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O Alienista

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DOUTOR LEÃO SAMPAIO – UNILEÃO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 
DISCIPLINA DE ÊNFASE I - SAÚDE COLETIVA 
 
 
 
 
 
DEUSIMAR AGOSTINHO DE LIMA 
DIOGO INÁCIO DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE CRÍTICA DO LIVRO O ALIENISTA DE MACHADO DE ASSIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JUAZEIRO DO NORTE - CE 
2016 
Desde a antiguidade a loucura tem sido abordada das maneiras mais 
perversas e excludentes diante dos considerados “normais” e durante todo esse 
tempo não se soube estabelecer o que é a loucura, sendo uma forma arbitrária de 
se compreender o processo das diferentes manifestações da subjetividade psíquica. 
Ao longo desse período a loucura já foi considerada das mais diferentes formas 
possíveis, como possessões demoníacas, bruxaria, punição divina, alterações dos 
humores corporais, dentre outros. 
A partir disso, o presente trabalho se propõe a desenvolver uma articulação 
entre a obra O Alienista de Machado de Assis com temáticas relacionadas à 
patologização do louco, à institucionalização, ao saber-poder, à docilização do corpo 
e à exclusão social, buscando uma maior compreensão do processo da loucura, 
assim como analisar questões específicas de cunho social da história da loucura e 
da luta antimanicomial no Brasil, perpassando pela reforma psiquiátrica. 
Diante das tentativas de explicar o processo da loucura surgem as mais 
diferentes justificativas. Na Grécia antiga as pessoas acreditavam que o louco era 
uma pessoa que possuía muitos poderes, pensavam se tratar da manifestação dos 
deuses, por isso, tudo que os loucos faziam ou falavam era considerado importante 
e a comunidade o seguia como se fosse um ensinamento de um transcendental. O 
louco portanto era valorizado socialmente (ALVES et al., 2009). 
Na Idade Média, a loucura era vista como uma força da natureza, era algo 
fora do campo não humano. Ainda nesse período, a loucura foi entendida como 
produtos dos pecados mundanos ou possessão de espíritos malignos que 
precisavam serem expulsos das pessoas através de práticas religiosas sob o total 
controle da igreja (STRAUB, 2005). 
Com a eclosão do Racionalismo, a loucura passa a não ser mais 
compreendida como força da natureza ou influência transcendental e assume uma 
nova nomenclatura, agora, tida como “desrazão”, o louco passa a ser qualquer 
pessoa que transgrida ou ignore a moral e a racionalidade. É nesse contexto que 
surge a ideia de periculosidade, pois a pessoa “desrazionada” seria descontrolada, 
ameaçadora e perigosa. Nesse cenário, a loucura é pensada como algo imoral, 
desqualificante que traria consigo os vícios, tornando as pessoas loucas preguiçosas 
e irresponsáveis (ALVES et al., 2009). 
Os primeiros encarceramentos dos loucos surgiram com a prática do 
mercantilismo que excluía da sociedade todas as pessoas que não contribuíssem 
com a produção, o comércio e o consumo. Eram encarcerados sob a justificativa do 
controle social para todos que se enquadrassem no perfil de desviante das regras da 
sociedade mercantilista. Isso incluía toda e qualquer pessoa como crianças, idosos, 
deficientes físicos, abandonados, mendigos, portadores de doenças venéreas e os 
loucos, todos eram jogados no cárcere que se configurava um verdadeiro depósito 
humano (IDEM, 2009). 
Posteriormente, com a emersão da Revolução Francesa pautada nos ideais 
de liberdade, igualdade e fraternidade, surge um movimento de reinserção dos 
excluídos encarcerados supracitados. Agora passam a serem tratados nos hospitais 
gerais que faziam o papel de assistência pública, acolhimento e paradoxalmente, de 
correção e exclusão, onde o cuidado e a segregação andavam juntas (ALVES et al., 
2009). 
Para Foucalt (1978), o hospital geral é uma espécie de jurisdição 
administrativa que junto com outros poderes, têm o poder de decidir julgar e 
executar, onde há uma soberania que prevalece, é uma espécie de estranho poder 
