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PENAL II – PARTE ESPECIAL VALDINEI CORDEIRO COIMBRA Advogado (OAB/DF) Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada (Esp) Especialista em Direito Penal e Processual Penal pelo ICAT/UNIDF Especialista em Gestão Policial Judiciária – APC/Fortium Coordenador do www.conteudojuridico.com.br Delegado de Polícia PCDF (aposentado) Ex-analista judiciário do TJDF Ex-agente de polícia civil do DF Ex-agente penitenciário do DF Ex-policial militar do DF vcoimbr@gmail.com CÓDIGO PENAL - TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA O Código Criminal do Império (1831), assim como o Código Penal republicano (1890) inauguravam sua Parte Especial tipificando os crimes contra o Estado, demonstrando a preeminência do Estado sobre o ser humano. O homicídio no Código Criminal do Império era punido com pena de morte no seu grau máximo, galés perpétua e trabalhos forçados até 20 anos. Já no Código Penal republicano (1890), deixa de contemplar a pena de morte cominando pena de 12 a 30 anos de prisão. Já o Código Penal de 1940, inaugura sua parte especial dando primazia à aos crimes contra a pessoa e a encerra com os crimes contra o Estado. Da mesma forma será o Novo Código Penal, se aprovado o PLS 236 que tramita no Congresso Nacional. No Título I que trata dos crimes contra a pessoa, estudaremos os seguintes delitos: Capítulo I – Dos crimes contra a vida ( Homicídio (doloso e culposo) (art. 121); Participação em suicídio (art. 122); Infanticídio (art. 123); Aborto (arts. 124 a 128); Capítulo II – Das lesões corporais; Capítulo III – Da periclitação da vida e da saúde; Capítulo IV – Da rixa; Capítulo V – Dos crimes contra a honra (Calúnia, difamação e injúria); Capítulo VI – Dos crimes contra a liberdade individual; Seção I – Dos crimes contra a liberdade pessoal; Seção II – Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio; Seção III – Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência; Seção IV – Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos. Capítulo I – Dos crimes contra a vida (Arts. 121 ao 128 do CP) • Homicídio (doloso e culposo) (art. 121) • Participação em suicídio (art. 122) • Infanticídio (art. 123) • Aborto (arts. 124 a 128) DO HOMICÍDIO 1. HOMICÍDIO: Conceito. Objeto jurídico. Classificação. Elemento subjetivo. Sujeito ativo. Sujeito passivo. Espécies: simples, privilegiado, qualificado e culposo. Causas de aumento de pena. Perdão judicial. Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012) § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Fundamento internacional de proteção à vida: a Declaração Universal dos Direitos Humanos assinada em Paris aos 10 de dezembro de 1948: Art. III. Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) estabelece: Art. 4º. Direito à vida. 1.Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado arbitrariamente. Convenção sobre os Direitos da Criança: Art. 6º, 1. Os Estados partes reconhecem que toda criança tem o direito inerente à vida. Fundamento constitucional: A vida é direito fundamental consagrado no caput do art. 5º da Constituição Federal (Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]), Trata-se de direito formal e materialmente constitucional, com caráter supraestatal. Não obstante, tem natureza relativa: pode sofrer limitações, desde que legítimas e sustentadas por interesses maiores do Estado. Nesse sentido, a admissão da pena de morte em tempo de guerra (CF, art. 5º, XLVII, a), a legítima defesa (CP, art. 25) e o aborto em determinadas situações legalmente previstas (CP, art. 128). HOMICÍDIO SIMPLES Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. O que é Homicídio: é a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. Se a vida humana for intrauterina estará caracterizado o delito de aborto. Se já iniciado o trabalho de parto, a morte do feto configura homicídio ou infanticídio (art. 123, CP). O homicídio pode ser: (a) simples(art. 121, caput); (b) privilegiado (§ 1º); (c) qualificado (§ 2º); (d) culposo simples (§ 3º) e culposo agravado ou circunstanciado (§ 4º, 1ª parte). O § 5º do art. 121 contém hipótese de perdão judicial (aplicável exclusivamente ao homicídio culposo, incluindo o homicídio culposo no trânsito, tipificado no art. 302 da Lei n. 9.503/97 - CTB). Homicídio simples: está tipificado no caput do art. 