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As relações sociais advindo da guerra em Esparta

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LUCAS LUIZ OLIVEIRA PEREIRA
AS RELAÇÕES SOCIAIS DECORRENTES DA GUERRA EM ESPARTA
PATOS DE MINAS
2016
LUCAS LUIZ OLIVEIRA PEREIRA
AS RELAÇÕES SOCIAIS DECORRENTES DA GUERRA EM ESPARTA
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à disciplina “Projeto Integrador VI”, no Curso de História do Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM), como requisito total de avaliação na referida disciplina, sob orientação do Prof. Me. Marcos Antônio Caixeta Rassi.
PATOS DE MINAS
2016
RESUMO
Resumo A pólis grega de Esparta é o objeto de pesquisa, está cidade-Estado ficou conhecida pela mídia como uma sociedade guerreira. Através de análise bibliográfica, pretende-se neste trabalho desvendar como a guerra influenciava no Estado espartano. Nesta cidade-Estado, desde o nascimento, todos os cidadãos teriam de se preparar fisicamente com o objetivo de criar os melhores soldados. A mulher também tem o seu papel diferente do que teria em outras cidades-estados, já que elas “carregavam o futuro” de Esparta. Além da preparação do corpo, é necessário a existência de táticas de batalhas eficazes. Durante o período clássico, a tecnologia mais eficiente foi a Falange Hoplita. Os resultados do sucesso de Esparta ficaram visíveis pelas suas vitórias na região do Peloponeso. As conquistas militares possibilitaram a captura de escravos utilizados pelo Estado, os Hilotas. Posteriormente ao seu enfraquecimento após a Guerra do Peloponeso Esparta é derrotada. A partir daí a Macedônia conquista a região da Grécia Antiga através de uma nova falange criada por Felipe II e concretizada a vitória através de uma forte diplomacia. Após esta unificação da Grécia, a Macedônia se lança sobre o antigo inimigo em comum, o Império Persa, com a liderança do rei Alexandre, o Grande. 
Palavras-chave: Esparta, Guerra na Grécia Antiga, Hilotas, Alexandre, o Grande
Abstract: The Greek pólis of Sparta is the object of research, is the media as a warrior society knew city-state. Through literature review, it is intended in this paper to discover how the war influenced the Spartan state. In this city-state, from birth all citizens would have to physically prepare in order to create the best soldiers. The woman also has its different role than it would in other city-states, as they "carried the future" of Sparta. In the body preparation, the existence of effective tactical battles is required. During the classical period, the most efficient technology was the Falange Hoplita. The results of the success of Sparta were visible for his victories in the Peloponnesus region. Military conquests allowed the capture of slaves used by the State, the Hilotas. Subsequent to its weakening after the Peloponnesian War Sparta is defeated. Thereafter Macedonia conquer the region of ancient Greece through a new phalanx created by Felipe II and achieved victory through strong diplomacy. After this unification of Greece, Macedonia pounces on the old common enemy, the Persian Empire, with the leadership of King Alexander the Great.
Keywords: Sparta, War in Ancient Greece, Hilotas, Alexandre, the Great 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................05
A GUERRA DURANTE O PERÍODO HISTÓRICO DA GRÉCIA ANTIGA.........................................................................................................................07
ESPARTA...........................................................................................................10
3.1 PERIECOS E HILOTAS A SERVIÇO DE ESPARTA......................................13
3.2 TECNOLOGIA DE GUERRA EM ESPARTA...................................................15
4. MACEDÔNIA ....................................................................................................18
4.1 ALEXANDRE, O GRANDE................................................................................21
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................24
6. ANEXOS .............................................................................................................25
7. REFERÊNCIAS..................................................................................................26
 
1. INTRODUÇÃO 
A guerra, ou conflito entre nações, sempre esteve presente na história. A partir do momento em que o homem se sedentariza, iniciando a agricultura, tornou-se necessário assegurar as suas terras, protegendo-se dos demais indivíduos cujo cultivos não foram o suficiente para a alimentação, dando início aos conflitos por alimentos, água e terra. [1: 1 agrupamento humano, cujos membros, em geral numerosos e fixados em um território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos e linguísticos [...] 2 povo ou tribo indígena [...] 3 país 4 pessoa jurídica formada pelo conjunto de indivíduos; (CEGALLA, 2013 p. 601)]
Estes conflitos ao longo da história envolvem mais do que simples embates de espadas, machados e lanças. Durante tais conflitos se cria, mesmo que seja involuntariamente, um intercâmbio cultural.
Vygotsky afirma que “man is a social person = aggregate of social relations, emboried is an individual [sic]”. O psicólogo russo utiliza a expressão: “ [...] agregado de relações sociais incorporadas num individuo” (VYGOTSKI, 1989. p.66) referindo-se à cultura presente em cada indivíduo. Para “pensarmos” cada sociedade localizada em algum momento histórico, torna-se necessário compreendermos suas tradições, religiões, ou melhor suas culturas. [2: Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Veio a ser descoberto pelos meios acadêmicos ocidentais muitos anos após a sua morte, que ocorreu em 1934, por tuberculose. Disponível em: < Https://pt.wikipedia.org/wiki/Lev_Vygotsky > Acesso em. 30 de set. 2016.][3: Tradução: “o homem é uma pessoa social = um agregado de relações sociais incorporadas num indivíduo.]
A pólis grega de Esparta é o nosso objeto de pesquisa, está cidade-Estado ficou conhecida pela mídia como uma sociedade guerreira. Portanto, através de análise bibliográfica, pretende-se neste trabalho desvendar como a guerra influenciava no Estado espartano. [4: “Cidade, cidade-estado: reunião dos seus cidadãos em territórios e sob suas leis. Dela derivam as palavras política e político; o cidadão, o que concerne o cidadão, os negócios públicos, a administração pública. ” (EYLER, 2014)]
Entretanto, antes de adentrar na civilização espartana é necessário estabelecer um conceito sobre dois termos: civilização e guerra. No dicionário Domingos Paschoal Cegalla, da Companhia Editora Nacional, 2013, a definição de civilização:
1 conjunto de características morais, espirituais e materiais próprios de uma época, região, país ou sociedade e que são transmitidas[...] 2 O estágio de desenvolvimento político, econômico, artístico, cientifico e tecnológico de uma sociedade; progresso[...] 3 Tipo de Cultura[...] (2013, p. 200)
 O termo civilização se estendeu em diferentes significados ao longo da história da humanidade, sendo difícil precisar sua origem. Segundo o sociólogo Henri Mendras:
O termo civilização tem dois inconvenientes. Primeiro, evoca uma discriminação entre civilizados e não-civilizados[...]. O segundo inconveniente é que não existe adjetivo que corresponda a esse sentido de civilização, logo houve a necessidade de empregar o adjetivo: cultural (MENDRAS, 1971, p. 34)
O debate sobre a polissemia do termo em tela, pode se alongar e não é o foco deste trabalho. Entretanto, é necessário estabelecer que a utilização deste termo, se refere a aspectos culturais dentre eles a arte, política, economia e ciência da sociedadeaqui trabalhada.
