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TEXTO 7 - MANCEBO, Deise. Modernidade e produção de subjetividades- breve percurso histórico. Psicol. cienc. prof. 2002

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Psicologia: Ciência e Profissão 
versão impressa ISSN 1414-9893 
Psicol. cienc. prof. vol.22 no.1 Brasília mar. 2002 
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932002000100011 
Modernidade e produção de subjetividades: breve percurso 
histórico1 
Deise Mancebo 
Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 
RESUMO 
O trabalho problematiza uma das categorias fundadoras da psicologia - o “ indivíduo” -, 
através de um aporte histórico. Primeiramente, reconhecendo os efeitos ideológicos da 
preeminência da representação do indivíduo como valor - oposto ou antagônico ao da sociedade 
- no âmbito da cultura ocidental moderna, analisa a formação dessa subjetividade 
individualizada na modernidade, com a definição de algumas características básicas que lhe 
foram dando contorno e densidade. Apresenta a modernidade como um momento específico de 
hegemonização da ideologia individualista, através da implantação de instituições políticas 
crescentemente comprometidas com os valores da liberdade e da igualdade, ou como espaço 
cultural global de sua afirmação. Discute, a seguir, os processos que têm marcado o conceito de 
“ indivíduo” neste século, sua materialização no capitalismo organizado e, mais recentemente, 
no neoliberalismo, procurando destacar a retração do conceito sobre si mesmo e o conseqüente 
empobrecimento da vida cívica e desenvolvimento de uma cultura narcisista. 
Palavras-chave: Modernidade, Produção de subjetividades, História , Estado. 
 
As ciências sociais e humanas têm dado uma progressiva atenção aos estudos sobre a 
construção social dos sujeitos e às diferentes modalidades pelas quais as sociedades elaboram 
as formas e sentidos dos homens. Essas investigações e análises têm-se dado tanto no eixo 
etnográfico, especialmente a partir das contribuições da antropologia sobre a 
contemporaneidade, quanto no eixo histórico, sob o qual dados de múltipla procedência e 
qualidade sobre os “ estados” anteriores da sociedade vêm sendo pesquisados. 
Nesses estudos, o termo “ indivíduo” e correlatos como “ individualismo, “ individualidade, 
dentre outros, abrange uma imensa variedade de significados, dá luz a teorias, doutrinas e a 
diversidade de análises cresce quando se toma em conta as mudanças de conotação sofridas ao 
longo da história. De um modo geral, no entanto, a modernidade vem sendo apresentada como 
um momento específico de hegemonização da ideologia individualista, através da implantação 
de instituições políticas crescentemente comprometidas com os valores da liberdade e da 
igualdade, ou como espaço cultural global de sua afirmação, mediante a secularização dos 
costumes e a laicização e universalização sistemática do conhecimento. 
Neste trabalho, pretende-se analisar a formação da subjetividade individualizada na 
modernidade ocidental, com a definição de algumas características básicas que lhe foram dando 
contorno e densidade, através de um aporte histórico. Trata-se de um empenho complexo, pois 
encontramo-nos mergulhados numa cultura individualista, no interior da qual definimos nossas 
práticas e concepções, nos socializamos e educamos. Desse modo, torna-se difícil perceber que 
o indivíduo possa ser uma “ categoria do espírito humano” (Mauss, 1974), uma categoria não 
inata, mas construída histórica e socialmente2 . Torna-se difícil apreender que o indivíduo é 
apenas um dos modos de subjetivação possíveis e que cada época, cada sociedade põe em 
funcionamento alguns desses modos, sendo a categoria “ indivíduo” , o modo hegemônico de 
organização da subjetividade na modernidade. 
Em outros termos, um dos universais da modernidade ocidental é a suposição dominante de 
que o homem, na sua constituição mais íntima, é o centro e o fundamento do mundo. Ao longo 
dos tempos, construiu-se a expectativa de cultivo e respeito à interioridade, através da 
proteção da privacidade e instituiu-se uma nítida separação entre as esferas públicas e privadas 
da vida. No entanto, esse processo de constituição da subjetividade moderna foi longo e 
continua sofrendo modificações intensas até a atualidade. 
Na psicologia, o conceito de indivíduo muitas vezes apresenta-se como um a priori não 
problematizado, tanto nas suas formulações teóricas, quanto em seus desdobramentos prático-
profissionais. Muitas discussões travadas sob a égide de dicotomias como indivíduo/sociedade, 
natural/social, inato/adquirido, pressupõem a existência de um indivíduo naturalizado e 
desenvolvem-se sem uma reflexão devida sobre esses pressupostos. 
