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VIII Crimes contra a Liberdade

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PENAL II – PARTE ESPECIAL 
 
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA 
Advogado (OAB/DF) 
Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada (Esp) 
Especialista em Direito Penal e Processual Penal pelo ICAT/UNIDF 
Especialista em Gestão Policial Judiciária – APC/Fortium 
Coordenador do www.conteudojuridico.com.br 
Delegado de Polícia PCDF (aposentado) 
Ex-analista judiciário do TJDF 
Ex-agente de polícia civil do DF 
Ex-agente penitenciário do DF 
 Ex-policial militar do DF 
vcoimbr@gmail.com 
 
 
CÓDIGO PENAL - TÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
Capítulo VI – Dos crimes contra a Liberdade Pessoal. Violação 
do Domicílio e Violação de Segredos (Arts. 146 ao 
154-B do CP) 
 
9.CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL e VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO E SEGREDOS: 
Conceito.  Objeto  jurídico.  Classificação.  Elemento  subjetivo.  Sujeito  ativo.  Sujeito 
passivo dos crimes de: sequestro e cárcere privado. Sujeito ativo. Sujeito passivo do 
crime de plágio. Da violação   do domicílio. Violação de correspondência. Violação de 
Correspondência comercial. Divulgação de segredo e Violação do segredo profissional. 
 
CAPÍTULO VI 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL 
SEÇÃO I 
DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL 
 
