Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Júlia Demuner - MED UVV XXIX Rim - Moore cap. 2, Aires cap.49 e Guyton cap.26/27 Os rins são os órgãos responsáveis pela manutenção do volume e da composição do líquido extracelular do indivíduo dentro dos limites fisiológicos compatíveis com a vida. Embriologia Três conjuntos de rins sucessivos desenvolvem-se nos embriões: o primeiro conjunto, os pronefros , é rudimentar, o segundo, os mesonefros , funciona brevemente durante o período fetal inicial e o terceiro conjunto, os metanefros , forma os rins permanentes. Pelve e Ureter Bífidos Pelve renal e ureter bífidos são comuns, sendo resultantes da divisão do broto uretérico (divertículo metanéfrico), o primórdio da pelve renal e ureter. Rim em Ferradura Os rins estão próximos na pelve embrionária e, em alguns casos, fundem-se para formar um rim em ferradura, pois a raiz da artéria mesentérica inferior impediu a migração normal do rim anormal. Geralmente esta condição não produz sintomas, pois o sistema coletor se desenvolve normalmente e os ureteres entram na bexiga, porém, se o fluxo urinário for impedido , podem aparecer sinais e sintomas de obstrução (cálculos urinários, hidronefrose), que geral aumento da pressão no rim afetado, e infecção . Além disso, possuem grande variabilidade anatômica, sendo que a sua localização definitiva só ocorre na 9º semana gestacional, após o contato dos mesmos com as adrenais. Rim Ectópico Às vezes, o rim embrionário de um ou ambos os lados não entra no abdome e situa-se anteriormente ao sacro. Ureter Ectópico O ureter ectópico é uma anormalidade congênita na qual um ou ambos os ureteres não desembocam no trígono vesical, e o local da inserção pode ser em qualquer local ao longo do trato reprodutivo ou urinário inferior. Os orifícios ectópicos laterais frequentemente ocasionam RVU , enquanto os orifícios ectópicos distais causam, com mais frequência, obstrução e incontinência, visto que a urina flui do óstio do ureter e não entra na bexiga. Anatomia Morfofuncional O rim humano é multilobado, cada lobo é formado por uma massa piramidal de tecido, com a base situada na borda convexa do órgão e o ápice na côncava, sendo que nesta última encontra-se o hilo, região de entrada do seio renal na qual estruturas que servem aos rins (vasos, nervos e estruturas que drenam urina do rim) entram e saem. O rim é dividido em duas zonas, cortical e medular: Medular A zona medular apresenta estruturas cônicas , denominadas pirâmides de Malpighi , cujas bases e lados estão em contato com a zona cortical e cujos vértices fazem saliências nos cálices renais , denominadas de papilas renais . Cada papila renal é envolta por uma extensão membranosa da parte superior do ureter, a pélvis renal, formando os cálices menores, os quais se unem constituindo os Júlia Demuner - MED UVV XXIX cálices maiores e desembocam na pélvis renal. Os cálices, a pélvis e os ureteres são envoltos por musculatura lisa que, ao se contrair ritmicamente, impulsiona a urina em ondas peristálticas . O ápice de cada papila, denominado área cribriforme , apresenta pequenos orifícios que correspondem à desembocadura dos ductos coletores papilares e, partindo das bases das pirâmides em direção ao córtex, existem formações alongadas que se distribuem em forma de leque, os chamados raios medulares , que contém alças de Henle, ductos coletores e vasos sanguíneos . De um modo geral, a região medular possui, além dos vasos sanguíneos, as porções mais profundas dos néfrons: segmentos retos proximais, alças de Henle e ductos coletores Cortical A zona cortical é contínua e ocupa o espaço compreendido entre as bases das pirâmides e a cápsula renal e, além de vasos sanguíneos, contém glomérulos, túbulos proximais e distais de todos os néfrons e alças de Henle e ductos coletores dos néfrons mais superficiais. Vascularização A irrigação do rim é feita pelas artérias renais que se dividem perto do hilo renal em artérias segmentares, estas não fazem anastomoses significativas com outras artérias segmentares, de modo que a área suprida por cada artéria segmentar é uma unidade independente. ! O caráter terminal da vascularização arterial é