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Lucia Santaella - os passos do projeto de pesquisa

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O PROJETO DE PESQUISA E SEUS PASSOS 
 
 Este capítulo será dedicado às orientações para se elaborar um projeto de pesquisa. Há uma 
farta bibliografia sobre isso e toda ela é bastante consensual quanto aos tópicos que uma tal 
elaboração deve considerar e aos passos que devem ser seguidos para que ela seja bem sucedida. 
É nesse ponto que toda pesquisa começa: pela elaboração de seu projeto. -Sem isso, a pesquisa 
já estaria comprometida de saída, pois seria o mesmo que fazer uma viagem sem conhecimento 
de seu caminho. Iniciar uma pesquisa sem projeto é apostar alto demais na improvisação, além 
de revelar ignorância quanto aos limites que a improvisação apresenta. Isso, se não forem 
mencionadas as confusões, inseguranças, ingenuidades, dispêndio temporal, esforços e recursos 
mal gastos em que uma tal aventura incorreria. 
 Um mau projeto não é muito diferente da ausência de projeto. Isso explica por que tantas 
pesquisas começam sem terminar, ou por que terminam mal. Sem planejamento rigoroso, 
mesmo quando consegue realizar a etapa da coleta de dados, o investigador se verá perdido em 
um cipoal, em um emaranhado de dados, sem saber como analisá-los e interpretá-los por 
desconhecer seu significado e importância no e importância no contexto maior de um problema 
bem demarcado, de hipóteses apropriadamente formuladas e dos objetivos que uma pesquisa 
visa atingir. 
 O projeto funciona como uma visão antecipada, um planejamento dos passos que serão 
dados pela pesquisa: Churchman (1971: 190, apud RUDIO, ibid.: 45) nos diz que "planejar 
significa traçar um curso de ação que podemos seguir para que nos leve às nossas finalidades 
desejadas". Isso não deve ser entendido necessariamente como ausência de criatividade e 
fechamento para as surpresas do caminho, pois quanto mais o curso de uma ação estiver bem 
planejado, mais equipados estaremos para reconhecer e lidar com o inesperado, enquanto que, 
sem planos, via de regra, nos perdemos nas brumas confusas de um jogo sem regras. 
Projetar significa, portanto, antever e metodizar as etapas ou fases para a operacionalização de 
um trabalho. Qualquer trabalho humano é processo explícita ou implicitamente projetado. A 
especialização do trabalho científico exige a construção prévia de um instrumento técnico que 
conduza a ações orientadas para um fim e sustentadas sobre uma base de recursos humanos, 
técnicos, materiais e financeiros. Esse instrumento técnico é o projeto de pesquisa. Sua 
elaboração em forma acabada não deve, contudo, ser intimidante a ponto de paralizar a 
flexibilidade do pesquisador para se adaptar a possíveis mudanças que podem surgir, e quase 
sempre surgem, no decorrer da execução de uma pesquisa. Quando o projeto se coloca em ato; 
no processo de execução, aparecem os momentos de fertilidade em que brotam eventuais 
descobertas de dados não previstos, junto com o aprofundamento das idéias iniciais. 
Como tal, o projeto é apenas uma das etapas da pesquisa. Ele serve de guia para a execução 
propriamente dita e esta, por sua vez, deve ser seguida de sua apresentação em forma 
comunicável, na imensa maioria das vezes, através da escrita. Por isso mesmo, Peirce colocou 
no terceiro ramo da semiótica,junto com a metodêutica, a retórica especulativa isto é o estudo da 
eficácia comunicativa da investigação científica. No momento, ficaremos apenas na primeira 
etapa, a da elaboração do projeto. 
 
1. QUESTÕES DE UM PROJETO 
 Tudo deve estar previsto em um projeto de pesquisa, desde a escolha de um tema, a coleta 
de informações preliminares, a delimitação de um problema, sua justificativa frente ao que já foi 
realizado no assunto em que ele se insere, a fixação dos objetivos, o levantamento das hipóteses, 
a determinação de um referencial teórico e de uma metodologia que sejam adequados para testar 
as hipóteses e resolver o problema colocado, a coleta dos dados, sua' análise e interpretação e as 
técnicas próprias para isso, até a previsão de recursos humanos e instrumentais, do cronograma 
tudo isso para terminar na elaboração de um relatório final, de uma tese ou de um livro. 