121 do CP. Não contém elementos normativos ou subjetivos. Não é hediondo, salvo se praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que executado só por um agente (Lei 8.072/90). A Lei não define o que é homicídio simples, apenas define o homicídio qualificado e privilegiado. Neste sentido, se o crime não for privilegiado ou qualificado, será homicídio simples. Objeto jurídico: A vida humana, direito fundamental assegurado pelo art. 5º, caput, da Constituição Federal. É irrelevante a viabilidade do ser nascente, bastando o nascimento com vida. Objeto material: É o ser humano que suporta a conduta criminosa. Núcleo do tipo: É o verbo matar. Trata-se de crime de forma livre. Pode ser praticado por ação ou por omissão, desde que presente o dever de agir (hipóteses previstas no art. 13, § 2º, do CP), de forma direta (meio de execução manuseado diretamente pelo agente) ou indireta (meio de execução manipulado indiretamente pelo homicida). Os meios de execução podem ser materiais (os que assolam a integridade física do ofendido) ou morais (a morte é produzida por um trauma psíquico na vítima como, por exemplo, a depressão que acarreta a morte em face do uso excessivo de medicamentos). O meio de execução pode caracterizar uma qualificadora, como se dá no emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (CP, art. 121, § 2º, III). Sujeito ativo: Qualquer pessoa (crime comum), admitindo-se a coautoria ou participação. Autoria colateral e autoria incerta no homicídio: a autoria colateral é caracterizada quando duas ou mais pessoas querem matar a mesma vítima e realizam ato executório ao mesmo tempo (enquanto ela ainda está viva), sem que uma saiba da intenção da outra, sendo que o resultado morte decorre da ação de apenas uma delas. Se identificada qual das duas matou a vítima, esta responde por homicídio e a outra por tentativa de homicídio. Se não for possível identificar qual das duas pessoas matou a vítima, temos a autoria incerta, devendo ambas responderem por tentativa de homicídio, mesmo o crime se consumado. Homicídio praticado por irmãos siameses (xifópagos): a lei penal é omissa. Neste caso deve prevalecer o direito do irmão inocente, pois a pena não pode passar da pessoa do delinquente. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, após o nascimento e desde que esteja viva. Se for homicídio doloso contra o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou o Presidente do Supremo Tribunal Federal, comete o crime do art. 29 da Lei de Segurança Nacional (Lei n. 7.170/83). Se for homicídio, com intenção de destruir, no todo em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, temos o crime de crime de genocídio, previsto no art. 1º, da Lei n. 2.889/56. Se a vítima já está morta quando da ação homicida: Crime impossível por absoluta impropriedade do objeto (art. 17, CP). Elemento subjetivo: É o dolo (animus necandi ou animus occidendi), direto ou eventual. Admite-se a modalidade culposa. A embriaguez ao volante pode caracterizar dolo eventual ou culpa consciente, dependendo da análise do caso concreto. Consumação: No momento da morte da vítima, que se verifica com a cessação da atividade encefálica – art. 3º, caput, da Lei 9.434/1997, que regula a retirada e transplante de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos e científicos. Trata-se de crime material, pois se consuma com a produção do resultado naturalístico. Crime impossível por absoluta ineficácia do meio: não é punível a tentativa, quando o homicídio não se consuma por absoluta ineficácia do meio. Ex. tentar matar alguém com uma arma de brinquedo. (CP, Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime). Se a eficácia for relativa, caberá a punição por tentativa. Ex.: munição velha1. 