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CBM - Medicina NEFROLOGIA RESUMOS Enzo - Turma XVI nefrologia Anatomia Funcional dos Rins Macroscopia - Os rins (em número de 2) estão situados no espaço retroperitoneal, um de cada lado da coluna vertebral, de modo que que seu eixo longitudinal corre paralelamente ao músculo psoas maior. Na posição ortostática, sua margem superior encontra-se ao nível da primeira vértebra lombar e a inferior da quarta vértebra lombar; - Normalmente, o rim direito é um centímetro menor e encontra-se ligeiramente mais caudal em relação ao esquerdo. O rim de um indivíduo adulto mede de 11 a 13cm de comprimento, 5 a 7,5cm de largura e 2,5 a 3cm de espessura, pesando entre 125 e 170 gramas no homem e 115 a 155 gramas na mulher. Com o envelhecimento, há uma diminuição do peso renal; - Na parte medial côncava de cada rim, localiza-se o hilo renal, local onde se encontram a artéria e a veia renal, vasos linfáticos, plexos nervosos e o ureter, que se expande dentro do seio renal, formando a pelve. O rim é envolvido em toda a sua superfície por uma membrana fibroelástica denominada cápsula renal. No rim sadio, consegue-se destacar facilmente a cápsula renal do restante do órgão, sendo que o mesmo não acontece no rim doente; - Ao redor dos rins, no espaço retroperitoneal, tem-se uma condensação de tecido conjuntivo, que representa a fáscia renal. Ela divide-se em fáscias renal anterior e posterior, envolvendo um tecido adiposo denominado gordura perirrenal, que contorna o rim e a glândula adrenal de cada lado, constituindo o espaço perirrenal. A fáscia renal tem a tendência de limitar a disseminação de infecções renais, hemorragias ou extravasamento de urina e determina a divisão do retroperitônio em três compartimentos: espaços pararrenal anterior, perirrenal e pararrenal posterior; - Ao corte, o parênquima renal apresenta uma porção cortical de cor avermelhada e uma porção medular de cor amarelo-pálida. Na região medular observam-se várias projeções cônicas ou piramidais, de aspecto estriado, cujas bases estão voltadas para o córtex, enquanto seus ápices se dirigem ao hilo renal e se projetam na pelve renal. O conjunto pirâmide renal + córtex associado é denominado lobo renal. A união de septos renais adjacentes constitui a formação das colunas renais, que separam uma pirâmide da outra; - A medula é constituída somente por túbulos e divide-se em duas regiões. A zona medular interna contém os ductos coletores, as partes ascendente e descendente dos segmentos delgados das alças de Henle e os vasa recta. A zona medular externa é formada por duas faixas: a externa, composta pela porção terminal reta dos túbulos contorcidos proximais , segmentos espessos e descendentes delgados das alças de Henle e ductos coletores; - O córtex, com cerca de 1cm de espessura, contém túbulos e glomérulos. Nele observam-se, a intervalos regulares, estriações denominadas raios medulares. Estes raios originam-se das bases das pirâmides e contém túbulos coletores, ramos ascendentes da alça de Henle e as porções retas terminais dos túbulos contorcidos proximais, cuja disposição em paralelo é responsável pelo aspecto estriado das pirâmides. Cada raio medular ocupa o centro de um lóbulo renal, uma pequena e cilíndrica área de córtex, delimitada por artérias interlobulares; - Alguns túbulos se unem para formar ductos coletores. Os ductos coletores maiores, ou ductos de Bellini, abrem-se no ápice da pirâmide, na papila renal, região que contém a área crivosa. A urina, que daí drena, cai num receptáculo chamado cálice menor. Até a 28ª semana de gestação existem 14 cálices, de tal maneira que cada cálice associa-se apenas a uma papila. Após esse período, inicia-se um processo de fusão lobar, que pode prolongar-se até após o nascimento, e que determina a diminuição do número de cálices e papilas renais. O grau de fusão dos cálices é maior do que o de papilas, o que determina o aparecimento de cálices compostos, ou seja, cálices que recebem mais de uma papila. Aparecem também papilas compostas, que drenam mais de um lobo. As papilas simples possuem extremidades convexas, enquanto as compostas (dependendo do número de fusões) apresentam formato circular, rígido, achatado ou até mesmo côncavo, predispondo ao surgimento do fenômeno do refluxo intra-renal, relacionado na etiologia da pielonefrite crônica e da nefropatia do refluxo. Sequelas de pielonefrite são mais observadas nos pólos renais, locais de maior ocorrência de papilas compostas; - A porção do cálice menor que se projeta para cima, ao redor da papila, é chamada de fórnix e é importante por que os primeiros sinais de infecção ou obstrução ocorrem neste nível. Os cálices menores unem-se para formar os maiores. Comumente apenas 3 cálices são vistos no urografia excretora. Os cálices maiores unem- se para formar um funil curvo, chamado pelve renal, que se curva no sentido medial e caudal, para tornar-se o ureter a um ponto denominado junção ureteropélvica; - O ureter é um tubo muscular que se estende da pelve renal à bexiga urinária. Localiza-se no compartimento retroperitoneal e descende anteriormente ao músculo psoas. Em seu trajeto apresenta algumas relações importantes com outras estruturas: (1) é cruzado anteriormente pelos vasos gonadais; (2) passa anteriormente à bifurcação da artéria ilíaca comum na entrada da pelve e (3) se situa posteriormente ao ducto deferente no homem e posteriormente à artéria renal na mulher; Enzo - TXVI !1 Enzo - TXVI !2 • Órgão retroperitoneal localizado entre as vértebras L1 e L4, apresenta aproximadamente 12cm de comprimento. Seu peso médio é de 150g. A diminuição do tamanho renal está principalmente associada à nefropatia crônica; • Macroscopicamente pode ser dividido em córtex e medula. O córtex se constitui de glomérulos, túbulos contorcidos proximais e distais; já a medula contém as alças de Henle e os túbulos coletores, os quais se abrem nas papilas dos cálices menores; • A gordura perirrenal, localizada entre o rim e a fáscia renal, é a responsável pela visualização radiológica da silhueta renal; • Cálculos renais obstruem os ureteres principalmente em três regiões: junção ureteropiélica, porção anterior à bifurcação da artéria ilíaca comum e junção ureterovesical; pontos-chave Vascularização - Cada rim recebe uma artéria renal principal, que se origina da aorta ao nível da primeira ou segunda vértebra lombar. A artéria renal direita geralmente se origina da aorta a um nível mais inferior em relação à esquerda e passa posteriormente à cava inferior; - De um modo geral, a artéria renal se divide no hilo em um ramo anterior que passa diante da pelve e em um ramo posterior, que passa por trás da pelve. Estes ramos (anterior e posterior) dividem-se em varias artérias segmentares, que irão nutrir os vários segmentos dos rins; - O ramo anterior divide-se em 4 artérias segmentares, que irão irrigar o ápice do rim, os segmentos superior e médio da superfície anterior e todo o pólo inferior. O ramo posterior nutre o restante do órgão. Estas artérias segmentares são artérias terminais, pois não há anastomoses entre seus ramos; - As artérias segmentares sofrem nova divisão, originando as artérias interlobares, que correm ao lado das pirâmides medulares e dentro das colunas renais. Na junção córtico-medular, os vasos interlobares se dividem para formar os vasos arqueados, que correm ao longo da base da pirâmide medular e dão origem às artérias interlobulares. Essas artérias interlobulares dirigem-se perpendicularmente em direção à cápsula do rim, e delas originam-se as arteríolas aferentes que nutrem os glomérulos; - As arteríolas aferentes dividem-se dentro de cada gloméruloformando uma rede capilar. Em seguida, confluem-se e emergem do tufo capilar para formar as arteríolas eferentes que deixam o glomérulo e formam os capilares peritubulares, no caso dos néfrons corticais, ou as arteríolas retas (vasa recta), no caso dos néfrons justamedulares. As arteríolas retas são vasos paralelos que se estendem até a medula renal, onde originam plexos capilares. Anatomicamente, a circulação venosa costuma seguir paralelamente o trajeto do sistema arterial; - As veias são formadas perto da superfície do rim por confluência dos capilares do córtex. Elas drenam nas veias interlobulares e tornam-se veias arqueadas na junção do córtex com a medula. As vênulas retas na medula também drenam nas veias arqueadas, formando então as veias interlobares. Estas veias interlobares drenam em veias segmentares, as quais, eventualmente, formam as veias renais. A veia renal esquerda recebe a veia adrenal esquerda e a veia gonadal esquerda e passa inferiormente à artéria mesentérica superior antes de entrar na veia cava inferior. A veia renal direita é menor e situa-se dorsalmente ao duodeno; A. renal -> A. segmentar -> A. interlobar -> A. arqueada -> A. radial cortical -> Arteríola aferente Enzo - TXVI !3 Inervação - Origina-se do plexo celíaco, com contribuições do plexo hipogástrico superficial e de nervos intermesentéricos, esplâncnicos superiores e torácicos; - A distribuição das fibras nervosas segue os vasos arteriais através do córtex e medula externa; - As fibras para sensibilidade dolorosa, principalmente a partir da pelve renal e da parte superior do ureter, penetram na medula espinhal através dos nervos esplâncnicos; Embriologia - O desenvolvimento do sistema urinário está intimamente relacionado com o do sistema genital, sendo estes os últimos sistemas a se desenvolverem durante a embriogênese. Ambos têm origem mesodérmica, e seus canais excretores penetram inicialmente numa cavidade comum denominada cloaca; PRONEFRO - A sua