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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL I

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APONTAMENTOS DE 
 DIREITO PENAL I
Para fins didáticos
ATENÇÃO: Os apontamentos a seguir servem apenas de amparo ao aluno, para complementar a matéria. Em hipótese alguma ele substitui a leitura de obra doutrinária, nem ao menos os tópicos ministrados em sala de aula. 
 DIREITO PENAL 
Definição: Segundo o professor Damásio de Jesus, define-se direito penal: "um conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado".1
Para José Frederico Marques, “é o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado” 2.
 
Direito penal objetivo É o conjunto de normas colocadas pelo Estado para regular as relações humanas.
Direito penal subjetivo. Cabe somente ao Estado o direito de punir ou seja de exercer o "ius puniendi")..
Direito penal comum : Quando o direito puder ser exercido por jurisdição comum, não necessita de jurisdição própria. Ex: Justiça Estadual e Justiça Federal.
Direito penal especial: Aqui o direito penal somente se aplica por meio de órgãos especiais constitucionalmente previstos. Ex: Justiça Especial (Militar, do Trabalho e Eleitoral).
Características do Direito Penal:
 O direito penal faz parte do direito público, já que regula as relações do indivíduo com a sociedade e ao Estado cabe o direito de punir.
1.Código Penal Anotado. Saraiva. 2014
2. Bittencourt. Cezar Roberto. Tratado do Direito Penal. Vol I. Saraiva. 2014
Trata-se de ciência que tem caráter valorativo, cultural e dogmático, e finalista.
É ciência cultural, pois é ciência do "dever-ser" e não à do "ser". 
Tem caráter valorativo, pois o direito coloca uma hierarquia entre as normas, não lhes dando o mesmo valor. 
Tem caráter dogmático, pois é aplicado através de normas jurídicas, exigindo o seu cumprimento sem reservas.
.
Tem caráter finalista, pois sua finalidade é a defesa da sociedade, através da proteção de bens jurídicos fundamentais.
Fontes do Direito Penal.
1. Definição:é o estudo de como se originam as normas penais, que podem ser: 
a) incriminadoras (art. 121 do CP); 
b) permissivas (art. 25 do CP);
c) explicativas (art. 327 do CP). 
As fontes do direito penal dividem-se:
1.1. Materiais ou de produção:são os órgãos do Estado que podem produzir as leis penais. No Brasil, como se adota o princípio da legalidade, apenas admite-se que a União, por meio do Congresso Nacional, crie leis penais (art. 22, inc. I, da CF). Excepcionalmente, os Estados-Membros também poderão legislar em matéria penal, (mas nunca criar crimes) desde que prévia e especificamente autorizados pela União (art. 22, § único, da CF).
1.2. Formais ou de revelação:são as formas como o direito penal se expressa dentro da sociedade. Dividem-se:
1.2.1. Fonte formal imediata:é a lei, isto é, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República. É proibida criação de crimes através de Medida Provisória.
1.2.2. Fonte formal mediata: são os costumes, os princípios gerais de direito e a analogia. São formas de integração da lei e por isso utilizadas quando existe uma lacuna na lei penal permissiva ou explicativa. Não se admite que por meio de costumes, princípios gerais de direito e analogia sejam criados os crimes.
1.3. Costumes:trata-se de um comportamento social reiterado, cujos membros da comunidade entendem ser obrigatório, mesmo não estando prescrito em lei. 
1.4. Princípios gerais de direito:são normas jurídicas implícitas que decorrem dos valores que são tutelados pelo ordenamento jurídico. Ex: aborto dos anencéfalos não é permitido expressamente pelo Código Penal, mas por meio dos princípios gerais de direito, que protegem a vida humana digna, é possível autorizá-los, mesmo sem expressa disposição legal. Os princípios gerais do direito somente podem ser aplicados às normas penais permissivas e explicativas.
1.5. Analogia:consistente em estender os limites de uma norma penal permissiva ou explicativa para abranger situação não expressamente prevista na descrição da aludida norma, mas que lhe é semelhante, isto é, tem a mesma razão jurídica. 
A analogia pode ser:
1.5.1. Legal ou “legis”: existe uma norma penal específica que será aplicada para um caso semelhante.
1.5.2. Jurídica ou “juris”:muito embora não existe uma norma penal específica, há princípios gerais de direito que podem ser estendidos para casos semelhantes.
1.5.3. “In bonam partem”:é a analogia em favor do sujeito ativo para beneficiá-lo, quer evitando a punição, quer minorando a sanção. É admitida no direito penal brasileiro.
1.5.4. “In malam partem”:é a analogia em desfavor do sujeito ativo. É utilizada para prejudicá-lo, quer criminalizando um fato, quer aumentando a pena. Não é admitida em direito penal, que não admite analogia de normas penais incriminadoras.
Classificação das normas penais.
 Segundo o autor Aníbal Bruno a norma contempla o sistema penal, com seus princípios gerais e dispõem sobre a aplicação e os limites das normas incriminadora. 
 A norma penal pode ser entendida em sentido estrito ou amplo.
No sentido amplo a norma penal é aquela que define um fato delituoso, impondo inclusive uma pena, mas também é a que amplia o sistema penal através de princípios gerais sobre os limites e aplicação de normas incriminadoras.
No sentido estrito, a norma penal é aquela que descreve uma conduta ilícita, impondo uma sanção ao agente.
A norma penal descreve uma conduta ilícita e a sanção que é aplicada a este.
Em toda norma penal incriminadora há o preceito primário e o preceito secundário.
No preceito primário, entendemos ser o comportamento ilícito, enquanto o secundário, é a sanção ou penalidade que se associa àquela conduta.
As normas penais são classificadas em:
 1.. normas penais incriminadoras;
 2.. normas penais permissivas;
 3.. normas penais complementares ou explicativas.
Tanto as normas penais permissivas como as explicativas ou complementares são denominadas não incriminadoras.
Normas penais incriminadoras: são aquelas que descrevem condutas puníveis e impõem as respectivas sanções. Ex: artigos 121, “caput” ; 138, 157, 213 e outros, todos do Código Penal (leia estes artigos).
Normas penais permissivas: são aquelas que apresentam uma causa de licitude ou a impunibilidade de determinadas condutas, embora estas sejam típicas em face das normas incriminadoras.Ex: arts. 20 a27 , 28, parágrafo segundo e artigo 128 todos do Código Penal (que tal ler estes artigos?).
Nesses casos, mesmo que o agente pratique um fato delituoso, o ordenamento jurídico, permite, dependendo da situação, que ele tome aquela determinada atitude. Ex: legítima defesa (art 25 do CP) 
Normas penais complementares ou explicativas: são aquelas que esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam o âmbito de sua aplicação.
São exemplos de normas exemplificativas os artigos 4° , 5° , 7° , 10 a 12, 33, 327 e outros todos do Código Penal (vamos ler?).
Características das normas penais.
A norma penal pode ser:
Exclusiva: somente ela define infrações e comina penas. Os costumes e os princípios gerais de direitos não podem criar crimes e impor sanções.
Imperativa: penaliza aquele que descumpre o seu mandamento. Assim, ela é obrigatória.
Geral: A norma penal atua para todas as pessoas. 
Abstrata e impessoal: Não endereça o seu mandamento proibitivo a um indivíduo em especial, dirigindo-se a fatos futuros. Ela se dirige a todos, sem distinção.
Norma Penal em Branco.
Normas penais embranco são aquelas cuja sanção é determinada, mas permanece indeterminado o seu conteúdo.
Exemplo: Lei 11.343/06 (Lei de Tóxicos) , pois dependem da expedição de portarias administrativas, determinando quais as substâncias que são consideradas como entorpecentes. 
Classificação.
As normas penais em branco podem ser:
 1.. normas penais em branco em sentido lato (geral)
 2.. normas penais em branco em sentido estrito.
Normas penais em branco em sentido lato: Há homogeneidade de fontes, pois o complemento da norma é determinado pela mesma fonte formal da norma incriminadora, ou seja, o órgão que formula o complemento é o mesmo elaborador da norma penal em branco
Normas penais em branco em sentido estrito: Aqui o complemento está contido em norma proveniente de outra instância legislativa. Quem elabora o complemento não é aquele que elaborou a norma penal incompleta.
Ex: Artigo 33 da lei 11.343/06, que define como crime, importar, exportar, preparar, produzir (...) "substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar".
Nos termos do artigo 1º Parágrafo único desta Lei.  “Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. 
Integração da norma penal.
Lacunas. Em conformidade com o princípio da reserva legal (art.5° , inciso XXXIX, da CF, e art.1° do Código Penal) as normas penais incriminadoras não possuem lacunas. 
As normas penais não incriminadoras, porém, em relação as quais não vige o mencionado princípio, quando apresentarem falhas ou omissões, podem ser integradas pelos recursos fornecidos pela ciência jurídica.
 
Os preceitos da Lei de Introdução ao Código Civil se aplicam a todos os ramos do Direito. Portanto, deve-se aplicar o artigo 4° da lei também ao Direito Penal.
No entanto, a integração só pode ocorrer em relação às normas penais não incriminadoras, porque, em relação às normas incriminadoras, vigora o princípio da legalidade.
Assim, podemos concluir que a analogia, o costume e os princípios gerais de direito não podem criar condutas puníveis nem impor penas: nesse campo, a norma penal não possui lacunas.
 