Este trabalho, ao discutir a construção da subjetividade individualizada, tal qual vem se 
apresentando na modernidade ocidental, pretende contribuir para a investigação dos modos de 
produção desse indivíduo e das possibilidades que lhe são apresentadas na qualidade de sujeito 
de seu projeto de vida. Pretende, por fim, cooperar para o aprofundamento da desconstrução 
de discursos apresentados como únicos e naturais, contrapondo-lhes alternativas de reflexão 
sobre o desenvolvimento dos saberes sobre o homem, ao longo da história. 
Modernidade e Indivíduo: Breve Percurso Histórico 
O projeto sócio-cultural da modernidade é um projeto muito rico, capaz de infinitas 
possibilidades e, como tal, muito complexo e sujeito a desenvolvimentos contraditórios. Seu 
início data do século XVI, atravessa reformas de múltiplas ordens, consolida-se no século XVIII 
e modifica-se intensamente até os dias atuais. 
O mundo, a partir do século XVI, apresenta-se, em relação ao das civilizações medievais, mais 
heterogêneo. Pode-se falar e apreciar o mundo sob outras vozes e outros ângulos; as relações 
entre os homens apresentam-se menos hierarquizadas; não há mais uma orientação central - 
política, religiosa ou cultural - e novas produções subjetivas são gestadas ao longo de múltiplas 
reformas que se desenrolam a partir do Renascimento. 
A primeira referência nesta discussão é a consolidação do capitalismo como modo de produção 
que pressupôs não somente mudanças estritamente econômicas, no plano da produção 
material, como o desenvolvimento de um ideário de liberdade e igualdade. Forjou, com o seu 
desenvolvimento, pessoas libertas das amarras das legislações corporativas e servis do mundo 
feudal, indivíduos “ livres e iguais” para estabelecerem contratos no mercado de trabalho 
(Marx,1975), com profundas conseqüências para as subjetividades dos homens de então. 
A reforma protestante, liderada por Lutero, no século XVI, é outro movimento que merece 
destaque na análise da subjetividade moderna. Essa reforma colocou o indivíduo no mundo, 
pois se a “ vocação” luterana permanecia uma tarefa estabelecida por Deus; a maneira 
aceitável de viver encontrava-se na possibilidade do homem superar-se pela “ ascese” e, 
principalmente, no desafio de cumprir as tarefas do século, através de suas ações terrenas. A 
restrição da mediação da Igreja para a salvação humana, apregoada pelos protestantes, 
implicava o intercâmbio do indivíduo com Deus, em linha direta, e em completo isolamento 
espiritual. A abolição dos rituais, o repúdio ao sensualismo e à emoção, a desmagicização do 
mundo e a decorrente apreensão impessoal, racional e instrumental do homem e das suas 
relações, praticadas pelo mundo protestante, constroem a solidão interna do indivíduo e 
contribuem para a própria possibilidade da intensificação da experiência individualizada (Weber, 
1996). 
O modelo de racionalidade que preside a ciência moderna, constituído, a partir da revolução 
científica dos séculos XVI e XVII, tendo em Bacon e Descartes os principais representantes 
originais, também estabeleceu novas relações entre o sujeito e o objeto de conhecimento. 
Primeiramente, o novo paradigma produz uma visão do mundo e da vida que, distante do saber 
aristotélico e medieval, fundava uma certa luta no campo do conhecimento, contra asformas 
anteriores de dogmatismo e de autoridade. Implicou, ainda, conforme Figueiredo (1994), a 
introdução de uma cisão na esfera da subjetividade, pois a consecução da proposta científica 
pressupunha o controle do sujeito motivado, portador de tendências, desejos, movimentos 
passionais e instintivos. Desse modo, tanto o sujeito epistêmico como o sujeito ético-passional 
são gerados a partir do fim do século XVI e início do XVII, através de operações ocorridas no 
terreno da reforma científica. Por fim, pelas construções da reforma científica, principalmente 
através da proposta cartesiana, o sujeito autoconsciente e com total domínio da própria 
vontade, que ocupa a posição fundante na Idade Moderna, ganhava contornos mais nítidos e 
definidos. 
