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2 Linguística geral I

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2º PERÍODO 
LINGUÍSTICA
GERAL I
AUTORAS
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atualmente é professora do Departamento de Comunicação e Letras da Universidade 
Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Liliane Pereira Barbosa
Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atualmente é professora do Departamento de Comunicação e Letras da Universidade 
Estadual de Montes Claros (Unimontes).
*Cópia parcial da obra e título alterado em razão da disciplina ministrada pela professora 
Liliane P. Barbosa.
Essa é a primeira unidade desse Caderno Didático. O objetivo 
principal é que continue a conhecer as questões básicas de linguagem e 
discuti-las ampliando seus conhecimentos. Agora, lidaremos com as 
noções de Lingüística (objeto de estudo, objetivos, método e componentes 
gramaticais de investigação), Semiologia e as diferenças entre essas duas 
ciências. Também, distinguiremos Gramática Tradicional de Lingüística, 
algo importante de se estabelecer nesse segundo momento de estudo.
Essa primeira unidade, Lingüística, foi organizada com as 
seguintes subunidades:
1.2 O que é Lingüística e o que é Semiologia/Semiótica
1.3 Lingüística versus Gramática Tradicional
1.4 Objeto de estudo, objetivo e método investigativo da 
Lingüística
1.5 Lingüística e componentes da gramática
1.5.1 Fonética
1.5.2 Fonologia
1.5.3 Morfologia
1.5.4 Sintaxe
1.5.5 Semântica
1.5.6 Lexicologia
Atenção:
Não se esqueça de que as questões sugeridas junto ao texto são 
fundamentais para a sua compreensão!
Continuemos a leitura.
‘1.1 O QUE É LINGÜÍSTICA E O QUE É SEMIOLOGIA/SEMIÓTICA
Até então, discutimos Lingüística, especificamente, linguagem e 
noções de gramática; mas, para que 
continuemos, fazem-se necessárias a 
delimitação da Lingüística e a ênfase a seus 
pressupostos básicos.
O que é Lingüística? Bem, a resposta a 
essa pergunta não é muito tranqüila se você 
responder que é uma ciência que investiga a 
linguagem. 
Por que não é uma resposta tranqüila? 
Pelo simples fato de termos linguagem verbal 
(pautada na palavra) e linguagem não-verbal 
3
Introdução à Lingüística UAB/Unimontes
2UNIDADE 1LINGÜÍSTICA
Figura 1: Ferdinand 
Saussure
Fonte: http://en.wikipedia.org
(pautada em outros sistemas de comunicação que não o da palavra).
A resposta a essa indagação é que a Lingüística é uma ciência que 
investiga a linguagem verbal humana – apenas um dos tipos de linguagem 
que podemos usar em um ato de comunicação.
Essa resposta poderia nos conduzir a um outro questionamento: 
Há uma ciência que trataria da linguagem não-verbal?
Bem, na verdade, temos uma outra ciência de amplitude maior 
que estuda qualquer sistema de comunicação, tanto a 
linguagem verbal quanto a não-verbal. Segundo 
Ferdinand Saussure, denomina-se Semiologia; 
segundo Sanders Pierce, Semiótica. 
Pelo fato de a Lingüística tratar apenas da 
linguagem verbal, em razão de ser o sistema de 
comunicação mais bem desenvolvido e de maior uso, 
podemos considerar que a Lingüística está inserida na 
Semiologia/Semiótica.
1.2 LINGÜÍSTICA VERSUS GRAMÁTICA TRADICIONAL
Podemos considerar que Lingüística e Gramática Tradicional (GT) 
são sinônimas?
Esse seria um questionamento possível de ser formulado por 
iniciantes nessa área a um docente em razão do peso da tradição da 
gramática tradicional.
Mas, a resposta do professor seria “não”. Por quê?
Porque a Gramática Tradicional corresponde a um manual que 
descreve as regras da língua que devem ser seguidas pelos seus usuários, 
tanto para fala quanto para escrita – em razão de não diferenciar essas 
duas modalidades, mas considerar a escrita modelo.
Essa gramática difundiu falsos conceitos e até preconceitos a 
respeito da linguagem.
Que falsos conceitos seriam esses?
Ÿ A difusão de que há uma variedade da língua melhor do que a 
outra (privilegia-se o falar do grupo social de prestígio em detrimento dos 
demais grupos); 
Ÿ A consideração de que a língua escrita é o modelo para a 
língua falada (segundo essa gramática, a fala deve espelhar a escrita);
Ÿ O fato de propor que há línguas mais lógicas, mais ricas e 
melhores que outras (línguas clássicas);
Ÿ A noção de que há línguas mais evoluídas que outras, 
consideradas primitivas.
 Além de preconceitos inúmeros, vejamos apenas dois: 
Ÿ O indivíduo que não usa as regras que a gramática tradicional 
Figura 2: Charles
Sanders Pierce
Fonte: http://en.wikipedia.org
4
PARA REFLETIR
Você já refletiu sobre o 
fato de que nem sempre 
você segue as regras que a 
GT impõe? Analise uma 
regra sintática da GT 
(colocação dos pronomes 
átonos, uso do pronome 
você, 
concordância/regência 
verbal, por exemplo) e 
compare-a com o uso que 
você faz da língua. 
Introdução à Lingüística
5
prescreve fala/escreve errado; 
Ÿ O indivíduo que não segue a GT é inferior em relação a quem a 
segue...
Essas falsas noções são desmistificadas pela Lingüística, segundo 
Petter (in FIORIN, 2002), sabe por quê? Porque a Lingüística, ciência que 
investiga a linguagem verbal humana, de qualquer língua indistintamente, 
não está interessada em propor regras lingüísticas para os indivíduos 
seguirem, em que muitas em nada correspondem ao uso. A Lingüística, 
em suas pesquisas, busca descrever/explicar as regras utilizadas 
naturalmente pelos falantes de uma língua (gramática descritiva) e revela-
nos outros resultados. Em primeiro lugar, não há uma variedade da língua 
melhor que a outra, há diferentes maneiras de se expressar em uma 
mesma língua; a língua escrita, também, não pode ser modelo para a fala, 
em razão de a fala preceder a escrita e de suas organizações e usos serem 
diferentes; não se tem línguas mais evoluídas que outras, pois as línguas 
possuem os recursos necessários para que seus falantes estabeleçam 
comunicação; também, não há fala/escrita erradas apenas pelo fato de 
não seguirem a GT nem seu usuário é inferior. Em razão disso, na verdade, 
deve-se pensar em noções de adequações de uso da língua a contextos – 
situações comunicativas variadas. 
Por exemplo, imagine-se escrevendo um convite para uma festa 
junina seguindo as regras da gramática normativa. O convite ficaria 
descaracterizado. Nesse contexto, seria inadequado aplicar as regras da 
GT, pois o adequado seria escrever aproximando-o de uma linguagem 
caipira, ou seja, desobedecendo a regras impostas. Vejamos os exemplos 
que se seguem:
Caderno Didático - 2º Período
Figura 3: Modelo de convite de festa junina
 
João Victor,
 
Voismicê tá cunvidadu pruma 
festança nu arraiá du Gerardão 
nu dia 18 di novembru às 20h –
 
casa du tiu Pedru.
 
 
Vai tê miu verdi, canjica, bolu,
 
 
aminduim i quentão. Num
 
 
dexi di vim.
 
Consulte, em uma 
biblioteca, uma gramática 
normativa e análise as 
partes de que é 
constituída. Faça um relato 
da abordagem feita em 
cada uma de suas seções e 
compare com os 
componentes gramaticais 
abordados pela Lingüística.
DICAS
6
Esses dois modelos de textos estão adequados para o que se propõe, aos 
seus receptores e contexto comunicativo, apesar de apenas o modelo de 
memorando seguir as regras impostas pela gramática normativa – modelo 
tido por ela como correto.
1.3 OBJETO DE ESTUDO, OBJETIVO E MÉTODO INVESTIGATIVO DA 
LINGÜÍSTICA
Como toda ciência, qual é o objeto, objetivo e método 
investigativo da Lingüística?
O objeto de estudo da Lingüística é a linguagem verbal humana 
(oral ou escrita),a qual observa com a finalidade de descrever e explicar os 
princípios fundamentais que a regem, através da análise de sua estrutura e 
funcionamento.
Em vista disso, a Lingüística definiu seu método de investigação: 
em uma dada pesquisa, o estudioso baseia suas descobertas na 
observação dos fatos lingüísticos (dados da realidade) os quais devem ser 
analisados por meio de uma teoria e de experimentações adequadas 
(MARTELOTTA, 2008).
1.4 LINGÜÍSTICA E COMPONENTES DA GRAMÁTICA
Em razão de a Lingüística almejar descrever/explicar as regras 
utilizadas naturalmente pelos falantes de uma língua, suas investigações, 
geralmente, por questão de restrição, equacionamento da complexidade 
da língua, pautam-se em um ou outro aspecto lingüístico. O que isso quer 
dizer, professor?
Quer dizer que, em uma investigação, se pode observar a 
linguagem verbal sob aspectos diferentes. Isso porque a gramática de uma 
língua é constituída de níveis: fonético/fonológico, morfológico, sintático e 
semântico. Daí a Lingüística ser constituída de partes para enfocar cada 
um dos componentes de uma gramática: Fonética e Fonologia, 
Morfologia, Sintaxe e Semântica, os quais serão descritos nas próximas 
subunidades, além de abordar outros domínios (como a Lexicologia, por 
UNIVERSIDADE DE SÃO PEDRO
 
 
Montes Claros, 29 de julho de 2008.
 
 
Memorando nº 24/ED
 
Aos
 
Srs. 
 
professores
 
Assunto: Convocação
 
 
Convocamo-los 
 
para uma reunião no dia vinte de novembro de dois mil e oito, 
às dezenove horas,
 
na
 
Universidade de São Pedro.
 
