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CUNHA, Luiz Antônio. Uma leitura da teoria da escola capitalista. Rio de Janeiro: Achiamé, 1980. 80p. Luan Cruz dos Santos* *Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa, na Universidade do Estado do Amazonas-UEA / Escola Normal Superior-ENS, lcds.let@uea.edu.br Manaus-AM, Out. 2016. Luiz Antônio Cunha é um escritor, professor universitário brasileiro e pesquisador em instituições de ensino, como a PUC/RJ, a FGV, a Unicamp, a UFF e a UFRJ. Possui obras publicadas sobre Educação Profissional, Educação Superior e Escola Pública, desde 1973, totalizando 16 lançadas até 2013. Em sua obra mais recente, intitulada Educação e religiões: a descolonização religiosa da escola pública, Cunha defende que a Escola Pública não pode ser uma arena de disputas religiosas. Na década de 1980, o presente autor faz uma análise da teoria desenvolvida por Christian Baudelot e Roger Establet, em L’École Capitaliste en France, sobre a visão marxista da escola capitalista francesa, com o objetivo de apresentar o pensamento destes teóricos aos leitores brasileiros, além de destacar a essência da escola capitalista e fazer críticas pertinentes aos dois teóricos. Em uma breve introdução, Cunha comenta a metodologia utilizada na teoria de Baudelot e Establet, a qual consiste na análise minuciosa da educação escolar na França e, a partir daí, construir conceitos e uma proposta de política educacional proletária. O autor deixa claro que seu estudo é voltado apenas à apresentação e análise da teoria da década de 1970 e que não irá fazer correlações ao contexto da França contemporânea. Além disso, Cunha aproveita para fazer uma primeira crítica à teoria, pois os teóricos alegam que a compreensão da escola capitalista francesa pode ser aplicada à norte-americana, porém as nomenclaturas utilizadas pelos autores, as quais são voltadas à escola francesa, não facilitam essa tal “compreensão”. Essa crítica do autor serve para mostrar ao leitor que a teoria da escola capitalista apresenta falhas. Em tese, a ideologia da escola deveria ter a função de educar, formar e fornecer um estudo gradual, no qual o ensino se tornaria mais complexo a cada etapa, relacionando os níveis de idade com os de aquisição do saber, além de ter o papel de reduzir as diferenças sociais até alcançar a unificação, pondo fim às divisões da sociedade. Porém, Baudelot e Establet criticam essa ideologia, dizendo que a “a escola não é contínua, mas descontínua” (p. 13), pois ao invés de oferecer meios para a “promoção profissional” dos indivíduos, oferece a discriminação, marcada pela divisão entre burguesia e proletariado, ou seja, duas redes de escolarização, que atendem aos sistemas econômicos e sociais: rede Secundário-Superior (SS) e rede Primário-Profissional (PP). O primeiro abarca o grupo de crianças com desempenho “normal” e “superior”, portanto satisfatório. O segundo é composto pelas crianças com desempenho insuficiente, “abaixo do normal”, portanto insatisfatório. Cunha utiliza a compreensão de Baudelot e Establet sobre as ideias marxistas das relações sociais de produção, a qual exprime a essência do conceito geral de capitalismo. Para Marx, a sociedade se divide de acordo o trabalho produtivo e os meios de produção, no qual o proletariado oferece a força de trabalho e a burguesia oferece as condições para que esse trabalho aconteça, pois são proprietários dos meios de produção. Nesse contexto, o aparelho escolar “é o único a inculcar a ideologia dominante sobre a base da formação da força de trabalho” (p. 23 e 24). De acordo com os teóricos da escola capitalista, o autor da obra diz que “a ideologia proletária é o ‘instinto’ do proletariado, que permite a essa classe reagir contra a exploração, a opressão e a dominação ideológica”. Segundo Baudelot e Establet, a escola acaba exercendo a função de ensinar aos alunos da rede Primária- Profissional do que precisam, sujeitando as suas necessidades com a do capital. A estrutura da escola capitalista, segundo a interpretação dos teóricos a respeito das ideias marxistas, o aparelho escolar é separado da produção, ao mesmo tempo que o trabalho intelectual é separado do trabalho manual. Porém, a escola não está separada da produção, pois aquela está mediada a esta pelo mercado de trabalho. Logo, a escola pode levar tanto à produção quanto ao desemprego, ou seja, à exploração. Na obra, também é comentada sobre a discriminação social entre as redes, que iniciam a partir do momento em que a rede PP trata os proletários como “irresponsáveis, improdutivos, apolíticos” (p. 37), suprimindo do seu ensino assuntos de cunho social, enquanto os de rede SS tem o contato desde cedo com “os instrumentos de dominação da ideologia burguesa” (p. 38). Isso marca os mecanismos de divisão no aparelho escolar. Baudelot e Establet se opõem a teoria de que a “a escola impõe uma norma linguística e cultural” (p. 41) voltada a realidade da família burguesa, pois não há “ligação entre essas práticas [linguísticas] e as condições materiais de existência das diferentes classes sociais” (p. 42). Ao final do ano letivo, portanto, é feita a divisão escolar dos que sabem e dos que não sabem ler e escrever, de acordo com a norma linguística burguesa. Ou seja, a própria escola faz a separação da sociedade sob critério intelectual, além de instigar a concorrência, tanto no ambiente escolar como no mercado de trabalho. Isso é questionado pelo movimento operário, o qual ambos os teóricos reconhecem como uma reivindicação de direitos, no qual, sob visão socialista, o proletariado estaria no comando, lutando pela democratização do ensino e fazendo da escola um meio de inclusão para todos. Cunha finaliza o livro com um capítulo voltado às críticas feitas por outros teóricos sobre a obra L’École Capitaliste en France, de Baudelot e Establet. Dentre os críticos estão: Gerard Mendel e Christian Vogt; H. Lagrange; Nicos Poulantzas; Georges Snyders e Bruno Lautier e Ramon Tortajada. A maioria destes criticou principalmente a divisão do aparelho escolar em duas redes (Primário-Profissional e Secundário-Superior) e o ensino da escola ser voltado principalmente às ideologias burguesas. Quanto aos elogios, Snyders louva os teóricos pela percepção de que a escola não é única e que, assim como a sociedade, também possui divisões. Ele também reconhece a importância da perspectiva dos dois autores, que desfazem a imagem ruim passada pelo proletariado. Dessa forma, a obra Uma Leitura da Teoria da Escola Capitalista, de Luiz Antônio da Cunha, mostra de forma sucinta os principais conceitos e elementos da teoria marxista sobre o aparelho escolar, sob visão de Baudelot e Estabelet, em uma análise sustentada por críticos renomados, os quais indicam que a teoria da escola capitalista é válida, porém apresentam falhas, que serão discutidas e talvez alteradas conforme o decorrer histórico da sociedade capitalista. O livro é indicado principalmente para os interessados em sociologia da educação, sendo útil na apreensão de conceitos e na formação crítica a respeito do assunto tratado.
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