importante pois a lesão de qualquer ramo infere em isquemia do parênquima renal correspondente , porém, o mesmo não acontece com as veias renais que se anastomosam. !! Nas lesões do parênquima renal o sangue não atinge o retroperitônio pois fica retido pela cápsula renal (de Gerota). - Artéria renal direita: é mais longa e frequentemente mais alta, e passa posteriormente à VCI, à veia renal direita, à cabeça do pâncreas e à porção descendente do duodeno. - Artéria renal esquerda: é mais curta e mais baixa, e passa através da veia renal esquerda, do corpo do pâncreas e da veia esplênica. Aorta abdominal → Artéria renal D/E → 5 artérias renais segmentares (artérias terminais) → Artéria lobar → Artéria interlobar → Artéria arqueada → Artéria interlobular → Arteríolas aferentes e eferentes (rei sai loucamente indo a inter amanhã) - Veia renal esquerda: é mais longa e tem a veia adrenal e veia gonadal esquerdas como tributárias . - Veia renal direita: é mais curta e não tem tributárias. Todas as veias renais drenam para a VCI , sendo que a veia renal esquerda é mais longa e recebe a veia suprarrenal esquerda e a veia gonadal (testicular ou ovárica) esquerda. Júlia Demuner - MED UVV XXIX Histologia da Medula A região do córtex renal está situada sobre as bases das pirâmides e é conhecida como arco cortical. Cada pirâmide renal com o seu arco cortical e colunas renais associadas, representa um lobo do rim , já a junção entre o raio medular e o tecido cortical que fica ao ser redor compõe o lóbulo do rim , delimitado pelas artérias interlobulares . Ureter Os ureteres são ductos musculares (25 a 30 cm de comprimento) com lumens estreitos que conduzem a urina dos rins para a bexiga . Seguem inferiormente, dos ápices das pelves renais nos hilos renais, passando sobre a margem a pelve na bifurcação das artérias ilíacas comuns e, depois, passam ao longo da parede lateral da pelve e entram na bexiga urinária. Os ureteres normalmente apresentam constrições relativas em três locais: (1) na junção dos ureteres e pelves renais, a JUP , (2) onde os ureteres cruzam a margem da abertura superior da pelve, e (3) durante sua passagem através da parede da bexiga urinária, JUV . ! Essas áreas de constrição são importantes por serem possíveis locais de obstrução por cálculos ureterais. Irrigação - porção superior: artérias renais - porção média: aorta abdominal, artérias gonadais e artérias ilíacas comuns. Filtração Renal No sistema porta renal, o sangue flui das artérias renais para uma arteríola aferente e destas segue para uma primeira rede de capilares (em forma de novelo), chamada de glomérulo. O sangue que deixa os glomérulos passa para uma arteríola eferente , e, então, para uma segunda rede de capilares, os capilares peritubulares , que cercam o túbulo renal. A função do sistema porta renal é filtrar o fluidosanguíneo para o interior do lúmen do néfron, nos capilares glomerulares e, então, reabsorver o fluido do lúmen tubular de volta para o sangue, nos capilares peritubulares. Corpúsculo Renal É formado pela junção entre Glomérulo (emaranhado de capilares fenestrados) e a Cápsula de Bowman (parietal + visceral). Júlia Demuner - MED UVV XXIX Glomérulo e a Barreira de Filtração Glomérulo consiste na junção entre um endotélio (fenestrado) e uma membrana basal glomerular (negativa). A membrana capilar glomerular é semelhante à encontrada em outros capilares, possui o endotélio capilar, a membrana basal e a camada de células epiteliais (podócitos) , sobre a superfície externa da membrana basal capilar. Juntas, essas camadas compõem uma barreira à filtração que, apesar das três camadas, filtra diversas centenas de vezes mais água e solutos do que a membrana capilar normal. O endotélio capilar é perfurado por milhares de pequenos orifícios chamados fenestrações , as quais permitem somente a passagem de moléculas com tamanho entre 50 a 10 nm. Revestindo este endotélio está a membrana basal , que consiste em uma trama de colágeno e fibrilas proteoglicanas com grandes espaços, pelos quais água e pequenos solutos pode ser filtrada, além disso, devido a sua carga negativa , ela evita a filtração das proteínas plasmáticas . A última