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A Primeira Grande Guerra Márcia Maria Menendes Motta

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A Primeira Grande Guerra 
Márcia Maria Menendes Motta 
 
[MOTTA, Márcia Maria Menendes. A Primeira Grande Guerra. In.: REIS FILHO, Daniel Aarão; 
FERREIRA, Jorge Luiz; ZENHA, Celeste. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2003. (pp. 231-251)] 
 
AS POTÊNCIAS EM CONFLITO E A GUERRA 
 
A Primeira Guerra Mundial envolveu vários países, mas representou, principalmente, 
o confronto entre quatro potências: França, Inglaterra, Rússia, por um lado, e a Alemanha, do 
outro. Para compreender as razões da eclosão deste primeiro conflito mundial é preciso ter em 
mente que ele foi uma guerra imperialista, onde as rivalidades políticas expressavam a 
competição econômica das potências em conflito. 
As principais nações envolvidas eram diferentes entre si, mas, apesar disso, as 
transformações ocorridas na Europa durante a segunda metade de século 18 e por todo o século 
19, caracterizadas pelo aparecimento do capitalismo industrial, só podem ser entendidas em seu 
conjunto. As diferenças entre países refletiam os problemas criados pela industrialização e a 
consequente competição por mercados e capitais. Em suma, o desenvolvimento do capitalismo 
empurrou o mundo inevitavelmente em direção a uma rivalidade entre os Estados, à expansão 
imperialista, ao conflito e à guerra (Hobsbawm, 1995, p. 437). 
Comecemos pela Inglaterra, a primeira nação industrial do mundo de então. Em fins 
do século 18, a Inglaterra tinha dado início à Revolução Industrial. Através da utilização da 
máquina a vapor e da indústria têxtil, os ingleses iniciaram um processo de modificação das 
formas de produzir que alteraria a sociedade em todos os seus aspectos. Além disso, o processo 
de fechamento dos campos havia liberado grande parte da população camponesa, que, expulsa 
do campo, foi para a cidade em busca de emprego, A aceleração do crescimento econômico 
inglês se beneficiava da existência de um amplo e consolidado mercado interno. Além disso, 
havia um importante comércio ultramarino, sendo a Inglaterra considerada como "a senhora dos 
mares". 
No entanto, na primeira década do século 20, aquele país "pagava o preço" por seu 
pioneirismo. O surgimento de outros países industriais colocou um limite à expansão da indústria 
britânica. A experiência inglesa servia como modelo para os novos países industriais. Isso não 
quer dizer que eles imitavam passo a passo o que havia ocorrido com a Inglaterra. Isso, 
sabemos, era impossível. Eles não precisavam passar por todos os estágios, podiam "queimar 
etapas", pois, à luz da realidade britânica, acumulavam um maior conhecimento acerca do 
processo industrial. Assim, ameaçada pelo crescimento econômico das outras potências, a 
Inglaterra tinha - naquela época - equipamentos e tecnologias obsoletos em comparação, 
principalmente, com a forte indústria alemã. 
Vejamos então a experiência alemã. Em menos de uma geração, a Alemanha 
transformou-se de um conjunto de estados economicamente atrasados num país unificado e 
forte. Impulsionada pela indústria pesada, com uma base tecnológica muito avançada, a 
Alemanha adquiriu o status de potência em poucos anos. Sem romper as estruturas políticas 
mais arcaicas da sociedade, o Estado alemão apoiava-se no poder dos grandes proprietários de 
terra e impulsionava sua industrialização, que tinha como característica uma forte associação 
entre a indústria e os bancos. O estímulo à construção de estradas de ferro ajudou a consolidar o 
mercado interno, ao mesmo tempo que fortaleceu sua industrialização. 
O processo de industrialização alemão foi resultado de um planejamento cuidadoso. 
Para responder à forte concorrência britânica, o Estado alemão estimulou a formação de cartéis, 
favorecendo a generalização de grandes conglomerados industriais capazes de concorrer nos 
mercados nacional e internacional. Além disso, desde cedo, o Estado percebeu que sua 
desvantagem econômica poderia ser superada através da educação. Assim, ao patrocinar e 
estimular um sistema de educação técnica e científica direcionada à industrialização avançada, o 
Estado formou em poucos anos uma nova geração de homens científica e tecnicamente 
qualificados, "preparados para acabar rapidamente com a inferioridade alemã na indústria e para 
assegurar o primeiro lugar à Alemanha nas indústrias dependentes da ciência, que se estavam a 
tornar cada vez mais importantes". 
A França era a outra potência. Sua industrialização havia seguido um curso diverso do 
da Inglaterra, e possuía características surpreendentes. No início do século 19, a França tinha 
uma economia ainda dominada pelo setor agrário. A maior parte da população francesa vivia no 
campo. Neste sentido, o mercado interno era pouco desenvolvido, pois os camponeses só 
esporadicamente compravam algum produto industrial. As poucas indústrias existentes atendiam 
a uma pequena parcela da população que vivia nas cidades. Além disso, a concorrência dos 
produtos ingleses desestimulava os investimentos que pretendessem rivalizar com eles. 
Assim, ao contrário das indústrias têxteis inglesas, os franceses, desde o início, 
concentraram suas indústrias nos produtos de qualidade, aproveitando o fato de que a cultura 
francesa era, àquela época, sinônimo de beleza e bom gosto. Com o auxílio do Estado e com o 
apoio do capital inglês, foram construídas estradas de ferro que permitiram a consolidação do 
mercado nacional, encorajando o investimento na indústria em larga escala e a sua concentração 
em locais mais favoráveis. Apesar dos avanços porém, a França era ainda um país atrasado, se 
comparado à Inglaterra; particularmente, à Alemanha. Para alguns autores, a razão desse atraso 
em vez fosse decorrência do fato de que a industrialização francesa tenha só um fator de menor 
ruptura social, na medida em que preservou, por exemplo, a sociedade camponesa. 
