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CEJUS_Aula 09 e 10 - Direito Administrativo

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DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
Primeira Fase da OAB 
9ª Aula 
Prof. José Aras 
 
 
INTERVENÇÃO DO ESTADO SOBRE A PROPRIEDADE PRIVADA 
 
1. Generalidades: 
A base das intervenções, além do princípio da supremacia do interesse público sobre o 
interesse privado, é a noção da FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE PRIVADA; 
A propriedade tem que atender a sua função social; 
O Estado por intervir na propriedade privada, essa intervenção irá depender da 
necessidade do Estado, mas sempre prevalecendo o interesse público; 
 
Intervenção Restritiva = apenas restringe o direito de propriedade; NÃO toma a 
propriedade; o proprietário continua sendo dono; são elas: limitação administrativa, 
requisição, ocupação temporária, tombamento e servidão administrativa; 
 
Intervenção Supressiva = restringe o direito de propriedade, retira do dono a propriedade; 
SÓ existe uma espécie de intervenção supressiva; suprime o direito do proprietário; ex: 
desapropriação; 
 
2. Espécies de Intervenção: 
a) Limitação Administrativa: 
As limitações administrativas são marcadas por um caráter geral; 
Essas limitações NÃO dá direito a indenização; 
Não dá direito a indenização justamente pelo caráter geral, que não especifica o individuo; 
Ex: altura máxima de prédios (gabarito); recuo obrigatório; rodízio de veículos; 
 
 
 
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b) Requisição; 
As requisições são marcadas por um caráter emergência; caráter de urgência; 
Caráter específico, por isso dá direito a INDENIZAÇÃO; essa indenização é posterior, se 
houver dano; 
O Estado (de modo amplo) pode requisitar uma propriedade por medida de urgência; 
A requisição incide sobre bens MÓVEIS, IMÓVEIS e também sobre SERVIÇOS; 
Ex: imóveis para abrigar pessoas; veículos para dar socorro; 
 
c) Ocupação temporária: 
Incide sobre IMÓVEIS vizinhos a obras públicas, para viabilizar a sua execução; 
Essa intervenção dá direito a INDENIZAÇÃO; 
São amplos os conceitos de vizinho e obra pública; 
Ex: escavações arqueológicas, perfuração de poços; 
 
d) Tombamento: 
Espécie de intervenção do estado sobre a propriedade privada, que visa a PROTEÇÃO 
do patrimônio histórico, artístico e cultural nacional; 
NÃO pode ser bem estrangeiro; 
O tombamento é realizado por órgãos públicos ou entidades da Administração Pública 
INDIRETA; 
No plano Nacional o tombamento é realizado pelo IPHAN; 
O tombamento incide sobre bens MÓVEIS, IMÓVEIS, CORPOREOS e 
EXTRACORPOREOS; 
Ex: Cristo Redentor; a casa de Santos Drumond; Igreja do Bonfim; Acarajé; Capoeira; 
Toalha de renda; 
 
d.1. Classificação de tombamento: 
i. Geral ou Individual: geral quando envolver vários bens, e individual quando envolver 
apenas um bem; 
ii. Definitivo ou Provisório: definitivo ocorre quando se tem certeza do valor histórico do 
bem; provisório, ocorre quando a certificação ainda depende de estudos, porém há o 
interesse de proteger o bem, por cautela; o tombamento definitivo deve ser inscrito no 
 
 
 
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registro de imóveis (para dar conhecimento à terceiros); 
iii. Tombamento de ofício ou mediante processo: o tombamento de ofício incide sobre 
bens Públicos; o tombamento mediante processo incide sobre bens Privados; 
 
Diferentemente do que ocorre na desapropriação, o tombamento NÃO precisa obedecer a 
hierarquia política; ex: Município pode tombar bem da União; 
 
iv. O tombamento mediante processo se subdivide em: 
a) Tombamento Voluntário: quando o proprietário pede ou aceita o tombamento; não é o 
mais comum; 
b) Tombamento Compulsório: é o tombamento obrigatório; 
 
Efeitos do Tombamento: 
 Esses efeitos se são efetivos, atinge tanto os proprietários, como órgãos ou 
entidades e os vizinhos; 
 Efeitos aos Proprietários: tem como obrigação conservar a coisa tombada; quando 
ele não pode manter, deve comunicar ao IPHAN para este manter; existe uma 
proibição para o proprietário de modificar a coisa tombada; o proprietário deve 
requere autorização para retirar o bem do país (quando esse bem é móvel / essa 
autorização é prévia); em caso de alienação onerosa, o proprietário deve garantir o 
direito de preferência ao poder público; o proprietário pode vender o bem tombado, 
DESDE que dê preferência ao Estado; 
 
 Efeitos ao IPHAN: efeito principal é a fiscalização; quando o proprietário não tem 
recursos, o IPHAN tem que manter/conservar esse bem; 
 