parte da membrana glomerular é a camada de células epiteliais , que recobre a superfície externa do glomérulo. Essas células não são contínuas, mas têm longos processos denominados podócitos (camada visceral da CB) que revestem a superfície externa dos capilares e são separados por lacunas, chamadas fendas de filtração , pelas quais o filtrado glomerular se desloca. Além disso, uma proteína específica, a nefrina atua interconectando esses podócitos , formando mais uma barreira de filtração denominada fendas de diafragma, a qual só permite a passagem de moléculas com peso entre 7 a 9 nm. Síndrome Nefrótica Congênita A maioria das síndromes nefróticas congênitas são ocasionadas por mutações no gene NPHS1, que codifica a proteína nefrina que compõe a fenda do diafragma do podócito. Síndrome de Alport Uma nefropatia hereditária progressiva caracterizada pelo adelgaçamento, espessamento e divisão irregular da lâmina basal glomerular, levando a uma filtração Júlia Demuner - MED UVV XXIX glomerular anormal que permite a passagem de hemácias e proteínas. Além disso, pacientes portadores da síndrome de Alport frequentemente apresentam perda de audição (função defeituosa da estria vascular pela cóclea) e sintomas oculares (defeito da cápsula do cristalino). Cápsula de Bowman Continuamente com a camada visceral (podócitos/pedículos), está a camada parietal da cápsula de bowman, responsável por criar um espaço coletor ( espaço de bowman ) para a substâncias filtradas pela barreira e impedir que estas sejam perdidas para o meio externo. Além disso, circundando a camada parietal estão as células mesangiais , responsáveis por realizar a fagocitose de macromoléculas que encontram-se “presa” às fendas de filtração, por controlar a quantidade de sangue que chega pela artéria aferente e, também, por estimular as células justaglomerulares (barorreceptores) a produzirem renina. Seletividade da Barreira Apesar da alta intensidade da filtração, a barreira de filtração glomerular é seletiva na determinação de quais moléculas serão filtradas, com base no seu tamanho e em sua carga elétrica . molécula entre 50 a 100 nm → passa pelas fenestrações → molécula positiva ou neutra → passa pela membrana basal → molécula entre 25 a 50 nm → passa pelas fendas de filtração dos podócitos → moléculas entre 7 a 9 nm → passa pelos diafragmas de fenda das nefrinas Determinantes da Filtração Glomerular A FG é determinada pela pressão efetiva de filtração (PEF), a soma das forças hidrostáticas e coloidosmóticas através da membrana glomerular, e pelo coeficiente glomerular (Kf), determinado pelos fatores de permeabilidade e da área de superfície do glomérulo. TFG = PEF x Kf A pressão efetiva de filtração representa a soma das forças hidrostáticas e coloidosmóticas que favorecem ou se opõem à filtração através dos capilares glomerulares. Essas forças incluem (1) a pressão hidrostática, nos capilares glomerulares (pressão hidrostática glomerular, PG) que promove a filtração, (2) a pressão hidrostática na cápsula de Bowman (PB), por fora dos capilares que se opõe à filtração, (3) a pressão coloidosmótica das proteínas plasmáticas (pG) que se opõe à filtração, e (4) a pressão coloidosmótica das proteínas na cápsula de Bowman (pB) que promove a filtração. Taxa de Filtração Glomerular (TFG) = Pressão Efetiva de Filtração = Fatores Favoráveis à Filtração - Fatores Opostos à Filtração: - Pressão Hidrostática Glomerular: empurrar o plasma para fora do capilar em direção ao espaço de bowman (60mmHg), sendo diretamente afetada pela pressão arterial sistêmica. - Pressão Coloidosmótica: pressão exercida por proteínas (principalmente albumina) que retém o líquido dentro dos capilares (32mmHg). - Pressão Hidrostática Capsular: empurra o líquido para fora do espaço de bowman em direção aos capilares (18mmHg) - Pressão Coloidosmótica Capsular: atua no espaço de bowman “puxando” o líquido para o seu interior, porém, como em condições fisiológicas não há proteínas neste espaço , essa pressão equivale a zero. ! Na nefropatia diabética , ocorre o depósito de proteínas que diminuem a área da superfície glomerular e, consequentemente, a TFG. !! Na condição denominada