Constrangimento ilegal 
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou 
depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de 
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Aumento de pena 
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a 
execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. 
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. 
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: 
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I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de 
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; 
II - a coação exercida para impedir suicídio. 
 Objetividade jurídica: A liberdade das pessoas de fazer ou 
não fazer o que bem lhes aprouver, dentro dos limites legais. 
Cuida-se de complemento à regra inserta no art. 5º, II, da 
Constituição Federal, segundo a qual “ninguém será obrigado 
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de 
lei”. 
 Tipo objetivo e meios de execução: No crime em tela, o 
agente constrange, coage, obriga a vítima a fazer ou não fazer 
algo. O crime, portanto, se aperfeiçoa em duas hipóteses: 1) 
Quando a vítima é obrigada a fazer algo: a levar o agente a 
algum lugar, a fazer uma viagem que não queria, a escrever 
uma carta, a dizer onde se encontra uma pessoa, a indicar 
onde se encontram certos documentos, a dançar com o agente, 
a mergulhar em uma piscina gelada, a cortar a grama da casa 
do agente, a tomar um copo de bebida alcoólica, a usar cinto 
de castidade no período de ausência do marido etc. 2) Quando 
a vítima é obrigada a não fazer algo: a não fazer uma viagem, 
a não ir às aulas, a não ir a uma festa ou baile, a não ir ao 
banheiro etc. Abrange, também, a hipótese em que ela é 
obrigada a tolerar que o agente faça algo. 
 Violência é o emprego de força física ou de atos agressivos 
sobre a vítima (socos, pontapés etc.). Assim, comete o crime o 
namorado que, enciumado com o fato de a namorada estar 
prestes a viajar com as amigas, segura-a impedindo que entre 
no ônibus. Igualmente, quem usa de força física para forçar a 
vítima a ingerir um copo de bebida alcoólica etc. 
 Grave ameaça é a promessa de mal grave a ser causado no 
próprio agente ou em terceiro que lhe é querido. Dessa forma, 
comete o delito a pessoa de proporções físicas avantajadas 
que manda a vítima franzina mudar de assento em um estádio 
de futebol pois, caso contrário, irá agredi-la. Igualmente 
constitui crime dizer para a mãe que irá matar o filho dela, caso 
ela vá a uma festa. No constrangimento ilegal não é 
necessário que o mal prometido à vítima seja injusto, 
bastando que a pretensão do agente seja ilegítima. 
 Qualquer outro meio de redução da capacidade de 
resistência (violência imprópria): Formulação genérica de 
cometer o crime de constrangimento ilegal, consistente no 
emprego de qualquer outro meio que reduza a capacidade de 
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resistência da vítima para que ela faça ou deixe de fazer algo, 
como, por exemplo, o emprego de soníferos, calmantes ou 
de hipnose. Configura, portanto, o delito, hipnotizar alguém 
para determiná-lo a fazer algo, ou ministrar sorrateiramente 
sonífero na bebida da vítima para que ela durma e não vá ao 
bar se encontrar com os amigos. 
 Crime exclusivamente comissivo: No constrangimento ilegal 
a conduta do agente é sempre comissiva, pois a lei exige que 
ele empregue violência, grave ameaça ou outro meio que 
reduza a capacidade de resistência da vítima. O que é possível, 
em verdade, é que o agente queira uma omissão da vítima, 
mas o crime de constrangimento ilegal, em si, não admite a 
figura omissiva. 
 Sujeito ativo: Trata-se de crime comum, pois pode ser 
cometido por qualquer pessoa. Toda a doutrina diz que, se o 
agente for funcionário público, cometerá crime de abuso de 
autoridade. 
 Sujeito passivo: qualquer pessoa que tenha capacidade de 
determinação. A doutrina costuma dizer que as crianças de 
pouca idade e os doentes mentais não têm vontade própria e, 
por isso, não podem ser sujeito passivo do presente crime. 
Tudo dependerá do caso concreto, pois pode ocorrer de uma 
pessoa de pouca idade ou um doente mental possa entender o 
caráter da ameaça. Os surdos, cegos e paraplégicos podem 
ser sujeito passivo de constrangimento ilegal. Pessoas 
jurídicas não podem ser sujeito passivo de constrangimento 
ilegal, e sim o representante da empresa que sofre a violência 
ou grave ameaça e, em nome daquela, realiza ou deixa de 
realizar algum ato contra a sua vontade. 
 Subsidiariedade do crime de constrangimento ilegal: a) Na 
extorsão (art. 158 do CP), o agente também emprega violência 
ou grave ameaça para obrigar a vítima a fazer ou não fazer 
algo, havendo, entretanto, de sua parte, intenção de obter 
indevida vantagem econômica como consequência da ação ou 
omissão da vítima. Ex.: obrigar a vítima a assinar um cheque; 
obrigar o credor a não entrar em juízo com uma ação de 
cobrança. b) No estupro (art. 213), o agente emprega 
violência ou grave ameaça para forçar a vítima a atos de 
natureza sexual. c) Se o agente emprega a violência ou grave 
ameaça para forçar a vítima a confessar um crime, configura-
se uma das modalidades do crime de tortura (prova), previsto 
no art. 1º, inc. I, a, da Lei n. 9.455/97. Já na tortura crime (art. 
1º, inc. I, b da Lei n. 9455/97), o agente responde por concurso 
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de crimes, no caso, a tortura crime e o crime praticado pelo 
torturado;. d) Caso o agente mantenha a vítima privada de sua 
liberdade por tempo relevante, estará configurado o crime de 
sequestro ou cárcere privado (art. 148): Se o agente ameaça 
um motorista e o obriga a levá-lo até a rodoviária da cidade, em 
um trajeto que dura cerca de dez a quinze minutos, o crime é o 
de constrangimento ilegal. Se o agente, entretanto, obriga a 
vítima a levá-lo, em seu carro, da cidade de São Paulo até o 
Rio de Janeiro, em um trajeto de seis horas, o crime é o de 
sequestro. Por sua vez, quando o agente ameaça a vítima para 
que ela faça uma viagem, tendo ela, entretanto, liberdade de ir 
e vir durante toda a sua duração, bem como no local visitado, 
porque o agente não a acompanha, o crime é o de 
constrangimento ilegal. Ex.: o namorado ameaça a namorada 
para que ela saia da cidade durante a época do carnaval, 
ficando ele no local para os festejos. e) Se a intenção do 
agente é forçar o consumidor a pagar alguma dívida, 
configura-se crime especialdo art. 71 da Lei n. 8.069/90 
(Código de Defesa do Consumidor). f) A conduta de coagir 
idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração, 
constitui crime especial do art. 107 da Lei n. 10.741/2003 
(Estatuto do Idoso); g) Quem usa de violência ou grave 
ameaça para forçar alguém a votar, ou não votar, em 
determinado candidato ou partido, ainda que tal fim não seja 
atingido, incorre no crime do art. 301 da Lei n. 4.737/65 (Código 
Eleitoral). 
 Elemento subjetivo: somente o dolo, que, nesse crime, 
significa a vontade de empregar a violência ou grave ameaça e 
a consciência de que a ação ou omissão pretendidas são 
ilegítimas. A ilegitimidade da pretensão pode ser: a) 
Absoluta: quando o agente não tem qualquer direito à ação ou 
omissão. Ex.: obrigar alguém a ingerir uma bebida alcoólica. b) 
Relativa: quando existe o direito, mas a vítima não pode ser 
forçada por não haver lei que a obrigue. Ex.: obrigar alguém a 
pagar dívida de jogo (a vantagem pode ser considerada devida, 
mas a lei civil não fornece instrumentos para a cobrança desse 
tipo de dívida). Quando a pretensão do agente é legítima ou se 
ele, por erro plenamente justificado, pensa ser ela legítima, mas 
usa de violência ou grave ameaça para satisfazê-la, responde 
por crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 
do CP). Ex.: ameaçar o inquilino para que ele pague o aluguel. 
A diferença em relação à dívida de jogo é a de que a do aluguel 
pode ser cobrada em juízo e a do jogo não. Nesta última 
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hipótese, a pretensão é ilegítima, ainda que relativamente, e, 
por isso, configura o constrangimento ilegal, que é mais grave. 
 Constrangimento ilegal para evitar ato imoral: Se a 
finalidade do agente ao empregar a violência ou grave ameaça 
é de evitar que alguém pratique ato imoral (prostituição, por 
exemplo), responde por constrangimento ilegal, porque o texto 
legal prevê a tipificação do crime sempre que a conduta não for 
proibida por lei e não existe lei que proíba a venda do corpo 
(apenas a exploração dela por outrem). 
 Constrangimento para evitar a prática de crime: ação é 
legítima, não há crime. 
 Consumação: Tendo em vista a redação do dispositivo, que 
prevê pena para quem constrange a vítima a fazer ou não fazer 
algo, é unânime o entendimento no sentido de que se trata de 
crime material em que a consumação só ocorre quando a 
vítima, coagida, faz o que o agente mandou que ela fizesse, ou 
deixa de fazer o que ele ordenou que não fizesse. Trata-se de 
crime diferenciado, na medida em que a consumação do crime 
se dá no momento da ação ou omissão da vítima. 
 Tentativa: É possível quando o agente emprega a violência, 
grave ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da 
vítima. Ex.: vítima que sai correndo do local ao ser ameaçada 
para que entre em um carro; vítima que faz sinal para uma 
viatura policial que passava pelo local no momento em que 
estava sendo ameaçada etc. 
 Causas de aumento de pena para o dobro: a) quando, para 
a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas (Art. 
146, § 1º); b) emprego de armas; 
 Autonomia do crime de lesões corporais (Art. 146, § 2º): 
Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à 
violência. Em decorrência desse dispositivo, caso a violência 
empregada para a prática do constrangimento ilegal provoque 
lesões corporais, ainda que leves na vítima, o agente 
responderá pelos dois crimes. É pacífico, ainda, que as penas 
dos dois crimes deverão ser somadas, já que o texto legal 
estabelece que as penas referentes ao crime de lesões 
corporais deve ser aplicada “além das cominadas” para o 
constrangimento ilegal. Assim, embora se trate de situação 
enquadrável no conceito de concurso formal — uma só ação, 
pois a agressão que lesionou a vítima foi a mesma que a coagiu 
—, as penas deverão ser somadas, já que a regra específica, 
prevista na Parte Especial do Código, tem preferência. 
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 Excludentes de tipicidade (Art. 146, § 2º): I - a intervenção 
médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de 
seu representante legal, se justificada por iminente perigo de 
vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. Em ambas as 
hipóteses, – trata-se de um autêntico estado de necessidade 
que foi alçado à categoria de exclusão de tipicidade. 
 Infração de menor potencial ofensivo: competência dos 
juizados especiais criminais (Lei n. 9099/95), mesmo nas 
hipóteses de aumento de pena em dobro (concurso de mais de 
três pessoas ou emprego de armas). 
 Ação penal: pública incondicionada. 
Ameaça 
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio 
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 
 Objetividade jurídica: A liberdade das pessoas no que tange 
à sua tranquilidade ou sossego, na medida em que a pessoa 
ameaçada tende a alterar seus hábitos com receio de que o 
mal prometido se concretize. 
 Tipo objetivo: A conduta típica consiste em ameaçar, isto é, 
intimidar, anunciar a provocação de um mal injusto e grave. O 
mal prometido deve ser grave, devendo, portanto, se referir à 
promessa de dano a bem jurídico relevante para a vítima, como 
a vida, a integridade física, o patrimônio, a honra etc. Ex.: 
ameaçar a vítima de morte, ameaçar desfigurar seu rosto, dizer 
que vai colocar fogo no carro dela, falar que irá estuprá-la da 
próxima vez que se encontrarem etc. 
 Elemento normativo do tipo “mal injusto”: É necessário que 
o mal prometido seja injusto, ou seja, contrário ao direito, pois, 
se o mal prometido for permitido pela legislação, o fato será 
atípico, como, por exemplo, dizer que vai despejar o inquilino 
que não paga os aluguéis, falar que vai protestar o cheque não 
honrado, anunciar que irá demitir empregado etc. 
 Rogo de praga: Não há crime quando o agente roga uma 
praga à vítima dizendo, por exemplo, “tomara que você morra 
logo” ou “se Deus quiser você terá um infarto”. É que, nesses 
casos, o agente não prometeu um mal cuja concretização 
dependa dele de algum modo. 
 Meios de execução da ameaça: a) Por palavras — na 
presença da vítima, por gravação de fita enviada a ela, por 
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telefone etc. b) Por escrito — carta, bilhete, e-mail, fac-símile, 
mensagem de texto por telefone etc. c) Por gesto — apontar 
uma arma, fazer sinal com a mão como se tivesse apertando o 
gatilho de uma arma em direção da vítima, passar o dedo no 
pescoço simulando um degolamento etc. d) Por meio 
simbólico — enviar um pequeno caixão para a vítima, afixar à 
porta da casa de alguém o emblema ou sinal usado por uma 
associação de criminosos. 
 Classificação doutrinária quanto à forma de execução da 
ameaça: a) Direta — quando se refere a mal a ser provocado 
na própria vítima. Ex.: João diz a Pedro que irá matá-lo, 
fazendo a intimidação chegar ao seu conhecimento por um dos 
quatro meios de execução anteriormente mencionados 
(escrito, por palavras etc.). b) Indireta — quando se refere a 
mal a ser causado em terceira pessoa querida pela vítima. Ex.: 
dizer à mãe que irá sequestrar seu filho ou estuprar sua filha. 
Entendemos, ainda, que o próprio filho pode cometer o crime 
quando, para intimidar o pai, diz seriamente que irá se suicidar. 
c) Explícita — é a ameaça feita às claras, não deixando o 
agente qualquer dúvida quanto à sua intenção de intimidar. É o 
que se dá, por exemplo, quando o agente aponta uma arma 
para a vítima ou quando diz claramente que pretende matá-la. 
d) Implícita — em que o agente dá a entender, de forma 
velada, que está prometendo um mal à vítima. Ex.: dizer que a 
última pessoa que o tratou assim “não comeu peru no Natal”. 
 Ameaça condicionada: apesar da divergência doutrinária, 
melhorrazão assiste aqueles que entende que é possível a 
ameaça quando o agente condiciona o mal que prometeu à 
vítima a algum evento. Dependendo do caso concreto pode 
caracterizar constrangimento ilegal. Se uma pessoa armada se 
dirige à vítima dizendo a ela “se você for embora, eu te mato”, 
e esta, amedrontada, permanece no local, temos 
constrangimento ilegal. Por sua vez, quando se condiciona o 
mal a evento futuro e incerto por parte da vítima, há crime de 
ameaça, como, por exemplo, dizer, “se você se casar de novo, 
eu te mato”. Da mesma forma, há crime de ameaça se a 
condicionante não diz respeito à vítima. Ex.: “se meu time 
perder, eu te mato”. 
 Promessa de mal atual ou futuro: Tanto existe crime em 
apontar uma arma para alguém que está presente (promessa 
de mal atual) como lhe mandar um bilhete dizendo “quando eu 
te encontrar, vou te matar” (promessa de mal futuro). Nos dois 
casos a vítima se sente amedrontada. Só não há crime quando 
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o mal é prometido para um futuro longíquo, como, por exemplo, 
dizer para alguém de 18 anos de idade que, quando ele 
completar 80 anos, será morto. 
 Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime 
comum. A ameaça feita por funcionário público no exercício de 
suas funções constitui crime de abuso de autoridade do art. 3º, 
da Lei n. 4.898/65. 
 Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, desde que possa 
compreender o significado da ameaça, pois, caso contrário, 
não se sentirá intimidada. Por isso, ameaçar de morte um 
recém-nascido constitui crime impossível por absoluta 
impropriedade do objeto. É necessário que ameaça seja 
dirigida a alguém ou a um grupo determinado de pessoas. 
 Ameaça e violência doméstica ou familiar contra mulher: 
aplica-se a Lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da 
Penha, que, em seu art. 41, veda a aplicação de quaisquer dos 
dispositivos da Lei 9.099/95. Assim, embora o crime de ameaça 
tenha pena máxima de seis meses, se cometido com violência 
doméstica ou familiar contra mulher, afastam-se os benefícios 
da transação penal e da suspensão condicional do processo, 
dentre outros previstos na Lei n. 9.099/95, devendo o 
julgamento ser feito na vara especializada de violência contra 
mulher e não no Juizado Especial Criminal Comum. Ação penal 
é pública incondicionada, conforme entendimento do STF (ADI 
4424) e STJ (AgRg no REsp 1339695/GO). 
 Elemento subjetivo: É o dolo, consistente na intenção 
específica de amedrontar, intimidar. É necessário que a 
ameaça tenha sido proferida em tom de seriedade, mas não se 
exige que o agente tenha, em seu íntimo, a intenção de 
concretizar o mal prometido. É claro que, se as palavras 
ameaçadoras tiverem sido proferidas por brincadeira (jocandi 
animu), o fato é atípico. 
 Subsidiariedade do crime de ameaça: a) Se a intenção é, por 
meio da ameaça, obter alguma vantagem em ação ou 
investigação em andamento, o crime é o de coação no curso 
do processo (art. 344). Ex.: ameaçar testemunha antes do 
depoimento que irá prestar em juízo, a fim de que a favoreça. 
Note-se que, se o depoimento desfavorável já foi prestado, e o 
agente, por vingança, profere uma ameaça de morte, o crime é 
o de ameaça. Nesse sentido: “O delito do art. 344 do CP exige, 
para a sua configuração, o dolo específico, que se caracteriza 
pelo fim de favorecer interesse próprio ou alheio. Tratando-se 
de testemunha, consiste em obrigá-la a depor falsamente. Se 
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esta já havia deposto quando feita a ameaça, não há que se 
falar, portanto, na infração em tela” (TJSP — Rel. Acácio 
Rebouças — RT 420/62). b) Se a finalidade é forçar a vítima a 
fazer ou não fazer algo, o crime é o de constrangimento ilegal 
(art. 146). c) Se a intenção é subjugar a vítima para dela obter 
alguma vantagem econômica, poderão estar caracterizados 
crimes de roubo (art. 157) ou extorsão (art. 158). d) Se a 
ameaça visa dominar a vítima para viabilizar abusos sexuais 
contra ela, o crime será o de estupro (art. 213). e) Se a 
intenção é a de evitar a execução de ato legal por parte de 
funcionário público, o crime é o de resistência (art. 329), 
hipótese, aliás, em que sequer se exige que a ameaça seja 
grave. 
 Ameaça feita durante momento de exaltação de ânimos: 
Apesar de a maior parte da doutrina ressalvar que a exaltação 
de ânimos não impede o reconhecimento do crime de ameaça 
em razão do art. 28, I, do CP, que diz que a emoção não exclui 
o crime, forçoso reconhecer que, na jurisprudência, existe 
tendência em sentido contrário, com o argumento de que a 
pessoa que profere ameaça em momento de ira não tem 
intenção de causar temor à vítima, e sim de fazer uma bravata. 
Tudo dependerá do caso concreto. 
 Ameaça feita por pessoa embriagada: Para alguns, constitui 
crime porque o art. 28, II, do CP, estabelece que a embriaguez 
não exclui o delito. Outros alegam que a embriaguez é 
incompatível com o dolo de ameaçar. Deve ser analisado o 
caso concreto. 
 Consumação: No momento em que a vítima toma 
conhecimento do teor da ameaça, independentemente de 
sofrer efetiva intimidação. Trata-se de crime formal, bastando 
que o agente queira intimidar e que a ameaça proferida tenha 
potencial para tanto. 
 Tentativa: Teoricamente é possível nos casos de ameaça feita 
por carta ou pela remessa de fita com gravação ameaçadora 
pelo correio que não chegam ao destinatário, ou pelo envio de 
mensagem de texto que não chega à pessoa pretendida por 
erro no endereçamento do número telefônico. Na prática difícil 
ocorrer a tentativa, pois o crime de ação penal pública 
condicionada à representação, ou seja, se a vítima representou 
é porque a ameaça chegou ao seu conhecimento, portanto o 
crime se consumou. 
 Ação penal e competência: É pública condicionada à 
representação nos termos do art. 147, parágrafo único, do 
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Código Penal. Tendo em vista o montante máximo da pena, 
insere-se na competência do Juizado Especial Criminal (Lei n. 
9099/95). 
Sequestro e cárcere privado 
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere 
privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: 
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente 
ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) 
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou 
hospital; 
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. 
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela 
Lei nº 11.106, de 2005) 
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 
2005) 
§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da 
detenção, grave sofrimento físico ou moral: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 Objetividade jurídica: A liberdade de locomoção (de ir e vir). 
 Tipo objetivo: A conduta típica é privar alguém de sua 
liberdade. Essa privação pode se dar por qualquer meio 
(violência, grave ameaça, uso de soníferos etc.). O crime pode 
ser cometido mediante deslocamento (detenção), levando-se 
a vítima até um determinado local, ou mediante retenção no 
próprio local onde já se encontra (trancar a esposa em casa, 
por exemplo). A conduta de privar alguém pode ser comissiva 
(é a regra) como também omissiva (ex.: médico que, ciente da 
cura do paciente, dolosamente não lhe dá alta porque pretende 
continuar cobrando pela internação). 
 Disponibilidade do bem jurídico: se a vítima é capaz, o bem 
jurídico, “a liberdade”, é disponível, de forma que o 
consentimento da vítima exclui o crime. 
 Elemento subjetivo: É somente o dolo. O tipo penal não exige 
qualquer intenção específica, contudo, se estiver presente 
alguma finalidade prevista em lei como crime mais grave, 
evidente que restaráabsorvido o crime do art. 148. É o que 
ocorre nos seguintes casos: a) Se o sequestro visa ao pedido 
de resgate em troca da libertação da vítima, o crime é o de 
extorsão mediante sequestro (art. 159). b) Se o sequestro for 
realizado com o fim de praticar crime de tortura, teremos crime 
de tortura agravado (art. 1º, § 3º, III, da Lei n. 9.455/97). c) Se 
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o agente subtrai criança ou adolescente ao poder de quem o 
tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial, com 
o fim de colocação em lar substituto, configura-se crime do art. 
237 da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), 
que tem pena maior. d) Se a finalidade do agente for a prática 
de atos libidinosos com a vítima, estará presente qualificadora 
do próprio crime de sequestro (art. 148, § 1º, V). 
 Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime 
comum. Se o delito, contudo, for cometido por funcionário 
público, no exercício das funções, constituirá crime de abuso 
de autoridade do art. 3º, a, da Lei n. 4.898/1965. 
 Sujeito passivo: Qualquer pessoa, inclusive as 
impossibilitadas de se locomover, como os paraplégicos ou 
doentes graves, bem como crianças e enfermos mentais. O fato 
de o paraplégico não andar não significa que possam levá-lo a 
outros locais contra sua vontade. 
 Consumação: Quando a vítima for privada de sua liberdade 
por tempo juridicamente relevante. Manter alguém em seu 
poder por um ou dois minutos não constitui crime, exceto se o 
agente tinha intenção de permanecer mais tempo com ela mas 
foi impedido ou se a vítima fugiu, hipótese em que haverá 
tentativa de sequestro. Cuida-se de crime permanente cuja 
consumação se prolonga no tempo, pois a liberdade da vítima 
é continuamente afetada enquanto ela não for solta. Por isso, 
a prisão em flagrante é possível a todo momento, até a 
libertação da vítima (art. 303 do Código de Processo Penal). A 
prescrição só começa a correr a partir da data em que cessa a 
execução do crime (art. 111, III, CP). Se, durante o período em 
que a vítima está sequestrada, surge nova lei que torna o crime 
mais grave (aumento de pena ou figura qualificada), ela incide 
sobre o delito. É o que diz a Súmula n. 711 do STF: “a lei penal 
mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime 
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência”. 
 Tentativa: É possível, quando o agente inicia o ato de 
execução, mas não consegue manter a vítima privada de sua 
liberdade por tempo juridicamente relevante. Ex.: o marido 
tranca as portas da casa para que a esposa não saia, mas ela, 
imediatamente, deixa a residência pela porta dos fundos com 
cópia de chave que ele não sabia existir. 
 Figuras qualificadas - Art. 148, § 1º (reclusão, de dois a 
cinco anos): 
12 
 
