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gn106_Acidentes_naturais_cuidado_terremoto

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Unidade II 
 Geosfera: as esferas sólidas do planeta 
ACIDENTES NATURAIS: CUIDADO, TERREMOTO!!! 
Terremotos estão entre os mais perigosos acidentes naturais. Em todo o mundo causam o maior 
número de vítimas fatais e seus prejuízos materiais são imensos. Neste roteiro você terá a oportunidade de 
compreender aspectos essenciais relativos a causas e relações entre terremotos e outros movimentos gerais 
da litosfera. É interessante ponderar que a região onde nasceram o Judaísmo e o Cristanianismo e que é 
local importante para o Islamismo é uma área de falhas ativas. Os líderes religiosos precisaram explicar a seus 
fiéis porque suas casas de pedra e argila eram destruídas. Não é difícil imaginar que esses desastres fossem 
interpretados como resultado direto da mão de Deus. Em outros locais do mundo, muito distantes da 
África, eventos que hoje consideramos relacionados ocorreram durante a longa história da Terra: hoje nas 
regiões de vulcanismo intenso, os terremotos constituem termômetros dos movimentos do magma. Este tema 
inicia as atividades relacionadas ao entendimento da teoria da Tectônica de Placas e visa estreitar os nexos 
dos estudos de processos naturais e sociais. Se durante a leitura você tiver alguma dúvida anote-a e, depois, 
recorra a um monitor ou professor da disciplina para esclarecimento. 
Objetivos do tema 
Após realizar as atividades propostas você deve estar apto a: 
1. Reconhecer padrões de terremotos e vulcões. 
2. Reconhecer aspectos essenciais das escalas de terremotos (efeitos observáveis X magnitude). 
3. Estabelecer relações entre terremotos, vulcões e limites de placas litosféricas. 
4. Reconhecer certas conexões entre fenômenos vulcânicos, erosivos e deposicionais. 
Cuidado, terremoto!!! 
O inverno é frio nas montanhas do Cáucaso (Fig. 1). Na quarta-feira, 7 de dezembro de 1988, as 
temperaturas estavam congelantes. As 700.000 pessoas que viviam em um raio de 50 km em torno de Spitak, 
Armênia, estavam no trabalho ou nas escolas. Nessa época, existiam mais de 100.000 refugiados das batalhas 
com Azerbaijão, muitos deles mal abrigados. Todos viveram uma dramática mudança: às 11h 41min começou 
um tremor de pouco mais de 30 s gerado por movimentos em falha (terremoto de magnitude Richter: 6.910). 
Às 11h 45min um novo terremoto (magnitude 5.9) aumentou a devastação e o desespero. Nesses cerca de 5 
min, 25.000 pessoas foram mortas, mais de 31.000 seriametne feridas. Os estragos atingiram as construções e 
mais de 500.000 pessoas ficaram desabrigadas, 83 escolas foram total ou parcialmente destruídas e em 88 
parques infantis as crianças precisavam de cuidados médicos. O mesmo terremoto arruinou 84 hospitais, matou 
ou feriu 80% dos médicos e enfermeiros. 
O que causou esse tremor fatídico? 
A Arábia está se movendo para a Eurásia a uma taxa média de 5 cm por ano (Figura 2). Esta colisão 
continental causa o levantamento do cinturão de montanhas que se distribui do sudeste da Europa até a Ásia 
(dos Alpes ao Himalaia). O terremoto ocorreu na falha de Spitak no planalto caucasiano, 80 km a sul das 
Montanhas do Cáucaso (Figura 3). A ruptura da falha e o movimento tomaram lugar aparentemente como três 
subeventos separados ao longo de 40 km em uma zona que começa a 10 km de profundidade. A superfície da 
terra se elevou 2 m na vertical devido a uma falha inversa com componente destral. O resultado foi um 
levantamento de parte da Armênia em relação à placa da Arábia. 
Por que tantas pessoas morreram nesse terremoto da Armênia? A magnitude de 6.9 no terremoto 
principal e 5.9 naquele do segundo choque mataram mais de 25.000 dos 700.000 moradores em um raio de 50 
km do epicentro. No terremoto de Loma Prieta (sul de São Francisco), ocorrido 10 meses mais tarde, 
morreram menos de 25 das 1,5 milhão de pessoas que viviam em um raio de cerca de 60 km em torno do 
epicentro. Por que o terremoto da California, cerca de 2 vezes mais poderoso do que o da Armênia, matou 
menos de 0,1 % das vítimas? Isso nos conduz a duvidar que os terremotos sejam assassinos e revela que a 
causa primária das vítimas é a queda das moradias (Abbott, 1996, p. 83-84). 
 