formação se inicia por volta da terceira semana de vida. Cada pronefro é composto de aproximadamente sete túbulos; MESONEFRO - Desenvolve-se a partir da quarta semana, numa posição caudal à do pronefro. Cada túbulo mesonéfrico possui uma estrutura glomerular proximal, um segmento tubular proximal e um distal, que se abre no ducto mesonéfrico; METANEFRO - Representa o desenvolvimento final do rim; - Após se dilatar e se subdividir em cálices primários e secundários, o broto ureteral formará o sistema coletor do rim: pelve, cálices e os ductos coletores; enquanto o blastema formará o sistema excretor: corpúsculo renal, túbulos proximais e distais e alça de Henle; - Com o crescimento do sistema coletor e a indução do blastema metanéfrico simultaneamente, tem-se um padrão de crescimento centrífugo ao longo do córtex renal, de tal maneira que os primeiros néfrons passam a ocupar uma posição justamedular, enquanto os últimos encontram-se mais externamente no córtex; - Embora os néfrons do metanefro comecem a funcionar em torno da 11ª e 12ª semanas de vida, a maturação renal continua após o nascimento; Enzo - TXVI !4 • A circulação renal apresenta uma característica única: duas redes capilares se encontram em série em um mesmo órgão — rede capilar e peritubular; • A artéria renal se divide em ramo anterior e ramo posterior. Algumas vezes é possível encontrar artérias acessórias renais, as quais apresentam i m p o r t â n c i a c i r ú r g i c a , p o r e x e m p l o n a nefrectomia; • A inervação simpática renal atua principalmente nas arteríolas aferentes e eferentes e no aparelho justaglomerular. Nesta estimula a secreção de renina e naquela atua na musculatura lisa; • A inervação aferente da dor também apresenta papel importante, pois pode ajudar a localizar a altura de um cálculo em migração. O rim distendido estimula as terminações nervosas da cápsula renal e provoca dor em região lombar agravada à punho-percussão. Já a dilatação ureteral por cálculo causa dor que segue o trajeto do ureter à medida que o cálculo desce, com irradiação para a genitália quando localizado principalmente no segmento inferior ureteral; pontos-chave Néfron - É a unidade funcional do rim, formado pelos seguintes elementos: - Corpúsculo Renal (Glomérulo e Cápsula de Bowman); - Túbulo Proximal; - Alça de Henle; - Túbulo Distal; - Porção do Ducto Coletor; - A maior parte dos néfrons são corticais e possuem uma alça de Henle curta. A alça de Henle é formada pela porção reta do túbulo proximal (pars recta), segmento delgado e porção reta do túbulo distal; GLOMÉRULO - Responsável pela produção de um ultrafiltrado a partir do plasma; - Formado por uma rede de capilares especializados (tufo glomerular) nutridos pela arteríola aferente e drenados pela arteríola eferente. Essa rede de capilares projeta-se dentro de uma câmara delimitada por uma cápsula (cápsula de Bowman) que, por sua vez, possui uma abertura comunicando a câmara diretamente com o túbulo contorcido proximal; - No hilo do glomérulo passa a arteríola aferente que se divide em quatro a oito lóbulos, formando o tufo glomerular. Os capilares se reunem para formar a arteríola eferente, que deixa o glomérulo através do mesmo hilo; - A cápsula de Bowman se constitui de dois folhetos: o visceral (formado pelos podócitos - terceira camada da barreira de filtração) e o parietal (delimitador do espaço capsular - receptor do ultrafiltrado glomerular); - O aparelho justaglomerular é composto pela mácula densa (túbulo distal) e pelas células justaglomerulares localizadas na arteríola eferente; Enzo - TXVI !5 - A parede do capilar glomerular está formada por três camadas: - (1) Células endoteliais que formam a porção mais interna e representam uma continuação direta do endotélio da arteríola eferente. Este prolongamento é também chamado de lâmina fenestrada; - (2) Uma membrana basal contínua que constitui a camada média; - (3) Uma camada mais externa, formada de células epiteliais (podócitos), que constitui o folheto visceral; - A membrana basal do capilar glomerular está formada por uma região densa, denominada lâmina densa, e por duas camadas mais finas, menos densas, denominadas lâminas raras interna e externa; - As células endoteliais revestem o lúmen dos capilares glomerulares. O núcleo e a maior parte do citoplasma estão no lado mesangial do capilar, sendo que uma estreita faixa do citoplasma estende-se ao longo da parede capilar. Esta faixa de citoplasma é contínua, mas apresenta várias fenestrações. Essas células possuem uma superfície carregada negativamente. Na sua membrana são apresentados antígenos como os de grupo sanguíneo ABO e HLA dos tipos I e II; - Ao conjunto célula mesangial e matriz dá-se o nome de mesângio, que está separado da luz capilar pelo endotélio; - As células epiteliais viscerais, mais conhecidas como podócitos, são as maiores células do glomérulo. Do corpo da célula originam-se processos denominados pedicelos ou podócitos, que ficam em contato com a lâmina rara externa da membrana basal do glomérulo. O espaço entre os pés dos podócitos é chamado de fenda de filtração; - As células epiteliais parietais são escamosas, revestindo a parede externa da cápsula de Bowman. São responsáveis pela manutenção da integridade da capsula. Em algumas nefropatias, como na Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva, essas células parietais podem vir a proliferar, vindo a constituir um dos elementos das semiluas ou crescentes; APARELHO JUSTAGLOMERULAR - Está situado no hilo do glomérulo e é formado pelos seguintes elementos: - (1) Porção terminal da arteríola eferente; - (2) Mácula densa; - (3) Região mesangial extraglomerular; - (4) Arteríola eferente; - A região mesangial extraglomerular está localizada entre a máculadensa e as células mesangiais do tufo glomerular. Nesta região encontram-se dois tipos celulares: as células agranulares e as granulares; - As células agranulares ocupam o centro dessa região e são mais abundantes. As células granulares ou mioepiteliais estão localizadas principalmente no interior das paredes das arteríolas glomerulares aferentes e eferentes. Os grânulos representam o hormônio renina ou seu precursor; - O túbulo distal está em contato extenso com a arteríola eferente e com a região mesangial extraglomerular e possui contato menos extenso com a arteríola aferente; Enzo - TXVI !6 • O néfron é a unidade funcional do rim e é constituído pelo corpúsculo renal (glomérulo cápsula de Bowman), túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e ducto coletor; • A barreira de filtração glomerular é constituída por três camadas: (1) Endotélio fenestrado do capilar glomerular; (2) Membrana basal e (3) Células epiteliais especializadas (podócitos), as quais circunscrevem os capilares com suas projeções citoplasmáticas, formando inúmeras fendas de filtração; • Esta complexa barreira permite a passagem seletiva de água e pequenos solutos. Moléculas de carga negativa apresentam uma menor taxa de filtração em relação a cátions devido à negatividade da barreira glomerular; • Alterações estruturais na barreira podem levar a uma série de doenças renais, dentre elas as glomerulonefrites primárias; • A fusão dos pés dos podócitos está presente na nefrose lipídica e na glomeruloesclerose focal e segmentar, levando a um quadro de síndrome nefrótica com proteinúria maciça; • As glomerulonefrites rapidamente progressivas apresentam à microscopia óptica uma proliferação anormal das células epiteliais parietais associada à infiltração de monócitos e macrófagos, formando as crescentes glomerulares; • A nefropatia por IgA é uma doença glomerular extremamente comum caracterizada por hematúria recorrente, freqüentemente seguindo um quadro infeccioso. As imunoglobulinas A são depositadas no mesângio glomerular; pontos-chave - O aparelho justaglomerular é a estrututa mais importante do sistema renina-angiotensina. Ele parece participar do mecanismo de feedback entre o túbulo distal e as arteríolas aferentes e eferentes, atuando ativamente na regulação da excreção de sódio pelo organismo; - Mecanismo de liberação de renina pelo aparelho justaglomerular: - Quanto maior for o contato entre o túbulo e os componentes vasculares do aparelho justaglomerular, menor quantidade de renina é secretada. Quanto menor for esse contato, maior será a secreção; - Quanto menos sódio atingir o túbulo distal, menor o diâmetro do túbulo e, portanto, menor o contato entre os componentes vasculares, havendo, então, um aumento da secreção de renina. O inverso ocorre quando muito sódio chega ao túbulo distal -> teoria da concentração de sódio na mácula densa; - Um aumento do volume arteriolar aumenta o contato dos componentes vasculares com o túbulo distal, e logo menos renina é liberada. Havendo um volume arteriolar reduzido, ocorrerá o contrário -> teoria de alterações no volume na arteríola aferente; - Sabe-se que o sistema simpático também é capaz de estimular a secreção de renina; TÚBULO PROXIMAL - Inicia-se no pólo urinário do glomérulo, forma vários contornos próximos ao glomérulo e depois desce, sob a forma de segmento reto, em direção à medula; - Promove uma reabsorção proximal quase isosmótica de 2/3 do ultrafiltrado acoplada a transporte ativo de sódio. Qualquer doença que afete esta região causa um desequilíbrio hidroeletrolítico importante; - Uma importante função é a reabsorção e degradação de várias macromoléculas, inclusive albumina e proteínas de baixo peso molecular do filtrado glomerular. As proteínas são reabsorvidas, levadas ao lisossomo e degradadas; - A reabsorção dá-se juntamente com o transporte ativo de sódio, constituindo um transporte ativo