A quarta e última potência era a Rússia. Sua força não estava na indústria. De cerra 
forma, ela era um "gigante com pés de barro". Havia de ser um setor industrial eficiente e 
tecnologicamente avançado, mas este setor uma ilha num país de camponeses, pois cerca de 
79% da população r eram ainda compostos de pessoas que viviam no campo. Portanto, um de 
imensos contrastes, onde o que havia então de mais moderno em ter industriais convivia com 
sociedades agrárias miseráveis. Se podemos falar que havia um processo industrial em curso na 
Rússia, não podemos nos esquecer de que tal industrialização era dependente de capital 
estrangeiro vésperas da Primeira Guerra Mundial, o capital internacional controla cerca de 72% 
dos investimentos diretos no setor metal/mecânico e investe fortemente na indústria têxtil, até 
então reservada ao investimento de capitalistas russos. 
A Rússia era, em suma, uma potência em número de habitantes. O populoso dos 
países europeus era dominado por um Estado militarizado e autoritário, que procurava atuar 
como intermediário entre o capital internacional e a indústria. Cabia a esse Estado a 
responsabilidade de assegurar a ordem e a paz social, tentando impedir as revoltas dos operários 
e camponeses contra a miséria que então assolava o país. A Primeira Guerra só foi crescer a 
miséria e a desorganização econômica, trazendo à luz a frágil da industrialização desse país. 
 
O SÉCULO 20 
 
A descoberta de novas fontes de energia, de novos remédios e de novas tecnologias 
fortalecia a crença na inesgotável capacidade humana de inventar, de criar novos produtos, 
dando a ilusão de que se estava vivendo um período áureo da humanidade. Era a Belle Époque, 
conhecida pelo seu otimismo, pela certeza de uma estabilidade e paz duradouras. Mas, na 
verdade, o desenvolvimento econômico daqueles quatro países (Inglaterra, Alemanha, Françae 
Rússia) acentuava a hipótese de conflitos. 
Os esforços da industrialização e a competição desenfreada tendiam a recriar antigas 
rivalidades. Nesse sentido, a deflagração de uma guerra entre duas ou mais potências era uma 
realidade possível. Não era à toa que a indústria bélica via aumentar os seus recursos, 
incentivando-se a criação de novas tecnologias para a morte. Um período de "Paz Armada" pois, 
além das novas armas, foi adotado, em quase todos os países, o serviço militar obrigatório. A 
obrigação do jovem em prestar serviço militar tinha por si só efeitos sociais bastante 
significativos, pois fazia crescer a influência do exército na sociedade e na política de seus países, 
a disciplina dos quartéis tornava-se, um exemplo a ser seguido em outros locais. 
Mas nenhum governante acreditava numa guerra longa que pudesse vir a envolver 
tantas nações. O surgimento do sistema de alianças e a formação de blocos atendiam aos 
interesses de cada país de se defender em relação à ofensiva de um terceiro, mas era difícil 
prever que isso provocaria um efeito dominó, ou seja, uma vez iniciado o conflito, as partes 
envolvidas num acordo se colocariam na defesa de sua aliança em contraste com a(s) outra(s). 
De certa forma, a ideia de que a guerra seria curta e rápida estava de acordo com a 
crença na superioridade de um país em relação ao outro. Com a industrialização, fortaleceu-se o 
nacionalismo dos países, o que significou a construção e generalização de um conjunto de 
tradições que procuravam convencer a população de cada país de sua importância e 
superioridade na história mundial. O passado de cada nação era contado de forma a mostrar sua 
força e a união de seu povo. Desdobrava-se do nacionalismo a ideia de um inimigo externo 
(outra nação), encarado como o responsável pelos problemas vividos pelo país. 
O Estado tinha então um importante papel a cumprir. A generalização da educação 
pública consolidou uma única língua nacional, construiu uma única história e, para tanto, 
utilizou-se de antigas mágoas e rivalidades. Era necessário forjar a noção da noção da 
superioridade de um povo em relação ao outro e criar, em caso de derrotas passadas, o desejo 
da revanche. O nacionalismo era assim criado para fortalecer a unidade nacional, a obediência de 
todos cidadãos aos interesses do país, fortalecendo o patriotismo, que, uma vez tratado, faria 
com que milhares de jovens se mostrassem dispostos a defender de seu país numa guerra. 
Não era difícil supor que a rivalidade entre França e Alemanha pode provocar um 
conflito. Afinal, a unificação da Alemanha em 1871 ocorreu interior da Guerra Franco-Prussiana, 
que significou para a França não mente a derrota, como também a perda das regiões da Alsácia 
(rica em ferro e carvão). Não era difícil supor que o rápido desenvolvimento, da indústria alemã 
ameaçava de frente os interesses ingleses e exigia, por parte da Inglaterra, medidas de 
contenção ao poder germânico. A Alemanha por sua vez, via com grande interesse a 
possibilidade real de se tornar a principal potência europeia. 
A expansão imperialista de cada um desses, países era um fato por si explosivo. 
Assim, por exemplo, a região dos Bálcãs parecia um barril de pólvora, envolvendo interesses da 
Áustria, da Rússia e do Império Turco. Ali seus interesses austríacos esbarravam no desejo de 
autonomia das minorias étnicas e no avanço russo na região. A Alemanha, interessada em 
preservar seus acordos com a Áustria formou então a Tríplice Aliança, composta por seu país, o 
Império Austro-Húngaro e a Itália (que mais tarde iria se aproximar de outra aliança). 