Fontes Formais Mediatas.
 a.. Costume. Conforme Damásio de Jesus: "o costume consiste no conjunto de normas de comportamento a que pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade. 
1.. Espécies de costume. pode ser:
 1.. "contra legem"( O costume contra a lei), às vezes se apresenta como inaplicáveis, as vezes se apresenta sob o caráter de fonte criadora de preceitos que ampliem as justificativas e as descriminantes penais.
 2.. "secundumlegem" (costume segundo a lei) consiste em regras sobre a uniforme interpretação e aplicação da lei.
 3.. "praeterlegem": funciona como elemento heterointegrador das normas penais não incriminadoras, quer cobrindo-lhes as lacunas, quer lhes especificando o conteúdo e a extensão.
 a.. Os princípios gerais do direito.
São conceitos éticos extraídos do próprio ordenamento jurídico.
Estes princípios ampliam o campo da licitude penal. Desta forma, em certas hipóteses, embora haja crime em face da lei, este é repelido pelas regras do bem comum.
O exemplo citado pela maioria da doutrina é o caso da mãe que fura a orelha da criança para colocar um brinquinho. Não deve ser punida, já que sua conduta se alicerça nos princípios gerais do direito.
 
Princípios Fundamentais do Direito Penal em Espécie.
 
 
a.. Princípio da legalidade ou da reserva legal.
  Previsto no artigo 5° , XXXIX, da CF, e no art. 1° do CP. Tais dispositivos assim determinam: "Não há crime sem lei que o defina; não há pena sem cominação legal."
 
 Assim, através desse princípio verificamos que o crime e a pena somente podem ser criados por meio de lei.
 
 Verifica-se, ainda, que nosso Código Penal consagra a máxima: "Nullumcrimen, nullapoenasinepraevialege."(não há crime, nem pena sem lei)
 
 Assim, podemos afirmar que o arbítrio judicial, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito não podem instituir delitos ou penas, tarefa essa exclusiva das leis.
 
b.. Princípio da anterioridade da lei.
 
 Os artigos 5° , XXXIX, da CF, e 1° do CP não trazem somente o princípio da legalidade, mas, também, o princípio da anterioridade. Entende-se que: "Não há crime sem lei anterior que o defina; não há pena sem prévia cominação legal."
 
 Assim, para que haja crime e que se possa impor uma determinada pena, mostra-se necessário que o fato tenha sido cometido depois de a lei entrar em vigor.
 
c.. Princípio da irretroatividade da lei penal mais severa.
 
 Esse princípio encontra-se previsto no art.5° , XL, da CF, e no artigo 2° , caput, e parágrafo único do CP. Esses dispositivos determinam que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
 
 Assim, podemos dizer que a lei posterior mais severa não poderá retroagir. Somente lei posterior mais benéfica é retroativa. E mais, a lei anterior mais benéfica é ultra-ativa, uma vez que seus efeitos se projetam para frente, para o futuro.
 
 d.. Princípio da fragmentariedade.
 
Esse princípio é conseqüência dos princípios da reserva legal e da intervenção mínima (necessária).
 
O direito penal, não protege todos os bens jurídicos. Protege somente os mais importantes. E mais, dentre os bens protegidos, não os tutela de todas as lesões. Somente intervém nos casos de maior gravidade, protegendo um fragmento, uma parte dos interesses jurídicos. Por isso, afirma-se que o direito penal é fragmentário.
 
e Princípio da intervenção mínima. 
 
Procurando restringir o limite do legislador, e com vistas a evitar a definição desnecessária de crimes e a imposição de penas injustas, desumanas, cruéis, concluiu-se que a criação dos tipos delituosos deveria sempre obedecer à imprescindibilidade (necessidade). 
 
Assim, o Estado somente poderá intervir, criando crimes e impondo penas, quando os demais ramos do direito não lograrem (conseguirem) prevenir a conduta ilícita.
 
Desta feita, somente nos casos mais graves, deve haver a intervenção estatal. É a ultimaratio.
 
f. Princípio da lesividade.
 
Só se aplica o direito penal quando a conduta lesionar um bem jurídico protegido, sendo insuficiente que seja ela imoral ou pecaminosa.
 
g. Princípio da insignificância.
 
Este princípio está ligado aos chamados crimes de bagatela (ou delito de lesão mínima). Segundo este princípio, o direito penal só deve intervir nos casos de lesão de certa gravidade, reconhecendo a atipicidade do fato nas hipóteses de perturbações jurídicas mais leves.
 
h. Princípio da culpabilidade.
 
Esse princípio determina que não há crime sem culpa ("nullumcrimensine culpa").
 
De fato, a pena somente poderá ser imposta ao sujeito que, agindo com dolo ou culpa, e merecendo juízo de reprovação, cometeu um fato típico (descrito como crime) e antijurídico (contrário ao ordenamento jurídico).
 
Trata-se de um fenômeno individual. O juízo de culpabilidade (de reprovação), feito pelo juiz, recai sobre o sujeito imputável que, podendo agir de maneira distinta, diversa, tinha condições de tomar conhecimento da ilicitude do fato.
 
O juízo de culpabilidade que serve de fundamento e medida da pena, repudia a responsabilidade penal objetiva (aplicação de pena sem dolo, culpa e culpabilidade).
 
Exige-se, portanto, no direito penal, sempre a demonstração da culpa.
 
 
i Princípio da humanidade.
 
 
Esse princípio vem reconhecido em vários dispositivos legais, dentre eles, os artigos 1° , III, 5° , III, XLVI e XLVII, LIII, LIV, LV, LVI e LVII, XLVII, XLVIII, XLIX e L, da CF.
 
Ainda, a Lei de Execuções Penais determina que o preso somente perderá o direito à liberdade e não os demais.
 
Qualquer pessoa deve ser tratada com dignidade,com respeito. Até mesmo aquele que foi condenado.
 
 
j. Princípio da proporcionalidade da pena 
 
Determina que a pena não pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prática do ato delituoso. Assim, deve a pena ser medida pela culpabilidade do autor. Por isso é que se diz que a culpabilidade é a medida da pena.
 
k. Princípio da presunção de inocência
 
Esse princípio resta previsto no artigo 5° , LVII, da CF, que determina:
 
"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória."
 
Assim, não poderá a pena ser executada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Assim, as medidas próprias da fase executória somente podem ser tomadas se existir sentença penal condenatória irrecorrível, ou seja, decisão definitiva da qual não exista mais recursos.
 
l. Princípio da igualdade.
 
Segundo tal princípio, todos são iguais perante a lei (art.1° , caput, da CF). Assim, não pode haver discriminação em razão de cor raça, sexo, religião, procedência, etnia, dentre outras.
 
 Os iguais devem ser tratados igualmente, enquanto os desiguais têm que ser tratados desigualmente, na medida de sua desigualdade. Afinal, só com o tratamento desigual poderão ser tratados de forma justa e isonômica.
 
m. Princípio do "ne bis in idem".
 
De acordo com esse princípio, não se admite possa alguém ser punido duas vezes pelo mesmo fato, pela mesma circunstância.
 
Assim, ninguém pode sofrer duas penas em face de um único e mesmo crime, nem processado e julgado duas vezes pela mesma conduta.
 