 Inclusas em todos esses passos estão as perguntas clássicas que um projeto deve enfrentar: 
o quê?, por quê?, para quê e para quem?, onde?, como?, com quê? quanto e quando?, quem?, 
com quanto? Traduzindo: o que será pesquisado? Por que a pesquisa é necessária? Como será 
pesquisado? Que recursos humanos, intelectuais, bibliográficos, técnicos, instrumentais e 
financeiros serão mobilizados? Em que período? 
 Previstas e respondidas todas essas perguntas, o projeto possibilitará ao pesquisador 
"impor-se uma disciplina de trabalho não só na ordem dos procedimentos lógicos mas também 
em termos de organização do tempo, de seqüência de roteiros e cumprimento de prazos" 
(SEVERINO, 2000: 159). 
 Uma visão panorâmica do projeto de pesquisa será apresentada abaixo para ser depois 
seguida pela discussão detalhada de cada um dos seus passos. 
 Um projeto começa pela escolha de um tema ou assunto sobre o qual a pesquisa versará. 
Uma vez que nenhum projeto surge do nada, ele deve ser introduzido por uma apresentação 
voltada para a gênese do tema. Como o pesquisador chegou a ele? Quais os motivos relevantes 
que fisgaram sua curiosidade e produziram nele dúvidas a respeito desse tema. Essas dúvidas 
são providenciais, pois é delas que o problema da pesquisa irá brotar. 
 Temas, entretanto, não são virgens. Por isso mesmo, qualquer projeto deve ser 
antecedido por estudos preliminares sobre o tema. Mas que estudos preliminares são esses? 
Sabemos que a realidade é uma trama finamente urdida de determinações e a ciência e, mais 
ainda, a filosofia estão longe de terem começado hoje. Felizmente os temas que escolhemos, ou 
pelos quais somos escolhidos, não abraçam a realidade inteira, principalmente porque nosso 
olhar e nosso pensamento já estão conformados a um certo modo de ver que depende dos 
referenciais teóricos que dominamos. Esses referenciais são específicos, próprios das distintas 
áreas de conhecimento em que a ciência se subdivide. Uma vez que nos constituímos como 
pesquisadores dentro de alguma área de conheci- mento, os estudos preliminares já estão 
previamente delimitados pela área de inserção do pesquisador. Dentro de cada área, há ainda 
delimitações que lhe são próprias e que se constituem nas suas sub-áreas. Dentro das sub-áreas, 
encontram-se estratificações de temas, junto às quais o tema de nossa escolha, via de regra, se 
localiza. 
 Tendo assim localizado o tema, os estudos preliminares envolvem desde leituras 
bibliográficas, visitas a locais específicos, quando o tema exigir, até discussões com 
especialistas e colegas/Esses estudos preliminares são substanciais para a delimitação do 
problema de pesquisa. Além disso, neles tem início uma das exigências fundamentais de um 
projeto de pesquisa: a revisão bibliográfica, que só poderá se complementar quando o problema 
estiver pelo menos relativamente definido. De todo modo, através da busca de informação sobre 
o tema é que as dúvidas vão gradativamente se tomando mais claras e o problema pode ir se 
delineando. 
 Tudo isso é necessário porque um tema não é ainda um problema. Este último se constitui 
na questão mais fundamental de toda a pesquisa, por isso mesmo, deve ser precisamente 
recortado, delimitado e claramente formulado. Isso não acontece por passe de mágica, nem da 
noite para o dia. Daí a necessidade de estudos preliminares, de momentos de concentração 
cuidadosa e meditativa, de discernimento das fronteiras do problema sem o que não seria 
possível extraí-lo do contexto de infindáveis determinações em queum tema se situa. 