Havia ainda o confronto envolvendo a Inglaterra e a França em rela, à região do 
Marrocos. O esforço de superar a rivalidade entre eles criou o Entente Cordiale, que estabeleceu 
acordos para a definição das áreas coloniais na África. O acordo firmado entre França e 
Inglaterra acabou por definir uma estratégia contra o avanço alemão, uma vez que ambos os 
países sofriam os resultados - diretos ou indiretos - da expansão imperialista da Alemanha. A 
Entente Cordiale ainda contaria mais tarde com a participação da Rússia. Necessitando dos 
capitais franceses e ingleses para empreender sua industrialização, a Rússia firmou um acordo 
com as duas potências. Além disso, o país buscava expandir sua influência em direção aos 
Bálcãs, apoiando a independência dos povos eslavos, que então eram dominados pelo Império 
Austro-Húngaro. 
 
O INÍCIO E A GENERALIZAÇÃO DA GUERRA: AS FRENTES DE BATALHA 
 
A gota d'água para a eclosão da guerra foi um atentado que levou à morte o príncipe 
herdeiro do trono austríaco, realizado em Sarajevo, capital da atual Bósnia, então uma província 
do Império Austro-húngaro. Estavam ali em disputa dois projetos. De um lado, a Sérvia, país 
também localizado nos Bálcãs, que defendia a formação de uma grande Sérvia, capaz de abrigar 
todos os povos eslavos da região. Nesse sentido, aproximara-se da Rússia. De outro lado, a 
Áustria-Hungria, com suas ambições imperialistas na região. Em 1914, o herdeiro do Império 
Austro-Húngaro, prestes a assumir o poder, divulgava o seu projeto, que se resumia em 
constituir uma monarquia tripla, composta pela Áustria, Hungria e pela população eslava. Ao 
chegar em Sarajevo para propagar suas intenções, o herdeiro foi morto por uma sociedade 
secreta, a Mão Negra, que defendia a incorporação da Bósnia à Grande Sérvia e sua 
independência ante os interesses austro-húngaros. 
A morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro tornou-se assim o estopim do 
conflito, uma vez que a Áustria, apoiada pela Alemanha, exigiu a apuração sumária do episódio. 
Ora, como isso não foi feito, a Áustria declarou guerra à Sérvia. Para se precaver contra a 
ofensiva desse império, os série, procuraram a ajuda dos russos. Como um efeito dominó, o 
sistema de alianças transformaria um conflito regional na Primeira Guerra Mundial. Colocaram-se 
de um lado, e num primeiro momento, França, Inglaterra e Rússia; de outro, a Alemanha e a 
Áustria-Hungria. 
Os interesses alemães ficaram bastante claros logo no início do conflito, através da 
tática conhecida como Plano Schlieffen. Formulado por Alfred von Schlieffen, o plano partia da 
crença de que a guerra seria de curta duração. Assim, preparou-se um estudo de operações 
militares que previa a violação do território belga e do noroeste da França, passando a oeste de 
Paris. Segundo as previsões do plano, os franceses seriam então derrotados num período 
máximo de 40 dias. Após a derrota francesa, os alemães atacariam os russos. 
A ofensiva alemã, portanto, começou pela Bélgica e pelo noroeste da França e partia 
do pressuposto da inexorabilidade da vitória alemã, desconsiderando assim a capacidade de 
resistência, tanto de belgas quanto de franceses. A superioridade inicial do exército alemão fez., 
de fato, com que os franceses fossem obrigados a recuar. A chegada do exército inglês à Bélgica 
não impediu as primeiras derrotas dos aliados. Tudo indicava que os alemães estavam corretos 
em sua previsão. Eles estavam tão confiantes no sucesso seu plano que, já em fins de agosto de 
1914, as tropas germânicas se deslocavam para a Europa Oriental, em direção à Rússia. 
Logo no início da Primeira Guerra Mundial, portanto, estabeleceram duas frentes de 
batalha: a ocidental e a oriental. Na primeira, localizavam-se os embates dos exércitos alemães 
contra as tropas inglesas e francesas; já na segunda, encontravam-se os conflitos que 
envolviam, por um lado, alemães e austríacos e, pelo outro, os russos. 
Apesar da esperança de todos, a guerra mostrava-se cruel: ela não seria de curta 
duração. Logo, desde os primeiros meses, colocou-se a questão dos efetivos militares, em razão 
das enormesperdas sofridas no início do contato. O dispêndio de munições superou assim todas 
as previsões. Os Estados então envolvidos na guerra tiveram que se organizar para armar, 
equipar e abastecer os exércitos que, apesar das previsões otimistas, não voltariam logo para 
suas casas. 
Em relação ao confronto com a Rússia, na frente leste, os alemães perceberam que a 
situação ali era extremamente delicada. Apesar da superioridade germânica, do ponto de vista 
do arsenal militar, os russos eram bastante numerosos e, naquele momento, confiantes em sua 
responsabilidade de defender o país do tzar. No entanto, em fins de agosto de 1914, o exército 
abriu mão conseguiu uma expressiva vitória na frente oriental, na batalha de Tarmemberg. Em 
29 de outubro, os russos tiveram ainda que enfrentar mais um novo inimigo, com a entrada do 
Império Turco na guerra. Em resposta a França, Grã-Bretanha, Bélgica e Sérvia declararam 
guerra àquele país. 
Na frente ocidental ocorreu, ainda no ano de 1914, uma das principais batalhas da 
Primeira Guerra - a Batalha do Marne. A sua importância resume-se no fato de que ela 
consagrou a derrota do plano alemão e o surgimento da guerra de trincheiras. Ali, ambos os 
adversários iriam sentir os estados da guerra que dominaria a frente ocidental em quase todo o 
período do conflito. O domínio da artilharia e a incapacidade de vencer decisivamente o inimigo 
dariam um caráter estático à guerra, sem a possibilidade de aval real de nenhuma das partes 
envolvidas. De temporárias, as trincheiras passaram a ser então definitivas. Desde o Mar do 
Norte até Verdun, os soldados permaneciam entrincheirados e milhares de homens ali morreram 
sem uma das partes alcançasse a vitória. 