 
Atenciosamente,
 
 
João de Melo
 
Chefe de Departamento
 
 Figura 4: Modelo de memorando
ATIVIDADES
Você fez a reflexão e 
análise solicitadas? Agora, 
faça uma pesquisa on-line 
e verifique o que a 
Lingüística aborda sobre o 
assunto escolhido e 
comente-o.
Introdução à Lingüística
7
exemplo).
Mas vale lembrar as palavras de Nida (1970):” nenhuma parte de 
uma língua pode ser descrita adequadamente sem referência a todas as 
outras partes”. Ou seja, seus componentes gramaticais articulam-se, pois 
são interdependentes.
1.4.1 Fonética
A Fonética é o ramo da Lingüística que trata dos sons da fala 
(parte física e fisiológica do sistema sonoro), denominados de fone, cujas 
finalidades são: descrever o caminho percorrido pela corrente de ar na 
produção dos sons articulados de uma língua, como esses sons são 
produzidos, sua propagação no espaço e percepção do ouvinte em 
relação ao som articulado emitido pelo falante. Em decorrência de 
investigar os sons isoladamente, a Fonética mostra-nos as variações 
sonoras que uma língua pode apresentar. Por exemplo:
1.4.2 Fonologia
A Fonologia é o ramo da Lingüística, interdependente da 
Fonética, que trata dos sons da língua (fonema), parte psíquica do sistema 
sonoro e se preocupa com a funcionalidade e organização desses sons em 
sistemas. Chamamos os sons da língua de funcionais. Por quê? Porque 
têm capacidade de, a partir de sons diferentes, gerarem significados 
distintos. 
A partir da técnica do par mínimo, que equivale a um par de 
palavras que apresenta apenas uma diferença sonora em cada uma de 
suas palavras (essa diferença sonora deve estar na mesma posição do 
contexto e, a tonicidade das palavras deve ser a mesma), podemos analisar 
se os sons distintos que aparecerem nesse par mínimo são funcionais ou 
não, ou seja, se geram significados diferentes ou não. Por exemplo: o par 
mínimo mesada e melada nos permite afirmar que 
os sons e são fonemas (sons funcionais) em razão de gerarem 
significados diferentes entre as palavras. As finalidades da Fonologia são: 
distinguir significações através de sons diferentes, descrever as 
combinações de fonemas possíveis em uma dada língua e inventariar o 
sistema fonológico – os sons que têm funcionalidade (vogais, consoantes e 
semivogais). 
1.4.3 Morfologia
A Morfologia é o ramo da Lingüística que trata das formas das 
 
C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Fone: sinônimo de som da 
fala, corresponde à parte 
física e fisiológica do 
sistema sonoro, ou seja, é a 
realização dos sons de uma 
língua.
Fonema: sinônimo de som 
da língua (unidade mínima 
distintiva), corresponde à 
parte psíquica (abstrata) do 
sistema sonoro. Esses sons 
são chamados de 
funcionais porque, a partir 
de pares mínimos, geram 
significados distintos.
Caderno Didático - 2º Período
8
palavras. Mas o que seria a forma de uma palavra? Bem... Seria seu 
aspecto, com a abstração de seu sentido e função (MONTEIRO, 2002). Ou 
melhor, a morfologia lida com a análise da estrutura interna das palavras, 
enfocando os morfemas, sua distribuição, variantes e classificação, 
conforme seu ambiente e ordem de ocorrência, além dos processos de 
formação de palavras e categorias gramaticais (LAROCA, 2005).
Possui um objeto mínimo de análise: as unidades mínimas 
significativas (morfemas) e um objeto máximo, a palavra. 
1.4.4 Sintaxe
Como mais um ramo da Lingüística, a Sintaxe volta-se para a 
análise das relações entre as palavras e das relações entre as orações que 
compõem um dado período. Os processos seqüencial (coordenação) e 
sintagmático (subordinação) são apenas alguns aspectos que aqui são 
tratados, além da correlação, entre outros.
1.4.5 Semântica
Segundo Perini (2004), a Semântica – outro ramo da Lingüística – 
é responsável por analisar o significado das formas lingüísticas, cuja 
interpretação é depreendida somente da estrutura formal da língua, ou 
seja, está ligada à sua estrutura morfossintática, o que desconsidera os 
fatores ligados ao contexto comunicativo, conhecimento prévio, intenções 
do falante, etc. Esse tipo de análise semântica preocupa-se com o 
significado literal das palavras através de regras semânticas.
1.4.6 Lexicologia
Por fim, dentro de nossa estratégia de abordar primeiramente 
apenas os componentes de uma gramática (etapa já cumprida e 
encerrada na seção acima), faremos referência, agora, a um ramo da 
Lingüística que se distingue da gramática propriamente dita: a Lexicologia, 
que analisa o significado individual dos itens lexicais. Mas isso não seria o 
que a semântica faz? Não. Mas por quê?
Porque a Semântica, conforme Perini (2004), analisa o significado 
das palavras relacionando-o às funções morfossintáticas exercidas pelas 
palavras numa frase. A Lexicologia não, trata o significado desvinculado 
da frase – os itens semânticos de uma palavra.
Mas, então, como seria isso?
Vejamos a frase: João feriu Maria.
Numa análise à luz da Semântica, as suas regras especificam que, 
nessa frase, a palavra João é agente da ação e Maria é paciente; porém 
esses significados estão relacionados à função morfossintática que 
C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Morfema: unidade mínima 
significativa – objeto 
mínimo de análise da 
Morfologia.
Sintagma: numa noção 
saussuriana, esse termo 
nomeia a relação entre 
dois elementos 
consecutivos, estando um 
elemento subordinado 
(dependente) a um outro 
(principal).
Seqüência: termo utilizado 
para nomear a relação de 
coordenação entre 
elementos consecutivos.
Correlação: construção 
sintática de duas partes 
relacionadas de tal maneira 
que a enunciação da 
primeira prepara a 
enunciação da segunda 
(GARCIA, 2000).
Introdução à Lingüística
9
exercem nessa frase: sujeito e objeto direto, respectivamente. 
Basta uma inversão dessa frase: Maria feriu João e teremos os 
mesmos itens lexicais, porém com funções morfossintáticas diferentes, oque desencadeará significados diferentes para cada um. Agora, Maria é o 
agente e João, paciente, em razão de serem agora sujeito e objeto direto, 
respectivamente.
Porém, numa análise à luz da Lexicologia, os itens lexicais Maria, 
feriu e João terão sempre os mesmos traços semânticos, por exemplo:
Maria: nome de um ser humano, feminino, + animado, + 
concreto.
João: nome de um ser humano, masculino, + animado, + 
concreto.
Feriu: item lexical que indica ação.
Além dos componentes gramaticais e da Lexicologia, descritos em 
Lingüística: componentes da gramática, a Lingüística possui outros 
domínios de estudos que, por causa de suas especificidades, serão vistos 
na Unidade 2.
Caderno Didático - 2º Período
10
Esta é a segunda unidade desse Caderno Didático cujo objetivo 
principal é oferecer uma visão panorâmica da história da Lingüística. Para 
tanto, torna-se necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto 
histórico, a fim de que saibamos quais os motivos e intuições do passado 
serviram de bases a teorias e orientações atuais e possamos formular uma 
série de propostas satisfatórias a respeito do que seja linguagem. 
Um exame, mesmo superficial da história da Lingüística, 
demonstra que, se, por um lado, ela se desenvolveu metodologicamente à 
sombra de outras disciplinas, por outro lado, procurar a natureza 
subjacente das línguas sempre esteve no centro das preocupações dos 
lingüistas.
Salientamos que nosso enfoque são as investigações lingüísticas 
no Ocidente, de Platão às propostas do século XX. Faremos referência a 
poucas investigações lingüísticas ocorridas no Oriente, apenas àquelas 
que interferiram no pensamento ocidental.
Essa segunda unidade, História Ocidental da Lingüística (século 
IV a.C ao século XX) foi organizada com as seguintes subunidades:
2.1 Na Antigüidade
 2.1.1 Na Índia
 2.1.2 Na Grécia antiga
 2.1.2.1 No período alexandrino
 2.1.3 Em Roma
2.2 Na Idade Média
2.3 Da Renascença ao fim do século XVIII
2.4 A Lingüística no século XIX
2.5 A Lingüística no século XX
 2.5.1 Estruturalismo
 2.5.1.1 Estruturalismo europeu
 2.5.1.1.1 Estruturalismo funcionalista
 2.5.1.2 Estruturalismo norte-americano
 
Atenção:
Não se esqueça de que as questões sugeridas junto ao texto são 
fundamentais para a sua compreensão!
Continuemos nosso estudo.
3UNIDADE 2HISTÓRIA OCIDENTAL DA LINGÜÍSTICA (século IV a.C ao século XX)
11
2.1 NA ANTIGÜIDADE
2.1.1 Na Índia
 