A organização dos Estados Nacionais, diversificada, por certo, nas diversas regiões da Europa, 
constituiu-se em mais um processo a contribuir para a consolidação da nova ordem econômica 
e social que se construía na Europa Ocidental e para a intensificação de um modo de 
subjetivação individualizado, típico da modernidade. Os governos desses Estados tomam a 
forma da monarquia nacional e representam a exigência de uma regulamentação jurídica para 
os conflitos políticos e sociais que se desenvolviam. Tais conflitos culminam no Estado 
Absolutista, uma continuidade da expressão da hegemonia da nobreza que, através da 
reorganização estatal, reforça sua dominação sobre a massa camponesa e mantém a burguesia, 
em formação, ainda numa posição de não-centralidade. Esse complexo processo também 
comportou mudanças de ordem sócio-psicológicas, materializadas, no caso das cortes, no que 
poderíamos chamar de uma “ subjetividade aristocrática” . Norbert Elias (1993, 1995, 1998) é 
uma referência central para esta discussão e tem caracterizado o comportamento das cortes 
européias de então em termos de um incremento na capacidade de contenção dos impulsos, 
modelação de condutas, autodomínio, auto-observação e observação dos demais. A etiqueta 
comportava modos de se apresentar e interagir altamente codificados, meticulosos e 
desempenhava um papel central nessa “ racionalidade cortesã” . 
Com a formação dos Estados nacionais, constrói-se ainda um certo equilíbrio de uma tensão 
que foi central em toda a modernidade: um equilíbrio entre os imperativos de uma consciência 
individual (naquele momento em processo de amadurecimento) e as exigências “ coletivas” 
das razões de Estado (então delineadas como uma cega obediência à autoridade absolutista). 
Nos séculos XVI e XVII, a filosofia do Direito Natural constituiu-se na grande teorização dessa 
separação entre o “ interno” e o “ externo” . Em outros termos, a teorização sobre os direitos 
universais próprios da natureza humana será o ponto sob o qual se constituirão as teorias de 
formação do Estado, tenham elas sua base na sujeição das ações humanas - justificando o 
absolutismo como em Hobbes -; ou se assentem no compromisso mútuo, como formulado por 
Locke. A crescente cisão entre a esfera do particular, do privado, por um lado, e a esfera do 
público foi a resolução possível dessa contradição, ademais só consolidada no século XVIII. 
Da Renascença às Luzes assiste-se, portanto, a profundas mudanças no plano político, 
econômico e social, aos quais um novo ingrediente é acrescido, mesmo que sob concepções 
distintas e até antagônicas: uma concepção de indivíduo. Trata-se de um período de transição, 
e no caso específico da subjetividade, da “ vida íntima” , assiste-se a uma sociedade que nem 
é holística, tal como descrita por Dumont (1985), na sua indistinção das pessoas e almas; nem 
uma vida privada, com Estado e sociedade civil claramente delineados. “ Entre a indistinção 
feudal da primeira Idade Média e a separação formal que se instaura com as revoluções liberais, 
abre-se, portanto, um período em que as esferas do público e do privado já não estão 
indistintas, mas ainda não estão separadas - estão imbricadas” (Novais, 1997, p. 16). 
A partir do século XVIII, pode-se afirmar que tem início verdadeiramente o “ teste” do 
cumprimento histórico do projeto da modernidade, do qual a idéia do indivíduo como centro 
microcósmico do mundo é parte orgânica. 
A teorização que eleva o conceito de indivíduo ao nível de bandeira política e realidade 
econômica é o liberalismo dos séculos XVII e XVIII, com seus contornos básicos definidos (1) 
pela liberdade em relação ao coletivo no qual vive e comportando o direito de escolha, liberdade 
de ação e participação, (2) pela igualdade, implicando direitos inalienáveis, públicos, 
reconhecidos pelos demais; (3) pela consciência individual acentuada com razão própria, 
emoções e sentimentos singulares e únicos e (4) pela consideração do homem como a célula 
básica da sociedade, da qual participa, diretamente, sem mediações (Gentil, 1996, p. 92). 
Em síntese, tal como concebido no liberalismo, os indivíduos seriam portadores de 
personalidades soberanas, com identidades claramente delimitadas e auto-contidas, capazes de 
permanência e invariância ao longo do tempo, constituindo-se no fundamento primeiro de 
organização do mundo (Mancebo, 1999-a, p. 38). 
Para que os direitos e a liberdade individuais pudessem ser resguardados, constituiu-se uma 
nítida clivagem entre a esfera da vida privada e a pública, cabendo à primeira, o exercício da 
liberdade individual livre de interferências alheias e à última, o comportamento convencional, 
racional e civilizado. Assim, a auto-nomização da esfera pública e a consolidação do indivíduo 
enquanto categoria central do pensamento ocidental apresentam-se como desenvolvimentos 
correlatos3, que possibilitam ao século XVIII comportar uma sociedade com fronteiras 
claramente demarcadas entre as esferas complementares da vida social – a pública e a privada. 
