O Dia e o Público Feminino na Década de 70 Anne Béatrice Sousa Lima² Claryanna Alves de Araújo³ Prof. Drª Ana Regina Rêgo (Orientadora) Universidade Federal do Piauí (UFPI) Resumo O presente artigo busca traçar um perfil das colunas do jornal O Dia direcionadas ao público feminino da década de 1970. Observar a periodicidade das publicações, a importância dada pelo jornal e pelas leitoras, assim como a influência dessas colunas no dia-a-dia das teresinenses. Procurar saber os principais assuntos abordados, a regionalidade desses temas para entender a influência dos costumes nacionais e internacionais no cotidiano da mulher da capital piauiense. Como metodologia foi aplicada inicialmente pesquisa bibliográfica, pesquisa no acervo do jornal O Dia e entrevista com mulheres de 55 anos ou mais, que viveram em Teresina na década de 70. Palavras-chave: Jornal O Dia; público feminino; influência; década de 70; Teresina; moda ¹ Trabalho apresentado no GT 4 - Mídia Impressa do II Encontro Nordeste de História da Mídia , Teresina, 20 e 21 de junho de 2012 ²Acadêmica do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo – da UFPI – Universidade Federal – campus de Teresina (PI). E-mail: anne-beatrice@hotmail.com ³ Acadêmica do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo – da UFPI – Universidade Federal – campus de Teresina (PI). E-mail: claryalves@hotmail.com A década de 70 em Teresina Teresina, na metade do século XX era considerada pequena, com péssimas condições de iluminação, sem asfalto, esgoto sanitário ou sistema de comunicação e precário serviço de abastecimento de água. Porém, por causa do modelo econômico escolhido pelos governos populistas e militares da época, ela estava passando por um processo de modernizações sociais e econômicas. Devido ao grande contingente de migrantes que Teresina recebia, ela acabou criando numerosos serviços e concretizou sua função de centro comercial. Essa extraordinária expansão demográfica acabou provocando o adensamento dos problemas sociais, notadamente aqueles relacionados com a habitação, mostrando o quanto a cidade estava despreparada para esse aumento populacional. A decadente ação dos sistemas públicos, a grande concentração de pessoas no centro, e os costumes trazidos pelos homens e mulheres originários do interior rural do Piauí e de outros estados do nordeste, evidenciou o despreparo enquanto à limpeza pública. Por isso, a Prefeitura Municipal de Teresina, em nota oficial, apontou os empenhos para conservar a cidade limpa, ainda que para os gerenciadores municipais a população não ajudasse: O prefeito vem, ultimamente, enviando todos os esforços no sentido de manter permanentemente limpos os passeios e os leitos das vias públicas. Nesse sentido, porém, o Serviço de Administração está encontrando sérias dificuldades, para levar a bom êxito essa determinação. É que, alguns proprietários ou inquilinos menos esclarecidos, ao invés de colocarem o lixo no interior dos prédios, ou em suas entradas, portões ou corredores, em recipientes estanques, põem-no pelas esquinas das ruas, no chão, em flagrante desrespeito às disposições do Código de Postura do Município. Essa prática causa péssima impressão aos que nos visitam. O Prefeito espera a cooperação do povo e esclarece que tomará as providências legais contra o abuso. (PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA, 1959, apud NASCIMENTO; MONTE, 2009, p. 126) Na década de 1970, a deficiência de políticas públicas urbanas direcionadas ao controle do rápido processo de urbanização e o crescimento de dificuldade originados no interior do estado, determinou grandes incoerências refletidas na capital, não só nos elementos sinalizadores de crescimento urbano, mas, nomeadamente, no seu caráter excludente e expropriador. Isso resultou no afastamento das famílias mais carentes do centro para a periferia da capital. Teresina possui um crescimento populacional extraordinário, que seria maior se não fossem os problemas relacionados ao péssimo fornecimento de água e luz. Quanto ao abastecimento de energia elétrica, só seria resolvido com a construção da Barragem de Boa Esperança, finalizada, apenas, na década de 1970. Do ponto de vista urbanístico, a cidade é considerada bonita e atraente aos olhos dos visitantes, por ser fora dos “padrões” das demais cidades do país e por possuir ruas organizadas e planejadas, tal qual a capital do país, Brasília. No entanto, considerando os modelos das principais capitais do país, a vida noturna da cidade deixa muito a desejar: cidade de vida noturna quase morta, pouco servida de casas de diversão no centro urbano. Os dois cinemas que possui têm muito a desejar. Não há respeito dentro deles por causa de elementos mal educados que parece que vão ali fazer molecagem e não assistir aos filmes. As gritarias ensurdecedoras e as piadas inconvenientes são comuns em nossos cinemas. Dois cinemas são insuficientes para nossa capital. Precisamos mais de dois na artéria central da cidade, mas cinemas modernos, confortáveis, com ar refrigerado e mobiliário decente. ("TERESINA".ESTADO DO PIAUÍ, 1963, apud NASCIMENTO, 2007, p. 198) Devido ao rápido aumento demográfico, os problemas sociais se intensificam, sobretudo aqueles relacionados a moradia ou a falta dela. O salto populacional de Teresina se deu na década de 70 devido ao intenso fluxo migratório resultado das dificuldades de sobrevivência na zona rural do Estado e por causa da procura por melhor qualidade de vida na capital. em 1950 a população de Teresina era 90.723 habitantes; em 1970 atingia 363.666 habitantes; e em 1980 somava 538.294 habitantes. A maioria dessa população é oriunda de pequenas cidades piauienses, principalmente da zona rural, mas também de outros estados do nordeste (BACELLAR, 1994, apud MELO, p. 3596). As modificações nos costumes, um novo padrão de conforto e bem estar, as novidades de consumo e lazer produziram uma ampliação do território da capital piauiense, desafogando e tirando o foco populacional de alto padrão do centro antigo, que acaba por perder moradores. Em consequência, no início da década de 1970 foi construída a Universidade Federal do Piauí (UFPI), após o Jóquei Clube, em direção ao nordeste da cidade, hoje bairro Ininga. Com a instalação da Universidade Federal do Piauí, esperava-se que ela contribuísse para o desenvolvimento intelectual não só do Estado, mas também do Nordeste. O desenvolvimento e a centralização do eixo leste e sul das atividades de serviços e comercio é facilitado devido à construção da ponte sobre o Rio Poty e a construção da Avenida João XXII. Já, na segunda metade da década de 1970, o "milagre econômico" programou a política habitacional e foram edificadas mais de 7.000 casas. Foram construídas em Teresina mais de 38.000 unidades habitacionais, abrigando mais de 150.000 pessoas até a extinção do BNH (TERESINA, [200_], apud MELO, p. 3599). A inauguração de tantos conjuntos habitacionais em diversas áreas da cidade acabou por acelerar o processo de urbanização de Teresina, ainda que os contingentes de nível de renda mais baixos prosseguissem afastados do sistema e fixados cada vez em áreas menos valorizadas e mais separadas. Isso, somado ao crescimento do fluxo migratório, acabaria por gerar um alto nível de desemprego e alarmantes problemas sociais ligados a ampliação desorganizada do espaço urbano e o aumento de aglomerados habitacionais irregulares, situados em pontos desérticos,