1 “Estando o revólver empunhado pelo réu desmuniciado, com todas as balas já deflagradas, absolutamente ineficaz o seu uso para a prática do homicídio. Tem‐se, na espécie, pois, verdadeira tentativa impossível” (TJSP — Rel. Camargo Sampaio — RT 514/336); “Configura crime impossível o uso de arma descarregada, ocorrendo tal fato como causa de impunibilidade, segundo o art. 17 do CP” (TJSC — Relª. Thereza Tang — ADV 7.342/760). Prova da materialidade: A materialidade do homicídio é demonstrada pelo exame necroscópico, em que o médico legista atesta a ocorrência da morte e suas causas. A autópsia deve ser feita pelo menos seis horas após o óbito (art. 162 do CPP). Se não for possível o exame do corpo por ter ele desaparecido, a materialidade do homicídio pode ser demonstrada por prova testemunhal (art. 167 do CPP). Tentativa: É possível. A tentativa branca ou incruenta é aquela em que a vítima não é atingida, enquanto a tentativa vermelha ou cruenta é aquela em que a vítima sofre ferimentos. Desistência voluntária no homicídio: a desistência voluntária se mostra presente quando o agente dá início à execução, mas não consegue, de imediato, a morte da vítima, contudo, tendo ainda ao seu dispor formas de prosseguir no ataque e concretizar a morte, resolve, voluntariamente, não o fazer. O agente só responde pelos atos praticados e não tentativa de homicídio (art. 15 do CP). Se o disparo atingiu a vítima sobrevivente, o sujeito responderá por lesão leve ou grave, dependendo do que o disparo nela tenha causado, ou por crime de periclitação da vida (art. 132), caso o disparo não a tenha atingido2. Arrependimento eficaz no homicídio: ocorre quando o agente realizou todos os atos executórios ao seu alcance para matar a vítima, porém, se arrepende e pratica novo ato para salvar a vida dela, só responde pelos atos já praticados (art. 15, CP.) Diferença entre a tentativa de homicídio e a lesão corporal seguida de morte: A diferença está no elemento subjetivo (dolo de matar ou dolo de lesionar). Na tentativa de homicídio o agente quer matar e não consegue, por circunstâncias alheias a sua vontade. Responde no Tribunal do Júri, com a pena do homicídio consumado reduzida e um terço a dois terços. Já na lesão seguida de morte ocorre exatamente o oposto, ou seja, o agente quer apenas lesionar, mas, culposamente, acaba provocando a morte (art. 129, § 3º, do CP). Neste caso teremos um crime preterdoloso (dolo+culpa). 2 “Mesmo que a intenção do acusado fosse de matar a vítima, não se configura a tentativa de homicídio se voluntariamente desiste da ação delituosa, após atingi‐la com dois disparos, abandonando o local com três balas intactas no tambor de seu revólver” (TJSP — Rel. Camargo Sampaio — RT 544/346). Responde perante o juiz singular, com a pena de reclusão, de quatro a doze anos. Progressão criminosa no homicídio: agente inicia uma agressão exclusivamente com intenção de lesionar a vítima, porém, durante a agressão, muda de ideia e resolve matá-la, responde pelo resultado mais grave, no caso o homicídio. Ação Penal: Pública incondicionada, em todas as modalidades do delito. Competência: É do Tribunal do Júri (CF, art. 5º, XXXVIII, d), exceto no tocante ao homicídio culposo, de competênciado juízo comum. Em regra, a competência é da Justiça Estadual, salvo se presente alguma circunstância capaz de provocar o deslocamento para a esfera federal (júri federal), como, por exemplo, o fato de o homicídio ter sido cometido a bordo de navio ou aeronave (art. 109, IX, da Constituição), ou contra servidor público federal em virtude de suas funções (art. 109, IV, da Magna Carta). Além disso, a competência é a do local da consumação do delito (regra), no entanto a jurisprudência tem admitido que quando a vítima é socorrida para outra cidade e lá vem a falecer, é possível fixar a competência do júri do local em que houve a ação criminosa, já que as testemunhas do crime estão no local onde a vítima foi alvejada. Homicídio contra civil praticado por militar: o homicídio praticado por militar contra civil será da competência da Justiça Comum (Tribunal do Júri) (art. 9º, parágrafo único, do Código Penal Militar, Decreto-lei 1.001/1969, com a redação dada pela Lei 12.432/2011). O homicídio praticado por um militar contra outro é de competência da Justiça Militar. Homicídio culposo e Lei 9.099/1995 – Juizados Especiais Criminais: Cabe suspensão condicional do processo unicamente no homicídio culposo, desde que presentes os demais requisitos exigidos pelo do art. 89 da Lei 9.099/1995. Caso de diminuição de pena § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Homicídio privilegiado: Todas as figuras de privilégio são de caráter subjetivo, porque ligadas à motivação do agente (relevante valor social ou moral) ou à motivação somada à violenta emoção. Assim, nos termos do art. 30 do Código Penal, não se comunicam a coautores e partícipes do homicídio. Direito subjetivo do réu se reconhecido pelo