 É claro que nos casos em que uma pesquisa se origina de outra pesquisa, a delimitação do 
problema é sempre mais simples, visto que essa delimitação, via de regra, já brota enquanto a 
pesquisa anterior está sendo realizada. Poucas são as pesquisas que não funcionam como 
geradoras de outras pesquisas. É por isso que os verdadeiros pesquisadores fazem pesquisa a 
vida inteira, pois, enquanto fazem uma, já são mordidos pela curiosidade em relação a novos 
problemas que vão aparecendo no meio do caminho e que têm de ser guardados para uma outra 
ocasião. Ao mesmo tempo que respondem a um problema proposto, as pesquisas são fontes 
inesgotáveis de novos problemas. Isso não se dá por acaso, mas é fruto do aprofundamento que 
as pesquisas nos obrigam a ter em relação aos fenômenos. 
 Definido o problema, deve ser elaborada a revisão bibliográfica ou pesquisa sobre o estado 
da questão, quando são estudados os trabalhos que se situam na circunvizinhança do problema, 
trabalhos que versam sobre problemas similares. A elaboração da revisão bibliográfica deve ter 
em vista a contraposição dos trabalhos já publicados em relação ao problema que a pesquisa 
propõe. Vê-se aí por que a revisão bibliográfica é importante. De um lado, ela deve comprovar 
que o pesquisador não está querendo realizar algo que já foi feito, de outro lado, ela ajuda a 
encaminhar o passo seguinte da pesquisa, a justificativa, quer dizer, a argumentação sobre a 
relevância do trabalho, não apenas enfatizando que ele ainda não foi feito por outro pesquisador, 
mas principalmente por que ele deve ser realizado. 
 Justificado o problema, o projeto se encaminha para a definição dos objetivos, quer dizer, 
que fins a pesquisa visa atingir? Quais são os aspectos que o problema envolve e em que sua 
solução resultará no tocante a cada um desses aspectos? 
 Depois disso, o pesquisador passa para a formulação das hipóteses. Como suposições de 
respostas para o problema proposto, as hipóteses se responsabilizam pelo direcionamento da 
pesquisa, na medida em que são elas que a pesquisa terá por finalidade demonstrar ou testar e 
comprovar ou não. Ora, não há formulação de hipóteses sem um quadro teórico de referência. É 
por isso que essa formulação já encaminha o pesquisador para a explicitação do seu quadro 
teórico. Este se constitui em um "universo de princípios, categorias e conceitos, formando 
sistematicamente um conjunto logicamente coerente, dentro do qual o trabalho do pesquisador 
se fundamenta e se desenvolve"·(SEVERINO, ibid.: 162). 
 Tendo chegado neste ponto, o projeto pode então se debruçar sobre as questões 
metodológicas, técnicas e instrumentais. Enquanto o método se refere a procedimentos de 
raciocínio e analíticos mais amplos, as técnicas são operacionalizações do método das quais os 
instrumentos são suportes. 
 É no momento da indicação dos procedimentos metodológicos que o pesquisador deve 
localizar o tipo de pesquisa que está realizando, teórica ou aplicada, histórica ou tipológica, 
crítica ou sistêmica, empírica com trabalho de campo ou de laboratório, etc. A metodologia está 
sempre estreitamente ligada a essa tipologia. Além disso, os métodos devem estar perfeitamente 
afinados com o problema proposto e com as hipóteses. Tendo o problema em mente, o 
pesquisador deve se perguntar: "como e com que meios poderei resolvê-lo?" Este "como e com 
que meios" entrelaça as hipóteses e o método. As hipóteses funcionam como sinalizações para o 
caminho a ser percorrido. Por isso, o método deve estar sintonizado nessas sinalizações. Além 
disso, não pode haver contradição entre o método e o quadro teórico de referência, também 
chamado de fundamentação teórica, pois, muitas vezes, o método advém diretamente do quadro 
teórico. 
 Por fim, o cronograma da pesquisa deve ser estabelecido com indicação das etapas a serem 
cumpridas em cada período. A ele se segue a indicação dos recursos humanos e materiais 
necessários e sua justificativa, tendo em vista o que a pesquisa mobilizará. Ao final de tudo" 
deve comparecer a lista bibliográfica preliminar, pois a bibliografia definitiva só pode e deve ser 
complementada no decorrer da execução do projeto. Muitas vezes o pesquisador divide a 
bibliografia em duas partes. Uma parte já consultada para a elaboração do projeto e outra parte a 
ser pesquisada no decorrer da execução do trabalho. Tendo esse panorama geral como pano de 
fundo, podemos passar para o detalhamento de suas partes. Inicio pelas etapas que devem 
anteceder à elaboração do projeto, visto que são elas que tornarão essa elaboração possível. 