 
10 Veja o quadro explicativo sobre a Escala Richter. Compare esta escala de magnitude com a elaborada por Mercali explicada em outro 
quadro. 
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MANUAL DE LABORATÓRIO DE CIÊNCIA DO SISTEMA TERRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Relevo do nordeste da 
África e Arábia. 
Figura 2. Epicentros, ou focos na superfície, 
de terremotos no nordeste da África, Arábia 
e sudeste da Eurásia. Estrelas indicam 
tremores maiores na Armênia, Iran e 
Georgia. Setas indicam movimentos relativos 
das placas. 
Figura 3. Diagrama 3D 
do movimento de falha 
que causou o terremoto 
na Armênia, em 1988. 
Plano da falha de Spitak: 
N 68o W, 55 NE. 
Note as escalas 
horizontal e vertical. 
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Unidade II 
 Geosfera: as esferas sólidas do planeta 
Terremotos e a queda de construções 
Examine cuidadosamente a Tabela 2. Considere que nela acham-se indicadas três cidades atingidas pelo 
terremoto armênio de 1988, em um raio de 60 km em torno do epicentro. Spitak tinha uma população de 
30.000 habitantes, Kirovokan tinha 150.000 e Leninakan 280.000. 
Estabeleça relações entre a resistência de cada tipo de construção ao tremor de terra e distância do 
epicentro. 
Note que 95% das casas de estrutura pré-fabricada de Leninakan foram avariadas e o mesmo tipo 
construtivo não foi avariado em Kirovakan. Por que houve tal diferença? (Indique ao menos 3 fatores que 
poderiam explicar tal fenômeno). 
 
