Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PENAL II – PARTE ESPECIAL VALDINEI CORDEIRO COIMBRA Advogado (OAB/DF) Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada (Esp) Especialista em Direito Penal e Processual Penal pelo ICAT/UNIDF Especialista em Gestão Policial Judiciária – APC/Fortium Coordenador do www.conteudojuridico.com.br Delegado de Polícia PCDF (aposentado) Ex-analista judiciário do TJDF Ex-agente de polícia civil do DF Ex-agente penitenciário do DF Ex-policial militar do DF vcoimbr@gmail.com CÓDIGO PENAL - TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA Capítulo VI – Dos crimes contra a Liberdade Pessoal. Violação do Domicílio e Violação de Segredos (Arts. 146 ao 154-B do CP) 9.CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL e VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E SEGREDOS: Conceito. Objeto jurídico. Classificação. Elemento subjetivo. Sujeito ativo. Sujeito passivo dos crimes de: sequestro e cárcere privado. Sujeito ativo. Sujeito passivo do crime de plágio. Da violação do domicílio. Violação de correspondência. Violação de Correspondência comercial. Divulgação de segredo e Violação do segredo profissional. CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL SEÇÃO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL Constrangimento ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: 2 I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Objetividade jurídica: A liberdade das pessoas de fazer ou não fazer o que bem lhes aprouver, dentro dos limites legais. Cuida-se de complemento à regra inserta no art. 5º, II, da Constituição Federal, segundo a qual “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Tipo objetivo e meios de execução: No crime em tela, o agente constrange, coage, obriga a vítima a fazer ou não fazer algo. O crime, portanto, se aperfeiçoa em duas hipóteses: 1) Quando a vítima é obrigada a fazer algo: a levar o agente a algum lugar, a fazer uma viagem que não queria, a escrever uma carta, a dizer onde se encontra uma pessoa, a indicar onde se encontram certos documentos, a dançar com o agente, a mergulhar em uma piscina gelada, a cortar a grama da casa do agente, a tomar um copo de bebida alcoólica, a usar cinto de castidade no período de ausência do marido etc. 2) Quando a vítima é obrigada a não fazer algo: a não fazer uma viagem, a não ir às aulas, a não ir a uma festa ou baile, a não ir ao banheiro etc. Abrange, também, a hipótese em que ela é obrigada a tolerar que o agente faça algo. Violência é o emprego de força física ou de atos agressivos sobre a vítima (socos, pontapés etc.). Assim, comete o crime o namorado que, enciumado com o fato de a namorada estar prestes a viajar com as amigas, segura-a impedindo que entre no ônibus. Igualmente, quem usa de força física para forçar a vítima a ingerir um copo de bebida alcoólica etc. Grave ameaça é a promessa de mal grave a ser causado no próprio agente ou em terceiro que lhe é querido. Dessa forma, comete o delito a pessoa de proporções físicas avantajadas que manda a vítima franzina mudar de assento em um estádio de futebol pois, caso contrário, irá agredi-la. Igualmente constitui crime dizer para a mãe que irá matar o filho dela, caso ela vá a uma festa. No constrangimento ilegal não é necessário que o mal prometido à vítima seja injusto, bastando que a pretensão do agente seja ilegítima. Qualquer outro meio de redução da capacidade de resistência (violência imprópria): Formulação genérica de cometer o crime de constrangimento ilegal, consistente no emprego de qualquer outro meio que reduza a capacidade de 3 resistência da vítima para que ela faça ou deixe de fazer algo, como, por exemplo, o emprego de soníferos, calmantes ou de hipnose. Configura, portanto, o delito, hipnotizar alguém para determiná-lo a fazer algo, ou ministrar sorrateiramente sonífero na bebida da vítima para que ela durma e não vá ao bar se encontrar com os amigos. Crime exclusivamente comissivo: No constrangimento ilegal a conduta do agente é sempre comissiva, pois a lei exige que ele empregue violência, grave ameaça ou outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima. O que é possível, em verdade, é que o agente queira uma omissão da vítima, mas o crime de constrangimento ilegal, em si, não admite a figura omissiva. Sujeito ativo: Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. Toda a doutrina diz que, se o agente for funcionário público, cometerá crime de abuso de autoridade. Sujeito passivo: qualquer pessoa que tenha capacidade de determinação. A doutrina costuma dizer que as crianças de pouca idade e os doentes mentais não têm vontade própria e, por isso, não podem ser sujeito passivo do presente crime. Tudo dependerá do caso concreto, pois pode ocorrer de uma pessoa de pouca idade ou um doente mental possa entender o caráter da ameaça. Os surdos, cegos e paraplégicos podem ser sujeito passivo de constrangimento ilegal. Pessoas jurídicas não podem ser sujeito passivo de constrangimento ilegal, e sim o representante da empresa que sofre a violência ou grave ameaça e, em nome daquela, realiza ou deixa de realizar algum ato contra a sua vontade. Subsidiariedade do crime de constrangimento ilegal: a) Na extorsão (art. 158 do CP), o agente também emprega violência ou grave ameaça para obrigar a vítima a fazer ou não fazer algo, havendo, entretanto, de sua parte, intenção de obter indevida vantagem econômica como consequência da ação ou omissão da vítima. Ex.: obrigar a vítima a assinar um cheque; obrigar o credor a não entrar em juízo com uma ação de cobrança. b) No estupro (art. 213), o agente emprega violência ou grave ameaça para forçar a vítima a atos de natureza sexual. c) Se o agente emprega a violência ou grave ameaça para forçar a vítima a confessar um crime, configura- se uma das modalidades do crime de tortura (prova), previsto no art. 1º, inc. I, a, da Lei n. 9.455/97. Já na tortura crime (art. 1º, inc. I, b da Lei n. 9455/97), o agente responde por concurso 4 de crimes, no caso, a tortura crime e o crime praticado pelo torturado;. d) Caso o agente mantenha a vítima privada de sua liberdade por tempo relevante, estará configurado o crime de sequestro ou cárcere privado (art. 148): Se o agente ameaça um motorista e o obriga a levá-lo até a rodoviária da cidade, em um trajeto que dura cerca de dez a quinze minutos, o crime é o de constrangimento ilegal. Se o agente, entretanto, obriga a vítima a levá-lo, em seu carro, da cidade de São Paulo até o Rio de Janeiro, em um trajeto de seis horas, o crime é o de sequestro. Por sua vez, quando o agente ameaça a vítima para que ela faça uma viagem, tendo ela, entretanto, liberdade de ir e vir durante toda a sua duração, bem como no local visitado, porque o agente não a acompanha, o crime é o de constrangimento ilegal. Ex.: o namorado ameaça a namorada para que ela saia da cidade durante a época do carnaval, ficando ele no local para os festejos. e) Se a intenção do agente é forçar o consumidor a pagar alguma dívida, configura-se crime especialdo art. 71 da Lei n. 8.069/90 (Código de Defesa do Consumidor). f) A conduta de coagir idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração, constitui crime especial do art. 107 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso); g) Quem usa de violência ou grave ameaça para forçar alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que tal fim não seja atingido, incorre no crime do art. 301 da Lei n. 4.737/65 (Código Eleitoral). Elemento subjetivo: somente o dolo, que, nesse crime, significa a vontade de empregar a violência ou grave ameaça e a consciência de que a ação ou omissão pretendidas são ilegítimas. A ilegitimidade da pretensão pode ser: a) Absoluta: quando o agente não tem qualquer direito à ação ou omissão. Ex.: obrigar alguém a ingerir uma bebida alcoólica. b) Relativa: quando existe o direito, mas a vítima não pode ser forçada por não haver lei que a obrigue. Ex.: obrigar alguém a pagar dívida de jogo (a vantagem pode ser considerada devida, mas a lei civil não fornece instrumentos para a cobrança desse tipo de dívida). Quando a pretensão do agente é legítima ou se ele, por erro plenamente justificado, pensa ser ela legítima, mas usa de violência ou grave ameaça para