secundário. É um processo seletivo determinado pela carga elétrica e distribuição dessa carga na molécula, além do tamanho e configurações moleculares da proteína; - É importante na formação de amônia e na secreção de íons hidrogênio; ALÇA DE HENLE - A transição entre o túbulo contorcido proximal e o segmento delgado da alça de Henle é abrupta e marca a divisão entre a faixa interna e a faixa externa da zona externa da medula. As células do segmento ascendente têm aspecto morfológico distinto das células do segmento delgado descendente. Estas últimas são mais complexas. Este segmento da alça possui grande importância no mecanismo de concentração da urina, participando do mecanismo de contracorrente e gerando um interstício hipertônico; - O segmento ascendente é relativamente impermeável à água, mas bastante permeável a sódio e cloro, enquanto no segmento descendente a água passa passivamente para o interstício hipertônico e sódio e cloro praticamente não passam; TÚBULO DISTAL - Constitui-se através do segmento ascendente espesso da alça de Henle (pars recta), da mácula densa e do túbulo contorcido distal (pars convoluta); - A pars recta atravessa a medula externa e sobe no raio medular do córtex até ficar em contato com o seu próprio glomérulo. Esta porção tubular contígua ao glomérulo forma a mácula densa. A pars recta possui um alto metabolismo, sendo especialmente sensível à isquemia. A sua principal função é o transporte de cloreto de sódio para o interstício, função muito importante para o mecanismo de contracorrente. Tem sua atividade influenciada por hormônios como o paratormônio (PTH), vasopressina, calcitonina e glucagon. O PTH estimula a reabsorção de cálcio e magnésio no segmento ascendente, parte cortical; DUCTO COLETOR - De acordo com a localização no rim, costuma-se dividir o ducto coletor em três segmentos: (1) segmento coletor cortical; (2) segmento medular interno e (3) segmento medular externo; - Juntos, ducto coletor e túbulo contorcido distal, formam o néfron distal, onde vários processos fisiológicos ocorrem: reabsorção de hidrogênio, reabsorção e secreção de potássio, secreção de amônia, reabsorção de água; - Na presença de vasopressina, sendo a água reabsorvida do interior do ducto coletor, há maior concentração de ureia no interior do ducto coletor, cujos segmentos cortical e medular são impermeáveis à uréia. Os segmentos medular interno e papilar são permeáveis à uréia, facilitando a passagem desta para o interstício medular, fato muito importante no mecanismo de concentração da urina; Enzo - TXVI !7 Interstício Renal - Engloba tudo o que se encontra no espaço extravascular e intertubular do rim, estando limitado pelas membranas basais dos vasos e túbulos; - Produz fatores autacóides e hormônio de ação local, como a adenosina e a prostaglandina, e sistêmica, como a eritropoetina. Alterações no interstício renal contribuem para as manifestações clínicas da doença renal; - O volume do interstício em relação ao parênquima vai aumentando em direção à papila renal, a partir do córtex; - No córtex identificam-se dois tipos de células intersticiais: fibroblastos e células mononucleares. A produção de adenosina por células semelhantes a fibroblastos da parte cortical inibe a liberação de renina e diminui a reabsorção de sódio, tendo-se revelado parte do mecanismo de proteção renal frente a situações de hipóxia. Durante a hipóxia, há evidências de aumento da adenosina e de eritropoetina; Circulação Renal - Os rins são órgãos de baixa resistência vascular cujo fluxo sanguíneo corrigido por grama de tecido é o maior do organismo; - As células endoteliais sintetizam e/ou liberam agonistas que modulam a tonicidade da musculatura lisa das arteríolas renais; - As artérias renais são únicas e se dividem sucessivamente até a formação do glomérulo (a. renal -> a. segmentar-> a. interlobar -> a. arqueada -> a. radial cortical -> arteríola aferente); - Devido à ausência de anastomoses entre as múltiplas divisões da artéria renal, a obstrução de uma dessas divisões ocasiona isquemia parcial do órgão; - As arteríolas aferentes apresentam o mesmo padrão morfológico por todo o córtex renal. J á a s e f e r e n t e s apresentam heterogeneidade morfológica e caracterizam-se pela presença de ramificações laterais que formam os plexos capilares que envolvem os túbulos. No córtex justamedular, as a. eferentes espessas musculares penetram na medula e formam os vasa recta através de múltiplas divisões longitudinais; - As arteríolas eferentes participam do controle da filtração glomerular, da irrigação medular e da reabsorção de água e eletrólitos através da formação dos plexos capilares e dos vasa recta; - O sangue retorna à circulação através dos vasa recta ascendentes, de anastomoses venosas entre os capilares peritubulares e as veias na região cortical que drena para v. interlobulares -> v. interlobares -> v. renal -> v. cava inferior; - A distribuição do fluxo sanguíneo é heterogênea no rim, sendo que 80% deste fluxo destina-se à região cortical. A medula renal apresenta baixa pressão parcial de oxigênio; - A circulação renal é regulada pelas terminações simpáticas presentes nas arteríolas glomerulares e pela ação de agonistas circulantes ou sintetizados localmente pelo endotélio, pelo epitélio ou pelo interstício (regulação parácrina); Enzo - TXVI !8 • O aparelho justaglomerular é principalmente formado pelas células granulares da arteríola aferente (secretoras da renina) e pela mácula densa (diferenciação celular do túbulo distal). Esta estrutura é a principal responsável pelo controle do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), o qual tem como função a regulação do metabolismo de sódio; • A estenose de artéria renal diminui o fluxo glomerular, atuando diretamente no aparelho justaglomerular. Ocorre, então, uma estimulação do SRAA, o qual leva a um quadro de hipertensão arterial sistêmica de causa renovascular; • O túbulo proximal é responsável pela reabsorção da maioria dos pequenos solutos filtrados, e dentre eles temos os íons sódio, cloreto, potássio, cálcio e bicarbonato, assim como moléculas de aminoácidos e glicose. A água é permeável neste segmento, sendo reabsorvida passivamente. Uma disfunção hereditária ou adquirida no túbulo proximal leva à síndrome de Fanconi; • A alça de Henle possui grande importância na concentração da urina, participando na criação do mecanismo de contracorrente através da criação de um interstício medular hipertônico; • Os túbulos distais, junto com os ductos coletores, formam os néfrons distais. Nestes segmentos agem a aldosterona (reabsorção de sódio e secreção de potássio), o hormônio antidiurético (reabsorção de água) e o fator natriurético atrial (inibe reabsorção de sódio). Além disto, o ducto coletor tem papel importante na secreção de ácido através do amônio e no mecanismo de contracorrente com a uréia; • A nefrite intersticial é um quadro de inflamação aguda do interstício renal provocada principalmente por drogas, como derivados da penicilina e antiinflamatórios não-esteroidais; pontos-chave - O rim possui um sistema de auto-regulação de fluxo sanguíneo a fim de que este permaneça constante independente da variação da pressão arterial. A auto-regulação renal ocorre quando a pressão arterial está entre 80 e 180 mmHg; - A resposta miogênica exercida pelos vasos pré-glomerulares e o feedback túbulo-glomerular são os fatores determinantes para que ocorra a auto-regulação do fluxo sanguíneo renal; - A microcirculação renal pode ser regulada localmente, néfron a néfron, através de agonistas parácrinos: a) sistema renina-angiotensina, b) mediadores purinérgicos, c) metabólitos do ácido araquidônico, d) agonistas liberados ou sintetizados pelo endotélio (endotelina, óxido nítrico, fator hiperpolarizante derivado do endotélio); AUTO-REGULAÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL - A maioria dos órgãos são capazes de manter o seu fluxo sanguíneo quando ocorrem alterações da pressão de perfusão. O fenômeno da auto-regulação no rim é demonstrado com variações da pressão arterial entre 80 e 180 mmHg. Um aumento da pressão de perfusão é acompanhado por um equivalente aumento da resistência vascular, tornando-se inalterado o fluxo sanguíneo renal total; - É importante salientar que a auto-regulação também se aplica à taxa de filtração glomerular, de tal maneira que no caso de alterações mais profundas da pressão de perfusão, por exemplo quando da administração do vasodilatador papaverina, ocorre abolição do efeito da auto-regulação tanto do fluxo como da filtração. As teorias envolvidas, muito provavelmente em com- binação, no processo da auto-regulação são: miogênica e feedback túbulo-glomerular; TEORIA MIOGÊNICA - Segundo esta teoria, a musculatura lisa arterial contrai- se e relaxa-se em resposta a um aumento ou redução da tensão na parede vascular, respectivamente. Perante uma elevação abrupta da pressão de perfusão, há um aumento do raio do vaso. Entretanto, quase imediatamente, a musculatura lisa se contrai, permitindo que o fluxo sanguíneo se mantenha constante. O contrário existe quando há uma queda da pressão de perfusão. Crê-se atualmente que o mediador deste processo de relaxamento e constrição vascular seja a entrada de cálcio nas células musculares lisas dos vasos; - Nas situações de aumento de pressão intravascular, o estímulo mecânico exercido na parede do vaso deflagra a despolarização da membrana da célula muscular lisa. Os canais de cálcio operados por voltagem (VOCC) se abrem, permitindo a entrada de cálcio do extracelular para o intracelular. A elevação deste íon no citosol deflagra a fosforilação das pontes de