Os esforços dos aliados em vencer a guerra impunham a busca de novas estratégias 
de ataque. Assim, entre 1915 e 1916, as ofensivas inimigas conseguiam a vitória definitiva, 
apesar da preparação e do emprego da artilharia pesada. Em 23 de maio de 1915foi a vez da 
Itália se posicionar em relação ao conflito, declarando guerra contra a Áustria. Das batalhas que 
então se seguiram, a de Verdun mostrou ao mundo os efeitos arrasadores da guerra, quando os 
alemães tentaram quebrar o poderio francês. Os esforços dos aliados em vencer o inimigo deram 
origem, em 1916, ao Plano Joffre. Era, em suma, a decisão de um ataque franco-inglês na região 
do Somme, com o objetivo de destruir o avanço germânico. 
Dois acontecimentos importantes ocorreram nos anos de 1915 e 1916. O primeiro foi 
a chamada Campanha de Gallipoli. As forças aliadas desembarcaram na península de Gallipoli e 
ali encontraram as tropas turcas fortificadas e mais bem equipadas para a guerra de trincheiras 
do que eles próprios. A campanha, marcada por atos de heroísmo e cheia de sacrifícios culminou 
com a derrota aliada e sua retirada em junho de 1916. Como resultado da campanha, cabe 
ressaltar a entrada na guerra da Bulgária, ao lado da Alemanha, e a ocupação da Sérvia pelos 
inimigos. O segundo ocorreu em setembro de 1916, a chamada ofensiva do Somme, quando os 
tanques - inventados pelos britânicos - foram empregados pela primeira vez. 
O ano de 1917 seria decisivo para as forças aliadas. Em janeiro, a Alemanha 
proclamou o completo bloqueio da Grã-Bretanha e da França, e todas as potências neutras foram 
avisadas para que retirassem seus navios e vapores dos mares britânicos O bloqueio alemão, 
que significava na prática o afundamento indiscriminado de qualquer navio estrangeiro, acabou 
por impor a entrada dos Estados Unidos na guerra. 
Os Estados Unidos já eram uma potência e mantinham uma posição de neutralidade 
diante do que então acontecia com os países europeus. Assim, entre os anos de 1914 e 1917, os 
americanos não se envolveram no conflito, embora mantivessem estreita relação comercial com 
os Estados aliados, vendendo-lhes; alimentos e armas. Por conseguinte, o bloqueio alemão feria 
os interesses econômicos americanos, uma vez que impedia a manutenção das exportações 
deste país para os seus parceiros. Outro fator acelerou a decisão americana de declarar guerra à 
Tríplice Aliança: a saída da Rússia da guerra. 
A eclosão da Primeira Guerra Mundial foi um ponto de inflexão importante para a 
vitória da Revolução Russa de 1917. O crescimento da miséria e a desorganização da economia 
faziam crescer o descontentamento de todos os setores em relação ao Estado. O acirramento dos 
conflitos internos criou as condições para a Revolução de Fevereiro (de 1917), que derrubou o 
tzarismo e que, após sua queda, formou um governo provisório. No entanto, esse governo não 
atendeu aos anseios populares: manteve a Rússia na guerra não foi capaz de diminuir a miséria. 
A crise na indústria, a escassez de alimentos e a inflação davam os argumentos necessários para 
que os bolchevistas conseguissem aumentar sua influência junto ao operariado. A síntese c, lutas 
sociais de então. "pão, paz e terra", respondia aos apelos dos pobres do campo e da cidade. 
Assim, em outubro de 1917, os bolchevistas, liderados por Lenin, tomaram o poder e, um pouco 
mais tarde, com a paz de Brenon Litovsk (março de 1918), conseguiram retirar a Rússia da 
guerra. 
Após a saída da Rússia, os alemães ampliaram seus esforços na frente ocidental para 
dar fim ao conflito e conseguirem afinal a vitória. Os meses finais de 1917 foram bastante 
problemáticos para os aliados, pois parecia impossível romper a linha germânica e avançar. Além 
disso, tanto a Áustria, como a Alemanha, lançaram uma grande ofensiva no norte da Itália. 
As dificuldades das forças aliadas foram aos poucos sendo sanadas com os reforços 
americanos, cujos exércitos começaram a desembarcar na França. No entanto, durante os meses 
de abril e maio de 1918, os alemães ainda castigaram bastante as nações da Entente, mas isso 
teve um preço exército alemão estava também esgotado. 
Nos meses de junho e julho de 1918, apoiados pela aviação e pela artilharia pesada, 
os aliados começaram a acumular sucessivas vitórias. A criação de um comando único em julho, 
em mãos do general francês Foch, permitiu uma organização mais racional da ofensiva aliada. 
Um exemplo disso foi a chamada segunda batalha do Marne. Em junho, os austríacos foram 
derrotados pelos italianos. Logo depois, americanos e ingleses conseguiram romper as linhas 
alemãs e, a partir daí, estes foram sendo sucessivamente derrotados. 
Em 18 de novembro de 1918, após quatro longos anos de conflitos, mortes e 
sofrimentos para ambos os lados, o Estado alemão assinou o armistício. Para o povo alemão, 
porém, o reconhecimento da derrota significou a aceitação de um tratado marcado por 
humilhações ao povo e à nação alemã. A primeira Guerra Mundial terminara com a condenação 
de um único país visto como responsável pelo conflito. Mas sabemos que ela expressou de forma 
cruel a competição das potências e a crença na superioridade de um em detrimento de outra. 