A palavra guerra poderia ser definida como “simplesmente” um conflito entre nações. Mesmo que as definições sempre prossigam por este viés, o termo carrega definições de um caráter preconceituoso, por estar diretamente ligado a mortes em grande escala e destruição do que seria o ‘mundo civilizado”. Assim se abrem questionamentos sobre o porquê de se pesquisar sobre tal tema.
A guerra é carregada de significados culturais e, ao mesmo tempo, é ligada ao poder e desejos econômicos das sociedades. Inúmeras vezes, o senso comum se engana acerca da importância da guerra na história humana, desconhecendo o simbolismo dos conflitos. Um fenômeno bélico abrange toda uma sociedade, adentrando no imaginário das pessoas, nos rituais religiosos e principalmente na economia e na política.
As guerras não são exceção nas buscas dos pesquisadores históricos, não esquecemos que, desde a antiguidade os historiadores da antiguidade das civilizações grega, romana, egípcia, chinesa, persa e a outras sociedades irão escrever sobre estes conflitos. Portanto, a guerra está intimamente ligada a história da humanidade e a evolução de técnicas nos campos de batalhas se refletiu no dia a dia das sociedades humanas.
O livro A Arte da Guerra, de Sun Tzu é um exemplo de como a guerra era importante para uma nação. Segundo as palavras do próprio “A guerra é de vital importância para a nação” (p. 27). Por isso, são pertinentes os seguintes debates: Porque a guerra é vital para essa civilização? Seria pela busca econômica? Pela necessidade de exercer a sua ideologia sobre outras cidades-estados? Iremos em nossa jornada, buscar respostas que nos levem a compreender até onde podemos perceber a participação das mudanças militares principalmente, na reforma da antiga cidade-Estado de Esparta.[5: Sun Tzu teria vivido no Período das Primaveras e Outonos da China (722 a.C. – 481 a.C.) como general do Rei Hu Lu. Historiadores mais recentes, que admitem a sua existência, datam o seu trabalho, A Arte da Guerra, do Período dos Reinos Combatentes (476 a.C. – 221 a.C.), baseado nas descrições da guerra desse livro, e pela semelhança da forma de redação do texto com outros trabalhos feitos no início do período dos Reinos Combatentes.]
2. A GUERRA DURANTE O PERÍODO HISTÓRICO DA GRÉCIA ANTIGA 
A Grécia Antiga é conhecida historicamente com um dos “berços” da cultura ocidental. Esta afirmativa nos faz retomar alguns questionamentos sobre a utilização do termo já consagrado pela historiografia, que aqui é o uso da expressão “Grécia Antiga”.
Qual professor, trabalhando com seus alunos o conteúdo sobre a antiguidade grega, não recebeu questionamentos como, “A Grécia agora se chama Grécia Nova? ”, ou, “ A Grécia agora não é igual a antiga? ”. As perguntas formuladas pelos educandos durante as aulas são importantes, e é de dever dos educadores não apenas responde-las, mas provocar uma reflexão mais profunda.
Essa Grécia Antiga, que é carregada de mitos sobre seus deuses e reconhecida por iniciar a estruturação da política no ocidente. O mapa abaixo apresenta a área de influência grega antiga, que não se limitava apenas ao espaço onde está localizada hoje a República Helênica.
	Figura 1: Colonização Fenícia e Grega
Disponível em: < http://www.rocksullivros.com.br/mapas-historia/mapa-colonizacao-grega-e-fenicia-ed-bia-2-x-r-23-00.html> Acesso em. 4 de out. 2016
Os gregos ao viajarem pelo Mediterrâneo, além de pessoas levaram consigo produtos e ideias. Entretanto, durante estes séculos (1900 – 146 a.C), não formaram um reino ou império, e sim uma organização de cidades autônomas. Corinto, Atenas e Esparta são algumas dessas diversas sociedades que os pesquisadores sintetizaram como civilização grega antiga.
Uma dessas sociedades a de Esparta, é a cidade-estado que adentraremos para debatermos a problemática. Por ser culturalmente militarizada, Esparta produziu os mais preparados soldados do “mundo grego”. Taticamente e tecnologicamente irão ser um dos primeiros a utilizar a Falange hoplítica da época. Este sistema fez ocorrer “o aparecimento dos soldados de infantaria pesadamente armados a lutarem de forma coesa, em grupos e não mais individualmente como nos tempos Homéricos” (SOUZA, 1988, p. 35). Antes, devemos problematizar o que foi a guerra para a antiguidade grega, das obras de Homero até a dominação de Felipe e Alexandre. [6: A falange hoplítica é um sistema de combate utilizado pela infantaria da Grécia antiga. O sistema baseava em uma luta coesa, lado a lado, onde que cada hoplita protegia seu companheiro. ]
Didaticamente, a Grécia é dividida em quatro períodos. De 1900 a 1100 a.C ela é conhecida historicamente como Grécia Pré-Homérica, quando ocorre a entrada dos povos indo-europeus, eólios, jônios e aqueus, formando o grupo étnico da civilização Grega. De 1100 até 700 a.C é o período Homérico, conhecido pelas obras atribuídas ao poeta/historiador Homero, Ilíada e Odisseia. Neste período, destaca-se o sistema gentílico, marcado pela existência do “genos” ou “grande família”. O período seguinte, o Arcaico, durou de 800 até 500 a.C, que é a época da formação da pólis e da estruturação do comércio e do perímetro urbano.[7: A Ilíada é constituída por 15.693 versos em hexâmetro datílico, a forma tradicional da poesia épica grega. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada> Acesso em. 07 de set. 2016. ][8: Odisseia, “depois da Ilíada, o principal texto que foi reunido sob o nome de Homero na cultura grega. Vem do nome do seu personagem principal, Odisseu, ou, como ficou conhecido pela tradução latina, Ulisses. ” Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/odisseia-homero.htm> Acesso em. 07 de set. 2016. ]
O período dos séculos em que ocorrem o grande desenvolvimento de Atenas, da arte grega e das famosas batalhas entre gregos e persas, além da Guerra do Peloponeso (431 - 404 a.C), recebeu o nome de Clássico, durando de 500 a 338 a.C. O fim da Grécia clássica é marcada pela dominação e expansão de Felipe II, da Macedônica e de seu filho, Alexandre, o Grande, período conhecido como, Civilização Helenística (338-146 a.C.), período em que a cultura grega estendeu-se até os rincões da Índia.[9: A guerra conhecida como Guerra do Peloponeso. Entre as famosas ligas de Delos e Peloponeso. Lideradas por Atenas e Esparta respectivamente. Mapa do conflito no anexo 1.]