I – Períodos da Evolução Histórica do Direito Penal.
Período da Vingança
          Tendo início nos tempos primitivos, nas origens da humanidade, o Período da Vingança prolonga-se até o século XVIII.
          Nos tempos primitivos não se pode admitir a existência de um sistema orgânico de princípios gerais, já que grupos sociais dessa época eram envoltos em ambiente mágico e religiosos. Fenômenos naturais como a peste, a seca, e erupções vulcânicas eram considerados castigos divinos, pela prática de fatos que exigiam reparação.
          Pode-se distinguir as diversas fases de evolução da vingança penal, como a seguir: 
Fase da vingança privada. 
Fase da vingança divina. 
Fase da vingança pública. 
          Entretanto, essas fases não se sucedem umas às outras com precisão matemática. Uma fase convive com a outro porlargo período, até constituir orientação prevalente, para, em seguida, passar a conviver com a que lhe se segue. Assim, a divisão cronológica é meramente secundária, já que a separação é feita por idéias.
          2. Período Humanitário
          O período conhecido por Período Humanitário transcorre durante o lapso de tempo compreendido entre 1750 e 1850.
          Tendo seu início no decorrer do Huminismo, esse período foi marcado pela atuação de pensadores que contestavam os ideiais absolutistas.
          Pregava-se a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII.
          Os povos estavam saturados de tanto barbarismo sob pretexto de aplicação da lei. Por isso, o período humanitário surge como reação à arbitraruiedade da administração da justiça penal e contra o caráter atraz das penas.
          Os escritos de Monteguieu, Voltaire, Rosseau, D’Alembert e o Cristianismo foram de suma importância para o humanismo, uma vez que constituíram o próprio alicerce do mesmo.
          O pensamento predominante neste período ia de encontro a qualquer crueldade e se rebelava contra qualquer arcaísmo do tipo: "Homens, resisti à dor, e sereis salvos". (Basileu Garcia).
          3. Período Cientifico
          Também conhecida como período criminológico, esta fase caracteriza-se por um notável entusiasmo científico. Começa a partir do século XIX, por volta do ano de 1850 e estende-se até os nossos dias.
          Inicia-se, neste período, a preocupação com o homem que delínque e a razão pela qual delínqüe.
          PuigPeña refere-se a esse período, afirmando que "caracteriza-se pela irrupção das ciências penais no âmbito do Direito punitivo, e graças a ele se abandona o velho ponto de vista de considerar o delinqüente como um tipo abstrato imaginando sua personalidade".
          O médico italiano César Lombroso, revoluciona o campo penal na época. Ferri e Garófalo também merecem destaque, além do determinismo e da Escola positivista que tiveram sua devida influência no período criminológico.
II – Abordagem dos Períodos: Suas fases, influências, evoluções.
          1. Fases da Vingança Penal
          a) Vingança Privada: "Olho por olho, dente por dente".
          Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam sem proporção a ofensa, atingindo não só o ofensor, como todo o seu grupo. A inexistência de um limite (falta de proporcionalidade) no revide à agressão, bem como a vingança de sangue foi um dos períodos em que a vingança privada constituiu-se a mais freqüente forma de punição, adotada pelos povos primitivos.
          A vingança privado constituía uma reação natural e institiva, por isso, foi apenas uma realidade sociológica, não uma instituição jurídica.
          Duas grandes regulamentações, com o evolver dos tempos, encontrou a vingança privada: o talião e a composição.
          Apesar de se dizer comumente pena de talião, não se tratava propriamente de uma pena, mas de um instrumento moderador da pena. Consistia em aplicar no delinqüente ou ofensor o mal que ele causou ao ofendido, na mesma proporção.
          Foi adotado no código de Hamurabi, também encontrado na Bíblia Sagrada e na Lei das XII Tábuas.
          Posteriormente, surge a composição, através do qual o ofensor comprava sua liberdade, com dinheiro, gado, armas, etc. Adotada, também, pelo Código de Hamurabi (Babilônia), pelo pentateuco (Hebreus) e pelo Código de Manu (Índia), foi largamente aceita pelo Direito Germânico, sendo a origem remota das indenizações cíveis e das multas penais.
          b) Vingança Divina: "A repressão ao crime é satisfação dos deuses".
          Aqui, a religião atinge influência decisiva na vida dos povos antigos.
          A repressão ao delinqüente nessa fase tinha por fim aplacar a "ira" da divindade ofendida pelo crime, bem como castigar ao infrator.
          A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que, como mandatários dos deuses, encarregavam-se da justiça.
          Aplicavam-se penas cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usa como meio de intimidação.
          No Antigo Oriente, pode-se afirmar que a religião confundia-se com o Direito, e, assim, os preceitos de cunho meramente religioso ou moral, tornavam-se leis em vigor.
          Legislação típica dessa fase é o Código de Manu, mas esses princípios foram adotados na Babilônia, no Egito (Cinco Livros), na China (Livro das Cinco Penas), na Pérsia (Avesta) e pelo povo de Israel.
          c) Vingança Pública: "Crimes ao Estado, à sociedade".
          Com uma maior organização social, especialmente com o desenvolvimento do poder político, surge, no seio das comunidades, a figura do chefe ou da assembléia.
          A pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em um sanção imposta em nome de uma autoridade pública, representativa dos interesses da comunidade.
          Não era mais o ofendido ou mesmo os sacredotes os agentes responsáveis pela punição, mas o soberano (rei, príncipe, regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e cometia inúmeras arbitrariedades.
          A pena de morte era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Usava-se mutilar o condenado, confiscar seus bens e extrapolar a pena até os familiares do infrator.
          Embora a criatura humana vivesse aterrorizada nessa época, devido à falta de segurança jurídica, verifica-se avanço no fato dea pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim pelo Estado. 
Capítulo – III: HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO
BRASIL COLONIAL
1.1a.Direito Penal Indígena: Antes da chegada dos portugueses no Brasil, em 1500, os silvícolas, que aqui viviam em diferentes graus de cultura pré-histórica, solucionavam problemas penais através das regras naturais do Direito Costumeiro. Predominavam o talião, a vingança privada e coletiva. Dado o seu primarismo, as práticas punitivas das tribos selvagens que habitavam o nosso país em nenhum momento influíram a nossa legislação. 
            1.1b. Ordenações Afonsinas
            Ao tempo da descoberta do Brasil, em 1500, o regime jurídico que regia Portugal eram as Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1446. Pois bem, foi este nosso primeiro ordenamento jurídico.
            Contudo, praticamente não chegou a ser aplicado, pois em 1514 começariam a vigorar as Ordenações Manuelinas.
            1.2. Ordenações Manuelinas
            Foram editadas em 1514 por ordem de Dom Manuel. As penas geralmente não eram pré-fixadas, o que ficava ao arbítrio do juiz que a regulava de acordo com a classe social.
            Embora formalmente estivessem vigorando ao tempo das capitanias hereditárias, as Ordenações Manuelinas não constituíam a fonte do direito aplicável no Brasil, pois o arbítrio dos donatários, na prática, é que impunham as regras jurídicas.
            Ficaram em vigor até 1603, quando revogadas pelas Ordenações Filipinas.
            1.3. Ordenações Filipinas
            Quando da época da União Ibérica, o rei da Espanha e Portugal, Filipe II, em 1603, editou as Ordenações Filipinas que em quase nada distinguiam das já revogadas Manuelinas e Afonsinas.
            Mesmo com a Revolução de 1640, que pôs fim à dominação de Castela sobre Portugal. A validade das ordenações Filipinas continuou por muito tempo e João IV de Bragança, que sucedeu Filipe IV da Espanha, confirmou, de maneira geral, todas as leis que haviam sido promulgadas sob a dominação de Castela.
            As penas eram severas e com requintes de crueldades, como a pena de morte que poderia ser na forca (morte natural), antecedida de torturas (morte natural cruelmente) ou mesmo a denominada morte para sempre, onde o corpo do condenado ficava suspenso, putrefando-se, até que a confraria o recolhesse, além de várias outras.
            O elenco dos tipos de infrações são também contrários á ordem racional moderna, pois nestes eram confundidos direito, moral e religião.
            O regime era fantástico e terrorista como se verifica pela enorme variedade dos tipos de autores, das infrações e do arsenal punitivo: hereges, apóstatas. Feiticeiros, blasfemos (contra Deus ou contra os santos), benzedores de cães e outros bichos sem autorização de rei; sodomia, o infiel que dormisse com algum cristã, e o cristão que dormisse com infiel; entrada em mosteiro ou retirada de freira "ou dorme com ella, ou a recolhe em casa"; vestir-se o homem com trajes de mulher ou a mulher com trajes de homem "e dos que trazem máscara".
            De qualquer forma, foi o ordenamento jurídico penal que mais tempo vigorou no Brasil, mais de dois séculos (1603 até 1830).
            2. O Império
            Em 07.09.1822 o Brasil conquista sua independência em relação à Portugal. Contudo como para redigir um novo ordenamento penal seria utilizado um grande tempo, pois não se cria um arcabouço jurídico da noite para o dia. Então por força da lei de 20.10.1823 mandou-se que seriam conservadas as Ordenações Filipinas até que surgisse um Código nacional.
            Em 16.12.1830 foi sancionado por D. Pedro I o Código Criminal do Brasil, o qual, sob influência da Escola Clássica, fixava os princípios da responsabilidade moral e do livre arbítrio, segundo o qual não há criminoso sem má-fé, sem o conhecimento do mal e sem intenção de praticá-lo.
            As penas eram de: prisão simples e prisão com trabalhos forçados, banimento, degredo, desterro, multa, suspensão de direitos e também, a mais cruel de todas, morte na forca (para os crimes de insurreição de escravos, homicídio agravado e roubo com morte).
            Entretanto a terrível pena de morte foi mais tarde revogada tacitamente por D. Pedro II (pois a este era dado o direito de clemência e, então, passou a distribui-la a todos os condenados à morte). Conta-se que o Imperador ficou impressionado quando soube do erro judiciário que levou o fazendeiro Manoel da Motta Coqueiro à forca.
     
       3. A República
            Em 15.11.1889 é proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil. Além da abolição da escravatura (1888) outros fatos incorreram sobre a legislação penal o que veio a implicar na necessidade de um novo Código. Foi assim que, durante o Governo Provisório de Deodoro, o então Ministro da Justiça e futuro presidente, Campos Sales, encarregou o professor João Baptista Pereira de elaborar um novo Código. Rapidamente (em três meses) o mesmo apresentou-o, entrando em vigência através do Decreto n. 774 de 20.09.1890.
            Todavia, não se sabe se pelo curto tempo de elaboração ou por apresentar idéias da Escola Clássica quando a Positiva estava em seu auge, acolhendo adeptos entre a maioria dos juristas, Código foi veementemente criticado por apresentar alguns erros. Então, para corrigi-los, várias leis extravagantes foram promulgadas. 
 Porém este emaranhado de normas, por ser de difícil manuseio, necessitava que se reunissem num único documento o Código e as leis complementares. Esta tarefa foi dada ao Dês. Vicente Piragibe, resultando na Consolidação das Leis Penais que entrou em vigor através do decreto n. 22.213 de 14.12.1932, sendo, pois, revogada pelo atual Código Penal.
            Em 1940 foi promulgado o novo Código Penal que teve seu início de vigência marcado para 1.01.1942. Código esse que teve origem no projeto de Alcântara Machado, submetido ao trabalho de uma comissão revisora composta por Nélson Hungria, Vieira Braga, Marcélio de Queiroz e Roberto Lyra.
            Em 21.10.1969 veio a lume outro Código Penal elaborado pelo então Ministro Nélson Hungria, contudo esse foi revogado em 11.10.1978.
            Em 1984 a parte geral – que trata dos princípios básicos do Direito Penal – do Código é integralmente reformada, através da lei 7.209, de 11 de junho, com a introdução de novos e modernos conceitos, e a consolidação do novo sistema de cumprimento de penas – com progressão de regime mais severo – fechado – a mais brando – aberto – e também a regressão, a possibilidade de novas modalidades de penas, chamadas de alternativas, de prestação de serviços à comunidade e restrição de direitos. 
 A lei 7.210, da mesma data, reformulou ampla e positivamente a execução penal.
ESCOLAS PENAIS
1- INTRODUÇÃO
As escolas penais, a bem da verdade, são correntes de pensamento sobre o direito penal, fruto das idéias decorrentes do Iluminismo.
	