miosina, resultando na contração da célula muscular; TEORIA DO FEEDBACK TÚBULO-GLOMERULAR - O mecanismo túbulo-glomerular na auto-regulação do fluxo sanguíneo renal envolve também a taxa de filtração glomerular. Sugere-se que, quando ocorre uma elevação da pressão arterial, há um aumento do fluxo sanguíneo renal e da pressão hidráulica do capilar glomerular. Estas alterações causam um aumento na taxa de filtração glomerular, elevando-se o fluxo de fluido ao túbulo distal. O aumento de oferta de fluido a este segmento sensibilizaria a mácula densa, que ativaria mecanismos efetores, aumentando a resistência pré- glomerular, reduzindo o fluxo sanguíneo renal, a pressão glomerular e, por conseguinte, a taxa de filtração glomerular; - O principal soluto envolvido nesta resposta da mácula densa alterando o tônus da musculatura lisa das arteríolas aferentes talvez seja o cloreto de sódio. Algumas evidências experimentais foram demonstradas; - Tanto a resposta miogênica como o feedback túbulo-glomerular são indispensáveis para que ocorra a auto- regulação renal. Estes dois mecanismos não são apenas aditivos, pois existe uma interação complexa para que a auto-regulação ocorra em sua eficiência máxima; Enzo - TXVI !9 nefrologia Propedêutica Funcional do Rim Funções do Rim - Excreção de catabólitos (filtração); - Excreção de fármacos; - Controle da volemia plasmática; - Controle do balanço hidroeletrolítico; - Excreção de ácidos e consequente controle do balanço ácido-base; - Metabolismo de hormônios como eritropoetina, calcitriol e renina; Filtração Glomerular - Os rins recebem normalmente 20% do débito cardíaco, o que representa um fluxo sanguíneo de 1.000 a 1.200 ml/ min para um homem de 70-75 kg; - O fluxo sanguíneo por grama de rim é de cerca de 4 ml/min, um fluxo 5 a 50 vezes maior que em outros órgãos. Este sangue que atinge o rim passa inicialmente pelos glomérulos, onde cerca de 20% do plasma é filtrado, totalizando uma taxa de filtração glomerular de 120 ml/min ou 170litros/dia; - A pressão capilar glomerular, em condições de hidropenia, tem um valor de 45 mmHg e se mantém praticamente constante ao longo do capilar glomerular. A pressão intratubular é em torno de 10 mmHg. A pressão oncótica no início do capilar glomerular é de 20 mmHg, sendo igual à pressão oncótica da artéria renal. À medida que vai havendo saída de água ao longo do capilar glomerular, aumenta a concentração de proteína intracapilar, traduzindo-se por uma pressão oncótica mais elevada; Filtração renal total diária = 180L Formação de 1 a 1,5L de urina/dia TFG Normal = 90-130ml/min - A filtração glomerular é usada para: - Detecção da função renal; - Avaliação da progressão de nefropatias; - Avaliação do início da terapêutica substitutiva (diálise ou transplante); - Avaliação da necessidade de ajuste de medicamentos; - Para uma substância ideal, livremente filtrada e não reabsorvida, temos: TFG = V x [Subst.A]urina [Subst.A]plasma - Na prática são dosados no plasma os níveis de ureia e creatinina, e mais recentemente cistatina-C; - A creatinina não é um marcador ideal da filtração glomerular, pois existe uma pequena secreção tubular desta substância. Como outras substâncias endógenas do plasma interferem com a dosagem sérica de creatinina superestimando sua concentração plasmática, estes dois efeitos contrários acabam se compensando, o que faz com que o clearance de creatinina seja uma medida bastante razoável da filtração glomerular na clínica, exceto em pacientes com filtração glomerular muito baixa, situação na qual a secreção tubular de creatinina aumenta muito; - Mais recentemente um outro composto endógeno, a cistatina-C, tem-se mostrado promissor como marcador da filtração glomerular. A cistatina-C é produzida por todas as células nucleadas e seu ritmo de produção é constante. A cistatina-C é livremente filtrada pelo glomérulo e primariamente catabolizada pelos túbulos, de tal forma que como molécula intacta não é reabsorvida nem secretada pelos túbulos; CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE UREIA - A ureia é produto intermediário do metabolismo proteico, formada no fígado a partir da amônia; - 90% é excretada pelos rins; - 40-70% é reabsorvida; - Valor normal = 10-45mg/dL; - Aumenta em: insuficiência renal (mais acentuada nos casos de hipovolemia), catabolismo, dieta hiperproteica, hemorragia gastrintestinal; - Diminui em: cirrose, desnutrição proteica; Enzo - TXVI !1 CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE CREATININA - Produto do metabolismo da creatina e da fosfocreatina muscular; - Produção constante; - Filtrada livremente, não sendo reabsorvida e de secreção variável; - Valor normal = 0,6-1,2mg/dL; - Crianças, idosos e desnutridos apresentam valores mais baixos pela menor massa muscular; - Aumenta em: insuficiência renal, rabdomiólise, inibição da secreção por trimetoprim e cimetidina; - Diminui em: pouca massa muscular e desnutrição; CLEARANCE - Clearance ou depuração de uma substância é o volume de plasma que fica livre (que é depurado) dessa substância por minuto. A depuração de uma substância é igual a intensidade da filtração glomerular; - Representa a capacidade de retirada, pelos rins, de alguma substância da corrente sanguínea. O valor da depuração é usado para determinar como o néfron trata uma substância que passa por ele; Clearance de Creatinina = Crurina x volume (ml/min/1,73m2) Crplasma (Volume = volume de diurese em 24h) ex.: paciente com Cl Cr = 100mL/min/1,73m2 Significa que a cada minuto, 100mL de plasma fica depurado, livre de creatinina; - Volume de diurese: como a coleta pode ser inadequada (paciente com incontinência urinária, crianças, idosos não colaborativos, perdas), é necessário estimar o clearance de creatinina; ESTIMATIVA DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR (1) Cockcroft-Gault: Clearance de Creatinina = (140-idade) x Peso 72 x Crplasma - Multiplicar o resultado por 0,85 se paciente do sexo feminino; - Tradicionalmente utilizada, sendo um cálculo simples. É menos precisa, tendo maior erro de estimativa; - Idade: perda de massa muscular na fase adulta (idosos tem menor massa muscular); - Peso: tentativa de estimar a massa muscular; - Sexo: mulheres tem menor volume muscular que homens; ex.: homem, 20 anos, 72kg, Cr=1,2: -> Cl Cr = 100mL/min/1,73m2; —> Função renal normal; ex.: homem, 20 anos, 72kg, Cr=3,0: -> Cl Cr = 140mL/min/1,73m2; —> Função renal alterada, doença renal avançada; ex.: mulher, 80 anos, 50kg, Cr=1,2: -> Cl Cr = 30mL/min/1,73m2; —> Função renal alterada, doença renal avançada; Enzo - TXVI !2 ATENÇÃO O mesmo valor de creatinina pode estar normal para um paciente e alterado para outro, pois depende da idade, do sexo e da massa muscular de cada um! ex.: homem, 35 anos, 120kg, Cr=1,35: -> Cl Cr = 124mL/min/1,73m2; -> Fisiculturista, grande massa muscular; —> Função renal normal? Provavelmente sim; ex.: homem, 35 anos, 120kg, Cr=1,35: -> Cl Cr = 124mL/min/1,73m2; -> Obeso; —> Função renal normal? Provavelmente não; ex.: homem, 35 anos, 120kg, Cr=1,35: -> Cl Cr = 124mL/min/1,73m2; -> Ascite de grande volume; —> Função renal normal? Provavelmente não; (2) Estudo MDRD (Modification of Diet in Renal Disease): TFG = 186 x (Crplasma)-1,154 x idade-0,203 x 0,742 (se mulher) x 1,210 (se negro) - Mais precisa para TFG menor que 60mL/min/1,73m2; - Superestima TFG se maior que 60mL/min/1,73m2; (3) CKD-EPI (Chronic Kidney Disease - Epidemiology Collaboration): TFG = 141 X min(Cr/k, 1)α x max (Cr/k, 1)-1,209 x 0,993idade x 1,018 (se mulher) x 1,159 (se negro) - K = 0,7 se mulher e 0,9 se homem; - α = -0,329 se mulher e -0,411 se homem; - Maior precisão, sendo o método de escolha atual; REGULAÇÃO HORMONAL DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR - Alterações da perfusão vascular são em última análise mediadas pelas células musculares lisas através de contração ou relaxamento, ocasionando modificações do diâmetro dos vasos e da resistência vascular. Toda a vasculatura está alinhada sobre uma camada contínua de células endoteliais que previnem a ocorrência de trombose intravascular e atuam como barreira na difusão de solutos e fluidos através dos capilares. As células endoteliais são unidades metabólicas dinâmicas que possuem receptores e enzimas acopladas às suas membranas. Estas enzimas formam ou degradam substâncias vasoativas circulantes como a angiotensina II (enzima de conversão), bradicinina (cininase II), adeninonucleotídeos (nucleotidases) e endotelina (metalopeptidase). Estas células participam diretamente dos mecanismos contráteis e dilatadores através da resposta a vários estímulos, e também formando e libe-ando substâncias vasoativas. Entre os fatores relaxadores encontram-se o fator relaxador do endotélio (EDRF), identificado como o óxido nítrico e a prostaciclina; e entre os fatores contráteis, destacam-se a endotelina, tromboxane, angiotensina II e os radicais livres de oxigênio; - Além dos efeitos vasculares, a angiotensina II e o hormônio antidiurético, in vitro, ligam-se às células mesangiais, causando contração destas células, pois elas possuem microfilamentos intracelulares contráteis, causando diminuição da superfície glomerular filtrante e conseqüente redução da própria filtração glomerular; - Outros hormônios, como o hormônio da paratireóide e a prostaglandina E2, não agem diretamente sobre a célula mesangial, porém aumentam, via AMP cíclico, a síntese local de angiotensina II. Desta forma, o paratormônio pode reduzir a filtração glomerular; - Os hormônios glicocorticóides no homem aumentam a filtração glomerular; - O fator atrial natriurético promove vasodilatação renal com aumento do fluxo plasmático