Segundo Leroy (1971, p. 16), os hindus – povos da civilização 
oriental –, por razões religiosas, foram os primeiros povos levados a estudar 
sua língua. Preocuparam-se com os textos sagrados, reunidos no Veda, 
pois não queriam que sofressem alteração alguma no momento de serem 
cantados ou recitados durante os sacrilégios. Depois, os gramáticos – dos 
quais o mais célebre é Panini (século IV a.C) – dedicaram-se ao estudo do 
valor e do empréstimo das palavras e fizeram de sua língua, com precisão e 
minúcias admiráveis, descrições fonéticas que são consideradas modelo 
no gênero. Por muito tempo esquecidas, foram elas descobertas pelos 
sábios ocidentais nos fins do século XVIII e constituíram, como veremos 
ainda nessa unidade, o ponto de partida indispensável à criação da 
gramática comparada. 
Na esteira de Laroca (2005, p.12), a descoberta do sânscrito 
possibilitou aos estudiosos reconhecer a estrutura interna das palavras, 
depreendendo unidades mínimas como raízes e afixos. Ademais, cumpre 
ressaltar que os estudos hindus eram puramente estáticos, relativos apenas 
ao sânscrito, efetuados por homens totalmente desprovidos de senso 
histórico, pois limitavam-se a classificar os fatos sem procurar-lhes a 
explicação. 
2.1.2 Na Grécia antiga 
Se, por um lado, os gregos – civilização ocidental – não deixaram 
de sua língua nenhuma descrição comparável à dos hindus, por outro, 
estudaram sua própria língua com muita atenção, não só no plano estético 
(os procedimentos de estilo), mas também no plano filosófico (adequação 
da linguagem ao pensamento). Nessa medida, esse último ponto de vista 
(sobre o qual falaremos nessa seção) interessa-nos particularmente, pois 
tais especulações dos antigos constituem, em boa parte, o ponto de partida 
do pensamento lingüístico moderno tanto nos seus desacertos como nos 
rumos de seus êxitos, conforme veremos ao longo dessa unidade. 
As primeiras discussões dos filósofos gregos sobre a linguagem 
centravam-se no problema da relação entre o pensamento e a palavra, isto 
é, discutiam se o que regia a língua era a natureza ou a convenção. Essa 
oposição da natureza e da convenção era um lugar-comum da 
especulação filosófica. Dizer que uma determinada instituição era natural 
equivalia a dizer que tinha sua origem em princípios eternos e imutáveis 
fora do próprio homem, e era por isso inviolável; convencional equivalia a 
dizer que era o mero resultado do costume e da tradição, isto é, de algum 
acordo tácito, ou contrato social, entre os membros da comunidade – 
contrato que, por ter sido feito pelos homens, podia ser violado por eles 
Dizem os historiadores que 
existiu, há uns 15.000 ou 
20.000 anos, uma 
civilização muito 
desenvolvida no vale do Rio 
Sarasvati e, posteriormente, 
no vale do Rio Hindus 
(Índia). Ali é o berço da 
tradição dos Vedas com 
seus rituais, mantras e 
diálogos entre mestres e 
discípulos sobre o 
conhecimento do Ser 
Absoluto. A mais antiga 
evidência que se possui do 
sânscrito (língua sagrada 
da Índia) é o Rig Veda. 
Dessa língua Rig Veda há 
um desenvolvimento até o 
sânscrito clássico, 
conhecido e usado hoje 
sem sofrer qualquer 
mudança. Isso devido a 
gramáticos como Panini, 
que escreveu um tratado 
da língua sânscrita 
chamado Ashtadhyayi, 
constituído de oito 
capítulos, cada um dividido 
em quatro partes. 
Infelizmente, mesmo na 
Índia, o sânscrito é 
raramente usado como um 
meio diário de 
comunicação. No entanto, 
alguns grupos têm tentado 
reviver o sânscrito como 
uma língua falada.
DICAS
Caderno Didático - 2º Período
12
mesmos.
A palavra gramática, no sentido amplo de sistematização dos 
fatos de uma língua (MELO, 1972, p. 7), começou a ser empregada no 
mundo ocidental a partir de Aristóteles:
 il faut se rappeller que les premières observations sur le 
langage furente faites par les sophistes à l'occasion de la 
critique d'Homère. Ce n'est qu'après Aristóteles que la 
grammaire se constitua em science independante 
(HARDY, 1984, p.10). 
Os sofistas (século V - IV a. C) tiveram da linguagem uma visão 
predominante utilitarista: eram professores de retórica e viam nas palavras, 
acima de tudo, um instrumento de persuasão; não lhes interessou um 
estudo aprofundado dos problemas da língua nem uma sistematização 
dos fatos lingüísticos. 
Já em Platão, filósofo grego, no século V a. C, podemos encontrar 
reflexões sobre a linguagem, questão central na época, nos diálogos 
conhecidos como Crátilo. Nesses diálogos, tomavam como parte três 
interlocutores – Crátilo, Hermógenes e Sócrates –, representando cada 
qual um ponto de vista a respeito da denominação ou designação, isto é, 
da relação existente entre o nome, a idéia e a coisa.
A indagação central estava baseada na existência ou não da 
relação de similaridade entre a forma (código lingüístico) e o sentido por 
ela expresso. Para Crátilo, a língua é o espelho do mundo, o que significa 
que existe uma relação natural e, portanto, similar entre os elementos da 
língua e os serespor eles representados. Para Hermógenes, a língua é 
arbitrária, isto é, convencional, pois entre o nome e as idéias ou as coisas 
designadas não há transparência ou similaridade. Sócrates, por sua vez, 
tem o papel de fazer a integração entre os dois pontos de vista. 
Enquanto Aristóteles (século IV a.C.) levou mais longe a 
preocupação com a linguagem, embora não tenha escrito obras que 
tratem especificamente desse assunto; sua doutrina lingüística encontra-
se esparsa em vários de seus tratados.
Aristóteles, em seus tratados de lógica, cujo conjunto recebeu a 
denominação de Organon, “destaca um fato eminentemente humano 
que é o exercício da linguagem”, nas palavras 
de Neves (1987, p. 61). O Organon inclui 
vários capítulos, entre os quais destacamos o 
capítulo I (Categorias) e os capítulos II, III e IV 
(Sobre a Interpretação). Nesse contexto, 
Aristóteles aborda, logo de início, sinônimos, 
homônimos e parônimos (Categorias, cap. I); 
mais além, define o nome, verbo, o discurso 
(Sobre a Interpretação, cap. II-IV). Na sua obra 
Poética (cap. XX-XXII), da qual restou apenas 
fragmentos, esboça uma classificação das 
palavras, incluindo, além do nome, do verbo e 
Na Antigüidade, os termos 
língua e linguagem eram 
empregados 
indistintamente.
Tradução da citação em 
francês ao lado: “É preciso 
lembrar-se de que as 
primeiras observações 
sobre a linguagem foram 
feitas pelos sofistas no 
momento em que 
criticaram Homero. 
Somente após Aristóteles, a 
gramática constituiu-se 
como uma ciência 
independente” (HARDY, 
1984, p. 10). 
DICAS
DICAS
Figura 5: Platão
Fonte: http://en.wikipedia.org C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Sofistas: contemporâneos 
de Sócrates que chamavam 
a si a profissão de ensinar a 
sabedoria e a habilidade 
(FERREIRA, 1999).
Introdução à Lingüística
dos artigos, conectivo, articulação e frase (cap. XX) e a metáfora (cap. 
XXII). É na obra Política, que é um conjunto de oito livros que não 
apresentam encadeamento lógico rigoroso, no Livro I, capítulo II, que vai 
ser explicitada a natureza da linguagem. Para Aristóteles, o animal político 
liga-se necessariamente à faculdade humana de falar, pois sem linguagem 
não haveria sociedade política. “O homem é um animal político mais do 
que as abelhas ou os outros animais gregários. A natureza não faz nada em 
vão e, entre os animais, o homem é o único que ela dotou de linguagem” 
(NEVES, 1987, p. 62). Em outras palavras: a linguagem está no homem 
suscitada pela vocação de animal político e operada pela sua natureza, a 
fim de que essa vocação se possa cumprir. Assim sendo, a base para as 
sociedades é a possibilidade de comunicação. Só a voz articulada, a 
palavra humana, tem um sentido, o qual é dado pela faculdade 
exclusivamente humana. 
No campo da lógica, Aristóteles estabelece as categorias, que 
constituem uma classificação de idéias humanas: “a substância, a 
quantidade, a qualidade, a relação, o lugar, o tempo, a posição, o estado, 
atividade, a passividade” (ARISTÓTELES, Categorias, cap. IV). Esses são, 
segundo ele, os dez gêneros ou idéias universais em que se encerram todos 
os seres contingentes. “Aristóteles apresenta assim a totalidade dos 
predicados que se podem afirmar do ser” (BENVENISTE, 2005, p. 71). 
Após isso, seus seguidores foram, aos poucos, estabelecendo as chamadas 
categorias gramaticais (no sentido de partes do discurso): nome 
(substantivo e adjetivo), verbo, etc.
Outra importante contribuição de Aristóteles para os estudos 
gramaticais foi estabelecer, na lógica (Categorias, cap. II), o conceito de 
sujeito e predicado, elementos fundamentais em todo raciocínio e na 
oração.
Além disso, o método que seria adotado pela chamada gramática 
tradicional foi inaugurado por Aristóteles: a partir dele, segundo Neves, 
aparece a definição das partes do discurso. Seu 
procedimento geral de investigação, que se baseia na 
definição e nas classificações, aplica-se também às formas 
de expressão e caracteriza, a partir daí, a apresentação das 
entidades da linguagem. Mais tarde, a gramática 