O Iluminismo, que surgiu no Séc. XVIII, é um movimento cultural que visou colocar o ser humano como centro do universo. Sendo o homem, um animal racional, tudo podia ser explicado por meio da razão, inclusive a política e o direito.
Assim, sugiram obras clássicas que visavam justificar a Sociedade e o exercício do poder, dentre as quais destacam-se: “O espírito das leis” (1748), de Montesquieu; “O contrato social” (1762), de Rosseau.
O direito não podia ficar indiferente às novas idéias, que começaram a ser incorporadas ao direito penal por meio da obra de César Beccaria, “Dos delitos e das penas” (1764), cujo fundamento básico é humanizar as penas. 
“As idéias básicas do Iluminismo em matéria de justiça penal são as da proteção da liberdade individual contra o arbítrio judiciário; a abolição da tortura, abolição ou limitação da pena de morte e a acentuação do fim estatal da pena, com afastamento das exigências formuladas pela Igreja ou devidas puramente à moral, fundadas no princípio da retribuição” (FRAGOSO, 1994:41).
As novasidéias não demoraram a vingar no campo legislativo, mormente após a Revolução Francesa (1789), oportunidade em que se editou a “Declaração Universal de Direitos do Homem e do Cidadão”.
2- ESCOLA CLÁSSICA
Assim era chamada pelos adeptos da positiva, em tom pejorativo. Podem-se citar como representantes desta escola: Romagnosi, autor de “GenesidelDirittoPenale” (1791), Feuerbach, que nos legou o “Tratado de Direito Penal” (1801) e Francesco Carrara, que escreveu “Programa do Curso de Direito Criminal”. Este último autor é tido como o principal representante da escola clássica.
Sinteticamente, pode-se agrupar o pensamento clássico em quatro princípios:
o crime é um “ente jurídico”, o que significa que o crime é violação do direito, como exigência racional (e não como norma jurídica do direito positivo);
a responsabilidade penal funda-se no livre-arbítiro;
a pena é retribuição jurídica e restabelecimento da ordem externa violada pelo direito;
o método lógico-abstrato baliza o estudo do direito penal.
A Escola Clássica exerceu enorme influência na legislação penal da época. “O histórico Código Zanardelli, de 1889, adotou as idéias fundamentais da Escola Clássica, constituindo-se num verdadeiro marco de ‘típica expressão de uma concepção liberal moderna que reconhecia a livre realização dos direitos individuais, mas sabia também tutelar a autoridade do Estado’. Receberam as mesmas influências os Códigos Penais da Áustria (1852), da Bélgica (1867); da Hungira (1871); da Suécia (1864) e de Portugal (1886)”. (BITENCOURT, 2004:58).
3- ESCOLA POSITIVA
Trata-se de um movimento que se desenvolveu no final do século XIX e tinha por fundamento as idéias evolucionistas daquela época. O direito não é um produto exclusivo da razão, mas uma construção que deve partir da análise do indivíduo e da sociedade.
O direito penal da Escola Clássica revelou-se ineficaz para combater à criminalidade, pois a idéia de retribuição, fundada no livre arbítrio, desconsiderava as peculiaridades do homem e o crime como um fato social.
As idéias da escola positivista foram inicialmente expostas por CesareLombroso, na sua obra “L’uomodelinqüente” (1876), que procurava explicar a causa do comportamento humano tido como criminoso. Também Rafael Garofalo, com sua obra “Criminologia” (1885), identificou o crime como um fato natural. Finalmente, Enrico Ferri é outro membro desta escola, com sua tese “La negazionedel libero arbítrio e la teoria dellaimputabilità” (1878).
São princípios básicos da Escola positiva:
o crime é fenômeno natural e social, sujeito à influência do meio e aos múltiplos fatores que atuam sobre o comportamento. Assim, o método experimental é utilizado para explicar as causa do crime;
a responsabilidade penal funda-se no determinismo e na periculosidade do agente para viver em sociedade;
a pena é uma medida social que visa a recuperação do criminoso;
o criminoso é sempre psicologicamente um anormal, de forma temporária ou permanente;
os criminosos podem ser classificados em tipos.
4- TERZA SCUOLA ITALIANA
Trata-se de uma escola intermediária ou eclética, que visava conciliar os pensamentos das correntes clássica e positiva. Era também conhecida como Escola Crítica e se iniciou com o artigo de Manuel Carnevale: Uma terzaescuoladidirittopenale in Itália (1891). São adeptos desta nova escola BenardinoAlimena (Naturalismo Crítico e DirittoPenale) e João Impallomeni (IstituzionidiDirittoPenale).
São princípios básicos da terzascuola:
a responsabilidade penal funda-se no determinismo psicológico e não no livre arbítrio. Por determinismo psicológico entendesse o motivo mais forte que levou a prática daquela conduta;
faz distinção entre imputáveis e inimputáveis; os primeiros recebem pena e os últimos medida de segurança;
o crime é um fenômeno social e individual;
o fim da pena é a defesa social.
5- ESCOLA MODERNA ALEMÃ 
Surgiu na Alemanha, graças ao mestre Von Liszt, com base no seu famoso “Programa de Marburgo” (O pensamento finalista no Direito Penal) (1882). 
A idéia básica é “adoção de medidas e providências de ordem prática no interesse da repressão e prevenção do delito” (NORONHA, 1995:40). O Direito Penal não pode ser confundido com a criminologia. 
São caracteres dessa escola:
método lógico jurídico para o direito penal e experimental para as ciências penais;
distingue o imputável do inimputável, sem se fundar, porém, no livre-arbítrio, e sim na determinação normal do indivíduo. O livre arbítrio é relegado ao plano filosófico;
considera o crime como fato jurídico, mas também como fenômeno natural;
a luta contra o crime far-se-á pela pena e medidas de segurança, formando o “duplo binário”;
a pena tem uma função finalística, ou seja, prevenir a prática de novos crimes.
6- ESCOLA TÉCNICO-JURÍDICA 
Combateu a confusão metodológica instalada nas ciências penas por obra da Escola Positiva. O fundador desta escola foi Arturo Rocco, que proferiu na Itália, em 1905, uma aula magna na Universidade de Sassari, abordando o problema do método no estudo do Direito Penal.
Pode-se apontar como as principais características da Escola Ténico-Jurídica:
o delito é pura relação jurídica entre indivíduo e Estado;
a pena tem caráter retributivo-preventivo e deve ser aplicada aos imputáveis;
a medida de segurança deve ser aplicada aos inimputáveis;
a responsabilidade penal é fulcrada na vontade livre;
o método de estudo deve ser técnico-jurídico.
Há autores que sustentam que “o tecnicismo jurídico iniciou-se na Alemanha, com os estudos do extraordinário Karl Binding, que, com sua vastíssima obra, deu sentido próprio à Ciência do Direito Penal moderno. A partir de Binding, falecido em 1920, a doutrina alemã começa a desenvolver os estudos de dogmática jurídico-penal de forma insuperável, chegando até nossos dias como, indiscutivelmente, a mais evoluída” (BITENCOURT, 2004:68).
7- ESCOLA CORRECIONALISTA 
Apareceu na Alemana, em 1839, com a dissertação de Karl Roder, Comentatio na poenamalum esse debeat. Sucede que foi na Espanha que encontrou seus principais seguidores, tais como: Giner de los Rios, Alfredo Calderón, ConcecpciónArenal, Rafael Salillas e Pedro DoradoMontero. A maior característica desta escola é curar ou emendar o delinqüente. “A administração da Justiça deve visar o saneamento social (higiene e profilaxia social) e o juiz ser entendido como médico social” (BITENCOURT, 2004:69). O arbítrio judicial deve ser ampliado em relação à individualização da pena.
8 – DEFESA SOCIAL 
É uma das últimas escolas penais. Surgiu em 1945 com Felipe Gramática, na Itália. Visava renovar os meios de combate à criminalidade. 
Marc Ancel publica, em 1954, A nova defesa social, obra que sistematizou as principais características desta escola, a saber:
análise crítica do sistema existente, inclusive com sua contestação;
valorização das ciências humanas, as quais são úteis e necessárias no estudo e combate do problema criminal;
a pena é uma reação social, objetivando proteger o ser humano e garantir os direitos dos cidadãos.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL.
Segundo Damásio de Jesus, na obra Código Penal Anotado: "Interpretar é retirar o significado e a extensão de uma norma em relação à realidade. É a operação lógico-jurídica que visa à descoberta da vontade da lei, em função de todo o ordenamento e das norma superiores, afim de aplicá-las aos casos concretos da vida real." 
 