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou 
companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) 
II - se o crime é praticado mediante internação da vítima 
em casa de saúde ou hospital; (O crime pode ser 
cometido com emprego de fraude enganando-se os 
profissionais da área médica com exames falsos, ou 
com a anuência destes, hipóteses em que serão 
coautores do crime.) 
III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. 
(A privação deve ser de 16 dias ou mais, prazo penal 
contagem pela regra do art. 10 do CP, incluindo-se o 
dia do início) 
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) 
anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) 
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (trata-se 
de qualificadora de natureza formal, pois basta que o 
sequestro seja com o fim de prática de ato libidinoso. 
Se, também, ocorre a relação sexual dissentida, 
responde o agente por concurso de crimes) 
 Figura qualificada pelo resultado de grave sofrimento 
físico ou moral, Art. 148, § 2º: Se resulta à vítima, em razão 
de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento 
físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Essa 
qualificadora se aplica, por exemplo, quando a vítima fica 
detida em local frio, úmido, quente, na companhia de ratos ou 
baratas, quando é exposta à falta de alimentação ou é mantida 
por muito tempo sem luz solar etc. Também é aplicável se a 
vítima for espancada pelos sequestradores, exceto se ela 
sofrer lesão grave ou morrer, hipóteses em que se aplicarão as 
penas dos crimes autônomos de lesões corporais graves ou 
homicídio, em concurso material com sequestro simples ou 
com alguma das qualificadoras do § 1º. 
Redução a condição análoga à de escravo 
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o 
a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições 
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção 
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada 
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à 
violência. (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 
11.12.2003) 
13 
 