 Efeitos aos Vizinhos: os vizinhos ao bem tombado tem um dever de suportar os 
efeitos do tombamento dentro da denominada área de entorno; de modo que NÃO 
podem realizar construções, pinturas, colocar placas, ou quaisquer outras coisas 
que tirem a visibilidade do bem tombado; esses imóveis na área de entorno 
sujeitam-se em razão do tombamento a uma servidão administrativa; 
 
 
 
 
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O tombamento NÃO gera direito a indenização; 
Quando em razão do tombamento o bem sofrer uma excessiva desvalorização, terá o 
proprietário direito a indenização em razão da caracterização de uma Desapropriação 
Indireta; 
 
A DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA é um fato administrativo ilegal (apossamento 
administrativo), que consiste na retirada da propriedade pela Administração sem o regular 
processo de desapropriação; 
 
O bem tombado pode ser gravado (penhor/hipoteca); 
 
O bem imóvel tombado pode ser desapropriado; 
 
e) Servidão Administrativa: 
É uma intervenção do Estado de natureza real sobre a coisa alheia; 
Na servidão administrativa a coisa dominante é um serviço público, e a coisa serviente é a 
propriedade do particular; 
Como todo direito real a servidão tem caráter perpétuo; 
Serviço contínuo; 
Ex: transmissão de energia elétrica; dutos; placas com o nome da rua; pista de pouso; 
A servidão pode ser imposta mediante LEI, CONTRATO ou SENTENÇA; 
NÃO é autoexecutória (não é por mero ato administrativo); 
A servidão imposta por lei NÃO gera direito a indenização; porque a lei tem caráter 
genérico; 
A servidão imposta por sentença ou contrato, DÁ direito a indenização; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Modalidade de 
intervenção 
Incidência Exemplos Dinheiro 
Limitação 
Administrativa; 
Geral / genérica; Altura máxima de 
prédio (gabarito), 
recuo; 
NÃO dá direito a 
indenização; 
Requisição; Específica; incide 
também sobre 
serviços; 
Envolvendo 
emergências; 
Dá direito a 
indenização; 
Ocupação Temporária; Incide sobre imóveis 
vizinhos a obras 
públicas; 
Obras; Dá direito a 
indenização, 
posterior em caso 
de dano; 
Tombamento Bens materiais e 
imateriais, bens 
imóveis e móveis 
Patrimônio histórico, 
cultural nacional; 
NÃO dá direito a 
indenização; 
Servidão Bens móveis e imóveis; Pista de pouso, placas 
em ruas; 
Se decorrente de 
Lei = NÃO dá 
direito a 
indenização; 
Sentença ou 
contrato = dá 
direito a 
indenização; 
 
OBS: Essas intervenções acima são as hipóteses de intervenções restritivas; restringe o 
direito inerente à propriedade; usar ou gozar a coisa; 
 
f) Desapropriação: 
Trata-se de hipótese de intervenção supressiva; 
Incide sobre quaisquer tipos de bens (bens materiais, imateriais, móveis, imóveis...), 
exceto sobre os direitos personalíssimos e sobre a moeda corrente; 
A desapropriação se configura como modo originário de aquisição da propriedade; 
A desapropriação se divide em dois grandes grupos: 
 
Desapropriação com Caráter Sancionatório: 
Correspondem a penalidades impostas ao proprietário, que NÃO cumpriu a função social 
da propriedade privada; 
São três tipos de desapropriação com caráter sancionatório: 
a)Sancionatória Urbana: é de competência exclusiva dos Municípios; o pagamento da 
indenização, embora justo, NÃO será prévio e nem em direito, o pagamento será através 
de título da dívida pública, no prazo de 10 anos; 
 
 
 
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O descumprimento da função social da propriedade urbana não gera, de imediato, a 
desapropriação sancionatória; não é automático; isto porque o Município deve obedecer a 
um determinado iter (percurso) composto de duas medidas anteriores: 
- O primeiro passo do iter, quando se constata que o proprietário não esta cumprindo a 
função social, é a NOTIFICAÇÃO do proprietário, para que este faça o parcelamento ou a 
edificação compulsória do bem; a ideia é forçar ao proprietário cumprir a função social; 
- O segundo passo do iter é o IPTU progressivo no tempo; o prazo desse IPTU é de cinco 
(05) anos, 15%; 
- O terceiro passo é a desapropriação (TDA), em 10 anos; 
 
É obrigatório que o Município tenha plano diretor (PDDU) + uma lei específica para a 
área; 
 
b) Sancionatória Rural: incide quando há o descumprimento da função social da 
propriedade rural; essa desapropriação é de competência exclusiva da União; essa 
desapropriação é materializada através do INCRA; 
Toda desapropriação sancionatória rural é feita para fins de reforma agrária (INCRA); 
O pagamento é através de títulos da dívida agrária; o resgate desse título é de 20 anos, 
com dois anos de carência; 
 