satisfazê-la, responde por crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Ex.: ameaçar o inquilino para que ele pague o aluguel. A diferença em relação à dívida de jogo é a de que a do aluguel pode ser cobrada em juízo e a do jogo não. Nesta última 5 hipótese, a pretensão é ilegítima, ainda que relativamente, e, por isso, configura o constrangimento ilegal, que é mais grave. Constrangimento ilegal para evitar ato imoral: Se a finalidade do agente ao empregar a violência ou grave ameaça é de evitar que alguém pratique ato imoral (prostituição, por exemplo), responde por constrangimento ilegal, porque o texto legal prevê a tipificação do crime sempre que a conduta não for proibida por lei e não existe lei que proíba a venda do corpo (apenas a exploração dela por outrem). Constrangimento para evitar a prática de crime: ação é legítima, não há crime. Consumação: Tendo em vista a redação do dispositivo, que prevê pena para quem constrange a vítima a fazer ou não fazer algo, é unânime o entendimento no sentido de que se trata de crime material em que a consumação só ocorre quando a vítima, coagida, faz o que o agente mandou que ela fizesse, ou deixa de fazer o que ele ordenou que não fizesse. Trata-se de crime diferenciado, na medida em que a consumação do crime se dá no momento da ação ou omissão da vítima. Tentativa: É possível quando o agente emprega a violência, grave ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da vítima. Ex.: vítima que sai correndo do local ao ser ameaçada para que entre em um carro; vítima que faz sinal para uma viatura policial que passava pelo local no momento em que estava sendo ameaçada etc. Causas de aumento de pena para o dobro: a) quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas (Art. 146, § 1º); b) emprego de armas; Autonomia do crime de lesões corporais (Art. 146, § 2º): Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. Em decorrência desse dispositivo, caso a violência empregada para a prática do constrangimento ilegal provoque lesões corporais, ainda que leves na vítima, o agente responderá pelos dois crimes. É pacífico, ainda, que as penas dos dois crimes deverão ser somadas, já que o texto legal estabelece que as penas referentes ao crime de lesões corporais deve ser aplicada “além das cominadas” para o constrangimento ilegal. Assim, embora se trate de situação enquadrável no conceito de concurso formal — uma só ação, pois a agressão que lesionou a vítima foi a mesma que a coagiu —, as penas deverão ser somadas, já que a regra específica, prevista na Parte Especial do Código, tem preferência. 6 Excludentes de tipicidade (Art. 146, § 2º): I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Em ambas as hipóteses, – trata-se de um autêntico estado de necessidade que foi alçado à categoria de exclusão de tipicidade. Infração de menor potencial ofensivo: competência dos juizados especiais criminais (Lei n. 9099/95), mesmo nas hipóteses de aumento de pena em dobro (concurso de mais de três pessoas ou emprego de armas). Ação penal: pública incondicionada. Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Objetividade jurídica: A liberdade das pessoas no que tange à sua tranquilidade ou sossego, na medida em que a pessoa ameaçada tende a alterar seus hábitos com receio de que o mal prometido se concretize. Tipo objetivo: A conduta típica consiste em ameaçar, isto é, intimidar, anunciar a provocação de um mal injusto e grave. O mal prometido deve ser grave, devendo, portanto, se referir à promessa de dano a bem jurídico relevante para a vítima, como a vida, a integridade física, o patrimônio, a honra etc. Ex.: ameaçar a vítima de morte, ameaçar desfigurar seu rosto, dizer que vai colocar fogo no carro dela, falar que irá estuprá-la da próxima vez que se encontrarem etc. Elemento normativo do tipo “mal injusto”: É necessário que o mal prometido seja injusto, ou seja, contrário ao direito, pois, se o mal prometido for permitido pela legislação, o fato será atípico, como, por exemplo, dizer que vai despejar o inquilino que não paga os aluguéis, falar que vai protestar o cheque não honrado, anunciar que irá demitir empregado etc. Rogo de praga: Não há crime quando o agente roga uma praga à vítima dizendo, por exemplo, “tomara que você morra logo” ou “se Deus quiser você terá um infarto”. É que, nesses casos, o agente não prometeu um mal cuja concretização dependa dele de algum modo. Meios de execução da ameaça: a) Por palavras — na presença da vítima, por gravação de fita enviada a ela, por 7 telefone etc. b) Por escrito — carta, bilhete, e-mail, fac-símile, mensagem de texto por telefone etc. c) Por gesto — apontar uma arma, fazer sinal com a mão como se tivesse apertando o gatilho de uma arma em direção da vítima, passar o dedo no pescoço simulando um degolamento etc. d) Por meio simbólico — enviar um pequeno caixão para a vítima, afixar à porta da casa de alguém o emblema ou sinal usado por uma associação de criminosos. Classificação doutrinária quanto à forma de execução da ameaça: a) Direta — quando se refere a mal a ser provocado na própria vítima. Ex.: João diz a Pedro que irá matá-lo, fazendo a intimidação chegar ao seu conhecimento por um dos quatro meios de execução anteriormente mencionados (escrito, por palavras etc.). b) Indireta — quando se refere a mal a ser causado em terceira pessoa querida pela vítima. Ex.: dizer à mãe que irá sequestrar seu filho ou estuprar sua filha. Entendemos, ainda, que o próprio filho pode cometer o crime quando, para intimidar o pai, diz seriamente que irá se suicidar. c) Explícita — é a ameaça feita às claras, não deixando o agente qualquer dúvida quanto à sua intenção de intimidar. É o que se dá, por exemplo, quando o agente aponta uma arma para a vítima ou quando diz claramente que pretende matá-la. d) Implícita — em que o agente dá a entender, de forma velada, que está prometendo um mal à vítima. Ex.: dizer que a última pessoa que o tratou assim “não comeu peru no Natal”. Ameaça condicionada: apesar da divergência doutrinária, melhorrazão assiste aqueles que entende que é possível a ameaça quando o agente condiciona o mal que prometeu à vítima a algum evento. Dependendo do caso concreto pode caracterizar constrangimento ilegal. Se uma pessoa armada se dirige à vítima dizendo a ela “se você for embora, eu te mato”, e esta, amedrontada, permanece no local, temos constrangimento ilegal. Por sua vez, quando se condiciona o mal a evento futuro e incerto por parte da vítima, há crime de ameaça, como, por exemplo, dizer, “se você se casar de novo, eu te mato”. Da mesma forma, há crime de ameaça se a condicionante não diz respeito à vítima. Ex.: “se meu time perder, eu te mato”. Promessa de mal atual ou futuro: Tanto existe crime em apontar uma arma para alguém que está presente (promessa de mal atual) como lhe mandar um bilhete dizendo “quando eu te encontrar, vou te matar” (promessa de mal futuro). Nos dois casos a vítima se sente amedrontada. Só não há crime quando 8 o mal é prometido para um futuro longíquo, como, por exemplo, dizer para alguém de 18 anos de idade que, quando ele completar 80 anos, será morto. Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. A ameaça feita por funcionário público no exercício de suas funções constitui crime de abuso de autoridade do art. 3º, da Lei n. 4.898/65. Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, desde que possa compreender o significado da ameaça, pois, caso contrário, não se sentirá intimidada. Por isso, ameaçar de morte um recém-nascido constitui crime impossível por absoluta impropriedade do objeto. É necessário que ameaça seja dirigida a alguém ou a um grupo determinado de pessoas. Ameaça e violência doméstica ou familiar contra mulher: aplica-se a Lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que, em seu art. 41, veda a aplicação de quaisquer dos dispositivos da Lei 9.099/95. Assim, embora o crime de ameaça tenha pena máxima de seis meses, se cometido com violência doméstica ou familiar contra mulher, afastam-se os benefícios da transação penal e da suspensão condicional do processo, dentre outros previstos na Lei n. 9.099/95, devendo o julgamento ser feito na vara especializada de violência contra mulher e não no Juizado Especial Criminal Comum. Ação penal é pública incondicionada, conforme entendimento do STF (ADI 4424) e STJ (AgRg no REsp 1339695/GO). Elemento subjetivo: É o dolo, consistente na intenção específica de amedrontar, intimidar. É necessário que a ameaça tenha sido proferida em tom de seriedade, mas não se exige que o agente tenha, em seu íntimo, a intenção de concretizar o mal prometido. É claro que, se as palavras ameaçadoras tiverem sido proferidas por brincadeira (jocandi animu), o fato é atípico. Subsidiariedade do crime de ameaça: a) Se a intenção é, por meio da ameaça, obter alguma vantagem em ação ou investigação em andamento, o crime é o de coação no curso do processo (art. 344). Ex.: ameaçar testemunha antes do depoimento que irá prestar em juízo, a fim de que a favoreça. Note-se que, se o depoimento desfavorável já foi prestado, e o agente, por vingança, profere uma ameaça de morte, o crime é o de ameaça. Nesse sentido: “O delito do art. 344 do CP exige, para a sua configuração, o dolo específico, que se caracteriza pelo fim de favorecer interesse próprio ou alheio. Tratando-se de testemunha, consiste em obrigá-la a depor falsamente. Se 9 esta já havia deposto quando feita a ameaça, não há que se falar, portanto, na infração em tela” (TJSP — Rel. Acácio Rebouças — RT 420/62). b) Se a finalidade é forçar a vítima a fazer ou não fazer algo, o crime é o de constrangimento ilegal (art. 146). c) Se a intenção é subjugar a vítima para dela obter alguma vantagem econômica, poderão estar caracterizados crimes de roubo (art. 157) ou extorsão (art. 158). d) Se a ameaça visa dominar a vítima para viabilizar abusos sexuais contra ela, o crime será o de estupro (art. 213). e) Se a intenção é a de evitar a execução de ato legal por parte de funcionário público, o crime é o de resistência (art. 329), hipótese, aliás, em que sequer se exige que a ameaça seja grave. Ameaça feita durante momento de exaltação de ânimos: Apesar de a maior parte da doutrina ressalvar que a exaltação de ânimos não impede o reconhecimento do crime de ameaça em razão do art. 28, I, do CP, que diz que a emoção não exclui o crime, forçoso reconhecer que, na jurisprudência, existe tendência em sentido contrário, com o argumento de que a pessoa que profere ameaça em momento de ira não tem intenção de causar temor à vítima, e sim de fazer uma bravata. Tudo dependerá do caso concreto. Ameaça feita por pessoa embriagada: Para alguns, constitui crime porque o art. 28, II, do CP, estabelece que a embriaguez não exclui o delito. Outros alegam que a embriaguez é incompatível com o dolo de ameaçar. Deve ser analisado o caso concreto. Consumação: No momento em que a vítima toma conhecimento do teor da ameaça, independentemente de sofrer efetiva intimidação. Trata-se de crime formal, bastando que o agente queira intimidar e que a ameaça proferida tenha potencial para tanto. Tentativa: Teoricamente é possível nos casos de ameaça feita por carta ou pela remessa de fita com gravação ameaçadora pelo correio que não chegam ao destinatário, ou pelo envio de mensagem de texto que não chega à pessoa pretendida por erro no endereçamento do número telefônico. Na prática difícil ocorrer a tentativa, pois o crime de ação penal pública condicionada à representação, ou seja, se a vítima representou é porque a ameaça chegou ao seu conhecimento, portanto o crime se consumou. Ação penal e competência: É pública condicionada à representação nos termos do art. 147, parágrafo único, do 10 Código Penal. Tendo em vista o montante máximo da pena, insere-se na competência do Juizado Especial Criminal (Lei n. 9099/95). Sequestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) Pena - reclusão, de um a três anos. § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Objetividade jurídica: A liberdade de locomoção (de ir e vir). Tipo objetivo: A conduta típica é privar alguém de sua liberdade. Essa privação pode se dar por qualquer meio (violência, grave ameaça, uso de soníferos etc.). O crime pode ser cometido mediante deslocamento (detenção), levando-se a vítima até um determinado local, ou mediante retenção no próprio local onde já se encontra (trancar a esposa em casa, por exemplo). A conduta de privar alguém pode ser comissiva (é a regra) como também omissiva (ex.: médico que, ciente da cura do paciente, dolosamente não lhe dá alta porque pretende continuar cobrando pela internação). Disponibilidade do bem jurídico: se a vítima é capaz, o bem jurídico, “a liberdade”, é disponível, de forma que o consentimento da vítima exclui o crime. Elemento subjetivo: É somente o dolo. O tipo penal não exige qualquer intenção específica, contudo, se estiver presente alguma finalidade prevista em lei como crime mais grave, evidente que restaráabsorvido o crime do art. 148. É o que ocorre nos seguintes casos: a) Se o sequestro visa ao pedido de resgate em troca da libertação da vítima, o crime é o de extorsão mediante sequestro (art. 159). b) Se o sequestro for realizado com o fim de praticar crime de tortura, teremos crime de tortura agravado (art. 1º, § 3º, III, da Lei n. 9.455/97). c) Se 11 o agente subtrai criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto, configura-se crime do art. 237 da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), que tem pena maior. d) Se a finalidade do agente for a prática de atos libidinosos com a vítima, estará presente qualificadora do próprio crime de sequestro (art. 148, § 1º, V). Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Se o delito, contudo, for cometido por funcionário público, no exercício das funções, constituirá crime de abuso de autoridade do art. 3º, a, da Lei n. 4.898/1965. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, inclusive as impossibilitadas de se locomover, como os paraplégicos ou doentes graves, bem como crianças e enfermos mentais. O fato de o paraplégico não andar não significa que possam levá-lo a outros locais contra sua vontade. Consumação: Quando a vítima for privada de sua liberdade por tempo juridicamente relevante. Manter alguém em seu poder por um ou dois minutos não constitui crime, exceto se o agente tinha intenção de permanecer mais tempo com ela mas foi impedido ou se a vítima fugiu, hipótese em que haverá tentativa de sequestro. Cuida-se de crime permanente cuja consumação se prolonga no tempo, pois a liberdade da vítima é continuamente afetada enquanto ela não for solta. Por isso, a prisão em flagrante é possível a todo momento, até a libertação da vítima (art. 303 do Código de Processo Penal). A prescrição só começa a correr a partir da data em que cessa a execução do crime (art. 111, III, CP). Se, durante o período em que a vítima está sequestrada, surge nova lei que torna o crime mais grave (aumento de pena ou figura qualificada), ela incide sobre o delito. É o que diz a Súmula n. 711 do STF: “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Tentativa: É possível, quando o agente inicia o ato de execução, mas não consegue manter a vítima privada de sua liberdade por tempo juridicamente relevante. Ex.: o marido tranca as portas da casa para que a esposa não saia, mas ela, imediatamente, deixa a residência pela porta dos fundos com cópia de chave que ele não sabia existir. Figuras qualificadas - Art. 148, § 1º (reclusão, de dois a cinco anos): 12 I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; (O crime pode ser cometido com emprego de fraude enganando-se os profissionais da área médica com exames falsos, ou com a anuência destes, hipóteses em que serão coautores do crime.) III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. (A privação deve ser de 16 dias ou mais, prazo penal contagem pela regra do art. 10 do CP, incluindo-se o dia do início) IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (trata-se de qualificadora de natureza formal, pois basta que o sequestro seja com o fim de prática de ato libidinoso. Se, também, ocorre a relação sexual dissentida, responde o agente por concurso de crimes) Figura qualificada pelo resultado de grave sofrimento físico ou moral, Art. 148, § 2º: Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Essa qualificadora se aplica, por exemplo, quando a vítima fica detida em local frio, úmido, quente, na companhia de ratos ou baratas, quando é exposta à falta de