glomerulonefrite , pode ocorrer dano aos glomérulos e suas membranas basais, tornando-as Júlia Demuner - MED UVV XXIX muito porosas, aumentando a taxa de filtração a tal ponto que faz com que haja perda de proteínas na urina (proteinúria) . Alterações nas Pressões PHC Em certas condições patológicas, associadas à obstrução do trato urinário, a pressão na cápsula de Bowman pode aumentar e ocasionar redução grave da FG . Por exemplo, na litíase ureteral, que obstrui a eliminação da urina e aumenta a pressão na cápsula de Bowman. Essa situação reduz a FG e, eventualmente, pode ocasionar hidronefrose (distensão e dilatação da pelve renal e dos cálices) e lesar ou até mesmo destruir o rim, a menos que a obstrução seja revertida. PHG A pressão hidrostática glomerular é determinada por três variáveis, cada uma das quais sob controle fisiológico: (1) pressão arterial, (2) resistência arteriolar aferente, e (3) resistência arteriolar eferente. PC Hiperproteinemia: qualquer condição patológica que aumente a quantidade de proteínas no sangue, como no mieloma múltiplo, faz com que a PC aumente . Hipoproteinemia: qualquer condição patológica que diminua a quantidade de proteínas no sangue, como nos casos de diarréia crônica em que há perda de proteínas nas fezes, a PC irá diminuir . Determinantes da Filtração Glomerular Os determinantes da FG mais variáveis e sujeitos ao controle fisiológico incluem a pressão hidrostática glomerular e a pressão coloidosmótica capilar glomerular. Essas variáveis, por sua vez,são influenciadas pelo sistema nervoso simpático, por hormônios e por autacóides (substâncias vasoativas são liberadas nos rins, agindo localmente) e outros controles por feedback intrínsecos aos rins. Sistema Nervoso Simpático A hipotensão (PA < 60mmHg) diminui a perfusão renal e pode ocasionar lesão renal aguda. Coração hipotensão → baixa estimulação dos barorreceptores seio carotídeo/aórtico → baixa transmissão pelos nervos vago e glossofaríngeo → tronco cerebral → liberação de norepinefrina e epinefrina → receptores beta 1 no coração → aumento da FC + contratilidade + débito cardíaco → aumento da PA Vasos Júlia Demuner - MED UVV XXIX hipotensão → baixa estimulação dos barorreceptores seio carotídeo/aórtico → baixa transmissão pelos nervos vago e glossofaríngeo → tronco cerebral → liberação de norepinefrina e epinefrina → receptores alfa 1 na A.A → vasoconstrição → diminuição da TFG hipotensão → baixa estimulação dos barorreceptores seio carotídeo/aórtico → baixa transmissão pelos nervos vago e glossofaríngeo → tronco cerebral → liberação de norepinefrina e epinefrina → receptores alfa 1 nos vasos sistêmicos → vasoconstrição geral → aumento da resistência vascular → aumento da PA Células Justaglomerulares hipotensão → baixa estimulação dos barorreceptores seio carotídeo/aórtico → baixa transmissão pelos nervos vago e glossofaríngeo → tronco cerebral → liberação de norepinefrina e epinefrina → receptores beta 1 nas células JG → liberação de renina Sistema RAA células JG percebem a diminuição na pressão arterial → conversão do angiotensinogênio em angiotensina I (fígado) → conversão da angiotensina I em angiotensina II pela ECA (pulmão) → liberação de ADH (hipófise) + aldosterona (adrenais) + vasoconstrição da A.E Norepinefrina, Epinefrina e Endotelina Os hormônios que provocam constrição das arteríolas aferentes e eferentes , causando reduções na FG e no fluxo sanguíneo renal, incluem a norepinefrina e epinefrina liberadas pela medula adrenal. Outro vasoconstritor, a endotelina, é peptídeo que pode ser liberado por células endoteliais vasculares lesionadas dos rins, assim como por outros tecidos. As arteríolas eferentes são muito sensíveis à angiotensina II que, preferencialmente, ocasiona constrição das arteríolas eferentes e eleva a pressão hidrostática glomerular, enquanto reduz o fluxo sanguíneo renal. Assim, níveis aumentados de angiotensina II que ocorrem com dieta hipossódica ou com depleção de volume ajudam a preservar a FG e a excreção normal de produtos indesejáveis do metabolismo que dependem da filtração glomerular para sua excreção, de mesmo modo, a constrição das arteríolas eferentes, induzida pela angiotensina