Essa modalidade de desapropriação NÃO incide em dois momentos: 
a) Quando a propriedade for produtiva; 
b) Quando se tratar de pequena ou média propriedade rural, DESDE que não tenha mais 
uma propriedade; 
 
Se na propriedade tiver benfeitorias úteis ou necessárias, os pagamentos destas serão 
prévio e em dinheiro; 
A utilização inadequada de recurso naturais, e também a utilização de mão de obra 
análoga a escravo geram o descumprimento da função social, e portanto essa 
desapropriação; 
 
 
 
 
 
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c) Sancionatória Confiscatória: é de competência exclusiva da União; NÃO há 
indenização; a causa dessa desapropriação é a utilização da terra para plantação e 
cultivo de substancias psicotrópicas; 
Observar que a plantação deve ser ILEGAL; 
O confisco alcança todos os demais bens vinculados ao tráfico de entorpecentes; 
Alcança também a gleba inteira; a gleba confiscada irá servir para o assentamento de 
colonos, e os produtos apreendidos serão leiloados e revestidos para aparelhamento da 
polícia, e para programas de recuperação de viciados; 
 
Desapropriação sem Caráter Sancionatório: 
Nessas hipóteses o proprietário cumpre a função social, PORÉM há um interesse público 
que justifica a desapropriação; 
Nessas hipóteses a indenização deve ser justa, prévia e em dinheiro; 
 
Existem duas espécies sem caráter de sanção: 
a) Desapropriação por Utilidade Pública: alguns autores falam de desapropriação por 
necessidade; é de competência concorrente entre a União, os Estados, DF e os 
Municípios; 
Daí porque, qualquer Ente Federado pode desapropriar bens urbanos ou rurais; 
Essa desapropriação não sancionatória também incide sobre bens públicos, PORÉM 
desde que se obedeça a hierarquia política; 
É realizada por meio de um processo administrativo divido em duas fases: a primeira fase 
é a declaratória, e a segunda fase é executória; 
 
b) Desapropriação por Interesse Social: é de competência concorrente entre a União, os 
Estados, DF e os Municípios; 
Daí porque, qualquer Ente Federado pode desapropriar bens urbanos ou rurais; 
Essa desapropriação não sancionatória também incide sobre bens públicos, PORÉM 
desde que se obedeça a hierarquia política; 
É realizada por meio de um processo administrativo divido em duas fases: a primeira fase 
é a declaratória, e a segunda fase é executória; 
 
 
 
 
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Na fase declaratória a pessoa política declara o motivo e a finalidade da desapropriação; 
essa fase corresponde ao poder de polícia (que é indelegável); essa fase declaratória é 
exclusiva a competência da União, Estados, DF e dos Municípios; 
Quem declara a desapropriação é o Poder Legislativo ou Poder Executivo; mediante o 
chefe do Poder, através de lei ou decreto; 
Nessa fase declaratória o poder público pode penetrar no bem para fazer as avaliações; 
 
A fase executória vem depois da fase declaratória, e pode ser delegada; quem pode 
promover a fase executória é a pessoa política ou seus delegatários; 
O proprietário aceitando o valor da desapropriação, na fase declaratória, a fase executória 
resolve-se de forma amigável; 
Quando o proprietário não concorda com o valor oferecido na desapropriação, resolve-se 
na via judicial; 
 
Conceitos Fundamentais: 
1. Destinação: é a finalidade da desapropriação; é o destino da desapropriação; 
 
2. Tredestinação: corresponde ao desvio desse destino; ela se divide em: 
a) Tredestinação Licita: mudou o destino, mas manteve atendido o interesse público; ex: 
desapropria o bem para a construção de uma escola, mas depois resolve construir um 
hospital público; essa tredestinação não gera nenhuma consequência jurídica; 
 
b) Tredestinação Ilícita: quando há o desvio, mas não há interesse público; ex: 
desapropria para construir uma escola, mas depois constrói uma borracharia, e transfere 
para um particular; essa tredestinação gera a retrocessão; 
 
3. Retrocessão: é a consequência da tredestinação ilícita; alguns autores acham que a 
retrocessão tem natureza de direito real, devendo reivindicar a coisa de volta; outros 
autores acham que a retrocessão tem natureza obrigacional, tendo direito a uma 
indenização; Art. 35 do decreto/lei 3.365/41; 
 
 
 
 
 
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4. Direito de Extensão: ocorre quando o Estado desapropria uma parte da propriedade, 
deixando apenas uma pequena parte, desvalorizada; 
É o direito do proprietário de que a desapropriação alcance todo o imóvel, quando sobrar 
uma parte sem valor econômico; 
Direito de estender a desapropriação; 
 
OBS: NÃO confundir recuo obrigatório com realinhamento; 
Realinhamento corresponde a uma desapropriação, e gera direito a indenização;

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