“As duas obras mais importantes da literatura grega, e também as mais antigas, estão carregas de violências: A Ilíada e a Odisseia. (SOUZA, 1988, p.9). O historiador Souza descreve esta obra como um desfile de sangue narrado em detalhes. 
“O historiador Arnaldo Momigliano, observou certa vez que os gregos aceitavam a guerra como fato natural” (SOUZA, 1988, p.7). A violência era uma maneira de conseguir alcançar seus objetivos. 
Outra observação relevante, é que, em um sistema de escravidão, não é possível criar um escravo que desobedeça ao seu senhor. Portanto, o uso da violência é primordial em sociedades escravistas. Quando analisamos o caso de Esparta, a escravidão é evidente nos Hilotas, que eram os escravos nesta civilização.
“Os heróis de Heródoto”, como Aquiles e Heitor, são descritos como homens que se sobressaem perante aos outros soldados. No Canto VII da Ilíada, é evidente essa importância, destacando-se o poder da monarquia. Na citação faz-se referência a Heitor, de Troia. [10: “Um dos heróis mais importante da Ilíada. É com sua cólera que o canto de Homero tem início” (EYLER, 2014)][11: Herói da Ilíada, lutou ao lado dos Troianos. Filho de Priámo. ][12: Troia é uma cidade lendária, onde ocorreu a célebre Guerra de Troia, descrita na Ilíada, um dos poemas atribuídos a Homero. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Troia > Acesso em. 9 de set. 2016.]
As portas Céias Heitor atravessa, o guerreiro esplendente,
Acompanhado do irmão Alexandre. Impacientes estavam 
Na alma os dois cabos troianos de entrar em combates e lutas. [...]
10Filomedusa, a famosa consorte, esse filho lhe dera.
Porsua vez, Heitor fere Eioneu com uma lança pontuda, 
Sob a celada de bronze, no colo, tirando-lhe a vida. [...]
“A alma ardorosa de Heitor, o gilete esforçado, incitemos 
A provocar para duelo a qualquer dos Aquivos guerreiros
40que, porventura, se atreva a lutar corpo a corpo com ele. 
Penso que, cheios de espanto, os Acaios de grevas bem-feitas 
Incitarão um dos seus a enfrentar o divino guerreiro”[...] 
“Filho de Priámo, Heitor, semelhante a Zeus grande no engenho
na qualidade de irmão, poderei ministrar-te um conselho?
Faze que cesse a peleja entre os homens aqueus e os Troianos 
50e para duelo, provoca inimigo mais forte e valente [sic] (HOMERO, p.129) 
Foi apresentado anteriormente que as escritas de Homero são um marco cronológico para a Grécia Antiga. Nesta presente passagem da Ilíada, pode ser confirmado um aspecto da violência, em que a guerra e a religião se misturam. Tal fato fica evidente na seguinte passagem: “A receberem a permissão de Zeus, os deuses descem imediatamente para a batalha, uns a favor dos aqueus, ou a ajudar os troianos [sic]” (Ilíada, XX, 1-40). Portanto, o “mundo de guerras” não se distancia do divino. 
A guerra na Grécia irá se transformar drasticamente com as modificações no sistema de combate, denominado como Falange Hoplita. É Importante destacar que “Esparta foi a primeira cidade-estado a incorporar os resultados sociais das operações de guerra dos hoplitas” (ANDERSON, 2000, p.33). 
 A pólis rejeitava as atitudes tradicionais da aristocracia guerreira tendentes a exaltas o prestigio, a reforçar o poder dos indivíduos e dos gene e elevá-los acima do comum. O valor supremo agora é aquilo que é comum a todos os cidadãos, é a própria cidade. Daí o sentido da reforma hoplita, ou seja, o combate em linha que organiza a falange e acaba com as prerrogativas dos hippeis. Ao contrário do valor individual das façanhas dos heróis, o que importa agora é ordenamento coletivo. (EYLER, 2014. P .72-73) [13: Famílias de nobres, fortemente alimentados pelo mito de descenderem dos deuses.][14: Soldado que pertence a uma posição fixa durante o combate, muito utilizado em Atenas.]
Estes hoplitas irão modificar o sistema e não somente os modos de combate da guerra, mas também irão influenciar na formação da pólis. Alguns historiadores irão reconhecer este episódio como uma “revolução hoplita”, muito fundamentado nas pesquisas arqueológicas da inglesa H. L. Lorimer.
3. ESPARTA 
As margens do rio Eurotas, a sudeste da península do Peloponeso, se localizava a cidade-Estado de Esparta. Mesmo não sendo considerada por alguns historiadores como cidade-estado “ [...] os próprios gregos não tinham dúvidas de considerar Esparta uma pólis. ” (GUARINELLO, 2013. p. 86). 