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com 
o fim de retê-lo no local de trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 
11.12.2003) 
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de 
documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local 
de trabalho. (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Incluído pela Lei 
nº 10.803, de 11.12.2003) 
I – contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (Incluído 
pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003) 
 Objetividade jurídica: A liberdade individual em todas as suas 
manifestações. É conhecido como crime de plágio, em que uma 
pessoa fica totalmente sujeita, submissa a outra. 
 Tipo objetivo: o crime é de ação vinculada, permitindo o texto 
legal a tipificação do ilícito sempre que se mostrar presente 
quaisquer das condutas típicas nele elencadas: a) submissão 
da vítima a trabalhos forçados ou jornada exaustiva; b) 
sujeição a condições degradantes de trabalho; c) restrição, 
por qualquer meio, da liberdade de locomoção em razão de 
dívida contraída para com o empregador ou preposto deste; d) 
cerceamento do uso de meios de transporte, com intuito de 
reter a vítima no local de trabalho; e) manutenção de 
vigilância ostensiva no local de trabalho ou apoderamento 
de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim 
de retê-lo. O rol é taxativo, não admitindo o uso de analogia 
para extensão a outras hipóteses. É crime de ação múltipla 
em que a realização de uma só conduta já é suficiente para 
caracterizar o delito; porém, a realização de mais de uma delas, 
em relação à mesma vítima, constitui crime único. 
 Provocação de lesões na vítima: haverá concurso de crimes, 
uma vez que no preceito secundário do tipo penal consta a 
pena de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena 
correspondente à violência. 
 Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime 
comum. 
 Sujeito passivo: Também pode ser qualquer pessoa. Eventual 
consentimento da vítima é irrelevante, já que não se admite que 
alguém concorde em viver em condição de escravidão. Se a 
vítima for criança ou adolescente, aplica-se um aumento de 
metade da pena, descrito no art. 149, § 2º, I. 
14 
 
 Elemento subjetivo: É o dolo, direto ou eventual. Não se exige 
intenção específica, senão aquela implícita no tipo penal que é 
de se aproveitar da mão de obra da vítima. 
 Conduta discriminatória como causa de aumento de pena 
em metade: Se o crime tiver sido cometidopor motivo de 
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem, a pena 
sofrerá acréscimo de metade, nos termos do art. 149, § 2º, II. 
Assim, se ficar provado que o sujeito cometeu o crime porque 
a vítima é branca, negra, indígena, oriental, boliviana, 
argentina, nordestina, católica, judia, árabe, hindu etc., sua 
pena será maior. 
 Consumação: Como o Código Penal exige que a vítima seja 
reduzida à condição análoga à de escravo, é evidente que a 
situação fática deve perdurar por período razoavelmente longo 
(crime permanente), de modo a ser possível a constatação, 
de acordo com as circunstâncias do caso concreto, de que 
houve uma completa submissão da vítima ao agente. Assim, a 
sujeição da vítima a trabalhos forçados, de forma eventual, 
constitui apenas crime de maus-tratos (art. 136). 
 Tentativa: É possível. 
 Ação penal: É pública incondicionada. O Plenário do Supremo 
Tribunal Federal declarou que a competência para apurar este 
crime é sempre da Justiça Federal, ao julgar o Recurso 
Extraordinário n. 398.041, em 30 de novembro de 2006. 
SEÇÃO II 
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO 
Violação de domicílio 
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a 
vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas 
dependências: 
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o 
emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à 
violência. 
§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário 
público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades 
estabelecidas em lei, ou com abuso do poder. 
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em 
suas dependências: 
I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão 
ou outra diligência; 
II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali 
praticado ou na iminência de o ser. 
15 
 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou 
atividade. 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto 
aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
 Objetividade jurídica: A tranquilidade da vida doméstica. O 
crime em tela visa dar concretude ao preceito constitucional de 
que a casa é asilo inviolável do cidadão (art. 5º, XI - "a casa é 
asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar 
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante 
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, 
por determinação judicial"). Não proteger a posse ou o 
patrimônio, posto que não se considera crime, por exemplo, o 
ingresso em casa abandonada ou desabitada. 
 Tipo objetivo: é tipo misto alternativo, uma vez que o 
dispositivo estabelece duas formas de execução do crime: a) 
entrar em casa alheia — significa que o agente invade, 
ingressa totalmente na residência da vítima ou em alguma de 
suas dependências; b) permanecer em casa alheia — 
pressupõe que, em um primeiro momento, o agente tenha tido 
autorização para lá estar e, cessada essa autorização, ele 
deixe de se deslocar para fora de suas dependências, por 
tempo razoável. 
 Formas de execução: clandestina (sem que a vítima perceba) 
ou astuciosa (utilizando-se de fraude, ex.: disfarce de 
funcionário da empresa de telefonia) 
 Elementar do tipo penal: contra a vontade (expressa ou 
tácita) de quem de direito (aquele que tem o poder legal de 
impedir a entrada ou permanência de pessoas em sua casa, a 
exemplo do proprietário, possuidor, locatário etc.). 
 Edifícios ou condomínios térreos: cada morador tem direito 
de vetar a entrada ou permanência de pessoas em sua 
unidade, bem como nas áreas comuns. Se, todavia, houver 
autorização de outro condômino ao acesso à área comum, a 
entrada estará autorizada e não existirá crime. 
 Habitações coletivas: prevalece o entendimento de que, 
havendo oposição de um dos moradores, persistirá a proibição. 
Em caso de divergência entre pais e filhos, prevalece a 
16 
 
determinação dos pais, exceto se a residência for de 
propriedade de filho maior de idade. 
 Empregados: têm direito de impedir a entrada de pessoas 
estranhas em seus aposentos, direito que, entretanto, não 
atinge o proprietário da casa se houver justa causa para o 
ingresso. Os empregados não têm direito de receber pessoas 
no interior de residência ou de apartamento, exceto se houver 
autorização dos proprietários. 
 Divergência de cônjuges ou companheiros: alguns 
entendem que deve prevalecer a proibição. No entanto outros 
entendem pela posição mais liberal, até porque, se o marido diz 
que não quer que sua esposa receba a visita de determinada 
amiga, mas a esposa autoriza a entrada, não há como se 
vislumbrar dolo de violar domicílio por parte desta1. 
 Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime 
comum. Até mesmo o proprietário de casa alugada pode ser 
autor do crime, caso nela ingresse sem autorização do 
inquilino. 
 Sujeito passivo: O morador, titular do direito de proibir a 
entrada ou permanência de alguém na casa. 
 Elemento subjetivo: Somente dolo. A doutrina toda menciona 
que, para a configuração do crime de violação de domicílio, é 
necessário que a conduta seja um fim em si mesmo. Assim, a 
invasão de domicilio para prática de qualquer outro crime fica 
por ele absorvida. Se a invasão for para se proteger de um 
assalto, não há crime. Se a invasão for para se esconder da 
polícia, para uns há o crime, para outros não. 
 Consumação: crime de mera conduta, que se consuma 
quando o agente ingressa completamente na casa da vítima, 
ou, quando, ciente de que deve sair, não o faz por tempo 
juridicamente relevante. A doutrina é unânime no sentido de 
que a rápida permanência, com espontânea e imediata retirada 
na sequência, não constitui crime. Assim, a primeira 
modalidade constitui crime instantâneo e, a segunda, delito 
permanente, cuja prisão em flagrante é possível enquanto não 
cessada a execução (art. 303 do CPP). 
 Tentativa: É possível em ambas as figuras. Embora a 
modalidade “permanecer” em casa alheia seja omissiva, 
admite, excepcionalmente, a tentativa por ser, 
                                                            
