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2017 - 05 - 25 Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: artigo por artigo - Edição 2016 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL PARTE ESPECIAL. LIVRO II. DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO II. DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO TÍTULO II DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO Capítulo I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, cada exequente conservará o seu título de preferência. * Correspondência legislativa: arts. 612 e 613 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. art. 187, parágrafo único, CTN. Sumário: 1. Prior tempore, potior jure x par conditio creditorum. 2. Pluralidade de penhoras. 1. Prior tempore, potior jure x par conditio creditorum. O Novo Código de Processo Civil, tal como o CPC/73, adotou para a execução singular, o princípio do prior tempore, potior jure, segundo o qual o credor que faz a penhora em primeiro lugar adquire o direito de preferência sobre a excussão do bem penhorado. Tal princípio tem aplicação restrita à execução contra devedor solvente, porquanto na hipótese de insolvência do devedor, observa-se o princípio da par conditio creditorum que, a contrario sensu, visa estabelecer a igualdade entre os credores. 2. Pluralidade de penhoras. Havendo pluralidade de penhoras sobre o mesmo bem, devem ser analisadas duas situações: em primeiro lugar, a existência de crédito privilegiado, conforme os critérios estabelecidos pela lei; e, em segundo, a anterioridade da penhora. Assim, havendo privilégios ou direitos reais sobre o crédito (CC, art. 958), estes preferem a constrição. Não os havendo, para efeitos de preferência, interessa averiguar a primeira constrição, não importando quem primeiro ajuizou a execução.1 Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com: a) o título executivo extrajudicial; b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa; c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso; d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente; II - indicar: a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada; b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível. Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter: I - o índice de correção monetária adotado; II - a taxa de juros aplicada; III - os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; IV - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; V - a especificação de desconto obrigatório realizado. * Correspondência legislativa: arts. 614, I, II, III, 615, I, IV, 652, § 2.º, do CPC/73. Sumário: 1. Documentos obrigatórios da petição inicial na execução; 2. Demonstrativo do débito atualizado; 3. Indicação na petição inicial. 1. Documentos obrigatórios da petição inicial na execução. Neste artigo, o Novo Código de Processo Civil versa exclusivamente a respeito do aspecto procedimental, traçando verdadeiro roteiro para a petição inicial de execução. 1.1. O inc. I impõe ao exequente instruir a petição inicial com os seguintes documentos: (a) o título executivo extrajudicial; (b) o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da ação, tratando-se de execução por quantia certa; (c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, quando for o caso; (d) se for o caso, a prova de que o exequente adimpliu a contraprestação que lhe cabe. 2. Demonstrativo do débito atualizado. O demonstrativo de débito atualizado, citado na alínea b do inc. I, nos termos do parágrafo único, deve conter: (a) o índice de correção monetária adotado; (b) a taxa de juros aplicada; (c) os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados; (d) a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; (e) a especificação de desconto obrigatório realizado. Trata-se de norma análoga àquela prevista no art. 524, aplicável ao cumprimento de sentença. Tanto lá quanto cá, os cálculos do valor a ser executado devem trazer todas essas informações. 3. Indicação na petição inicial. O inc. II impõe ao exequente indicar na sua petição inicial (a) a espécie de execução que prefere, quando por mais de um modo puder ser realizada; (b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoas jurídicas; e (c) eventuais bens suscetíveis de penhora. 