No entanto, no século XIX o liberalismo passa por revisões, tanto no plano teórico, como no 
plano da organização do Estado. É o momento da transição do capitalismo concorrencial ao 
monopolista, é o século no qual ocorrem a ampliação de alguns direitos políticos aos não-
proprietários, a conseqüente incorporação do tema da democracia; assiste-se à redefinição do 
Estado e suas relações com a sociedade civil e reordenamentos de parâmetros teóricos, dentre 
outras mudanças de importância. Nesse século, ainda, dois movimentos contribuem para a 
complexificação da subjetividade moderna: primeiro, a constituição do chamado “ intimismo” 
e o decorrente embaralhamento das esferas pública e privada, no bojo da discussão do 
coletivismo romântico; depois, a consolidação do individualismo administrativo, tecnocrático e 
disciplinar. 
No liberalismo romantizado do século XIX, a ênfase recai na defesa da inviolabilidade do 
individual. Os indivíduos construídos sob os ideais românticos valorizam, prioritariamente o seu 
autocrescimento, consideram suas interioridades o tesouro máximo que possuem e tentam, 
permanentemente, preservá-lo da vida competitiva, “ superficial” e turbulenta das grandes 
cidades então emergentes. A valorização do auto-desenvolvimento individual (do privado) 
assume tal proporção que os procedimentos da privacidade passam a se constituir nos próprios 
organizadores e juízes da vida pública. A invasão do público pelo privado, o recurso ao público 
com objetivos privados, a decorrente perda dos limites entre essas duas esferas e um certo 
esfumaçamento da cisão público/privado, analisada por Sennett (1988), recebem no 
romantismo seu perfil mais acabado, constituindo, no seu conjunto, o que vem sendo chamado 
de “ civilização intimista” . 
No ideário tecnocrático e disciplinar, novos delineamentos também são acrescentados às 
conceituações liberais originais, só que neste caso, exigindo dos homens maior eficiência, 
interesse e utilidade diante das mudanças e desafios ocorridos no século XIX. Foucault (1983, 
1986) é uma referência centralnesse campo investigativo, ao preocupar-se com a identificação 
e análise do processo pelo qual se dá a tomada do poder sobre os corpos, na sociedade 
ocidental. Seus trabalhos procurarão cobrir a trajetória das diversas tecnologias de poder e o 
controle social produzido pelos dispositivos disciplinares e pela normalização técnico-científica, 
de modo a apresentar-nos a modernidade, criticamente, como uma era de domesticação dos 
corpos. Sob o ideário tecnocrático-disciplinar, “ a administração dos comportamentos 
individuais, alcançável mediante uma visibilidade, conhecimento e controle mais planejado dos 
comportamentos, ganha espaço no tecido social, de modo que as instituições educacionais, 
corretivas, de saúde, de lazer passam a participar dessa agenda, assumindo funções 
diagnósticas, disciplinares e preventivas” (Mancebo, 1999-b, p. 56). 
Por fim, em que pesem as contradições apresentadas entre si, essas diferentes formas de 
entender o homem e as relações que estabelecem entre si são localizáveis até os dias que 
correm. O liberalismo, o romantismo e o racionalismo tecnocrático-disciplinar passaram por 
transformações, e embora convivam simultaneamente, apresentaram diferentes pesos ao longo 
da cultura contemporânea e não perderam de todo a vigência até nossos dias. 
 O "Breve Século Xx": Capitalismo, Estado e Subjetividade 
É comum, para efeitos de estudo e análise, a divisão do capitalismo nos países centrais em três 
fases. O primeiro período cobre todo o século XIX. É a fase do capitalismo liberal, cujos 
delineamentos centrais foram discutidos, anteriormente, neste trabalho. O segundo período, 
aqui designado por capitalismo organizado, inicia-se no final do século XIX e atinge o seu pleno 
desenvolvimento nas primeiras décadas depois da 2ª Guerra Mundial. A última etapa inicia-se 
em geral em finais da década de sessenta, nalguns países um pouco mais cedo, noutros um 
pouco mais tarde, e é nele que nos encontramos hoje. Alguns autores designam-no por período 
do capitalismo financeiro, do capitalismo monopolista de Estado, do capitalismo desorganizado 
ou, simplesmente, de neoliberalismo (Mancebo, 1999-b). 
