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Scheila Maria 2017 ACROMEGALIA E GIGANTISMO DEFINIÇÃO Doença resultante da excessiva produção do hormônio do crescimento (GH), usualmente a partir de tumor hipofisário, levando a crescimento do esqueleto e alargamento de partes moles. DEFINIÇÃO Acromegalia é uma doença sistêmica crônica, decorrente da produção excessiva do GH e do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1). Clinicamente, ela se caracteriza pelo surgimento de feições grosseiras e crescimento de extremidades. O mais relevante nessa doença, no entanto, é que ela é subdiagnosticada e está associada a elevada morbimortalidade e redução média de 10 anos na expectativa de vida, em função de suas complicações sistêmicas. Na sua quase totalidade, a acromegalia é causada por um adenoma hipofisário secretor de GH (somatotropina). FISIOLOGIA: O GH é secretado pelas células somatotróficas sob o controle principal de 2 peptídios hipotalâmicos: o hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH), que estimula a secreção do hormônio pela hipófise anterior e a somatostatina (SRIF), que inibe tal secreção. A secreção de GH é caracterizado por pulsos de secreção esporádicos, intercalados com mínima secreção basal, determinada por idade, sexo, nutrientes específicos, neurotransmissores, exercício e stress. Existem aproximadamente 10 pulsos intermitentes de GH a cada 24h, mais frequentemente a noite, quando os valores do GH podem ser bastante elevados. Envelhecimento e obesidade atenuam a secreção do GH, enquanto desnutrição e jejum prolongado resultam em elevação na frequência e amplitude dos pulsos de GH. OBS: O GH promove o crescimento linear primordialmente de maneira indireta, mediada pelo IGF-1, que é um hormônio polipeptídico sintetizado no fígado e em tecidos extra-hepáticos (osso, músculo, rim), inclusive na própria hipófise. Contudo, aproximadamente 80% do IGF-1 circulante se origina no fígado. O GH estimula a geração hepática de IGF-1. Os níveis de IGF-1 estão elevados durante a puberdade, gravidez e acromegalia. Adenoma hipofisário – causa de acromegalia em 95% dos casos Segundo tumor pituitário em frequência Geralmente é um macroadenoma > 1,0 cm, no diagnóstico. Devido ao tamanho, os macroadenomas podem causar sinais e sintomas decorrentes de fenômenos expansivos (ex: cefaleia, hemianopsia bitemporal) Geralmente das asas laterais da adenohipófise GH elevado leva a gerações de IGF-1 Mortalidade elevada por suas consequências sistêmicas Microadenomas são menos de 20% e secreção ectópica de GHRH ou GH constitui uma causa ainda menos comum. Apresentação Acromegalia em adultos (crescimento ósseo não-linear – crânio e mandíbula) Surgimento: 30-50 anos, ambos os sexos Atraso de 10 anos até o diagnóstico Crescimento de partes moles: mãos, pés, face, macroglossia Visceromegalias: coração, rins, fígado Gigantismo em crianças e adolescentes (crescimento linear) Gigantismo acromegálico (início na infância/adolescência e persistência na vida adulta) OBS: Quando a secreção excessiva de GH se inicia antes do fechamento das cartilagens de crescimento, acontecem crescimento linear excessivo e gigantismo, enquanto excesso de GH após a fusão epifisária causa apenas acromegalia. Morbidade e mortalidade Observa-se taxa de mortalidade aumentada entre acromegálicos quando comparada à expectativa para a população normal. Taxa de aumento de 2-3x na mortalidade e redução da expectativa de vida em 5-10 anos. Determinantes de prognóstico e causas de mortalidade Determinantes de