1 Nesse sentido: “Se um homem entra em uma residência por convite ou autorização da mulher, para com 
esta manter  colóquio  amoroso,  inadmissível  é  a  condenação  daquele  por  violação  de  domicílio,  por 
arguida ofensa à vontade tácita do chefe de família” (Tacrim‐SP — Rel. Francis Davis — Jutacrim 48/363). 
17 
 
concomitantemente, considerada crime permanente, que só se 
consuma pela recusa em deixar o local por tempo considerável. 
Assim, se o agente diz que não vai sair, mas imediatamente é 
retirado à força por pessoas presentes, mostra-se configurada 
a tentativa. 
 Circunstâncias qualificadoras (Art. 150, § 1º): Se o crime é 
cometido durante a noite (ausência de luz solar), ou em lugar 
ermo (afastado, sem circulação de pessoas), ou com emprego 
de violência (contra coisa ou pessoa) ou de arma (própria ou 
imprópria) ou por duas ou mais pessoas (autoras ou 
participe): Pena — detenção, de seis meses a dois anos, além 
da pena correspondente à violência. 
 Causa de aumento de pena quando praticado por 
funcionário público (Art. 150, § 2º): Aumenta-se a pena de um 
terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos 
casos legais, ou com inobservânciadas formalidades 
estabelecidas em lei, ou com abuso de poder. Fora dos casos 
legais: sem mandado judicial ou fora das hipóteses de 
flagrante delito, desastre ou para prestar socorro. Fora das 
formalidades legais: existe um mandado de prisão ou de 
busca e apreensão, mas o agente não cumpre as formalidades 
para o seu cumprimento, ex.: mandado de prisão em residência 
só pode ser cumprido durante o dia. Se o cumprimento se der 
à noite, haverá crime. Igualmente se o mandado de busca for 
concretizado sem a observância das regras a respeito do art. 
245 do Código de Processo Penal. Abuso de poder: quando o 
funcionário, por exemplo, extrapola o tempo necessário de 
permanência no local. 
 Abuso de Autoridade (Lei n. 4.898/65) versus Violação de 
Domicílio: o art. 3º, b, da referida Lei, dispõe que constitui 
crime de abuso de autoridade atentar contra a inviolabilidade 
domiciliar (pena de 10 dias a 6 meses de detenção). Capez 
entende se a violação de domicílio praticada por autoridade 
(funcionário público) prevalece o princípio da especialidade, ou 
seja, responde só por abuso de autoridade. Bitencourt afirma 
que deve responder pelos dois crimes, sem a qualificadora do 
§2º. Monteiro de Barros sustenta que o servidor deve 
responder pelo crime de violação de domicílio, com o aumento 
da pena, e também pelo referido crime de abuso de autoridade. 
O STJ já entendeu pela responsabilização dos dois crimes2. 
                                                            
2 (...) 2 — O crime de abuso de autoridade deve ser examinado pelo Juizado Especial e os de invasão de 
domicílio e lesão corporal leve pela Justiça Militar. 3 — A transação penal ofertada aceita e homologada 
no  Juizado Especial não  constitui  causa de extinção da punibilidade em  relação aos  crimes de  lesões 
18 
 
 Conceito de casa (§§ 4º e 5º do art. 150, CP). 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado (casas, 
apartamentos, barracos de favela etc. Casas 
desabitadas ou abandonadas, portanto, não se 
incluem na definição); 
II - aposento ocupado de habitação coletiva (quarto de 
hotel, cortiço, motel etc)3; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém 
exerce profissão ou atividade (escritório, consultório, 
parte interna de uma oficina etc. Entende-se, pois, 
que não há crime no ingresso às partes abertas 
desses locais, como recepção, sala de espera etc.). 
 
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação 
coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do 
parágrafo anterior (o prostíbulo ou a casa de meretriz 
quando fechadas ao público podem ser objeto do 
crime em tela)4; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
(estão, pois, excluídos os bares, estabelecimentos 
comerciais na parte aberta ao público, igrejas, 
veículos (salvo de houver parte própria para alguém 
morar ou pernoitar, como nos traillers). Entende-se, 
outrossim, que não estão incluídos na expressão 
casa as pastagens de uma fazenda ou o gramado de 
casa não murada ou cercada, nem as repartições 
públicas). 
 Dependências: A lei protege expressamente as dependências 
da casa, ou seja, considera crime o ingresso não autorizado em 
quintal, garagem, terraço etc5. 
 Excludentes de ilicitude (Art. 150, § 3º): Não constitui crime a 
entrada ou permanência em casa alheia ou em suas 
                                                            
corporais leves e invasão de domicílio, previstos no Código Penal Militar. 4 — Ordem denegada.” (STJ — 
HC 81.752/RS — Rel. Min. Jane Silva, DJ 15.10.2007, p. 324) 
3 A propósito: “O fato de um motel receber rotineiramente casais para encontros amorosos não desnatura 
sua condição de habitação coletiva. Todos quanto nele ingressam gozam de proteção legal” (Tacrim‐SP — 
Rel. Sidnei Benetti — RT 689/366). 
4 “Quando fechado ou público é inviolável o domicílio da meretriz, e, nessa situação, comete o crime do 
art. 150 quem contra a sua vontade ali força a entrada” (Tacrim‐SP — Rel. Roberto Martins — RT 456/405). 
5 A propósito: “Os próprios jardins, o quintal e a garagem constituem, para efeitos da lei, dependência da 
casa, principalmente em se tratando do crime de violação de domicílio (art. 150 do CP). Por‐se no telhado 
de moradia habitada, é violar a liberdade doméstica, ou a casa como asilo inviolável” (Tacrim‐SP — Rel. 
Sérgio Pitombo — RJD 8/167). 
19 
 
dependências: I — durante o dia, com observância das 
formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II 
— a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime 
estiver ali sendo praticado ou na iminência de o ser. O art. 5º, 
XI, da Constituição Federal diz que: “a casa é asilo inviolável 
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem 
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito 
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por 
determinação judicial”. 
 
20 
 
SEÇÃO III 
DOS CRIMES CONTRA A 
INVIOLABILIDADE DE CORRESPONDÊNCIA 
 Violação de correspondência 
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, 
dirigida a outrem: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Sonegação ou destruição de correspondência 
§ 1º - Na mesma pena incorre: 
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não 
fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói; 
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica 
II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente 
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação 
telefônica entre outras pessoas; 
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número 
anterior; 
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância 
de disposição legal. 
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem. 
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, 
telegráfico, radioelétrico ou telefônico: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, 
IV, e do § 3º. 
 
 Derrogação: Os delitos previstos nos arts. 151, caput (Violação 
de Correspondência), e seu § 1º, I (Sonegação de 
Correspondência), do Código Penal, foram substituídos pelos 
crimes previstos no art. 40 da Lei n. 6.538/78, que trata do 
serviço postal e de telegramas: 
 Art. 40. Devassar indevidamente o conteúdo de 
correspondência fechada dirigida a outrem: Pena — 
detenção, até seis meses, ou pagamento não excedente 
a vinte dias-multa. 
Art. 40, § 1º — Incorre nas mesmas penas quem se 
apossa indevidamente de correspondência alheia, 
embora não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no 
todo ou em parte. 
 Objetividade jurídica: A inviolabilidade da correspondência 
alheia. O dispositivo visa dar concretude ao art. 5º, XII, da 
Constituição Federal, que declara ser inviolável o sigilo de 
correspondência e das comunicações telegráficas. 
 Tipo objetivo: Trata a lei de proteger a carta, o bilhete, o 
telegrama, desde que fechados. A inviolabilidade de 
21 
 
correspondência não é ilimitada, a exemplo da 
correspondência de presos, conforme já decidiu o Supremo 
Tribunal Federal6. 
 Exclusão do crime: O art. 10 da Lei n. 6.538/78 estabelece 
que não constitui violação de sigilo da correspondência postal 
a abertura de carta: I — endereçada a homônimo, no mesmo 
endereço; II — que apresente indícios de conter objeto sujeito 
a pagamento de tributos; III — que apresente indícios de conter 
valor não declarado, objeto ou substância de expedição, uso ou 
entrega proibidos; IV — que deva ser inutilizada, na forma 
prevista em regulamento, em virtude de impossibilidade de sua 
entrega e restituição. 
 Correspondências abertas: não tem caráter de sigilosidade. Violação de correio eletrônico: constitui crime especial 
previsto no art. 10 da Lei n. 9.296/96, que pune com reclusão, 
de dois a quatro anos, e multa, quem realiza interceptação de 
comunicação telefônica, de informática ou telemática. 
 Conversas obtidas em sala de bate-papo: não estão 
preservadas pelo sigilo das comunicações, pois se trata de 
ambiente público e destinado a conversas informais (STJ 
RHC 18116). 
 Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime 
comum. Se for cometido por funcionário público no 
desempenho das funções, a pena será agravada nos termos 
do art. 43 da Lei n. 6.538/78, que, quanto a este aspecto, 
derrogou o art. 3º, c, da Lei n. 4.898/65 (abuso de autoridade). 
 Sujeito passivo: O remetente e o destinatário, que são as 
pessoas interessadas na manutenção do sigilo. Trata-se de 
crime com duplo sujeito passivo. 
 Violação de correspondência entre cônjuges: Prevalece o 
entendimento de que o marido pode ler carta dirigida à esposa, 
e vice-versa. Esta conclusão fundamenta-se no art. 226, § 5º, 
da CF e no art. 1.566, inciso II, do CC. De fato, o casamento 
acarreta aos envolvidos um elenco de direitos e deveres 
                                                            