 Capitalismo Organizado, Cidadania Social e Subjetividade 
Do ponto de vista econômico, o período conhecido como “ capitalismo organizado” expressa a 
quebra da ordem econômica concorrencial, a instalação da etapa capitalista monopolista, a 
concentração e a centralização do capital e a ampliação do mercado para novos horizontes, 
comportando transformações profundas e vertiginosas. 
A etapa áurea desse desenvolvimento ocorreu após o final das duas guerras mundiais e teve 
por base a adoção de diversos preceitos postulados pelo economista inglês John Maynard 
Keynes, para quem a saída das crises do capitalismo comportava uma intervenção direta do 
Estado no sistema econômico, garantindo a regularização do ciclo e evitando assim flutuações 
dramáticas no processo de acumulação de capital. 
Sob o molde do Estado-Providência, a forma por excelência do Estado keynesiano, os países da 
Europa Ocidental reconstruíram seus territórios no pós-guerra, a economia mundial 
experimentou um espetacular crescimento (Gentili, 1998-a, p. 82) e ampliou-se um campo de 
direitos econômicos e sociais a parcelas mais amplas da população, constituindo o que foi 
designado por “ cidadania social” . O Estado desempenhou papel nada desprezível nessa nova 
ordem e sua intervenção, que contrariava as formulações dos liberais ortodoxos, não era 
questionada pelos grupos hegemônicos, para quem essa planificação poderia diminuir as 
margens de lucro, mas garantia a acumulação. 
Além das razões que o capital apresentava para expandir os direitos sociais e econômicos, 
assistiu-se, ao longo desta segunda metade do século, inclusive em sociedades onde a 
população encontrava-se, historicamente, em contingências de exclusão e de marginalidade, a 
um aumento considerável de lutas populares, responsáveis, em grande parte, pela ampliação 
dos direitos próprios à cidadania. 
“ Hoje é evidente que (essa) Era de Ouro pertenceu essencialmente aos países capitalistas 
desenvolvidos” (Hobsbawm, 1995, p. 255), pois, nas nações periféricas, esses compromissos 
traduziram-se num processo bem distinto, na medida em que a perspectiva otimista da 
“ cidadania social” sempre entrou em choque com a exclusão e a miséria da grande maioria da 
população “ não- cidadã” . De qualquer forma, a despeito do seu irregular impacto, ocorreram 
significativas conquistas de direitos sociais por parte das classes trabalhadoras das sociedades 
centrais e, de um modo muito menos característico e intenso, por parte de alguns setores das 
classes trabalhadoras em alguns países periféricos e semiperiféricos (Gentili,1998-b, p. 113). 
No plano simbólico e cultural, também ocorrem profundas transformações que vêm sendo 
definidas pela passagem da cultura da modernidade para a do “ modernismo cultural” . 
Conforme Santos (1997, p. 85), o modernismo representa o culminar da tendência para a 
especialização e diferenciação funcional dos diferentes campos de racionalidade humana. É a 
“ grande divisória” de que fala Andreas Huyssen (1986), a “ ansiedade da contaminação” que 
marca a modernidade e a leva a dividir e esquadrinhar as diversas searas da sociedade, a 
multiplicar a especialização das disciplinas, dentre outros aspectos. 
A ‘ inquietação’ em relação às demarcações, a aferição obsessiva das fronteiras, o medo das 
transgressões e a necessidade de reordená-las podem ser interpretadas como marcas da 
diferenciação do modernismo” (Mancebo, 1999-b), que levam os Estados a penetrarem e 
interferirem mais profundamente na sociedade, através de soluções institucionais que solicitam 
uma obediência passiva aos cidadãos, em contraposição à mobilização ativa do período. 
Uma síntese desse período, considerando a relação estabelecida entre indivíduos e Estado, 
poderia assim ser enunciada: por um lado, assiste-se ao alargamento dos direitos sociais - no 
domínio das relações de trabalho, da seguridade, da saúde, da educação e da habitação – que 
torna possível vivências de autonomia, de liberdade e abre novos horizontes ao 
desenvolvimento dos indivíduos; mas, por outro lado, ... 
...as instituições estatais desenvolvidas para fazer jus a esse desenvolvimento societal 
aumentaram o peso burocrático e a vigilância controladora sobre os indivíduos; sujeitaram-nos 
intensamente ao ciclo da produção e do consumo; aprofundaram o espaço urbano desagregador 
e atomizado, destruíram muitas redes sociais de interconhecimento, de ajuda mútua e de 
solidariedade; promoveram uma indústria de tempos livres e uma cultura, que restringiram o 
lazer a um gozo programado, heterônomo, passivo e individual (Mancebo, 1999-a, p. 41-42). 
