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RESUMO - Ciência Política - TODA A MATÉRIA (Prof. Violeta Caldeira - UniCuritiba)

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1 – NICOLAU MAQUIAVEL: O PRÍNCIPE 
A obra mais importante e famosa de Nicolau Maquiavel foi escrita em 1513. Em O Príncipe, Maquiavel aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto, mesmo que seja necessário utilizar forças militares para alcançar tal objetivo. Esse livro que sugere a famosa expressão: “os fins justificam os meios”, que transmite a ideia de que não importa o que o governante faça em seus domínios, tudo é válido para manter-se como autoridade. Ou seja, os governantes precisam estar acima da ética e moral dominante para realizar seus planos. No entanto, essa expressão não se encontra no texto, foi apenas uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico. Esta obra tentava resgatar o sentimento patriota do povo italiano, e foi escrita no contexto que tinha como ideal a unificação italiana. Fica evidente, nesse ponto, a originalidade do pensamento político de Maquiavel.
Maquiavélico:
O termo Maquiavélico acabou surgindo para fazer referência aos atos imorais, desleais ou violentos que as pessoas utilizam para obter vantagem. No entanto, o próprio Maquiavel defendia a ética na política, o que faz o sentido pejorativo desse termo ser, de certa forma, uma definição injusta dos ideais de Nicolau. Sua maneira de impor as ideias era diferente do estilo dos cientistas naturais da época.
Pensamento Político de Maquiavel:
O pensamento político de Maquiavel precisa ser analisado dentro do contexto do final da Idade Média, onde o antropocentrismo estava sendo retomado como visão predominante (homem no centro de todas as coisas). Essa visão permitiu o nascimento de uma nova ideia política, onde a liberdade republicana surgiria contra o poder político teológico de papas e imperadores. Esse contexto abriu portas para o humanismo cívico (faculdade dos homens de agirem em conjunto pelo bem da cidade), levantando um diálogo político entre a burguesia (que estava desejosa por poder) e a realeza. Houve assim um questionamento do poder absoluto dos reis (como os Médici, em Florência) e desejava-se que um príncipe trouxesse estabilidade e defesa de sua cidade contra ataques vizinhos. Esse príncipe deveria possuir Virtù (ser nacionalista e não mercenário). Maquiavel então conduz a sua obra (O Príncipe) visando o exercício do poder desse governante.
Nicolau Maquiavel chama a atenção por defender que o poder, a honra e a glória são bens que devem ser perseguidos e valorizados, ao contrário da ideia restrita de virtude cristã angelical (livre de tentações). O homem de virtú poderia conseguir bens na terra e deveria lutar por isso, sem ficar almejando recompensas exclusivamente celestiais.  A moral não poderia ser um limitador da prática política. O pensamento político de Maquiavel se apoia no conceito de que a estabilidade da sociedade e do governo precisa ser conseguida a todo o custo.
A diferença entre Maquiavel e os demais cientistas naturais está no constrangimento imposto por suas ideias. Sua originalidade destaca-se pela forma como lidou com a moral na política, trazendo uma visão independente dos conceitos defendidos pela igreja.
2 – HOBBES E O ESTADO DE NATUREZA
Filosofia de Hobbes:
Hobbes afirma que no estado de natureza os homens podem todas as coisas. Por isso, eles utilizam todos os meios disponíveis para consegui-las.
No estado de natureza, segundo Hobbes, os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de todos os meios para atingi-las. Conforme esse autor, os homens são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado. Um homem só se impõe a outro homem pela força; a posse de algum objeto não pode ser dividida ou compartilhada. Num primeiro momento, quando se dá a disputa, a competição e a obtenção de algum bem, a força é usada para conquistar. Não sendo suficiente, já que nada lhe garante assegurar o bom usufruto do bem, o conquistador utiliza-se da força para manter este bem (recorre à violência em prol da segurança desse bem).
Em decorrência desse bom uso das faculdades naturais (para a conquista de algum bem é feito o bom uso da razão, da paixão, da experiência e da força física), forma-se uma reputação que nada mais é do que ver expresso pelos outros aquele reconhecimento valorativo que se autoconfere (vanglória). Esse reconhecimento é também causa da discórdia, porque nenhum homem se vê inferior aos outros e, por isso, impõe-se violentamente sobre os outros como superior.
Assim, e por causa da pouca diferença física ou intelectual entre os homens no estado natural, Hobbes percebe que nessa condição tudo é possível, já que não há regras que impeçam os homens de tomar o que é de outrem, nem que os impeçam de infligir sofrimento ao outro. Todo homem é potencialmente uma ameaça a outro homem e esta é aceita passiva ou ativamente. As paixões são subjetivas e inumeráveis, mas todas tendem a um fim máximo: a preservação da vida e a supressão da dor. Isso permite um convívio com os outros numa relação de ajuda mútua para a manutenção desse fim. Mas ainda assim há outras relações que têm fins diferentes. Mesmo promovendo uma regulação que mantenha o respeito e a ordem, cabe decidir quem promoverá essa regulação. Essa disputa que transcende o indivíduo e engloba grupos de indivíduos, e que também vê nessa dominação uma defesa contra a dominação de outrem, é o que caracteriza a sociedade civil. Aqui há um direcionamento do poder de violência de cada um para um corpo representativo que vai utilizá-lo para a manutenção do princípio de preservação e paz.
Vê-se, então, que o convívio não é de boa vontade, nem é agradável, mas sim convencional aceitável e tolerável, em que os homens se abrigam, fugindo daquele estado de guerra generalizada de todos contra todos, evidenciando a necessidade de criação do Estado, a partir de um contrato social que visa a abdicação do poder ilimitado de cada um e um redirecionamento desse poder (poder de polícia) para a manutenção da ordem e da estabilidade. Portanto, para Hobbes, a liberdade absoluta e a evidência da potência das faculdades naturais do homem desencadeiam essa desconfiança recíproca e contínua, gerando medo, o que justificaria a criação de um artifício para solucionar as desordens internas de uma sociedade. O grande Leviatã, o Estado, é esse artifício humano capaz de sanar essas desordens. É assim também que entendemos a criação de leis. O que se denomina juspositivismo nada mais é do que a compreensão de que a lei natural deve ser abolida, suprimida pela ordem convencional, artificial, inventada pelos homens tendo em vista um bem comum que é a preservação da vida.
3 – ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
Filosofia de Rousseau:
Rousseau afirmava que a liberdade natural do homem, seu bem-estar e sua segurança seriam preservadas através do contrato social. Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante intelectual do século XVIII para se pensar na constituição de um Estado como organizador da sociedade civil assim como se conhece hoje. Para Rousseau, o homem nasceria bom, mas a sociedade o corromperia. Da mesma forma, o homem nasceria livre, mas por toda parte se encontraria acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se tornaria escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status. Mesmo assim, acreditava que seria possível se pensar numa sociedade ideal, tendo assim sua ideologia refletida na concepção da Revolução Francesa ao final do século XVIII.
A questão que se colocava era a seguinte: como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade? Segundo Rousseau, isso seria possível através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.
Rousseau percebeu que a busca pelo bem-estar seria o único móvel das açõeshumanas e, da mesma, em determinados momentos o interesse comum poderia fazer o indivíduo contar com a assistência de seus semelhantes. Por outro lado, em outros momentos, a concorrência faria com que todos desconfiassem de todos. Dessa forma, nesse contrato social seria preciso definir a questão da igualdade entre todos, do comprometimento entre todos. Se por um lado a vontade individual diria respeito à vontade particular, a vontade do cidadão (daquele que vive em sociedade e tem consciência disso) deveria ser coletiva, deveria haver um interesse no bem comum.
Este pensador acreditava que seria preciso instituir a justiça e a paz para submeter igualmente o poderoso e o fraco, buscando a concórdia eterna entre as pessoas que viviam em sociedade. Um ponto fundamental em sua obra está na afirmação de que a propriedade privada seria a origem da desigualdade entre os homens, sendo que alguns teriam usurpado outros. A origem da propriedade privada estaria ligada à formação da sociedade civil. O homem começa a ter uma preocupação com a aparência. Na vida em sociedade, ser e parecer tornam-se duas coisas distintas. Por isso, para Rousseau, o caos teria vindo pela desigualdade, pela destruição da piedade natural e da justiça, tornando os homens maus, o que colocaria a sociedade em estado de guerra. Na formação da sociedade civil, toda a piedade cai por terra, sendo que “desde o momento em que um homem teve necessidade do auxílio do outro, desde que se percebeu que seria útil a um só indivíduo contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, a propriedade se introduziu, o trabalho se tornou necessário” 
Daí a importância do contrato social, pois os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural (quando o coração ainda não havia corrompido, existindo uma piedade natural), necessitariam ganhar em troca a liberdade civil, sendo tal contrato um mecanismo para isso. O povo seria ao mesmo tempo parte ativa e passiva deste contrato, isto é, agente do processo de elaboração das leis e de cumprimento destas, compreendendo que obedecer a lei que se escreve para si mesmo seria um ato de liberdade.
