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CONCURSO DE PESSOAS Em regra, a forma mais simples de conduta delituosa consiste na intervenção de uma só pessoa por meio de uma conduta positiva ou negativa. Entretanto, o crime pode ser praticado por duas ou mais pessoas, todas concorrendo para a consecução do resultado. O Código Penal utiliza o termo concurso de pessoas, que é sinônimo de concurso de agentes, adotando a teoria monista (também chamada de teoria unitária ou teoria igualitária), segundo a qual, no concurso, existe um só crime, que todos os participantes respondem por ele. O art. 29, caput, diz: Art. 29. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. 1 – CONCURSO NECESSÁRIO E EVENTUAL Quanto ao número de pessoas, os crimes podem ser classificados em: MONOSSUBJETIVOS - que podem ser cometidos por um só sujeito; PLURISSUBJETIVOS - que exigem pluralidade de agentes para a sua prática. Ex.: rixa (art. 137 do CPB). Em face do modo de execução, segundo Damásio E. de Jesus (Direito penal, cit. p. 354), os crimes plurissubejtivos posem ser classificados em: a) de CONDUTAS PARALELAS, quando há condutas de auxílio mútuo, tendo os agentes a intenção de produzir o mesmo evento – Ex.: bando ou quadrilha (art. 288 do CPB); b) de CONDUTAS CONVERGENTES, quando as condutas se manifestam na mesma direção e no mesmo plano, mas tendem a encontrar-se, com o que se constitui a figura típica – Ex.: bigamia (art. 235 do CPB); c) de CONDUTAS CONTRAPOSTAS, quando os agentes cometem contra a pessoa, que por sua vez, comporta-se da mesma maneira e é também sujeito ativo do delito – Ex.: rixa (art. 137 do CPB). Assim, existem duas espécies de concurso: CONCURSO NECESSÁRIO, no caso dos crimes plurissubejtivos; CONSURSO EVENTUAL, no caso dos crimes monossubjetivos. 2 – FORMAS DE CONCURSO DE AGENTES As formas de concurso de agentes são: CO-AUTORIA; PARTICIPAÇÃO. Merece ser destacado que o Código Penal adotou a teoria restritiva da autoria, distinguindo autor de partícipe. 3 – REQUISISTOS DO CONCURSO DE AGENTES Para que haja concurso de agentes, são necessário os seguintes requisitos: PLURALIDADE DE CONDUTAS; RELEVÂNCIA CAUSAL DE CADA UMA DAS CONDUTAS; LIAME SUBJETIVO ENTRE OS AGENTES; IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PARA TODOS OS PARTICIPANTES. 4 – CO-AUTORIA Ocorre a coautoria quando várias pessoas realizam a conduta principal do tipo penal. Há diversos executores do tipo penal. Ex.: estupro (art. 231 do CPB) e roubo (art. 157 do CPB). 5 – PARTICIPAÇÃO Ocorre, a participação quando o sujeito concorre de qualquer modo para a prática da conduta típica, não realizando atos executórios do crime. O sujeito, chamado partícipe, realiza atos diversos daqueles praticados pelo autor, não cometendo a conduta descrita pelo preceito primário da norma. Pratica, entretanto, atividade que contribui para a realização do delito. AUTOR, portanto, é quem executa o núcleo da conduta típica. Ex.: aquele que mata, aquele que furta, aquele que estupra etc. PARTÍCIPE é quem concorre de qualquer modo para a realização do crime, praticando atos diversos dos do autor. Ex.: vigia a rua enquanto o autor furta bens do interior da casa; empresta a arma para o autor matar a vítima etc. 6 – FORMAS DE PARTICIPAÇÃO A participação pode ser: A) MORAL, quando o agente infunde na mente do autor principal o propósito criminoso (induzimento ou determinação) ou reforça o preexistente (instigação); B) MATERIAL, quando o agente auxilia fisicamente na prática do crime (auxílio ou cumplicidade) 7 – AUTORIA MEDIATA Segundo lição de Júlio F. Mirabete (op. Cit., p. 231), ocorre a autoria mediata quanto o agente consegue a execução do crime valendo-se de pessoa que atua sem culpabilidade. Exemplo largamente difundido na doutrina é o dono do armazém que, com o intuito de matar determinadas pessoas de uma família, induz em erro a empregada doméstica, vendendo-lhe arsênico em vez de açúcar. Também o caso da enfermeira que aplica veneno no paciente induzida em erro pelo médico que afirmou tratar-se de medicamento. Nesse caso, não há concurso de agentes entre o autor mediato, responsável pelo crime, e o executor material do fato. 8 – AUTORIA COLATERAL E AUTORIA INCERTA Ocorre a AUTORIA COLATERAL quando mais de um agente realiza a conduta, sem que exista liame subjetivo (acordo de vontades) entre eles. Ex.: A e B, sem ajuste prévio, roubam simultaneamente um mesmo estabelecimento bancário. Nesse caso, cada qual responderá apenas pelo roubo, sem a circunstância do concurso de agentes. A AUTORIA INCERTA, por seu turno, ocorre quando, em face de uma situação de autoria colateral, é impossível determinar quem deu causa ao resultado. Ex.: A e B, sem ajuste prévio, atiram contra a vítima C, matando-a. não se conseguindo precisar qual dos disparos foi a causa da morte de C, os agentes A e B responderão por homicídio tentado. 