prognóstico: Níveis de GH Hipertensão arterial Doença cardíaca Diabetes mellitus Duração dos sintomas Causas de morte: Cardiovascular: 38 a 62% Respiratória: 10 a 25% Neoplasia maligna: 9 a 25% Etiologia e patogênese Mutação somática na proteína Gs levando a produção excessiva de AMPc (40%) – mimetizando o efeito do GHRH Somatotropinomas são originalmente monoclonais, e a alteração genética mais comum na sua patogênese é a mutação ativadora da subunidade alfa da proteína estimulatória G. Essa mutação somática, que confere ativação constitutiva do AMPc, é encontrada em aproximadamente 40% dos pacientes acromegálicos. Hiperplasia hipofisária é rara GH normaliza com adenectomia Etiologias Origem hipofisária (98%): Adenoma produtor de GH: Com células densamente ou esparsamente granuladas (60%) Com células mistas produtoras de GH e prolactina (25%) Com células somatotrópicas (10%) Adenoma pluri-hormonal Carcinoma de células de GH ou metástases Neoplasia endócrina múltipla Síndrome de McCune-Albright (rara) Adenoma pituitário ectópico do seio parafaringeal ou esfenoide Tumor extra-hipofisário: Tumor de células de ilhotas pancreáticas (muito raro) Excesso de secreção do GHRH: Central-ectópico (<1%): Hamartoma hipotalâmico, coristoma, ganglioneuroma Periférico-ectópico (1%): Carcinoide bronquial, tumor de células de ilhotas pancreáticas, câncer de pulmão de pequenas células, adenoma adrenal, carcinoma medular de tireoide, feocromocitomas. Excesso na atividade do fator de crescimento: Acromegaloidismo (muito raro) Fisiopatologia Secreção de GH elevada e controle dinâmico anormal Secreção episódica mantida com amplitude elevada e aleatória Pico noturno ausente e resposta anormal a supressão e estímulo TRH e GnRH pode levar a estimulação de secreção de GH Dopamina e agonistas inibem GH (70 – 80%) Efeitos deletérios por excesso de IGF-1 Resistência à insulina e intolerância a CHO por efeito direto do GH Epidemiologia Incidência anual de 3 – 4 casos por milhão Prevalência: 40 – 60 casos por milhão Igual frequência em ambos os sexos Idade do diagnóstico: 3ª e 4ª décadas de vida Período médio de início da doença até o diagnóstico: 9 anos * Tabela do slide: Aumento de câncer em acromegálicos. Neoplasias citadas: de cólon, esôfago, estômago, melanoma e todos os outros. Efeitos locais do tumor Destruição e/ou supressão da hipófise anterior Extensão suprasselar com compressão do quiasma óptico Compressão da haste hipofisária e hipófise posterior Erosão dentro do seio esfenoidal Elevação do diafragma selar Quadro clínico Neurológicas: parestesias, STC, cefaleia, perda de campo visual, fotofobia Craniofaciais: Alargamento de nariz, aumento dos lábios, mãos e pés, face grosseira, alargamento interdentário, aumento do seio frontal, prognatismo e aumento da sela túrcica. Alterações de extremidades (acrais): aumento do calibre dos dedos, número do calçado e coxim calcâneo. Articulares: artrite de mãos, pés, quadril e joelho, espessamento do calvarium Cutâneas: hiperidrose, oleosidade, pregas cutâneas, “Skin tags” (marcadores de pólipos intestinais), intolerância ao calor. Metabólicas: intolerância a glicose, hiperglicemia (30-50%), DM (10-25%), fadiga, ganho ponderal. Cardiovasculares: HAS (25-35% dos casos), miocardiopatia acromegálica, DAC. Pele e tecido conjuntivo: Acne, cisto sebáceo, acantose nigrans e milium Outras: visceromegalia, hipopituitarismo, cálculo renal (11%), câncer de colo (4-5 x) Quadro clínico – Outras manifestações endócrinas e tumorais Hipogonadismo (Mulheres: 60% e homens: 46%) por