Dessa maneira, tratar-se-ia de um pacto legítimo pautado na alienação total da vontade particular como condição de igualdade entre todos. Logo, a soberania do povo seria condição para sua libertação. Assim, soberano seria o povo e não o rei (este apenas funcionário do povo), fato que colocaria Rousseau numa posição contrária ao Poder Absolutista vigente na Europa de seu tempo. Ele fala da validade do papel do Estado, mas passa a apontar também possíveis riscos da sua instituição. O pensador avaliava que da mesma forma como um indivíduo poderia tentar fazer prevalecer sua vontade sobre a vontade coletiva, assim também o Estado poderia subjugar a vontade geral. Dessa forma, se o Estado tinha sua importância, ele não seria soberano por si só, mas suas ações deveriam ser dadas em nome da soberania do povo, fato que sugere uma valorização da democracia no pensamento de Rousseau.
 4 – LOCKE: PARALELO A HOBBES
Locke, assim como Hobbes, acredita no ser humano no seu estado de natureza. No entanto, o pensamento lockiano acredita que o homem é anterior a sociedade e o Estado, ou seja, o estado de natureza é algo real e que a maioria dos seres humanos passou por ela. Essa idéia é, segundo o autor, é comprovada na existência das tribos americanas.
Ao contrário de Hobbes; em que o estado de natureza é um estado de guerra, insegurança e violência; o estado de natureza lockiano é um estado de paz e harmonia com homens dotados de razão e consumidores da liberdade e dos direitos naturais.
A teoria da Propriedade:
Hobbes acredita que a propriedade só existe no estado civil, e que é uma criação do Estado-Leviatã, logo, podemos dizer que no estado de natureza a questão da propriedade é inexistente. Por ser fruto do Estado, a propriedade pode ser suprimida por este. Seguindo uma lógica contrária temos o pensamento de Locke que acredita na propriedade sendo, assim como o estado de natureza, anterior a sociedade. Assim, podemos dizer que a propriedade é um direito natural e inviolável. 
Outro ponto interessante de discutirmos acerca da questão da propriedade lockiana é a transição da propriedade limitada para a propriedade ilimitada e o advento do capitalismo. A princípio a propriedade era limitada pela capacidade de trabalho do indivíduo, com o surgimento do dinheiro, as formas de aquisição da propriedade foram modificadas pelo comércio, com isso, passou-se a se adquirir a propriedade tanto pelo trabalho quanto pela compra. O uso da moeda para Locke acarretou na concentração de riquezas e na desigualdade entre os homens. E é exatamente esse ponto que determinou a transição da propriedade limitada para a ilimitada.
O contrato social:
A ideia do contrato social para Locke é justamente fazer a transição do estado de natureza para o estado civil, onde, por meio dele, e independente da forma de governo, estariam preservadas as propriedades e a comunidades de conflitos internos e externos. O contrato social proposto por Locke não se assemelha ao contrato de Hobbes. Para Hobbes o contrato é uma espécie de pacto de submissão onde os indivíduos se submetem a um terceiro (homem ou assembléia). Já no contrato de Locke, o contrato social assume um papel de pacto de consentimento em que os homens  concordam em construir a sociedade civil com a finalidade de preservar e consolidar os direitos naturais. A idéia é que os direitos naturais fiquem amparados sobre uma norma e da força do comum representado pelo centro de tomada de decisões. 
A sociedade civil e o direito de resistência:
Locke acredita que independente da forma de governo, é importante saber que: “todo o governo não possui outra finalidade além da conservação da propriedade”. Em sua estrutura de sociedade, o poder legislativo é o poder supremo haja vista que esse é escolhido pela maioria. Além disso, é importante salientar que nessa organização dos poderes, o poder legislativo subordina os poderes executivo e federativo.
O livre consentimento dos indivíduos para a organização da sociedade civil, formação do governo, e a disposição dos poderes são, para Locke, os principais fundamentos do estado civil.
5 – MONTESQUIEU E A TEORIA DOS TRÊS PODERES (EXECUTIVO; LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO)
A Teoria dos Três Poderes foi consagrada pelo pensador francês Montesquieu. Baseando-se na obra Política, do filósofo Aristóteles, e na obra Segundo Tratado do Governo Civil, publicada por John Locke, Montesquieu escreveu a obra O Espírito das Leis, traçando parâmetros fundamentais da organização política liberal.
O filósofo iluminista foi o responsável por explicar, sistematizar e ampliar a divisão dos poderes que fora anteriormente estabelecida por Locke. Montesquieu acreditava também que, para afastar governos absolutistas e evitar a produção de normas tirânicas, seria fundamental estabelecer a autonomia e os limites de cada poder. Criou-se, assim, o sistema de freios e contrapesos, o qual consiste na contenção do poder pelo poder, ou seja, cada poder deve ser autônomo e exercer determinada função, porém o exercício desta função deve ser controlado pelos outros poderes. Assim, pode-se dizer que os poderes são independentes, porém harmônicos entre si. Essa divisão clássica está consolidada atualmente pelo artigo 16 da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e é prevista no artigo 2º na nossa Constituição Federal.
No Brasil, as funções exercidas por cada poder estão divididas entre típicas (atividades frequentes) e atípicas (atividades realizadas mais raramente).
Poder Executivo:
Função típica: administrar a coisa pública (república)
Funções atípicas: legislar e julgar.
Poder Legislativo:
Funções típicas: legislar e fiscalizar
Funções atípicas: administrar (organização interna) e julgar
Poder Judiciário:
Função típica: julgar, aplicando a lei a um caso concreto que lheé posto, resultante de um conflito de interesses.
Funções atípicas: as de natureza administrativa e legislativa.
Atualmente fala-se no Brasil a respeitos da existência de um quarto poder, exercido pelo Ministério Público, o qual é o responsável pela defesa dos direitos fundamentais e a fiscalizar os Poderes Públicos, garantindo assim, a eficiência do sistema de freios e contrapesos. Cumpre ressaltar, contudo, que há divergência de opiniões a respeito da existência deste quarto poder.
 6 – FEDERALISTAS: HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU
O federalismo é um sistema político em que organizações políticas (estados, províncias) ou grupos se unem para formar uma organização mais ampla como, por exemplo, uma Estada Central. No sistema federalista, os estados que o integram mantém a autonomia.
Exemplo: Um bom exemplo de federalismo são os Estados Unidos da América. Os estados se unem para formar o sistema central, porém possuem autonomia para definir assuntos de diversas naturezas como, por exemplo, criação de leis, definição de políticas públicas, criação e arrecadação de impostos, etc.
O caso brasileiro: O Brasil também segue o sistema federalista.
Três grandes pensadores modernos marcaram a reflexão sobre a questão política: Hobbes, Locke e Rousseau. Um ponto comum perpassa o pensamento desses três filósofos a respeito da política: a ideia de que a origem do Estado está no contrato social. Parte-se do princípio de que o Estado foi constituído a partir de um contrato firmado entre as pessoas. Aqui se entende o contrato como um acordo, consenso, não como um documento registrado em cartório. Além disso, a preocupação não é estabelecer um momento histórico (data) sobre a origem do Estado. A idéia é defender que o Estado se originou de um consenso das pessoas em torno de alguns elementos essenciais para garantir a existência social. Porém, existem algumas divergências entre eles, que veremos a seguir:
Hobbes (1588-1679): acreditava que o contrato foi feito porque o homem é o lobo do próprio homem. Há no homem um desejo de destruição e de manter o domínio sobre o seu semelhante (competição constante, estado de guerra). Por isso, torna-se necessário existir um poder que esteja acima das pessoas individualmente para que o estado de guerra seja controlado, isto é, para que o instinto destrutivo do homem seja dominado. Neste sentido, o Estado surge como forma de controlar os "instintos de lobo" que existem no ser humano e, assim, garantir a preservação da vida das pessoas. Para que isso aconteça, é necessário que o soberano tenha amplos poderes sobre os súditos. Os cidadãos devem transferir o seu poder ao governante, que irá agir como soberano absoluto a fim de manter a ordem.
Locke (1632-1704): parte do princípio de que o Estado existe não porque o homem é o lobo do homem, mas em função da necessidade de existir uma instância acima do julgamento parcial de cada cidadão, de acordo com os seus interesses. Os cidadãos livremente escolhem o seu governante, delegando-lhe poder para conduzir o Estado, a fim de garantir os direitos essenciais expressos no pacto social. O Estado deve preservar o direito à liberdade e à propriedade privada. As leis devem ser expressão da vontade da assembleia e não fruto da vontade de um soberano. Locke é um opositor ferrenho da tirania e do absolutismo, colocando-se contra toda tese que defenda a ideia de um poder inato dos governantes, ou seja, de pessoas que já nascem com o poder (por exemplo, a monarquia). 
Rousseau (1712-1778): considera que o ser humano é essencialmente bom, porém, a sociedade o corrompe. Ele considera que o povo tem a soberania. Daí, conclui que todo o poder emana (tem sua origem) do povo e, em seu nome, deve ser exercido. O governante nada mais é do que o representante do povo, ou seja, recebe uma delegação para exercer o poder em nome do povo. Rousseau defende que o Estado se origina de um pacto formado entre os cidadãos livres que renunciam à sua vontade individuais para garantir a realização da vontade geral. Um tema muito interessante no pensamento político de Rousseau é a questão da democracia direta e da democracia representativa. A democracia direta supõe a participação de todo o povo na hora de tomar uma decisão. A democracia representativa supõe a escolha de pessoas para agirem em nome de toda a população no processo de gerenciamento das atividades comuns do Estado.