3.1. Das três “indicações” citadas no texto da lei, apenas a primeira é obrigatória. Se o exequente não possuir os nomes completos do executado e seus números de inscrição no CPF ou CNPJ, poderá requerer ao juiz diligências para obtê-los. Por sua vez, não conhecendo o exequente bens do executado passíveis de penhora, caberá ao Estado-juiz buscá-los no processo executivo. Art. 799. Incumbe ainda ao exequente: I - requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário, quando a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; II - requerer a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação; III - requerer a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda registrada; IV - requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e venda registrada; V - requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário, em caso de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão; VI - requerer a intimação do proprietário de terreno com regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário; VII - requerer a intimação da sociedade, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada, para o fim previsto no art. 876, § 7º; VIII - pleitear, se for o caso, medidas urgentes; IX - proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros. * Correspondência legislativa: arts. 615, II, III, 615-A do CPC/73. Outras ref. normativas: V. arts. 252 a 256, CC. Sumário: 1. As intimações necessárias. Requerimento do exequente; 2. Requerimento e medidas urgentes; 3. Averbação da propositura da execução e dos atos de constrição. 1. As intimações necessárias. Requerimento do exequente. O art. 799 impõe ao exequente uma série de providências, a grande maioria delas visando à preservação do direito e do interesse de terceiros. 1.1. O inc. I prevê a obrigação do exequente de intimar o titular da garantia real quando o bem estiver gravadopor penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária. 1.2. O inc. II, por sua vez, exige a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação, quando a penhora recair sobre bem gravado por usufruto, uso ou habitação. 1.3. Os incs. III e IV tratam da necessidade de intimação diante de compromisso de compra e venda registrado que, nos termos da lei civil, gera direito real. O compromissário comprador deverá ser intimado quando a penhora recair sobre o bem objeto da promessa de compra e venda; se, ao revés, a penhora recair sobre o direito aquisitivo derivado do instrumento, o promitente vendedor será intimado. 1.4. Os incs. V e VI referem-se aos imóveis submetidos ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão. Penhorado o bem imóvel, será intimado o superficiário, enfiteuta ou concessionário; se a penhora recair sobre os direitos do superficiário, do enfiteuta ou do concessionário, o proprietário do terreno será intimado. 1.5. A hipótese tratada no inc. VII diz respeito à penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima fechada por terceiro alheio à sociedade. Nessa situação, a sociedade deverá ser intimada, ficando responsável por informar aos sócios a ocorrência da penhora, assegurando-se a estes a preferência, nos termos do § 7.º do art. 876. 2. Requerimento e medidas urgentes. O inc. VIII foge completamente à regra até então respeitada neste dispositivo. Todas as providências adrede mencionadas tratam de dar conhecimento a terceiros com algum tipo de garantia ou preferência. Ao contrário, o inc. VIII diz respeito tão somente ao exequente que poderá pleitear medidas urgentes visando proteger a utilidade da execução ou mesmo antecipar sua satisfação, desde que, obviamente, preenchidos os requisitos autorizadores para tanto (arts. 294 e ss.). 3. Averbação da propositura da execução e dos atos de constrição. Por fim, o inc. IX retoma a temática dominante pelo dispositivo e prevê a necessidade do exequente proceder à averbação em registro público do ato de propositura da execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros. Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, esse será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato. § 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo determinado. § 2º A escolha será indicada na petição inicial da execução quando couber ao credor exercê- la. * Correspondência legislativa: art. 571, §§ 1.º e 2.º, do CPC/73. Procedimento nas obrigações alternativas. Diz-se que uma obrigação é alternativa quando houver mais de uma forma para cumpri-la. A escolha pode recair ao credor ou ao devedor, sendo certo que, na ausência de regra a esse respeito, a escolha competirá ao devedor. 1.1. Assim, cabendo ao devedor, este será citado para realizar a prestação, pela forma que lhe aprouver, no prazo de 10 (dez) dias, salvo se houver outro prazo pela lei ou pelo contrato. Se ele, devedor, não fizer a escolha no prazo que lhe foi assinalado, caberá ao credor fazer a opção. 1.2. Se a escolha couber ao credor, este fará a opção na própria petição inicial. Art. 801. Verificando que a petição inicial está incompleta ou que não está acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da execução, o juiz determinará que o exequente a corrija, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de indeferimento. * Correspondência legislativa: art. 616 do CPC/73. A emenda da petição inicial. O art. 801 repete regra já conhecida. Incompleta a petição inicial ou desacompanhada dos documentos indispensáveis, o juiz deverá determinar sua emenda no prazo de 15 dias. Só após escoado este prazo in albis é que o juiz poderá indeferi-la. Basicamente, além dos requisitos essenciais a toda e qualquer petição inicial (arts. 319 e 320), cumpre ao exequente cumprir o roteiro estabelecido no art. 798. As exigências do art. 799 raramente serão cumpridas na petição inicial, salvo quando o exequente conhece, a priori, os bens que serão excutidos e que sobre eles recai algum tipo de garantia ou preferência de terceiros. Art. 802. Na execução, o despacho que ordena a citação, desde que realizada em observância ao disposto no § 2º do art. 240, interrompe a prescrição, ainda que proferido por juízo incompetente. Parágrafo único. A interrupção da prescrição retroagirá à data de propositura da ação. * Correspondência legislativa: arts. 617 e 219, § 1.