2. A ESCOLHA DO TEMA 
 Quando uma pesquisa se desenvolve no seio de uma instituição com programas de 
pesquisa pré-definidos nos quais o pesquisador está engajado ou quando uma pesquisa é 
encomendada por alguma empresa, evidentemente, seu tema não é fruto da escolha do 
pesquisador. No mundo .universitário, entretanto, a imensa maioria das pesquisas nasce da livre 
escolha do pesquisador, Vem do pesquisador a necessidade de estudar um determinado 'assunto. 
Mas quais são as motivações que nos levam a escolher um tema? Segundo Barros e Lehfeld 
(1991: 26-27), os temas podem surgir da observação do cotidiano, da vida profissional, do 
contato e relacionamento com especialistas, do feedback de pesquisas já realizadas ou do estudo 
de literatura especializada. Conforme Lakatos e Marconi (1992: 45), além das possibilidades 
acima, as fontes para a escolha de um assunto podem ainda originar-se da 
experiência pessoal, de estudos e leituras, da descoberta de discrepâncias entre trabalhos ou da 
analogia com temas de estudo; de outras disciplinas ou áreas científicas. Enfim, completam as 
autoras (ibid.: 102), o tema pode surgir de uma dificuldade prática, de uma curiosidade 
científica, de desafios encontrados na leitura de outros trabalhos ou da própria teoria. 
 A despeito de todas essas diferentes possibilidades, algo é comum a elas: um tema surge 
quase sempre de uma intenção ainda imprecisa. Uma imprecisão que só pode ser indicadora de 
que a escolha de um tema advém muito menos de uma vontade racional do que de motivos 
sobre os quais temos pouco domínio consciente. De fato, um tema é algo que nos fisga, para o 
qual nos sentimos atraídos sem saber bem por quê. Por isso mesmo, temas' de pesquisa não 
devem ser mudados diante da primeira dificuldade que se apresenta ou diante de influências 
alheias. Um tema nasce de um desejo, que é, por sua própria natureza, sempre obscuro, e não 
costuma adiantar muito a tentativa de lhe virar as costas. Em outras palavras, não podemos ser 
infiéis ao desejo que só se deixa mostrar escondendo-se por trás de uma intenção imprecisa 
através da qual um lema de pesquisa aparece. 
 Não obstante a imprecisão, é claro que os temas têm tudo a ver com a história de vida e, 
especialmente, com a história intelectual do pesquisador. Em que área científica está inserida, 
que repertório já adquiriu nessa área, qual a intensidade de seus contatos com outros 
pesquisadores e com especialistas na área, seu noviciado ou sua experiência em pesquisa são 
todos fatores determinantes para a escolha de um tema. Entretanto, esses fatores não são capa- 
zes de impedir que os temas surjam, o mais das vezes, de modo vago, muito geral e indefinido. 
A apreciação de Demo (1985: 49- 50) sobre isso é especialmente lúcida e importante para que 
um pesquisador iniciante não se sinta perdido em meio às incertezas iniciais e cético em relação 
à sua capacidade de definir mais precisamente seu tema: Quando nos propomos a realizar um 
trabalho científico, diz o autor, é normal que a primeira impressão seja de perplexidade.Não 
sabemos por onde começar, sobretudo se nunca nos tínhamos metido antes no assunto. Todavia, 
é a situação normal de quem se julga pesquisador e não detentor de saber evidente e prévio. [ ... 
] Quem parte de evidências, nada tem a pesquisar. “O processo de superação dessa perplexidade 
inicial é algo central na formação científica de uma pessoa.” 
 Enfim, a indefinição inicial de um tema é normal, pois o que importa não é o seu modo de 
ser, mas a elaboração que deve ser realizada para que ele vá gradativamente ganhando 
concretude, precisão e determinação. Para isso, entretanto, o pesquisador deve se entregar aos 
estudos preliminares, sem os quais seria impossível caminhar da imprecisão para a definição. 