 7 – TOCQUEVILLE: O CONCEITO DE DEMOCRACIA
Democracia, Igualdade e Liberdade:
Alexis de Tocqueville propôs uma interpretação coerente da passagem da sociedade do Antigo Regime, sociedade composta de Ordens e de Estados, para a sociedade moderna que ele designa democrática, e que ele caracteriza pela mobilidade social dos indivíduos. A sociedade democrática cria condições favoráveis para o crescimento e para a igualdade, como o mostra o exemplo da América, mas ela ameaça certos valores, especialmente a liberdade. Trata-se de estabelecer os fundamentos de uma «ciência nova» da sociedade para prevenir esta ameaça.
Segundo Tocqueville, a democracia define-se pela igualdade de condições o que engloba três processos: movimento de igualização dos direitos individuais (direitos políticos e direitos cívicos) em que esta igualdade dos direitos é inseparável da extensão das liberdades públicas a todos os membros da sociedade; difusão de certo bem material a toda a população, sendo possível aceder às posições sociais elevadas (mobilidade social) e generalização de uma representação igualitária das relações sociais. Esta tendência pluridimensional para a igualdade de condições é assumida por uma vasta parte da classe média. Assim, Tocqueville define individualismo como um sentimento refletido e pacífico, que dispõe cada cidadão a isolar-se da massa dos seus semelhantes, e a retirar-se para longe com a sua família e os seus amigos, de tal forma que, depois de criada uma pequena sociedade para seu uso, ele abandona de bom grado a grande sociedade a si mesma.
A igualdade de condições assume duas formas nacionais: americana e francesa. Os americanos não tiveram que fazer face à passagem de uma sociedade aristocrática para uma sociedade democrática. Eles nasceram iguais antes de se tornarem iguais.
Assim, a forma americana caracteriza-se ao nível dos hábitos (gosto de procura do bem-estar individual, tolerância, certo conformismo intelectual), ao nível político e jurídico (importância das instituições comunais, papel do direito e dos juízes eleitos, federalismo) e ao nível das relações sociais (multiplicação das associações voluntárias). Em França a sociedade de classes ainda vigorava no Antigo Regime. A aristocracia representava o modelo de classe social que acumulava os recursos materiais, o poder, o prestígio, encontrando-se unido por um sistema de valores que conciliava a igualdade entre pares e a liberdade de cada um dos membros.
 8 – max weber: definição de ação 
A ação social, para Max Weber, pode ser dividida em quatro ações fundamentais: ação social racional com relação a fins, ação social racional com relação a valores, ação social afetiva e ação social tradicional.
Na visão de Max Weber, a função do sociólogo é compreender o sentido das chamadas ações sociais, e fazê-lo é encontrar os nexos causais que as determinam. Entende-se que ações imitativas, nas quais não se confere um sentido para o agir, não são ditas ações sociais. Mas o objeto da Sociologia é uma realidade infinita e para analisá-la é preciso construir tipos ideais, que não existem de fato, mas que norteiam a referida análise. Os tipos ideais servem como modelos e a partir deles a citada infinidade pode ser resumida em quatro ações fundamentais, a saber:
Ação social racional com relação a fins: Na qual a ação é estritamente racional. Toma-se um fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar um fim;
Ação social racional com relação a valores: Na qualnão é o fim que orienta a ação, mas o valor seja este ético, religioso, político ou estético;
Ação social afetiva: Em que a conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja, medo, etc.
Ação social tradicional: Que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados. (Observe que as duas últimas são irracionais).
Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao outro. No entanto, há algumas atitudes coletivas que não podem ser consideradas sociais. No que se refere ao método sociológico, Weber difere de Durkheim (que tem como método a observação e a experimentação, sendo que esta se dá a partir da análise comparativa, isto é, faz-se a análise das diversas sociedades as quais devem ser comparadas entre si posteriormente). Ao tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim queria mostrar que o cientista precisa romper com qualquer pré-noção, ou seja, é necessário, desde o começo da pesquisa sobre a sociedade, o abandono dos juízos de valores que são próprios ao sociólogo (neutralidade), uma total separação entre o sujeito que estuda e o objeto estudado, que também pretendem as ciências naturais. No entanto, para Weber, na medida em que a realidade é infinita, e quem a estuda faz nela apenas um recorte a fim de explicá-la, o recorte feito é prova de uma escolha de alguém por estudar isto ou aquilo neste ou naquele momento. Nesse sentido, não há, como queria Durkheim, uma completa objetividade. Os juízos de valor aparecem no momento da definição do tema de estudo. Assim foi o seu conviver com a doutrina protestante que influenciou Weber na escrita de “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Para esse teórico, é apenas após a definição do tema, quando se vai partir rumo à pesquisa em si, que se faz possível ser objetivo e imparcial.
Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista do objeto de estudo sociológico. O primeiro dirá que a Sociologia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser: gerais, exteriores e coercitivos, além de objetivos, para esta ser chamada corretamente de “ciência”. Enquanto o segundo optará pelo estudo da ação social que, como descrita acima, é dividida em tipologias. Ademais, diferentemente de Durkheim, Weber não se apoia nas ciências naturais a fim de construir seus métodos de análises e nem mesmo acredita ser possível encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do mundo social. O seu interesse não é, portanto, descobrir regras universais para fenômenos sociais. Mas quando rejeita as pesquisas que se resumem a uma mera descrição dos fatos, ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as quais são suscetíveis de entendimento a partir da racionalidade científica.
♦ Os “tipos ideais” para Weber
Outro ponto importante da teoria weberiana é a busca pela construção dos “tipos ideais” no processo de construção do conhecimento teórico. O estabelecimento de tipos ideais não busca construir tipologias fixas nem mesmo busca classificar de maneira inflexível o objeto em questão. Eles servem como parâmetro de observação, um “boneco” com características delineadas que serve apenas como ponto de comparação entre o observado e sua obra teórica. Trata-se de modelos conceituais que nem sempre, ou quase nunca, existem. Apenas alguns aspectos ou atributos são observáveis.
♦ Racionalização do mundo social
Weber ainda faz referência a um fenômeno de grande importância do mundo moderno e que está relacionado com as mudanças estruturais, culturais e sociais que as sociedades modernas passaram no decorrer do tempo: “a racionalização do mundo social”. Esse fenômeno refere-se a mudanças profundas, como a gradual construção do capitalismo e a monstruosa explosão do crescimento dos meios urbanos, que se tornaram as bases da reordenação das organizações tradicionais que predominavam até então.
Ampliando nossa explicação, devemos dizer que a preocupação de Weber estava em tentar apreender os processos pelos quais o pensamento racional, ou a racionalidade, impactou as instituições modernas, como o Estado, os governos e, ainda, o âmbito cultural, social e individual do sujeito moderno. Em sua denominação das diversas formas de racionalidade, Weber fez distinção de quatro principais formas: a racionalidade formal, a racionalidade substantiva, a racionalidade meio finalística e a racionalidade quanto aos valores. A obra de Max Weber é incrivelmente diversa e amplamente utilizada em esforços de compreensão dos fenômenos sociais contemporâneos. A sociologia weberiana influenciou e ainda influencia grandes teóricos, que enxergam na visão de Weber uma ferramenta para desvendar os mistérios das relações humanas.
 9 – KARL MARX
foi um filósofo, cientista político, e socialista revolucionário muito influente em sua época, até os dias atuais. É muito conhecido por seus estudos sobre as causas sociais. Teve enorme importância para a política européia, ao escrever o Manifesto Comunista, juntamente com Friedrich Engels, que deu origem ao “Marxismo”, citado adiante. Foi um ativista do movimento operário europeu, no chamado International Workingmen’s Association (IWA), também conhecido como First International. A influência de suas idéias atingiu todo o mundo, como na vitória dos Bolcheviques na Rússia. Enquanto suas teorias começaram a declinar quanto à popularidade, especialmente após o colapso do regime Soviético, elas continuam sendo muito utilizadas hoje, em movimentos trabalhistas, práticas políticas, movimentos políticos.
Marxismo:
O marxismo se baseia no materialismo e o socialismo científico, constituindo ao mesmo tempo uma teoria geral e o programa dos movimentos operários. Em razão disso, o marxismo forma uma base de ação para estes movimentos, porque eles unem a teoria com a prática. Para os marxistas, o materialismo é a arma pela qual é possível abolir a filosofia como instrumento especulativo da burguesia (o Idealismo) e fazer dela um instrumento de transformação do mundo a serviço do proletariado (força de trabalho). Este conceito tem duas bases: o materialismo dialético e o materialismo histórico. O primeiro coloca a simultaneidade da matéria e do espírito, e a constituição do concreto por uma evolução concebida como “desenvolvimento por saltos, catástrofes e revoluções”, causando uma evolução em um grau mais alto, graças a “negação da negação” (dialética).