II, eleva a reabsorção tubular de sódio e de água , o que ajuda a restaurar o volume e a pressão sanguínea. Feedback Tubuloglomerular Os rins têm um mecanismo especial de feedback que relaciona as mudanças na concentração de cloreto de sódio na mácula densa com o controle da resistência arteriolar renal e a autorregulação da FG. O mecanismo de feedback tubuloglomerular tem dois componentes que agem em conjunto para controlar a FG: mecanismo de feedback arteriolar aferente e mecanismo de feedback arteriolar eferente . Esses mecanismos de feedback dependem da disposição anatômica especial do complexo justaglomerular , o qual consiste de células da mácula densa na parte inicial do túbulo distal e de células justaglomerulares nas Júlia Demuner - MED UVV XXIX paredes das arteríolas aferentes e eferentes. A mácula densa é um grupo de células especializadas nos túbulos distais em íntimo contato com as arteríolas aferentes e eferentes. A FG diminuída torna mais lento o fluxo na alça de Henle, causando reabsorção aumentada da porcentagem de íons sódio e cloreto fornecidos no ramo ascendente, reduzindo por meio disso a concentração de cloreto de sódio nas células da mácula densa. Essa queda da concentração de cloreto de sódio na mácula densa desencadeia dois sinais: um que reduz a resistência ao fluxo sanguíneo nas arteríolas aferentes (o que eleva a pressão hidrostática glomerular e ajuda a retornar a FG ao normal) e um que aumenta a liberação de renina , pelas células justaglomerulares das arteríolas aferentes e eferentes (locais de maior estocagem da renina). Hipertensão aumento da pressão arterial → aumento da TFG → aumento de NaCl no túbulo distal (sobras do TCP) → estimulação da mácula densa → liberação de adenosina → vasoconstrição da A.A → diminuição do volume glomerular → diminuição da TFG → menos NaCl filtrado aumento da pressão arterial → aumento da TFG → aumento de NaCl no túbulo distal (sobras do TCP) → estimulação da mácula densa → liberação de adenosina → inibição das células justaglomerulares → inibe a liberação de renina Hipotensão diminuição da pressão arterial → diminuição da TFG → diminuição de NaCl no túbulo distal → estimulação da mácula densa → liberação de PGI2 e NO → vasodilatação da A.A → aumento do volume glomerular → aumento da TFG → mais NaCl filtrado diminuição da pressão arterial → diminuição da TFG → diminuição de NaCl no túbulo distal → estimulação da mácula densa → liberação de PGI2 e NO → estimulação das células justaglomerulares → liberação de renina ! A refeição rica em proteínas aumenta a liberação de aminoácidos para o sangue, reabsorvidos nos túbulos renais proximais, porém, como estes são reabsorvidos junto ao sódio, essa reabsorção diminui o aporte de sódio para a mácula densa, o que leva a diminuição na resistência das arteríolas aferentes, mediada pelo feedback tubuloglomerular e, consequentemente, a uma resistência arteriolar aferente diminuída que então eleva o fluxo sanguíneo renal e a FG. Autorregulação Miogênica Outro mecanismo que contribui para a manutenção do fluxo sanguíneo renal e a FG é a capacidade dos vasos sanguíneos individuais resistirem ao estiramento , durante o aumento da pressão arterial, fenômeno conhecido como mecanismo miogênico . O estiramento da parede vascular permite movimento aumentado de íons cálcio do líquido extracelular para as células, causando sua contração , a qual evita a distensão excessiva do vaso e, ao mesmo tempo, diminui o fluxo sanguíneo na artéria aferente e a TFG . Este mecanismo pode ser mais importante na proteção do rim da lesão induzida por hipertensão , pois, em resposta ao aumento súbito da pressão sanguínea, a constrição Júlia Demuner - MED UVV XXIX miogênica nas arteríolas aferentes atenua a transmissão da da pressão arterial aumentada para os capilares glomerulares. Hipertensão aumento da pressão arterial → estiramento dos capilares sanguíneos → abertura dos canais de sódio → interior das células positivo → estimulação do retículo sarcoplasmático → liberação de cálcio no citoplasma → miosina/actina → vasoconstrição → diminuição do volume glomerular na A.A → diminuição da TFG Hipotensão diminuição da pressão arterial → diminuição da passagem de sódio pelos canais → interior da célula não fica positivo o suficiente → retículo sarcoplasmático não é estimulado→ nãohá liberação de cálcio no citoplasma → menor interação miosina/actina → vasodilatação → aumento do volume glomerular na A.A → aumento da TFG Filtrado - Filtração: é o processo pelo qual a água e os solutos do sangue deixam o sistema vascular através da barreira de filtração e entram no espaço de Bowman (um espaço topologicamente fora do corpo). - Secreção: é o processo de transporte de substâncias do citosol das células epiteliais (que formam as paredes do néfron) para a luz tubular , as quais podem surgir por síntese dentro das próprias células epiteliais ou, mais frequentemente, provêm do interstício renal circundante e atravessam a camada epitelial. - Reabsorção: é o processo de movimento de substâncias da luz , através da camada epitelial para o interstício circundante, para os vasos sanguíneos circundantes. - Excreção: refere-se à eliminação de substâncias do organismo (presente na urina final). - Síntese: refere-se a uma substância produzida a partir de precursores moleculares, enquanto o catabolismo significa a degradação da substância em componentes moleculares menores. Composição do Filtrado Como a maioria dos capilares, os capilares glomerulares são relativamente impermeáveis às proteínas , assim, o líquido filtrado (chamado filtrado glomerular) é essencialmente livre de proteínas e desprovido de elementos celulares como as hemácias. Desse modo, as concentrações de outros constituintes do filtrado glomerular, incluindo a maior parte dos sais e moléculas orgânicas, são similares às concentrações no plasma. Doenças Glomerulares - Cecil, cap.122 e Riela, cap.21/22 As glomerulopatias podem ser classificadas de acordo com a ausência (primária) ou a presença de doença sistêmica (secundária) , por sua apresentação clínica ou quanto ao seu modo de instalação e progressão. Desse modo, quando aparecem isoladamente , são classificadas como primárias e, quando associadas a doenças sistêmicas (lúpus eritematoso sistêmico, hepatites virais ou diabetes melito), como secundárias. As principais consequências da agressão glomerular são proteinúria, hematúria, cilindrúria, queda de filtração glomerular e retenção de sódio, e os sinais e sintomas em geral mais apresentados são edema, hipertensão, urina escura e uremia. Fisiopatologia das Doenças Glomerulares Júlia Demuner - MED UVV XXIX Proteinúria Na fisiologia glomerular, proteínas de baixo peso molecular podem ser filtradas pela barreira de filtração, mas logo são reabsorvidas pelos túbulos proximais e não são identificadas em exames de urina, porém, quando há lesão da barreira , pode-se observar perda de proteínas na urina. Nas glomerulopatias, tem-se demonstrado que existem perda de cargas aniônicas e aumento da densidade de poros não discriminantes da MBG, o que leva ao aumento da sua permeabilidade com consequente proteinúria. Além disso, nas glomerulopatias em que ocorrem apenas lesão podocitária e perda de carga (glomerulonefrite por lesões mínimas), as proteínas encontradas na urina são basicamente de baixo peso molecular , como a albumina e a transferrina, considerando-se a proteinúria seletiva, já nas lesões que ocorre aumento da densidade de poros não discriminantes da MBG (NM, GNMP, GESF), encontram-se também proteínas de maior peso molecular , como imunoglobulinas, constituindo-se proteinúria não seletiva. Hematúria O conceito mais aceito atualmente refere-se ao fato de que, no curso da agressão renal, acabam ocorrendo problemas na MBG que, associadas ou não a reação inflamatória local com vasodilatação, possibilitam a passagem de hemácias para o espaço de Bowman . Essa passagem se faz pela diapedese, o que provoca intensa alteração da sua forma e, por isso, a maior parte dos eritrócitos encontrados na urina de pacientes com glomerulopatias apresenta-se dismórfica ou como cilindros hemáticos , característicos de grandes lesões glomerulares. Retenção de Sódio, Edema e Hipertensão Outra alteração muito frequente nas glomerulopatias é a retenção de sódio , que se manifesta clinicamente por edema e hipertensão