Espécies de interpretação.
a.. Quanto ao sujeito que efetua a interpretação, pode ela ser:
 1.. autêntica; é aquela realizada pelo próprio legislador, provém do próprio órgão de que a lei emana. Pode ser contextual ou posterior.
 A interpretação contextual é aquela realizada pelo legislador no próprio texto da lei. Ex é o conceito de funcionário público contido no art.327 do CP.
 2.. doutrinária; É a feita pelos escritores de direito, em seus comentários.
 3.. judicial. É aquela que deriva dos órgãos judiciários (juízes e Tribunais).Tal interpretação não tem força obrigatória, senão para o caso concreto.
b.. Quanto aos meios empregados, a interpretação pode ser:
 1.. gramatical, literal ou sintática;
 2.. lógica ou teleológica.
c. Quanto ao resultado.
O intérprete, após empregar os meios estudados, chega a uma conclusão, a um resultado interpretativo. Esse pode ser declarativo, extensivo ou restritivo. Pode a interpretação ser classificada em:
1.Interpretação declarativa. Quando a lei reflete exatamente a sua vontade.
Ex: o inciso II, do Artigo 141, que diz que as penas serão aumentadas se o fato for cometido na presença de várias pessoas.
 Assim, podemos concluir que o número mínimo de pessoas exigido para a configuração serão necessárias ao menos três pessoas, porque sempre que a lei se contenta com duas pessoas, o faz expressamente ( como por ex. o artigo 150, parágrafo primeiro, do CP).
2. Interpretação restritiva. Quando a linguagem da lei diz mais do que o pretendido pela sua vontade e assim dá ensejo à interpretação restritiva, que restringe o alcance das palavras da lei até o seu real significado. Ex: o artigo 28, I e II, determina que a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou culposa não excluem a imputabilidade, respondendo o sujeito pelo crime praticado. 
3. Interpretação extensiva: Ocorre quando o texto legal diz menos do que queria dizer, devendo, pois, ser aplicado. Ex: artigo 235 do CP, que incrimina a bigamia. Incabível que uma pessoa se casasse duas vezes, mas fosse permitido casar-se três. Assim, entende-se, através da interpretação extensiva, que o artigo abrange também a poligamia.
 
Analogia.
"A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante." (Damásio E. de Jesus)
É uma forma de auto-integração da lei, com objetivo de suprir lacunas existentes. Não há, na hipótese, uma ampliação do texto da norma, como ocorre na interpretação extensiva, que já estudamos, mas, sim, a mesma disposição legal é aplicada a casos semelhantes não previstos.
Pode, ainda, a analogia ser:
 
  a.. in bonam partem;
 
  b.. in malam partem.
 
A analogia "in bonam partem" ocorre quando o sujeito é beneficiado pela sua aplicação. Quando é prejudicado, estamos diante de analogia "in malam partem".
No direito penal, só é possível o emprego da analogia “in bonam partem”
 
 
3) Conflito Aparente de Normas Penais
            Para reconhecer o conflito aparente de normas de existir:
            1) a unidade do fato
            2) pluralidade de normas
            3) aparente aplicação de todas as normas
            4) efetiva aplicação de apenas uma delas
            “A unidade de fato significa que a conduta do agente tenha implicado em apenas uma infração penal. No tocante à pluralidade de normas, como se depreende da própria expressão, é imprescindível que exista mais de um dispositivo legal tipificando a mesma conduta. Por derradeiro, a incidência de todas as normas a uma conduta deve ser apenas aparente, porquanto só uma delas é que será efetivamente aplicada”.
            “Na verdade, o legislador, quando introduz no ordenamento jurídico determinado tipo penal, o faz a uma conduta específica. Então mesmo que esta norma venha a colidir com outra mais antiga, ou mais genérica, com ela nunca se confundirá, justamente em razão da existência de princípios, que, em sendo aplicados ao caso concreto, suprimirão por completo qualquer dúvida quando do enquadramento da norma ao fato”. 
Trata-se dos seguintes princípios:
3.1) Princípio da Especialidade
            De acordo com o brocardo jurídico lexspecialisderrogatgenerali (lei especial derroga a lei geral), a lei de natureza geral, por abranger ou compreender um todo, é aplicada tão-somente quando uma norma de caráter mais específico sobre determinada matéria não se verificar no ordenamento jurídico. 
            Assim, desde que todos os requisitos do tipo geral estejam presentes no tipo especial, e que ambas as leis estejam vigendo naquele momento da aplicação, estará o intérprete apto para empregar a lei especial à conduta do agente.
            3.2) Princípio da Alternatividade
            Entende-se pelo princípio da alternatividade aquele que se volta à solução de conflitos surgidos em face de crimes de ação múltipla, que são aqueles em que o tipo penal expõe vários núcleos, correspondendo cada um desses núcleos a uma conduta.
            É exemplo de crime de ação múltipla o crime de receptação, conforme o art. 180, caput, do Código Penal in, verbis: "Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte."
            Apesar das inúmeras modalidades de ações praticadas no crime acima transcrito, é preciso que exista nexo de causalidade entre elas e que sejam praticadas no mesmo contexto fático. Nesse caso, o agente será punido apenas por uma das modalidades descritas no tipo. Caso contrário, haverá tantos crimes quantas forem as condutas praticadas.
            3.3) Princípio da Subsidiariedade
            Este princípio estabelece que alguns dispositivos penais prevêem o seu emprego apenas no caso de outra norma, de caráter primário, não poder ser aplicada ao mesmo fato.
            Ex: Crime de roubo, em que a vítima, mediante emprego de violência, é constrangida a entregar a sua bolsa ao agente. Há a subtração (norma primária) e o do constrangimento ilegal (norma subsidiária), sendo que o constrangimento ilegal, no caso, foi apenas uma fase do roubo, além do fato de este ser mais grave.
                        3.4) Princípio da Consunção
           Segundo Rogerio Grecco, o princípio da consunção é aquele segundo o qual a conduta mais ampla engloba, isto é, absorve outras condutas menos amplas e, geralmente, menos graves, os quais funcionam como meio necessário ou normal fase de preparação ou de execução de outro crime, ou nos casos de antefato e pós-fato impuníveis.
            Exemplo do crime de lesão corporal em relação ao crime de homicídio. A vítima sofre lesões antes de morrer.
            O fato anterior não punível (antefato impunível) também corresponde a uma hipótese do princípio da consunção. Praticando uma conduta criminosa como o caminho necessário para a obtenção do resultado de outra conduta, também criminosa e, em geral, mais grave, o agente não é punido por aquela, mas apenas por esta, haja vista tê-la englobado.
            Já o fato posterior não punível (pós-fato impunível), o exaurimento do crime mais grave, que também constitui conduta ilícita, é absorvida e não é levada em conta no momento da aplicação da pena. É o caso da venda do produto do roubo.
            Cabe lembrar que o antefato e pós-fato impuníveis são espécies da progressão criminosa (pluralidade de desígnios e pluralidade de condutas) e, como tais, isentam o agente da responsabilidade pelos atos anteriores ou posteriores que tenham eventualmente integrado o intento delituoso.
            Já nos crimes progressivos (unidade de desígnios e unidade de conduta), que são aqueles que ocorrem quando o agente objetiva produzir o resultado mais grave, e pratica, por meio de atos sucessivos, crescentes violações ao bem juridicamente protegido, o último ato praticado, que é o causador do resultado inicialmente pretendido, absorve todos os anteriores que acarretaram as violações em menor grau.
            Quanto aos crimes complexos, o princípio da consunção atua no sentido de o fato complexo absorver os fatos autônomos que o integram, prevalecendo o tipo resultante da reunião daquele.
            Portanto, o princípio da consunção, dispondo de um vasto rol de recursos aptos a resolver problemas concernentes ao concurso aparente de normas penais, volta-se para a absorção de condutas que, muitas vezes, servem apenas como um caminho natural para a prática do intento criminoso.
Da aplicação dalei penal.
 
 
Do princípio da legalidade.
 
  Este princípio vem descrito no artigo 1° do Código Penal: "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal."
 
 O artigo 1° do nosso Código Penal, também prevê o princípio da anterioridade.
Assim, para que exista crime, é necessário que o fato tenha sido cometido após a entrada em vigor da lei incriminadora que o define, caso contrário, não haverá crime
A Constituição contém esse princípio no art.5° , XXXV, LIV, LV e LXVII, que trata das garantias individuais.
 
 
Âmbito de Eficácia da Lei Penal.
 
A lei aplicada pelo Estado somente rege as condutas ocorridas dentro do espaço em que ele manifesta o seu poder. Portanto, não pode o Brasil, querer aplicar as suas leis na França, porque se trata de um Estado soberano, que há de exercer seu poder dentro do seu próprio território.
 
 Da eficácia da lei penal no tempo
 
A lei penal nasce, vive e morre.
 
Tal lei apresenta quatro momentos distintos: a sanção, a promulgação, a publicação e a revogação.
 
A sanção pelo presidente lhe dá integração formal e substancial. A promulgação lhe confere existência e proclama a sua executoriedade. A publicação determina a sua eficácia, entrando, assim, a lei, em vigência. Por fim, temos a revogação, que extingue a lei, retira-a do ordenamento jurídico, total ou parcialmente.
 