glomerular e conseqüente aumento da filtração glomerular;- O óxido nítrico é produzido pelas células mesangiais e é importante na manutenção do fluxo plasmático renal e da filtração glomerular. O bloqueio da síntese de óxido nítrico aumenta a resistência das arteríolas aferente e eferente, causando queda da filtração glomerular. A filtração glomerular diminui com a infusão de endotelina- 1. A endotelina-1 contrai a célula mesangial e aumenta proporcionalmente as resistências das arteríolas aferente e eferente, reduzindo o fluxo plasmático renal sem alterar a pressão capilar glomerular; Enzo - TXVI !3 ATENÇÃO Nos pacientes com extremos de musculatura, avaliar a possibilidade de clearance de creatinina medido (e não estimado): - Desnutrição; - Idosos; - Doença neuromusculares com atrofia muscular; - Amputações de membros; - Acamados; - Halterofilistas; PERMEABILIDADE SELETIVA GLOMERULAR - Os capilares glomerulares permitem a passagem livre de pequenas moléculas como a água, uréia, sódio, cloretos e glicose; mas não permitem a passagem de moléculas maiores como eritrócitos ou proteínas plasmáticas. O ca- pilar glomerular comporta-se como uma membrana filtrante contendo canais aquosos localizados entre as células e a membrana basal do capilar glomerular. Além destes componentes, as células epiteliais com seus podócitos também fazem parte desta barreira filtrante; - A permeabilidade glomerular não depende só do tamanho da molécula, mas também da forma, flexibilidade, e especialmente da carga elétrica. Há uma maior barreira às moléculas aniônicas e isso ocorre devido à presença de glicoproteínas carregadas negativamente, as sialoproteínas, que revestem todos os componentes do capilar glomerular, especialmente o endotélio, membrana basal e os podócitos; - O epitélio se constitui em uma barreira adicional importante, podendo fagocitar macromoléculas que ultra- passarem a membrana basal. E finalmente, as células mesangiais que envolvem as alças capilares podem influenciar o fluxo plasmático e conseqüentemente a filtração glomerular devido às suas propriedades contráteis; HIPERFILTRAÇÃO GLOMERULAR - A redução da massa renal, cirúrgica ou por lesão do parênquima renal, induz aumento da filtração glomerular dos nefros remanescentes, principalmente devido ao aumento do fluxo plasmático glomerular e do gradiente de pressão hidrostática. O aumento da filtração glomerular por nefro é tanto maior, quanto maior a redução da massa renal; - A hiperfiltração glomerular é também observada em crianças e adultos jovens com diabetes mellitus e parece contribuir com o início e a manutenção da glomerulopatia freqüentemente encontrada na doença; - Outro fator que pode levar ao aumento da filtração glomerular é a ingestão protéica. Este efeito parece ser devido à vasodilatação renal induzida pelas proteínas ou aminoácidos. Há evidências recentes sugerindo que este efeito seja mediado via liberação de óxido nítrico; - Vários estudos sugerem que a hiperfiltração leva, ao longo do tempo, à lesão glomerular com aumento da permeabilidade glomerular às macromoléculas aniônicas, resultando no aparecimento de proteinúria. Este aumento de proteínas no mesângio serve como estímulo para a proliferação das células mesangiais e maior produção de matriz mesangial, causando a glomeruloesclerose. A esclerose glomerular reduz ainda mais o número de nefros funcionantes, com conseqüente maior redução de massa renal, conduzindo a uma progressão inexorável para a insuficiência renal crônica terminal; Enzo - TXVI !4 • A filtração glomerular depende do coeficiente de permeabilidade glomerular, da superfície da membrana filtrante e da pressão de ultrafiltração; • A permeabilidade do capilar glomerular é 10 a 100 vezes maior do que a de qualquer outro capilar do organismo; • A filtração glomerular por nefro depende diretamente do fluxo plasmático glomerular; • A angiotensina II e o hormônio antidiurético promovem contração das células mesangiais; • A endotelina-1 reduz o fluxo renal e o bloqueio do óxido nítrico diminui a filtração glomerular; • O fator atrial natriurético aumenta o fluxo plasmático glomerular; • Os glicocorticóides aumentam o fluxo plasmático glomerular; • A permeabilidade seletiva da barreira glomerular depende do tamanho, da forma e especialmente da carga da molécula. A albumina é muito pouco filtrada por se tratar de molécula aniônica. Nas glomerulonefrites a perda das cargas negativas da membrana glomerular aumenta a filtração de proteínas; • Na redução de massa renal, no diabetes mellitus e no aumento da ingestão protéica ocorre hiperfiltração glomerular; • O aumento do fluxo plasmático glomerular e da pressão capilar glomerular são os responsáveis pelo aumento da filtração glomerular por nefro; pontos-chave Funções Tubulares - Reabsorção de água; - Concentração e diluição de urina; - Reabsorção de substâncias filtradas (p.ex.: glicose, aminoácidos, fosfato, íons {Na+, K+, Ca2+, Mg+), HCO3-); - Acidificação urinária; - Secreção de substâncias (p.ex. ácido úrico, penicilina); - O néfron é a unidade funcional do rim e é constituído pelo glomérulo e 14 segmentos tubulares. O trabalho de milhões de néfrons resulta na formação da urina. Cerca de 25% do plasma que atinge o rim são ultrafiltrados pelos glomérulos, levando à formação de 90 a 130 ml/min de ultrafiltrado em média no homem. Entretanto, apenas 1,2% desse volume é eliminado, e o restante reabsorvido da luz tubular para o espaço peritubular; - Ao lado deste intenso processo de reabsorção temos outro, não menos importante, o de secreção tubular. Este se caracteriza pelo transporte de substâncias do espaço peritubular (vasos e interstício) para a luz tubular. Este processo permite a excreção pela urina de substâncias que não passaram pela barreira dos capilares glomerulares, como macromoléculas ou partículas ligadas a proteínas; - A formação da urina resulta de três processos: - (1) Filtração glomerular; - (2) Reabsorção tubular; - (3) Secreção tubular; - O túbulo renal é formado por uma parede de epitélio simples. As células epiteliais renais são ditas polarizadas devido às diferentes características de transporte de suas duas membranas: apical e basolateral. A membrana apical ou luminal, que está em contato direto com o fluido tubular, apresenta diferentes canais iônicos, carregadores, trocadores e co-transportadores, de acordo com as necessidades de transporte do segmento, além de bombas de transporte ativo. A membrana basolateral é a que está em contato com o espaço intercelular e o capilar peritubular. Além de canais e outros tipos de transportes facilitados, a membrana basolateral apresenta uma densidade variável de bombas, que utilizam a energia liberada pela hidrólise do ATP para transportar ativamente o Na para fora e o K para o interior da célula. Essas bombas são na verdade enzimas transportadoras e são denominadas de Na, K-ATPases. Em condições normais as Na, K-ATPases distribuem-se apenas na face basolateral das células tubulares renais. Como esta enzima necessita de ATP, a sua distribuição nos segmentos do néfron é diretamente proporcional aos segmentos que possuem maior quantidade de mitocôndrias. Portanto, o túbulo contornado proximal e a porção espessa ascendente da alça de Henle são os segmentos do néfron que apresentam maior distribuição quantitativa da Na, K-ATPase; TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL - O túbulo proximal é responsável pela reabsorção isotônica de 60 a 70% da carga filtrada de NaCl e água; - O sódio é reabsorvido na membrana luminal através de diferentes mecanismos: trocador Na-H, co-transporte com glicose, fosfato e aminoácido; - Na pars recta ocorre reabsorção preferencial de Cl e secreção de ácidos orgânicos; - O bicarbonato é preferencialmente reabsorvido nos segmentos iniciais do túbulo; ALÇA DE HENLE - A porção fina descendente é permeávelà água e muito pouco a solutos; - 25% da carga filtrada de NaCl é reabsorvida nas porções ascendentes da alça de Henle; - Presença do co-transportador Na-K-2Cl (sensível a furosemida) na membrana luminal da porção espessa ascendente. Este co-transportador é elemento muito importante nos mecanismos de concentração e diluição urinárias; - Ca e Mg são reabsorvidos pela via paracelular; TÚBULO CONTORCIDO DISTAL - Presença do co-transportador Na-Cl sensível a tiazídicos na membrana luminal; DUCTO COLETOR - As células principais são responsáveis pela reabsorção de sódio e secreção de potássio, sendo estes processos modulados pela aldosterona; - As células intercaladas são células escuras responsáveis pela acidificação urinária; - O ducto coletor medular interno é a porção final do néfron, onde ocorrem os ajustes finais para a formação da urina; Enzo - TXVI !5 Urinálise 1. Aspecto; 2. Cor: - Amarelo claro, transparente, âmbar: normal; - Amarelo escuro: concentrada: - Amarelo escuro, laranja, marrom (cor de laranja, chá mate, coca cola): colúria, bilirrubina; - Vermelha ou acastanhada: hematúria, mioglobinúria, hemoglobinúria; - Turva: infecções, cristais ou células abundantes; 3. Densidade: - Normal: 1,108+/-0,003; - <1015 (urina diluída): inibição do ADH, diuréticos, polidipsia, incapacidade de concentração urinária; - >1021 (urina concentrada): desidratação, agentes osmóticos; - Osmolaridade: 200-1400mOsm/kg; - Reflete a capacidade do ruim em concentrar a urina. Relação linear direta com a densidade: quanto maior a osmolaridade, maior a densidade; 4. pH: - Normal: próximo de 5,5; - pH>7,0 = infecção, alcalose sistêmica, baixa ingestão proteica, tubulopatias ou uso de acetazolamida; - pH <4,5 = contaminação ácida; 5. Proteína: - Deve estar ausente; - Se presente, quantificar