Tabela 2. Danos às construções residenciais atingidas pelo terremoto de 1988 (Armênia) 
comparados com tipos de residência (Valores porcentuais aproximados seguidos de 
números absolutos das casas avariadas) 
Cidade Distância do 
Epicentro 
Paredes pré-
fabricadas 
Estrutura pré-
fabricada 
Estrutura de 
pedra 
Pedra 
Spitak 5 km 0% 1 - - 88% 9 88% 25 
Kirovakan 25 km 0% 4 0% 108 23% 571 41% 244 
Leninakan 35 km 0% 16 95% 133 62% 229 38% 498 
As construções de Kirovakan são baixas (em sua maioria até 5 andares) mas mais importante do que isso 
é sua fundação sobre um material rochoso extremamente firme. Leninakan tinha construções mais altas 
situadas em uma área alinhada (com cerca de 4 km de extensão e prédios com 9 a 12 andarees) sobre 
sedimentos. Durante o terremoto, as ondas sísmicas com período de 1 a 2,5 s tiveram seu período aumentado 
na área desses sedimentos, o que resultou em um tremor 3 vezes mais longo e deslocamentos (amplitude da 
onda) 8 vezes maiores do que em Kirovakan. 
Mas por que as construções cairam? 
Os prédios de estrutura pré-fabricada foram feitos de colunas, vigas e lajes preparados para área de risco 
a terremoto. As vigas e colunas foram montadas em encaixes metálicos e sobre eles foram apoiadas as lajes. 
Estas últimas foram deixadas sem solda sobre as vigas e as paredes simplesmente preencheram as estruturas. 
O desastre dessas construções se deve certos fatores importantes como o colapso das conexões de aço 
que ligavam colunas e vigas, que não resistiram ao tremor e perderam flexibilidade. Durante o terremoto, as 
conexões metálicas deformaram e deixaram soltas vigas e colunas. As lajes ficaram, portanto, sem apoio e 
ruíram. Algumas lajes de nono andar (ou ainda mais altos) funcionaram como prensas; os moradores dessas 
construções foram esmagados entre os andares (o que resultou em elevado número de mortos). 
As construções de paredes pré-fabricadas tinham vigas, colunas e lajes atadas por uma variedade de 
conexões de aço e nenhuma delas entrou em colapso (Abbott, 1996, p. 85-86). 
Monte Del Ruiz: um caso de morte anunciada 
Monte Del Ruiz é uma localidade fria que se eleva a 5400 m de altitude na Colômbia. O topo de 19 km2 
é coberto por uma capa de gelode 10 a 30 m de espessura (compreendendo cerca de 337 milhões de m3). Em 
novembro de 1984, o vulcão acordou com uma atividade pequena. 
10 de novembro, 1985, terremotos harmônicos contínuos alertavam sobre uma grande erupção. Às 21h 
37min se elevou uma coluna de lava; materiais piroclásticos quentes foram depositados sobre a camada de 
gelo produzindo sua fusão. Às 22h, vapor vulcânico condensado, gelo derretido e materiais piroclásticos se 
combinaram para formar um escorregamento que atingiu o este de Chinchina, destruindo residências e 
matando 1800 pessoas. 
A erupção, após isso, aumentou e derreteu mais gelo. O fluxo pelos cânions de oeste mobilizaram 
depósitos sedimentares aluvionares no sopé da montanha e atingiram o vale do Rio Magdalena. Às 23h a 
primeira onda (corrida de massa) atingiu a cidade de Armero. As corridas tinham viajado 45 km montanha 
abaixo, desnível de cerca de 5000 m, portanto a corrida se deslocou à velocidade média de 45 km/h). Em 
poucos minutos, sucessivas ondas de sedimentos fluidificados enterraram Armero e seus 22.000 habitantes sob 
8 m de espessura de lama. 
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MANUAL DE LABORATÓRIO DE CIÊNCIA DO SISTEMA TERRA 
 
Novembro de 1985 foi uma repetição de fevereiro de 1845 
Os mesmos locais foram enterrados pelos mesmos tipos de eventos. Em 1845, mais de mil mortes 
ocorreram mas, no período, a população da Colômbia aumentou e em 1985 foram mais de 24000 mortos. Ver 
Figura 4 (Abbott, 1996, p. 184-185). 
Referências Bibliográficas 
ABBOTT, P.L. Natural disasters. Dubuque (USA): Wm. C. Brown, 1996. 438p. 
BOLT, B.A. Earth and volcanoes. Scientific American, Readings from. San Francisco, 1980. 154p. 
Sugestões para Aprofundamento 
Aftershocks Are Not Afterthoughts. URL: http://geology.about.com/library/weekly/aa011898.htm 
BROWN, G.C., MUSSETT, A.E. The inaccessible earth. London: Unwin Hyman LTD, 1981. 236p. 
CLARK, S.P. Estrutura da terra. São Paulo: Blücher/EDUSP, 1973. (Série Textos Básicos de Geociência) 
Do Bombs Cause Earthquakes? URL: http://geology.about.com/library/weekly/aa033102a.htm 
CUTTER, S.L.; RENWICK, H.L.; RENWICK, W.H. Explotation conservation preservation: a geographic perspective on 
natural resource use. New York: John Wiley & Sons, 1985. 455p. 
FOWLER, C.M.R. The solid earth : an introduction. Cambridge: Cambridge Univ., 1990. 472p. 
KNAPP, B.J.; ROSS, S.R.J. & CRAE, D.L.R.Mc. Challenge of the Natural Environment. Essex: Longman, 1991. 272p. 
 
 
Legenda: Terremotos na costa leste? Impossível. Eles não podem acontecer aqui – Eles jamais aconteceram aqui! 
http://www.state.nj.us/dep/njgs/enviroed/cartoon.gif 
Figura 4. Monte 
Del Ruiz. Erupção 
vulcânica seguida 
de derretimento de 
geleira e corrida de 
lama.

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