Ao todo, 14 países da Europa entraram no conflito. Em 1917, um ano antes do 
término do conflito, apenas a Suíça, a Espanha e alguns reinos de escandinavos se mantinham 
neutros. Todos os demais foram arrastados a uma campanha cuja intensidade não parava de 
crescer. 
 
AS TÉCNICAS PARA O MASSACRE 
 
A morte de milhares de cidadãos franceses, alemães e ingleses, além de outros 
povos, ajudou a consolidar o adjetivo da Grande Guerra para este evento. Entre 1914 e 1918, 
muitos e muitos homens estiveram em lonas e cansativas batalhas, às vezes entrincheirados, 
lutando em nome de seu país, e morrendo por ele. A França teve 1,4 milhão de mortos, num 
período em que a população francesa era de 39 milhões de habitantes. A Alemanha perdeu 1,7 
milhão de homens, numa população total de 66 milhões. 
As perdas humanas representaramo fim do sonho de um mundo de paz por parte 
daqueles que, em nome de seus países, haviam assumido a responsabilidade de defendê-los. 
Eram, em sua grande maioria, jovens soldados e, por conta disso, suas mortes representavam a 
perda de parte da população economicamente ativa, ou seja, de pessoas capazes de exercerem 
várias atividades profissionais. Na Inglaterra, por exemplo, um quarto dos alunos das 
importantes universidades de Oxford e Cambridge com menos de 25 anos morreu em combate. 
Mas as mortes desses mesmos homens traziam também à luz uma realidade muito 
dura para os seus países de origem. Muitas mulheres tornaram-se, com a perda de seus 
respectivos maridos, as "viúvas de guerra". Antes mesmo de se saberem viúvas, elas e outras 
mulheres haviam ingressado no mercado de trabalho, substituindo os homens que estavam nas 
frentes de batalha nas profissões que, até então, eram reservadas ao sexo masculino. 
Aprendendo a sobreviver sem a ajuda de seus maridos, elas tiveram ainda que aprender a criar 
sozinhas seus filhos, órfãos dos homens que morreram na guerra. Estas crianças que muitas 
vezes nem chegaram a conhecer seus pais, ficaram conhecidas como "pupilos da nação". 
A morte de milhares de homens foi decorrência direta do fato de estarmos tratando 
de uma guerra de trincheiras que se tornou - nas palavras de um importante historiador - "uma 
máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história da guerra". No princípio, a 
construção de trincheiras era vista como uma medida temporária e tinha como finalidade ser um 
bom campo de tiro para as armas portáteis. No entanto, elas se tornaram o palco principal da 
guerra, na medida em que nenhum dos dois lados conseguia avançar. Milhões de homens 
ficavam une diante dos outros nos parapeitos das trincheiras em barricadas feitas com sacos de 
areia, Ali, conviviam diariamente com ratos e piolhos - agentes transmissores de infinitas 
doenças. Sem auxílio médico, morriam muitas vezes em razão de enfermidades. A guerra de 
trincheiras impedia ainda a remoção dos cadáveres abandonados, o que só agravava o estado 
geral da degradação e dor. A guerra de trincheiras trazia também graves consequências 
psicológicas para aqueles que sobreviviam ao caos. Nas palavras de um famoso historiador, o 
combatente estava a todo instante sujeito a uma tensão nervosa e o abastecimento não 
chegava, os bombardeios martelavam as posições de destruir as redes, as trincheiras e os 
abrigos, os obuses de grosso calibre abriam enormes buracos, que transformavam o terreno num 
campo de crateras que a chuva convertia em lamaçal. O sofrimento daqueles homens pode ser 
sentido através de alguns seus depoimentos, escritos nos campos de batalha. Um combatente da 
ilha do Somme escreveu: 
"A mesma velha trincheira, a mesma paisagem, 
Os mesmos ratos, crescendo como mato, 
Os mesmos abrigos, nada de novo, 
Os mesmos e velhos cheiros, tudo na mesma, 
Os mesmos cadáveres no front, 
A mesma metralha, das duas às quatro, 
Como sempre cavando, como sempre caçando, 
A mesma velha guerra dos diabos" 
Uma carta encontrada no bolso de um soldado alemão afirmava: 
"Estamos tão exaustos que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A mais coisa que 
poderia acontecer seria os ingleses avançarem e nos fazerem pioneiros. Ninguém se importa 
conosco. Não somos substituídos. Os aviões caçam projéteis sobre nós. Ninguém mais consegue 
pensar. As rações estão esgotadas - pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há uma única 
gota de água. É o próprio inferno. 
Entrincheirado, o soldado deveria estar disposto a resistir aos bombardeios, à fome 
e ao desespero. Com um pouco de sorte poderia vir a sobreviver aos caos, mas, para que isso 
pudesse ocorrer, era preciso também que ele estivesse imbuído da ética da responsabilidade, da 
crença de que a vitória na guerra dependia de sua coragem, de sua capacidade sobre-humana de 
resistir. A resistência era um valor, que uma vez compartilhado por todos os soldados 
entrincheirados, permitia que eles acreditassem numa vitória inevitável. 
A proximidade da morte unia os soldados e eliminava as diferenças de classe. A 
hierarquia social era substituída pela hierarquia fundada na coragem física e na integridade. O 
inimigo era o outro, o estrangeiro. Para o francês, o alemão era o assassino do seu irmão e o 
espírito de vingança prevalecia sobre o cansaço e o medo. Para o alemão, a mesma coisa. Era o 
francês o responsável pela desgraça, pelo surgimento e generalização da guerra. 