que foi estabelecido por um rei entre a polícia e a justiça, ou seja, é uma das três 
ordens de repressão. 
Em 1793 Pinel foi nomeado como diretor geral do hospital Bicêtre na França, 
e foi ele quem definiu uma nova nomenclatura social para a loucura. A partir daquele 
ano, a loucura passa a ser um problema exclusivo da medicina, ou seja, a loucura 
passa a ser sinônimo de doença mental, passando dessa forma a ser tratada com 
medicação. Ainda nesse contexto, Pinel ordena libertar das correntes todos os 
alienados e os insere na classificação das doenças médicas (ALVES et al., 2009). 
Como consequência, Pinel trouxe à tona duas questões importantes: de um 
lado essa iniciativa abria um leque de possíveis atuações terapêuticas em 
contrapartida, criava um estigma patologizante e negativista para o tema da loucura. 
A iniciativa de Pinel acabou incentivando a separação dos loucos dos demais 
excluídos, com o intuito de estudá-los procurando sua possível cura. Nesse sentido, 
Pinel acabou criando duas condições de satisfação assistencial opostas; primeiro 
sua iniciativa possibilitou ao louco que a partir dali passava a ser um enfermo mental 
que necessita de cuidados, com direito a assistência médica e terapêutica; mas por 
outro lado, retirou desses sujeitos sua cidadania, excluindo o louco definitivamente 
do convívio social (IDEM, 2009). 
Portanto, foi retirado do louco direitos enquanto cidadão racional lhe restando 
o internato com seu controle total por parte das ciências médicas, políticas e sociais, 
nas instituições psiquiátricas ou manicômios. Segundo Alves (et al., 2009) os 
manicômios possuem uma cultura asilar cuja característica é formada por um 
tratamento moral, que têm seus ideais baseados na punição e regulação social, que 
acaba promovendo um cenário bárbaro de fabricação de loucos onde predominam a 
discriminação e o isolamento, onde a doença é seu único objeto esquecendo a 
pessoa e sua subjetividade. 
Por essa razão, os manicômios tanto se assemelham aos campos de 
concentração, onde predominam a violência, a miséria, a tortura e outros tipos de 
maus tratos semelhantes aos sofridos pelos loucos nos centros psiquiátricos. 
Diante disso, já houveram várias tentativas de mudar a realidade dos 
manicômios em algumas partes do mundo. Pegamos como exemplo os Estados 
Unidos na década de 60, onde aconteceu um movimento chamado Psiquiatria 
Comunitária, que aproximou a psiquiatria da saúde pública no intuito de buscar a 
prevenção e a promoção da saúde mental, no entanto, apesar de haver melhorias 
na assistência à saúde mental, esses movimentos não possuíam força suficiente 
para criticar o modo como a psiquiatria via e tratava a loucura, apenas houve uma 
reformulação na maneira de se praticar a psiquiatria que continuava sem nenhuma 
mudança epistemológica. 
Em 1960, foi encabeçado outro forte movimento na Inglaterra, chamado 
antipsiquiatria, cujos autores foram Laing e Cooper. Esse movimento propôs uma 
série e questionamentos para a psiquiatria e doença mental em geral, mostrando 
que o saber psiquiátrico por si só não respondia as questões da loucura. O 
movimento defendia a ideia de que a loucura é um problema social, é uma forma de 
reação ao mundo externo e por isso o louco não necessita de um tratamento e sim 
de um acompanhamento em suas vivências. 
 Os ideais do movimento antipsiquiatria possuía o apoio de um ambiente de 
contracultura libertária cujo objetivo era criticar as estruturas políticas e sociais 
conservadoras que acreditavam que a sociedade é que enlouquecia as pessoas e 
depois se sentia culpada e procurava tratá-las de alguma forma. Assim, o hospital 
funcionava apenas como um mecanismo de redenção da culpa social onde 
buscavam camuflar sua culpa diante ofenômeno da loucura (ALVES et al., 2009). 
Trazendo para a obra de Machado de Assis, diante de uma filosofia científica, 
obsevamos que Simão, suposto detentor do saber médico, na época inquestionável, 
ver-se diante de um novo campo do saber, suas ideologias diante da doença mental 
revolucionaria a medicina da época. Dessa forma, seu prestígio e admiração diante 