em c24h; - Normal: até 150mg/24h (proteínas tubulares - Tamm-Horsfall + globulinas + albumina); - Em amostra isolada, quantificar a relação proteína (mg)/creatinina (mg): normal até 0,2; - Exame de microalbuminúria é mais sensível na detecção de proteinúria patológica; - Até 30mg/dL: normal; - 30-300mg/dL: microalbuminúria; - Maior que 300mg/dL: macroalbuminúria; - Proteinúria aumentada em: exercício físico intenso, postural (proteinúria ortostática), febre, glomerulopatias e tubulopatias; 6. Heme Pigmento: - Deve estar ausente; - Se presente, reflete presença de hemácias (hematúria), hemoglobina (hemoglobinúria) ou mioglobina (mioglobinúria); 7. Glicose: - Deve estar ausente; - Limiar renal: 160-180mg/dL; - Se presente (glicosúria), sugere hiperglicemia ou tubulopatia proximal; 8. Leucócitos: - Normal até 5 por campo; - Se aumentados: infecção do trato urinário, contaminação (p.ex. vulvovaginite), e algumas glomerulopatias; 9. Hemácias: - Normal: até 5 por campo; - Investigação com exame do dismorfismo eritrocitário; - Hemácias dismórficas: glomerulopatias; - Não-Dismórficas: trauma, litíase, neoplasias, cistite (causas urológicas); 10. Bilirrubina e Urobilinigênio: - Bilirrubina aumentada: doença hepática e obstrução biliar -> aumento da bilirrubina direta (hidrossolúvel); - Urobilinigênio urinário: doença hemolítica -> aumento da bilirrubina indireta; Enzo - TXVI !6 11. Nitrito: - Substancias produzidas por bactérias por redução de nitratos; - Indicam infecção ou contaminação por bactérias; 12. Corpos Cetônicos: - Ácido beta-hidroxibutírico; - Acetona e Acetoacetato; - Presentes em cetoacidose diabética, cetoacidose alcóolica e jejum prolongado; 14. Células Epiteliais: - Presentes normalmente em pequenas quantidades devido a renovação do epitélio do trato urológico; 15. Cilindros: - Hialinos: proteínas de Tamm-Horsfall; - Leucocitários ou Piocitários: pielonefrite; - Hemáticos: glomerulopatias; - Graxos ou Gordurosos: síndrome nefrótica; - Granulosos: glomerulopatias ou necrose tubular aguda; 16. Cristais: - Urato amorfo; - Ácido úrico; - Oxalato de cálcio; - Fosfato de amônio e magnésio; - Cistina; - Presença de cristais pode auxiliar na investigação etiológica de nefrolitíase; - Em grandes quantidade, podem levar a obstrução tubular e lesão renal aguda; Estudos Radiológicos ULTRASSONOGRAFIA - Exame não invasivo, porém examinador dependente; - Útil para: - Diagnóstico de doença renal policística; - Exclusão de hidronefrose; - Localização de cálculos; - Avaliação de tamanho, espessura do córtex e ecogenicidade renal (diferenciação entre a doença renal crônica e a lesão renal aguda); - Orientação de agulha para biópsia renal; UROGRAFIA EXCRETORA - Também chamada de Pielografia Descendente; - Uso de contraste iodado endovenoso, gerando risco de nefropatia por contraste; - Radiografias simples seriadas; - Útil para definir cicatrizes, cistos e outras anormalidades, bem como para avaliação de hidronefrose, deformidades, cálculos, obstrução e dilatação; TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA - Cortes transversais; - Avaliação de massas renais; - Avaliação da anatomia perirrenal; - Risco de nefropatia por contraste quando utilizado; RESSONÂNCIA MAGNÉTICA - Imagens mais sensíveis que as da tomografia; - Caro, nem sempre acessível; - Angioressonância: avaliação da vascularização renal, transplante renal com doador vivo, investigação de estenose de artéria renal; Enzo - TXVI !7 CINTILOGRAFIA RENAL - Uso de radionuclídeos; - Cintilografia Renal Dinâmica: - Medida da TFG e do fluxo sangüíneo renal; - Estimativa da função renal relativa; - Investigação de estenose da artéria renal; - Cintilografia Renal Estática: - Diagnóstico de anormalidades renais; - Avaliação da função tubular; - Identificação de cicatrizes renais (p.ex.: pielonefrites); BIÓPSIA RENAL - Exame invasivo; - Permite análise histopatológica (microscopias óptica e eletrônica, imunofluorescência); - Indicações: - Síndrome Nefrótica em adultos; - Hematúria glomerular de origem desconhecida (raramente indicado); - Proteinúria >1g/24h; - Doença Tubular Intersticial de início agudo; - Diagnóstico de colagenoses e vasculites; - Transplante renal; - Doença renal de etiologia desconhecida; Principais Síndromes Nefrológicas - Lesão Renal Aguda; - Doença Renal Crônica; - Síndrome Nefrítica Aguda; - Síndrome Nefrótica; - Anormalidades urinárias assintomáticas; - Infecção Urinária; - Obstrução do Trato Urinário; - Síndromes Tubulares Renais; - Hipertensão Arterial; - Nefrolitíase; Enzo - TXVI !8 nefrologia Doença Renal Crônica Introdução - A doença renal crônica (DRC) é definida como anormalidades na estrutura ou função renal, presentes por mais de 3 meses, com implicações para a saúde; - A doença renal crônica é uma síndrome clínica caracterizada por lesão renal com perda progressiva e irreversível da função renal, culminando com a falência renal; - Evolui com queda da taxa de filtração glomerular, levando, em sua fase mais avançada, à insuficiência renal crônica (IRC) terminal; Etiologia - De um modo geral, as causas da DRC são processos patológicos lentamente progressivos. Ao contrário do que ocorre na maioria dos casos de IRA, na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons é irreversível; - Às vezes a doença renal crônica pode se instalar de forma aguda, tal como acontece na necrose cortical aguda e na glomerulonefrite rapidamente progressiva. Nessas patologias, a capacidade de regeneração do parênquima renal pode ser abolida, e o paciente se torna agudamente um nefropata crônico (pois previsivelmente continuará em insuficiência renal após 3 meses); - Doenças altamente prevalentes na população, como Diabetes Mellitus e Hipertensão Arterial, são as principais etiologias de DRC no Brasil, respondendo juntas por 70% doscasos; - Outras causas também importantes observadas são: - Glomerulopatias Primárias e Secundárias; - Doenças vasculares-isquêmicas; - Pielonefrite Crônica - refluxo vésico-ureteral; - Nefrite Túbulo-Intersticial crônica (p.ex.: pelo uso de AINEs, lítio, rifampicina); - Nefrolitíase de repetição; - Doença renal policística; - Malformações congênitas; - Insuficiência cardíaca (Sd. Cardiorrenal); - A Glomeruloesclerose Diabética e a Nefroesclerose Hipertensiva são as principais etiologias na DRC terminal; Estadiamento - Na atualidade, o estadiamento da DRC tem sido feito conforme o sistema proposto pela KDIGO. Esta classificação permite estratificar o paciente quanto ao risco de complicações da DRC (p.ex.: eventos cardiovasculares, evolução para doença renal em fase terminal, óbito); - Além da taxa de filtração glomerular, também é valorizado o grau de albuminúria, uma vez que este último parâmetro é capaz de predizer o prognóstico independentemente da TFG; - A classificação final será composta pela combinação dos estágios “G” + “A”, devendo-se acrescentar a letra “D” se o paciente estiver em diálise (p.ex.: G1A2 -> TFG normal, porém com presença de dano renal; G3aA1 -> DRC leve a moderada; G5DA3 -> falência renal proteinúrica em diálise); Enzo - TXVI !1 Critérios Diagnósticos (1 ou +) Marcadores de Lesão Renal Albuminúria >30mg/24h ou relação Albumina/Creatinina >30mg/g Alterações no sedimento urinário (p.ex.: hematúria dismórfica) Anormalidades em eletrólitos ou outras devido a distúrbios tubulares Anormalidades detectadas por histologia (biópsia renal) Anormalidades estruturais diagnosticadas por imagem Transplante renal Queda na Taxa de Filtração Glomerular TFG <60mL/min/1,73m 2 - A relação entre creatinina e TFG, a partir de determinado grau de lesão é exponencial; - Quando a creatinina dobra, o clearance cai em torno de 50%; Enzo - TXVI !2 Verde -> risco baixo Amarelo -> risco moderado Laranja -> risco alto Vermelho -> risco muito alto ALBUMINÚRIA A1 A2 A3 Normal/Pouco Aumentada Aumento Moderado Aumento Intenso <30mg/g <3mg/mmOl 30-300mg/g 3-30mg/mmOL >300mg/g >30mg/mmOL G1 Normal ou aumentada ≥90 G2 Redução discreta 60-89 G3a Redução discreta a moderada 45-59 G3b Redução moderada a acentuada 30-44 G4 Redução acentuada 15-29 G5 Falência Renal <15 TF G (m L/ m in /1 ,7 3m 2 ) Creatinina x Clearance Cr ea tin in a (m g% ) 0 4 8 12 16 Clearance de Creatinina (mL/min/1,73 m2) 0 30 60 90 120 Creatinina Creatinina x Clearance Cr ea tin in a (m g% ) 0 4 8 12 16 Clearance de Creatinina (mL/min/1,73 m2) 0 30 60 90 120 Creatinina Estágio 5 Estágio 4 Estágio 3 Estágio 2 Estágio 1 Diagnóstico TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR MEDIDA - Exige coleta de urina de 24h; Clearance de Creatinina = Crurina x volume (ml/min/1,73m2) Crplasma TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR ESTIMADA - Não exige coleta de urina de 24h; (1) Cockcroft-Gault: Clearance de Creatinina = (140-idade) x Peso 72 x Crplasma - Multiplicar o resultado por 0,85 se paciente do sexo feminino; - Tradicionalmente utilizada, sendo um cálculo simples. É menos precisa, tendo maior erro de estimativa; (2) Estudo MDRD (Modification of Diet in Renal Disease): TFG = 186 x (Crplasma)-1,154 x idade-0,203 x 0,742 (se mulher) x 1,210 (se negro) - Mais precisa para TFG menor que 60mL/min/1,73m2; - Superestima TFG se maior que 60mL/min/1,73m2; (3) CKD-EPI (Chronic Kidney Disease - Epidemiology Collaboration): TFG = 141 X min(Cr/k, 1)α x max (Cr/k, 1)-1,209 x 0,993idade x 1,018 (se mulher) x 1,159 (se negro) - K = 0,7 se mulher e 0,9 se homem; - α = -0,329 se mulher e -0,411 se homem; - Maior precisão, sendo o método de escolha atual; Diminuição da Filtração - Aumento progressivo dos níveis plasmáticos de ureia e creatinina, marcadores da função renal; - Ultrassonografia: diminuição do tamanho renal, afilamento cortical