3. ESTUDOS PRELIMINARES 
Por onde começar? Buscando informações sobre o tema, seja de ordem factual, seja de ordem 
teórica. Rudio (1992: 39) muito apropriadamente nos lembra que, para a realização dos estudos 
preliminares, é, de máxima importância sabermos em que área, e melhor ainda, em que sub-área 
do conhecimento "nosso tema se situa para que possamos determinar os fundamentos teóricos 
que lhe servem de base, isto é, estabelecer quais as relações- entre o assunto de nossa pesquisa e 
a Teoria Científica que desejamos utilizar". Foi por ter essa necessidade'ern vista que, no 
segundo capítulo deste livro, busquei construir o mapeamento da área de comunicação para que 
o pesquisador possa localizar em qual território seu assunto se situa e quais são as interfaces 
desse território com os territórios vizinhos. Tanto quanto posso ver, a visualização desses 
territórios nos ajuda a compreender de que teorias esses territórios dependem para existir 
cientificamente. Justo por isso, procurei também inserir no mapa as teorias que são próprias a 
cada território. 
 Com uma visão relativamente clara da área de inserção de seu tema, é preciso que o 
pesquisador vá para a biblioteca ler sobre o assunto. Vale notar que biblioteca quer dizer tudo 
que se pode encontrar nela: enciclopédias, livros, periódicos especializados, que são 
fundamentais sob o ponto de vista da atualização sobre o tema, catálogos, teses e dissertações, 
jornais, vídeos, isso sem mencionar o acesso a bancos de dados que hoje se pode ter a partir dos 
computadores localizados nas bibliotecas ou em nossas próprias casas. O contato com esse 
acervo é fundamental não apenas para buscar subsídios que orientem e dêem mais segurança 
sobre a escolha do tema, mas que ajudem a formular o seu enunciado. De resto, também para 
saber se o assunto que se pretende estudar já foi objeto de outras pesquisas e sob que ângulos 
essas pesquisas o enfocaram. 
 É certo que as leituras tomam muito do nosso tempo, mas, na realidade, elas ajudam a 
diminuir o tempo estéril das idéias confusas e pouco definidas que são sempre motivos de 
angústia para o pesquisador. 
 Segundo Bastos (1999: 19-20), o levantamento bibliográfico preliminar é imprescindível. 
Antes de tomarmos qualquer decisão sobre a nossa pesquisa, precisamos ter o maior número de 
informações e de leituras que são possíveis nessa etapa de desenvolvimento do projeto, não só 
para melhor delimitar o assunto, "mas também para desenvolvê-lo longe de um ponto de vista 
do senso comum". duntamente.com o acesso a material bibliográfico, Bastos considera a 
necessidade de diálogo com especialistas para discutir e aprimorar o tema escolhido, 
confrontando sempre que possível as sugestões e críticas de um especialista com as de outros 
especialistas. Essa multiplicidade de pontos de vista é fundamental para que o pesquisador não 
fique, de saída, fixado em um modo de ver, em um único tipo de fundamentação teórica, mas 
que saiba fazer uso da riqueza dessa fase preparatória para explorar a diversidade que é própria 
a qualquer uma das áreas das ciências humanas. 
 Vale enfatizar que todo o esforço dispendido nos estudos preliminares se volta 
produtivamente para a clarificação gradativa do tema, rumo à definição de uma questão, de um 
problema a ser pesquisado. Contudo, o segredo dos estudos preliminares está na arte do 
pesquisador para saber exatamente o momento em que deve interrompê-los. A massa de 
literatura existente desdobra-se infinitamente. Dela Jorge L. Borges já nos forneceu uma versão 
criadora na sua Biblioteca de Babel. Os estudos preliminares devem, portanto, cercar as obras 
mais fundamentais, tendo em vista um panorama de fundo que habilite o pesquisador a situar 
sua questão para poder melhor defini-Ia. Essa arte de saber onde parar é, nesse caso, auxiliada 
pelo fato de que a pesquisa bibliográfica não se reduz a isso, além de que essa pesquisa 
preliminar deverá depois ser incorporada ao projeto junto com sua complementação em um 
tópico sob o título de "Revisão bibliográfica" ou "Estado' da questão", conforme será melhor 
definido no momento oportuno. 
