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ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

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ATENDIMENTO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL – SERVIÇO SOCIAL Maria Cristina Dias de Lima Rafaela Carla Graczyk O Serviço Social da Maternidade realiza atendimento às pessoas vítimas de violência sexual das 07:00 horas às 19:00 horas, de segunda a sexta-feira. Os atendimentos das 19:00 horas às 07:00 horas, finais de semana e feriados serão feitos pelo profissional que estiver de plantão, sem prejuízo do fluxo estabelecido neste protocolo. 3.1 Princípios gerais do atendimento O Serviço Social é acionado por profissional que realizou o acolhimento, antes ou depois do exame pericial, avaliando-se otimizar o tempo de espera para a pessoa atendida. O profissional Assistente Social deverá apropriar-se previamente das informações sobre o ocorrido, através do repasse de outro profissional ou através da FICHA DE NOTIFICAÇÃO INDIVIDUAL – VIOLÊNCIA INTERPESSOAL/AUTO PROVOCADA1 , preenchida no momento do acolhimento inicial, evitando desta forma que a pessoa atendida necessite repetir a história da violência sofrida, salvo quando esta desejar relatar novamente (Anexo 1). Acolher a história da vítima sem levantar questionamentos ou demonstrar qualquer forma de preconceito, praticando a escuta qualitativa: “a capacidade de escuta, sem pré julgamentos e imposição de valores, a aptidão para lidar com conflitos, a valorização das queixas e a identificação das necessidades são pontos básicos do acolhimento que poderão incentivar as vítimas a falarem de seus sentimentos e necessidades2 . Identificar se há rede de apoio familiar. 46 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social “Promover o acolhimento e fornecer as informações deve ser uma prática de todos os profissionais da equipe multiprofissional e devem estar presentes de forma transversal durante todo o contato com a mulher. Mais do que um dos passos do atendimento, o acolhimento é uma prática educativa que deverá refletir a qualidade da relação profissional de saúde/ usuária na perspectiva de construção de um novo modelo de atendimento. Para isso, os profissionais deverão estar devidamente sensibilizados e capacitados para incorporar o acolhimento e a orientação como uma prática cotidiana da assistência” 3 . Identificam-se alguns elementos para as devidas orientações e encaminhamentos como: Realização de Boletim de Ocorrência: mesmo não sendo obrigatório é colocada a importância do referido documento. Se trabalhador com vínculo previdenciário: identificar se a violência ocorreu no trabalho ou a caminho deste, fazendo-se necessário a abertura do CAT - Comunicado de Acidente de Trabalho, instrumento de proteção ao trabalhador4 . Apesar de não gerar benefício imediato ou financeiro, garante o registro do ocorrido, fundamental para a seqüência da vida laboral, a qual pode ficar comprometida devido às conseqüências da violência sofrida. Não é necessário o trabalhador em questão ter sido afastado do trabalho para emissão do CAT. Este pode ser preenchido por entidade sindical, pelo próprio acidentado ou seus familiares e pelo médico que assistiu o usuário quando do evento ocorrido. Se violência doméstica: orientações a respeito da Lei Maria da Penha5. . Se menor de 18 anos desacompanhado: identifica-se o responsável que será acionado; não sendo possível, aciona-se o Conselho Tutelar de referência do endereço do adolescente. Observar outras demandas trazidas que possuam ou não ter relação direta com a violência sexual sofrida, buscando orientar e fazer o devido encaminhamento. 47 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social 3.2. Considerações importantes Algumas questões de saúde são reforçadas mesmo já tendo sido realizadas por outros profissionais, porém, considerando os aspectos emocionais no momento do atendimento, a pessoa atendida pode apresentar dificuldades em entende-las. São elas: Retorno nas consultas de Psicologia e Infectologia. Adesão à medicação e retorno ao pronto atendimento se qualquer intercorrência. Uso de preservativo nas relações sexuais até que se obtenha alta da infectologia. Procura pelo Pronto Atendimento Ginecológico em caso de suspeita de gestação oriunda da violência sofrida. 3.3. Encaminhamento da Ficha de notificação Individual – Violência Interpessoal/autoprovocada. A ficha de Notificação Compulsória de violência contra a mulher, foi instituída através da Portaria n 2.406, de 5 de novembro de 20046 . Finalizados os atendimentos, a equipe do Serviço Social da Maternidade encaminha as Notificações preenchidas para os órgãos responsáveis, para as medidas cabíveis, de acordo com o seguinte fluxo: Fichas já separadas na secretaria da Maternidade, de onde são retiradas pelo Serviço Social. Primeiramente as Notificações Obrigatórias são revisadas observando se estão preenchidos todos os campos. Caso não estejam preenchidos adequadamente, retornam ao profissional que realizou a notificação para correção, através do Departamento de Tocoginecologia. 48 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social Estando devidamente preenchida, é digitalizada e encaminhada conforme a situação: Conselho Tutelar de referência distrital, no caso de Curitiba, ou demais municípios, conforme endereço da vítima que tenha entre 12 e 18 anos. Delegacia da Mulher caso o campo de DECISÃO COMPARTILHADA esteja devidamente preenchido e assinado autorizando o envio pela mulher atendida. No caso de homens que sofreram violência sexual, serão encaminhadas para a Delegacia de referência do local da ocorrência. Após encaminhamento das Notificações Obrigatórias para os referidos órgãos, arquiva-se a 3ª via no prontuário, realizando as devidas evoluções neste documento. As demais vias – 1ª e 2ª - serão encaminhadas ao Serviço de Epidemiologia do Hospital de Clínicas, responsável pela tabulação dos dados no SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Registram-se em livro próprio do Serviço Social todas as notificações com numeração específica e em Livro de Protocolo quando encaminhadas ao Serviço de Epidemiologia. 