compressão ou hiperprolactinemia SHBG baixa (testosterona normal) Hipotireoidismo (13%) e hipoadrenalismo (4%) Galactorreia (15%) Ginecomastia (10%) – causa desconhecida MEN tipo 1 Laboratório GPP elevada Hiperinsulinemia Hiperfosfatemia (reabsorção tubular aumentada) Hipercalciúria (efeito direto do GH e IGF-1) Estudos de imagem (Radiografia) Alargamento selar Espessamento do calvarium Alargamento do seio frontal e mandíbula Aumento dos tecidos moles em mãos Estufamento da falange distal Alargamento das cartilagens intra-articulares Alterações císticas dos ossos do carpo Alterações semelhantes nos pés Espessamento do coxim de calcâneos (normal < 22mm) Diagnóstico IGF-1 aumentado (valores de referência mudam de acordo com faixa etária/sexo) GH:confirmação através do TTG = padrão ouro Dosagem casual (randômica): > 0,4ngml = sugestivo de acromegalia [Como a secreção de GH é pulsátil, amostras ao acaso têm pouco valor no diagnóstico da acromegalia] Teste de tolerância a glicose: no paciente acromegálico não ocorre a supressão fisiológica de GH esperada após uma hiperglicemia. Ou seja, a carga de glicose é incapaz de inibir o GH para níveis <1ng/ml, isso indica que está ocorrendo secreção autônoma, excessiva de GH. [100g de glicose diminui GH para < 1ng/mL em 1h] Dosar prolactina (avaliar a presença de um tumor misto liberador de prolactina + GH); avaliar os demais eixos hipofisários (LH, FSH, ACTH, cortisol) e dosar GHRH (avaliar a presença de tumor ectópico produtor de GHRH). Localizar o tumor – Utiliza-se exames laboratoriais e imagem (TC, RNM da sela túrcica) OU SEJA: GH randômico < 0,4ng/ml + IGF-1 normal – Exclui acromegalia Nadir do GH durante TOTG < 1,0ng/ml e IGF-1 normal – Exclui acromegalia Nadir do GH durante TOTG > 1,0ng/ml e IGF-1 elevado – Confirma acromegalia Localização do tumor Demonstrada praticamente em todos os pacientes com RNM 90% têm tumor > 1cm Fonte ectópica de GHRH deve ser considerada em RNM normal – investigar tórax Se RNM sugere aumento difuso ou hiperplasia hipofisária: considerar fonte ectópica Diagnóstico diferencial Ansiedade | exercício | doença aguda | IRC | cirrose | desnutrição | anorexia | DM1 | estrogenioterapia OBS: Estas condições NÃO elevam IGF-1 Acromegaloidismo| Hipotireoidismo | Paquidermoperiostose OBS: São aqueles pacientes que apresentam manifestações clínicas típicas de acromegalia, mas nos quais NÃO se consegue demonstrar a presença de tumor hipofisário ou mesmo extra hipofisário produtor de GH. OBS: O principal diagnóstico diferencial é com a Paquidermoperiostose, que clinicamente se assemelha à acromegalia, mas cursa com níveis de GH e IGF-1 normais e sem evidência de tumor hipofisário ou extra hipofisário. Objetivos do tratamento Remoção ou destruição do tumor Melhorar sinais e sintomas da doença incluindo os efeitos compressivos Reversão da hipersecreção de GH e IGF-1 = normalizar disfunção hormonal Manutenção da função hipofisária normal Prevenir recidiva da doença Abordagem e tratamento das complicações crônicas Tratamento Terapia de escolha: Cirurgia transesfenoidal taxa de sucesso | baixa incidência de hipopituitarismo | baixa mortalidade cirúrgica Redução rápida dos níveis de GH [deve-se checar os níveis no pré-op] Principalmente para tumores pequenos [microadenomas restritos a sela = cura em 90% dos casos | macroadenomas 20-60%] Critérios de cura: normalização do IGF-1 para idade/sexo | GH após GTT <1,0ng/ml Outros tipos: Cirurgia transfrontal (tumores com grande extensão suprasselar) Tratamento medicamentoso Octreotídeo