6 A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional 
ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma 
inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei nº. 7.210/84, proceder à  interceptação da correspondência 
remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula  tutelar da  inviolabilidade do sigilo epistolar não pode 
constituir  instrumento  de  salvaguarda  de  práticas  ilícitas.”  (HC  70.814,  Rel. Min.  Celso  de Mello, DJ 
24/06/94) 
22 
 
incompatíveis com a vida de solteiro, caracterizada pelo maior 
isolamento e privacidade do indivíduo. Além disso, diversas 
cartas, bilhetes e telegramas, ainda que em nome de um dos 
cônjuges, interessam igualmente ao casal. Exemplos: contas 
domésticas, mensalidades de escolas dos filhos, convites etc. 
Portanto, quando um dos cônjuges abre correspondências 
encaminhadas ao outro cônjuge, não há crime, em face do 
exercício regular de direito. O fato pode ser indecoroso e 
antiético, mas não interessa ao Direito Penal. É de se observar, 
porém, que a Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – prevê 
uma medida protetiva que obriga o agressor a não “entrar em 
contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por 
qualquer meio de comunicação” (art. 22, III, b). Desta forma, 
será legítima e conforme o Direito a atuação da pessoa que, 
em obediência a ordem judicial, impedir o contato mediante 
correspondência do agressor com a vítima de violência 
doméstica ou familiar. 
 Correspondência de advogado: O art. 7º, inc. II, do Estatuto 
da OAB (Lei. 8.906/2004), diz que correspondência de 
advogado só pode ser aberta por ordem judicial e na presença 
de representante da OAB. Se a OAB for comunicada e não 
indicar o representante, a correspondência pode ser aberta 
(ADIN 1105/DF e 1127/DF) 
 Elemento subjetivo: É o dolo. Não existe modalidade 
culposa, não podendo ser punido aquele que, por engano, 
abre e lê correspondência alheia. 
 Consumação: Não basta que o agente abra a carta; o delito 
só se consuma quando ele se inteira de seu conteúdo, 
exigência feita pelo próprio tipo penal. 
 Tentativa: É possível quando o agente é flagrado quando 
está abrindo a carta, sendo, porém, impedido de ler seu 
conteúdo. 
 Causa de aumento de pena: Nos termos do art. 40, § 2º, da 
Lei n. 6.538/78, a pena será aumentada em metade se a 
conduta causar dano para outrem. O dano pode ser 
econômico ou moral. 
23 
 
 Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou 
telefônica (art. 151, §1º, II, III e IV): II - quem indevidamente 
divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente 
comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou 
conversação telefônica entre outras pessoas; III - quem impede 
a comunicação ou a conversação referidas no número anterior; 
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, 
sem observância de disposição legal. A primeira parte do art. 
151, § 1º, II, do CP está em vigor unicamente nas hipóteses em 
que a violação é efetuada por pessoas comuns. Aplica-se o art. 
56, § 1º, da Lei 4.117/1962 – Código Brasileiro de 
Telecomunicações, nas hipóteses em que a violação é 
praticada por funcionário do governo encarregado da 
transmissão da mensagem. A parte final do art. 151, § 1º, II 
(conversa telefônica), do CP foi derrogada pela Lei 9.296/1996, 
que regulamenta o art. 5º, XII, parte final, da CF. Esta lei 
ordinária criou um tipo penal específico para a violação do sigilo 
telefônico no art. 10, dispondo que constitui crime realizar 
interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou 
telemática, ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização 
judicial ou com objetivos não autorizados em lei. O dispositivo 
continua aplicável ao terceiro que não interveio na 
interceptação telefônica criminosa, mas divulgou-a a outras 
pessoas. Se um terceiro concorrer de qualquer modo para a 
interceptação telefônica ilegal, será partícipe do crime definido 
pelo art. 10 da Lei 9.296/1996. Se tiver ciência de uma 
gravação oriunda de violação telefônica indevida, e divulgá-la, 
a ele será imputado o crime definido pelo art. 151, § 1º, I, do 
CP. A modalidade do crime prevista no art. 151, § 1º, III, está 
em vigor, nos termos definidos pelo CP. O art. 151, § 1º, IV, do 
CP foi substituído pelo art. 70 da Lei 4.117/1962 – Código 
Brasileiro de Telecomunicações. A finalidade da lei é vedar a 
uma pessoa, sem autorização legal, a instalação ou utilização 
de aparelho clandestino de telecomunicações. 
 Ação penal: É pública condicionada à representação (CP, art. 
151, § 4º, preservado pelo art. 48 da Lei 6.538/1978). Nas 
hipóteses dos incisos II e III do §1º, é pública condicionada à 
24 
 
representação, salvo no tocante a violação de sigilo telefônico. 
Já para o previsto no inciso IV, é pública incondicionada. 
Tratando-se de crime de dupla subjetividade passiva, o direito 
de representação pode ser exercido tanto pelo remetente como 
pelo destinatário da correspondência. Se um deles quiser 
representar, e o outro não, prevalece a vontade daquele que 
deseja autorizar a instauração da persecução penal. 
 Competência: Por se tratar de infração de menor potencial 
ofensivo, a competência é do Juizado Especial Criminal. 
Correspondência comercial 
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento 
comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou 
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos. 
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 
 
 Objeto jurídico: É a inviolabilidade de correspondência. A lei 
penal tutela a liberdade de comunicação do pensamento 
transmitida por meio de correspondência comercial. 
 Objeto material: É a correspondência comercial que suporta a 
conduta criminosa. No conceito de correspondência comercial 
se encaixa toda e qualquer carta, bilhete ou telegrama inerente 
à atividade mercantil. Deve relacionar-se às atividades 
exercidas pelo estabelecimento comercial ou industrial. Por 
esse motivo, a correspondência remetida ao estabelecimento, 
tratando de assunto alheio às suas atividades, poderá ser 
objeto material somente do crime de violação de 
correspondência (CP, art. 151, caput).10 
 Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é abusar, que significa utilizar 
de forma excessiva ou inadequada. Os sócios ou empregados, 
no exercício de suas atividades, geralmente têm acesso a 
informações contidas em correspondências endereçadas ao 
estabelecimento comercialou industrial. Nesse contexto, a 
pessoa jurídica, na mesma linha da pessoa física, merece 
proteção penal para que suas correspondências não sejam 
ultrajadas, com a transmissão indevida das informações nela 
contidas a estranhos. A conduta de abusar se concretiza 
mediante o ato de, no todo ou em parte, desviar, sonegar, 
25 
 
subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu 
conteúdo. Pode ser exteriorizada por ação (exemplo: abrir uma 
carta) ou por omissão (exemplo: deixar uma correspondência 
ser destruída pela chuva). Percebe-se inicialmente que a 
correspondência comercial pode ser devassada total ou 
parcialmente, e em qualquer caso estará caracterizado o delito. 
Desviar é afastar a correspondência do seu real destino. 
Sonegar é esconder, no sentido de obstar a chegada da 
correspondência ao correto estabelecimento comercial ou 
industrial. Subtrair é apoderar-se da correspondência 
comercial, retirando do seu devido lugar ou impedindo seu 
envio ao destino original. Suprimir é destruir para que a 
correspondência não seja entregue em seu destino, ou para 
que seja retirada do estabelecimento comercial ou industrial 
para o qual foi encaminhada. Revelar é permitir o acesso ao 
conteúdo da correspondência do estabelecimento comercial ou 
industrial a quem seja alheio aos seus quadros ou não tenha o 
direito de conhecer o que nela se contém. 
 Sujeito ativo: Somente o sócio ou empregado do 
estabelecimento comercial ou industrial (crime próprio). 
 Sujeito passivo: É o estabelecimento comercial ou industrial 
titular da correspondência violada. 
 Elemento subjetivo: É o dolo. Exige-se também um especial 
fim de agir, representado pela intenção de abusar da condição 
de sócio ou empregado. É necessário tenha o agente, ao tempo 
da conduta, a consciência de que abusa da sua peculiar 
condição em relação à vítima. Não se admite a modalidade 
culposa. 
 Consumação: O crime é formal, de consumação antecipada 
ou de resultado cortado. Dá-se a consumação quando o agente 
desvia, sonega, subtrai ou suprime a correspondência 
comercial, ou então quando revela a terceiro seu conteúdo. 
Não há necessidade de produção do resultado naturalístico, 
isto é, prescinde-se do prejuízo à pessoa jurídica. 
 Tentativa: É possível. 
 Ação Penal: É pública condicionada à representação (art. 152, 
parágrafo único, do CP). 
26 
 
 Lei 9.099/1995: Em face da pena máxima cominada ao delito 
(dois anos), cuida-se de infração penal de menor potencial 
ofensivo. Além disso, em se tratando de crime de ação penal 
pública condicionada à representação, é possível a 
composição dos danos civis, bem como a transação penal, se 
presentes seus requisitos legais (Lei 9.099/1995, art. 76). 
Finalmente, o processo e o julgamento deste crime obedecem 
ao rito sumaríssimo, disciplinado pelos arts. 77 e seguintes da 
Lei 9.099/1995. 
 