Desse modo, assiste-se, sob o Estado-Providência, a um processo de subjetivação, que a um só 
tempo alargou os horizontes possíveis da autonomia liberal, mas que subordinou a individuação 
às exigências de uma razão tecnológica disciplinar. A ocorrência de um Estado que se configura 
inapelavelmente interventor e planificador gera efeitos vivenciados no plano da subjetividade, 
pelo aumento da tensão entre a subjetividade-individual, que remete ao princípio liberal da 
liberdade, e a cidadania direta ou indiretamente regulada e estatizada, que remeteria ao 
princípio da igualdade (Mancebo, 1999-b, p. 69). 
Neoliberalismo e Novos Arranjos da Subjetividade 
A partir do esgotamento do regime de acumulação fordista, em finais dos anos 60, consolida-se 
outra alternativa política, econômica, social, jurídica e cultural para a crise econômica do mundo 
capitalista, que vem sendo designada como neoliberalismo. 
O neoliberalismo, como arcabouço teórico e ideológico, na realidade, não é algo novo. Nasce 
com o combate implacável, no início dos anos 40, às teses keynesianas, ao ideário do Estado-Providência, ao Estado planificador, desenvolvendo críticas implacaváveis aos direitos sociais e 
aos ganhos de produtividade auferidos pela classe trabalhadora. Naquele momento histórico, no 
contexto da devastação provocada pela guerra, esse ideário não encontrava suportes políticos e 
sociais para se apresentar como uma alternativa econômica. Tal fato só se dá há 
aproximadamente 30 anos, quando o neoliberalismo firma-se como uma necessidade global de 
restabelecimento da hegemonia burguesa, trazendo implicações não só para a vida econômica, 
mas também para as diversas relações que se estabelecem entre os homens. 
O princípio básico dessas orientações é o princípio do mercado, que adquiriu pujança sem 
precedentes, extravasou do econômico e procurou colonizar o próprio Estado e a sociedade. 
Sob esse ideário, as relações de mercado competitivas e otimizadoras, constituem-se num 
princípio necessário e capaz não apenas de limitar a intervenção estatal, mas também de 
racionalizar o próprio governo. 
No entanto, as formas neoliberais atuais diferem das formas anteriores de liberalismo, pois não 
sustentam o mercado como uma realidade “ quase-natural” , já existente, assegurada pela 
livre conduta dos próprios indivíduos e supervisionada à distância pelo Estado. O mercado 
neoliberal só pode existir sob certas condições jurídicas, políticas e institucionais, que devem 
ser ativamente implementadas e construídas, o que abrange o desenvolvimento de “ formas 
artificialmente arranjadas ou impostas da conduta livre, empresarial e competitiva de indivíduos 
econômico-racionais” (Peters, 1995, p. 220). 
Na realidade, o Estado neoliberal apresenta-se de maneira paradoxal, pois ao mesmo tempo 
que, no jogo internacional, os Estados parecem ter perdido parte substancial de sua soberania 
para regular as esferas da produção (privatizações, desregulação da economia) e da reprodução 
social (retração das políticas sociais, crise do Estado-Providência), ao mesmo tempo que, no 
plano interno, a defesa do “ enxugamento” estatal ganha dimensões de um Estado mínimo; de 
outro, assiste-se ao aumento do autoritarismo do Estado, que é produzido parcialmente pela 
congestão institucional da burocracia do Estado e, em parte, pelas próprias políticas do Estado 
no sentido de devolver à sociedade civil competências e funções, assumidas no período do Bem-
Estar, e que agora parece estrutural e irremediavelmente incapaz de exercer e desempenhar 
(Santos, 1997, p.88-89). 
A par das funções paradoxais que o Estado neoliberal vem desempenhando, quando se trata de 
analisar as transformações culturais e ideológicas, é preciso afirmar clara e objetivamente a 
necessidade de esse ideário contar com um “ novo homem” . Primeiramente, com indivíduos 
que introjetem o valor mercantil e as relações mercantis como padrão dominante de 
interpretação do mundo, reconhecendo no mercado o âmbito em que, “ naturalmente” , podem 
- e devem - desenvolver-se como pessoas humanas (Mancebo, 1996, p.19). A lógica do 
mercado apresenta-se, então, como a função estruturadora das relações sociais e políticas, 
comportando um viés de interpretação dos homens marcadamente utilitarista; segundo a qual a 
motivação dos comportamentos humanos pauta-se por um utilitarismo individual. 