júri: apesar de o parágrafo trazer a expressão “pode”, trata-se de uma obrigatoriedade, para não ferir a soberania dos veredictos. O privilégio é votado pelos jurados (art. 483, inc. IV, CPP) e, se reconhecido o privilégio, a redução da pena é obrigatória, pois do contrário estaria sendo ferido o princípio da soberania dos veredictos. Trata-se, portanto, de um direito subjetivo do réu. Ao juiz presidente do Júri caberá apenas escolher o quantum entre um sexto e um terço. Motivo de relevante valor moral (nobre): diz respeito a sentimentos do agente que demonstre que houve uma motivação ligada a uma compaixão ou algum outro sentimento nobre. É o caso da eutanásia. Motivo de relevante valor social: diz respeito ao sentimento da coletividade. Exemplo: matar o traidor da Pátria. Pai que mata o estuprador de sua filha: Alguns entendem que se trata de relevante valor moral, porque o motivo do pai é defender a honra da filha (sentimento individual relevante). Para outros, se trata de relevante valor social, porque sua intenção é eliminar um marginal, beneficiando a coletividade. Embora existam duas correntes quanto ao fundamento, é pacífico que se trata de caso de homicídio privilegiado. Sob domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima: Requisitos: a) Existência de uma injusta provocação (não é injusta agressão, senão seria legítima defesa). Exemplo: adultério, xingamento, traição, brincadeiras de mau gosto, riscar o carro do autor, jogar lixo ou pichar a casa do autor etc. . b) que, em razão da provocação, o agente fique tomado por uma emoção extremamente forte. Emoção é um estado súbito e passageiro de instabilidade psíquica. c) Reação imediata (logo em seguida...): não pode ficar evidenciada uma patente interrupção entre a provocação e a morte. Leva-se em conta o momento em que o sujeito ficou sabendo da provocação. Privilégio versus atenuante (art. 65, III, “a”): No privilégio, a lei exige que o sujeito esteja sob o domínio de violenta emoção, enquanto na atenuante, basta que o sujeito esteja sob a influência da violenta emoção. O privilégio exige reação imediata, já a atenuante não. A aplicação da atenuante somente é possível se o júri não reconhecer o privilégio, para não ocorrer o bis in idem. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Homicídio qualificado: presente qualquer uma das circunstâncias qualificadores do §2º, do art. 121, a pena a ser aplicada será de 12 a 20 anos de reclusão. O homicídio qualificado será sempre hediondo (Lei n. 8.072/90), ou seja, não comporta fiança, não cabe graça, indulto ou anistia e somente caberá progressão de regime com 2/5 da pena cumprida (se primário) ou 3/5 (se reincidente). A obtenção do livramento condicional só será admitida se cumpridos mais de 2/3 da pena e se o agente não for reincidente específico. Pluralidade de qualificadoras: O magistrado deve utilizar uma delas para qualificar o crime, e as demais como agravantes genéricas (art. 61, II, a, b, c e d, do CP), pois todas as qualificadoras do homicídio são previstas como agravantes no tocante aos delitos em geral. Qualificadoras de caráter subjetivo e objetivo: o rol do §2º do art. 121 exibem circunstâncias qualificadores de natureza subjetivas (inc. I e II) e objetivas (inc. III, IV, V, VI e VII). Homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa (inc. I): é conhecido como homicídio mercenário. A paga é prévia em relação ao homicídio, enquanto a promessa de recompensa é para entrega posterior. Em ambas as hipóteses deve se relacionar com prestação econômica (entrega de dinheiro, bens, perdão de dívida, promoção no emprego etc.). No caso da promessa de recompensa não se exige que o mandante tenha cumprido o pagamento. Classifica- se como crime de concurso necessário, pressupõe o envolvimento mínimo de duas pessoas (mandante e executor). A punição de um independe da identificação e punição do outro, desde que exista prova da paga ou promessa de recompensa. Se o executor recebe o dinheiro adiantado e desaparece com os valores, sequer procurando a vítima para iniciar o crime de homicídio, temos a hipótese do art. 31 do CP3 em que nenhum dos envolvidos será punido. Há divergência doutrinária e jurisprudencial quanto à comunicabilidade da qualificadora ao mandante. Para uns não se comunica, uma vez que o art. 30 do CP dispõe que as circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam aos comparsas, salvo se elementares do crime, as qualificadoras não são elementares, são circunstâncias (Heleno Cláudio Fragoso,Fernando Capez, Flávio Monteiro de Barros e Rogério Greco). Já outros autores Júlio Fabbrini Mirabete, Damásio de Jesus e Euclides Custódio da Silveira, entende que no caso do homicídio mercenário, não há como deixar de reconhecer que o envolvimento do mandante no crime é requisito essencial para a sua existência (crime de concurso necessário), na condição de requisito 3 CP, Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. essencial, deve ser considerado como elementar (qualificadora sui generis). Homicídio qualificado por motivo torpe (inc. I): a motivação vil, repugnante, imoral. Caracteriza torpeza: a) preconceito relacionado à raça, religião, etnia, cor, origem, homofobia, pobreza, etc.; b) canibalismo, vampirismo, morte da vítima em rituais macabros; c) a motivação econômica, salvo o homicídio mercenário, caracteriza torpeza (matar pela herança, seguro); d) Matar a vítima para assumir seu cargo político; e) matar esposa porque ela não quis fazer relação sexual; f) matar por prazer; g) morte de policiais para afastar ou dificultar as investigações; h) disputa de área de tráfico ou facção criminosa; Não caracteriza torpeza: a) Ciúmes: que é um sentimento normal nos seres humanos, dependendo do caso pode ser causa de privilegio; b) vingança, não será torpe se originou de uma causa anterior que não é considerada torpe, a exemplo do pai que mata o estuprador como vingança, no entanto se a vingança decorre de fatos anteriores de natureza torpe, será ela considerada torpe, como exemplo, o devedor que mata o credor por ter ele ingressado com ação judicial de cobrança. Homicídio qualificado por motivo fútil (inc. II): é o motivo pequeno, insignificante, ou seja, deve ser reconhecido quando houver total falta de proporção entre o ato homicida e sua causa. É necessário que exista prova quanto ao motivo fútil. Crime sem motivo não caracteriza motivo fútil. Casos de reconhecimento de motivo fútil: a) pai que matou o filho porque este chorava, b) marido que matou a esposa em razão de ter feito um almoço muito simples em dia que iria receber amigos em casa; c) motorista que matou o fiscal de trânsito em razão da multa aplicada; d) patrão que matou o empregado por erro na prestação do serviço; e) homicídio contra dono de bar que se recusou a servir mais uma dose de bebida; f) homicídio por força de fatos jocosos relacionados ao time de futebol, etc. Homicídio qualificado pelo emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: a) emprego de veneno (venefício): Veneno é a substância química ou biológica (forma líquida, sólida ou gasosa) que, introduzida no organismo, pode causar a morte. Se a vítima sabe e consente na ingestão de veneno, não se aplica a qualificador. Exige prova pericial feita nas vísceras ou no sangue da vítima. Existe divergência doutrinária de se considerar veneno quando a substancia, apesar de não sê-la, possa levar a óbito uma pessoa por circunstância pessoal (glicose e vítima diabética). Nos casos em que há emprego de veneno, mas a vítima sobrevive, a punição por tentativa de homicídio pressupõe a demonstração de que o veneno utilizado poderia ter causado a morte caso não fosse ela rapidamente socorrida. Se ficar provado que a substância não poderia, nem mesmo em altíssimas doses, provocar a morte de um ser humano, trata-se de crime impossível por absoluta ineficácia do meio. b) emprego de fogo: é o resultado da combustão de produtos inflamáveis, da qual decorrem calor e luz. Trata-se, em geral, de meio cruel, mas se inúmeras pessoas forem expostas ao perigo de dano, o crime será qualificado pelo meio de que possa resultar perigo comum. Ex.: 1) assassinatos de mendigos que estão dormindo na rua e que são covardemente incendiados; 2) traficantes que queimam seus rivais vivos após colocá-los no meio de uma pilha de pneus; 3) fogo no barraco da vítima que morre por aspirar a fumaça proveniente da queima, ainda que o corpo da vítima não seja atingido diretamente pelas chamas. 