º, do CPC/73. 1. Citação e interrupção da prescrição na execução. O art. 802 está em harmonia com a regra estabelecida no art. 202,2 I, do CC, segundo a qual se interrompe a prescrição “por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual”. Por sua vez, o parágrafo único guarda consonância com o § 1.º do art. 240 do NCPC: “a interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação”. 1.1. A regra, como se vê – e nem poderia ser diferente – é a mesma para o processo de conhecimento e para o processo de execução. O despacho que ordena a citação interrompe, na ação de conhecimento e na ação de execução, a contagem da prescrição. Para tanto, nos termos do § 2.º do art. 240, o autor deverá adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para a realização da citação. Isso não quer dizer que a citação deverá ocorrer nos tais 10 (dez) dias, porquanto a parte não pode ser prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário (§ 3.º do art. 240), mas é preciso que o autor não se quede inerte. Por fim, vale o registro que se tratando de execução de título extrajudicial, o prazo de prescrição é aquele instituído pela lei material que regula o título executivo em questão (cheque, nota promissória etc.). Art. 803. É nula a execução se: I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível; II - o executado não for regularmente citado; III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo. Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos à execução. * Correspondência legislativa: art. 618, I, II, III, do CPC/73. Sumário: 1. Vícios na execução. Nulidade; 2. Falta de certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação; 3. Ausência de citação regular; 4. Não comprovação da verificação da condição ou termo; 5. Desnecessidade de embargos para suscitar os vícios. 1. Vícios na execução. Nulidade. Seguindo a mesma fórmula do CPC/73, o Novo Código de Processo Civil tarifa de nula a execução em três situações, a saber: (a) quando o título não espelhar uma obrigação certa, líquida e exigível; (b) quando o executado não for regular citado; e (c) se a execução for instaurada antes de se verificar a condição ou ter ocorrido o termo. 1.1. Tecnicamente, o termo nulidade empregado neste dispositivo deve ser lido como vícios. Não nos cabe, em sede de comentários, polemizar acerca da natureza jurídica de cada uma das situações previstas nos três incisos deste art. 803. Todas as três são questões de ordem pública e, portanto, matérias sujeitas a controle oficial pelo juiz da execução que podem ser declaradas e arguidas a qualquer tempo. 2. Falta de certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação. O vício consistente na falta de certeza, liquidez e/ou exigibilidade da obrigação constantedo título, não há dúvida, macula o próprio título executivo. Assim, quer se considere o título executivo uma condição da ação executiva, quer o considere um pressuposto processual, quer o situe na causa de pedir da execução, o fato é que, sem título, não há execução (nulla executio sine titulo). 3. Ausência de citação regular. A ausência de citação, para alguns, é vício que conduz à inexistência jurídica do processo e, para outros, situa-se no plano da validade. Não há dúvida, seja no plano da inexistência, seja no da validade, que o vício em questão é dos mais graves e fere de morte o processo de execução, conduzindo-o à extinção. 4. Não comprovação da verificação da condição ou termo. A não comprovação da ocorrência da condição ou termo é vício que parece macular a exigibilidade da obrigação, correspondendo à situação processual de falta de condição da ação executiva, diante da inexigibilidade da obrigação. 