Entretanto, para piorar ainda mais a vida dos soldados, os exércitos em conflito 
experimentaram novas tecnologias para a morte. Empregado pela primeira vez pelos alemães na 
primavera de 1915, o gás fazia aumentar as baixas em ambos os lados. Muitos dos gases então 
utilizados não eram muito eficazes, mas provocavam um efeito psicológico efetivamente 
arrasador. Soldados entrincheirados ficavam apavorados com medo de uma possível morte 
provocada por envenenamento. O mais conhecido dos gases então utilizados ficou conhecido 
com o nome de gás mostarda, a mais temida de todas as armas químicas da Primeira Guerra 
Mundial. Diferentemente dos outros gases, que atacavam apenas o sistema respiratório, este 
queimava qualquer parte exposta do corpo humano, incluindo os olhos. 
Os britânicos, por sua vez, inauguraram, em setembro de 1916, o emprego de 
tanques. O tanque era uma arma que estava sendo desenvolvida em segredo, e, por conta disso, 
a origem do termo tank nada mais era do que uma alusão de que seria apenas um tanque de 
armazenar água. Na verdade, eram veículos blindados que tinham como objetivo vencer as 
trincheiras do inimigo. Alguns depoimentos de guerra nos informam que os alemães ficaram 
bastante assustados quando viram pela primeira vez aquele monstro que cuspia balas por todos 
os lados. Não foi nessa guerra, no entanto, que tais armas mostraram todo o seu poder de 
destruição. Problemas técnicos impediram a completa eficácia dos tanques. Somente na Segunda 
Guerra os tanques e os gases viriam a comprovar sua capacidade de produzir morte aos 
milhares. 
O emprego de aeronaves é, sem dúvida, um capítulo interessante da Primeira 
Guerra Mundial, principalmente no que se refere à utilização dos zepelins, aeronaves (chamadas 
dirigíveis) alongadas, cheias de gás hélio. O primeiro dirigível impulsionado a motor foi 
construído do pelo alemão Paul Haenlein, em 1865. Logo depois, ele foi aperfeiçoado pelo 
também alemão, conde Zeppelin, daí o nome dessas aeronaves. Com um grande sucesso obtido 
antes da guerra no transporte comercial, o zeppelin havia impressionado os militares, e muitos 
acreditaram na sua capacidade de servir como arma de guerra. Além disso, as autoridades 
navais alemãs estavam convencidas de que o zepelim era capaz de desempenhar importante 
papel nas operações navais. 
Em 1906, Santos Dumont realizou o primeiro vôo do "mais-pesado no ar"; no 
entanto, a supremacia do dirigível continuava, pelo menos na mente do público. Isso explica o 
medo da população inglesa na primeira noite ante a declaração de guerra. Muitos acreditavam 
que os zepelins iriam a Londres, à noite. Segundo um estudioso do papel a Grã-Bretanha fora, 
durante muitos anos, o alvo da propaganda. Alguns comentaristas tinham, inclusive, escrito 
artigos na imprensa pressagiando os ataques que viriam do Mar do Norte. 
Não foi dessa vez, no entanto, que a aviação mostraria também o poder de 
destruição. Na Primeira Guerra, ela foi usada basicamente para conhecimento e observação dos 
tiros da artilharia. 
Foi no mar que novas armas tiveram o efeito desejado, ou seja, ajudou a pôr fim ao 
conflito. Ali, as forças navais utilizaram novos modelos de cruzadores e submarinos alemães e 
couraçadose submarinos ingleses por exemplo. Ambos os lados procuraram destruir os navios 
carregados de suprimentos para os inimigos. Ao afundá-los, eles impediam que as populações 
civis tivessem alimentos suficientes para sobreviver. Desta forma, pretendiam matar de fome os 
inimigos. 
Os submarinos foram uma das grandes esperanças da Alemanha. No início de 1917 
os alemães aumentaram a atividade da guerra submarina objetivando vencer a Inglaterra antes 
da entrada dos Estados Unidos. A intenção da guerra submarina aumentou as perdas britânicas, 
até junho. No entanto, o início do sistema de comboios e outras táticas anti-submarinas 
reduziram muito a eficácia do submarino. A partir daquele momento outras estratégias 
procuravam impedir a destruição de navios, particularmente mercantes. 
No entanto, durante longos meses, em razão dos ataques de submarinos e navios, 
velhos e crianças - ausentes dos campos de batalha sentiam na pela, ou melhor, no estômago, o 
efeito mais cruel de uma guerra: a morte pela fome. Indefesos em suas moradias, os cidadãos 
de inúmeros países viviam a generalização da miséria e da inanição. Muitos morriam literalmente 
de fome, enquanto outros contraíam doenças ocasionadas por uma alimentação deficiente e 
irregular. 
Para aqueles que haviam acreditado um dia na superioridade inquestionável de seu 
país e de seu povo e apostado numa vitória rápida, a fome trazia a certeza de que a guerra não 
mais se limitava aos campos de batalha Ela tornava-se presente no cotidiano de todas as 
pessoas e apresentava-se viva através da fome, como a forma cruel de uma técnica de 
massacre. 
 
OS ACORDOS DE PAZ 
 
Antes mesmo do fim do conflito, como já foi referido, a Rússia saiu da guerra, mas 
sua retirada não foi tranquila. Ao contrário, ela representou um jogo de forças no interior da 
nação russa e expressou as disputas políticas pelas quais passava a nova sociedade, surgida com 
a Revolução de 1917. Após tomarem o poder, os bolchevistas tinham que resolver uma questão 
fundamental, pois, para salvar a revolução, eles tinham que fazer a paz - desejo expresso por 
soldados, camponeses e operários. Os bolchevistas desejavam uma paz sem anexações 
territoriais, mas não era essa a intenção de seus inimigos, os austríacos e os alemães. Coube a 
Leon Trotsky, um dos líderes da revolução, encaminhar as negociações com os inimigos. 
