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Obrigações de Dar Coisa Certa no Direito Civil

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FACULDADES INTEGRADAS BARROS MELO
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL II
WENDERSON GOLBERTO ARCANJO
FICHAMENTO 4 – DAS OBRIGAÇÕES DE DAR.
1 – FORMAS: A obrigação de dar positiva, pode aparecer de duas formas, seja entrega ou restituição. O devedor pode entregar coisa certa ou incerta, bem como restituir coisa certa ou incerta.
	Alguns autores diferenciam a obrigação de dar das de entregar, sendo a primeira a transmissão da propriedade do bem, enquanto que a segunda transmite somente a posse.
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA
2 – NOÇÃO E CONTEÚDO: A noção de coisa certa está relacionada a algo determinado. Assim sendo a coisa certa tem como característica ser individualizada, ou seja, destacasse das demais, seus atributos são claros e a torna coisa única, como o chassis de um carro, a cor, etc. 
	Já na coisa incerta, a palavra que aparece é o gênero e qualidade (Art. 243, CC/02), não importa para essa coisa qual o bem preciso a ser entregue, mas sim o gênero do mesmo, imagine um contrato de venda de café, onde o vendedor se compromete a entregar vinte garrafas de vinho, não especificando qual o vinho.
	Com relação a obrigação de dar coisa certa, esta transmite ao credor o simples direito pessoal (jus ad rem) e não o direito real (jus in re), ou seja, ela só transmite um direito em potencial, ao passo que a última transmite o direito efeito sobre a coisa, assim sendo não se tem como falar em ação por parte do credor para obrigar o devedor a lhe entregar coisa certa, quem faz o papel de transmissão é a tradição para os bens móveis e o registro para os bens imóveis.
	SILVIO RODRIGUES em sentido contrário diz que o credor tem sim o direito de impetrar uma ação para obter coisa certa, só sendo utilizada a perdas e danos em momento que não for possível ao devedor suprir sua obrigação ou o constranger fisicamente.
	Com uma reforma realizada no código civil, autorizou o juiz nos casos de fazer e não fazer, utilizar da força coercitiva para persuadir o devedor. Mais tarde essa autorização foi estendida aos casos de dar, tornando agora permitido ao credor perseguir coisa devida, por uso da força (pacta sunt servanda) ou da própria lei.
	Por fim, não cabe ação de reintegração ou coerção por parte do credor, quando o devedor alienar um bem que pertence ao credor (jus ad rem), direito pessoal, cabendo somente ação de perdas e danos, uma vez que esse direito não é erga omnes.
3 – IMPOSSIBILIDADE DE ENTREGA DE COISA DIVERSA, AINDA QUE MAIS VALIOSA: Não é permitido ao devedor entregar coisa diferente da obrigação ao credor, mesmo que seja mais valiosa, isso por que o credor tem o direito de receber aquilo que ele deseja, da mesma forma não pode o credor exigir do devedor coisa contraria ao que define a obrigação, mesmo que seja menos valiosa, nesse caso torna-se inaplicável a regra da obrigação facultativa.
	É possível a chamada doação em pagamento, na qual o devedor entrega um objeto em troca da dívida por dinheiro, isso se o credor aceitar. Nos casos de comodato ou depósito, não será possível essa compensação, uma vez que o credor tem o direito a ter restituída a própria coisa emprestada.
4 – TRADIÇÃO COMO TRANSFERÊNCIA DOMINIAL: No direito Brasileiro a presença da tradição tem vital importância na transferência real dos objetos móveis, isso por que o simples contrato não representa nada mais que uma comprovação do vínculo jurídico, mas se não houver a tradição, o bem continuará como propriedade do devedor. Do mesmo modo o direito real do credor sobre um bem imóvel, só ocorre após a registrada do mesmo em cartório.
	O negócio jurídico de alienação se divide em real, simbólica e ficta, o primeiro ocorre quando temos a entrega efetiva do objeto, o segundo quando um ato traduz a tradição, entregar as chaves do apartamento, e a ficta ocorre quando um vendedor entrega o domínio sobre o seu objeto a outro, conservando a mesma em seu poder, dessa forma ele age na condição de locatário.
5 – DIREITO AO MELHORAMENTOS E ACRESCIDOS: Como já se sabe, a transferência do domínio da coisa só ocorre com a tradição ou o registro, dessa forma não se obriga o devedor a repassar os melhoramentos que o tenha feito, da mesma forma são os frutos. Porém se a coisa com o tempo, apresentar acrescidos ou melhoramentos, não será o credor obrigado a devolvê-la, desde que não tenha o devedor tido despesas ou trabalho (Art. 241, CC/02).