alexandrina vai estruturar-se sobre o procedimento de 
classificações e definições e, do mesmo modo, vai-se ver, 
pelo tempo afora assim 
apresentarem-se também as 
g r a m á t i c a s o c i d e n t a i s 
(NEVES, 1987, p. 207).
Partindo, pois, de Aristóteles, os estóicos 
(cuja escola data do século III a.C.) começaram a 
organizar a gramática no sentido de estudo 
sistemático da língua, escrevendo obras 
especificamente gramaticais, em que trataram de 
fonética, de morfologia e de sintaxe; deles, porém, 
Para Aristóteles, a lógica 
não seria parte integrante 
da ciência e da filosofia, 
mas apenas um 
instrumento (Organon) que 
elas utilizam em sua 
construção.
DICAS
Figura 6: Aristóteles
Fonte: http://en.wikipedia.org
Caderno Didático - 2º Período
13
14
só nos chegaram notícias de fragmentos. Entre os estóicos que trataram de 
questões lingüísticas, temos Crates de Malo, que esteve em Roma em 
meados do século II a.C., e, com suas palestras, deu o primeiro impulso aos 
estudos sistemáticos dos romanos no campo da língua.
Lobato (1986, p. 78) ressalta o fato de que, ainda que os estóicos 
tenham se dedicado ao estudo de questões gramaticais, eles não se 
interessaram pela língua em si mesma, o que coincide com o pensamento 
dos filósofos, visto que percebiam a língua como a expressão do 
pensamento e dos sentimentos. Essa é a característica compartilhada com 
os estudiosos do período anterior: todos desenvolveram o estudo sobre a 
língua no âmbito de pesquisas filosóficas ou lógicas.
2.1.2.1 No Período Alexandrino
Maior importância para a evolução dos estudos gramaticais 
tiveram os alexandrinos que (também a partir do século III a.C.) ocuparam-
se desse assunto: as alterações introduzidas pelos sábios alexandrinos nas 
doutrinas dos estóicos é que deram à gramática a forma com que, 
posteriormente, chegou aos romanos e, através destes, à tradição 
européia. A sistematização da gramática efetuou-se no período 
alexandrino sob o influxo das condições políticas e culturais da época: a 
extensão do império criado por Alexandre motivou o surgimento de uma 
discrepância cada vez maior entre a língua grega culta e a língua corrente, 
que se contaminou com barbarismos devido à introdução de povos 
diversos na comunidade cultural helênica; o estudo da gramática foi um 
meio de preservar a língua como expressão de valores da cultura que os 
gregos desejavam conservar.
Segundo Lyons (1979, p. 9), cumpre ressaltar o fato de que, com o 
estabelecimento da grande biblioteca da colônia grega de Alexandria, no 
início do séc. III a. C, essa cidade tornou-se o centro de intensa pesquisa 
literária e lingüística. Os manuscritos dos autores antigos, em particular os 
que traziam o texto dos poemas homéricos, encontravam-se bastante 
corrompidos. Comparando diferentes manuscritos das mesmas obras, os 
filólogos alexandrinos dos séculos III e II a. C procuraram restaurar o texto 
original e escolher, entre os trabalhos, os genuínos e os espúrios. Porque a 
língua dos textos clássicos diferia, em muitos aspectos, do grego 
contemporâneo de Alexandria, desenvolveu-se a prática de publicar 
comentários de textos e tratados de gramática para elucidar as várias 
dificuldades que poderiam perturbar o leitor dos antigos poetas gregos. A 
admiração pelas grandes obras literárias do passado encorajou a crença 
de que a própria língua na qual elas tinham sido escritas era em si mais 
pura, mais correta do que a fala coloquial corrente de Alexandria e de 
outros centroshelênicos. Assim, as gramáticas escritas pelos filósofos 
helenistas tinham dupla finalidade: combinavam a intenção de 
estabelecer e explicar a língua dos autores clássicos com o desejo de 
As obras de Aristóteles 
foram elaboradas para um 
auditório de discípulos, 
sendo apresentadas sob a 
forma de pequenos 
tratados.
DICAS
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GLOSSÁRIO
Estóicos: seguidores das 
doutrinas dos filósofos 
gregos Zenão de Cício 
(340-264) e seus 
seguidores Cleanto (séc. III 
a.C.), Crisipo (280 – 208) e 
os romanos Epicteto (c.55 
– c. 135) e Marco Aurélio 
(121 – 180), caracterizadas 
sobretudo pela 
consideração do problema 
moral, constituindo, através 
do equilíbrio e moderação 
na escolha dos prazeres 
sensíveis e espirituais, o 
ideal do sábio (FERREIRA, 
1999).
Introdução à Lingüística
15
preservar o grego da corrupção por parte dos ignorantes e dos iletrados. 
Essa abordagem do estudo da língua cultivada pelo classicismo 
alexandrino envolvia dois erros fatais de concepção, os quais figuram 
como os erros clássicos no estudo da língua. 
Ora, o primeiro se refere ao fato de que a cultura lingüística grega 
valorizou a escrita em detrimento da fala. Quando se percebia diferenças 
entre a língua falada e a escrita, havia uma grande tendência em 
considerar a segunda como principal (independente) e a primeira como 
derivada (dependente), o que era reforçado pelo interesse do povo 
alexandrino pela literatura.
Já o segundo erro era a suposição de que a língua dos escritores 
do século V a. C era mais bem elaborada do que a fala coloquial; e, em 
geral, a dedução de que são as pessoas cultas que mantém o uso correto 
da língua. 
Um dos sábios alexandrinos, Dionísio da Trácia, que viveu entre os 
séculos II e I a. C., é o autor da primeira descrição explícita da língua grega, 
contida num breve estudo intitulado Téchne Grammatiké (A Arte da 
Gramática). A grande contribuição de Dionísio para os estudos gramaticais 
foi fixar as classes de palavras, que, para ele, são oito: nome, verbo, 
particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio e conjunção. Os estóicos 
haviam reconhecido apenas o nome (que distribuíam, aliás, em duas 
classes, a dos nomes próprios e a dos nomes comuns), o verbo, a 
conjunção, o artigo e o advérbio. Em verdade, nas primeiras classificações 
feitas na Grécia (ou seja, na de Platão, de Aristóteles e dos estóicos), as 
palavras são encaradas não em si, mas como partes do discurso. A fixação 
dessas palavras é importante para o desenvolvimento dos estudos 
gramaticais, pois: 
É especialmente na classificação das palavras “partes do 
discurso” que podemos apontar a construção de um 
sistema gramatical porque (...) é exatamente nesse campo 
que a gramática tem condições de mostrar um tratamento 
diferente, em natureza, do tratamento filosófico (NEVES, 
1987, p. 201-202).
 Os filósofos classificaram as partes do discurso com um critério 
nocional, isto é, com base na significação. Em Dionísio, esse critério é 
ocasional, sendo muito mais importante o critério da forma (flexão). Nesse 
sentido, as partes do discurso passam a ser encaradas como classes de 
palavras: a gramática separa-se da filosofia e se estabelece como 
disciplina independente.
Segundo Dionísio, a gramática é o conhecimento prático do uso 
da língua, baseado no estudo dos bons escritores; utiliza, pois, o método 
empírico, fundamentando-se nas observações dos fatos da língua.
A obra de Dionísio serviu de base para a elaboração de gramáticas 
latinas até o século XIII e, através destas, influenciou também as 
gramáticas de diversas línguas modernas da Europa.
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GLOSSÁRIO
Anomalistas: gramáticos 
gregos que insistiam na 
importância das 
irregularidades na língua 
grega. Para eles, a 
gramática é concebida 
como um conjunto de 
exceções.
Analogistas: gramáticos 
gregos que discutiam a 
importância das 
regularidades no estudo 
dos fenômenos lingüísticos. 
Enquanto os analogistas 
afirmavam que a língua é 
fundamentalmente regular 
e excepcionalmente 
irregular, os anomalistas 
defendiam a tese contrária.
Caderno Didático - 2º Período
16
2.1.3 Em Roma
Em Roma, os estudos gramaticais consistiram, em grande parte, 
na aplicação da terminologia grega à língua latina. Destaca-se, porém, 
pela originalidade, o gramático Marco Terêncio Varrão (séc. I a.C.), autor 
de um tratado intitulado De Língua Latina; esta é a mais antiga obra 
gramatical romana da qual nos resta algo mais que fragmentos: dos vinte e 
cinco livros que a compunham, seis chegaram até nós mais ou menos 
completos e permitem ver que o autor elaborou toda uma teoria 
gramatical, procurando conciliar as idéias dos estudiosos gregos que o 
precederam. Varrão aceita que a língua tenha irregularidades, mas, por 
outro lado, esboça uma teoria normativa. Define gramática como o estudo 
sistemático do uso dos poetas, historiadores e oradores, o que é quase uma 
cópia da definição de Dionísio; mas, ao classificar as palavras, mostra-se 
original: distingue entre palavras variáveis e invariáveis e as divide em cinco 
classes (o nome, o verbo, o particípio, a conjunção e o advérbio). 
Apresenta, ainda, um estudo sobre flexão do nome, as vozes e os tempos 
do verbo. Contudo, Varrão teve menor influência sobre os estudos 
lingüísticos do período medieval do que os outros autores sem 
originalidade, que apenas adaptaram o latim às teorias de Dionísio; entre 
estes, interessa-nos o gramático Prisciano. 
Desse autor, que viveu entre os séculos V e VI d. C., chegou-nos 
uma obra intitulada Institutiones Grammaticae, na qual transpôs para o 