Tradicionalmente as cidades-estados gregas são caracterizadas como um centro urbano em que se reuniam os cidadãos em locais públicos para discursos e debates políticos, o que contribuiu para com o surgimento de leis. Portanto, não existia uma monarquia absoluta, principalmente com ligação ao divino. Entretanto, Esparta era uma cidade-Estado que vivia em uma diarquia.[15: Governo de dois reis. ]
As diferenças de Esparta não se restringiam somente a presença dos reis, mas a própria “ pólis espartana não se reuniu em um centro urbano, mas permaneceu separada em vilarejos, sem uma muralha unificadora. ” (GUARINELLO, 2013. p. 86). Entretanto, existiam instituições públicas em Esparta. Uma era a apella, que se reunia uma vez por mês em um local público. Todos os espartanos poderiam participar destas reuniões. [16: Uma Assembleia]
Por outro lado, o poder da Assembleia era limitado, pois não discutiam qualquer proposta apresentada, apenas votada. Ela também podia ser dissolvida, pelos reis e pela gerousia (conselho mais velho), sempre que houvesse uma decisão contrária a constituição. A Assembleia votava paz e a guerra, elegia os magistrados e indicava os anciãos que compunham a gerousia. (EYLER, 2014. p. 74)
A gerousia era o conselho dos anciões de Esparta, em que todos tinham mais de 60 anos. Eram 28 anciões que votavam junto aos reis. A eleição para o substituto de um ancião morto era realizada pela apella e o voto era medido pelo volume de aplausos. 
Em Esparta também existia o eforato. Eyler afirma a importância do conselho.
Como parece não ter havido nenhum caráter de censo ou de nascimento para ser membro do eforato, alguns teóricos políticos posteriores, do século IV e V a.C, viam ali a expressões de um caráter democrático da constituição espartana. (p. 76)
Os cinco membros eram responsáveis por guardar a constituição, controlavam a educação e davam ordens de mobilização de guerra, inclusive acompanhando o rei que ia para o campo de batalha.
Os reis de Esparta eram obrigados a seguir a constituição, sob supervisão dos érofos. Eles pertenciam a aristocracia da pólis, envolvidos em inúmeros mitos. Os gregos antigos contavam que as duas famílias monárquicas descendiam dos filhos de Hercules, Eurístenes e Proclos. [17: Herói grego que inspirou grandes nomes da história, como Alexandre, o grande ]
Os filhos do herói grego tiveram herdeiros que segundo a lenda criaram a cidade-Estado, dando origem ao nome das duas famílias, Ágidas e Euripôndidas, advindo dos nomes Ágis e Euriponte, estes os netos de Hercules.
A função dos reis, além de participar da gerousia, era a participação no campo de batalha durante o período de guerra. Entretanto, somente um deles ficava encarregado desta função: diversos historiadores atribuem a obrigação religiosa a um e militar ao outro.
Economicamente e politicamente é evidente que existia uma peculiaridade em Esparta. Havia uma mistura de características avançadas e arcaicas. O seu sistema de combate era avançado o que irá ser refletido quando em pouco tempo exercerão influencia em boa parte do território do Peloponeso. Mas a presença dos reis, principalmente cercado de mitos, remete a da Grécia Antiga Arcaica.
O período da história em que Esparta se destaca como uma força superior de combate está fortemente ligado a criação de “estado militar”. “Platão por exemplo, vêm nas vitórias espartanas a materialização da superioridade da educação rigorosa” (SOUZA, 1988 p. 39). De fato, as fontes históricas expõem que a educação nesta pólis grega era diferenciada. 
O estado espartano é quem realiza toda a preparação militar. Iniciando o treinamento cedo o jovem já se preparava para a formação dos guerreiros. Não é um equívoco dizer que antes do nascimento dos filhos os espartanos pensavam na criação de bons soldados.
As “mães de Esparta” são elementos fundamentais “a implantação radical da ideal hoplita” (SOUZA, 1988 p. 42). A mulher, era treinada e realizava exercícios físicos regularmente, o que justifica a vitória da princesa Kynska. O princípio era de que apenas uma mulher forte conseguiria gerar filhos para a guerra.[18: A vitória fez outras pólis julgarem as espartanas como depravadas, por praticarem esportes.]
A educação dos espartanos iniciava quando eles tinham poucos anos, com total rigidez. 
Os meninos eram obrigados a andar descalços, usavam a mesma peça de rouba durante todo o ano e eram submetidos a um regime alimentar que os obrigavam a roubar para aliviarem a fome, a que os tornavam preparados para a guerra[...] Segundo Xenofonte, um ateniense, que lutou viveu ao lado dos espartanos boa parte da sua vida, era mais fácil fizer uma estátua de pedra fala do que conseguir conversar com um deles (SOUZA, 1989, p. 42)
O seu treinamento nunca terminava, eles deveriam sempre estar treinando e mantendo a sua disciplina, mesmo os reis passavam por um período aprovação sobre sua continuidade como governante. Entretanto, este estado espartano, não pode ser lembrado para a história como uma cidade igualitária e sem conflitos sociais.
A ênfase no treinamento comum para a guerra não implicou a igualdade de riqueza de todos os espartanos, apenas em sua igualdade perante os explorados: uma vida comum, hábitos de consumo comuns, um forte sentimentode comunidade. Todos os espartanos se tornavam, por assim dizer, aristocracias, mas sob condição de se fecharem para o exterior, de proibirem o uso da moeda, de manterem hábitos simples, de ocultarem suas diferenças de riqueza, participando de uma educação militar comum e um baquete ritual: a syssitia. (GUARINELLO, 2013. p. 86 – 87)[19: Refeições conjuntas entre os espartanos com o interesse de reunirem para fortalecer os laços. Os Hilotas cozinhavam, para estes baquetes acontecerem eram arrecadados impostos públicos. Aqueles que não conseguissem pagar eram considerados inferiores e não participavam. ]
O Estado de Esparta estava a mercê do governo desta aristocracia, que utilizava a educação para a formação de seus Hoplitas. Estes eram obedientes aos interesses do Estado, que garantia o controle dos escravos e dos povos subordinados, como os Periecos.
3.1 PERIECOS E HILOTAS A SERVIÇO DE ESPARTA
O sistema de luta de falange, deve ser uma unidade coesa para não existir falhas. Porém, a relação de união entre os homens estava ligada apenas ao campo de batalha. Esparta era uma pólis dependente do trabalho escravo, não muito diferente de toda a antiguidade, assim como afirma Maestri (1994). Entretanto, antes é necessário definir o que é um ser escravizado, principalmente no período conhecido como História Antiga, que caracteriza a escravidão moderna de forma diferente da que estamos habituados. Segundo o autor em sua obra:
Três determinações devem necessariamente estar presentes em uma forma de dependência social para possamos defini-la como escravidão. O cativo, considerando como uma simples mercadoria, deve estar sujeito às eventualidades próprias aos bens mercantilizáveis – compra, venda, aluguel, etc. A totalidade do produto do seu trabalho deve pertencer ao seu senhor. A remuneração que o cativo recebe sob a forma de alimento, habitação, etc., deve depender, ao menos formalmente, de vontade senhorial. Por último, o Status escravo dever ser vitalício e transmissível aos filhos. (MAESTRI, 1994. p.3)
Os Hilotas eram responsáveis pelo trabalho no campo, em perímetro urbanos e nos campos de batalhas. É importante destacar que a presença de Hilotas na guerra é somente para servir aos soldados, ou seja, eles não lutavam por Esparta. 