alimentação ou é mantida por muito tempo sem luz solar etc. Também é aplicável se a vítima for espancada pelos sequestradores, exceto se ela sofrer lesão grave ou morrer, hipóteses em que se aplicarão as penas dos crimes autônomos de lesões corporais graves ou homicídio, em concurso material com sequestro simples ou com alguma das qualificadoras do § 1º. Redução a condição análoga à de escravo Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 13 I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) Objetividade jurídica: A liberdade individual em todas as suas manifestações. É conhecido como crime de plágio, em que uma pessoa fica totalmente sujeita, submissa a outra. Tipo objetivo: o crime é de ação vinculada, permitindo o texto legal a tipificação do ilícito sempre que se mostrar presente quaisquer das condutas típicas nele elencadas: a) submissão da vítima a trabalhos forçados ou jornada exaustiva; b) sujeição a condições degradantes de trabalho; c) restrição, por qualquer meio, da liberdade de locomoção em razão de dívida contraída para com o empregador ou preposto deste; d) cerceamento do uso de meios de transporte, com intuito de reter a vítima no local de trabalho; e) manutenção de vigilância ostensiva no local de trabalho ou apoderamento de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo. O rol é taxativo, não admitindo o uso de analogia para extensão a outras hipóteses. É crime de ação múltipla em que a realização de uma só conduta já é suficiente para caracterizar o delito; porém, a realização de mais de uma delas, em relação à mesma vítima, constitui crime único. Provocação de lesões na vítima: haverá concurso de crimes, uma vez que no preceito secundário do tipo penal consta a pena de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo: Também pode ser qualquer pessoa. Eventual consentimento da vítima é irrelevante, já que não se admite que alguém concorde em viver em condição de escravidão. Se a vítima for criança ou adolescente, aplica-se um aumento de metade da pena, descrito no art. 149, § 2º, I. 14 Elemento subjetivo: É o dolo, direto ou eventual. Não se exige intenção específica, senão aquela implícita no tipo penal que é de se aproveitar da mão de obra da vítima. Conduta discriminatória como causa de aumento de pena em metade: Se o crime tiver sido cometidopor motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem, a pena sofrerá acréscimo de metade, nos termos do art. 149, § 2º, II. Assim, se ficar provado que o sujeito cometeu o crime porque a vítima é branca, negra, indígena, oriental, boliviana, argentina, nordestina, católica, judia, árabe, hindu etc., sua pena será maior. Consumação: Como o Código Penal exige que a vítima seja reduzida à condição análoga à de escravo, é evidente que a situação fática deve perdurar por período razoavelmente longo (crime permanente), de modo a ser possível a constatação, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, de que houve uma completa submissão da vítima ao agente. Assim, a sujeição da vítima a trabalhos forçados, de forma eventual, constitui apenas crime de maus-tratos (art. 136). Tentativa: É possível. Ação penal: É pública incondicionada. O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou que a competência para apurar este crime é sempre da Justiça Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário n. 398.041, em 30 de novembro de 2006. SEÇÃO II DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO Violação de domicílio Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. § 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. § 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder. § 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. 15 § 4º - A expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. § 5º - Não se compreendem na expressão "casa": I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. Objetividade jurídica: A tranquilidade da vida doméstica. O crime em tela visa dar concretude ao preceito constitucional de que a casa é asilo inviolável do cidadão (art. 5º, XI - "a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial"). Não proteger a posse ou o patrimônio, posto que não se considera crime, por exemplo, o ingresso em casa abandonada ou desabitada. Tipo objetivo: é tipo misto alternativo, uma vez que o dispositivo estabelece duas formas de execução do crime: a) entrar em casa alheia — significa que o agente invade, ingressa totalmente na residência da vítima ou em alguma de suas dependências; b) permanecer em casa alheia — pressupõe que, em um primeiro momento, o agente tenha tido autorização para lá estar e, cessada essa autorização, ele deixe de se deslocar para fora de suas dependências, por tempo razoável. Formas de execução: clandestina (sem que a vítima perceba) ou astuciosa (utilizando-se de fraude, ex.: disfarce de funcionário da empresa de telefonia) Elementar do tipo penal: contra a vontade (expressa ou tácita) de quem de direito (aquele que tem o poder legal de impedir a entrada ou permanência de pessoas em sua casa, a exemplo do proprietário, possuidor, locatário etc.). Edifícios ou condomínios térreos: cada morador tem direito de vetar a entrada ou permanência de pessoas em sua unidade, bem como nas áreas comuns. Se, todavia, houver autorização de outro condômino ao acesso à área comum, a entrada estará autorizada e não existirá crime. Habitações coletivas: prevalece o entendimento de que, havendo oposição de um dos moradores, persistirá a proibição. Em caso de divergência entre pais e filhos, prevalece a 16 determinação dos pais, exceto se a residência for de propriedade de filho maior de idade. Empregados: têm direito de impedir a entrada de pessoas estranhas em seus aposentos, direito que, entretanto, não atinge o proprietário da casa se houver justa causa para o ingresso. Os empregados não têm direito de receber pessoas no interior de residência ou de apartamento, exceto se houver autorização dos proprietários. Divergência de cônjuges ou companheiros: alguns entendem que deve prevalecer a proibição. No entanto outros entendem pela posição mais liberal, até porque, se o marido diz que não quer que sua esposa receba a visita de determinada amiga, mas a esposa autoriza a entrada, não há como se vislumbrar dolo de violar domicílio por parte desta1. Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Até mesmo o proprietário de casa alugada pode ser autor do crime, caso nela ingresse sem autorização do inquilino. Sujeito passivo: O morador, titular do direito de proibir a entrada ou permanência de alguém na casa. Elemento subjetivo: Somente dolo. A doutrina toda menciona que, para a configuração do crime de violação de domicílio, é necessário que a conduta seja um fim em si mesmo. Assim, a invasão de domicilio para prática de qualquer outro crime fica por ele absorvida. Se a invasão for para se proteger de um assalto, não há crime. Se a invasão for para se esconder da polícia, para uns há o crime, para outros não. Consumação: crime de mera conduta, que se consuma quando o agente ingressa completamente na casa da vítima, ou, quando, ciente de que deve sair, não o faz por tempo juridicamente relevante. A doutrina é unânime no sentido de que a rápida permanência, com espontânea e imediata retirada na sequência, não constitui crime. Assim, a primeira modalidade constitui crime instantâneo e, a segunda, delito permanente, cuja prisão em flagrante é possível enquanto não cessada a execução (art. 303 do CPP). Tentativa: É possível em ambas as figuras. Embora a modalidade “permanecer” em casa alheia seja omissiva, admite, excepcionalmente, a tentativa por ser, 1 Nesse sentido: “Se um homem entra em uma residência por convite ou autorização da mulher, para com esta manter colóquio amoroso, inadmissível é a condenação daquele por violação de domicílio, por arguida ofensa à vontade tácita do chefe de família” (Tacrim‐SP — Rel. Francis Davis — Jutacrim 48/363). 