latim as classes de palavras estabelecidas por Dionísio; excluiu o artigo, 
inexistente em latim, acrescentou a interjeição e usou termos latinos em 
vez dos gregos: nomem (classe que compreende o substantivo e o 
adjetivo), verbum, participium, pronomem, adverbium, praepositio, 
interjectio e conjunctio (verbo, particípio, pronome, advérbio, preposição, 
interjeição e conjunção). Aí temos a origem da nomenclatura usada até 
hoje nas gramáticas das línguas européias em geral. Além disso, Prisciano 
estabeleceu a ordem seguida até hoje pelos gramáticos de linha 
tradicional: tratou primeiro da fonética, depois da morfologia e, por último, 
da sintaxe, da qual Dionísio não tinha apresentado um estudo sistemático.
A obra de Prisciano constituiu, pois, uma ponte entre a 
Antigüidade e a Idade Média. Durante toda a Idade Média, destaca-se sua 
grande influência nos estudos da linguagem.
2.2 NA IDADE MÉDIA
Seguindo a tradição greco-romana, os gramáticos medievais 
adotaram a nomenclatura estabelecida por Dionísio e adaptada ao latim 
por Prisciano. As gramáticas medievais da primeira fase foram obras 
meramente didáticas, quase sem nenhuma originalidade, destinadas, 
sobretudo, ao ensino do latim. Já na segunda metade da Idade Média, 
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GLOSSÁRIO
Método empírico: método 
baseado na experiência, 
discordando da noção de 
idéias inatas.
Introdução à Lingüística
17
caracterizada pelo intenso estudo da filosofia, surgiram obras que 
procuraram aplicar a lógica às questões lingüísticas buscando as razões 
filosóficas das teorias estabelecidas por Prisciano.
A partir do século XII, graças à atividade docente de Santo Tomás 
de Aquino, a influência de Aristóteles sobre o pensamento medieval 
intensificou-se e a chamada filosofia escolástica chegou ao seu apogeu. 
Nessa época, prevaleceu a idéia de que Prisciano fizera um trabalho 
superficial, pois lhe faltava uma base filosófica. Surgiu, então, a chamada 
gramáticaespeculativa, que constituiu a integração da descrição 
gramatical do latim, realizada por Prisciano, à filosofia escolástica. Os 
gramáticos especulativos conservaram, pois, quase sem alteração, a 
morfologia de Prisciano, mas apresentaram pensamento mais profundo, 
mais filosófico, buscando dar validade universal às regras da gramática 
latina, e criaram uma grande quantidade de termos técnicos para 
formalizar suas teorias. Assim, passa a vigorar a concepção de uma 
gramática universal subjacente e admite-se a existência dos universais 
lingüísticos (princípios aplicáveis a todas as línguas); afirma-se que a 
gramática é, em essência, a mesma para todas as línguas e as diferenças 
são apenas variações acidentais, idéia retomada no século XVII pelos 
chamados gramáticos de Port-Royal, como veremos mais adiante.
Os gramáticos especulativos, porém, exageram o aspecto lógico 
da língua, voltando-se mais para a teoria do que para os dados; por isso, e 
também porque na Idade Média a literatura pagã era mal vista – com 
exceção de algumas obras, como as de Aristóteles, já assimiladas pelo 
cristianismo – esses gramáticos formularam seus próprios exemplos, em 
vez de extraí-los dos textos clássicos.
Os filósofos nominalistas reforçaram ainda mais o espírito 
logístico da Alta Idade Média, conforme Robins:
O ponto de vista nominalista, segundo o qual os universais 
só se encontram nas próprias palavras ou nomes, não tendo 
existência real fora da linguagem, tornou-se famoso com o 
trabalho de um de seus maiores representantes, Guilherme 
de Occam (primeira metade do século XIV) (ROBINS, 
1979, p. 68).
A excessiva valorização da palavra levou esses pensadores a 
construir esquemas teóricos distanciados da realidade; assim, por 
exemplo, Jean Buridan (século XIV) reduziu a gramática a uma construção 
puramente teórica, exemplificada por proposições que não se encontram 
na linguagem real. Buridan inclui seus estudos de gramática numa obra 
chamada Compendium Totius Logicae; reconduz, pois, a gramática ao 
campo da filosofia, desligando-a do estudo dos textos.
Deve-se notar que tanto os primeiros gramáticos medievais como 
os gramáticos especulativos da Alta Idade Média, baseando-se na 
sistematização de Dionísio e de Prisciano, rendem-se à linha aristotélica; os 
exageros logicistas, porém, representam um desvio da tradição greco-
romana, segundo a qual o estudo da língua deve apoiar-se nos textos dos 
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GLOSSÁRIO
Gramática especulativa: 
gramática que procura 
encontrar as razões 
filosóficas das regras 
gramaticais.
O termo especulativo não 
deve ser compreendido no 
seu sentido moderno, mas 
num sentido particular, 
derivado da concepção de 
que a língua é como um 
espelho que reflete a 
realidade subjacente aos 
fenômenos do mundo físico 
(LYONS, p.15, 1979).
Caderno Didático - 2º Período
18
escritores consagrados.
2.3 DA RENASCENÇA AO FIM DO SÉCULO XVIII
A nossa gramática, ao nascer, em Portugal, obedece ao modelo 
latino. A primeira obra é a Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de 
Fernão de Oliveyra. Em que pesem, como reconhecem os críticos, as 
observações originais do autor, não se pode negar a sua forte base latina. 
Suas partes limitavam-se a Ortografia, Acento, Etimologia e Analogia, esta 
referente às flexões, sobretudo de gênero e número. 
O segundo de nossos gramáticos, João de Barros, não hesita em 
imitar a gramática latina, ao apresentar declinados artigos, substantivos e 
pronomes. Aliás, a definição de gramática que ele acolhe é sintomática: 
“um modo certo e justo de falar e escrever, colhido do uso e autoridade dos 
barões doutos” (BARROS, 1557, p. 1). 
Barros (1557, p. 1) divide sua gramática em quatro partes, à 
imitação dos latinos: “ortografia, que trata da letra; prosódia, que trata de 
sílaba; etimologia, que trata de dicção; sintaxe que responde à 
construção”.
Reafirmando a fidelidade ao padrão latino, propõe tratar destas 
“não segundo a ordem da gramática especulativa, mas como requer a 
perceptiva, usando os termos da Gramática Latina, 
cujos filhos nós somos, por não degenerar dela” 
(BARROS, 1557, p. 1). 
Essa posição não é gratuita e parece 
representar, da parte de João de Barros, a renúncia à 
tradição medieval, que herdara dos gregos a 
gramática científica ou especulativa. 
Opondo-se aos gramáticos especulativos da 
Idade Média, os renascentistas estudaram o latim e o 
grego, bem como as línguas vernáculas, com base na 
literatura, na língua escrita das classes cultas, mais do 
que na lógica. Entre os 
gramáticos dessa época 
salienta-se, ainda, Pierre Ramée (século XVI), 
para quem tudo o que Aristóteles disse está 
errado: “quaecumpe ab Aristotele dicta essent 
commentitia esse” (ROBINS, 1979, p. 80). 
Ramée foi um dos defensores do ensino das 
línguas através da literatura e não do 
aristotelismo escolástico. Escreveu gramáticas 
do grego, do latim e do francês, procurando 
basear suas teorias nas relações entre as 
palavras e não na significação ou nas suas 
categorias lógicas. Conservou as oito classes de 
Fonte: http://purl.pt
Figura 7:
Grammatica da 
Lingoagem 
Portuguesa, de 
Fernão de 
Oliveyra
Figura 8: Grammatica 
da Lingua Portuguesa,
de João de Barros 
Fonte: http://purl.pt
Introdução à Lingüística
19
palavras de Prisciano, mas procurou identificá-las por critério de divisão: de 
um lado as palavras que têm flexão de número (nome, pronome, verbo e 
particípio) e, de outro lado as demais (advérbio, preposição, conjunção e 
interjeição). Cumpre observar que Pierre Ramée e os renascentistas em 
geral, embora criticassem Aristóteles, não se afastaram muito do 
aristotelismo que norteava os estudos de gramática, pois continuaram 
aceitando, entre outros pontos, a classificação das palavras que Prisciano 
havia estabelecido com base em Dionísio da Trácia, cujo sistema 
gramatical se prende, em última análise, a lógica aristotélica; afastaram-se 
do que se pode chamar de aristotelismo escolástico, isto é, do logicismo 
que dominou os pensadores na segunda metade da Idade Média.
Voltam, porém, à postura logicista, os estudiosos reunidos, no 
século XVII, em redor da abadia francesa de Port-Royal, entre os quais 
Antoine Arnauld e Claude Lancelot, cuja Grammaire Générale et Raisonée 
(1660) teve grande sucesso:
essa obra, que durante dois séculos servirá de base à 
formação gramatical, explica os fatos partindo do 
postulado de que a linguagem, imagem do pensamento, 
exprime juízos e que as diversas realizações que se 
encontram nas línguas são conformes a esquemas lógicos 
universais (DUBOIS et al, 2001, p. 314).
Assim, o século XVII marca, na França a revivescência dos ideais 
da gramática especulativa pelos mestres de Port-
Royal. 
Em linhas gerais, o pensamento desses 
autores prende-se mais a seu contemporâneo 
Descartes do que a Aristóteles. Assim, exageram 
o papel da razão e, em sua gramática, 
estabelecem teorias muito rígidas, que nem 
sempre correspondem à realidade. Por exemplo, 
o grego não tem o caso ablativo, que existe em 