5. Desnecessidade de embargos para suscitar os vícios. O parágrafo único deixa clara a desnecessidade de embargos à execução para alegação destas matérias, as quais podem ser suscitadas por simples petição. Podem, inclusive, ser reconhecidas de ofício. Art. 804. A alienação de bem gravado por penhor, hipoteca ou anticrese será ineficaz em relação ao credor pignoratício, hipotecário ou anticrético não intimado. § 1º A alienação de bem objeto de promessa de compra e venda ou de cessão registrada será ineficaz em relação ao promitente comprador ou ao cessionário não intimado. § 2º A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído direito de superfície, seja do solo, da plantação ou da construção, será ineficaz em relação ao concedente ou ao concessionário não intimado. § 3º A alienação de direito aquisitivo de bem objeto de promessa de venda, de promessa de cessão ou de alienação fiduciária será ineficaz em relação ao promitente vendedor, ao promitente cedente ou ao proprietário fiduciário não intimado. § 4º A alienação de imóvel sobre o qual tenha sido instituída enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso será ineficaz em relação ao enfiteuta ou ao concessionário não intimado. § 5º A alienação de direitos do enfiteuta, do concessionário de direito real de uso ou do concessionário de uso especial para fins de moradia será ineficaz em relação ao proprietário do respectivo imóvel não intimado. § 6º A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído usufruto, uso ou habitação será ineficaz em relação ao titular desses direitos reais não intimado. * Correspondência legislativa: art. 619 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. art. 1.501, CC. Ineficácia da alienação forçada por falta de intimação. Este dispositivo trata da ineficácia da alienação forçada por falta de intimação dos credores e demais terceiros, quase todos previstos no art. 799. São eles: o credor pignoratício, hipotecário ou anticrético; o promitente comprador ou cessionário, de imóvel objeto de promessa de compra e venda ou cessão registradas; o concedente ou o concessionário de bem sobre o qual tenha sido instituído direito de superfície; o proprietário fiduciário; enfiteuta ou concessionário de direito real; titular de usufruto, uso ou habitação. 1.1. Não se trata de mera repetição daquela regra, porquanto aquela impõe a intimação da execução destes terceiros (dada a penhora havida no bem objeto da garantia), ao passo que esta exige a intimação da alienação, sob pena de ineficácia. 1.2. Assim, voltando-se os atos executivos contra bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária; bem objeto da promessa de compra e venda; ou ainda imóveis submetidos ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou concessão; há necessidade de duas intimações, uma acerca da penhora, para que estes terceiros possam acompanhar a execução; e outra, da alienação, permitindo o exercício do direito de preferência. 1.3. A consequência trazida pela lei para a não intimação da alienação é a ineficácia. A alienação judicial será, pois, válida, porém ineficaz em relação àquele que deveria ter sido intimado e não foi, cujo direito, crédito ou execução não fica prejudicado com a alienação. Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. * Correspondência legislativa: arts. 620 e 668 do CPC/73. Outras ref. normativas: V. Súmula 417, STJ. Sumário: 1. O princípio da menor onerosidade da execução; 2. A penhora on line e o princípio da menor onerosidade; 3. Execução equilibrada; 4. Prova da existência de meios menos gravosos. Ônus do executado. 1. O princípio da menor onerosidade da execução. Este dispositivo positiva o chamado princípio da menor gravosidade ao executado ou menor onerosidade da execução. 3 Havendo mais de um meio para a prestação da tutela jurisdicional executiva, esta deve se efetivar pelo meio menos gravoso ao executado. O foco do dispositivo não está propriamente na escolha do tipo de execução, mas sim nos atos executivos, esses sim, quando possível, devem ser menos gravosos ao executado. 2. A penhora on line e o princípio da menor onerosidade. É interessante observar que quando a Lei 11.382/2006 redefiniu, no âmbito do CPC/73, a ordem preferencial dos bens penhoráveis, alçando o dinheiro como bem prioritário à excussão, generalizou-se, no âmbito do processo civil, a chamada “penhora on line”, trazendo enorme discussão doutrinária e jurisprudencial de seu embate com o princípio da menor onerosidade.4 2.1. A discussão evoluiu ao ponto do Superior Tribunal de Justiça, em 05.03.2010, editar a Súmula 417, com o seguinte teor: “Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação de bens não tem caráter absoluto”. 3. Execução equilibrada. É certo que o princípio da menor onerosidade não pode ser analisado isoladamente. Ao lado dele, há outros princípios informativos do processo de execução, dentre eles, o da máxima utilidade da execução, que visa à plena satisfação do exequente. Cumpre, portanto, encontrar um equilíbrio entre essas forças, aplicando-se o princípio da proporcionalidade, com vistas a buscar uma execução equilibrada, proporcional.5 © desta edição [2016] 4. Prova da existência de meios menos gravosos. Ônus do executado. O parágrafo único – sensível à menor gravosidade, porém consciente de que a execução, ao fim e ao cabo, representa a força do Estado-juiz contra o devedor inadimplente – impõe ao executado o ônus de apontar outro caminho menos gravoso, porém igualmente efetivo, para a execução, sob pena dos atos executivos serem mantidos, mesmo que mais onerosos ao executado. FOOTNOTESFOOTNOTES 1. STJ, REsp 2435/MG, 4.