9 – CONIVÊNCIA E PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO Ocorre a CONIVÊNCIA quando o agente, sem ter o dever jurídico de agir, omite-se durante a execução do crime, tendo condições de impedi-lo. Nesse caso, a inexistência do dever jurídico de agir por parte do agente não torna a conivência uma participação por omissão, não sendo ela punida. Assim, não constitui participação punível a mera presença do agente no ato da consumação do crime ou a não-denúncia de um fato delituoso de que tem conhecimento a autoridade competente. Na PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO, o agente tem o dever jurídico de agir para evitar o resultado (art. 14, § 2º, do CPB), omitindo-se intencionalmente e pretendendo que ocorra a consumação do crime. Ex.: empregado que, ao sair do estabelecimento comercial onde trabalha, deixa de trancar a porta, não o fazendo para que terceiro, com que está previamente ajustado, possa lá ingressar e praticar furto. 10 – CONCURSO EM CRIME CULPOSO Embora possa parecer difícil imaginar uma hipótese concreta, é admitido o concurso de pessoas em crime culposo. Podemos citar como exemplo, já bastante difundido na doutrina, o do acompanhante que instiga o motorista a empreender velocidade excessiva em seu veículo, atropelando e matando um pedestre. Também o caso dos obreiros que, do alto de um edifício em construção, arremessam uma tábua que cai e mata um transeunte. Entretanto, nas hipóteses de crime culposo, somente é admitida a coautoria, em que todos os concorrentes, à vista da previsibilidade da ocorrência do resultado, respondem pelo delito. Ao não observar o dever de cuidado, os concorrentes realizaram o núcleo da conduta típica culposa, daí por não há falar em participação em sentido estrito. 11 – PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS Todos os participantes do crime responderão igualmente, na medida de sua culpabilidade, segundo o disposto no art. 29, caput, do Código Penal. O § 1° do art. 29 se refere à participação de menor importância, que deve ser entendida como aquela secundária, dispensável, que, embora tenha contribuído para a realização do núcleo do tipo penal, não foi imprescindível para a prática do crime. Nesse caso, o partícipe terá a pena diminuída de um sexto a um terço. O § 2°, do art. 29 trata da chamada cooperação dolosamente distinta, onde um dos concorrentes “quis participar de crime menos grave”. Nesse caso, a pena será a do crime que idealizou. Se era previsível ao participante o resultado mais grave, a pena que lhe será aplicada consistirá naquela cominada ao crime menos grave que idealizou, aumentada até a metade. 12 – CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS Diz o art. 30 do Código Penal: Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Essa disposição traça clara distinção entre circunstâncias (elementos que se integram à infração penal apenas para aumentar ou diminuir a pena, embora não imprescindíveis, como por exemplo, as atenuantes do art. 65 do CPB) e condições pessoais (relação do agente com o mundo exterior – pessoas e coisas -, como por exemplo, as relações de parentesco). Essas elementares do crime são quaisquer componentesque integrem a figura típica fundamental. Ex.: no crime de peculato (art. 312 do CPB), a elementar é a condição de funcionário público do agente; no crime de infanticídio (art. 123 do CPB), a elementar é a qualidade de mãe do agente. É bom esclarecer, entretanto, que as circunstâncias ou condições de caráter pessoal, para que haja comunicabilidade, devem ser conhecidas pelo participante. Assim, o participante de um crime de peculato deve conhecer a condição pessoal de funcionário público do coautor. 13 – CASOS DE IMPUNIBILIDADE Dispõe o art. 31 do Código Penal: Art. 31. O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Em regra, são impuníveis as formas de concurso nominadas quando o crime não chega à fase de execução. Conforme já vimos em capítulo próprio. O inter criminis é composto de cogitação, atos preparatórios, atos executórios e consumação. A tentativa ocorre quando o agente inicia atos de execução, não atingindo a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade. Nesses casos, a participação é impunível, salvo nos casos em que o mero ajuste, determinação ou instigação e auxílio, por si só, já sejam puníveis como delitos autônomos. É o caso, por exemplo, do crime de bando e quadrilha previsto no art. 288 do Código Penal. DISPONIVEL EM: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAABiCAAL/20-aula-concurso-pessoas-ii>
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