e perda da diferenciação córtico-medular; - Acúmulo de toxinas urêmicas (de peso médio) como metilguanidina, mioinositol, aminas alifáticas, compostos aromáticos, β2 microglobulina, paratormônio; Síndrome Urêmica - Conjunto de sinais e sintomas que aparece na DRC quando a filtração glomerular está <30mL/min; - É resultado de alguns processos, tais como: - Acúmulo de toxinas nitrogenadas dialisáveis; - Acúmulo de peptídeos (moléculas de peso médio); - Retenção de líquido (hipervolemia, HAS, hiponatremia dilucional); - Retenção de eletrólitos (sódio, potássio, fosfato); - Retenção de ácido úrico, homocisteína; - Acidose metabólica; - Inflamação sistêmica; - Aterosclerose acelerada; - Deficiência de eritropoetina (anemia); - Deficiência de calcitriol (vitamina D ativa); - Hiperparatireoidismo secundário; TOXINAS DIALISÁVEIS - A disfunção renal grave leva ao acúmulo de substâncias tóxicas endógenas, algumas das quais podem ser filtradas pela membrana de diálise; - As toxinas são: ureia, compostos guanídicos, compostos aromáticos, aminas alifáticas e poliaminas; Enzo - TXVI !3 - A ureia apresenta efeito tóxico apenas quando em altas concentrações (>380mg/dL). Sua toxicidade é primariamente gastrintestinal (anorexia, náusea, vômitos) e hematológica (sangramento). Apesar da baixa toxicidade, seus níveis elevam-se juntamente com o de outras substâncias nitrogenadas tóxicas, podendo ser utilizada como marcador substituto da síndrome urêmica; - Os sinais e sintomas da Sd. Urêmica costumam ocorrer quando: - Ureia Sérica >180mg/dL em não-diabéticos e >140mg/dL em diabéticos; DISTÚRBIOS HORMONAIS - Vários sinais e sintomas da Sd. Urêmica são causados por desequilíbrios hormonais. O principal parece ser a elevação dos níveis de paratormônio (PTH) devido ao hiperparatireoidismo secundário. O PTH é uma toxina urêmica e contribui para quase todos os sinais e sintomas observados, incluindo a encefalopatia, a cardiomiopatia, a anemia e o prurido; - O rim possui função endócrina, produzindo Eritropoetina (EPO) e Calcitriol (1,25 diidroxivitamina D). A deficiência de eritropoetina é o principal fator patogênico da anemia urêmica. A deficiência de calcitriol está implicada na osteodistrofia renal e na miopatia urêmica, sendo ainda uma das causas do hiperparatireoidismo secundário; - A deficiência na produção de amônia (NH3) pelo parênquima renal contribui para a acidose metabólica da uremia; - Um déficit na produção de óxido nítrico contribui para a hipertensão arterial; DESEQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO - Na DRC, à medida que a filtração glomerular se reduz, um mecanismo de adaptação faz aumentar a fração excretora de cada néfron remanescente, de forma a manter a capacidade de excreção renal total e garantir o equilíbrio hidroeletrolítico; - Enquanto a TFG for superior a 20mL/min, o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico geralmente estará intacto. Entretanto, quando a filtração chega a valores muito baixos, compatíveis com a Síndrome Urêmica (ver a seguir), a regulação hidroeletrolítica torna-se limitada; p.ex. um rim normal, com TFG=120L/dia, filtra 16.800mEq de Na+ por dia, se a natremia for de 140mEq/L; -> A fração excretória normal de Na+ (FeNa) está em torno de 0,8%, isto é, dos 16.800mEq, 135mEq serão eliminados na urina, e esses 135mEq correspondem à quantidade de Na+ presente na dieta normal; um renal crônico, com TFG=4,3L/dia, considerando a natremia de 140mEq; -> Nesse paciente, o Na+ filtrado está em torno de 600mEq para uma natremia de 140mEq; -> Se a fração excretória for de 0,8%, apenas 5mEq de Na+ serão excretados em 24h; - O aumento da FENa é estimulado por uma retenção inicial de sódio, o quemantém o paciente em um estado hipervolêmico. A hipervolemia estimula a liberação do peptídeo atrial natriurético e suprime o sistema renina- angiotensina-aldosterona, promovendo aumento da fração excretória de sódio; - Qualquer aumento na ingestão de sódio provocará uma maior retenção volêmica, até que seja atingido um novo equilíbrio para que a excreção fique igual ao sódio ingerido; Enzo - TXVI !4 Manifestações que respondem à diálise Manifestações que não respondem à diálise Distúrbios Hidroeletrolíticos (hipervolemia, hipercalemia e hiponatremia) Distúrbios Ácido-Base (acidose metabólica) Sintomas Gastrintestinais (anorexia, náusea, vômitos, diarreia) Hipertensão Arterial Sistêmica Sintomas Cardíacos (pericardite, edema pulmonar cardiogênico) Sintomas Pulmonares e Pleurais (edema pulmonar, derrame pleural) Disfunção Plaquetária (predisposição à hemorragia) Intolerância à Glicose (resistência à insulina) Anemia Osteodistrofia Renal Distúrbios do Cálcio e do Fosfato (hipocalcemia, hiperfosfatemia) Prurido cutâneo Alterações articulares (artrite, periartrite, tenossinovite) Aterosclerose acelerada (doença coronariana) Dislipidemia (hipertrigliceridemia com HDL-C baixo) Estado de hipercatabolismo (desnutrição proteico-calórica) Depressão imunológica - Este é o princípio que rege a retenção de sódio, água, potássio, hidrogênio, fosfato e magnésio na Sd. Urêmica. O cálcio, por ser regulado muito mais pela absorção intestinal do que pela excreção renal, encontra-se geralmente baixo na uremia, em consequência do déficit de calcitriol; - Da mesma forma que o rim doente tem dificuldade para eliminar os excessos, também não é capaz de lidar com a falta nos estados de privação. Os néfrons do paciente urêmico não conseguem mais reduzir a fração excretória para níveis plasmáticos normais. Isso significa que o paciente urêmico pode ter uma perda mínima obrigatória de água e eletrólitos maior do que indivíduos normais. Por exemplo, uma restrição sódica acentuada na dieta (30mEq/dia) leva a um balanço negativo de sódio, até que um novo equilíbrio seja atingido à custa do estado hipovolêmico; balanço de sódio - Retenção de Na+ -> Hipervolemia; - A retenção de sódio é universal quando a filtração glomerular está abaixo de 10mL/min. Na ausência de uma restrição adequada na dieta; - Nesses pacientes, uma ingestão acima de 100mEq/dia de sódio já pode ser suficiente para causar hipervolemia e suas consequências clínicas: - Hipertensão Arterial Sistêmica; - Edema Generalizado (edema renal -> face e região periorbitária); - Edema agudo de pulmão (se sobrecarga salina aguda, p.ex. após ingestão de alimento com muito sódio); - Ritmo de galope, B3; - Estertores pulmonares; - Hepatomegalia; - Turgência jugular; - Ascite; - Derrame pleural; - O tratamento da retenção de sódio (hipervolemia) é a restrição de sódio e água associada com diuréticos; balanço de água - Retenção de água livre -> Hiponatremia; - O rim normal é capaz de eliminar quantidades variáveis de água livre ao modificar, conforme a necessidade, a osmolaridade urinária; - Em uma pessoa saudável, os rins podem eliminar até 18L de água por dia; - Quando a filtração glomerular está abaixo de 10mL/min, um consumo de água acima de 2-3L/dia já pode ser suficiente para promover retenção de água livre; balanço de potássio - Retenção de K+ -> Hipercalemia; - É comum apenas quando a filtração glomerular está <5-10mL/min; - O débito urinário é um fator importante. Quanto mais oligúrico for o paciente, maior a sua propensão de reter potássio; Enzo - TXVI !5 Distúrbios Hidroeletrolíticos mais frequentes na Sd. Urêmica Hipervolemia Retenção de sódio Hiponatremia Retenção de água livre Hipercalemia Retenção de potássio Acidose Metabólica Retenção de H+ Hiperfosfatemia Retenção de fosfato Hipermagnesemia Retenção de magnésio Hipocalcemia Deficiência de calcitriol - A uremia inibe a entrada de potássio nas células devido à queda na atividade da enzima NaK-ATPase, um fenômeno que antecede a retenção renal de potássio, por isso o paciente urêmico não tolera uma carga aguda de potássio, pois perdeu a principal defesa imediata contra a hipercalemia, o tamponamento celular; - Um grupo de pacientes com nefropatia crônica apresenta maior propensão à hipercalemia mesmo nos estágios iniciais da nefropatia, quando a filtração glomerular ainda está entre 50-80mL/min. São os pacientes diabéticos com hipoaldosteronismo hiporreninêmico (disfunção da arteríola aferente com diminuição da secreção de renina). A diminuição dos níveis de aldosterona prejudica a excreção de potássio pelos néfrons remanescentes; DESEQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE - O rim saudável excreta 70-100mEq de ácidos produzidos diariamente pelo metabolismo proteico. O catabolismo dos aminoácidos que contém enxofre libera ácido sulfúrico, o principal ácido produzido no metabolismo. Os outros ácidos são o fosfórico, o úrico, o lático e os cetoácidos (corpos cetônicos); - A excreção do H+ proveniente desses ácidos é realizada no néfron distal, por secreção tubular, regenerando no plasma 1HCO3 para cada 1H+ secretado no lúmen; - Para que o H+ seja de fato eliminado na urina, ele precisa se ligar a uma base urinária. Cerca de 2/3 do H+ é eliminado ligado à amônia (NH3), formando o íon amônio (NH4+); - Na insuficiência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 20mL/min, a produção renal de amônia começa a cair. Com isso, a eliminação urinária de H+ torna-se prejudicada. Nesse momento começa a surgir uma Acidose Metabólica Hiperclorêmica (Ânion Gap normal); - O aumento do cloreto é para compensar a queda do bicarbonato, de forma a manter o equilíbrio eletroquímico do plasma. É comum observar um bicarbonato plasmático entre 12-18mEq/L. O pH dependerá da compensação respiratória, estando geralmente em torno de 7,30; - A acidose metabólica crônica promove desmineralização óssea, pois o H+ é tampando no osso, em troca da liberação de cálcio e fosfato; - Quando