arterial . Como há perda de proteínas pela urina, com consequente hipoalbuminemia e diminuição da pressão oncótica do plasma, ocorre extravasamento de líquido do intravascular para o interstício, com formação de edema . Além disso, a retração do intravascular, com hipovolemia relativa, ativa diferentes sistemas de retenção de sódio (sistema renina-angiotensina, sistema simpático e diminuição do fator natriurético), agravando o edema e formando um círculo vicioso . Síndrome Nefrítica Descreve-se a síndrome nefrítica como aparecimento súbito de edema discreto, hipertensão arterial e hematúria e oligúria . A glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica, a nefropatia por IgA, a nefrite lúpica e a glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) também podem se manifestar dessa forma. As principais consequências da agressão glomerular são proteinúria, hematúria, cilindrúria, azotemia (uréia e creatinina no sangue) e os sinais e sintomas em geral mais apresentados são edema, hipertensão , urina escura e uremia (acúmulo de uréia no sangue). Diagnóstico Os achados que indicam a presença de doença renal de origem glomerular incluem cilindros hemáticos e hemácias dismórficas no sedimento urinário , além de grau significativo de albuminúria , pois, em uma pessoa normal, a excreção urinária de albumina é menor que 30 mg/dia . A biópsia renal é o método mais confiável para distinguir a glomerulonefrite crônica de outros distúrbios renais. Glomerulonefrite Difusa Aguda Pós-Estreptocócica Em geral, o aparecimento do quadro clínico é precedido por infecção estreptocócica , principalmente por estreptococos beta-hemolíticos do grupo A , sendo esta lesão mais comum em crianças. Com frequência, o paciente apresenta início súbito de edema, geralmente pré-tibial e bipalpebral e de pequena a moderada intensidade, hematúria macroscópica e hipertensão arterial, e, eventualmente, dor lombar. ! Essa doença não tem importante correlação clínica com DRC pois é autolimitada , não apresentando Júlia Demuner - MED UVV XXIX sequela renal. EAS O exame de urina revela hematúria, com hemácias dismórficas, cilindros hemáticos, leucocitúria e cilindros leucocitários . A proteinúria de 24 h em 90% dos casos é menor que 3 g. Nefropatia por IgA A apresentação clínica mais frequente corresponde a surtos de hematúria macroscópica associada a infecções de vias respiratórias superiores ou ao exercício físico. O paciente pode apresentar quadro de mal-estar generalizado, com dores musculares discretas, acompanhados ou não de disúria e, no exame de urina, os valores de C3 e C4 (sistema complemento) encontram-se reduzidos. Síndrome Nefrótica Pode ser definida pelo quadro de proteinúria maciça superior a 3 a 3,5 g/urina 24h , com tendência a edema (anasarca), hipoalbuminemia e hipercolesterolemia . A glomerulopatia primária que representa melhor essa síndrome é a doença por lesões mínimas, mas a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) e a nefropatia membranosa (NM) também se encaixam bem nesse grupo. A síndrome nefrótica pode serprimária e idiopática ou pode ser causada por uma condição subjacente conhecida, como o diabetes, amiloidose ou lúpus eritematoso sistêmico, sendo a doença por lesão mínima a causa mais comum de síndrome nefrótica em crianças e a nefropatia membranosa idiopática e a glomerulosclerose segmentar e focal, as causas mais comuns em adultos . Os pacientes podem apresentar ganho de peso, edema periférico e edema periorbital , além de trombose venosa , cujas causas incluem a perda urinária de antitrombina III, proteína C e proteína S que previnem a trombose, bem como a síntese aumentada de reagentes de fase aguda que a promovem. Glomerulonefrite por Lesões Mínimas A nefropatia por lesão mínima é uma doença na qual há lesão das paredes dos capilares glomerulares , o local do glomérulo onde ocorre a filtração do sangue, sendo a causa mais comum de síndrome nefrótica em crianças . São características desta lesão, a perda seletiva de albumina, uma resposta positiva ao uso de corticoides e o excelente prognóstico renal, podendo ser observado, também, a quase inexistência de hematúria macroscópica .
Compartilhar