4) se houver dano ao patrimônio alheio, fica o mesmo absorvido, em virtude da exclusão do art. 163, parágrafo único, II do CP. c) emprego de explosivo: é o produto com capacidade de destruir objetos em geral, mediante detonação e estrondo. d) mediante asfixia: é a supressão da função respiratória, com origem mecânica ou tóxica. A asfixia mecânica pode ocorrer pelos seguintes meios: 1) estrangulamento; 2) esganadura; 3) sufocação; 4) enforcamento; 5) afogamento; 6) soterramento; e 7) imprensamento. A asfixia tóxica pode verificar-se pelas seguintes formas: 1) uso de gás asfixiante ou inalação; e 2) confinamento. A asfixia pode constituir meio cruel (ex.: afogamento) ou insidioso (ex.: uso de gás tóxico, inalado pela vítima sem notá-lo). e) Tortura: meio de execução é empregado de forma lenta, gradativa, até produzir o resultado morte após grave sofrimento: 1) prender a vítima e não lhe fornecer bebida ou comida para que morra de sede ou de fome; 2) acorrentar a vítima ao ar livre para que tenha forte insolação; 3) lentas sessões de mutilações ou de aplicações de ferro em brasa; 4) amarrar a vítima sobre um formigueiro de espécie agressiva; 5) crucificação; 6) empalhamento (inserção de uma estaca pelo ânus, vagina, ou umbigo até a morte do torturado). Não se confunde com o crime definido na Lei 9.455/1997, em que o sujeito tem o dolo de torturar a vítima, e da tortura resulta culposamente sua morte (crime preterdoloso). No homicídio qualificado pela tortura o dolo é de matar. f) meio cruel: o ato executório é breve, embora provoquem forte sofrimento físico na vítima: 1) o espancamento mediante socos e pontapés ou o pisoteamento; 2) golpes no corpo da vítima com martelo, barra de ferro, pedaço de pau etc.; 3) apedrejamento; 4) atropelamento intencional; 5) jogar a vítima do alto de um prédio ou precipício; 6) despejar grande quantidade de ácido sobre o corpo da vítima; 7) choque elétrico de alta voltagem; 8) amarrar a vítima em um carro ou cavalo e colocá-los em movimento, fazendo a vítima ser arrastada; 9) cortar os pulsos da vítima para que morra de hemorragia externa; 10) fazer a vítima cair da motocicleta; 11) obrigar a vítima a ingerir rapidamente grande quantidade de bebida alcoólica; 12) colocar a vítima em uma jaula com feras; 13) transmissão intencional de doença que provoca a morte com sofrimento. Homicídio qualificado por traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (inc. IV): Homicídio qualificado pelo modo de execução. a) A traição pode ser física (exemplo: atirar pelas costas) ou moral (atrair a vítima para um precipício). Nessa qualificadora, o agente se vale da confiança que o ofendido nele previamente depositava para o fim de matá-lo em momento em que ele se encontrava desprevenido e sem vigilância. Não será aplicada se a vítima teve tempo para fugir. No ataque frontal e repentino, poderá ser caracterizada a surpresa (meio genérico que dificulta a defesa do ofendido). Na traição a relação de confiança preexiste ao crime e o sujeito dela se aproveita para executar o delito. Se o agente, para se aproximar da vítima, faz nascer esse vínculo de confiança, haverá dissimulação. O homicídio qualificado pela traição é conhecido como homicídio “proditorium”. b) Emboscada é a tocaia. O agente aguarda escondido, em determinado local, a passagem da vítima, para matá-la quando ali passar. c) Dissimulação é a atuação disfarçada, hipócrita, que oculta a real intenção do agente – pode ser material(emprego de algum aparato, tal como uma farda policial) ou moral (demonstração de falsa amizade ou simpatia pela vítima). d) Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima é fórmula genérica indicativa de meio análogo à traição, à emboscada e à dissimulação, como a surpresa, estado de embriaguez da vítima, superioridade numérica de agentes etc. A surpresa é incompatível com o dolo eventual, pois o sujeito deve dirigir sua vontade em uma única direção: matar a vítima de modo imprevisível. Cumpre destacar que não ocorre surpresa se o crime foi precedido de desavença. A superioridade de armas, ou então o emprego de arma contra vítima desarmada, por si só, não qualifica o homicídio. Exige- se também a surpresa no ataque. Homicídio qualificado para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (inc. V): Qualificadora de natureza subjetiva, relacionada à motivação do agente. A doutrina convencionou chamá-la de conexão, em face da ligação entre dois ou mais crimes. Há duas espécies de conexão: teleológica (homicídio praticado para assegurar a execução de outro crime, ex.: matar o