A estratégia de Trotsky era a de afirmar que não assinaria uma paz anexionista, ao 
mesmo tempo que declarava terminado o estado de guerra. Esta atitude confundia os alemães, 
mas na verdade encobria o fato de que dificilmente o exército russo tinha condições de voltar a 
combater. Havia também a crença de que, caso o Estado alemão decidisse prosseguir o conflito 
contra os russos, os soldados e operários alemães não obedeceriam às ordens, irmanados com 
os princípios da Revolução de 1917. 
A realidade, porém, foi outra. Ao contrário dos desejos dos bolchevistas, a Alemanha 
voltou a combater e os soldados alemães defenderam sua pátria e não foram sensíveis aos 
apoios do operariado russo. A força do nacionalismo em muito maior do que o desejo de união 
de todos os operários. Sem saída, o novo Estado da Rússia aceitou o Tratado de Brest-Utovsk, 
que foi, sem sombra de dúvida, uma paz humilhante. Pelo tratado, os bolchevistas foram 
obrigados a aceitar a perda da Finlândia, da Polônia russa e da Ucrânia, assim como a dos 
chamados países bálticos: a Lituânia, a Letônia e a Estônia. 
No início de 1918, o então presidente dos Estados Unidos apresentou ao Congresso 
americano um plano de paz, que pretendia ser uma solução justa para o fim da guerra. Seu 
plano ficou conhecido como "Os 14 pontos que o presidente Wilson". Segundo o presidente 
americano, os Estados Unidos haviam entrado na guerra para precipitar a paz entre os povos e, 
neste sentido o plano tinha como finalidade assegurá-la, constituindo-se como fundamento das 
futuras negociações com os alemães. Sua divulgação pública e internacional acabou por 
fortalecer a suposição dos alemães de que os acordos de paz seriam baseados naqueles 
princípios, numa "paz sem vencedores". 
Para tanto, o plano estabelecia: 
1. abolição da diplomacia secreta, ou seja, a diplomacia deveria se tomar pública; 
2. plena liberdade de navegação, tanto em período de paz quanto de guerra, o que 
significava uma crítica à tática do bloqueio naval; 
3. remoção, quando possível, de todas as barreiras econômicas entre as nações e o 
estabelecimento de uma igualdade de condições de comércio e as nações; 
4. limitação dos armamentos nacionais, reduzidos ao menor nível; 
5. ajuste imparcial das pretensões coloniais, considerando-se também os interesses 
dos colonizados; 
6. ajuda à Rússia, para que este país pudesse obter uma oportunidade desimpedida e 
desembaraçada para a determinação independente de seu desenvolvimento político; 
7. restauração da independência da Bélgica; 
8. devolução da Alsácia-Lorena à França; 
9. reajustamento das fronteiras nacionais italianas; 
10. autonomia dos povos da Áustria-Hungria; 
11. restauração da Romênia, de Montenegro e da Sérvia, assegurando acesso ao mar 
aos sérvios; 
12. autonomia dos povos até então submetidos aos turcos; 
13. criação de uma Polônia independente; 
14. criação de uma Sociedade ou Liga das Nações; 
Para o presidente americano, existia um princípio que norteava os seus quatorze 
pontos: era o princípio de justiça para todos os povos e nacionalidades, e o direito de cada um a 
viver em iguais condições de liberdade e segurança, uns com os outros, fossem eles fortes ou 
fracos. 
A proposta do presidente Wilson se resumia numa paz sem vencedores, onde 
princípios gerais deveriam assegurar o fim do conflito e o estabelecimento de um mundo de paz. 
É verdade que a restituição da Alsácia e Lorena à França era algo então considerado justo, assim 
como a libertação da Bélgica e a criação de uma Polônia independente. Mas, para franceses e 
ingleses, algumas das proposições de Wilson eram mais do que discutíveis. A Inglaterra não 
estava nem um pouco interessada em defender o princípio da liberdade dos mares. A França, 
principal campo de batalha da frente ocidental, acreditava que a Alemanha devia fazer 
reparações pelos danos da guerra em seu território. 
Em suma, a proposta do presidente dos Estados Unidos não agradou aos franceses e 
ingleses. Para aqueles que haviam lutado durante longos quatro era preciso mais do que 
intenções para assegurar uma paz definitiva no continente europeu. Para eles, era preciso 
impedir, a todo custo, que a Alemanha pudesse voltar a ameaçar os vencedores. Era preciso 
ainda desarmar aquele país e obrigá-lo a reparar os sofrimentos das populações das nações 
aliadas. 
Em 19 de janeiro de 1919 reuniu-se a Conferência de Paris, onde os termos da paz 
foram discutidos com a presença dos representantes da França, Inglaterra e, é claro, dos 
Estados Unidos. Os derrotados não foram ouvidos. Após a Conferência, comunicaram-se aos 
vencidos e ao mundo os termos de uma paz não-negociada e imposta. 
Conhecido pelo nome de Tratado de Versalhes para os aliados e "Ditado de Versalhes" 
para os alemães, os termos da paz eram profundamente cruéis para com a Alemanha. Em 
primeiro lugar, ela era obrigada a restituir a região da Alsácia e da Lorena à França, além de 
entregar a bacia carbonífera do Sarre para ser explorada pela França durante quinze anos. Findo 
este prazo, deveria haver um plebiscito para que a população decidisse pela nacionalidade 
francesa ou alemã. 