O Estado de Esparta realizava uma distribuição de terra entre os próprios cidadãos. Estes lotes ficaram conhecidos como Kleroi. Essa era uma estratégia da cidade-Estado para realizar um melhor aproveitamento de locais cultiváveis. A agricultura na Grécia Antiga, em geral, não era tão abundante quanto em outros territórios da antiguidade, como o norte da África.[20: É está região do norte da África que séculos depois irá contribuir fortemente para o abastecimento alimentício do Império Romano. ]
As kleroi eram essas terras cultiváveis e eram os Hilotas que trabalhavam no cultivo. Para um cidadão não perder seus cativos seus impostos deveriam estar em dia, já que os escravos pertenciam ao Estado. Portanto, como afirmou Maestri os produtos em sua totalidade pertenciam ao senhor e no caso desta classe em Esparta os senhores correspondiam ao Estado.
Os Periecos já podem ser considerados “livres”, pelo fato de não serem obrigados a realizar nenhum serviço ao estado de forma braçal ou de servidão domiciliar, entretanto, não eram de toda via libertos. Alguns historiadores os colocam como uma segunda classe da aristocracia da cidade-Estado, ou como estrangeiros. Eles praticavam muito o comércio e o artesanato e viviam em suas próprias propriedades, mas não tinha o poder de decidir sobre suas relações diplomáticas por isso estava nas mãos da aristocracia espartana. Além, principalmente, de lutarem ao lado do estado maior a qual defendiam: Esparta.
A conquista de cativos ocorria através das suas conquistas militares. No “mundo antigo” essa era a forma mais comum de se tornar um escravizado, não descartando a escravidão por dividas.
A cidade de Esparta conquistou um território relativamente grande no interior do Peloponeso numa época primitiva, primeiro na Lacônia, para leste, depois em Messênia, para oeste, e escravizou o total dos habitantes das duas regiões, que se tornaram Hilotas do Estado[...] A terra foi dividida em porções iguais, que eram distribuídas aos espartanos como kleoi, ou lotes, cultivados pelos Hilotas, e que eram propriedade coletiva do estado. (ANDERSON, 2000, p. 33)
Em uma civilização em que os conflitos se tornam subsequentes a mortandade dos homens se torna alta, e pensando no controle do número de cativos perante ao colume da população, o estado espartano organiza a Krypteia, com o objetivo de matar um grande número de Hilotas. É importante não esquecer de esclarecer como o estado espartano utiliza este ritual de controle para a educação dos jovens guerreiros. 
As questões de cidadãos e escravos, em Esparta nunca irão se resolver completamente, ocorrendo ao longo do tempo inúmeras revoltas. De fato, o número de cativos chega em alguns aspectos, a prejudicar as guerras para Esparta. Como, por exemplo, a expansão militar, já que os Hilotas deveriam acompanhar e servir os soldados. Vale, ressaltar que não ocorreu o surgimento de um grande império espartano. Todavia, isso não quer dizer que Esparta não exerceu influência em outras cidades-estados.
Enquanto os Hilotas não possuíam o direito de ser ouvidos, o surgimento dos Hoplitas e o decair da realeza fez estes soldados ganharem direitos civis. As mudanças políticas nas cidades-estados estão intimamente ligadas com o surgimento da Falange Hoplita, que foi uma nova tecnologia de guerra.
3.2 TECNOLOGIA DE GUERRA EM ESPARTA 
A cavalaria era um símbolo de superioridade na guerra. No período anterior a cavalaria também estava ligada a realeza. Em algumas pólis grega a monarquia desapareceu após surgimento destes “novos soldados”. 
Uma das monarquias que não se dissolveram foi a de Esparta que agora “era um generalato hereditário e restringida por dubla questão, outorgada a duas famílias reais. ” (ANDERSON, 2000, p.34). Os dois reis tinham suas funções diversificadas durante a guerra. Apenas um rei iria para o campo de batalha, e liderava as tropas ativamente em combate.
Esta nova tecnologia se baseava na preparação, desde o nascimento dos espartanos até a repetição de movimentos conjuntos dos soldados no campo de treinamento. Como se posicionava estes guerreiros afinal? Observe o “vaso Chigi”, uma retração da Falange Hoplita.
	Figura 2: O vaso Chigi
Disponível em. <http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=76> Acesso em. 4 de out. 2016
Este vaso é uma das primeiras demonstrações do sistema de combate. Nele é possível notar o alinhamento em falange e seus equipamentos. O objetivo de uma luta conjunta, em formação de falange, é realizar avanços no campo de batalha, usando o escudo para pressionar o adversário, ao mesmo tempo em que se realiza sua defesa. 
O escudo chamado hoplon era feito de bronze e chegava a pesar oito quilos. Era um escudo que deveria proporcionar firmeza, por isso, ele tinha dois cabos que eram as alças do escudo. Este equipamento que deu origem ao nome Hoplita. 
Os equipamentos eram todos comprados pelos próprios guerreiros, ou seja, somete o treinamento era garantido e financiado pelo Estado. Era de responsabilidade do guerreiro também a armadura, que era uma couraça feita de bronze, com notar a proteção nas canelas e joelhos. Todo o equipamento era feito nas medidas de cada guerreiro, o que facilitava a mobilidade.
Para ferir o adversário, os Hoplitas contavam com uma lança de madeira que tinha de dois a três metros e uma espada curta ou punhal. Ambas armas eram estocadas de cima para baixo, com objetivo de enfraquecer para romper a linha inimiga. 
O treinamento físico se tornava primordial para suportar a intensa pressão entre dois exércitos. Para isso, no campo de batalha, Esparta formava uma falange de oito soldados, em oito fileiras. A batalha entre Hoplitas era uma “luta por espaço” para realizar ataques, portanto, quandoum soldado caía, deveria ser rapidamente substituído, por isso haviam as oito fileiras de soldados.