latim, mas os gramáticos de Port-Royal 
apresentam uma teoria segundo a qual o grego 
possui, sim, o caso ablativo, que se confunde, 
porém, com o dativo por ter forma sempre igual 
à forma deste. Tal afirmação contraria a 
realidade de ambas as línguas, pois o ablativo latino equivale ora ao dativo, 
ora ao genitivo grego.
De certo modo, os gramáticos de Port-Royal ligam-se ainda a 
seus predecessores medievais, pois admitem a existência de uma estrutura 
universal do pensamento e, portanto, de universais lingüísticos, e adotamas tradicionais classes de palavras, que, para eles, são nove: incluem 
novamente o artigo, excluído por Prisciano, e conservam a interjeição. 
Além disso, aproximam-se de Aristóteles quando, por exemplo, admitem 
que a função das línguas é comunicar o pensamento, termo que abrange a 
simples apreensão, o juízo e o raciocínio (as três operações do espírito 
Figura 9: Gramática
de Port-Royal, de Arnauld
e Lancelot
Fonte: http://submarino.com.br
Caderno Didático - 2º Período
20
humano, segundo a lógica aristotélica); voltam ainda à análise sugerida 
por Aristóteles (Sobre a Interpretação, cap.II), em que todos os verbos 
equivalem lógica e gramaticalmente ao verbo ser mais predicativo: Pedro 
vive é o mesmo que Pedro é vivente e, portanto, essa frase é 
estruturalmente análoga à frase Pedro é homem. Há, porém, nessa 
análise dos gramáticos de Port-Royal, uma inovação, que será retomada 
por lingüistas contemporâneos, como veremos a seguir: Chomsky 
reconhecerá que, sob a frase concreta, existirá um nível estrutural mais 
profundo.
Em resumo, os gramáticos de Port-Royal prendem-se ainda, em 
alguns pontos, ao pensamento aristotélico, mas apresentam inovações 
decorrentes de sua formação racionalista, que os leva a procurar a unidade 
lingüística subjacente às diferentes línguas e a construir esse universalismo 
com base na razão: ao contrário dos escolásticos, fizeram prevalecer a 
razão sobre a autoridade.
Outra obra que representa um marco na evolução dos estudos 
lingüísticos é a Grammaire Générale de M. 
Bauzée, publicada em 1767. Esse autor se 
aproxima dos estudiosos de Port-Royal, pois 
admite a existência de princípios universais 
que decorrem da própria natureza do 
pensamento humano, mas afasta-se da linha 
racionalista ao tomar uma atitude menos 
rígida, não pretendendo impor a todas as 
línguas um sistema único; assim, por 
exemplo, ele critica a teoria dos sábios de 
Port-Royal sobre o ablativo grego, 
mencionado anteriormente. Além disso, 
Beauzée deixa de lado a divisão das classes de palavras em dois grupos, 
estabelecida pelos gramáticos de Port-Royal, segundo a qual o nome, o 
artigo, o pronome, o particípio e o advérbio relacionam-se com os 
“objetos” de nossos pensamentos, enquanto o verbo, a conjunção e a 
interjeição relacionam-se com a “forma ou modo”.
A classificação de Beauzée separa definitivamente o adjetivo do 
substantivo; fixa, pois, em dez as classes gramaticais (substantivo, adjetivo, 
artigo, pronome, particípio, advérbio, verbo, preposição, conjunção e 
interjeição) que, a partir daí, assim aparecem na gramática francesa 
clássica, fiel à tradição derivada de Aristóteles.
Entre as inúmeras gramáticas “racionais”, surgidas no Século das 
Luzes, destaca-se, para nós, a Grammatica Philosophica da Língua 
Portugueza (1803 ou 1782?, cf. GENOUVRIER e PEYTARD, 1972, p. 
137), de Jerônimo Soares Barbosa. Na introdução de sua gramática, o 
autor discorre, com muita propriedade, sobre a evolução da gramática 
(Grammática quer dizer Litteratura), ressaltando, ao referir-se às suas 
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GLOSSÁRIO
Universais lingüísticos: 
similaridades existentes em 
todas as línguas do mundo 
(DUBOIS et al, 2001).
Figura 10: Grammaire
Générale, de M. Bauzée
Fonte: http://purl.pt
Introdução à Lingüística
21
partes, a precedência histórica do que chama 
parte mecânica da língua (Ortografia e 
Ortoepia) sobre a parte da Lógica 
(Etimologia e Sintaxe).
Concebe a gramática como “a arte 
de fallar e escrever correctamente a propria 
lingua” (BARBOSA, 1875, p. 1). Na defesa 
da parte lógica, em que se esmera e cuja 
paternidade atribui ao gênio de Aristóteles, 
Soares Barbosa apela para as leis 
psicológicas, que orientam as operações 
mentais.
Comuns a todos os homens, essas 
leis devem comunicar às línguas, que são 
expressões daquelas operações, os mesmos 
princípios de regras gerais.
Todas as gramáticas particulares, acrescenta, têm de ter por 
fundamento a gramática geral e razoada. A reforma operadora, no seu 
tempo, nas gramáticas das línguas vivas, que ele enaltece, foi precedida da 
introdução, na gramática latina, das luzes da filosofia. Primeiro, 
estabeleceram-se princípios gerais e razoados da linguagem e, depois, 
foram eles aplicados a cada língua.
Deve-se ressaltar, ainda, na obra de Soares Barbosa, frente às 
gramáticas anteriores, o reconhecimento da sintaxe oracional, até então 
ignorada. Quando as palavras deixam de ser consideradas em si mesmas 
(Etymologia) e passam a ser olhadas “unidas em discurso para formarem 
os diferentes painéis do pensamento, descobre- se a Syntaxe que quer dizer 
coordenação de partes”(BARBOSA, 1875, p. 10).
Embora ainda um tanto preso à tradição do ensino gramatical, o 
século XIX, tem na pessoa de Augusto Epifânio da Silva Dias, cuja 
Gramática Prática da Língua Portuguesa data de 
1870, um inovador, que consegue ir rompendo 
com a preocupação logística, impregnada na 
pretensa análise lógica, herdada de Jerônimo 
Soares Barbosa.
Enquanto isso, dentro de uma linha de 
renovação, surge, no Brasil, em 1881, a 
Grammatica Portugueza de Julio Ribeiro, 
criando acirrada polêmica nos meios intelectuais. 
Em abono de seu espírito inovador, foi o primeiro, 
na 2ª edição, a substituir a tradicional divisão 
quadripartite de gramática pela bipartite: 
lexiologia e sintaxe.
O início do prefácio dessa mesma edição 
soa como uma condenação à gramática 
Caderno Didático - 2º Período
Fonte: http://purl.pt
Figura 11: Grammatica
Philosophica da Língua
Portugueza, de Jerônimo
Soares Barbosa
Figura 12: Grammatica
Portugueza, de Julio
Ribeiro
Fonte: http://submarino.com.br
22
filosófica, que a priori aplicava princípios lógicos a fatos gramaticais: as 
antigas “gramáticas portuguesas eram mais dissertações de metafísica do 
que exposições de uso da língua“ (RIBEIRO, s/d, p. 1).
Sem desmerecer, por omissão, nessa linha de atualização 
metodológica e de melhor precisão sintática, o papel desempenhado, 
entre nós, por Maximino Maciel (1887), João Ribeiro (1887), José Oiticica 
e outros, destaca-se a contribuição singular de Eduardo Carlos Pereira 
(1907). Esse gramático sintetiza toda a herança dos séculos anteriores não 
só no sentido inovador de atualização metodológica e de melhor precisão 
de conceitos, como também no conservador de manter, paradoxalmente, 
as tendências que marcaram toda essa evolução gramatical. Isso tanto em 
Portugal como no Brasil, por mais contraditórias que elas sejam.
No prólogo da 1ª edição de sua Gramática 
Expositiva (1907), Carlos Pereira refere-se à 
desorientação da hora presente: “depois que Julio 
Ribeiro imprimiu uma nova direção aos estudos 
gramaticais, romperam-se os velhos moldes e 
estabeleceu-se largo conflito entre a escola 
tradicional e a nova corrente” (PEREIRA, 1955, p. 
7). Esclareça-se que a corrente tradicional é a “que 
se preocupa com o elemento lógico na expressão do 
pensamento, como o próprio autor assinala mais 
tarde condenando o exclusivismo de uma e outra, 
ou melhor, a confusão de ambas” (PEREIRA, 
1955, p. 7). 
2.4 A LINGÜÍSTICA NO SÉCULO XIX
Até fins do século XVIII, conforme vimos anteriormente, os 
estudos lingüísticos eram baseados na gramática greco-latina, isto é, na 
língua como reflexo do pensamento e da lógica e não como objeto de uma 
ciência específica, procurando deduzir os fatos da linguagem e estabelecer 
normas de comportamento lingüístico. Nesse sentido, pressupunha-se 
uma fixidez da língua; conseqüentemente, as descrições gramaticais 
possuíam um caráter essencialmente normativo e filosófico.
Contudo,contra essa concepção estática, alguns estudiosos da 
linguagem rebelaram-se no final do século XVIII, enfatizando a mudança 
incessante da língua, por meio de um processo dinâmico e coerente. 
Iniciada pelo movimento de ruptura com o passado que foi a 
Revolução Francesa, o século XIX viu esboçar-se uma nova etapa nos 
estudos lingüísticos, pois viu nascer o estudo científico da língua no mundo 
ocidental. Tal asserção será verdadeira se dermos ao termo científico o 
sentido que ele geralmente tem hoje; foi no século XIX que os fatos da 
língua começaram a ser investigados com cuidado e objetivamente e 
depois explicados por hipóteses indutivas. 
Introdução à Lingüística
Figura 13: Gramática 
Expositiva – curso 
elementar, de Eduardo 
Carlos Pereira
Fonte: http://purl.pt
23
Nesse contexto, para essa nova etapa, contribuiu, por um lado, o 
clima de liberalismo ligado às mudanças políticas, por outro, já na segunda 
metade do século XIX, o desenvolvimento científico, que resultou na 