SEÇÃO IV 
DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS 
 
Divulgação de segredo 
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular 
ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja 
divulgação possa produzir dano a outrem: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
§ 1º Somente se procede mediante representação. (Parágrafo único 
renumerado pela Lei nº 9.983, de 2000) 
§ 1o-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim 
definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de 
dados da Administração Pública: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 
9.983, de 2000) 
§ 2o Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será 
incondicionada. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 
 
 Objeto jurídico: É a inviolabilidade da intimidade ou da vida 
privada. Veda-se a divulgação de segredos cujo conhecimento 
por terceiros pode trazer prejuízos ao seu titular. 
 Objeto material: É o conteúdo secreto de documento particular 
ou de correspondência confidencial. 
 Núcleo do tipo: É divulgar, vulgarizar, tornar público ou 
conhecido um fato ou informação. Não basta a comunicação a 
uma só pessoa ou a um número reduzido e limitado, exige-se 
propalação, difusão, possibilitando o conhecimento do fato a 
um número indeterminado de pessoas. O fato ou informação 
deve estar contido em documento particular ou 
correspondência confidencial. É indispensável esteja o segredo 
concretizado pela forma escrita – o segredo conhecido 
27 
 
oralmente escapa da incidência do art. 153, caput, do CP. A 
conduta de divulgar pode ser praticada por variados meios 
(crime de forma livre). O objetivo da lei penal é vedar que uma 
pessoa, destinatária de um documento particular ou de uma 
correspondência confidencial, possa divulgá-la a terceiros, 
provocando danos a alguém. Documento é o escrito que 
condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo 
provar um fato ou a realização de um ato juridicamente 
relevante. Para o CPP, é o escrito, instrumento ou papel público 
ou particular. Interessa, para o art. 153, caput, do CP, 
unicamente o documento particular, cujo conceito há de ser 
obtido por exclusão. De fato, documento particular é o 
elaborado por particular, sem a interferência de funcionário 
público no exercício de suas funções. O tipo penal em análise 
não se aplica ao documento público, por ausência de previsão 
legal. A revelação do seu conteúdo pode, contudo, caracterizar 
o crime de violação de sigilo funcional (art. 325 do CP). 
Correspondência confidencial é o escrito em forma de 
bilhete, carta ou telegrama, que tem destinatário certo e com 
conteúdo que não pode ser revelado a estranhos. Tratando-se 
de correspondência não confidencial, inexiste crime. O caráter 
confidencial (segredo) da correspondência pode ser expresso 
(assim indicado pelo remetente) ou tácito (aquele cuja 
divulgação é capaz de prejudicar alguém). Há documentos que, 
por sua natureza ou por necessidade legal, são secretos, a 
exemplo do testamento cerrado – em tais casos, o segredo é 
presumido. Não importa que o vínculo de segredo seja 
temporário ou condicionado ao advento de determinado fato: 
ainda em tal hipótese, seu rompimento antecipado é crime. 
 Elemento normativo do tipo: Está contido na expressão “sem 
justa causa”. Não é qualquer divulgação de conteúdo de 
documento particular ou de correspondência confidencial que 
caracteriza o delito de divulgação de segredo – a divulgação 
deve ser realizada sem justa causa. A justa causa conduz à 
exclusão da tipicidade do fato. Há justa causa, entre outras, nas 
seguintes hipóteses: comunicação à autoridade policial, ao 
Ministério Público ou ao Poder Judiciário de infração penal; 
28 
 
consentimento do interessado; para servir de prova da 
existência de uma infração penal ou de sua autoria; dever de 
testemunhar em juízo; e defesa de interesse legítimo. Também 
não há crime quando alguém entrega à autoridade policial, ao 
Parquet ou ao Poder Judiciário uma missiva recebida de 
outrem, contendo a confissão de um delito pelo verdadeiro 
autor (remetente). Há justa causa na divulgação do fato 
secreto, prevista expressamente no art. 233, parágrafo único, 
do CPP: “As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo 
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que 
não haja consentimento do signatário”. Aplica-se ao caso, 
também, o princípio da proporcionalidade, da razoabilidade ou 
da convivência das liberdades públicas: sacrifica-se o direito à 
intimidade de um criminoso para preservação do direito à 
liberdade de um inocente. 
 Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, pois somente pode 
ser praticado pelo destinatário ou detentor do documento 
particular ou correspondência de conteúdo confidencial. 
 Sujeito passivo: É aquele a quem adivulgação do segredo 
possa produzir dano (remetente, destinatário ou qualquer outra 
pessoa). 
 Elemento subjetivo: É o dolo. Não se admite a forma culposa. 
Em face do elemento normativo “sem justa causa”, é 
necessário conheça o agente o caráter confidencial da 
informação divulgada, a ilegitimidade da sua conduta e a 
possibilidade de produzir dano a outrem. Não se exige nenhum 
elemento subjetivo específico. O especial fim de agir do sujeito 
ativo, entretanto, pode tipificar outros crimes (arts. 154 e 325 
do CP; art. 144 do CPM – Decreto-lei 1.001/1969; art. 195 da 
Lei 9.279/1996, e arts. 13 e 21 da Lei 7.170/1983 – Lei de 
Segurança Nacional). 
 Consumação: Dá-se no instante em que o segredo é 
divulgado para um número indeterminado de pessoas.16 O 
delito é formal, dispensando-se a efetiva produção do dano em 
concreto (resultado naturalístico). 
 Tentativa: É possível. 
29 
 
 Figura qualificada (art. 153, § 1º-A): A qualificadora, 
denominada de “divulgação de sigilo funcional de sistemas de 
informações”, foi instituída pela Lei 9.983/2000, com o fim de 
tutelar as informações sigilosas ou reservadas de interesse da 
Administração Pública, notadamente as relativas à Previdência 
Social. É necessário que a informação sigilosa ou reservada 
tenha conteúdo material. Logo, não há crime quando se tratar 
de informação meramente verbal, ainda que sigilosa ou 
reservada. Informações são os dados sobre alguém ou algo. 
Sigilosa é a informação confidencial, secreta. Reservada é a 
informação merecedora de cuidados especiais relativamente 
às pessoas que dela possam ter ciência. Trata-se de crime 
comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Se o sujeito 
ativo for funcionário público, a ele será imputado o crime de 
violação de sigilo funcional (CP, art. 325). O sujeito passivo é o 
Estado. Nada impede a existência de um particular como 
sujeito passivo mediato ou secundário, desde que possa ser 
prejudicado pela divulgação das informações sigilosas ou 
reservadas. 
 Normal penal em branco: A figura qualificada do § 1º-A é 
norma penal em branco em sentido lato ou homogênea. O tipo 
penal confere ao legislador a tarefa de indicar quais são as 
informações sigilosas ou reservadas, que podem ou não estar 
contidas em bancos de dados ou sistemas de informações. São 
exemplos de informações sigilosas no direito brasileiro: a) art. 
20, caput, do CPP; b) art. 76, § 4º, da Lei 9.099/1995; c) art. 
202 da Lei 7.210/1984 – Lei de Execução Penal. 
 Ação Penal: No caput, a ação penal é pública condicionada à 
representação (CP, art. 153, § 1º). Não se aplica a regra 
prevista no art. 153, § 2º, do CP, pois o tipo fundamental fala 
somente em “dano a outrem”, excluindo, portanto, a eficácia 
penal da conduta criminosa em relação à Administração 
Pública. Na figura qualificada, em regra, é pública condicionada 
à representação (CP, art. 153, § 1º). Nesse caso, somente o 
particular é ofendido pela conduta criminosa. No entanto, se do 
fato resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação 
penal será pública incondicionada (CP, art. 153, § 2º). 
30 
 
 Competência criminal (Lei 9.099/1995): O art. 153, caput, do 
CP constitui-se em infração penal de menor potencial ofensivo. 
Obedece ao rito sumaríssimo e comporta transação penal, se 
presentes os requisitos exigidos no art. 76 da Lei 9.099/1995. 
E, por se tratar de crime de ação penal pública condicionada à 
representação, eventual composição dos danos civis leva à 
extinção da punibilidade pela renúncia ao direito de 
representação (Lei 9.099/1995, art. 74, parágrafo único). A 
figura qualificada constitui-se em crime de médio potencial 
ofensivo, compatível com a suspensão condicional do processo 
(Lei 9.099/1995, art. 89). 
 