Durante este período de conflitos, o exército não levava somente escravos para os servirem, mas também os acompanhavam os músicos, os aulete, que eram flautistas que marcavam o ritmo de marcha. Na figura do vaso Chigi é evidente a presença destes artistas. 
A estratégia que os espartanos estrearam no “mundo antigo” irá render grandes vitórias, primeiro na região do Peloponeso, e depois sobre os Persas. Assim, eles destacavam na famosa batalha das Termópitas e ainda venceriam o conflito da Guerra do Peloponeso.[21: A batalha de Termópitas, foi durante o período chamado de segunda invasões médicas (Segunda Guerra Médicas). Invasões lideradas pelo imperador persa Xerxes I. A batalha que durou três dias realizadas no ano de 480 a.C. O exército grego era uma união entre algumas pólis, sobre a liderança de Leônidas I, um dos reis de Esparta. ]
Os Hoplitas, em seu novo sistema, agora mudam os seus valores. A cavalaria que entra em desuso por se trona pouco eficaz. Assim avançavam os direitos destes soldados que vão se valorizando na sociedade por se tornarem sua base. Ainda que, eles sejam um produto do Estado, inclusive por ele controlado, como afirma a historiadora Flávia Eyler em sua obra (2014). 
Eyler comenta a importância deste tipo de sistema de combate na formação da própria pólis. É possível analisar que o ideal coletivo criado nos campos de batalha é refletido na política, não somente em Esparta, mas em toda a região da Grécia Antiga. 
A cavalaria que foi substituída pelos gregos, agora será ‘umas das armas” de avanço de Felipe II e Alexandre, reis da Macedônia. O sistema de Falange Hoplita é facilmente derrotado e a Grécia Antiga, com sua pólis, vai viver um novo período político de subordinação, que após o fim do domínio macedônio e dos reinos helênicos, ainda estarão sobre a influência de Roma.
Antes da ofensiva de Felipe II, rei da Macedônia, as pólis viviam uma crise posterior a Guerra do Peloponeso. Durante o conflito é importante destacar como o Império Persa contribuiu para ambos lados, financiando-os e lucrando. 
A influência da pérsia continuou, mesmo após ser derrotada pelos gregos. O contato com os orientais proporcionou a entrada da moeda persa, o Dárico, na economia das cidades-estados. Através desta moeda irá ocorrer financiamentos de mercenários na guerra na região da Grécia, em uma larga escala. Estes novos soldados das cidades-estados irão contra as características de cidadão-soldado, ocasionando uma crise de valores morais e em determinados casos éticos dentro das pólis.
Enquanto, os hoplitas perdiam os seus direitos como protetores da sua cidade, os mercenários ganhavam e exigiam seu espaço civil. De fato, durante a invasão da Macedônia, Esparta e toda a Grécia Antiga estavam em transformação devido aos conflitos internos. 
Esparta, irá em determinados momentos, aliar aos persas após as conquistas de Felipe II, inclusive espartanos irão ocupar cargos como de generais do Exército de Dario III, líder persa. Aqui relembro ao leitor a análise realizada no início deste trabalho, sobre intercâmbios culturais durante conflitos. Esparta combate os persas que continuaram localizados do outro lado do mar, resultando em mais trocas culturais e fazendo que os antigos “bárbaros” sejam agora aliados contra os “novos bárbaros”. 
4. MACEDÔNIA
A Macedônia se localizada ao norte da Grécia. “Composta por uma grande dimensão e integrada por vales fluviais”, esta localização contribuiu para “a presença de grupos humanos diversos naquela localidade” (TREVISAN, 2015, p. 37), dentre o quais, somente alguns falavam grego. Mesmo, com esta proximidade os gregos não os consideravam “em seu mundo”. A historiadora Raquel Meleno afirma, que
[...] no que diz respeito à população macedônia em geral, o fato linguístico, junto ao seu baixo nível cultural, levou os gregos a considerarem como estranho ao seu universo e ainda as orgias grosseiras as fizeram os nobres macedônios como bárbaros aos olhos gregos (MELERO, 1997, p. 8)
A relevância dos macedônios na história das tecnologias de guerra data do ano de 336 a.C, como a acessão de Felipe e Alexandre, mas tarde historicamente chamado de Alexandre, o grande. As contribuições tecnológicas dos macedônios são a Hélade, as catapultas de torção e táticas de guerra que avançam sobre a pólis gregas. 
A Hélade era uma forma de “exército integrado, em que as tropas de infantaria leve e pesada, e a cavalaria, agiam em conjunto” (SOUZA. 1988, p. 22). A falange macedônica é reconhecida por parte dos historiadores como uma das maiores invenções de guerra do “Mundo Antigo”. Em comparação com os hoplitas possuíam o dobro guerreiros, e uma modificação na repartição de suas lanças que eram maiores. É possível observar esta distribuição abaixo.
	Figura 3: Falange Macedônica
Disponível em: <http://whereismacedonia.org/about-macedonia/practical-information/714-macedonia-interesting-facts-about-macedonia> Acesso em. 04 de out. 2016
Os soldados macedônios a frente empunha a lança na posição mais horizontal, sem ferir os companheiros, o que resulta em um avanço sem preocupação com a cavalaria ou até mesmo com a falange hoplítica. Era uma forma de avançar no campo de batalha, e se defender em uma simples manobra. 
Os gregos, principalmente os atenienses pouco puderam se proteger da cavalaria eficaz dos macedônios, que junto com a nova falange encurralava os adversários, é relevante destaca que ao norte a cavalaria também estava fortemente ligada a monarquia.
No primeiro momento do avanço de Felipe II, suas inovações militares irão “dobrar de joelhos” boa parte das cidades-estados, destacando não somente as conquistas em campos de batalhas, como também sua influência através da diplomacia. 
Inúmeras vezes nos confundimos em nossas leituras sobre a magnitude das conquistas de Alexandre, deixando de ressaltar o trabalho anterior de Felipe II. Ele irá organizar os soldados em novos sistemas de combate e realizar um importante feito para um rei/general que é ganhar a confiança dos seus exércitos. Felipe era “um líder que compartilhava juntos deles o cansaço e também os perigos em meio às batalhas” (TREVISAN, 2015, p. 40).