17 concomitantemente, considerada crime permanente, que só se consuma pela recusa em deixar o local por tempo considerável. Assim, se o agente diz que não vai sair, mas imediatamente é retirado à força por pessoas presentes, mostra-se configurada a tentativa. Circunstâncias qualificadoras (Art. 150, § 1º): Se o crime é cometido durante a noite (ausência de luz solar), ou em lugar ermo (afastado, sem circulação de pessoas), ou com emprego de violência (contra coisa ou pessoa) ou de arma (própria ou imprópria) ou por duas ou mais pessoas (autoras ou participe): Pena — detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. Causa de aumento de pena quando praticado por funcionário público (Art. 150, § 2º): Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservânciadas formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de poder. Fora dos casos legais: sem mandado judicial ou fora das hipóteses de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro. Fora das formalidades legais: existe um mandado de prisão ou de busca e apreensão, mas o agente não cumpre as formalidades para o seu cumprimento, ex.: mandado de prisão em residência só pode ser cumprido durante o dia. Se o cumprimento se der à noite, haverá crime. Igualmente se o mandado de busca for concretizado sem a observância das regras a respeito do art. 245 do Código de Processo Penal. Abuso de poder: quando o funcionário, por exemplo, extrapola o tempo necessário de permanência no local. Abuso de Autoridade (Lei n. 4.898/65) versus Violação de Domicílio: o art. 3º, b, da referida Lei, dispõe que constitui crime de abuso de autoridade atentar contra a inviolabilidade domiciliar (pena de 10 dias a 6 meses de detenção). Capez entende se a violação de domicílio praticada por autoridade (funcionário público) prevalece o princípio da especialidade, ou seja, responde só por abuso de autoridade. Bitencourt afirma que deve responder pelos dois crimes, sem a qualificadora do §2º. Monteiro de Barros sustenta que o servidor deve responder pelo crime de violação de domicílio, com o aumento da pena, e também pelo referido crime de abuso de autoridade. O STJ já entendeu pela responsabilização dos dois crimes2. 2 (...) 2 — O crime de abuso de autoridade deve ser examinado pelo Juizado Especial e os de invasão de domicílio e lesão corporal leve pela Justiça Militar. 3 — A transação penal ofertada aceita e homologada no Juizado Especial não constitui causa de extinção da punibilidade em relação aos crimes de lesões 18 Conceito de casa (§§ 4º e 5º do art. 150, CP). § 4º - A expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento habitado (casas, apartamentos, barracos de favela etc. Casas desabitadas ou abandonadas, portanto, não se incluem na definição); II - aposento ocupado de habitação coletiva (quarto de hotel, cortiço, motel etc)3; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (escritório, consultório, parte interna de uma oficina etc. Entende-se, pois, que não há crime no ingresso às partes abertas desses locais, como recepção, sala de espera etc.). § 5º - Não se compreendem na expressão "casa": I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior (o prostíbulo ou a casa de meretriz quando fechadas ao público podem ser objeto do crime em tela)4; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. (estão, pois, excluídos os bares, estabelecimentos comerciais na parte aberta ao público, igrejas, veículos (salvo de houver parte própria para alguém morar ou pernoitar, como nos traillers). Entende-se, outrossim, que não estão incluídos na expressão casa as pastagens de uma fazenda ou o gramado de casa não murada ou cercada, nem as repartições públicas). Dependências: A lei protege expressamente as dependências da casa, ou seja, considera crime o ingresso não autorizado em quintal, garagem, terraço etc5. Excludentes de ilicitude (Art. 150, § 3º): Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas corporais leves e invasão de domicílio, previstos no Código Penal Militar. 4 — Ordem denegada.” (STJ — HC 81.752/RS — Rel. Min. Jane Silva, DJ 15.10.2007, p. 324) 3 A propósito: “O fato de um motel receber rotineiramente casais para encontros amorosos não desnatura sua condição de habitação coletiva. Todos quanto nele ingressam gozam de proteção legal” (Tacrim‐SP — Rel. Sidnei Benetti — RT 689/366). 4 “Quando fechado ou público é inviolável o domicílio da meretriz, e, nessa situação, comete o crime do art. 150 quem contra a sua vontade ali força a entrada” (Tacrim‐SP — Rel. Roberto Martins — RT 456/405). 5 A propósito: “Os próprios jardins, o quintal e a garagem constituem, para efeitos da lei, dependência da casa, principalmente em se tratando do crime de violação de domicílio (art. 150 do CP). Por‐se no telhado de moradia habitada, é violar a liberdade doméstica, ou a casa como asilo inviolável” (Tacrim‐SP — Rel. Sérgio Pitombo — RJD 8/167). 19 dependências: I — durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II — a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime estiver ali sendo praticado ou na iminência de o ser. O art. 5º, XI, da Constituição Federal diz que: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. 20 SEÇÃO III DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA Violação de correspondência Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Sonegação ou destruição de correspondência § 1º - Na mesma pena incorre: I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói; Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior; IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal. § 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem. § 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico: Pena - detenção, de um a três anos. § 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º. Derrogação: Os delitos previstos nos arts. 151, caput (Violação de Correspondência), e seu § 1º, I (Sonegação de Correspondência), do Código Penal, foram substituídos pelos crimes previstos no art. 40 da Lei n. 6.538/78, que trata do serviço postal e de telegramas: Art. 40. Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada dirigida a outrem: Pena — detenção, até seis meses, ou pagamento não excedente a vinte dias-multa. Art. 40, § 1º — Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no todo ou em parte. Objetividade jurídica: A inviolabilidade da correspondência alheia. O dispositivo visa dar concretude ao art. 5º, XII, da Constituição Federal, que declara ser inviolável o sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas. Tipo objetivo: Trata a lei de proteger a carta, o bilhete, o telegrama, desde que fechados. A inviolabilidade de 21 correspondência não é ilimitada, a exemplo da correspondência de presos, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal6. Exclusão do crime: O art. 10 da Lei n. 6.538/78 estabelece que não constitui violação de sigilo da correspondência postal a abertura de carta: I — endereçada a homônimo, no mesmo endereço; II — que apresente indícios de conter objeto sujeito a pagamento de tributos; III — que apresente indícios de conter valor não declarado, objeto ou substância de expedição, uso ou entrega proibidos; IV — que deva ser inutilizada, na forma prevista em regulamento, em virtude de impossibilidade de sua entrega e restituição. Correspondências abertas: não tem caráter de sigilosidade. Violação de correio eletrônico: constitui crime especial previsto no art. 10 da Lei n. 9.296/96, que pune com reclusão, de dois a quatro anos, e multa, quem realiza interceptação de comunicação telefônica, de informática ou telemática. Conversas obtidas em sala de bate-papo: não estão preservadas pelo sigilo das comunicações, pois se trata de ambiente público e destinado a conversas informais (STJ RHC 18116). Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Se for cometido por funcionário público no desempenho das funções, a pena será agravada nos termos do art. 43 da Lei n. 6.538/78, que, quanto a este aspecto, derrogou o art. 3º, c, da Lei n. 4.898/65 (abuso de autoridade). Sujeito passivo: O remetente e o destinatário, que são as pessoas interessadas na manutenção do sigilo. Trata-se de crime com duplo sujeito passivo. Violação de correspondência entre cônjuges: Prevalece o entendimento de que o marido pode ler carta dirigida à esposa, e vice-versa. Esta conclusão fundamenta-se no art. 226, § 5º, da CF e no art. 1.566, inciso II, do CC. De fato, o casamento acarreta aos envolvidos um elenco de direitos e deveres 6 A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei nº. 7.210/84, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.” (HC 70.814, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 24/06/94) 22 incompatíveis com a vida de solteiro, caracterizada pelo maior isolamento e privacidade do indivíduo. Além disso, diversas cartas, bilhetes e telegramas, ainda que em nome de um dos cônjuges, interessam igualmente ao casal. Exemplos: contas domésticas, mensalidades de escolas dos filhos, convites etc. Portanto, quando um dos cônjuges abre correspondências encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em face do exercício regular de direito. O fato pode ser indecoroso e antiético, mas não interessa ao Direito Penal. É de se observar, porém, que a Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – prevê uma medida protetiva que obriga o agressor a não “entrar em contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação” (art. 22, III, b). Desta forma, será legítima e conforme o Direito a atuação da pessoa que, em obediência a ordem judicial, impedir o contato mediante correspondência do agressor com a vítima de violência doméstica ou familiar. Correspondência de advogado: O art. 7º, inc. II, do Estatuto da OAB (Lei. 8.906/2004), diz que correspondência de advogado só pode ser aberta por ordem judicial e na presença de representante da OAB. Se a OAB for comunicada e não indicar o representante, a correspondência pode ser aberta (ADIN 1105/DF e 1127/DF) Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe modalidade culposa, não podendo ser punido aquele que, por engano, abre e lê correspondência alheia. Consumação: Não basta que o agente abra a carta; o delito só se consuma quando ele se inteira de seu conteúdo, exigência feita pelo próprio tipo penal. Tentativa: É possível quando o agente é flagrado quando está abrindo a carta, sendo, porém, impedido de ler seu conteúdo. Causa de aumento de pena: Nos termos do art. 40, § 2º, da Lei n. 6.538/78, a pena será aumentada em metade se a conduta causar dano para outrem. O dano pode ser econômico ou moral. 23 Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica (art. 151, §1º, II, III e IV): II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas; III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior; IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal. A primeira parte do art. 151, § 1º, II, do CP está em vigor unicamente nas hipóteses em que a violação é efetuada por pessoas comuns. Aplica-se o art. 56, § 1º, da Lei 4.117/1962 – Código Brasileiro de Telecomunicações, nas hipóteses em que a violação é praticada por funcionário do governo encarregado da transmissão da mensagem. A parte final do art. 151, § 1º, II (conversa telefônica), do CP foi derrogada pela Lei 9.296/1996, que regulamenta o art. 5º, XII, parte final, da CF. Esta lei ordinária criou um tipo penal específico para a violação do sigilo telefônico no art. 10, dispondo que constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei. O dispositivo continua aplicável ao terceiro que não interveio na interceptação telefônica criminosa, mas divulgou-a a outras pessoas. Se um terceiro concorrer de qualquer modo para a interceptação telefônica ilegal, será partícipe do crime definido pelo art. 10 da Lei 9.296/1996. Se tiver ciência de uma gravação oriunda de violação telefônica indevida, e divulgá-la, a ele será imputado o crime definido pelo art. 151, § 1º, I, do CP. A modalidade do crime prevista no art. 151, § 1º, III, está em vigor, nos termos definidos pelo CP. O art. 151, § 1º, IV, do CP foi substituído pelo art. 70 da Lei 4.117/1962 – Código Brasileiro de Telecomunicações. A finalidade da lei é vedar a uma pessoa, sem autorização legal, a instalação ou utilização de aparelho clandestino de telecomunicações. Ação penal: É pública condicionada à representação (CP, art. 151, § 4º, preservado pelo art. 48 da Lei 6.538/1978). Nas hipóteses dos incisos II e III do §1º, é pública condicionada à 24 representação, salvo no tocante a violação de sigilo telefônico. Já para o previsto no inciso IV, é pública incondicionada. Tratando-se de crime de dupla subjetividade passiva, o direito de representação pode ser exercido tanto pelo remetente como pelo destinatário da correspondência. Se um deles quiser representar, e o outro não, prevalece a vontade daquele que deseja autorizar a instauração da persecução penal. Competência: Por se tratar de infração de menor potencial ofensivo, a competência é do Juizado Especial Criminal. Correspondência comercial Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: Pena - detenção, de três meses a dois anos. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Objeto jurídico: É a inviolabilidade de correspondência. A lei penal tutela a liberdade de comunicação do pensamento transmitida por meio de correspondência comercial. Objeto material: É a correspondência comercial que suporta a conduta criminosa. No conceito de correspondência comercial se encaixa toda e qualquer carta, bilhete ou telegrama inerente à atividade mercantil. Deve relacionar-se às atividades exercidas pelo estabelecimento comercial ou industrial. Por esse motivo, a correspondência remetida ao estabelecimento, tratando de assunto alheio às suas atividades, poderá ser objeto material somente do crime de violação de correspondência (CP, art. 151, caput).10 Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar de forma excessiva ou inadequada. Os sócios ou empregados, no exercício de suas atividades, geralmente têm acesso a informações contidas em correspondências endereçadas ao estabelecimento comercialou industrial. Nesse contexto, a pessoa jurídica, na mesma linha da pessoa física, merece proteção penal para que suas correspondências não sejam ultrajadas, com a transmissão indevida das informações nela contidas a estranhos. A conduta de abusar se concretiza mediante o ato de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, 25 subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação (exemplo: abrir uma carta) ou por omissão (exemplo: deixar uma correspondência ser destruída pela chuva). Percebe-se inicialmente que a correspondência comercial pode ser devassada total ou parcialmente, e em qualquer caso estará caracterizado o delito. Desviar é afastar a correspondência do seu real destino. Sonegar é esconder, no sentido de obstar a chegada da correspondência ao correto estabelecimento comercial ou industrial. Subtrair é apoderar-se da correspondência comercial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu envio ao destino original. Suprimir é destruir para que a correspondência não seja entregue em seu destino, ou para que seja retirada do estabelecimento comercial ou industrial para o qual foi encaminhada. Revelar é permitir o acesso ao conteúdo da correspondência do estabelecimento comercial ou industrial a quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha o direito de conhecer o que nela se contém. Sujeito ativo: Somente o sócio ou empregado do estabelecimento comercial ou industrial (crime próprio). Sujeito passivo: É o estabelecimento comercial ou industrial titular da correspondência violada. Elemento subjetivo: É o dolo. Exige-se também um especial fim de agir, representado pela intenção de abusar da condição de sócio ou empregado. É necessário tenha o agente, ao tempo da conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar condição em relação à vítima. Não se admite a modalidade culposa. Consumação: O crime é formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. Dá-se a consumação quando o agente desvia, sonega, subtrai ou suprime a correspondência comercial, ou então quando revela a terceiro seu conteúdo. Não há necessidade de produção do resultado naturalístico, isto é, prescinde-se do prejuízo à pessoa jurídica. Tentativa: É possível. Ação Penal: É pública condicionada à representação (art. 152, parágrafo único, do CP). 26 Lei 9.099/1995: Em face da pena máxima cominada ao delito (dois anos), cuida-se de infração penal de menor potencial ofensivo. Além disso, em se tratando de crime de ação penal pública condicionada à representação, é possível a composição dos danos civis, bem como a transação penal, se presentes seus requisitos legais (Lei 9.099/1995, art. 76). Finalmente, o processo e o julgamento deste crime obedecem ao rito sumaríssimo, disciplinado pelos arts. 77 e seguintes da Lei 9.099/1995. SEÇÃO IV DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS Divulgação de segredo Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º Somente se procede mediante representação. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000) § 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Objeto jurídico: É a inviolabilidade da intimidade ou da vida privada. Veda-se a divulgação de segredos cujo conhecimento por terceiros pode trazer prejuízos ao seu titular. Objeto material: É o conteúdo secreto de documento particular ou de correspondência confidencial. Núcleo do tipo: É divulgar, vulgarizar, tornar público ou conhecido um fato ou informação. Não basta a comunicação a uma só pessoa ou a um número reduzido e limitado, exige-se propalação, difusão, possibilitando o conhecimento do fato a um número indeterminado de pessoas. O fato ou informação deve estar contido em documento particular ou correspondência confidencial. É indispensável esteja o segredo concretizado pela forma escrita – o segredo conhecido 27 oralmente escapa da incidência do art. 153, caput, do CP. A conduta de divulgar pode ser praticada por variados meios (crime de forma livre). O objetivo da lei penal é vedar que uma pessoa, destinatária de um documento particular ou de uma correspondência confidencial, possa divulgá-la a terceiros, provocando danos a alguém. Documento é o escrito que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de um ato juridicamente relevante. Para o CPP, é o escrito, instrumento ou papel público ou particular. Interessa, para o art. 153, caput, do CP, unicamente o documento particular, cujo conceito há de ser obtido por exclusão. De fato, documento particular é o elaborado por particular, sem a interferência de funcionário público no exercício de suas funções. O tipo penal em análise não se aplica ao documento público, por ausência de previsão legal. A revelação do seu conteúdo pode, contudo, caracterizar o crime de violação de sigilo funcional (art. 325 do CP). Correspondência confidencial é o escrito em forma de bilhete, carta ou telegrama, que tem destinatário certo e com conteúdo que não pode ser revelado a estranhos. Tratando-se de correspondência não confidencial, inexiste crime. O caráter confidencial (segredo) da correspondência pode ser expresso (assim indicado pelo remetente) ou tácito (aquele cuja divulgação é capaz de prejudicar alguém). Há documentos que, por sua natureza ou por necessidade legal, são secretos, a exemplo do testamento cerrado – em tais casos, o segredo é presumido. Não importa que o vínculo de segredo seja temporário ou condicionado ao advento de determinado fato: ainda em tal hipótese, seu rompimento antecipado é crime. Elemento normativo do tipo: Está contido na expressão “sem justa causa”. Não é qualquer divulgação de conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial que caracteriza o delito de divulgação de segredo – a divulgação deve ser realizada sem justa causa. A justa causa conduz à exclusão da tipicidade do fato. Há justa causa, entre outras, nas seguintes hipóteses: comunicação à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário de infração penal; 28 consentimento do interessado; para servir de prova da existência de uma infração penal ou de sua autoria; dever de testemunhar em juízo; e defesa de interesse legítimo. Também não há crime quando alguém entrega à autoridade policial, ao Parquet ou ao Poder Judiciário uma missiva recebida de outrem, contendo a confissão de um delito pelo verdadeiro autor (remetente). Há justa causa na divulgação do fato secreto, prevista expressamente no art. 233, parágrafo único, do CPP: “As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário”. Aplica-se ao caso, também, o princípio da proporcionalidade, da razoabilidade ou da convivência das liberdades públicas: sacrifica-se o direito à intimidade de um criminoso para preservação do direito à liberdade de um inocente. Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, pois somente pode ser praticado pelo destinatário ou detentor do documento particular ou correspondência de conteúdo confidencial. Sujeito passivo: É aquele a quem adivulgação do segredo possa produzir dano (remetente, destinatário ou qualquer outra pessoa). Elemento subjetivo: É o dolo. Não se admite a forma culposa. Em face do elemento normativo “sem justa causa”, é necessário conheça o agente o caráter confidencial da informação divulgada, a ilegitimidade da sua conduta e a possibilidade de produzir dano a outrem. Não se exige nenhum elemento subjetivo específico. O especial fim de agir do sujeito ativo, entretanto, pode tipificar outros crimes (arts. 154 e 325 do CP; art. 144 do CPM – Decreto-lei 1.001/1969; art. 195 da Lei 9.279/1996, e arts. 13 e 21 da Lei 7.170/1983 – Lei de Segurança Nacional). Consumação: Dá-se no instante em que o segredo é divulgado para um número indeterminado de pessoas.16 O delito é formal, dispensando-se a efetiva produção do dano em concreto (resultado naturalístico). Tentativa: É possível. 29 Figura qualificada (art. 153, § 1º-A): A qualificadora, denominada de “divulgação de sigilo funcional de sistemas de informações”, foi instituída pela Lei 9.983/2000, com o fim de tutelar as informações sigilosas ou reservadas de interesse da Administração Pública, notadamente as relativas à Previdência Social. É necessário que a informação sigilosa ou reservada tenha conteúdo material. Logo, não há crime quando se tratar de informação meramente verbal, ainda que sigilosa ou reservada. Informações são os dados sobre alguém ou algo. Sigilosa é a informação confidencial, secreta. Reservada é a informação merecedora de cuidados especiais relativamente às pessoas que dela possam ter ciência. Trata-se de crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Se o sujeito ativo for funcionário público, a ele será imputado o crime de violação de sigilo funcional (CP, art. 325). O sujeito passivo é o Estado. Nada impede a existência de um particular como sujeito passivo mediato ou secundário, desde que possa ser prejudicado pela divulgação das informações sigilosas ou reservadas. Normal penal em branco: A figura qualificada do § 1º-A é norma penal em branco em sentido lato ou homogênea. O tipo penal confere ao legislador a tarefa de indicar quais são as informações sigilosas ou reservadas, que podem ou não estar contidas em bancos de dados ou sistemas de informações. São exemplos de informações sigilosas no direito brasileiro: a) art. 20, caput, do CPP; b) art. 76, § 4º, da Lei 9.099/1995; c) art. 202 da Lei 7.210/1984 – Lei de Execução Penal. Ação Penal: No caput, a ação penal é pública condicionada à representação (CP, art. 153, § 1º). Não se aplica a regra prevista no art. 153, § 2º, do CP, pois o tipo fundamental fala somente em “dano a outrem”, excluindo, portanto, a eficácia penal da conduta criminosa em relação à Administração Pública. Na figura qualificada, em regra, é pública condicionada à representação (CP, art. 153, § 1º). Nesse caso, somente o particular é ofendido pela conduta criminosa. No entanto, se do fato resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será pública incondicionada (CP, art. 153, § 2º). 30 Competência criminal (Lei 9.099/1995): O art. 153, caput, do CP constitui-se em infração penal de menor potencial ofensivo. Obedece ao rito sumaríssimo e comporta transação penal, se presentes os requisitos exigidos no art. 76 da Lei 9.099/1995. E, por se tratar de crime de ação penal pública condicionada à representação, eventual composição dos danos civis leva à extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de representação (Lei 9.099/1995, art. 74, parágrafo único). A figura qualificada constitui-se em crime de médio potencial ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/1995, art. 89). Violação do segredo profissional Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. Fundamento: O segredo profissional desponta como consectário lógico do direto à intimidade, previsto no art. 5º, X, da Constituição Federal, e “obriga a quem exerce uma profissão regulamentada, em razão da qual há de tomar conhecimento do segredo de outra pessoa, a guardá-lo com fidelidade”. Exemplificativamente, o advogado a quem o cliente confidencia a prática de um crime não pode inadvertidamente transmitir essa informação a outras pessoas. O titular do segredo é protegido pelo direito à intimidade, uma vez que o profissional não pode sem justa causa invadir sua esfera privada e revelar a outrem o segredo de que teve conhecimento, sob pena de violar aquele direito e incidir na figura típica prevista no art. 154 do CP. Objeto jurídico: É a inviolabilidade da intimidade e da vida privada das pessoas, relativamente ao segredo profissional. O dever de guardá-lo, contudo, não é absoluto. Objeto material: É o assunto transmitido ao profissional em caráter sigiloso. 