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MAGISTRATURA E ÉTICA INSTITUCIONAL II
Ao mesmo tempo em que a ONU movia esforços para a elaboração de um documento de referência planetária acerca da ética institucional da magistratura, diversos países também o faziam aprovando códigos nacionais de ética judiciária. Essa preocupação ocorreu em especial nos países ibero-americanos, pois já no ano de 2001 a Cúpula Judicial Ibero-Americana incluiu no Estatuto do Juiz Ibero-Americano um capítulo destinado a ética judicial. Essa discussão foi crescendo em tamanho e densidade até que no ano de 2004 Presidentes de Tribunais Superiores de Justiça aprovaram no âmbito da Declaração Copán-San Salvador a revisão dos códigos de ética já existentes e a elaboração de um Código Modelo Ibero-Americano de Ética Judicial. A idéia geral é que tal código modelo expressasse um forte compromisso com a excelência da jurisdição e o respeito com os direitos do jurisdicionado. Na mesma esteira, deveria, também, ser um instrumento de fortalecimento da legitimidade institucional e democrática do Poder Judiciário na Ibero-América. O principal raciocínio subjacente ao código é que um melhor juiz produz uma melhor sociedade e uma melhor sociedade exige um melhor juiz. Para o trabalho de elaboração desse código modelo foram convidados os professores Manuel Atienza e Rodolfo Luis Vigo. Ambos, amparados por uma equipe de apoio, trabalharam por mais de um ano na elaboração de um código que fosse amplo o suficiente para contemplar a diversidade cultural e jurídica dos países ibero-americanos, mas que fosse específico o suficiente para concretizar o desejo do estabelecimento de condutas virtuosas e construtivas tanto para a jurisdição como para a instituição Poder Judiciário. Assim, o Código Modelo foi aprovado na Cúpula Judicial Ibero-Americana realizada na República Dominicana em junho de 2006. Ele não exerce força vinculante sobre as magistraturas nacionais, mas, sem dúvida, apresenta razões suficientes para que cada tribunal e cada magistrado busquem nele fonte de conhecimento, esclarecimento e orientação acerca da conduta institucionalmente ética. Por isso mesmo, o Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, em fevereiro de 2008, ofereceu ao público brasileiro uma versão do Código em língua portuguesa.
A forma normativa adotada no Código Ibero-Americano foi a dos princípios. A metódica é a mesma para todo o código: apresenta-se o princípio definindo-se sua especificidade e finalidade; em seguida é fornecida sua definição e algumas aplicações possíveis do princípio em certas situações mais significativas; por fim, são apresentadas algumas condutas que favorecem o cumprimento do princípio. São os seguintes os princípios adotados: 1) Independência; 2) Imparcialidade; 3) Motivação (nas decisões); 4) Conhecimento / Capacitação; 5) Justiça / Equidade; 6) Responsabilidade Institucional; 7) Cortesia; 8) Integridade; 9) Transparência; 10) Segredo Profissional; 11) Prudência; 12) Diligência; e 13) Honestidade Profissional. Veja-se que do dever de cortesia até o dever de equidade, o Código propõe um modelo de juiz virtuoso apto a fortalecer a democracia por meio da dignidade da jurisdição e da integridade do Poder Judiciário. Em todos os casos a exigência não é apenas a de ser ético, mas também de parecer ético. Em outras palavras, não apenas as condutas devem ser éticas, como as externalidades das condutas dos magistrados devem parecer conforme os mesmos ditames. Como estamos diante da tarefa de construção de uma nova cultura judicial, o Código também instituiu uma Comissão Ibero-Americana de Ética Judicial, formada por nove membros designados pela Assembléia Geral da Cúpula Judicial Ibero-Americana. A missão da Comissão é fortalecer a consciência ética dos prestadores de justiça ibero-americanos.
No Brasil, como em outros países, existe uma Lei Orgânica da Magistratura que dedica alguns artigos a uma deontologia judicial. São deveres positivos ou negativos inseridos no conjunto das disposições sobre a disciplina judiciária. A LOMAN brasileira, aprovada em 1979, mas próxima de sua substituição já que o STF está em vias de apresentar ao Congresso Nacional uma nova Lei Orgânica da Magistratura Nacional, apresenta algumas diretrizes éticas como dever de urbanidade e pontualidade, mas sem dúvida longe da envergadura e do espírito tanto do Código Modelo Ibero-Americano como dos Princípios de Bangalore. Por isso mesmo, desde a criação do Conselho Nacional de Justiça – CNJ – se discutia sobre a necessidade da adoção de um código nacional de ética da magistratura. Algumas minutas foram debatidas e as reações foram diversas em todo o país. Parte dos juízes saudou a proposta do código como um importante e necessário avanço, já outra parte reagiu com receio de que o código proposto “engessasse” ou, de alguma forma, dificultasse o trabalho livre e autônomo da prestação jurisdicional. Evidente que todos concordaram com a finalidade do código proposto, mas não houve consenso em torno do texto. De qualquer forma, em setembro de 2008 foi formalmente instituído no Brasil o Código de Ética da Magistratura Nacional.
Bem mais enxuto que o Código Modelo Ibero-Americano e que os Princípios de Bangalore, o Código de Ética brasileiro também adotou a formulação por intermédio de princípios ainda que, para determinadas situações, expresse de forma objetiva certas obrigações de ação ou omissão. Sua fonte principal foi o Código Modelo Ibero-Americano e ele segue o mesmo duplo parâmetro: dignidade da prestação jurisdicional; 2) Integridade institucional do Poder Judiciário. Para o primeiro parâmetro alerta para o dever de fomento da dignidade da pessoa humana e promoção da solidariedade e da justiça na relação entre as pessoas. Para o segundo parâmetro fala em fortalecimento das instituições e realização dos valores democráticos. Os princípios adotados são: 1) Independência; 2) Imparcialidade; 3) Transparência; 4) Integridade Pessoal e Profissional; 5) Diligência e Dedicação; 6) Cortesia; 7) Prudência; 8) Sigilo Profissional; 9) Conhecimento/Capacitação; e 10) Dignidade, Honra e Decoro. Dessa maneira, o Brasil se soma ao esforço mundial de construção de uma nova cultura judiciária de fortalecimento da democracia e respeito aos jurisdicionados e seus direitos, por meio de uma magistratura sensível e consciente e de um Poder Judiciário republicano, isto é, justo, eficaz e comprometido com o desenvolvimento nacional.
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