traficante que atua em determinado ponto para assumir o controle do local e ali vender droga; matar o marido para estuprar a esposa; matar o segurança para sequestrar seu patrão etc.) e conexão consequencial (homicídio cometido para assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime). Na ocultação o agente pretende impedir que se descubra a prática de outro crime e na impunidade deseja evitar a punibilidade do crime anterior. O outro crime pode ter sido praticado por terceira pessoa. A vantagem é tudo o que se auferiu com o outro crime. Em todas as hipóteses é irrelevante o tempo decorrido entre o homicídio e o outro crime. A extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos outros, a agravação da pena resultante da conexão (art. 108, 2.ª parte, do CP). Premeditação: Não qualifica o homicídio. Feminicídio – homicídio contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (inc. VI): qualificadora incluída pela Lei nº 13.104, de 2015, estando relacionado com: a) violência doméstica e familiar; b) menosprezo ou discriminação à condição de mulher (§2º-A, art. 121). Além de o feminicídio ser crime de homicídio qualificado, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade, quando praticado a) durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; b) contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; c) na presença de descendente ou de ascendente da vítima (§ 7o, incs. I, II, III, do art. 121). O feminicídio foi catalogado como crime hediondo na Lei n. 8072/90. Homicídio qualificado quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição (inc. VII): qualificadora incluída pela Lei nº 13.142, de 2015, no nosso entender desnecessário, visto que nas hipóteses relacionadas, seria muito difícil não ocorrer uma das qualificadoras que já existiam no §2º do art. 121. Também foi catalogado como crime hediondo na Lei n. 8072/90. O homicídio privilegiado-qualificado: Admite a compatibilidade entre o privilégio e as qualificadoras, desde que as qualificadoras sejam de natureza objetiva. Nestes casos não é considerado crime hediondo, em face da natureza subjetiva do privilégio. HOMICÍDIO CULPOSO § 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) PERDÃO JUDICIAL NO HOMICÍDIO CULPOSO § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) Homicídio culposo: O sujeito realiza uma conduta voluntária, com violação do dever objetivo de cuidado a todos imposto, por imprudência, negligência ou imperícia, e assim produz um resultado naturalístico (morte) involuntário, não previsto nem querido, mas objetivamente previsível, que podia com a devida atenção ter evitado. A imprudência (culpa positiva) consiste na prática de um ato perigoso. Negligência (culpa negativa) é deixar de fazer aquilo que a cautela recomenda. A imperícia (culpa profissional) é a falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício para a qual o agente, em que pese autorizado a exercê-la, não possui conhecimentos teóricos ou práticos para tanto. O homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor é delito definido pelo art. 302 da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro (princípio da especialidade). O homicídio culposo não admite tentativa (culpa própria). Se for culpa imprópria4 cabe tentativa. Causas de aumento de pena do homicídio culposo (art. 121, § 4º, 1ª parte): a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: o agente é dotado das habilidades necessárias para o desempenho da atividade, mas por desídia não as observa. Incide somente para o profissional; b) Deixar de prestar imediato socorro à vítima: fundamenta-se na solidariedade humana. Relaciona-se unicamente às pessoas que por culpa contribuíram para a produção do resultado naturalístico, e não tenham prestado imediato socorro à vítima. Se o agente não agiu de forma culposa, mas deixou de prestar socorro, responde pelo crime de omissão de socorro com a pena majorada pela morte (CP, art. 135, parágrafo único, in fine). Não incide a causa de aumento na hipótese de morte instantânea incontestável, mas, restando dúvida, a solidariedade impõe a prestação de socorro, pois a majoração da pena se deve à moralidade da conduta do agente, e não ao resultado naturalístico. Não incide o aumento da pena quando o sujeito deixou de prestar socorro porque não tinha condições de fazê-lo, assim como no