menarca, conferindo maturidade por volta dos 10 aos 13 anos de idade. A menarca é o evento básico da puberdade feminina, mas não marca a maturidade reprodutiva, que pode demorar até dois anos. Desde o desenvolvimento intra-uterino, os processos de crescimento e maturação têm seus mecanismos desencadeados, nos aspectos quantitativos e qualitativos. A maturação nos seres humanos ocorre numa seqüência de eventos que se apresentam em ritmos diferentes (normal, precoce ou tardio). Assim, o crescimento e a maturação seriam responsáveis pelo “amadurecimento” do indivíduo, da concepção ao estado adulto/ maduro, em um período aproximado de 20 anos. Nesses anos de transformações, o tecido adiposo varia em número e tamanho das células, durante o desenvolvimento do jovem. Não existe uma precisão em relação ao momento que isso ocorre, porém, a formação deste tecido é acentuada em dois intervalos (do nascimento até os dois anos e, depois, durante a puberdade). O importante é que o jovem tenha, durante seu desenvolvimento, uma adequada alimentação, associada à prática de atividades físicas programadas, para que não se torne um adulto obeso e sedentário. Uma questão... Por que os jovens que crescem mais tarde tendem a alcançar, e mesmo ultrapassar, aqueles que cresceram mais cedo? A menarca refere- se ao primeiro período menstrual, e a idade em que ela ocorre é o indicador de maturidade da adolescência feminina. Uma questão... CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO UNIDADE 3 I CRESCIMENTO FÍSICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 70 3.4 Percentual de Gordura para Crianças e Adolescentes Apresentamos as figuras ou nomogramas abaixo para uma avaliação da estimativa do percentual de gordura corporal de crianças e adolescentes de 8 a 17 anos de idade, elaborados por Lohman, em 1987, sobre as equações preditivas propostas por Slaughter et al. publicadas em 1988. Tais equações utilizam a somatória de duas dobras cutâneas (tríceps + subescapular ou tríceps + panturrilha) para predizer o percentual de gordura (%GC). Veja um exemplo: uma adolescente de 12 anos de idade, com o somatório das dobras cutâneas (tríceps + subescapular) igual a 25 mm, estaria com o percentual de gordura estimada
Compartilhar