1. Princípio do tempus regitactum: a lei penal terá vigor sobre todos os fatos que ocorrerem no seu período de vigência. O vigor é a força que vincula um fato determinado a uma certa lei. De sorte que, uma vez aprovada pelo Congresso Nacional o projeto de lei penal, este será sancionado pelo Presidente da República e a partir daí torna-se lei penal. Após a sanção, segue-se a promulgação, a publicação e o período de vacatio legis. Se a lei penal for omissa quanto ao período de vacatio legis, aplica-se o art. 1º da LICC e o prazo da vacatio legis será de quarenta e cinco dias a contar da publicação da lei. Decorrido o aludido prazo, a lei penal passará a ter vigência e irá incidir sobre os fatos que se subsumirem a sua hipótese de incidência, é a chamada a atividade da lei penal. Ex: A Lei 11.343/06 (tráfico de drogas) foi publicada em 24 de agosto de 2.006. O prazo de vacatio legis era de quarenta e cinco dias. Assim, a Lei 11.343/06 passou a ter vigência a partir de 08 de outubro de 2.006.
2. Princípio da irretroatividade da lei penal: a lei penal, em regra, irá incidir sobre os fatos que ocorreram após a sua vigência. Sucede que este princípio sofre uma exceção, isto é, a lei penal nova que for mais favorável ao agente irá retroagir para beneficiá-lo, nos termos do disposto no artigo 5º, inc. XL, da CF: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Inclusive esta regra abrange até as condenações transitadas em julgado (art. 2º, § único, do CP). Assim, se o condenado estiver cumprindo pena e sobrevier uma lei penal mais favorável, ser-lhe-á aplicada pelo Juízo das Execuções Penais, nos termos da Súmula 611 do STF que diz: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”.
Entrada em vigor: O artigo 1° da LICC prevê: "Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o País quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada".
 Assim entre a data da publicação e o início de sua obrigatoriedade, é capaz que ocorra o lapso de quarenta e cinco dias, é a vacatio legis.
Há casos em que a lei estabelece um prazo para entrada em vigor da nova lei. É o caso, por exemplo da lei 8078, de 11/9/1990, que dispõe sobre a proteção penal do consumidor, determinando que a lei passará a ser obrigatória 180 dias após a sua publicação.
 
A lei é publicada no Diário Oficial da União, conhecido por DOU.
 
Na data da publicação, ou vencido o prazo da vacatio legis ou outro determinado, dizemos que inicia-se a vigência da lei, que prossegue até que haja a sua revogação (morte).
 
A revogação pode ser total ou parcial, dividindo-se, portanto, em ab-rogação e derrogação.
 
Podemos dizer que quando a autoridade da lei cessa em parte, estamos diante de derrogação da lei. Por outro lado, quando a lei se extingue totalmente, abandona o ordenamento jurídico, há a ab-rogação.
 
Ainda, a revogação pode ser: expressa ou tácita. 
 
A revogação é expressa quando a lei, expressamente, determina a cessação da vigência da norma anterior. Já a tácita (também chamada implícita ou indireta) é aquela em que o novo texto, embora de forma não expressa, é incompatível com o anterior ou regula inteiramente a matéria precedente.
 
Há leis, no entanto, que trazem em seu próprio texto o término de sua vigência. São elas conhecidas como leis de vigência temporária (encontram-se, justamente, na ressalva do artigo 2° , caput, da LICC.
 
As leis de vigência temporária são denominadas: temporárias e excepcionais.
 As leis temporárias são aquelas que já trazem a data do término de sua vigência. 
 
As leis excepcionais são as que, não mencionando expressamente o prazo de vigência, condicionam a sua eficácia à duração das condições que as determinaram. Ex lei que foi criada para vigorar durante a guerra. Terminada essa, aquela norma não será mais aplicada, deixando, portanto, o ordenamento jurídico.
 
 
Conflitos de leis penais no tempo: princípios que regem a matéria.
 
A lei não alcança os fatos ocorridos antes ou depois de sua vigência. Portanto, não retroage (não volta atrás para abranger os casos antes ocorridos), nem tem ultra-atividade (ou seja, deseja ver-se aplicada depois de morta). É o princípio "tempus regitactum".
 
No entanto, pode ocorrer que um crime iniciado sob a vigência de uma determinada lei, acabe se consumando (completando-se por todos os seus elementos), sob a vigência de uma outra lei. Ou ainda, pode ocorrer que o indivíduo pratique uma conduta punível sob a vigência de uma determinada lei, mas seja ele condenado no momento em que já exista outra lei, aplicando-lhe pena mais severa ou benéfica em relação à primeira.
 
Ocorre aqui o conflito das leis penais no tempo. 
Diante do princípio da legalidade (não há crime, nem pena, sem prévia lei que o defina ), haverá sempre uma lei dominando o conflito de leis penais no tempo. Trata-se do princípio da irretroatividade da lei penal, sem o qual a sociedade não teria nem liberdade, nem segurança, uma vez que poderiam ser punidos fatos lícitos após sua realização, abolindo-se o deeterminado no artigo 1° do nosso Código Penal.
 
Assim, se não há crime sem lei anterior, a norma penal não poderá retroagir para alcançar aquelas condutas que, antes de sua entrada em vigor, eram consideradas perfeitamente possíveis, permitidas.
 
Todavia, o princípio da retroatividade vige somente em relação à lei mais severa, admitindo-se, no direito transitório, a aplicação retroativa da lei mais benigna (também chamada "lexmitior").
 
Podemos afirmar, portanto, que temos dois princípios a reger os conflitos de direito intertemporal, sejam eles:
 
 
 1.. o da irretroatividade da lei mais severa.
 
 
 2.. o da retroatividade da lei mais benigna.
 
 Ainda, essas duas regras podem ser reduzir à seguinte afirmação: a retroatividade da lei mais benigna.
 
 O princípio da irretroatividade, funda-sete no artigo 5° , incisos XXXVI e XL, da Constituição Federal de 1988.
 
 O inciso XXXVI mencionado estabelece que a lei não prejudicará o direito adquirido. Já o inciso XL que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
 
Assim, se a lei nova define uma conduta como crime, antes lícita, os fatos cometidos no período anterior à sua vigência (entrada em vigor) não podem ser apenados. 
 
Ex: Um indivíduo pratica um crime sob a vigência de uma lei de 2008, que estabelece pena de reclusão de 1 a 4 anos.
 
 No entanto, quando do julgamento, passa a viger uma nova lei em 2010, regulando o mesmo fato e impondo pena mais severa, seja ela, reclusão de 2 a 8 anos. 
  Neste casoa lei posterior não poderá ser aplicada, em face do princípio da irretroatividade da lei mais severa. 
 Essa qualidade da lei, de possuir eficácia mesmo depois de cessada a sua vigência, é denominada "ultra-atividade".
 
 Assim a lei mais benéfica possui extra-atividade, constituindo-se dos princípios da retroatividade e da ultra-atividade.
 
 Por sua vez, em relação à lei mais severa, aplica-se o princípio da não-extra-atividade, que se compõe dos princípios da irretroaatividade e da não ultra-atividade.
  
 
Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo.
 
  A lei penal nova que entra em conflito com a anterior pode apresentar as seguintes situações:
 
 1) a lei nova suprime normas incriminadoras anteriormente existentes (abolitio criminis).
 
 2) a lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos, permitidos (novatio legis incriminadora).
 
 3) a lei nova modifica o regime anterior, agravando a situação do sujeito (novatio legis in pejus).
 
 4) a lei nova modifica o regime anterior, beneficiando o sujeito (novatio legis in mellius).
 
 O artigo 2° esclarece que: "Ninguém poderá ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença penal condenatória transitada em julgado.
 
 Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado."
Abolitio criminis: uma lei posterior deixa de considerar como infração um fato que era anteriormente descrito como crime
novatio legis ou lei supressiva de incriminações: a lei nova suprime normas incriminadoras.
  
 A abolitio criminis (novatio legis) constitui fato jurídico extintivo da punibilidade, de acordo com o disposto no artigo 107, III, do CP, que determina:
 
 "Extingue-se a punibilidade:
 
 (...) III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato criminoso."
 
 O Estado, portanto, perde a possibilidade de aplicar pena ou medida de segurança ao agente. 
 
Novatio legis incriminadora: a lei nova incrimina fato anteriormente considerados lícitos.
  
Imagine, agora, que uma lei nova (novatio legis) venha incriminar conduta que, anteriormente, era um indiferente penal. Nessa hipótese, estaremos diante de uma novatio legis incriminadora.
 
Aqui, podemos dizer que tem aplicação a regra do tempus regitactum. Afinal, a lei que vem a criar novos crimes não retroage, por prejudicar o sujeito.
 
O fundamento desse princípio, como já mencionamos, encontra-se no brocardo "nullumcrimensinepraevia lege." Assim, se não há crime sem lei anterior, a lei nova incriminadora não pode retroagir para alcançar fatos praticados antes da entrada em vigor da lei mais severa.
 
 
"Novatio Legis in Pejus": a lei nova modifica o regime anterior, agravando a situação do sujeito.
 
 Sempre que a lei posterior agravar a situação do sujeito, sem contudo criar novos crimes ou abolir os precedentes, não poderá retroagir, em razão do princípio da irretroatividade da lei mais severa. Assim, todas as vezes em que a lei nova prejudica o sujeito, não poderá ela retroagir.
 
 "Novatio Legis in Mellius": lei nova que modifica o regime anterior, beneficiando o sujeito.
 
 
Caso a lei nova venha a beneficiar o sujeito, sem, contudo, excluir a incriminação, deverá ela retroagir. Trata-se da aplicação do princípio da retroatividade da lei mais benigna.
 