	Ainda temos a situação em que o bem do devedor gera frutos e melhoramentos, em virtude do trabalho do mesmo, que age de boa-fé, neste caso faz jus o devedor de indenização, além disso se o mesmo realizar benfeitorias ou aumentos necessários e úteis, sendo os melhoramentos voluptuários passíveis de indenização, quando o puder sem detrimento da coisa. O devedor ainda pode exercer o direito de retenção, utilizando do poder coercitivo para obrigar o credor a restitui-lo, evitando assim o enriquecimento indevido. Se o devedor estava de má-fé, terá somente o direito aos melhoramentos necessários.
	Os frutos percebidos (colhidos) são de propriedade do devedor, que age de boa-fé, sendo o mesmo aplicado aos frutos industriais e aos frutos civis, a exemplo temos o juros, fruto percebido (de die in diem), neste sentido, ao quitar um empréstimo, deve o credor lhe cobrar somente pelo tempo que você passou com o dinheiro, devolvendo aquilo que recebeu antecipadamente.
	Um princípio geral regula as relações entre os frutos, benfeitorias, no direito civil, chamado de princípio do enriquecimento sem causa, ele garante ao devedor de má-fé jus em algumas situações, assim como ao credor de má-fé.
6 – ABRANGÊNCIA DOS ACESSÓRIOS: Como regra geral do direito civil o bem acessório sempre acompanha a coisa principal (acessorium sequitur suum principale), fato este que não se aplica nos casos das pertenças, sendo aplicado somente em casos de benfeitorias, frutos e produtos.
7 – OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR: A obrigação de entregar compreende o dever de entregar ou restituir, nos casos de coisa certa, porém imagine que no momento da entrega a coisa sofra perecimento ou deterioração, perda total ou parcial, neste caso se o devedor já recebeu pelo bem e não tem culpa (caso fortuito ou força maior), o princípio que rege essa situação é o (res perit domino), ou seja, a coisa perece ao dono, sendo o dono prejudicado.
	7.1 Perecimento sem culpa e com culpa do devedor: Nos casos de perda total de coisa certa antes da tradição, se a perda ocorre sem culpa do devedor, ficará resolvido para ambas as partes a obrigação, devendo voltar ao (statu quo ante), ou seja, restituir ao status anterior, devendo neste caso o vendedor devolver o dinheiro se já tiver recebido pelo produto, não ficando obrigado a pagar perdas e danos ao comprador, assegura Carlos Roberto Gonçalves:
Quem sofre o prejuízo, pois, na obrigação de entregar, que emerge de uma compra e venda, por exemplo, havendo perecimento da coisa, sem culpa, é o próprio alienante, pois continua sendo o proprietário, até a tradição (res perit domino). O princípio é reiterado no art. 492 do Código Civil: “Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador”.
	No caso de culpa, diz a legislação que a culpa autoriza a cobrança das perdas e danos, de forma equivalente, sendo assim o vendedor deverá reparar um bem em valor similar ao que sofreu o dano, bem como ressarci o comprador por suas perdas e danos, ou seja, o que o comprador perdeu e o que ele deixou de ganhar.
	7.2 Deterioração sem culpa e com culpa do devedor: A deterioração da coisa quando ocorre sem culpa do devedor, obriga o mesmo a diminuir o valor da coisa ou resolver a obrigação se a mesma não interessar mais ao credor (Art. 235, CC/02), porém em caso de culpa, além das regras citadas NO (Art. 235, CC/02), deverá o devedor ressarci o credor por perdas e danos (Art. 236, CC/02).
8 – OBRIGAÇÃO DE RESTITUIR: A obrigação de restituir é um subtipo da obrigação de dar, ocorrendo sempre que o devedor estiver usando objeto pertencente ao credor,nesse caso é preciso fazer um estudo detalhado dos riscos de danos totais ou parciais.
	8.1 Perecimento sem culpa e com culpa do devedor: Quando se fala de perecimento sem culpa, aplica-se a regra do (res perit domino), onde o prejuízo é repassado ao credor do objeto (Art. 238, CC/02), porém se o objeto estava em mora, ficará o devedor obrigado a restituir, mesmo que por força maior ou caso fortuito (Art. 399, CC/02).
	Se a coisa pareceu por culpa do devedor, neste caso o credor fara jus a perda e danos.
	8.2 Deterioração sem culpa e com culpa do devedor: As regras de deterioração são as mesmas da obrigação de entregar. Quando ocorre sem culpa do devedor, este não será obrigado a restituir, porém se a deterioração ocorre por culpa do devedor, a ele se aplicam as regras do (Art. 239, CC/02).
9 – DAS OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS: As obrigações pecuniárias, são aquelas em que o devedor é obrigado a solver dívida em dinheiro, tendo por objeto uma prestação em dinheiro e não uma coisa.
	No Brasil foi adotada o princípio do nominalismo, onde a dívida deverá ser ressarcida com o devedor entregando o valor nominal da mesma, não importando se o valor sofreu com a inflação. Para tentar resolver o problema gerado por esse princípio, foi instituído a cláusula de escala móvel, essa escala faz com que o valor da dívida seja reajustada de acordo com um índice de variação dos preços.