extensão aos fatos psíquicos e sociais do método de observação usado nas 
ciências físicas e naturais. Assim, a gramática passa a ser encarada como 
um conjunto de fatos, independente de uma base lógica, afirmando-se e 
prevalecendo aquela postura empírica, já observável em Dionísio da 
Trácia. 
Além disso, um fato novo nos estudos de língua influenciou a 
gramática histórico-comparativa: no final do século XVIII, o inglês William 
Jones estabeleceu o parentesco do sânscrito com o latim, o grego e as 
línguas germânicas, dando o primeiro impulso ao desenvolvimento do 
estudo comparativo e histórico das línguas.
Desse modo, segundo Leroy (1971, p. 29), foi o conceito do 
parentesco das línguas que racionalizou os estudos lingüísticos; o ponto de 
partida foi a revelação do sânscrito aos sábios ocidentais: o conhecimento 
dessa língua – além de possibilitar facilmente, pelo menos em certos casos, 
a análise da palavra em seus elementos constituintes – dava acesso à obra 
dos gramáticos hindus, tesouro de observações preciosas, particularmente 
instrutivas no tocante à classificação dos fonemas e à teoria da raiz da 
formação das palavras. 
Jones declarou que o sânscrito mostrava em relação ao latim e ao 
grego, tanto nas raízes dos verbos como nas formas gramaticais, uma 
afinidade tão grande que não seria possível 
considerá-la casual: tão forte, em verdade, 
que nenhum lingüista poderia examiná-la 
sem crer que se tinham originado de uma 
fonte comum que talvez não mais exista. 
A redescoberta do sânscrito no final 
do século XVIII permitiu um exame da 
gramática dos hindus que, ao contrário da 
greco-romana, valorizava a estrutura interna 
das palavras. Assim, podemos reconhecer as 
s emen t e s da s f u t u r a s pe squ i s a s 
estruturalistas nos domínios da ciência da 
linguagem.
O grande nome desse período é Bopp, que publicou em 1816 o 
seu Sistema de conjugação do sânscrito em comparação com o grego, 
latim, persa e germânico, reunindo as provas indiscutíveis do parentesco 
de tais línguas e fundando ao mesmo tempo a gramática comparada das 
línguas indo-européias. Partindo, geralmente, do sânscrito, Bopp 
segmenta as palavras e mostra sua variedade de combinações, expõe suas 
transformações sofridas e esforça-se por buscar-lhes a origem. Seu 
objetivo básico era chegar à origem, não por especulações filosóficas, mas 
pela comparação dessas formas em seu arranjo histórico. Vê-se, assim, 
Figura 14: Sir William Jones
Fonte: http://en.wikipedia.org
Caderno Didático - 2º Período
24
que o seu método é o indutivo. Com isso, 
Bopp compreendeu que as relações entre as 
línguas de uma mesma família podiam 
converter-se em matéria de uma ciência 
autônoma e, ainda mais, que o estudo do 
desenvolvimento histórico de uma língua e 
seu parentesco com outras não pode ser feito 
pela mera coincidência de alguns termos 
isolados, mas pela observação metódica da 
constituição gramatical da(s) língua(s) em 
questão. 
Outro nome a ser acrescentado ao dos promotores da gramática 
comparada é de Jacob Grimm que, ao introduzir em lingüística a noção de 
perspectiva histórica, aplicou-se ao estudo dos dialetos germânicos e 
publicou pesquisas pormenorizadas sobre a história fonética dos falares 
germânicos; entretanto a lei que leva o seu 
nome (a lei de Grimm) já tinha sido 
indicada por Rask em 1818 e por J. H. 
Bredsdorff em 1821. Assim, nessa lei, em 
1822, Grimm observou, por exemplo, que 
a s l í n g u a s g e r m â n i c a s t i n h a m 
freqüentemente:
! onde outras línguas indo-
européias (por exemplo, o latim ou 
o grego) tinham p;
! p onde outras línguas tinham b;
! o fonema th onde outras línguas tinham t; e
! t onde outras línguas tinham d.
Nesse contexto, tal descoberta dita mutação consonântica foi 
importante, pois foi o primeiro modelo das leis fonéticas (traduzindo a 
regularidade das transformações fônicas da linguagem).
Mas o mais original lingüista do século XIX – cujas idéias, 
baseadas na observação dos fatos, se opõem cabalmente a linha seguida 
pela gramática tradicional – é Wilhelm von Humboldt. Para ele, a 
linguagem é uma atividade criadora e não um mero produto: nenhum 
fator do ambiente poderia fazer surgir uma língua. A faculdade da 
linguagem está na essência da mente humana, que é capaz de fazer uso 
infinito de recursos lingüísticos finitos, o que será retomado no pensamento 
chomskiano, conforme já vimos na unidade I (Aquisição da Linguagem) e 
discutiremos nessa unidade.
Em outras palavras, já naquela época, Humboldt tenta determinar 
o mecanismo e a natureza da linguagem por meio de raciocínios gerais que 
se aplicam ao funcionamento das línguas em particular. Ele partia do 
t
Figura 15: Franz Bopp
Fonte: http://en.wikipedia.org
Figura 16: Jacob Grimm
Fonte: http://en.wikipedia.org
Introdução à Lingüística
25
princípio de que a língua é uma atividade 
interessante, um trabalho mental do 
homem, constantemente repetida para 
expressão do pensamento. Como um 
conjunto de atos de fala, o que importa nela 
é seu lado dinâmico. Nessa perspectiva, a 
língua não é um mero produto para ser 
utilizada pelos falantes, pelo contrário, é a 
força criadora de cada um. 
Como se sabe, a gramática 
especulativa da Idade Média afasta-se da 
tradição filosófica na medida em que, procurando princípios constantes e 
universais, preconizava o método dedutivo. Assim também pensavam os 
gramáticos racionalistas do século XVII, na França. Já, no século XIX, 
Humboldt propunha a análise de todas as línguas do mundo – vale 
ressaltar que tal fato é impossível – a fim de se compararem as diferentes 
maneiras pelas quais a mesma noção gramatical é expressa nas várias 
línguas. Isso quer dizer que ele pretendia usar o método indutivo na 
descrição das línguas, o que refuta o pensamento desses gramáticos 
especulativos e racionalistas e corrobora o pensamento de Bopp. 
Porém, esse pensamento revolucionário não teve influência na 
época (primeira metade do século XIX); os estudiosos estavam mais 
preocupados com questões de gramática comparativa e histórica do que 
com o estabelecimento de uma nova maneira de encarar a língua. As 
idéias de Humboldt somente foram valorizadas em fins do século XIX e no 
século XX; e foi no início deste século que a influência de Aristóteles sobre 
os estudos de língua teve, realmente, acentuado declínio.
Na segunda geração de comparativistas, um homem se revelou 
um grande mestre e exerceu influência profunda no desenvolvimento da 
ciência lingüística: Schleicher, cujas idéias se afastam da orientação 
historicista decunho filosófico, reclamando para a Lingüística a posição de 
ciência natural porque o desenvolvimento da linguagem não é como o 
histórico, mas como o de uma planta com suas leis fixas do nascimento, 
crescimento e morte, o que se justifica pelo fato de ele ser botânico.
Dito de outra forma, o ponto de vista original por ele introduzido 
em Lingüística consistiu em considerar as línguas como organismos 
naturais que, independentemente da vontade humana, nascem, crescem 
e desenvolvem-se segundo regras determinadas, e depois envelhecem e 
morrem, manifestando essa série de fatores que englobamos na palavra 
vida. Assim, nessa perspectiva, a Lingüística aparece como uma ciência 
natural, e Schleicher tentava definir-lhe as leis com o rigor que caracterizou 
as leis físicas e químicas, e explicar-lhe a evolução aplicando-lhe as teorias 
de Darwin, novas na época.
Uma reação a tais concepções formou-se por volta de 1878 na 
Universidade de Leipzig com um grupo de estudiosos reunidos em torno de 
Fonte: http://en.wikipedia.org
Figura 17: Wilhelm von 
Humboldt
Caderno Didático - 2º Período
26
Brugmann e Osthoff. Esses dissidentes foram 
c h a m a d o s d e n e o g r a m á t i c o s e 
concent ravam-se no pr inc íp io da 
infalibidade das leis fonéticas. Segundo eles, 
as alterações que podemos observar na 
história lingüística pelos documentos escritos 
baseiam-se em leis fixas que não variam (leis 
fonéticas regulares), salvo por força de 
outras leis (analogias). A assertiva de 
qualquer alteração fonética poderia explicar-
se por leis que não admitiam exceções foi 
muito discutida, mas, na época, parecia mais razoável do que teria sido nos 
dias de Grimm. O que se sabe é que esses neogramáticos impulsionaram 
os estudos fonéticos, mas, como ainda se colocavam na perspectiva 
histórica, não contribuíram para mudar o quadro geral das técnicas de 
análise.
Assim, até o século XVIII, a gramática foi, pode-se dizer, um 
prolongamento da lógica. Já no século XIX e começo do século XX, 
embora dominasse ainda o ponto de vista histórico-comparativo, alguns 
lingüistas já se preocupavam com a idéia de que, ao lado de um estudo 
evolutivo da língua, deveria haver também um estudo descritivo. Quem 
realmente rompeu com a visão historicista e estática foi Saussure, ao 
conceituar a língua como sistema e ao preconizar o estudo descritivo desse 
sistema, denominado de sincrônico. Nasce, assim, o estruturalismo como 
método lingüístico; e, a partir daí, a lingüística contemporânea afasta-se 
da trilha aberta por Aristóteles. 
 