a filtração glomerular está abaixo de 5-10mL/min, especialmente durante uma exacerbação aguda da insuficiência renal, surge uma Acidose Metabólica com Ânion Gap Aumentado. Nesse caso, o cloreto sérico está normal. O aumento do ânion Gap é decorrente da retenção do ânion sulfato, proveniente da dissociação do ácido sulfúrico (Ác. Sulfúrico -> H+ + Sulfato); Retenção de H+ -> Acidose Metabólica Hiperclorêmica Retenção de H+ e Sulfato -> Acidose Metabólica com Ânion Gap elevado - Um dos grandes problemas da acidose metabólica na uremia crônica, mesmo nas fases iniciais, é a aceleração do catabolismo proteico, que contribui para a perda de massa muscular típica desses pacientes; - Para evitar as complicações crônicas da acidose metabólica (agravamento da osteodistrofia renal e perda de massa muscular), a reposição diária de bicarbonato de sódio está indicada quando o bicarbonato plasmático for ≤20mEq/L; MANIFESTAÇÕES GASTRINTESTINAIS - Em geral, a anorexia é o sinal mais precoce; - Seguem-se náuseas, plenitude abdominal e vômitos (intolerância gástrica); - Estomatite, gengivite; - O comprometimento da mucosa intestinal, tanto no delgado como no cólon, pode levar a um quadro de diarreia urêmica, bem como íleo urêmico (distensão abdominal e cólicas); - Hemorragia digestiva tanto alta quanto baixa pode ocorrer; - A pior evolução desse quadro é a retenção de potássio (podendo levar a uma parada cardíaca) e a retenção de sódio (fazendo hipervolemia e podendo gerar um edema agudo de pulmão); - O tratamento deve ser feito com terapia dialítica para retirar as toxinas, evitando desnutrição proteico- calórica, associada a elevação da mortalidade na DRC; - A dieta deve ter restrição de sódio variando de 4-5g/dia; - Dieta Hipoproteica:pacientes em fase 3 e 4 da DRC -> 0,6g/kg/dia de proteína de alto valor biológico; - Dieta Hiperproteica: pacientes em fase 5 da DRC -> após início de diálise 1,2g/kg/dia; MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS - Os sintomas mais graves costumam aparecer quando a filtração glomerular está abaixo de 10mL/min. A fisiopatologia envolve o acúmulo de toxina nitrogenadas dialisáveis; - Declínio cognitivo leve a moderado, bem como alterações em testes neuropsicológicos já podem ser observados em pacientes com TFG <60mL/min; Enzo - TXVI !6 - Na uremia aguda (ou crônica agudizada), o paciente pode apresentar desorientação, letargia, lassidão, confusão mental, surto psicótico, delirium, associado a sinais de encefalopatia metabólica, como nistagmo, disartria, asterixis, mioclonia espontânea, fasciculações, hiperreatividade e sinal de Babinski bilateral; - Na uremia crônica, o distúrbio mental tende a ser insidioso e mais sutil nas fases iniciais. Observa-se disfunção cognitiva progressiva, caracterizada por amnésia anterógrada, dificuldade de concentração, alteração de comportamento ou de personalidade, insônia, confabulação e perda do raciocínio aritmético; - A diálise costuma reverter o quadro encefalopático. A melhora pode levar meses para se completar, sendo mais lenta encefalopatia urêmica crônica; - A neuropatia periférica urêmica é muito comum na insuficiência renal crônica. Trata-se de uma polineuropatia axonal, sensoriomotora simétrica e com predomínio distal e de membros inferiores. Os sintomas iniciais são parestesias dos pés tipo agulhadas que costumam piorar à noite. O exame físico revela hipoestesia em bota; - Outra manifestação da uremia é a síndrome das pernas inquietas; - O comprometimento dos nervos periféricos do sistema nervoso autonômico (simpático e parassimpático) é comum na uremia crônica. O controle da pressão arterial e da freqüência cardíaca podem estar alterados e isso pode causar hipotensão postural; MANIFESTAÇÕES ENDÓCRINAS - O metabolismo dos carboidratos encontra-se alterado na uremia, levando à intolerância à glicose e ao pseudodiabetes urêmico, que, na verdade, são graus variáveis do mesmo distúrbio, marcado pela resistência periférica à insulina associada à disfunção da célula beta; - Estes fenômenos podem ser observados em pacientes com TFG <50mL/min. A depuração da insulina plasmática é reduzida quando a TFG cai abaixo de 40mL/min, pois os rins são responsáveis pela depuração de 30% da insulina produzida; - A insuficiência renal crônica também promove hipogonadismo, com redução dos níveis de estrogênio em mulheres e testosterona em homens; MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS E ARTICULARES - A pele do paciente urêmico costuma ser seca (xerose urêmica) e hiperpigmentada, devido à redução da vitamina A cutânea e ao acúmulo de urocromos (escórias pigmentadas); - Em pacientes não submetidos à terapia de substituição renal, pode-se observar uma espécie de pó branco, a chamada neve urêmica; - O prurido urêmico é multifatorial e pode melhorar com a diálise. A maioria dos pacientes com prurido intenso e refratário apresenta níveis elevados de PTH; - As unhas e os cabelos encontram-se secos e quebradiços; - A amiloidose por beta2-microglobulina, relacionada à hemodiálise crônica, manifesta-se freqüentemente com a síndrome do túnel do carpo, uma parestesia e dor em uma das mãos devido à compressão do nervo mediano pelo depósito de proteína amilóide; MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS E IMUNOLÓGICAS - A anemia é uma das primeiras manifestações da síndrome urêmica. Em geral instala-se quando a filtração glomerular cai abaixo de 30-40mL/min (creatinina sérica >2,0-3,0mg/dL); - A anemia urêmica é normocrômica e normocítica. É responsável por uma série de sintomas atribuídos à síndrome urêmica, tais como astenia, indisposição física e mental, depressão, déficit cognitivo, insônia, cefaléia, diminuição da libido, anorexia e tendência ao sangramento; - O principal fator implicado na anemia urêmica é a deficiência relativa de eritropoetina, hormônio produzido por uma subpopulação de fibroblastos no interstício renal, em resposta à hipóxia tecidual, e que age na medula óssea estimulando a diferenciação das células-tronco em células progenitoras eritróides; - Toxinas dialisáveis e aumento de PTH também estão envolvidos, reduzindo a meia-vida da hemácia de 120 para 65-70 dias e inibindo o efeito da eritropoetina na medula óssea. O PTH também promove fibrose medular; - Possíveis agravantes da anemia em renais crônicos são a carência de ferro e vitaminas e a intoxicação por alumínio; - É comum a anemia ferropriva no renal crônico que não recebeu hemotransfusões frequentes. O diagnóstico deve ser feito na presença de ferritina sérica <100ng/mL e saturação de transferrina <20%; - O tratamento da anemia urêmica deve ser feito com reposição de Eritropoetina Recombinante, devendo ser iniciado quando os níveis de Hb caírem abaixo de 10g/dL; - O controle do hiperparatireoidismo contribui para a melhora da anemia; Enzo - TXVI !7 - A síndrome urêmica cursa com tendência a sangramento, devido a distúrbio da hemostasia primária. A uremia inibe a função plaquetária de adesão e agregação. O fator de Von-Willebrand (FVW) encontra-se inibido na uremia, apesar de estar com níveis plasmáticos elevados. É expresso clinicamente pelo prolongamento do tempo de sangramento cutâneo, que se encontra maior que 5min, e pela fragilidade capilar (prova do laço positiva). O distúrbio pode ser controlado inicialmente com reposição de crioprecipitado. O tratamento definitivo deve ser a diálise; - A uremia crônica está associada a uma série de alterações no sistema imunológico, levando a um estado de imunodeficiência moderada. A função dos neutrófilos (capacidade de fagocitose e bactericida) está deprimida na uremia, predispondo a infecções bacterianas ou fúngicas com evolução grave; METABOLISMO MINERAL E ÓSSEO - Ações do Calcitriol: - (1) Aumento da absorção intestinal de cálcio e fósforo; - (2) Inibição do paratormônio (PTH); - Paratormônio (PTH): - Produzido pelas glândulas partireóides; - Controlado por: calcitriol, feedback negativo e níveis séricos de cálcio ionizado; - Estimula a reabsorção óssea, que por sua vez ativa a neoformação óssea (alto turn over). O osso neoformado perde sua arquitetura composta por lâminas paralelas de colágeno mineralizado (osso lamelar) e ganha uma nova arquitetura, caracterizada pela desorganização das fibras colágenas mineralizadas, adquirindo um aspecto de osso trançado, do inglês woven bone. O estímulo metabólico também leva à fibrose parcial da medula óssea e ao surgimento de áreas císticas no osso, as quais podem sangrar dando origem aos tumores marrons (cistos de sangue antigo); - Em fases precoces da falência renal crônica, quando a filtração glomerular está abaixo de 40mL/min, o fosfato começa a ser retido e precisa ser filtrado em excesso pelos néfrons remanescentes, um fenômeno inibitório da produção de calcitriol pelas células tubulares proximais. A queda na produção de calcitriol estimula a secreção de PTH simplesmente por deixar de inibir fisiologicamente a produção de PTH. Quando a filtração glomerular cai abaixo de 20mL/min, já pode ser vista hiperfosfatemia (P>4,5mg/dL), um fator que por si só também já estimula a síntese de PTH. Uma tendência à hipocalcemia começa a ocorrer devido a dois fatores: - (1) Efeito quelante do cálcio ionizado pelo fosfato aumentado; - (2) Redução da absorção intestinal de cálcio pela queda dos níveis de calcitriol; - O cálcio, ao contrário dos demais eletrólitos, tem na absorção intestinal a principal via de regulação de seu balanço corporal. Em condições fisiológicas, o aumento do PTH corrigiria prontamente os níveis séricos de cálcio, por aumentar a retirada desse elemento dos ossos. Entretanto, a síndrome
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