O materialismo histórico coloca que a consciência dos homens é determinada pela realidade social, ou seja, pelo conjunto dos meios de produção, base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social determinada. Analisando o capitalismo, Marx desenvolveu uma teoria para o valor dos produtos: o valor é a expressão da quantidade de trabalho social utilizado na produção da mercadoria. No sistema capitalista, o trabalhador vende ao proprietário a sua força de trabalho, muitas vezes o único bem que tem tratada como mercadoria, e submetida às leis do mercado, como concorrência, baixos salários. “Ou é isto, ou nada. Decida-se que a fila é grande”. A diferença entre o valor do produto final e o valor pago ao trabalhador, Marx deu o nome de mais-valia, que expressa, portanto, o grau de exploração do trabalho. Os empregadores tem uma tendência natural de aumentar a mais-valia, acumulando cada vez mais riquezas.
Após a Segunda Guerra Mundial, o marxismo teve um crescimento considerável, principalmente em países do terceiro mundo, onde se constituiu como ponto de referência para os movimentos de libertação nacional. Este crescimento foi acompanhado de desenvolvimentos e divisões: a crítica ao Stalinismo na antiga URSS e suas práticas nos países ocidentais, a ruptura entre URSS e a China, a análise do imperialismo por militantes políticos, como Ho Chi Minh no Vietnã, Fidel Castro em Cuba, etc.
O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx que constituem uma análise do capitalismo(críticada economia política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista marxista. Nela existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia, capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; ou sobre a acumulação primitiva. Resumindo, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo também uma crítica sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos.
 10 – NORBERTO BOBBIO: LIBERALISMO E DEMOCRACIA
No que diz respeito às relações entre o liberalismo e a democracia há na obra de Norberto Bobbio uma tendência a assumir ambos os conceitos como estreita e auspiciosamente interligados1. Tal tendência o situa, dentro do campo da ciência política, como um dos grandes sistematizadores e defensores da "fórmula democrático-liberal", apresentada como um modelo racional de ordem social, capaz de preservar a livre existência do ser humano na sociedade de massas. Para o nosso autor, o que caracterizaria o regime político moderno como democrático seria a garantia dos direitos individuais. Desse ângulo, tal regime configuraria o natural prosseguimento do Estado liberal, acolhendo, em sua própria estrutura, os clássicos direitos de liberdade civis e políticos habitualmente associados ao pensamento liberal. O liberalismo, tido por Bobbio (1997, p. 219) como superior historicamente às outras formas políticas, opera como fundamento e condição necessária do governo democrático moderno. Para o intelectual italiano, o Estado liberal é o pressuposto não só histórico, mas também jurídico do Estado democrático. Estados liberais e Estados democrático são interdependentes em dois modos: na direção que vai do liberalismo à democracia, no sentido de que são necessárias certas liberdades para o exercício correto do poder democrático, e na direção oposta que vai da democracia ao liberalismo, no sentido de que é necessário o poder democrático para garantir a existência e a persistência das liberdades fundamentais. Em outras palavras: é pouco provável que um estado não liberal possa assegurar um correto funcionamento da democracia e de outra parte é pouco provável que um estado não democrático seja capaz de garantir as liberdades fundamentais. A prova histórica desta interdependência está no fato de que Estado liberal e Estado democrático, quando caem, caem juntos (Bobbio, 2006b, p. 32-33).
Na interpretação de Bobbio, a democracia moderna seria o triunfo do indivíduo e consequência histórica do liberalismo. Assim sendo, liberalismo e democracia repousariam, ambos, sobre uma concepção individualista de sociedade, considerando os direitos da pessoa – a liberdade de opinião, de expressão, de reunião, de associação – como de origem liberal, ficando cristalizados e garantidos na democracia moderna, com o reconhecimento constitucional de direitos "invioláveis" do indivíduo. A democracia nasceu de uma concepção individualista da sociedade, isto é, da concepção para a qual — contrariamente à concepção orgânica, dominante na idade antiga e na idade média, segundo a qual o todo precede as partes — a sociedade, qualquer forma de sociedade, e especialmente a sociedade política, é um produto artificial da vontade dos indivíduos (Bobbio, 2006b, p. 34).
O assinalado até aqui pressupõe ter que aceitar que esses direitos estejam necessariamente associados, como habitualmente se faz, ao patrimônio político e categorial do liberalismo. Significa ter que aceitar, também, a caracterização que o intelectual italiano faz de figuras como Locke, Tocqueville, Bentham ou Stuart Mill, os quais definem como expoentes do "pensamento liberal e democrático" (Bobbio, 2006b, p. 34). Bobbio, nesses assuntos, faz parte de uma tradição solidamente estabelecida que leva a creditar ao liberalismo – e, junto com este, à burguesia – os louros exclusivos pela consagração dos direitos e liberdades de pensamento, de expressão, de reunião e de associação e que considera a defesa de tais direitos e liberdades como sendo a quintessência do Estado liberal. Caberia se interrogar se isso de fato condiz com a verdade histórica. Não deveríamos questionar essa associação tão tranquilamente aceita? Por que concordar com a tese de que são os liberais os únicos e verdadeiros intérpretes da causa da liberdade e dos direitos recém-arrolados? Até que ponto esses direitos são obra do liberalismo? Até quando tributaremos gratidão aos liberais por direitos que nem sempre eles impulsionaram ou de cujo avanço não é exclusivo responsável? Podemos lembrar, a mero título ilustrativo, os casos do direito ao sufrágio ou do direito de livre associação e dos fortes obstáculos que os liberais interpuseram à sua ampliação para as classes subalternas e, portanto, a seu processo de universalização3. Isso é algo que o próprio Bobbio de alguma forma reconhece quando, por exemplo, atribui aos niveladores o papel precursor na luta pelo voto universal (Bobbio, 2006a, p. 50), em confronto com as forças liberais, as quais por muito tempo teimaram em negar essa ampliação dos direitos políticos4.
Mas voltemos à questão central que nos ocupa nesta seção. De forma taxativa, em "Liberalismo e democracia", Bobbio afirma que "hoje Estados liberais não democráticos não seriam mais concebíveis, nem Estados democráticos que não fossem também liberais" (Bobbio, 2006a, p. 43). Afirmações de calibre semelhante encontraram algumas páginas mais à frente, nesse mesmo livro, quando ele sentencia que “a combinação entre liberalismo e democracia não apenas é possível, como também necessário” (Bobbio, 2006a, p. 47). Tais asseverações levam a bloquear toda possibilidade de sequer pensar numa democracia "mais democrática" – uma democracia que afirme e expanda direitos e liberdades, superando a tradição liberal. As considerações de Bobbio nessa matéria constituem um bom exemplo daquilo que Carlos Estevam Martins define como a rotunda hegemonia ideológica alcançada pelos liberais5. Nesse contexto, em que o pensamento liberal se arroga um lugar de privilégio no âmbito da defesa das liberdades, empurrando as demais correntes para o campo autoritário, não resta muito espaço para a luta por uma democracia pós-liberal ou não liberal.
Todavia, vale insistir: essa relação de suposta continuidade temporal e conceitual deve ser rediscutida. Aqueles que advogamos por uma democracia autenticamente popular não deveriam aceitar, passivamente, o retrato que os ideólogos liberais fazem da história do pensamento democrático moderno e sua "evolução". Pois, como bem aponta Domenico Losurdo: Não resiste à investigação histórica o mito, caro a Bobbio, do desenvolvimento espontâneo do liberalismo em direção à democracia. É um dado de fato que precisamente os países com uma tradição liberal mais consolidada acumularam um considerável atraso histórico no próprio terreno da emancipação política (Losurdo, 2004, p. 51).
Resta evidente que essa forçada relação de complementaridade entre o liberalismo e a democracia tem seu preço; preço, por sinal, bastante elevado. Bobbio reconhece que tanto a compatibilização conceitual entre o liberalismo e a democracia quanto a compreensão deste como desenvolvimento natural6 e auspicioso do Estado liberal só são possíveis "se [a democracia for] tomada não pelo lado de seu ideal igualitário, mas pelo lado de sua fórmula política, que é, como se viu, a soberania popular" (Bobbio, 2006a, p. 42-43). Cumpre esclarecer, todavia, que a invocação da soberania popular não passa de retórica vazia, pois o próprio Bobbio explica que o liberalismo dos modernos e a democracia dos antigos foram, com frequência, antitéticos, na medida em que os liberais historicamente exprimiram uma profunda desconfiança para com toda forma de governo popular, o que os motivou a defender severas restrições no exercício do direito ao sufrágio. Além disso, para Bobbio (2006a, p. 38), a associação entre ambos os termos implica o dever de interpretar a palavra democracia no seu sentido jurídico-procedimental, e não nosentido ético.
No parágrafo acima, as expressões que merecem destaque são "fórmula política" e "sentido jurídico-procedimental", elementos definidores, para Bobbio, do processo democrático. Processo democrático este que consiste meramente em completar o clássico Estado liberal com as liberdades políticas (Bobbio, 2006a, p. 84). Já o ideal igualitário é, sem muitas explicações da parte do nosso autor, liminarmente expulso do panteão democrático. Eis, portanto, a chave do roteiro interpretativo e da proposta política defendida por Bobbio: o abandono puro e simples de todo conteúdo substantivo, de toda e qualquer aspiração igualitária, de toda e qualquer associação da democracia com ideais de justiça e de transformação social. A democracia moderna, para Bobbio, diz respeito, apenas, a uma questão de procedimentos. É precisamente sobre essa definição que iremos nos debruçar na seção a seguir.