caso de socorro prestado por terceiros (o sujeito deixou de prestar socorro por haver pessoas mais capacitadas para tanto). Se o responsável pelo homicídio culposo prestar socorro à vítima, não será aplicada a atenuante genérica definida pelo art. 65, inciso III, b, do CP, pois se trata de dever do causador do delito. Nos crimes culposos praticados na direção de veículo automotor aplica-se a causa de aumento prevista no art. 302, parágrafo único, do CTB; c) não procurar diminuir as consequências do seu ato: desdobramento normal da causa de aumento de pena anterior; d) Fugir para evitar prisão em flagrante: objetiva aumentar a pena do 4 É aquela em que o agente, por erro, fantasia situação de fato, supondo estar acobertado por causa excludente da ilicitude (caso de descriminante putativa) e, em razão disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito e evitável. Trata-se de ação dolosa, mas permite a punição como se fosse culposo por política criminal. A previsão legal está no artigo 20, 1º, segunda parte, do Código Penal: 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. criminoso que visa assegurar a impunidade do seu ato, dificultando a ação da justiça. Não se aplica o aumento quando o agente assim agiu diante de sérias ameaças de populares contra a sua vida ou integridade física. Essa causa de aumento reveste-se de frágil constitucionalidade, pois não se pode punir alguém pelo fato de deixar de apresentar-se à autoridade policial para ser presa. Causas de aumento de pena no homicídio doloso (art. 121, § 4º, 2ª parte). Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Incidem no homicídio doloso – simples, privilegiado ou qualificado –, consumado ou tentado. São circunstâncias legais especiais de natureza objetiva e de aplicação obrigatória. Perdão judicial (art. 121, § 5º, do CP): Aplicável somente para o homicídio culposo. Há regra idêntica para a lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 8º). Trata-se de causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, IX) aplicável nos casos em que o sujeito produz culposamente a morte de alguém, mas as consequências desse crime lhe são tão graves que a punição desponta como desnecessária. A gravidade e a extensão das consequências da infração devem ser analisadas na situação concreta, levando em conta as condições pessoais do agente e da vítima. Podem atingir o próprio autor da conduta culposa, seus familiares ou ainda pessoas que lhe são próximas e queridas. Será concedido na sentença (declaratória da extinção da punibilidade – Súmula 18 do STJ – não subsistem quaisquer efeitos condenatórios). Cuida-se de direito subjetivo do réu. Não precisa ser aceito para surtir efeitos (ato unilateral). Não existindo provas da autoria e/ou da materialidade do fato, o réu há de ser absolvido. Causa de aumento de pena se o homicídio for praticado por milícia privada ou grupo de extermínio (art. 121, § 6º): Cuida-se de causa especial de aumento da pena em um terço, incidente na terceira e última fase da dosimetria da pena privativa de liberdade, aplicável exclusivamente ao homicídio doloso, simples ou qualificado. Embora não exista disposição expressa nesse sentido, é evidente que o homicídio cometido por milícia privada será classificado como crime hediondo. Milícia privada é o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive com a participação de militares fora das suas funções – com a pretensa finalidade de restaurar a segurança em locais controlados pela criminalidade, em face da inoperância e desídia do Poder Público, e como recompensa são remunerados por empresários e pelas pessoas em geral. A majoração da pena reclama seja o homicídio cometido pela milícia privada “sob o pretexto de prestação de serviço de segurança”. Grupo de extermínio é a associação de matadores, composta de particulares e muitas vezes também por policiais autointitulados de “justiceiros”, que buscam eliminar pessoas deliberadamente rotuladas como perigosas ou inconvenientes aos anseios da coletividade. Sua existência se deve à covardia e à omissão do Estado, bem como à simpatia e não raras vezes ao financiamento de particulares e de empresários, que contam com a ajuda destes exterminadores para enfrentar supostos ou verdadeiros marginais, sem a intervenção do Poder Público.
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