Antes de inaugurar sua política de expansão, Felipe empreendeu uma reorganização radical no exército, aproveitando as dificuldades naturais e a forma física do camponês macedônio. Para infantaria e a cavalaria, criou uma nova formação tática [...] O exército também se matinha em constante treinamento (TREVISAN, 2015, p. 40)
Felipe não era o filho mais velho, ao contrário, era o mais novo herdeiro do antigo rei Amintas II, portanto, ele se tornou o líder máximo da Macedônia somente após a morte de seus irmãos. É narrado que, quando era jovem, foi feito prisioneiro na região de Tebas, o que contribuiu para a sua formação militar.[22: Uma cidade-Estado da Grécia Antiga, localizava ao norte de Atenas.]
Ao retornar Felipe II, recebeu de seu irmão o direto de administrar um dos territórios do reino macedônio, lá “implantou importante reformas, dando início, de certa forma, à sua vida em meio ao cenário político” (MELERO, 1997. p. 11). 
A aproximação da cultura grega e a modernização dos exércitos foi uma das principais medidas adotas por Felipe ao acender no trono. O reino estava fragilizado militarmente e economicamente. As medidas de recuperação domados foram bem-sucedidas, e deixam um “terreno próspero” para o seu filho. Quanto às qualidades de Felipe, “é sabido que tinha como virtude a habilidade política e a clarividência sobre as reações de seus inimigos e também era conhecido por uma personalidade controlada” (TREVISAN, 2015, p. 39).
Felipe II iniciou suas estratégias de expansão, realizando proposta de paz a Atenas e Tebas. A proposta foi rejeitada pelos gregos e o resultado da falha diplomática foi a batalha de Queroneia, ocorrida 338 a.C. 
A batalha foi sucesso completo para os macedônios, que mostraram que seusistema de combate é superior ao dos Hoplitas Gregos em momento marcante para a história grega. O jovem Alexandre, com dezoito anos, foi “responsável pela carga que massacrou o célebre Batalhão Sagrado de Tebas” (TREVISAN, 2015, p. 41). Este grupo de soldados representava a elite guerreira de Tebas. 
O grande objetivo do rei macedônio é a conquista do Império Aquemênida (550 a.C a 330 a.C), pensando em tal “sonho” ele organiza medidas para se fortalecer militarmente. Um exemplo é que para as cidades-estados que o apoiassem, seria permitido manter o seu sistema civil, portanto, ele cria também a Liga de Corinto.[23: Império também conhecido como Império Persa ][24: “Corinto era uma cidade grega, situada na Coríntia, na periferia da região do Peloponeso. ” (TREVISAN, 2015, p. 42). Está liga contou com cidades-estados como Tebas e Atenas, entretanto Esparta não participa e se opõem a dominação da Macedônia. ]
A principal funcionalidade da liga foi reafirmar seu domínio, mantendo a paz entre as pólis, além de proteger a si mesma. Cada cidade-Estado teria seu representante para a formação de um grande conselho, que por sua vez estaria ligado aos interesses de Felipe. Ele utilizou está “manobra diplomática” para organizar o seu grande exército. Com a liga ele conseguiu auxílio para o financiamento de equipamentos e a realização de acréscimos de soldados, já que o imperador Dario III, o imperador do vasto Império Persa, contava com um grande contingente militar. 
4.1 ALEXANDRE, O GRANDE
Em 356 a.C, na capital da Macedônia nascia Alexandre. Contam que desde sua infância ele ouvia histórias de heroísmo e glórias, como o do herói homérico Aquiles. Alexandre cresceu cercado de todos os direitos de um membro da monarquia, principalmente em termos educacionais. Seu pai, que “ [...] era um grande admirador da cultura grega, em especial atenienses, foi atrás de um preceptor” (TREVISAN, 2015. p. 49). Este foi Aristóteles, que durante três anos (343 – 340 a.C) acompanhou o jovem macedônio. Entretanto, não é possível afirmar exatamente a influência do filosofo clássico com o futuro conquistador, segundo o historiador Pierre Brant.[25: Preceptor é um tipo de tutor educacional particular. Em algumas universidades da História Antiga e da Idade Média, ainda se utilizava este sistema, que consiste em que o professor (Preceptor) transmite todo seu conhecimento aos alunos. ][26:  Aristóteles foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com treze anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles> Acesso em. 03 de out. 2016.]
Aos dezesseis anos o jovem príncipe conduziu sozinho uma campanha contra os temíveis trácios e após a vitória fundou a colônia militar de Alexandrópolis. É necessário ressaltar as nomenclaturas adotadas pelo conquistador em seus avanços territoriais, nomes de cidades como a de Alexandria no Egito. O mapa, presente no anexo 2, mostra as cidades que o macedônico conquistou, observe atentamente aos nomes.
Cidades com seu nome são uma de suas demonstrações de narcisismo. E característica de sua personalidade é construída por receber influências dos mitos, principalmente sobre sua origem, por parte materna e paterna. 
Sobre sua mãe Olímpia, o historiador contemporâneo daquela época, Plutarco, afirma que “Olímpia era arrogante, ciumenta e vingativa, inclusive causava intrigas entre Felipe e Alexandre. (TREVISAN. p. 49). Entretanto, mesmo após intrigas e discussões entre os dois, Alexandre herda o trono de seu pai. Apoiado principalmente pelo leal exército da Macedônia. 
Estes soldados, assim que ocorreu o assassinato de Felipe II, proclamaram Alexandre como rei. Durante um curto período foi necessário conter algumas revoltas na Grécia, porém, o jovem rei utilizou a manobra diplomática de seu pai, a liga de Corinto, que demonstrou sucesso. O objetivo de gregos e macedônios era a destruição do Império Persa. Portanto, o rei macedônio era visto como vingador das terríveis batalhas das Guerras Médicas. 
 Alexandre se lançou em sua jornada de conquista em 334 a.C. Ele irá enfrentar os persas nas batalhas de Granito (334 a.C) e de Isso (333 a.C). As narrativas contam que suas falanges avançaram sobre os persas, que pouco puderam se defender das táticas campais do rei macedônio. 
Suas técnicas de combate, coragem e sucesso chegarão anos depois ao imaginário Romano. É visível tal influência no mosaico encontrado em Pompeia, que retrata a vitória e a magnitude de Alexandre.