A defesa da democracia representativa e a condenação da democracia direta:
É assim, então, que para nosso autor a democracia é meramente uma "forma de governo caracterizada por um conjunto de regras que permitem a mudança dos governantes sem necessidade de usar a violência" (Bobbio, 1996, p. 233), forma que possibilita "a livre e pacífica convivência dos indivíduos numa sociedade" (Bobbio, 1998, p. 82). A democracia seria nada mais que "um mecanismo para eleger e autorizar governos", possibilitando a alternância das elites no poder (Bobbio, 1955, p. 175; 2006b). Não é um ideal utópico, mas uma prosaica técnica para a organização do Estado, centrada em "estabelecer não já o que se deve decidir, mas somente o quem precisa decidir e como" (Bobbio, 1987, p. 381).
A democracia fica reduzida a uma simples técnica de autorreprodução das relações de poder e de separação entre representantes e representados via mecanismos de representação, ou via "regras do jogo", como gosta de defini-las o próprio Bobbio. Isso dá lugar a uma teoria democrática profundamente pautada pelas noções de governabilidade e estabilidade, em oposição a qualquer proposta que venha a desafiar o status quo. Dá lugar a uma concepção procedimental de democracia de claro caráter elitista, que transforma o conceito originário de democracia em uma técnica constituída por normas que visam garantir a eleição rotativa das lideranças políticas; lideranças que desempenhariam um papel comparável aos dos empresários cujo lucro é o poder, cujo poder se mede por votos, cujos votos dependem da sua capacidade de satisfazer interesses de eleitores e cuja capacidade de responder às solicitações dos eleitores depende dos recursos públicos de que pode dispor. Ao interesse do cidadão eleitor de obter favores do Estado corresponde o interesse do político eleito ou a ser eleito de concedê-los. Entre um e outro se estabelece uma perfeita relação de ': um, através do consentimento confere poder, o outro, através do poder recebido, distribui vantagens ou elimina desvantagens (Bobbio, 2006b, p. 138).
Cabe esclarecer que longe de nós está querer defender a tese de que as regras do jogo não sejam relevantes e que devam ser desconsideradas. Não é essa a nossa posição. Seguimos aqui os ensinamentos de Rosa Luxemburgo (1991), que com sua habitual lucidez destacara a importância da esfera institucional para o processo revolucionário e para a própria sociedade futura. Importância esta, todavia, que não a levava a pensar, ingenuamente, que a democracia pudesse se limitar apenas a um conjunto de regras de procedimento9. Muito longe disso, pois, para a revolucionária polonesa, a democracia significava um projeto de autoemancipação social, uma democracia que não só não entra em contradição com o projeto do socialismo revolucionário mas que encontra com este uma estreita inter-relação. Para Rosa Luxemburgo, não há como separar democracia, socialismo e revolução; trata-se de uma posição evidentemente muito distante do caminho trilhado por Norberto Bobbio e dos estreitos horizontes políticos que orientam sua reflexão intelectual.
E, especificamente no que diz respeito à democracia representativa, Bobbio não vê que haja incompatibilidade entre esta e o poder popular. Referindo-se aos Federalistas e aos constituintes franceses, considera que estes "[...] não pensavam realmente que instituindo uma democracia representativa acabariam por enfraquecer o governo popular" (Bobbio, 2006a, p. 34), quando na verdade o objetivo central perseguido pelos pais da Constituição estadunidense com o desenvolvimento do governo representativo era, sim, precisamente, o de enfraquecer ou neutralizar o poder político das camadas populares. Leia-se bem: utilizamos a expressão "governo representativo" e não "democracia representativa", como faz erroneamente Bobbio (2006a, p. 34), pois os Federalistas eram explicitamente contrários ao regime democrático e defensores de um governo representativo ou republicano. Só várias décadas depois será instalada no debate público a fórmula "democracia representativa", entendida muito mais como sinônimo de "governo representativo" no sentido atribuído pelos Federalistas do que como sinônimo de poder popular. Disso deriva a necessidade de questionar também a argumentação de Norberto Bobbio quando alega que "tanto a democracia direta quanto a indireta descendem do mesmo princípio da soberania popular, apesar de se distinguirem pelas modalidades e pelas formas com que essa soberania é exercida" (Bobbio, 2006a, p. 34). Vale ressaltar que Norberto Bobbio desempenhou, ao longo do século XX, um papel importante na difusão e legitimação dessa fórmula política, em que o adjetivo tem uma importância maior que o substantivo. Compreende-se, assim, por que para o intelectual turinense resulte importante preservar a distância entre os representados e os representantes, permitindo a estes últimos a tutela dos interesses gerais do Estado, superiores aos interesses dos eleitores, gozando de um mandato não revogável, acima dos interesses terrenos da população. Compreende-se, de igual forma, que para Bobbio (2006b, p. 36) a principal característica da democracia moderna seja a representação política, isto é, um tipo de vínculo segundo o qual o representante, sendo chamado a perseguir os interesses da nação, não pode estar sujeito a um mandato imperativo.
O nosso autor defende, como diz Negri (1989), uma democracia centrada nas liberdades dos indivíduos, que não pode ser entendida em seu sentido originário, como garantia de direitos coletivos e incentivos à participação direta da população nas políticas públicas e a expansão da sociedade civil no Estado. Segundo Bobbio, a participação direta é apenas uma utopia, não sendo realizável nas sociedades de massa, podendo-se tornar uma perigosa máquina de construção do totalitarismo (Negri, 1989). Para Bobbio a participação popular direta dos cidadãos seria viável só numa pequena comunidade, como era a do modelo clássico por excelência, a Atenas do V e do IV séculos, quando os cidadãos não passavam de poucos milhares e a sua assembleia, considerando-se os ausentes por motivo de força maior ou por livre e espontânea vontade, reunia-se com todos juntos no lugar estabelecido (Bobbio, 2006b, p. 65).
Ainda com relação a esse tema, Bobbio assinala: É evidente que, se por democracia direta se entende literalmente a participação de todos os cidadãos em todas as decisões a eles pertinentes, a proposta é insensata. Que todos decidam sobre tudo em sociedades sempre mais complexas como são as modernas sociedades industriais é algo materialmente impossível. E também não é desejável humanamente, isto é, do ponto de vista do desenvolvimento ético e intelectual da humanidade. Em seus escritos de juventude Marx havia indicado o homem total como meta do desenvolvimento civil da humanidade. Mas o indivíduo rousseauniano conclamado a participar da manhã à noite para exercer os seus deveres de cidadão não seria o homem total, mas o cidadão total [...]. E, bem vistas as coisas, o cidadão total nada mais é que a outra face igualmente ameaçadora do Estado total.Não por acaso a democracia rousseauniana foi frequentemente interpretada como democracia totalitária em polêmica com a democracia liberal (Bobbio, 2006b, p. 54-55). Bobbio retoma, portanto, o argumento weberiano que visa justificar a impossibilidade da participação direta dos cidadãos na vida pública. Bobbio procura demonstrar a inevitabilidade da perda de controle sobre o processo de decisão política e econômica que vem experimentando o cidadão comum em favor da organização burocrática, fruto do surgimento e o desenvolvimento do Estado moderno. E, na mesma linha argumentativa de Weber, Bobbio expressa a necessidade de que sejam os líderes políticos os que controlem o aparelho burocrático, na medida em que o pessoal administrativo não detém as informações necessárias para execução de políticas complexas, sendo incapaz de indicar as soluções necessárias nas diversas situações que se apresentam.
Frente à complexidade e ao avanço do processo burocratizador, no pensamento bobbiano não cabe a possibilidade de uma democracia mais radical que permita à população exercer o controle sobre dito processo. O controle caberá aos líderes políticos, escolhidos periodicamente pela população. Mas será que essa resposta, a resposta elitista, é a única possível? Por que diante do aumento da complexidade, não haveria de se pensar que se torna cada vez mais necessária a expansão da própria democracia, multiplicando os espaços para a efetiva participação popular? Não haveria assim maiores chances de ouvir mais vozes e de contemplar um maior leque de interesses? Ian Budge (1993) argumenta, acertadamente, que a tentativa de utilizar a teoria da eleição social como arma contra a democracia direta pode derivar para uma argumentação contra a própria democracia, mais do que contra alguma das formas particulares que esta venha a assumir. Em igual sentido se manifesta James Bohman (1996), que explica que os discursos acerca do caráter inevitável da complexidade primeiro rejeitam a possibilidade de participação, depois questionam a possibilidade de deliberação, depois colocam em xeque a viabilidade da representação e finalmente acabam exigindo a liquidação da própria democracia. Não é o itinerário desejado por Bobbio, claro; contudo, e sem querê-lo, ele termina oferecendo elementos que podem legitimar esses discursos. Para Bohman, não haveria uma antinomia funcional entre incrementar a democracia e, por sua vez, manter a complexidade. Ao contrário, muitos dos mesmos mecanismos políticos que reduzem a complexidade também reduziriam a própria democracia. Assim, para esse autor, a complexidade facilitaria a deliberação pública e asseguraria a possibilidade de decisões livres e contingentes, motivo que justifica o aprofundamento de instâncias reais de participação política direta e autônoma.