Havia outras questões territoriais impostas pelo tratado. Deveriam ser entregues os 
distritos de Eupen e Malmedy à Bélgica; da maior parte do Schleswig à Dinamarca, de Memel à 
Lituânia, de grande parteda Prússia Oriental à Polônia, inclusive a bacia carbonífera da Alta 
Silésia. Além disso, estabelecia-se uma faixa de terra, dividindo o restante da Prússia Oriental 
com a Alemanha, conhecida com o nome de "corredor polonês", para dar uma saída marítima à 
Polônia. Transformava-se ainda a cidade alemã de Dantzig em cidade livre, sob o controle da 
Liga das Nações, e dividia-se todo o império o colonial alemão pelas potências vencedoras, 
principalmente França e Inglaterra. 
Como podemos ver, a humilhação imposta à Alemanha representava o fim de sua 
soberania sobre o seu território. Porém, ela não se restringia a isso. Havia também as chamadas 
indenizações punitivas. Elas significavam que a Alemanha deveria pagar 132 bilhões de marcos-
ouro, divididos em quotas, num prazo de trinta anos! Eram ainda confiscados todos os 
investimentos e bens nacionais ou privados alemães existentes no estrangeiro. Os alemães eram 
obrigados também a entregar anualmente 40 milhões de toneladas de carvão aos aliados 
europeus, durante um período de 10 anos! Isso tudo significava que o povo alemão faminto pela 
guerra teria que reunir os esforços para pagar o impagável às forças vencedoras. 
Não satisfeitos, os aliados fizeram constar no Tratado de Versalhes ainda mais 
humilhações. A Alemanha foi obrigada a admitir sua inteira responsabilidade pela deflagração da 
guerra. E isso também significava que ela teria que aceitar a desmilitarização do seu exército. O 
tratado era bastante minucioso nesse aspecto. Segundo seus artigos, as forças militares 
deveriam ser desmobilizadas e reduzidas a apenas sete divisões de infantaria e três divisões de 
cavalaria. Além disso, durante doze anos, o engajamento no exército não poderia ser obrigatório, 
mas sim voluntário. 
O tratado não deixou escapar nenhum detalhe que pudesse significar aos olhos dos 
vencedores, uma ameaça alemã. Quanto à marinha, estabelecia-se o número e os tipos de 
navios, além da tonelagem máxima permitida. Submarinos eram proibidos, pois os vencedores 
sabiam o papel desempenhado por eles durante a guerra. Os canhões pesados, os aviões 
militares e a artilharia antiaérea também estavam interditados. 
Os aliados dos alemães - o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano e a Bulgária 
- também foram punidos. Pelo Tratado de Saint Germain, de 10 de setembro de 1919, e de 
Trianon, de 4 de junho, o Império Austro-Húngaro desapareceu, dando lugar a diversos países 
independentes: Áustria, Hungria, Checoslováquia, Iugoslávia e Polônia. 
O Império Otomano também foi punido, principalmente pela pressa exercida pela 
Inglaterra, interessada em assegurar sua dominação Mediterrâneo Oriental. Nesse sentido, pelo 
Tratado de Sevres, de 11 de agosto de 1919, novos Estados surgiram da ruína daquele império: 
o Iraque, a Síria, o Líbano, a Palestina e a Transjordânia. A Turquia - nome que assumiu o núcleo 
do ex-império Otomano - reduziu-se ao planalto anatoliano e suas adjacências imediatas. 
A Bulgária, apesar de não ter participado efetivamente da guerra, perdeu, pelo 
Tratado de Neuuilly, de 27 de novembro de 1919, todas as suas costas marítimas no Mar Egeu, 
em favor da Grécia. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A Primeira Guerra Mundial terminara, mas não cessaram ali os seus efeitos. As 
consequências demográficas evidenciavam uma sensação de envelhecimento da Europa e a 
desorganização da família. Do ponto de vista econômico, a destruição das riquezas, o problema 
da reconversão para uma economia de paz e os empréstimos dos Estados Unidos alimentaram a 
inflação e, com ela, a fome, a miséria e a desesperança. 
Na Alemanha derrotada e humilhada pelo Tratado de Versalhes, as consequências da 
guerra e a posterior crise de 1929 se expressaram na existência de 5,4 milhões de 
desempregados. Se não podemos falar que aquele tratado determinou a posterior ascensão do 
nazismo na Alemanha, podemos, no entanto, assegurar que ele marcou toda a vida política 
desse país, bem como gerou as condições que permitiram a vitória do nazismo, em 1933. 
Com a Grande Guerra, o sonho deu lugar ao pesadelo, o otimismo ao pessimismo e a 
razão cedeu lugar à violência. Após quatro longos anos de conflito, os ex-combatentes voltaram 
para as suas casas, mas não encontraram mais a mesma sociedade pela qual haviam lutado. O 
aumento da miséria e das incertezas fazia fortalecer a crença de que a violência era a melhor 
saída. Se a paz dera lugar a uma guerra, como reconhecê-la novamente? 
Os soldados haviam lutado em nome de seu país e acreditavam na sua superioridade. 
Como seria possível agora defender a igualdade de todos os homens? Em nome do nacionalismo, 
muitos haviam ido para os campos de batalha e os que ficaram cuidaram de fazer continuar a 
vida. A presteza com que as pessoas se identificavam com a sua nação tinha sido posta à prova. 
E, após a guerra, era preciso recomeçar. Mas para que isso fosse possível, o nacionalismo 
tornava-se mais uma vez o elemento de união entre os cidadãos de cada país, continuando a 
operar com a ideia de que as razões das mazelas sociais encontravam-se no outro, naquele 
identificado como estrangeiro. 
Os anos posteriores à Primeira Guerra Mundial iriam mostrar que ela não terminara. 
As rivalidades continuaram, o desejo de revanche também. A Segunda Guerra não tardaria a 
acontecer.

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