	Figura 5: A batalha de Isso
Disponível em. < https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande> Acesso em. 5 de out. 2016. 
Alexandre derrota Dario III e se consagra senhor da pérsia, além de conquistar o título de faraó do Egito. O problema enfrentado foi a diversidade de etnias que habitavam a região do Império Persa. [27: Rei/Imperador do Egito.]
A população concentrada naquelas regiões era bastante diversificada, tanto em relação a língua quanto às raças, ao passo em que também se assentavam em territórios diversos, de grandes oscilações térmicas, com verões intensos e invernos castigastes (MELERO, 1997. p. 21). 
Portanto, Alexandre teria de formular uma nova forma de administração local. Ele cria o seu método de conquista e leva consigo a cultura grega para o oriente. Um exemplo, é Alexandria no Egito, que por séculos foi um grande centro cultural do mundo antigo, unindo conhecimentos de persas, egípcios e gregos.
O Método de conquista de Alexandre não alterava a estrutura anterior. Ele apenas estabelecia seus homens de confiança na administração local e muitas vezes não alterava os antigos funcionários, pois eles sabiam a língua e a tradição local (EYLER, 2014 p. 122).
Conclui-se que a Macedônia, através de Alexandre, irá realizar uma aculturação entre “bárbaros” e gregos, através das conquistas militares. A Grécia Antiga nunca retornará ao seu sistema de pólis. Mesmo após a fragmentação do Império de Alexandre, o grande.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Este trabalho versou sobre a guerra na Grécia Antiga, especialmente em Esparta, buscando analisar a problemática sobre a existência de uma influência resultante da guerra na sociedade do período. Concluiu-se que a guerra está intimamente ligada a cultura, portanto, está inserida como um importante aspecto cultural.
A cidade-Estado de Esparta foi escolhida como objeto de pesquisa por ser reconhecida na mídia pop como uma “sociedade militar”. Através de pesquisas, conclui-se que na pólis grega existia uma preocupação com a formação militar do soldado desde antes do seu nascimento. As mulheres praticavam atividades físicas e os jovens logo com poucos anos já teriam de iniciar seus treinamentos. Em Esparta todos deveriam contribuir para este “Estado voltado para a Guerra”, inclusive os reis deveriam manter seus treinamentos constantes. 
O resultado dessa educação rigorosa começará a ser bem-sucedido com a conquista de uma grande parte da região do Peloponeso. Vitoriosos, os espartanos, conquistam os Periecos e outros cativos para o Estado. A Falange Hoplítica começa a demonstrar o seu sucesso justamente nesta sociedade espartana. 
Esta falange representa a diminuição do poder da monarquia e o fim dos heróis dos tempos Homéricos. A realeza era representava pela cavalaria no campo de batalha. Através desta nova tecnologia de combate, que utilizava da força conjunta, ocorre o fortalecimento da pólis e o enfraquecimento dos diretos monárquicos. Surge o soldado-cidadão, que entra em crise séculos depois pela entrada dos mercenários nos combates militares da Grécia Antiga. 
Entretanto, a uniãoentre espartanos só se dava nos campos de batalhas. Existiam classes subalternas, como a dos escravos de Esparta, os Hilotas, cativos que eram utilizados em todos os setores, desde na produção agrícola até na servidão durante a guerra, mas jamais lutando juntos com os hoplitas (soldado-cidadão). Portanto, a igualdade se restringia somente aos cidadãos.
Conclui-se que mesmo a cultura sendo reconhecida por muitos historiadores intimamente ligada a guerra, é em Esparta que toda a sociedade irá realmente se “transformar” pela guerra. Portanto, referir-se a Grécia Antiga sem considerar a particularidade de cada pólis é errado, já que, cada uma tem características próprias e formas próprias de encarar o direito público de cada cidadão. 
Após os conflitos entre persas e gregos ficaram conhecidos como Guerras Médicas. O contado entre estes dois povos não terminou com a vitória dos gregos. O resultado deste contado em Esparta foi a entrada da moeda persa, utilizada para o pagamento de mercenários assim ocorrendo uma aproximação militar entre gregos e “bárbaros”. 
A Macedônia, sob a liderança de Felipe II, irá invadir o território da Grécia, mas os espartanos não irão aceitar o domínio estrangeiro e, em determinados momentos, apoiarão os persas contra os macedônios. 
Através de novas tecnologias militares e manobras diplomáticas Alexandre, o grande, conquista o território do Império Persa. A região da pólis de Esparta nunca reconquistará a sua independência como era no período clássico.
Portando, conclui-se que a sociedade de Esparta está ligada umbilicalmente à guerra e que as mudanças tecnológicas do período resultaram em seus sucessos e fracassos, nas vitórias sobre os persas e nas derrotas contra a Macedônia.
6. ANEXOS 
	Anexo 1: Mapa de localização das batalhas da Guerra do Peloponeso
 Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Esparta > Acesso em: 03 de out. 2016.
	
	Anexo 2: Mapa do território conquistado por Alexandre, o grande
Disponível em. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre,_o_Grande> Acesso em. 07 de out. 2016.
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CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário Escolar da língua portuguesa. 2ª ed. São Paulo: companhia Editora Nacional. 2008.
COULANGES, Fustel de. A cidade Antiga: Estudo sobre o culto, o direito e as instituições da Grécia e de Roma. São Paulo: Martin Claret. 2009. 
EYLER, Flávia Maria Schlee. História Antiga Grécia e Roma: A formação do Ocidente. 3ª ed. Petrópolis: Vozes. 2014.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma: Vida pública e vida privada, cultura, pensamento e mitologia, amor e sexualidade. Coleção Repensando a História. São Paulo: Contexto, 2002. 
GUARINELLO, Norberto Luiz. História Antiga. São Paulo: Contexto. 2013.
______________. Imperialismo Greco-Romano. São Paulo: Ática. 1987.
MAESTRI, Mario. O escravismo antigo. 12ª ed. São Paulo: Atual. 1994.
MENDRAS, Henri. Princípios de Sociologia: Uma iniciação à análise sociológica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar. 1971.
NUNES, Carlos Alberto. Homero: Íliada. São Pualo: Ediouro. 1994. 
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TREVISAN, Marcelo Chaves. Alexandre, o grande. São Paulo: Hunter Books. 2015.
VYGOTSKY, L. S. Concrete Human Psychology. In: Soviet Psychology. 1986.

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