No passado, a grande preocupação dos liberais estava centrada no risco de tirania da maioria. Hoje o fantasma que persegue os liberais é o da ingovernabilidade, definida nas palavras de Bobbio como a "incapacidade dos governos democráticos de dominarem convenientemente os conflitos de uma sociedade complexa: um alvo de sinal oposto, não o excesso, mas o defeito do poder" (Bobbio, 2006a, p. 92). Não nos convence a explicação bobbiana: será que estamos realmente frente a um alvo de sinal oposto? Não se trata, na sua essência, da mesma ameaça: a ameaça do poder popular? No primeiro caso o poder popular no governo, no segundo o poder popular no seio da sociedade, demandando ao governo o que este supostamente não poderia dar. É oportuno lembrarmos o Relatório da Comissão Trilateral, em que Crozier, Huntington e Watanuki (1975) faziam um claro apelo em prol de uma redução da democracia em nome da preservação da estabilidade política e das próprias instituições da democracia representativa10, o que na prática significava uma luta por menos, e não mais, poder popular. Tirania da maioria, ingovernabilidade, dois nomes, então, que buscam conjurar e neutralizar a força política das classes subalternas. Eis, portanto, uma clara expressão do caráter elitista, antidemocrático e conservador que orienta a prédica das correntes hegemônicas na ciência política contemporânea, das quais infelizmente Norberto Bobbio parece não estar tão distante, conforme observaremos na seção a seguir.
 11 – DAHL E O PROCESSO DEMOCRÁTICO
Robert Dahl (nascido em 1915) é professor emérito de Ciência Política, o mesmo parte da tese de que as tentativas de teorizar sobre a democracia têm deixado pontos obscuros e questões sem resposta. A utilização do termo de forma vaga leva a suposição de que poderia aplicar-se universalmente. Também aqui é necessário limitar e precisar o objeto. Convém, portanto, enfatizar que a democracia diz respeito à organização da vida política em sociedade. Desse ângulo, o essencial e definidor consiste no processo de adoção das decisões que se tornarão obrigatórias. A plena compreensão desse processo, ainda que não signifique a eliminação de dúvidas e controvérsias, servirá para aferir as circunstâncias em que estejamos em presença de governos democráticos. Ao privilegiar-se o processo, estamos trazendo para primeiro plano as instituições garantidoras de seu caráter democrático. 
Contudo, não se pode passar diretamente a estas sem assumir determinados pressupostos teóricos. Estes, certamente, reintroduzem dúvidas e componentes subjetivos porquanto se trata de assumir circunstâncias ideais, que nunca se dão com tal inteireza na realidade. Ainda assim, este é um risco que não pode ser evitado. O mérito de Dahl reside precisamente na forma como enfrenta tais problemas. A suposição de que uma parte substancial dos adultos acha-se adequadamente qualificada para governar a si mesma é denominada por Dahl de Princípio Forte de Igualdade (Strong Principle of Equality). Essa é a solução encontrada para ultrapassar o impasse a que leva a idéia de que haveria um princípio intrínseco de igualdade. Embora, do ponto de vista liberal, isto é, da igualdade perante a lei, não se possa recusar a igualdade intrínseca da pessoa humana, a experiência histórica da democratização da idéia liberal sugere que essa espécie de princípio – muito próxima da tradição do direito natural – não foi capaz de fornecer critérios gerais aptos a nortear a disseminação do sufrágio. 
Concretamente, a eliminação da regra diferenciadora instaurada pela exigência de certos níveis de renda somente se deu quando a massa trabalhadora evidenciou a especificidade de seus interesses, o que impossibilitava (ou pelo menos dificultava) viesse a colocar-se a 2 reboques do antigo absolutismo. A renda como elemento diferenciador fora sugerida pelo próprio curso histórico, já que somente os proprietários tinham condições reais de contrapor-se ao Monarca absoluto. O novo passo (isto é, a democratização do sufrágio), portanto, não foi justificado, por nenhum princípio geral associado à idéia de igualdade. É esse tipo de problemática que Dahl pretende ultrapassar ao assumir um princípio geral confirmado pela experiência e não deduzido da franja do direito natural, isto é, a mencionada suposição de que o contingente básico da população adulta está em condições de participar do processo decisório. Essa hipótese (o princípio forte de igualdade, segundo Dahl) é discutida no livro sobretudo para evidenciar que faculta o passo seguinte, ao contrário da meditação teórica precedente (Bentham, Mill, etc.). Esse pano de fundo será melhor compreendido, entretanto, à luz dos critérios definidores do caráter democrático do processo decisório. Se fosse possível observar rigorosamente os critérios de Dahl, então nos encontraríamos diante do processo democrático perfeito e do perfeito governo democrático. 
É certo, escreve Dahl, que um processo democrático perfeito ou um perfeito governo democrático nunca existiu na atualidade. Representam (os critérios) idéias das possibilidades humanas com as quais as circunstâncias vigentes podem ser comparadas (ed. cit., p. 109). Resumidamente,são os seguintes, na forma como o próprio autor os enuncia: I) No processo de adoção de decisões obrigatórias, em sua inteireza, os cidadãos devem ter adequada oportunidade - e também igual oportunidade - de expressar suas preferências, do mesmo modo que em relação às conseqüências finais. Devem, do mesmo modo, dispor de igual e adequada oportunidade para colocar as questões na agenda e para expressar as razões pelas quais nutrem tal preferência. Explicitando melhor o que tem em vista, Dahl denomina-o de participação efetiva, isto é, o processo democrático deve assegurar e alcançar a participação efetiva dos cidadãos. II) No estágio essencial das decisões coletivas, cada cidadão deve ter assegurada igual oportunidade de expressar uma escolha que seja equivalente à escolha manifestada por qualquer outro cidadão. Na determinação dos resultados no estágio decisivo, estas escolhas - e somente elas - devem ser levadas em conta. O critério considerado visa possibilitar a aferição do caráter efetivamente democrático do sistema eleitoral, sem insinuar a preferência por esse ou aquele método, mas automaticamente apto a desmascarar os simulacros que os sistemas totalitários e autoritários revelaram-se capazes de inventar. III) Todo cidadão deve ter igual e adequada oportunidade de descobrir e confirmar (com o tempo permitido pela necessidade da decisão) qual a escolha que melhor corresponde ao interesse dos cidadãos. 
O problema aqui é o do reconhecimento da legitimidade de todos os interesses. Subsidiariamente emerge o da suficiente qualificação cultural do eleitor para identificar adequadamente os seus interesses. Dahl refere que Stuart Mill dava-se conta do problema ao atribuir uma parte da responsabilidade pela decisão ao representante. IV) Os cidadãos devem ter oportunidade de decidir que matérias devem ser colocadas na agenda das decisões a serem adotadas através do processo democrático. 3 De posse desses critérios, Dahl volta a debruçar-se sobre o curso histórico para aferir, no quadro mundial, quais as nações que seriam classificadas de democráticas a fim de responder a estas questões magnas: por que somente alguns países são democráticos, a que condições devem atender as nações que aspirem a consagrar o processo democrático? Dahl procede à análise de período histórico dilatado para constatar que a democratização, ascendente no século XX, entra em declínio na maior parte desta centúria, voltando a progredir no pós-guerra e, mais acentuadamente, desde os anos oitenta. Na primeira metade desta última década, das 157 nações existentes, encontra apenas 41 democracias plenas (25% do total) e mais 10 com algumas restrições, alcançando 31%. 
Dahl chama tais regimes de poliarquias (governo de muitos), preferência que discutiremos ao fim da exposição. Em síntese, as conclusões de Dahl não diferem radicalmente daquelas apresentadas no estudo que Samuel Huntington (1927/2008) dedicou ao mesmo tema. De maior interesse revestem-se as suas conclusões sobre as sociedades em que se consolidaram sistemas democráticos. Dahl aponta as seguintes características existentes naquelas nações onde se implantaram, firmemente, instituições democráticas: níveis relativamente altos de renda e de prosperidade per capita; longos ciclos de incremento da renda e da prosperidade per capita; altos padrões de urbanização; população agrícola relativamente pequena ou declinante; grande diversidade ocupacional; alfabetização extensiva; número relativamente elevado de pessoas que freqüentaram escolas de nível superior; ordem econômica na qual a produção é majoritariamente realizada por firmas autônomas cujas decisões são orientadas basicamente pelos mercados nacional e internacional, e níveis relativamente altos dos indicadores convencionais de bem-estar social, como número de médicos e hospitais por mil habitantes; expectativa de vida; mortalidade infantil; número de famílias possuidoras de bens de consumo durável e assim por diante. Na vasta literatura dedicada ao exame do tema, não há nada de tão firmemente estabelecido como a correlação entre o tipo de sociedade descrito e a democracia, preferindo denominá-la de sociedade moderna, dinâmica e pluralística (MDP). 