É exatamente o que dispõe o parágrafo único do artigo 2° do CP:
 
"A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado."
 Combinação de leis.
 
 Há discussão na doutrina para aceitação de combinação de leis.
Aceitavam a combinação de leis: Basileu Garcia, José Frederico Marques e Magalhães Noronha. Já os autores Nélson Hungria e Aníbal Bruno eram contra esse posição, sustentando a impossibilidade de combinação de leis.
 Aqueles que entendiam ser impossível a combinação de leis para favorecer o agente, sustentavam que, na hipótese, o juiz estaria criando uma terceira lei, o que não lhe é permitido em razão da tripartição de poderes.
 
“Todavia, a outra corrente entende que não se estaria a criar nova lei, mas sim movimentando-se dentro do campo legal em sua missão de integração legítima” 
 
Eficácia das leis penais temporárias e excepcionais. 
 
 
As temporárias são aquelas leis com vigência previamente estipulada pelo legislador, enquanto que as excepcionais, são aquelas promulgadas em casos de calamidade pública, guerras, revoluções, epidemias etc..
 
O artigo 3° do nosso Código Penal, referindo-se a essas leis, deixa claro que: "A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência."
 
Sabemos, já, que a lei excepcional é revogada pela cessação das circunstâncias que a determinaram, e as temporárias, pelo decurso do tempo de sua duração, ocorrendo, nas duas hipóteses, a auto-revogação da lei.
 
Embora auto-revogadas, aplicam-se aos fatos ocorridos durante sua vigência.
 Ex durante a guerra, o lei prevê como crime "não se recolher à residência após às 22:00 hs ". Almir realiza a conduta punível e, no transcorrer do processo, termina a guerra, ocorrendo, assim, a auto-revogação da lei penal excepcional. Neste caso por ser a lei excepcional, embora cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. É ultra-ativa. Será então punido.
 
 
 Combinação de leis penais:significa aplicar dispositivos penais de duas leis distintas que se sucedem no tempo para favorecer o agente. Em que pese à existência de posicionamentos contrários, como a regra constitucional é o tratamento penal mais benigno (art. 5º, inc XL, CF), nada impede ao Juiz de selecionar parte de uma lei nova e combiná-la com parte da lei antiga. Ex. A Lei 6.368/76 punia o tráfico de drogas com pena de 03 a 12 anos de reclusão. A Lei 11.343/06 pune o tráfico de drogas com pena de 05 a 15 anos; todavia, a Lei 11.343/06 trouxe um dispositivo legal que permite a redução da pena do tráfico em até 2/3 (dois terços), desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Admitida a combinação de leis penas, é possível ao juiz reduzir as penas da Lei 6.368/76, desde que a combine com a Lei 11.343/06 naquilo que for mais benéfico ao agente.
Ultratividade da lei penal: a lei penal, mesmo depois de revogada, continua a produzir efeitos para regular as situações que ocorreram durante a sua vigência. De modo que se a lei nova for prejudicial ao agente, não irá retroagir. Ex: Tício, em 1989, seqüestrou Paulo e exigiu resgate, que não foi pago e, portanto, Paulo acabou sendo morto por Tício, que por isso responde pelo artigo 159, § 3º, CP. A pena para aludido crime era, em 1989, de 20 a 30 anos. Sucede que, posteriormente, a Lei 8.072/90 aumentou a pena do artigo 159, § 3º, do CP, para 24 a 30 anos. Imagine que Tício seja julgado pelo crime que praticou contra Paulo somente 1994. Ainda assim, aplicar-se-á a pena de 20 a30 anos, posto que a lei nova (Lei 8.072/90), por ser prejudicial, não retroage, em compensação a lei anterior (redação primitiva do art. 159, § 3º, do CP) terá ultratividade.
 
Teorias.
 
Teoria da atividade, que fixa o tempo do crime no momento em que o agente executa a conduta criminosa (ação ou omissão). É, justamente, o momento da prrática da ação ou omissão. Exemplo, o estelionato. Em princípio, aplica-se a lei vigente ao tempo em que o agente induz alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento (momento da ação), sendo desnecessária a análise da norma em vigor quando, de fato, obtém a vantagem ilícita em prejuízo alheio.
Teoria do resultadopara esta teoria o tempo do delito é, justamente, o momento da produção do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da produção do resultado (morte, no caso de homicídio) e não o momento da prática dos atos executórios (ação).
 
Teoria mista (ou da ubiqüidade), sendo o tempo do crime tanto o momento da ação quanto do resultado. No crime de homicídio, portanto, o tempo do crime seria tanto o momento da prática da ação quanto o momento da produção do resultado.
O artigo 4° determina que: "Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado".
 
O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade, pois no momento da conduta que o agente manifesta sua vontade de agir de maneira contrária ao ordenamento jurídico. É nesse momento que o sujeito demonstra a vontade de concretizar os elementos do tipo, sobre que recai o juízo de reprovabilidade.
 Assim, se uma pessoa comete atira em uma pessoa uma hora antes de completar 18 anos,e esse a falecer um dia depois dele completar a maioridade penal (18 anos). De acordo com a teoria da atividade, o homicídio foi cometido antes do agente alcançar a maioridade penal, quando, ainda, era inimputável (agente não podia entender o caráter ilícito do fato, nem determinar-se de acordo com esse entendimento). Assim, não incidirá sobre ele, o juízo de reprovabilidade, ou seja, ele não será considerado culpável.
 Crime continuado:o agente, valendo-se das mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes pratica vários crimes da mesma espécie (art. 71 do CP). Caso a lei penal seja alterada, durante a execução dos vários crimes em continuidade delitiva, aplica-se a lei nova, nos termos da Súmula 711 do STF.
Crime permanente:a conduta criminosa se arrasta no tempo por vontade do agente. Ex: é o cárcere privado, posto que enquanto o agente mantiver a vítima presa, o crime de cárcere privado (art. 148 do CP) estará ocorrendo. Se a lei penal for alterada, durante a execução do crime permanente, aplica-se a lei nova, nos termos da Súmula 711 do STF que reza: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
Antinomias: é o conflito aparente de normas. Possível que, no momento da prática do crime, exista dúvida sobre qual norma penal deve ser aplicada, posto que factível que existam duas ou mais normas penais vigentes ao tempo do crime que, aparentemente, podem ser aplicadas para reger o caso concreto. Basicamente existem quatro princípios para solucionar as antinomias da lei penal.
1. especialidade: a lei penal especial prevalece sobre a geral. Ex: O Código Penal Militar, que é uma lei especial, prevalece sobre o Código Penal, que é uma lei geral (art. 12 CP).
2. subsidiariedade: a norma incriminadora mais ampla prevalece sobre a de menor abrangência. Isto porque é possível que uma norma penal incriminadora contenha, em sua descrição legal, elementos que, isoladamente, são considerados crimes. Ex: o delito de roubo (art. 157 do CP) prevê, em sua descrição típica, a grave ameaça. Sucede que a ameaça, isoladamente, é considerada crime (art. 147 do CP). Se o agente ameaçar para subtrair coisa alheia móvel, prevalece o crime de roubo porque é mais amplo em comparação com a ameaça, que tem menor abrangência.
3. consunção:o FATO MAIS ABRANGENTE, que é desejado pelo agente, absorve o fato considerado mero meio de execução. Ex: para subtrair objetos que estão no interior de uma casa, mister a prévia invasão da casa. Note-se que a invasão da casa, por si só, é crime de violação de domicílio (art. 150 do CP); contudo, a invasão da casa é meio de execução do crime de furto, que é um fato mais abrangente e querido pelo agente. Assim, ao invés de punir o agente por dois crimes, será punido apenas por furto porque a violação do domicílio foi o meio de execução do furto e por isso será por ele absorvido. O princípio da consunção, para fins de estudo, pode ser:
3.1. crime progressivo:para o agente alcançar o resultado final mais grave, necessário produzir um resultado inicial menos grave. Ex: para matar, é necessário antes ferir.
3.2. progressão criminosa:o agente pretende produzir um resultado menos lesivo, mas no curso do iter criminis resolve praticar delito mais grave. Ex: o agente pretendia apenas lesionar, mas depois que a vítima caí ferida, o agente resolve matá-la. Note-se que no crime progressivo o agente, desde o início, pretende a prática do crime mais grave, enquanto na progressão criminosa à vontade de cometer o delito mais grave surge posteriormente.
3.3. alternatividade:o tipo penal pode prever várias condutas consideradas criminosas, mas o agente será punido uma única vez, ainda que realizar os vários verbos do mesmo tipo penal. Ex: o art. 122 do CP prevê que é crime “induzir” ou “instigar” ou “prestar auxílio” para alguém se suicidar. Note-se que são três condutas incriminadas. Assim, ainda que o agente pratique as três condutas, será punido apenas por um delito.
 Eficácia da lei penal no espaço.
 