Violação do segredo profissional 
Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em 
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir 
dano a outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 
 
 Fundamento: O segredo profissional desponta como 
consectário lógico do direto à intimidade, previsto no art. 5º, X, 
da Constituição Federal, e “obriga a quem exerce uma 
profissão regulamentada, em razão da qual há de tomar 
conhecimento do segredo de outra pessoa, a guardá-lo com 
fidelidade”. Exemplificativamente, o advogado a quem o cliente 
confidencia a prática de um crime não pode inadvertidamente 
transmitir essa informação a outras pessoas. O titular do 
segredo é protegido pelo direito à intimidade, uma vez que o 
profissional não pode sem justa causa invadir sua esfera 
privada e revelar a outrem o segredo de que teve 
conhecimento, sob pena de violar aquele direito e incidir na 
figura típica prevista no art. 154 do CP. 
 Objeto jurídico: É a inviolabilidade da intimidade e da vida 
privada das pessoas, relativamente ao segredo profissional. O 
dever de guardá-lo, contudo, não é absoluto. 
 Objeto material: É o assunto transmitido ao profissional em 
caráter sigiloso. 
31 
 
 Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é “revelar”, no sentido de 
delatar ou denunciar. Segredo é toda informação secreta, o 
assunto ou fato que não pode ser tornado público ou conhecido 
de pessoas não autorizadas, pois sua revelação pode produzir 
dano a outrem. Esse dano pode atingir um interesse público ou 
privado, bem como pode ser material ou simplesmente moral. 
É necessário, porém, que seja injusto. O responsável pela 
conduta criminosa pode ter recebido o segredo oralmente, por 
escrito, ou por outro modo qualquer. O crime é de forma livre, 
comportando qualquer meio de execução. 
 Elemento normativo do tipo: Só há crime quando a violação 
do segredo profissional é realizada “sem justa causa”, isto é, 
sem sustentação legal. Destarte, o fato será atípico, por 
ausência do elemento normativo, em diversos casos, tais 
como: estado de necessidade (exemplo: sujeito revela um 
segredo alheio para não ser incriminado), exercício regular de 
direito (exemplo: psicólogo revela ao médico um dado sigiloso 
acerca do paciente em comum), estrito cumprimento de dever 
legal (exemplo: art. 269 do Código Penal, do qual decorre a 
obrigação legal do médico de comunicar doença de notificação 
compulsória) e consentimento do ofendido. Quanto ao 
consentimento do ofendido, existem hipóteses em que a lei não 
o admite como justa causa para a revelação do segredo 
profissional. É o que ocorre no tocante ao advogado (Lei 
8.906/1994 – Estatuto da OAB, art. 7º, XIX), bem como 
relativamente ao médico (Código de Ética Médica, art. 36). Tais 
pessoas, portanto, podem recusar-se a depor como 
testemunhas. O art. 66, II, do Decreto-lei 3.688/1941 (Lei das 
Contravenções Penais) dispõe que o médico não é obrigado a 
comunicar crime de que teve conhecimento no exercício da 
profissão quando a comunicação expuser o cliente a 
procedimento criminal. 
 Sujeito ativo: Crime próprio, somente pode ser cometido por 
quem teve conhecimento do segredo em razão de sua função, 
ministério, ofício ou profissão (“confidentes necessários”). O 
crime relaciona-se necessariamente a uma atividade privada – 
se a conduta for praticada por funcionário público, estará 
32 
 
caracterizado outro crime, a exemplo da violação de sigilo 
funcional (CP, art. 325, caput) ou da fraude em certames de 
interesse público (CP, art. 311-A). 
 Sujeito passivo: Qualquer pessoa suscetível de ser 
prejudicada pela revelação do segredo, seja seu titular ou até 
mesmo um terceiro. 
 Elemento subjetivo: É o dolo, abrangente da ciência da 
ilegitimidade da conduta e da possibilidade de causar dano a 
outrem. Não se admite a modalidade culposa, e também não 
se exige nenhuma finalidade específica. 
 Consumação: Dá-se no instante em que o confidente 
necessáriorevela a terceira pessoa o segredo de que tem 
ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão. 
Basta seja contado o conteúdo do segredo a uma única 
pessoa, desde que esta conduta possa causar dano a alguém, 
patrimonial ou moral. Prescinde-se da produção do resultado 
naturalístico. O crime é formal, de resultado cortado ou de 
consumação antecipada. 
 Tentativa: É admissível na revelação do segredo por escrito, 
tal como na carta que se extravia (delito plurissubsistente). 
 Ação Penal: É pública condicionada à representação, a teor do 
art. 154, parágrafo único, do Código Penal. 
 Lei 9.099/1995: Trata-se de infração penal de menor potencial 
ofensivo, compatível com a composição dos danos civis e com 
a transação penal, desde que presentes os requisitos 
legalmente previstos (Lei 9.099/1995, art. 76). Segue o rito 
sumaríssimo (Lei 9.099/1995, arts. 77 e seguintes). 
 Crime falimentar: Violação de sigilo empresarial - Art. 169. 
Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial 
ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, 
contribuindo para a condução do devedor a estado de 
inviabilidade econômica ou financeira: Pena – reclusão, de 2 
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Distinção em relação ao Crime contra Segurança Nacional: 
Àquele que comunicar, entregar ou permitir a comunicação ou 
a entrega, a governo ou grupo estrangeiro, ou a organização 
ou grupo de existência ilegal de dados, documentos ou cópias 
33 
 
de documentos, planos, códigos, cifras ou assuntos que, no 
interesse do Estado brasileiro, são classificados como 
sigilosos, será imputado o crime definido pelo art. 13 da Lei 
7.170/1983. Quem facilitar, culposamente, a prática deste 
crime responde pelo delito tipificado pelo art. 14 do referido 
diploma legal. 
 Distinção em relação ao Crime contra o Sistema Financeiro 
Nacional: Incide nas penas do art. 18 da Lei 7.492/1986 quem 
“violar sigilo de operação ou de serviço prestado por instituição 
financeira ou integrante do sistema de distribuição de títulos 
mobiliários de que tenha conhecimento, em razão do ofício”. 
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de 
computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com 
o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização 
expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para 
obter vantagem ilícita: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela 
Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
§ 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde 
dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da 
conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
§ 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo 
econômico. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
§ 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações 
eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, 
assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo 
invadido: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não 
constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
§ 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver 
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos 
dados ou informações obtidos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
§ 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado 
contra: (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
I - Presidente da República, governadores e prefeitos; (Incluído pela Lei nº 
12.737, de 2012) Vigência 
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; (Incluído pela Lei nº 12.737, 
de 2012) Vigência 
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia 
Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara 
Municipal; ou (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
34 
 
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, 
municipal ou do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 
2012) Vigência 
Ação penal (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante 
representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública 
direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal 
ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços 
públicos. (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência 
 Fundamento: é inegável que leis editadas décadas atrás, nas 
quais sequer se pensava na existência de computadores, 
levavam a malabarismos adaptativos dos operadores do Direito 
para enfrentar novos comportamentos. Depois da invasão do 
computador pessoal da atriz Carolina Dieckmann. Em maio de 
2012, ocasião em que 36 fotos íntimas dela foram subtraídas 
por cinco homens, posteriormente identificados e 
responsabilizados pelos crimes de extorsão, difamação e furto, 
mas não pela invasão do computador, em face do vácuo 
normativo. Para suprir esta lacuna, foi editada a Lei 
12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann e 
responsável pela inclusão no art. 154-A do Código Penal do 
delito de invasão de dispositivo informático, também conhecido 
como intrusão informática. 
 Objeto jurídico: É a liberdade individual, especificamente no 
tocante à inviolabilidade dos segredos. 
 Objeto material: É o dispositivo informático alheio, 
conectado ou não à rede de computadores. Os dispositivos 
informáticos dividem-se basicamente em 4 (quatro) grupos: a) 
dispositivos de processamento: são responsáveis pela 
análise de dados, com o fornecimento de informações, visando 
a compreensão de uma informação do dispositivo de entrada 
para envio aos dispositivos de saída ou de armazenamento. 
Exemplos: placas de vídeo e processadores de computadores 
e smartphones; b) dispositivos de entrada: relacionam-se à 
captação de dados escritos, orais ou visuais (exemplos: 
teclados, microfones e webcam); c) dispositivos de 
saída: fornecem uma interface destinada ao conhecimento ou 
captação, para outros dispositivos, da informação escrita, oral 
ou visual produzida no processamento (exemplos: impressoras 
e monitores); e d) dispositivos de armazenamento: dizem 
respeito à guarda de dados ou informações para posterior 
análise (exemplos: pendrives, HDs – hard disks e CDs – discos 
compactos). Só há crime quando a conduta recai em dispositivo 
informático alheio. Destarte, o fato será atípico quando o 
35 
 
sujeito devassa um dispositivo próprio, ainda que não esteja 
sob sua posse. É irrelevante se o dispositivo informático alheio 
encontra-se ou não conectado à rede de computadores. 
Destarte, não se exige sua interligação com outro dispositivo 
informático, possibilitando o compartilhamento de dados ou 
informações. 
 Núcleo do tipo: O núcleo do tipo é “invadir”, no sentido de 
devassar dispositivo informático alheio, conectado ou não à 
rede de computadores. A devassa se concretiza mediante a 
violação indevida (sem justa causa ou ilegítima) de mecanismo 
de segurança. Cuida-se de elemento normativo do tipo, a ser 
analisado no plano concreto. Obviamente, o fato será atípico 
quando a violação for devida. Mecanismo de segurança é 
qualquer ferramenta utilizada para proteger o dispositivo 
informático de ameaças (subtração ou alteração de 
informações, danos físicos, modificação das configurações

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