Análogo da somatostatina 1ª terapia medicamentosa efetiva para o paciente que não curou com cirurgia ou como adjuvante desta. Terapia primária: macroadenomas invasivos, com pouca chance de cura cirúrgica. Melhora da cefaleia, tumoral (10-75% do volume). Requer altas doses (150-300 mc/dia, SC) Efeitos adversos: gastrointestinais, colelitíase, disglicemia É um análogo da somatostatina (SA). Os SA têm sido considerados a opção de escolha por sua maior eficácia global, ou seja, por sua capacidade de induzir normalização hormonal e redução tumoral. A estimulação dos receptores somatostatínicos pelos SA gera supressão da secreção hipofisária de GH e inibição da proliferação de somatotrofos. Também foram desenvolvidos os SA de ação prolongada, que possibilitam maior comodidade posológica para os pacientes: octreotídeo LAR. Octreotídeo LAR: A cada 4 semanas (20 – 40 mg/mês), IM, de depósito. 75% de efetividade (efeitos colaterais: sintomas GI e colelitíase) Cabergolina Agonista dopaminérgico Para os pacientes que não respondem adequadamente aos AS Efetivo em 30% (1 – 2 mg/semana) Melhor resultado em pacientes com IGF-1 não muito elevado e aumento concomitante de prolactina. Doses mais altas do que nos prolactinomas. OBS: Utiliza-se um medicamento que é para tratar a prolactina no tratamento da acromegalia. Os agonistas dopaminérgicos estimulam a secreção de GH em indivíduos saudáveis; porém, em alguns acromegálicos, por um mecanismo ainda não esclarecido, paradoxalmente suprimem a liberação do GH. Então, em monoterapia, têm maior eficácia no caso de tumores cossecretores de GH e prolactina. OBS2: Cabergolina + Octreotídeo: aumenta efetividade Antagonistas do receptor do GH Pegvisomant: bloqueia receptor do GH 10-20mg SC 1x/dia Reduz IGF-1 em > 90% dos pacientes, mas NÃO diminui progressão do tumor. Uso diário e alto custo (última escolha) Riscos: aumento do GH (normaliza o IGF-1 mas o GH continua alto pois não há bloqueio na secreção de GH, apenas no efeito) e hepatotoxicidade. OBS: Pegvisomant é uma molécula modificada do GH recombinante humano. Ele foi concebido para se ligar e bloquear o receptor do GH. Dessa maneira, ele atua impedindo a dimerização do receptor de GH e a subsequente transdução do sinal, inibindo, assim, a produção hepática de IGF-1. Radioterapia Indicada na ausência de cura cirúrgica, tumores invasivos. Convencional (4500 – 5000 cGy) ou estereotáxica Efetividade em 10 – 15 anos (redução de IGF-1 30-40%) Complicações: incidência alta de hipopituitarismo (>70%), AVC, déficit visual e cognitivo. Gamma-knife: utilizado para tumores confinados a sela - remissão de 70% em 2 anos OBS: A radioterapia, em geral, representa a última opção no algoritmo de TTo da acromegalia, ficando reservada principalmente para os pacientes não curados pela cirurgia e aqueles que não alcançaram controle bioquímico e/ou da massa tumoral com o uso dos fármacos disponíveis. Resposta ao tratamento Cessação do crescimento ósseo Redução das partes moles Melhora da fadiga, hiperidrose, intolerância ao calor e oleosidade da pele Alterações ósseas NÃO regridem Regressão da síndrome do túnel do carpo, cefaleia, artralgia e fotofobia Regressão da hiperglicemia, hiperinsulinemia e hipercalciúria Seguimento Avaliação de secreção de GH Avaliação da função hipofisária Avaliação do tamanho do tumor Avaliação após 4 – 6 semanas da cirurgia GH > 1ng/mL deve receber análogo de somatostatina GH < 1ng/mL: seguimento a cada 6 meses por 2 anos e depois anualmente.
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