31 Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é “revelar”, no sentido de delatar ou denunciar. Segredo é toda informação secreta, o assunto ou fato que não pode ser tornado público ou conhecido de pessoas não autorizadas, pois sua revelação pode produzir dano a outrem. Esse dano pode atingir um interesse público ou privado, bem como pode ser material ou simplesmente moral. É necessário, porém, que seja injusto. O responsável pela conduta criminosa pode ter recebido o segredo oralmente, por escrito, ou por outro modo qualquer. O crime é de forma livre, comportando qualquer meio de execução. Elemento normativo do tipo: Só há crime quando a violação do segredo profissional é realizada “sem justa causa”, isto é, sem sustentação legal. Destarte, o fato será atípico, por ausência do elemento normativo, em diversos casos, tais como: estado de necessidade (exemplo: sujeito revela um segredo alheio para não ser incriminado), exercício regular de direito (exemplo: psicólogo revela ao médico um dado sigiloso acerca do paciente em comum), estrito cumprimento de dever legal (exemplo: art. 269 do Código Penal, do qual decorre a obrigação legal do médico de comunicar doença de notificação compulsória) e consentimento do ofendido. Quanto ao consentimento do ofendido, existem hipóteses em que a lei não o admite como justa causa para a revelação do segredo profissional. É o que ocorre no tocante ao advogado (Lei 8.906/1994 – Estatuto da OAB, art. 7º, XIX), bem como relativamente ao médico (Código de Ética Médica, art. 36). Tais pessoas, portanto, podem recusar-se a depor como testemunhas. O art. 66, II, do Decreto-lei 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais) dispõe que o médico não é obrigado a comunicar crime de que teve conhecimento no exercício da profissão quando a comunicação expuser o cliente a procedimento criminal. Sujeito ativo: Crime próprio, somente pode ser cometido por quem teve conhecimento do segredo em razão de sua função, ministério, ofício ou profissão (“confidentes necessários”). O crime relaciona-se necessariamente a uma atividade privada – se a conduta for praticada por funcionário público, estará 32 caracterizado outro crime, a exemplo da violação de sigilo funcional (CP, art. 325, caput) ou da fraude em certames de interesse público (CP, art. 311-A). Sujeito passivo: Qualquer pessoa suscetível de ser prejudicada pela revelação do segredo, seja seu titular ou até mesmo um terceiro. Elemento subjetivo: É o dolo, abrangente da ciência da ilegitimidade da conduta e da possibilidade de causar dano a outrem. Não se admite a modalidade culposa, e também não se exige nenhuma finalidade específica. Consumação: Dá-se no instante em que o confidente necessáriorevela a terceira pessoa o segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão. Basta seja contado o conteúdo do segredo a uma única pessoa, desde que esta conduta possa causar dano a alguém, patrimonial ou moral. Prescinde-se da produção do resultado naturalístico. O crime é formal, de resultado cortado ou de consumação antecipada. Tentativa: É admissível na revelação do segredo por escrito, tal como na carta que se extravia (delito plurissubsistente). Ação Penal: É pública condicionada à representação, a teor do art. 154, parágrafo único, do Código Penal. Lei 9.099/1995: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, compatível com a composição dos danos civis e com a transação penal, desde que presentes os requisitos legalmente previstos (Lei 9.099/1995, art. 76). Segue o rito sumaríssimo (Lei 9.099/1995, arts. 77 e seguintes). Crime falimentar: Violação de sigilo empresarial - Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Distinção em relação ao Crime contra Segurança Nacional: Àquele que comunicar, entregar ou permitir a comunicação ou a entrega, a governo ou grupo estrangeiro, ou a organização ou grupo de existência ilegal de dados, documentos ou cópias 33 de documentos, planos, códigos, cifras ou assuntos que, no interesse do Estado brasileiro, são classificados como sigilosos, será imputado o crime definido pelo art. 13 da Lei 7.170/1983. Quem facilitar, culposamente, a prática deste crime responde pelo delito tipificado pelo art. 14 do referido diploma legal. Distinção em relação ao Crime contra o Sistema Financeiro Nacional: Incide nas penas do art. 18 da Lei 7.492/1986 quem “violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos mobiliários de que tenha conhecimento, em razão do ofício”. Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência I - Presidente da República, governadores e prefeitos; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 34 IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Fundamento: é inegável que leis editadas décadas atrás, nas quais sequer se pensava na existência de computadores, levavam a malabarismos adaptativos dos operadores do Direito para enfrentar novos comportamentos. Depois da invasão do computador pessoal da atriz Carolina Dieckmann. Em maio de 2012, ocasião em que 36 fotos íntimas dela foram subtraídas por cinco homens, posteriormente identificados e responsabilizados pelos crimes de extorsão, difamação e furto, mas não pela invasão do computador, em face do vácuo normativo. Para suprir esta lacuna, foi editada a Lei 12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann e responsável pela inclusão no art. 154-A do Código Penal do delito de invasão de dispositivo informático, também conhecido como intrusão informática. Objeto jurídico: É a liberdade individual, especificamente no tocante à inviolabilidade dos segredos. Objeto material: É o dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores. Os dispositivos informáticos dividem-se basicamente em 4 (quatro) grupos: a) dispositivos de processamento: são responsáveis pela análise de dados, com o fornecimento de informações, visando a compreensão de uma informação do dispositivo de entrada para envio aos dispositivos de saída ou de armazenamento. Exemplos: placas de vídeo e processadores de computadores e smartphones; b) dispositivos de entrada: relacionam-se à captação de dados escritos, orais ou visuais (exemplos: teclados, microfones e webcam); c) dispositivos de saída: fornecem uma interface destinada ao conhecimento ou captação, para outros dispositivos, da informação escrita, oral ou visual produzida no processamento (exemplos: impressoras e monitores); e d) dispositivos de armazenamento: dizem respeito à guarda de dados ou informações para posterior análise (exemplos: pendrives, HDs – hard disks e CDs – discos compactos). Só há crime quando a conduta recai em dispositivo informático alheio. Destarte, o fato será atípico quando o 35 sujeito devassa um dispositivo próprio, ainda que não esteja sob sua posse. É irrelevante se o dispositivo informático alheio encontra-se ou não conectado à rede de computadores. Destarte, não se exige sua interligação com outro dispositivo informático, possibilitando o compartilhamento de dados ou informações. Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é “invadir”, no sentido de devassar dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores. A devassa se concretiza mediante a violação indevida (sem justa causa ou ilegítima) de mecanismo de segurança. Cuida-se de elemento normativo do tipo, a ser analisado no plano concreto. Obviamente, o fato será atípico quando a violação for devida. Mecanismo de segurança é qualquer ferramenta utilizada para proteger o dispositivo informático de ameaças (subtração ou alteração de informações, danos físicos, modificação das configurações
Compartilhar