Hayek (1990), por exemplo, pioneiro das idéias neoliberais, defende um modelo de 
individualismo, partindo do pressuposto incontestável “ de que os limites dos nossos poderes 
de imaginação nos impedem de incluir em nossa escala de valores mais que uma parcela das 
necessidades da sociedade inteira” (Hayek, 1990, p. 76), na medida em que o ganho 
estritamente pessoal é o que nos motiva e orienta. Enfatiza o comportamento humano como 
orientado pelo auto-interesse e argumenta que o indivíduo deve “ seguir seus próprios valores 
e preferências em vez dos de outrem... o sistema de objetivos do indivíduo deve ser soberano, 
não estando sujeito aos ditames alheios” (p. 76). 
No liberalismo clássico, pelo menos em uma de suas formas, havia um apelo à razão sob a 
forma de um individualismo que privilegiava o sujeito racional, cognoscente, como a fonte de 
todo conhecimento, significação, autoridade moral e ação. A variante particular dessa 
metanarrativa, própria ao neoliberalismo, baseia-se num moderno postulado sobre o 
comportamento, denominado homo economicus, segundo o qual “ as pessoas devem ser 
tratadas como maximadores racionais da utilidade para reforçar seus próprios interesses 
(definidos em termos de posições mensuráveis de riqueza) na política, assim como em outros 
aspectos da conduta” (Peters, 1995, p. 221). 
Para Friedman (1985), principal representante da Escola de Chicago, mesmo os problemas 
éticos devem ser deixados a cargo do próprio indivíduo. Os fins sociais se limitam às 
coincidências que se possam estabelecer entre objetivos individuais. A tendência natural do 
homem residiria na busca de sua própria felicidade, ou ao ” que ele deve fazer com a sua 
liberdade” (p. 21); é essa busca atomizada que pode conduzir a um equilíbrio dentro da 
sociedade e a um aumento do bem-estar de todos. 
Da discussão anterior tem-se que, em tese, o postulado liberal da liberdade encontra-se 
profundamente exacerbado no ideário neoliberal, a partir de suas teses em defesa de um 
Estado não-planificado, que possibilite aos indivíduos uma conduta plenamente livre. No 
entanto, o mesmo não se pode dizer do princípio da igualdade. “ Na realidade, a desigualdade 
dos homens é um pressuposto fundamental dessa concepção, constitui uma necessidade social, 
já que na acepção dos doutrinadores neoliberais a desigualdade permite o equilíbrio, a 
complementação de funções, fomenta a competição e desse modo, promove o 
desenvolvimento” (Mancebo, 1999-b, p. 79). 
Em síntese, nesta sociedade assumidamente dualizada, assiste-se a uma hipertrofia da 
“ liberdade” individual – tomada de forma abstrata e desconsiderando as condições concretas 
que os homens apresentam para o seu exercício – e a um rebaixamento do princípio da 
igualdade, com o decorrente refluxo dos direitos próprios à cidadania social. 
Por seu turno, os princípios comunitários, coletivos, sociais também atravessam profundas 
transformações, no sentido do seu rebaixamento. O fortalecimento das práticas classistas e 
coletivas, obtido ao longo do período do Bem-Estar, enfraquecem de novo, diante do estímulo 
neoliberal à competição, ao sucesso a qualquer preço, minando os espaços de ação 
intersubjetiva e sócio-política. A valorização da psique e da interioridade, o investimento no 
próprio self, dentre outros comportamentos próprios à sociedade “ intimizada” (Sennett, 
1988), também são contabilizáveis no mercado cultural e na busca da felicidade individual, 
fornecendo um tempero especial à dinâmica de auto-investimento, de modo que o resultado 
encontrado é, na expressão de Arendt (1980), o encontro de um homem moderno (ou pós-
moderno) literalmente desligado do mundo, “ desinteressado” . 
Retomando as matrizes componentes da subjetividade, emergentes nos dois séculos passados, 
tem-se nos dias que correm um homem movido pelo individualismo competitivo, pela 
intimização exacerbada, pela disciplina e docilidade imposta aos corpos, ou por todas essas 
dinâmicas combinadas, mas submetido ao império de uma uma micro-ética que o impede de 
formular e agir em prol de acontecimentos globais (Mancebo, 1999-b). 