 A lei penal é feita para viger dentro dos limites em que o Estado exerce sua soberania. Desta forma se cada Estado possui sua própria soberania, deverá haver a delimitação espacial de seu âmbito de eficácia, para que um Estado não invada a soberania do outro.
1. Regra geral: aplica-se a lei penal brasileira para os crimes ocorridos dentro do território brasileiro (art. 5º, caput, do CP). Não se olvidar que além da lei brasileira, poderá ser aplicado em território nacional as convenções, tratados e regras de direito internacional, daí porque se fala que o Brasil adotou o princípio da territorialidade temperada.
2. Território: é a porção de terra, água e ar em que o governo brasileiro exerce a soberania, isto é, o poder incontrastável de mando. O espaço terrestre engloba o solo e o subsolo e seus limites são as fronteiras com os países vizinhos. O espaço aquático abrange os rios, que cortam o território brasileiro, bem como o mar que banha as costas brasileiras. O mar territorial brasileiro foi fixado de acordo com a Convenção Internacional sobre o Direito do Mar, pela qual a soberania absoluta sobre a faixa de 200 milhas da costa é para fins de exploração econômica, limitando-se a incorporação territorial a 12 milhas do litoral (22,2 KM), conforme o art. 1º, caput, da Lei 8.617/93. Finalmente, o espaço aéreo é a coluna de ar atmosférica acima do espaço terrestre e marítimo (art. 11, da Lei 7.565/86 – Código Brasileiro de Aeronáutica). O espaço cósmico, isto é, por onde transitam os satélites é consideradocoisa comum de todos, conforme Decreto nº 64.362/69, que ratificou o Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico.
3. Território brasileiro por extensão: a lei penal, por meio de uma ficção jurídica, considera também extensão do território brasileiro as embarcações e aeronaves, de natureza pública, bem como aquelas que, mesmo sendo privada, estejam a serviço do governo brasileiro. Também são consideradas extensão do território brasileiro, as aeronaves ou embarcações privadas, que não estejam a serviço do governo brasileiro, mas se encontram em alto mar ou no espaço aéreo correspondente (art. 5º, § 1º, do CP). 
3.1. Advertência: pouco importa onde esteja a embarcação ou aeronave, desde que sejam públicas ou estejam a serviço do governo, aplica-se a lei brasileira. Ex: caso ocorra um crime dentro do navio de guerra brasileiro, ancorado em porto americano, aplica-se a lei brasileira.
4. Lugar do crime: para saber se será aplicada a lei brasileira, mister delimitar o local onde houve o crime.
Há cinco princípios, previstos no Código, para tentar solucionar os conflitos penais no espaço. São eles: 
1º). Princípio da territorialidade.   Segundo esse princípio, a lei penal somente tem aplicação no território do Estado que a criou. 
  
2º) Princípio da nacionalidade:   Segundo tal princípio, a lei penal do Estadoé aplicável a seus cidadãos, não importando onde eles se encontrem. O que importa é a nacionalidade do sujeito. Tal princípio também é denominado de princípio da personalidade, porque o Estado entende pessoal a norma punitiva e a aplica ao nacional.   Seu fundamento é que o cidadão, mesmo que se encontre no estrangeiro, deve sempre obediência às leis de seu país. 
 Por esse último princípio, um crime praticado por um brasileiro, na Italia, somente seria punido pela nossa lei se houvesse lesão a um bem jurídico do Brasil ou de outro brasileiro.
 
3º) Princípio da defesa (real ou da proteção):  Para este princípio a nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime, sem se importar com o local de sua prática ou com a nacionalidade do agente.
 Esse princípio, ultimamente, tem sido prestigiado, uma vez que os Estados sentem necessidade de proteger seus interesses que, muitas vezes, acabam sendo lesados pelos estrangeiros.
  
4º) Princípio da justiça penal universal (princípio universal, da universalidade da justiça cosmopolita, da jurisdição mundial, da repressão universal e da universalidade do direito de punir). Este princípio prevê que o poder de cada Estado punir qualquer crime, pouco importando a nacionalidade do delinqüente e da vítima, ou onde foi ele praticado. Para que ao sujeito seja imposta uma pena, basta encontrar-se dentro do território de um país.
 
 
5º) Princípio da representação: Em razão desse princípio, a lei penal de determinado Estado também é aplicada aos delitos cometidos em aeronaves e embarcações privadas, quando realizados no estrangeiro e aí não venham a ser julgados.
  
Princípios adotados pelo Código Penal: O Código Penal adotou o princípio da territorialidade, sendo os demais exceções.
 O artigo 5° do CP traz a regra, ou seja, o princípio da territorialidade. O artigo 7° , inciso I, e parágrafo 3° do CP, adotou o princípio da proteção (real). Já o art.7° , inciso II, alínea "a", o princípio da justiça universal.
 
Por sua vez, o inciso II, "b", desse mesmo artigo 7° , adotou o princípio da nacionalidade ativa, e a alínea "c", o da representação.
 
 Como já dito acima, o artigo 5° , parágrafo 1° , do CP, prevê que "para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar."
 Os navios tanto podem ser públicos como privados. Os públicos seriam os navios de guerra, em serviços militares, em serviços públicos, como, por exemplo, a polícia marítima, alfândega etc., e os postos a serviço de soberanos, chefes de Estado ou representantes diplomáticos. Por sua vez, os navios privados são os mercantes, de recreio etc..
 
Os navios públicos sempre serão considerados parte de nosso território, estejam onde estiverem (em mar territorial nacional, estrangeiro, ou em alto-mar). Assim, sempre que o crime for praticado em navio público, nossa Justiça será competente para apreciar os crimes nele praticados, de acordo com o disposto no art. 5° , parágrafo 1° , primeira parte.
 
O mesmo não ocorre em relação aos navios privados. Esses, quando em alto-mar, deverão seguir a bandeira que ostentam 
. No entanto, quando em portos estrangeiros, ou em mares territoriais estrangeiros, seguirão a lei do país em que se encontram, conforme o artigo 5° , parágrafo 1° , segunda parte.
 
Já os navios estrangeiros públicos, mesmo que em águas territoriais brasileiras, não podem ser considerados parte de nosso território. Os crimes neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. 
 
No entanto, na mesma hipótese, se forem de natureza privada, é claro que há de se aplicar a nossa legislação, uma vez que eles estarão em nosso território (art.5, parágrafo 2° , do CP).
 
Quanto ao domínio aéreo, temos três teorias: a primeira é a da absoluta liberdade do ar, a segunda, da soberania absoluta do país subjacente, e a última, da soberania até a altura dos prédios mais elevados do país subjacente.
 
No Brasil, adotamos, da soberania absoluta respeitando-se, pois, a absoluta soberania do país subjacente.
 
Da mesma maneira que os navios, as aeronaves podem ser públicas ou privadas. Assim, podemos aplicar os mesmos princípios expostos em relação aos navios, também, às aeronaves.
 
Portanto, as aeronaves militares, assim como as civis de propriedade ou a serviço de nosso Estado, por ele diretamente utilizadas, de acordo com o Código Brasileiro de Aeronáutica, são consideradas situadas em nosso território.
 
Por sua vez, as de natureza privada também são consideradas situadas em nosso território quando estiverem em alto-mar ou em região que não pertença a qualquer Estado. Fora daí, estará em território estrangeiro.
 
Lugar do Crime. 
Segundo o artigo 70, "caput", do CPP,: "A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração."
 
Teoria da atividade, o lugar do crime é aquele em que o agente praticou os atos executórios. Assim, se a vítima foi ferida em um país, mas vem a morrer no outro, o primeiro será o competente para apreciar a questão. Se os atos executórios foram praticados no Brasil, para essa teoria, a competência para a apreciação do caso será nossa.
 
Teoria do resultado, o lugar do delito é, justamente, onde se produziu o resultado. Assim, o país competente para a apreciação do homicídio será aquele em que ocorreu a morte da vítima. No primeiro exemplo (de Hungria), por essa teoria, a competência seria da Justiça boliviana.
 
Teoria da ubiqüidade, o lugar do crime é tanto o local onde ocorreu a prática de atos executórios, assim como onde ser consumou o delito (ocorreu o resultado). Essa teoria é a mais adotada na doutrina e nas legislações penais.
 
Verificamos ainda que em nosso Código Penal, no artigo 6° , que determina: "Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou devia produzir-se o resultado."
 
Assim, quando o crime tem início em território estrangeiro e se consuma no Brasil, considera-se que ele foi praticado no Brasil.
 
De acordo com essa teoria, aplica-se a lei penal brasileira ao fato de alguém, em território boliviano, atirar na vítima que se encontra em nosso território, vindo a falecer. Também se aplica a lei brasileira, se um estrangeiro enviar uma caixa de doces envenenados à pessoa que viva no Brasil.
 
Também, aplica-se a legislação brasileira, quando os atos executórios do crime são praticados em nosso território, mesmo que o resultado se produza em outro país.
 
No entanto, não basta que os atos preparatórios e os posteriores à consumação aconteçam no Brasil, porque, nesse caso, ainda não começaram os atos executórios, ou, simplesmente, já se produziu o resultado.
 
Ainda, verifica-se que o artigo 6° , inclusive, tratou das hipóteses de tentativa, afirmando que o local do crime é tanto o local onde praticou-se a conduta, como aquele em que "deveria produzir-se o resultado".
 
A Teoria da Ubiqüidade tem importância jurídica, nos denominados "crimes a distância", quando os atos executórios e o resultado ocorrem em local diverso. Imagine que a conduta seja praticada na Argentina e o resultado se produza no Brasil.
 
Basta que o crime toque o nosso território para que se possa aplicar a lei nacional, independentemente de o fato ter sido ou não punido no estrangeiro.
 
Esse rigorismo, entretanto, resta atenuado pelo artigo 8° do CP, de dispõe que: "A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas."
 
A competência da autoridade brasileira, relativamente aos crimes a distância, é fixada pelos parágrafos 1° e 2° do art.70 do CPP, que determina: "Se, iniciada a execução em território nacional,

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