da comunidade científica e da população de Itaguaí. 
Contudo, apesar da justificativa que se utilizava do discurso científico, o que 
se observa na verdade é que os interesses pessoais e o intuito político de higienizar 
a cidade para livrar-se de uma aparência ruim se sobressaem diante da 
espetacularização da proposta implícita dos vereadores da cidade. 
Assim, cria-se um hospital psiquiátrico chamado “Casa Verde” com o intuito 
de depositar os loucos com a justificativa de que eles seriam uma ameaça a moral e 
a ordem da cidade, contudo podemos observar que os interesses de Bacamarte 
para o desenvolvimento de seus estudos na área da psiquiatria era eminente. Assim, 
cria-se rótulos de categorias dos diferentes comportamentos emitidos pelos loucos, 
seccionado-os em alas específicas, sem contato com os loucos com outros tipos de 
comportamentos. 
Via-se, portanto, que os loucos eram reduzidos aos sintomas e sua 
classificação, não se olhava para o sujeito que ali estava, sua história de vida, suas 
vontades, em síntese, sua subjetividade. Isso torna o campo científico muito 
criticado desde que iniciou os experimentos com seres humanos, contudo, lembra-
se, portanto que a crítica não é direcionada a prática científica com seres humanos, 
mas sim o desrespeito e o desprezo da pessoa enquanto sujeito. 
Nesse sentido, observa-se que o discurso científico da época tinha como 
finalidade obter o controle total dos loucos, os privando de sua liberdade e os 
aprisionando em cárceres, nota-se, portanto, duas perspectivas análogas, de um 
lado o cuidado e a assistência, e de outro, uma verdadeira clausura dos esquecidos. 
Nesse âmbito, a questão da loucura no Brasil nada mais é do que uma 
reprodução fiel do que ocorre com esse fenômeno no resto do mundo, aqui 
esplanada anteriormente. Dessa forma, a psiquiatria brasileira, como em outros 
países, possui uma prática asilar e medicamentosa, onde a loucura é explicada 
unicamente por fatores biológicos e portanto, busca-se um controle pautado no 
aprisionamento manicomial e medicamentoso como única forma de tratamento. 
Uma esperança de mudança nesse contexto surge na década de 1980, um 
movimento pela reforma sanitária que visava o acesso da população a assistência a 
saúde cuja a mesma foi inclusa na atual Constituição Federal de 1988, no artigo 
196, da saúde como direito de todos e dever do estado. Logo após, em 1990 foi 
aprovada a lei 8.080, conhecida como lei orgânica da saúde, a qual logo depois veio 
a instituir o SUS, que visava a atenção integral para a população nos três níveis de 
promoção, prevenção e reabilitação. 
É nesse cenário que surge o movimento da luta antimanicomial que busca 
superar o manicômio, não somente quanto a sua estrutura física de cárcere privado, 
mas principalmente de ideologia que é seu maior objetivo, buscando também 
desconstruir a lógica manicomial que é sinônima de segregação e violência, 
buscando a construção de um novo lugar social ao louco, possibilitando ao louco 
sua reinserção na sociedade que poderá exercer sua cidadania como qualquer outra 
pessoa (ALVES et al., 2009). 
Entretanto, essa tarefa não é tão fácil quanto parece, devido ao estigma e ao 
preconceito de incapacidade e periculosidade formada através dos séculos. Trazer o 
louco para uma sociedade corrupta, mal-educada e preconceituosa, sem antes um 
preparo cultural, parece ser um caminho não tão confortável para o louco. Precisa-
se, portanto desconstruir os mitos, os preconceitos e quebrar os paradigmas para 
que os loucos possa de fato conviver e ser respeitado como todo cidadão deseja e 
merece. 
 
 
REFERÊNCIAS 
ALVES, Carlos Frederico de Oliveira et al. Uma breve história da reforma 
psiquiátrica. Neurobiologia, v. 72, n. 1, p. 85-96, 2009. 
FOUCAULT, Michel. The history of sexuality (1st American ed.). New York, NY: 
Pantheon, 1978. 
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. O alienista. São Paulo: Ática, 1998. 
STRAUB, Richard O. Psicologia da saúde. Artmed, 2005.

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