Duas são as características das sociedades modernas, dinâmicas e pluralísticas (MDP) que favorecem a democracia: 1ª) o poder, a influência e a autoridade encontram-se dispersos em ampla variedade de indivíduos, grupos, associações e organizações, ao invés de concentrarem-se num único pólo; e, 2ª) encorajam as atitudes e crenças favoráveis aos ideais democráticos. Nas sociedades classificadas como MDP, os recursos políticos achamse dispersos, do mesmo modo que o dinheiro, conhecimento, status e acesso às organizações; também as alocações estratégicas não se acham concentradas, particularmente na economia, no conhecimento científico, na educação e na cultura em geral, do mesmo modo que as posições favorecedoras da barganha. Nas situações encontradiças em tais sociedades, dificilmente a disputa política restringe-se a pequenas elites. Tais constatações aduz Dahl, mereceriam pelo menos duas qualificações. A primeira é que a dispersão do poder, se inibe o seu monopólio por determinado grupo, nem por isto significa que haja eliminado desigualdade em sua distribuição. E, a segunda, se a 4 democracia desenvolveu-se nas sociedades do tipo MDP, não significa que um país que não haja ascendido àquela condição esteja impossibilitado de alcançá-la. A esse propósito, lembra o exemplo da Índia, onde, apesar da tendência ao exercício autoritário do poder pelo Primeiro Ministro, na gestão de Indira Gandhi, funcionam plenamente as instituições do sistema representativo. Quais são, na visão de Dahl, as condições efetivamente impeditivas do florescimento das instituições democráticas? A primeira e mais importante reside na intervenção das Forças Armadas na vida política. Assim, para a manutenção do processo democrático, duas são as exigências apresentadas por Dahl: 
1ª) existência de controle civil sobre as Forças Armadas, que, embora necessário, não é suficiente, impondo-se, simultaneamente; 
2ª) que os civis incumbidos de controlar os militares estejam, por sua vez, submetidos ao processo democrático.
 À luz da experiência histórica, Dahl enumera as seguintes formas pelas quais o problema pode ser enfrentado: Primeira – Redução dos efetivos militares a proporções insignificantes. A seu ver, dificilmente podem ser eliminadas, lembrando o caso do Japão que se comprometeu a fazê-lo, com a Constituição de 1947, mas acabou restaurando uma força nacional de defesa; Segunda – O Estado democrático pode disseminar o controle sobre os militares, atribuindo-o a diferentes governos locais. Historicamente, a circunstância verificou-se nos países de língua inglesa, com a manutenção de milícias formadas nas localidades. Contemporaneamente, somente a Suíça faz repousar a defesa em agrupamentos de cidadãos controlados diretamente pelos cantões; Terceira – Compor as Forças Armadas com contingentes temporários, para assegurar que observem a orientação democrática seguida pela população; Quarta – Educação dos soldados profissionais, notadamente os oficiais, na fidelidade à liderança civil democraticamente eleita. 
A esse propósito escreve textualmente: “Num país democrático, os militares profissionais passaram a escola da formação como cidadãos, em conseqüência do que participam das crenças civis quanto à legitimidade da ordem constitucional e no que se refere à idéia e à prática da democracia; contudo, o seu senso de obrigação na obediência à liderança civil eleita pode ser reforçado pelo código profissional do estamento militar”. Para Huntington, embora os militares estejam presentes desde os primórdios da civilização, o aparecimento do oficialato militar como uma profissão, perfeitamente definida e situada apropriadamente no conjunto social, é fenômeno do início do século XIX. Com base no estudo da experiência histórica dos principais países, comprova que a ingerência militar no processo políticoé sempre um indicador de baixos níveis de profissionalização. Tendo presente essa tese, Murillo Santos debruça-se sobre a história militar brasileira para concluir que o empenho de profissionalização corresponde a uma constante. 5 A questão das tradições culturais como favorecedoras ou impeditivas do florescimento das instituições do sistema representativo também é suscitada por Dahl. 
De um modo geral, esse aspecto é negligenciado pela literatura especializada de língua inglesa. Tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, a ciência política procurou identificar aquelas variáveis passíveis de serem mensuradas e esse caminho facultou, sem dúvida, inúmeros avanços. Basta lembrar aqui, mais uma vez, a eficácia alcançada pelas previsões dos resultados eleitorais. De igual modo, os instrumentos de aferição do posicionamento da opinião pública, em face de questões concretas, foram significativamente aperfeiçoados. Contudo, a questão da valoração coletiva não pode ser eliminada quando as perguntas adquirem tal grau de generalidade, a exemplo do tema considerado por Dahl, isto é, as razões pelas quais os sistemas democráticos só conseguiram sobreviver em reduzido número de países. Dahl aponta, de início, com um obstáculo o que denomina de subsistemas culturais. As sociedades denominadas de MDP geralmente apresentam elevados graus de integração e unidade. Ainda assim, em certos países ocorrem algumas cisões que podem obstaculizar o funcionamento das instituições do sistema representativo. Tal é o caso de minorias religiosas que se tenham afeiçoado à violência, como se dá no Líbano e em outras partes do mundo. 
Quando as divisões desse tipo devem ser contidas em certos marcos legais, a fórmula para a manutenção da democracia é o que Dahl denomina de sistema consorcial. Sua primeira característica consiste na formação de governos de coalizão, com representação dos mais importantes segmentos em que se divide a sociedade. A Bélgica está entre os exemplos invocados. Como se sabe, os belgas se subdividem em flamengos e valões, que se diferenciam tanto no que se refere à língua como à religião. O país experimentou largos ciclos de guerras religiosas e as cisões acabaram assumindo feição geográfica. Em que pese tais circunstâncias, a garantia de representação para os principais segmentos assegurou a estabilidade das instituições. 
Na opinião de Dahl, o sistema consorcial pode ser útil na superação de períodos de lutas intestinas, como se deu na Colômbia, ou de fases autoritárias, a exemplo do que se verificou na Venezuela. Dahl considera equivocada a atitude dos estudiosos que supõem seja de pouca significação a presença de subsistemas culturais ou entendem que sequer mereceriam ser considerados como variáveis independentes. Sem embargo da dificuldade de mensurá-las de forma a apaziguar as controvérsias. Dahl afronta diretamente a denominada questão da cultura política. Sob essa denominação arrola as crenças acerca da autoridade; da eficácia dos governos e da presença de alternativas de organização social mais eficazes em face de problemas cruciais; a extensão da confiança nas lideranças políticas; posicionamento em face do conflito e da cooperação e algumas outras. Escreve: “Um país com uma cultura política fortemente favorável à poliarquia atravessará crises que trariam a sua bancarrota num país onde contasse com menor suporte da cultura política. Em muitos países, na verdade, inexiste cultura política favorável às idéias e práticas democráticas. Isto não quer dizer que a poliarquia não possa existir nesse país mas que provavelmente será instável. Nem que uma cultura política mais favorável não possa surgir no país em que inexiste atualmente. Na 6 medida em que um país desenvolva uma sociedade do tipo MDP, por exemplo, é provável que desenvolva e sustente, igualmente, crenças, atitudes e comportamentos das autoridades mais favoráveis à poliarquia. Mas a evolução da cultura política é necessariamente lenta e vagarosa em relação às mais rápidas mudanças, nas estruturas e processos de uma sociedade em desenvolvimento. E, de todos os modos, para grande número de países, uma sociedade da tipo MDP ainda corresponde a um longo caminho”. (ed. cit., p. 263). 
Robert Dahl aborda ainda outras questões a exemplo dos temas da minoria e da maioria ou das possibilidades e condições da extensão do processo democrático a outras esferas da vida social. Mas nossa intenção aqui não consistiu em proceder a inventário exaustivo de sua trajetória de pensador liberal, magistralmente resumida em Democracy and its Critics. Desejávamos simplesmente chamar a atenção para esse nome, do mesmo modo que para algumas de suas contribuições ao desenvolvimento da doutrina política. Pode-se considerar como um notável progresso a idéia de conceituar a democracia como um processo decisório relacionado às medidas que se tornarão obrigatórias para todos. Semelhante conceituação – e as exigências que impõe para merecer a denominação de democrático – permite compreender que a democracia está longe de ser um valor universal como chegou a afirmar, entre nós, um socialista totalitário recém-convertido. Aplica-se a um segmento da vida em sociedade, embora essencial. Certamente não é eficaz na educação dos filhos ou na gestão empresarial. 
Conceituada como processo decisório, a democracia requer participação efetiva e desenvolvimento cultural suficiente para identificar seus interesses em meio a complexidade da sociedade moderna e pluralista, enfim, de mecanismos capazes de permitir que a seleção das prioridades governamentais (que Dahl chama de agenda) seja estabelecida de modo participativo e em igualdade de condições. Os partidos políticos, as funções atribuídas à representação popular, a periodicidade das eleições - tudo isto garante a feição democrática de certo número de países. A discussão do tema cultura política, considerado um verdadeiro tabu para muitos estudiosos da política, obcecados pela medida – e tudo querendo submeter a essa bitola – também é uma valiosa contribuição. Em países como o Brasil, os liberais são instados a reconhecer que as tradições culturais predominantes lhes são desfavoráveis. Sem enfrentar essa questão, dificilmente serão capazes de formular políticas mobilizadoras, aptas a contribuir para a consolidação e a subseqüente hegemonia das tradições favoráveis. Ainda uma palavra sobre a preferência de Dahl pela denominação de poliarquia para os regimes existentes nos países democráticos. No livro que ora comentamos, Dahl remonta à democracia grega e afirma que a grande transformação que experimentou, ao renascer dos últimos séculos, diz respeito às dimensões do território que pretende abranger. 
