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O CONHECIMENTO, A PESQUISA CIENTÍFICA, E O PAPEL DA GEOGRAFIA. Antonio Gean de Sousa Campo Grande: Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. 2017. Para que o tema conhecimento seja abordado de maneira proveitosa, é necessário delimitar os tipos de conhecimentos existentes em nosso meio: o conhecimento popular, ou senso comum; o conhecimento religioso; o saber filosófico e o conhecimento científico, para assim tentarmos adentrar na discussão da pesquisa científica e do conhecimento geográfico. O conhecimento popular, ou senso comum, bastante difundido em nosso meio, pode ser apreendido como o entendimento que acontece livremente no quotidiano. Esse tipo de conhecimento é bastante sensorial e passa diretamente pela experimentação informal feita pelo homem, o que não significa que o mesmo está incorreto ou é incapaz de alcançar resultados, o que o torna limitado é que cada indivíduo tem uma maneira própria de experimentar o meio que o cerca, criando uma variação imensa de produtos. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 76), o senso comum “não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do ‘conhecer’”. Ou seja, afirmar de prontidão que o saber popular não contribui em nada para o conhecimento é incorreto, afinal, “A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 76). Existe também, o conhecimento religioso, intimamente ligado à subjetividade de cada indivíduo. O conhecimento religioso ou teológico, está diretamente ligado à percepção extra- sensorial do indivíduo, pois a verdade não é fruto de experiencias e comprovações de hipóteses, e sim pela revelação divina. O conhecimento teológico não é susceptível à dúvida, pois está ancorado em “doutrinas que contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); [...]” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.79). Abrindo um parêntese na discussão dos níveis de conhecimento, gostaria de aprofundar a análise do conhecimento teológico por meio da obra Umberto Eco, convertida no filme O nome da Rosa. Esse filme faz uma importante reflexão sobre como o conhecimento se dá na Idade Médio. No contexto histórico na qual o romance se insere, fica explícito uma dualidade de conhecimentos, aparecendo o saber teológico em oposição direta à razão do saber científico. Por diversas vezes as explicações das ocorrências são explicadas de maneira plausível e racional, mas são imediatamente contidas pela prepotência da religião, que turva o entendimento de todos, criando uma aura obscuridades relacionada à demônios e situações apocalípticas. Percebe-se também o poder que a Igreja Católica detinha naquela época, sendo ela juíza e executora de punições às heresias. Da análise da brilhante obra de Umberto Eco, cabe uma reflexão pertinente para os dias atuais. Quais são as ideologias que impedem o conhecimento de avançar, e qual é a Inquisição que atualmente persegue aqueles que ousam dar um passo além das ideologias? Essa sem dúvidas é uma ponderação que deve ser encarada com seriedade, pois se na Idade Média era a Igreja Católica quem ditava o que era conhecimento e o que era heresia, hoje em dia, com a padronização e do pensamento e com a resistência à essa padronização, o pensamento da sociedade está bastante polarizado e embasado em verdade tidas como infalíveis e invariáveis, assim surgem de diversas formas, inquisições modernas, que condenam à fogueira do descrédito todo aquele conhecimento que não orbite em torno de uma ou de outra ideologia. Fechado o parêntese do saber teológico, podemos seguir o saber filosófico. Para Spósito (2004, p. 75) “[...] é altamente abstrato. Pode-se referir a fenômenos observáveis, da realidade, como também de ideias, conceitos, teorias etc., produzidos racionalmente. ”. O saber filosófico é indissociável da capacidade do indivíduo em buscar, por meio de seu intelecto, a compreensão das realidades, muito embora este não seja capaz de ser colocado à prova por meio da experimentação, pois “o objeto de análise da filosofia são ideias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta [...]” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 79). Por fim chegamos ao conhecimento científico, este liberto das amarras das ideologias e das verdades absolutas, torna-se a ferramenta mais eficaz para a compreensão do mundo e dos seus fenômenos. O saber científico não está ligado unicamente à razão ou à revelação, mas está relacionado à experiência empírica, baseando-se na, [...] descrição minuciosa, na localização de fenômenos dentro de categorias específicas, conceitos e classes características, considerando-se o conhecimento já produzido anteriormente e as bases teóricas que orientam e direcionam as novas investigações. (SPÓSITO, 2004, p. 75) Seguindo este pensamento de que o conhecimento científico é algo para além das subjetividades, Marconi e Lakatos (2003, p. 80) afirmam que este se estabelece como “[...] um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico.”. Abordados os diferentes níveis de conhecimento, podemos avançar na discussão sobre a pesquisa científica e a geografia, procurando definir e abordar seus principais objetivos e as contribuições para o meio acadêmico e social. A pesquisa científica e a produção do conhecimento são peças fundamentais dentro do ambiente universitário, cumprindo um papel primordial para formação intelectual de seus membros e de toda a comunidade acadêmica, pois torna favorável a produção e a divulgação do conhecimento produzido. Produzir o conhecimento, portanto, é “[...] elemento específico fundamental na construção do destino da humanidade. ” (SEVERINO, 2007, p. 27). Muito embora seja extremamente necessário que a Universidade tenha especial atenção para a pesquisa, ela não pode se ater unicamente a produção do conhecimento, em detrimento à extensão, pertinente seria “[...] que tudo isso seja feito a partir de um sistemático processo de construção do conhecimento. ” (SEVERINO, 2007, p. 31). A academia não pode ser alheia à sociedade na qual está inserida, ela deve desempenhar função ímpar, pois o conhecimento que é produzido dentro da universidade “tem a ver diretamente com os interesses da sociedade”, (SEVERINO, 2007, p. 31), não só para saneamento de dilemas, como também para o seu progresso. Dessa forma, a pesquisa em Geografia tem a importante tarefa de procurar entender as relações do homem e do meio em que este está inserido, ensejando um novo paradigma para a sociedade. Procurar entender a sociedade por meio de um olhar totalizador é “buscar uma correspondência à unidade do mundo real” (SANTOS et al, 2000), ou seja, o geógrafo deve procurar entender a sociedade através de uma realidade total, sem ignorar qualquer fator que atoe sobre ela, sendo este entendimento totalizante um importante diferencial para a análise e para o planejamento do geógrafo. A análise e o planejamento sob entendimento do mundo como um processo é um diferencial para o geógrafo, pois, Somente o estudo da história dos modos de produção e das formações sociais nos permitirá reconhecer o valor real de cada coisa no interior da totalidade. A totalidade é o objeto de nossa pesquisa é uma coisa bem diferente de umauniversalidade parcial que é um sistema de privilégios e de privilegiados que, para impor-se à humanidade deve, logo de saída, entorpece-la. [...] (SANTOS, 2004, p. 263). Portanto, o conhecimento geográfico, avançará no seu intento de propor um novo paradigma para a sociedade, à medida que os geógrafos abandonarem Ideologias que aprisionam o seu conhecimento em uma caverna escura, e avançarem para a luz da razão e da compreensão de mundo como um todo, desentorpecendo a sociedade e libertando o homem. Palavras-Chave: conhecimento, geografia, sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. O NOME da rosa. Eua, 1986. Son., color. SANTOS, Milton et al. O papel ativo da Geografia: um manifesto. Revista Território, Rio de Janeiro, v. , n. 9, p.103-109, jul. 2000. Semestral. ______________, Por uma geografia nova: Da crítica da geografia a uma geografia crítica. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2004 SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007 SPÓSITO, Eliseu Savério. Geografia e Filosofia: Contribuição para o ensino do pensamento geográfico. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
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