	A escala móvel, não se confunde com a chamada teoria da imprevisão, onde o juiz pode aplicar a mesma quando por um motivo extraordinário a prestação se mostrar extremamente onerosa a uma das partes (Art. 317, CC/02).
	Temos ainda como importante a distinção entre dívida de dinheiro e dívida de valor, a primeira ocorre quando o objeto é o próprio dinheiro, já a segunda ocorre quando o objeto é o valor correspondente ao dinheiro, exemplo do primeiro caso é quando você pega dinheiro emprestado com um banco, já no segundo caso, quando você por culpa deteriora objeto de outro.
	Conceito importante ainda é o de moeda de curso forçado, esse tipo de moeda é o que por lei deve ser utilizado para o pagamento da dívida, isso por que antigamente o devedor podia se liberar da dívida pagando em moeda que não fosse a nacional.
DAS OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA
10 – CONCEITO: Coisa incerta define-se ao menos por gênero e quantidade, assim sendo, quando a obrigação é de coisa em que se consta as característica de gênero e quantidade, estaremos diante de uma coisa incerta, já que a individualização é típica de coisa certa.
	Como exemplo vejamos o caso de um contrato em que se obrigue o devedor a entregar “dez sacas”, neste caso só está presente a quantidade, ou ainda se obrigue a entregar “sacas de café”, neste caso não ficou especificado a quantidade. O grande mestre ÁLVARO VILLAÇA AZEVEDO, criticou o termo usado pelo código de 1916, quando fazia referência ao termo “gênero”, para ele esse termo abrange muito, o correto deveria ser “espécie”, uma vez que, como gênero podemos ter “cereais”, imagine que o contrato seja do fornecimento de “dez sacas de cereais”, a coisa não será incerta, mas sim absolutamente incerta, fato não gera obrigação, nesse intuito o código foi reformulado.
11 – DIFERENÇAS E AFINIDADES COM OUTRAS MODALIDADES: A principal diferença entre a coisa certa e incerta é no que tange o objeto, já que na primeira a coisa é determinada, ao passo que na segunda é determinável.
	A coisa incerta ainda se confunde com obrigações fungíveis e alternativas, devendo ser observado com muita atenção o contrato para definir a coisa.
12 – DISCIPLINA LEGAL: 
	12.1 Indicação do gênero e quantidade: A indicação é obrigatória para que se aja uma obrigação de coisa incerta (Art. 243, CC/02).
	12.2 Escolha e concentração: A escolha é quem determina a qualidade da coisa incerta, feita essa escolha, o objeto passa a ser tratado como coisa certa (Art. 245, CC/02).
	O ato de escolha denomina-se concentração. Para que seja concretizado esse ato, se faz necessário a exteriorização da escolha, seja pela entrega, pagamento, depósito, etc. Se não for feita a escolha, a mesma fica facultada ao devedor (Art. 244, CC/02), porém esse artigo transforma o negócio em uma relação instável, uma vez que o devedor poderia dar a pior das coisas, nesse sentido foi estabelecido o meio-termo, isso obriga o devedor no caso de haver três produtos, a entregar sempre o do meio, nunca o pior, porém pode entregar o melhor.
	Temos uma exceção à regra da escolha, se ficar definido em contrato que caberá ao comprador, ou ainda, se as partes convencionarem, a terceiro estranho (Art. 1.930, CC/02).
	12.3 Gênero limitado e ilimitado: Com observação ao (Art. 246, CC/02), os efeitos das obrigações de dar coisa incerta, devem ser analisado sob duas óticas. A primeira ocorre antes da qualidade, que se difere após escolhida a mesma. Isso ocorre por que antes da qualidade o gênero é ilimitado, ou seja, a coisa é incerta, sendo dessa forma, o devedor não poderá reclamar perda ou deterioração, mesmo por força maior ou caso fortuito (genus nunquam perit), o gênero nunca perece, isso por que se o devedor se obrigar a entregar “dez sacas de café” e não especificar a saca, caso ele venha a perder a mesma, poderá a qualquer momento substituí-las, diferente do que ocorre quando o café é especificado.
	Ainda preleciona Carlos Roberto Gonçalves:
A expressão antes da escolha, que constava do art. 877 do Código de 1916 e foi reproduzida no art. 246 do novo diploma, tem sido criticada pela doutrina, pois não basta que o devedor separe o produto para entregá-lo ao credor, sendo mister realize ainda o ato positivo de colocá-lo à disposição deste. Só nesse caso ele se exonerará da obrigação, caso se verifique a perda da coisa. Enquanto esta não é efetivamente entregue, ou, pelo menos, posta à disposição do credor, impossível a desoneração do devedor, que terá sempre diante de si a parêmia genus nunquam perit.

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