2.5 A LINGÜÍSTICA NO SÉCULO XX
 
Conforme temos visto ao longo de todo nosso estudo, a linguagem 
desempenha um papel central na vida humana, permeando nossas 
atividades, mediando nossas interações, servindo como meio de expressão 
do pensamento. E a capacidade exclusivamente humana de comunicação 
verbal sempre despertou a atenção e a curiosidade dos homens nas mais 
diferentes épocas e culturas, possuindo uma longa história. No entanto, foi 
no Ocidente (século XX) que vimos nascer o estudo científico da 
linguagem – na Lingüística – com a publicação do Curso de Lingüística 
Geral (1916), do mestre suíço Saussure.
Weedwood (2002, p. 125) afirma que, na Lingüística do século 
XX, ainda vamos encontrar a mesma tensão dos séculos anteriores entre o 
foco universalista e o particularista na abordagem dos fenômenos da 
língua e da linguagem. Essa tensão aparece estampada nas dicotomias de 
Saussure e de Chomsky (língua/fala; competência/desempenho, 
respectivamente), em que a língua é vista em si mesma e por si mesma, no 
que serão duramente criticados pelos lingüistas e filósofos da linguagem 
C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Leis fonéticas regulares 
(leis fixas): mudanças 
sonoras das línguas que 
são regulares (naturais) e 
atingem todas as formas 
que passam por um mesmo 
estágio evolutivo.
Analogias: mudanças 
sonoras que constituem 
exceções às leis fonéticas 
regulares (leis fixas), se 
dão em razão de 
associações estabelecidas 
pelo homem entre formas 
distintas e interferem no 
desenvolvimento natural do 
sistema sonoro, 
contrariando uma lei 
fonética regular.
Fonte: http://en.wikipedia.org
Figura 18: August Schleicher
Introdução à Lingüística
27
que se dedicarão a conceber a língua como uma entidade não suficiente 
em si mesma, vista como uma atividade social, susceptível às pressões do 
uso, tendo como propósito a interação comunicativa em um dado 
momento. 
Ainda segundo Weedwood, há de se levar em consideração o fato 
de que nesse século,
surgirão grandes campos de investigação que avançarão 
em direção a uma interdisciplinaridade crescente, a uma 
intersecção com a filosofia e com as outras ciências 
humanas como a sociologia, a antropologia, a semiologia, 
etc. (WEEDWOOD, 2002, p. 126).
Para tanto, procuramos oferecer, num primeiro momento, um 
esboço geral da evolução dos estudos lingüísticos no século XX, passando 
pelo Formalismo (Estruturalismo e Gerativismo), o qual tem como 
expoentes Saussure, Hjelmslev, Jakobson, Troubetzkoy, Bloomfield, Sapir e 
Chomsky, até as abordagens pragmáticas (Funcionalismo, Teoria da 
Enunciação, Teoria dos Atos de Fala, Teoria da Atividade Verbal, Teoria 
Conversacional de Grice, Semântica Argumentativa, Análise do Discurso, 
Lingüística do Texto, Análise da Conversação, Sociolingüística, 
Neurolingüística, Psicolingüística, entre outros). Desse modo, 
focalizaremos as abordagens formalistas, que se caracterizam pela 
tendência a analisar a língua como um objeto autônomo; bem como as 
abordagens pragmáticas, que analisam a língua como um lugar de 
interação entre sujeitos sociais, isto é, de sujeitos ativos empenhados em 
uma atividade sociocomunicativa. 
Apresentadas as questões introdutórias, passemos ao 
estruturalismo.
2.5.1 Estruturalismo
2.5.1.1 Estruturalismo europeu
A Lingüística do século XIX, em suas pesquisas de ordem 
eminentemente histórico-comparativa, deixou um importante legado 
teórico, sobretudo por intermédio dos neogramáticos e dos lingüistas 
como, por exemplo, Humboldt. Entretanto, a partir do século XX, a 
denominamos de Lingüística Moderna, período que é normalmente 
identificado com o aparecimento do Cours de Lingüistique Générale de 
Saussure, em 1916, marcando o início da corrente lingüística do 
Estruturalismo. São três as noções básicas que passaram a caracterizar a 
evolução da Lingüística no século XX: sistema, estrutura e função. 
A noção de sistema deve-se a Saussure, pois, para ele, a língua é 
um sistema, ou seja, um conjunto de unidades que obedecem a certos 
princípios de funcionamento, constituindo um todo coerente.
Considerando a linguagem verbal como um fenômeno unitário no 
C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Tensão nas investigações 
lingüísticas
Foco universalista: a 
linguagem sendo vista em 
seu aspecto coletivo ou 
universal (por exemplo, 
língua – Saussure; 
faculdade da linguagem – 
Chomsky).
Foco particularista: a 
linguagem sendo vista em 
seu aspecto 
individual/particular (por 
exemplo, fala – Saussure; 
desempenho – Chomsky).
Caderno Didático - 2º Período
28
qual os elementos se inter-relacionam, Saussure estabeleceu, do ponto de 
vista metodológico, dicotomias básicas: língua-fala, sincronia-diacronia, 
sintagma-paradigma, significado-significante (PIETROFORTE in FIORIN, 
2002). A partir de agora vamos observar algumas delas:
Língua versus fala
A língua é ao mesmo tempo um sistema de valores que se opõem 
uns aos outros e um conjunto de convenções necessárias adotadas por 
uma comunidadelingüística para se comunicar. Ela está depositada como 
produto social na mente de cada falante de uma comunidade, que não 
pode criá-la, nem modificá-la; é, pois, de natureza homogênea. 
A fala é a realização, por parte do indivíduo, das possibilidades 
que lhe são oferecidas pela língua. É, pois, um ato individual e 
momentâneo em que interferem muitos fatores extralingüísticos e se 
fazem sentir a vontade e a liberdade individuais, portanto heterogênea.
Mesmo que tenha reconhecido a interdependência entre língua e 
fala, Saussure considerava como objeto da lingüística a língua – por seu 
caráter homogêneo – procurando não só entender, mas também descrevê-
la do ponto de vista de sua estrutura interna. 
Sincronia versus diacronia
Para Saussure (2001, p. 96), “é sincrônico tudo quanto se 
relacione com o aspecto estático da nossa ciência”, ou seja, esse ponto de 
vista vê a língua como uma estrutura cujos elementos constitutivos se 
opõem; “diacrônico tudo o que diz respeito às evoluções”, ou seja, analisa 
as mudanças que ocorrem nas línguas através do tempo. “Do mesmo 
modo, sincronia e diacronia designarão, respectivamente, um estado de 
língua e uma fase de evolução.”
Nessa perspectiva, o estruturalismo proposto por Saussure não 
apenas aponta as diferenças entre essas duas formas de investigação, 
mas, sobretudo, prioriza o estudo sincrônico. Ou seja, para Saussure, o 
lingüista deve estudar principalmente o sistema da língua, observando 
como se configuram as relações internas entre seus elementos em um 
determinado momento do tempo. Esse tipo de estudo é possível porque os 
falantes não possuem informações acerca da história de sua língua e não 
precisam ter informações etimológicas a respeito dos termos que utilizam 
no dia-a-dia: para os falantes, a realidade da língua é seu estado 
sincrônico.
Linguagem, língua e fala 
são entidades lingüísticas 
distintas, mas 
interdependentes, a partir 
da Lingüística Moderna 
(século XX).
DICAS
Introdução à Lingüística
29
Caderno Didático - 2º Período
Paradigma versus sintagma
As relações entre os elementos lingüísticos, segundo Saussure, 
podem ocorrer em dois domínios distintos, mas que se completam. Essas 
relações dependem de uma seleção (escolhe-se um elemento em 
detrimento de outros que poderiam ocupar um mesmo ponto do 
enunciado) desses elementos e, ao mesmo tempo, de uma combinação 
entre os elementos selecionados. Dessa maneira, podemos dizer que a 
linguagem possui dois eixos: um eixo paradigmático (seleção) e um eixo 
sintagmático (combinação).
Nesse exemplo, temos, na vertical, o eixo paradigmático (com as 
palavras que poderíamos selecionar para ocupar as posições indicadas) e, 
na horizontal, o eixo sintagmático (com as combinações estabelecidas 
entre as palavras selecionadas):
Significante versus significado
Saussure definiu como objeto de estudo do Estruturalismo a 
língua – um conjunto de signos lingüísticos convencionados por uma dada 
sociedade. E foi nessa última dicotomia que se estudou o conceito de signo 
lingüístico.
O signo lingüístico, uma entidade abstrata e psíquica, é 
constituído de significante e significado. Mas a que essas palavras 
equivalem?
Se o signo lingüístico é uma unidade abstrata, as partes que o 
compõem também o são, mas a que correspondem?
O significante é a imagem acústica de um signo, isto é, som 
psíquico (mentalizado) e não som articulado (aspecto físico). Para 
identificá-lo, pense em uma palavra. Esses sons combinados que 
mentalizou correspondem ao significante desse signo lingüístico.
E o significado? O significado é a imagem conceitual de um signo 
lingüístico, isto é, é a imagem da coisa, arquivada em nossa memória; seu 
todo significativo.
Por exemplo:
significante = /'kaza/
 
significado = 
 
------------------------------------------------------------------------------®
Eu amo José.
Maria machucou o joelho.
Mamãe fez um bolo.
eixo sintagmático
e
ix
o
 p
a
ra
d
ig
m
á
ti
c
o
 
30
Com base nisso, podemos questionar: um signo é uma palavra?
Como o signo lingüístico é uma entidade constituída de 
significante e significado, não apenas as palavras são tidas como signo 
lingüístico, mas também os morfemas (unidades mínimas significativas 
recorrentes de uma língua).
Saussure também propõe dois princípios para os signos 
lingüísticos: a sua arbitrariedade e a linearidade do significante. O que 
querem dizer?
Saussure afirma que o signo lingüístico é arbitrário, ou seja, não 
há relação necessária (natural) entre o seu significante e o seu significado, 
pois é convencionado por um grupo social, não cabendo a um indivíduo 
alterá-lo. Isso é comprovado pela diversidade das línguas (em português, 
temos o significante casa e, em inglês, house para o significado moradia), 
isto é, em sociedades diferentes, as convenções lingüísticas dos grupos 
sociais são, também, diferentes.
Propõe, além disso, que o significante é linear, uma vez que os 
sons (psíquicos) ocorrem um após o outro, sucessivamente, em forma de 
linha.
Entre outros, esses são pressupostos lingüísticos do pensamento 
saussuriano, os quais figuram como alicerce da lingüística estrutural. 
A propensão a analisar a língua do ponto de vista de uma unidade 
encerrada em si mesma, como uma estrutura sui generis, também está 
presente no Grupo Copenhague que tem Hjelmslev à frente. Assim 
considerado, a língua apresenta um caráter abstrato e estático, já que é 
dissociada do ato comunicativo.
A Escola de Copenhague focalizou o aspecto formal das línguas, 
deixando sua função num plano secundário. Ou seja, essa escola adotou a 
concepção saussuriana de língua como um sistema autônomo e, através 
de Hjelmslev, desenvolveu uma teoria chamada de Glossemática, 
aprofundando principalmente os conceitos de forma e substância 
(expressão e conteúdo).
Hjelmslev, partindo do princípio de que a língua é uma estrutura, 
isto é, uma entidade de dependências internas, constrói uma teoria que se 
realiza numa rede abstrata de inter-relações. O expediente de análise 
utilizado é o da comutação aplicável tanto ao plano da expressão 
(substância fônica) como ao plano do conteúdo (substância semântica), 
admitindo-se que há o mesmo tipo de relações operando nesses dois 
planos. As unidades são isoláveis pela comutação, mas são definidas 
formalmente, isto é, por meio de relações combinatórias. Nesse ponto, o 
tratamento é puramente dedutivo.
Sabe-se que durante a primeira metade do século XX, 
privilegiando diferentes aspectos das idéias de Saussure, surgem na 
Europa, pelo menos três importantes grupos lingüísticos: a Escola de 
Genebra, a Escola de Londres e a Escola de Copenhague. As duas 
C
A
B
F
E
G
GLOSSÁRIO
Glossemática: designa a 
teoria lingüística proposta 
por Hjelmslev que 
considera a língua como 
fim em si e não como 
meio. Essa teoria, em razão 
de seguir os pressupostos 
básicos de Saussure, 
pertence ao Estruturalismo 
europeu.
Introdução à Lingüística
31
primeiras não se limitaram ao estudo meramente formal, adotando a visão 
de que a língua deve ser vista como um sistema funcional, no sentido que é 
utilizada para um determinado fim: a comunicação; ao contrário da Escola 
de Copenhague.
2.5.1.1.1 Estruturalismo funcionalista
O conceito de funcionalismo nasceu no Círculo Lingüístico de 
Praga, um dos grupos mais importantes para as investigações da 
lingüística teórica e o desenvolvimento da filologia das línguas eslavas.
Assim, podemos afirmar que a abordagem da Escola de Praga é 
caracterizada como um Estruturalismo Funcional, pois

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