Finalizando, a produção do homem movido por seus estritos interesses, e indiferente à esfera 
pública, assume dimensões de controle e regulamentação da vida das populações, central para 
o projeto neoliberal em curso. E neste ponto, é preciso relembrar Foucault (1994) para quem 
“ a integração dos indivíduos a uma comunidade ou totalidade resulta de uma correlação 
permanente entre uma individualização sempre mais avançada e a consolidação desta 
totalidade” ( p. 827).Considerações Finais 
Ao longo deste trabalho, uma certa ênfase foi dada aos modos de sujeição na constituição dos 
sujeitos. Isto se traduziu num certo pessimismo quanto às relações que os homens vêm 
estabelecendo entre si e na ênfase dada às relações de dominação como um fator instituinte da 
interação entre os homens. No entanto, é preciso destacar que não se creditou o homem 
disciplinado ou o “ mínimo-eu” (Lasch, 1983) como o último e derradeiro esforço de 
constituição das subjetividades, nem o único presente em nosso horizonte de possibilidades. 
Na realidade, percorreu-se um terreno que aponta para uma das posições éticas mais caras a 
Foucault e com o qual se mantém estreita concordância: uma postura de “ hiper-militantismo 
pessimista” (Foucault, 1994, p. 386). De todo modo, faz-se necessário tecer algumas 
considerações quanto a uma acusação bastante plausível em relação a este texto: a de tratar-
se de uma análise pessimista e paralisante. 
Uma primeira argumentação residiria no propósito desenvolvido sinteticamente, ao longo desse 
trabalho, de apresentar instituições, estruturas de poder e as formas dos sujeitos se 
conceberem e se tratarem, a partir de uma ressonância no complexo histórico. Deste modo, 
instituições, poder e sujeitos são discutidos como configurações mais ou menos transitórias, 
não naturalizadas, havendo, por certo, a possibilidade de serem transformadas. 
Acredita-se ainda ser possível buscar e desenvolver outros modos de vida, distintos dos 
existentes no mundo relacional atual. A sociedade atual e as instituições que constituem sua 
ossatura, por certo, limitaram a possibilidade de relações e rebaixaram o eu a um mínimo, na 
ânsia de construir um mundo mais fácil de ser gerido e administrado. No entanto, com Foucault 
(1994), defende-se a possibilidade de “ bater-nos contra este empobrecimento do tecido 
relacional (contra...) um mundo legal, social, institucional, onde as únicas relações possíveis 
são extremamente pouco numerosas, extremamente esquematizadas, extremamente pobres” 
(p. 309). 
Encontra-se no horizonte, não sem dificuldades, a possibilidade de se criar um tecido relacional 
mais rico, intenso, plural, que ofereça novas possibilidades de satisfação emocional e de 
relações entre os homens. A radical experiência de desterritorialização que vivenciamos, aliada 
a um julgamento rigoroso da conjuntura histórica particular em que vivemos – a cultura do 
narcisismo - pode, ou não, aproximar-nos de uma “ arte de viver” , no sentido apontado pela 
“ estética existencial” de Foucault: uma reorganização da existência, sem qualquer 
compromisso com a procura de uma “ verdade de si” , mas comprometida com um trabalho 
sobre si que possa dar respostas ao tempo presente, uma ética que milite contra os estados de 
dominação e a favor de uma eventual inversão e/ou descongelamento das relações de poder 
hoje instituídas. 
Em outros termos, a regulamentação política da sociedade, a racionalização e a burocratização 
das diversas esferas do socius delineiam horizontes, mas não impedem a construção de uma 
nova economia das relações de poder; não impedem uma “ arte de viver” que possibilite o 
estabelecimento de uma relação sólida conosco mesmo e a tomada de decisões pessoais; o 
exercício de uma micropolítica que não abandone a política aos representantes do Estado ou a 
qualquer outra instância soberana, que pretenda substituí-lo ou suplantá-lo; uma organização 
da existência insubmissa à norma e às convenções, que reivindica a si possibilidades de 
escolher (Schmid, 1996). 
Retomar a“ estética da existência” nas características fundamentais assinaladas por Foucault 
comportaria, ainda, uma racionalidade estética, ou uma capacidade de percepção e abertura 
para a experiência, não só no domínio da vida privada, mas também uma sensibilidade política 
a tudo que é intolerável e inaceitável; uma capacidade de escolha que não consista, de modo 
algum, numa simples relação consigo mesmo; uma capacidade de julgamento incessantemente 
reconstituída como resultado da comunicação e enfrentamento com os outros. 
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