Ali a cidade-Estado; aqui o Estado-nação. Em ambos os casos, a democracia teria idêntica natureza. Ainda que o testemunho da vida na Grécia Antiga nos tenha chegado extremamente mutilada – e através de tantas mediações deformadoras – sendo difícil dirimir as controvérsias, a tese de Dahl é perfeitamente objetável. Tendo dedicado grande parte de sua fecunda existência ao estudo da Grécia Antiga, notadamente de seu pensamento político, Sir Ernest Baker (1874-1960) – professor 7 da Universidade de Oxford e posteriormente, diretor do King's College, de Londres – deixou-nos algumas obras que facultam avaliação definitiva dos principais de seus aspectos. Entre outras, Teoria política grega, onde estuda o pensamento de Platão, traduzida ao português; e a análise de A Política, de Aristóteles, que traduziu para o inglês, redigindo para essa edição uma longa introdução, igualmente publicada no Brasil. Em relação ao tema que ora nos interessa, divulgou na revista Diogene, patrocinada pela Unesco, ensaio intitulado A democracia antiga, transcrito no volume II. Em síntese, no que se refere ao essencial do processo democrático, difere substancialmente do entendimento moderno. Assim, desde o século passado e na medida em que aprofunda a democratização da idéia liberal, o acesso ao poder deixa de constituir monopólio de um grupo socialdeterminado, nem este se concentra num único polo, como bem o destaca Dahl. Nas cidades gregas, as funções mais eminentes estavam reservadas aos representantes das famílias importantes, embora a escolha se desse por eleições. Até onde sabemos, os líderes mais destacados mantêm entre si graus próximos de parentesco, a exemplo de Péricles, casado com uma neta de Clistenes. Além disto, como diz expressamente Ernest Baker, havia muito pouca eleição, no sentido estrito do termo, dos membros do executivo. 
O processo considerado democrático era o sorteio. Mesmo a formação da agenda a ser submetida à ágora não tinha nada de democrático, como o entendemos contemporaneamente. De sorte que o vezo de remontar a democracia moderna ao mundo grego não pode ser aceito sem restrições. Muito menos supor que nos teria fornecido o modelo apropriado, o único digno de merecer o nome. Deste modo, não parece justificado o rigor teórico manifestado por Dahl, ao sugerir outra denominação para a democracia moderna. Sem embargo dessa discordância, sua contribuição, como destacamos, é das mais relevantes.
12 – LIJPHART: MODELOS DE DEMOCRÁCIA
Arend Lijphart promove um estudo sobre trinta e seis modelos de democracias, variando sua análise sobre os modelos existentes em países africanos, americanos, europeus e asiáticos – oceânicos. O autor considera que as maneiras múltiplas por meio das quais uma democracia pode operar e as democracias modernas possuem uma grande variedade de instituições governamentais formais, bem como legislaturas, tribunais, além de sistemas partidários e grupos de interesse. Mas Lijphart traz, na promoção de sua avaliação sobre as 36 democracias um trabalho de análise comparada de dois modelos: o majoritário (Westminster) e o consensual. Para ele, a diferenciação fundamental dos dois modelos se dá a partir da definição mais básica da democracia:
“Governo pelo povo, ou no caso da democracia representativa, governo pelos representantes do povo – e, também, a partir da famosa frase de Abraham Lincoln segundo a qual a democracia significa governo, não apenas pelo povo, mas também para o povo – ou seja: governo de acordo com a preferência popular.” (Lijphart, 2003, p. 17)
O teórico questiona-se então no ponto essencial que irá esclarecer ainda mais a distinção entre o modelo majoritário e o consensual. Para Lijphart, a pergunta ecoa: quem governará e quais os interesses que devem ser atendidos pelo governo, quando houver desacordo entre o povo e houver divergências de preferências? Para o sistema majoritário a resposta é facultada ao prevalecimento da maioria do povo, assim denotando a essência do modelo majoritário.
Já quanto ao modelo consensual a resposta seria correspondente ao fato de prevalecer a vontade do maior número de pessoas, o que aparentemente não discorda do modelo majoritário, mas considera que essa exigência da maioria é um aspecto mínimo, e sua busca se dá no âmbito de não se satisfazer com a mínima minoria, mas sim ampliar a mesma. Lijphart considera que: “a democracia consensual pode ser considerada mais democrática do que a majoritária em muitos aspectos”. (Ibid, p. 22) E o autor ainda considera que a democracia consensual resulta em melhores êxitos de qualidade democrática. Outra diferença fundamental entre os dois modelos corresponde ao fato de que no modelo majoritário existe uma concentração de poder nas mãos de uma pequena maioria e muitas das vezes de uma maioria simples em vez de uma maioria absoluta. Em contrapartida, o modelo consensual procura compartilhar, dispersar e limitar o poder de inúmeras maneiras:
“Uma outra diferença, relacionada a esta última, é que o modelo majoritário de democracia é exclusivo, competitivo e combativo, enquanto o modelo consensual se caracteriza pela abrangência, a negociação e a concessão.” (Idem, p.18)
Também Lijphart deduz dez diferenças relativas às mais importantes instituições e regras democráticas entre os dois modelos de democracia analisados. O autor separa em duas dimensões esse quadro comparativo: o primeiro denominado de executivos – partidos e o segundo o federal – unitário, ou também como a dimensão de responsabilidade conjunta ou de poder dividido e dimensão de responsabilidade dividida ou de poder dividido.
Dimensão executiva – partidos A = majoritário; B = consensual:
– A) Concentração de Poder Executivo em gabinetes monopartidários de maioria versus B)distribuição do Poder Executivo em amplas coalizões multipartidárias;
– A) Relações entre Executivo e Legislativo em que o Executivo é dominante versus B) relações equilibradas entre ambos os poderes;
– A) Sistemas bipartidários versus B) sistemas multipartidários;
– A) Sistemas eleitorais majoritários e desproporcionais versus B) representação proporcional;
– A) Sistemas de grupos de interesses pluralistas, com livre concorrência entre grupos versus B)sistemas coordenados e “corporativistas” visando ao compromisso e à concertação.
-> As cinco diferenças na dimensão federal – UNITÁRIA são:
– A) Governo unitário versus B) governo federal e descentralizado;
– A) Concentração do Poder Legislativo numa legislatura unicameral versus B) divisão do Poder Legislativo entre duas casa igualmente fortes, porém diferentemente constituídas;
– A) Constituições flexíveis, que podem receber emendas por simples maioria, versus B)constituições rígidas, que só podem ser modificadas por maiorias extraordinárias;
– A) Sistemas em que as legislaturas têm a palavra final sobre a constitucionalidade da legislação versus sistemas nos quais as leis estão sujeitas à revisão judicial de sua constitucionalidade, por uma corte suprema ou constitucional; B)
– A) Bancos centrais dependentes do Executivo versus B) bancos centrais independentes. (Ibidem, p. 19)
-> Modelo Majoritário:
Alguns pontos levantados por Lijphart serão apontados nesse resumo, comentando os mesmos conforme a inferência necessária:
Concentração do Poder Executivo em gabinetes uni partidários e de maioria mínima: Neste sistema de democracia, de origem britânica, os dois partidos (Trabalhista e Conservador) terem força aproximadamente semelhante, o partido vencedor de uma eleição em geral representa apenas uma estreita maioria, deixando a minoria ser relativamente grande. Desta forma, o gabinete (Executivo) é de um partido único e de maioria mínima e, assim, concentra em si todos os poderes deixando a minoria o papel de oposição.
Gabinete dominante em relação à Legislatura: No sistema parlamentarista britânico, o gabinete depende da confiança do parlamento. A priori, a Câmara dos Comuns pode “controlar” o gabinete, mas na realidade a relação é invertida.  Como no caso o Gabinete é formado por representantes da Câmara, a relação do Legislativo com o Executivo é de prevalência do segundo sobre o primeiro.  E somente por meio de um voto explícito de desconfiança resulta em novas eleições.
Sistema bipartidário: A política britânica encontra-se definida em torno de dois partidos como acima mencionados: o Trabalhista e o Conservador.  Mas suas diferenças acentuam-se realmente no âmbito da dimensão socioeconômica. Em teoria beneficiaria o eleitor com uma clara escolha entre dois conjuntos alternativos de diretrizes públicas e sua influência é moderadora, tendendo a posições centradas e não extremadas.
Sistema de eleição majoritário e desproporcional: Neste modelo, cada membro do parlamento é eleito em um único distrito, segundo o método da maioria simples, ou seja, vence o candidato com mais de 50 por cento dos votos, ou, caso não houver maioria, com a maior minoria. Desta forma, tende-se, nesse modelo, a resultados extremamente desproporcionais, gerando, também, “maiorias fabricadas”, ou seja,  maiorias absolutas artificialmente criadas pelo sistema eleitoral a partir de apenas minorias simples.
Pluralismo de grupos de interesse: O modelo majoritário concentra o poder nas mãos da maioria estabelecendo um estilo competitivo e combativo no padrão de relacionamento entre governo e oposição. E essa competição

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