ª T., j. 01.12.1994, rel. Min. Bueno de Souza, DJ 28.08.1995. 2. “Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual.” 3. Confira os seguintes do STJ sobre o princípio da menor onerosidade na execução: (a) “A jurisprudência da Primeira Seção do STJ, ratificada em julgamento submetido ao regime do art. 543-C do CPC, é no sentido de que a Fazenda Pública pode apresentar recusa ao oferecimento de precatório à penhora, se não observada a ordem legal dos bem penhoráveis, pois inexiste preponderância, em abstrato,do princípio da menor onerosidade para o devedor sobre o da efetividade da tutela executiva. Exige-se, para a superação da ordem prevista nos arts. 655 do CPC e 11 da LEF, argumentação baseada em elementos do caso concreto” (STJ, AgRg no AREsp 582715/DF, 2.ª T., j. 25.11.2014, rel. Min. Herman Benjamin, DJe 04.12.2014). (b): “O Tribunal de origem, com base nos elementos de prova, concluiu que a penhora sobre 20% do faturamento da empresa não caracteriza violação do princípio da menor onerosidade. Alterar esse entendimento é inviável em recurso especial, ante o óbice da referida súmula” (AgRg no AREsp 389440/SP, 4.ª T, j. 20.11.2014, rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, DJe 28.11.2014). (c): “O princípio da menor onerosidade do devedor, insculpido no art. 620 do CPC, tem de estar em equilíbrio com a satisfação do credor, sendo indevida sua aplicação de forma abstrata e presumida, cabendo ao executado fazer prova do efetivo prejuízo” (STJ, AgRg no AREsp 540498/PR, 2.ª T., j. 18.09.2014, rel. Min. Humberto Martins, DJe 29.09.2014). (d): “Ausência de violação do art. 620 do CPC, pois a recusa do credor não importa violação do princípio da menor onerosidade, visto que a execução se dá também no interesse da satisfação do credor”. (e): “Como a Lei 9.514/97 promove o financiamento imobiliário, ou seja, objetiva a consecução do direito social e constitucional à moradia, a interpretação que melhor reflete o espírito da norma é aquela que, sem impor prejuízo à satisfação do crédito do agente financeiro, maximiza as chances de o imóvel permanecer com o mutuário, em respeito, inclusive, ao princípio da menor onerosidade contido no art. 620 do CPC, que assegura seja a execução realizada pelo modo menos gravoso ao devedor”” (STJ, REsp 1433031/DF, 3.ª T., j. 03.06.2014, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 18.06.2014). (f): “A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que ‘É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da empresa, desde que o percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade empresarial, sem que isso configure violação do princípio da menor onerosidade para o devedor, posto no art. 620 do CPC’” (STJ, AgRg no AREsp 242970/PR, 1.ª T., j. 13.11.2012, rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe 22.11.2012). 4. Sobre o assunto: (a) “Na execução de dívida relativa a taxas condominiais, ainda que se trate de obrigação propter rem, a penhora não deve necessariamente recair sobre o imóvel que deu ensejo à cobrança, na hipótese em que se afigura viável a penhora on line, sem que haja ofensa ao princípio da menor onerosidade ao executado” (STJ, REsp 1275320/PR, 3.ª T., j. 02.08.2012, rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 31.08.2012). (b): “Quanto à possibilidade da penhora on-line Bacen-Jud sem necessidade de exaurimento de medidas menos gravosas, a eg. Segunda Seção deste c. Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.112.943/MA (Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 23.11.2010), processado nos moldes do art. 543-C do CPC, firmou entendimento no sentido de que ‘após o advento da Lei 11.382/2006, o Juiz, ao decidir acerca da realização da penhora on-line, não pode mais exigir a prova, por parte do credor, de exaurimento de vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados’” (STJ, AgRg no AREsp 489842/SC, 3.ª T., j. 10.06.2014, rel. Min. Sidnei Beneti, DJe 25.06.2014). 5. “O chamado ‘princípio da menor gravosidade ao executado’, por sua vez, é expresso no art. 620: havendo alternativas à prestação da tutela jurisdicional executiva, aí compreendidas as atividades que veiculam, o modo menos gravoso, isto é, menos oneroso, ao executado, aquela que sofre a tutela executiva, deve ser eleito. Trata-se de diretriz que, em última análise, deriva do princípio da ampla defesa, de estatura constitucional. (...) A ‘execução equilibrada’ aqui examinada, destarte, não é, propriamente, um ‘princípio’ da tutela jurisdicional executiva mas, diferentemente, um verdadeiro resultado desejável da escorreita aplicação, em cada caso concreto, dos princípios do ‘resultado’ e da ‘menor gravosidade da execução’” (Cassio Scarpinella Bueno. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil: tutela jurisdicional executiva. v. 3. n. 3.7. , p. 62-63. São Paulo: Saraiva, 2012).
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