3.4. Abortamento legal, humanitário ou sentimental Dentro do programa de atendimento à vítima de violência sexual está previsto, conforme Norma técnica de prevenção e tratamento dos agravos resultantes de violência sexual contra as mulheres e adolescentes, o abortamento legal. Nestes casos a legislação brasileira através do Código Penal artigo 128, prevê o direito a mulher de interromper a gestação7 : “II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.” 49 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social Apesar de a legislação prever tal direito desde 1940, as mulheres que procuram por este tipo de atendimento podem sofrer grandes constrangimentos. “... o (a) profissional de saúde deve atuar com imparcialidade, evitando que aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher”3 . 3.4.1 Atendimento do serviço social Acolher história da paciente, valorizando a escuta qualificada, sem julgamentos morais. Informar sobre o protocolo e idade gestacional limite para abortamento legal. Informar quanto aos trâmites da solicitação sujeita a avaliação de equipe multiprofissional. Apresentar à paciente as possibilidades existentes para além do abortamento legal, que são: levar a gestação adiante e permanecer com o bebê ou deixá-lo para adoção, conforme trâmite legal, via Hospital de Clínicas. Agendar consulta prioritária no Ambulatório de Psicologia, devido à agilidade que requer o caso. Assegurar a possibilidade de mudar de opinião a qualquer momento durante os trâmites da solicitação. Caso a opção seja por levar a gestação adiante, a mulher é incluída no Serviço de Pré-Natal da Maternidade do Hospital de Clínicas. Durante o pré natal, o Serviço Social se coloca à disposição para atendimento, conforme a necessidade da gestante. Sendo a opção deixar o recém nascido para adoção, é encaminhada para a Vara da Infância e Juventude a seguinte documentação:Termo de Desistência, Relatório Social, Ficha Clínica do Recém Nascido, cópia de 50 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social documento pessoal da genitora e certidão de nascimento, que é realizada junto ao Cartório que atua no Alojamento Conjunto. Se for o desejo da genitora, o recém-nascido é encaminhado para a UTI Neonatal, onde aguardará profissional designado pela Vara da Infância e Juventude responsável pelo acolhimento institucional enquanto acontecem os trâmites legais para adoção, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente8 . No momento de retirada do recém-nascido da instituição hospitalar, é preenchido o Documento de Retirada de Paciente, com a identificação do profissional designado para tanto, em duas vias, sendo uma arquivada no Serviço Social e outra no prontuário do recém-nascido. 3.4.2 Documentação solicitada Exame de ultrassonografia, realizado na Maternidade do Hospital de Clínicas. Relato de próprio punho da mulher sobre o ocorrido e seu desejo de interromper a gestação. Se menor de 18 anos, é imprescindível a presença de responsável legal durante todo o trâmite. 3.4.3 Avaliação da equipe multiprofissional Após todos os atendimentos e documentação devidamente providenciada, o caso é discutido entre os profissionais da equipe, sendo autorizado ou não a realização do procedimento. Se a situação tiver qualquer especificidade que necessite de uma avaliação ampliada, inclusive com profissionais de outras áreas, assim se procederá. 51 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social Em caso de negativa do procedimento, o Serviço Social encaminha a mulher para atendimento multiprofissional, onde o médico irá explicitar as razões para não aceitação. Em caso de autorização do procedimento, o Serviço Social comunica a mulher e solicita que ela compareça, acompanhada de uma testemunha, para assinar a documentação, que será previamente preenchida. Encaminha-se o prontuário para o Departamento de Tocoginecologia, onde serão realizados os documentos oficiais que irão compor o prontuário da paciente, que são o termo de consentimento livre e esclarecido e o termo de aprovação do procedimento de interrupção de gravidez. Pronta a documentação, os profissionais de referência assinam e, posteriormente, também mulher e a testemunha. Após esta etapa, a mulher é encaminhada ao Serviço de Enfermagem que acompanhará o internamento. 52 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social 3.5 Anexo 1: Ficha de Notificação Individual 53 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social 54 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social 3.6 REFERÊNCIAS 1) Brasil. Lei nº 10.778 de 24 de novembro de 2003. Estabelece a notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 nov. 2003. Seção 1, p.11. Disponível em . Acesso em 30 jan. 2016. 2) Brasil. Ministério da Saúde. Ministério de Justiça. Secretaria de Políticas para Mulheres. Norma Técnica Atenção Humanizada às Pessoas em Situação de Violência Sexual com Registro de Informações e Coleta de Vestígios. Brasília, DF, 2015. 3) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Atenção Humanizada ao Abortamento: Norma Técnica. Brasília, DF, 2005. Disponível em: . Acesso em 23 fev.2016. 4) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Prevenção e Tratamento dos Agravos resultantes de Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes: Norma Técnica. 3ª ed, Brasília, DF, 2012. 5) Brasil. Lei Nº 11.340 de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 08 ago. 2006. Seção 1, p.1. Disponível em . Acesso em 20 jan. 2016. 6) Brasil. Ministério da Saúde. Portaria_ 2.406 de 5 de novembro de 2004 institui serviço de notificação compulsória de violência contra mulher, e aprova instrumento e fluxo para notificação. Disponível em Acesso em 10 fev. 2016 55 Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual – Serviço Social 7) Brasil. Lei Nº 12.015 de 07 de agosto de 2009. Altera o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 ago 2009, p.1. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2015. 8) Brasil. Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 ago. 1990. Disponível em: Acesso em 10 fev. 2016.

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