 
3.1 O PRÉ-PROJETO 
 Pouco a pouco, dos estudos preliminares um problema de pesquisa começa a se delinear. A 
partir disso, o pesquisador deve criar coragem e, apesar de o momento ainda lhe parecer 
precoce, ensaiar a elaboração de um pré-projeto. Embora tudo pareça ainda muito vago, é 
preciso aproveitar as incertezas iniciais para delas extrair seu sumo. O lusco-fusco da 
imprecisão é propício para despertar aquilo que Peirce chamou de uberty, "uberdade", isto é, 
capacidade de responder criativamente aos estímulos que nos chegam tanto do exterior quanto, 
principalmente, do interior de nossa mente. Passeando vivamente pelas idéias e contemplando-
as com interesse desprendido, o pensamento fica entregue ao musement, estado de concentração 
distraída, condição para a "uberdade" (ver SEBEOK et al., 1993). É em momentos como esse 
que, via de regra, brotam as hipóteses que irão conduzir a pesquisa. Tanto isso é verdade que 
nunca somos capazes de explicar como chegamos às hipóteses. Elas parecem estar 
simplesmente lá, à nossa espera. De fato, de acordo com a teoria peirceana da abdução, 
hipóteses são frutos de uma espécie de adivinhação, capacidade de que o ser humano é dotado 
para adivinhar os desígnios das coisas, tanto quanto o pássaro é dotado do poder voador. 
 Parece evidente que a "uberdade" só premia aqueles que buscam. A mente só pode passear 
entre idéias, quando nela as idéias são férteis, caso contrário temos de nos contentar com idéias 
fixas, que são o lado do avesso da "uberdade". Vem daí uma outra boa razão para justificar a 
necessidade dos estudos preliminares. 
 O anteprojeto é assim uma primeira proposta de sistematização para ser testada, modificada 
e aperfeiçoada na medida em que a delimitação da questão a ser pesquisada for amadurecendo. 
Tratamento de um ponto de partida que brota sob efeito do pensamento sintético, onde tudo 
aparece ao mesmo tempo. Realmente, um projeto não nasce parte por parte, mas em alguns 
lampejos em que tudo aparece junto e ainda confuso. O anteprojeto é a primeira tentativa de 
organizar os fios dessa trama sintética. Para essa organização, juntamente com os resultados das 
correções sucessivas a que o anteprojeto vai sendo submetido, deve entrar em ação o 
pensamento analítico, aquele que guiará os passos da elaboração do projeto. 
 
4. A ELABORAÇÃO DO PROJETO 
 No detalhamento dos passos a serem dados para a elaboração do projeto de pesquisa, irei 
me deter com mais demora em questões que dizem respeito a pesquisas não-experimentais e 
não-experimentais e não-quantitativas, pois para as experimentais e quantitativas já existe um 
abundante material. bibliográfico (ver especial mente a extensa obra de Laville e Dione, 1999, 
as competentes obras de Lakatos e Marconi (1982a, 1982b e 1992) ou a mais breve, mas nãomenos excelente obra de Rudio, 1992). Uma vez que os manuais de orientação para as pesquisas 
quantitativas se detêm muito pouco nas questões que têm mais peso nas pesquisas qualitativas, 
tais como estado da questão, quadro teórico de referência, discussão das estratégias 
metodológicas não-quantitativas e suas justificativas, é para elas que estarei chamando mais 
atenção. 
4.1. OS ANTECEDENTES 
Muitas vezes o pesquisador se sente tímido em se mostrar presente no seu discurso. 
Realmente, não é fácil encontrar o ponto certo e justo da enunciação de um discurso 
científico em que a pessoalidade não caia, de um lado, na mera confissão subjetiva adocicada 
e enjoativa ou, de outro, no pedantismo de uma neutralidade forçada e artificial. De todo 
modo, buscando evitar esses dois extremos, há um momento inicial na abertura de um projeto 
de pesquisa em que a figura do pesquisador deve aparecer. “Chamo esse momento de 
“antecedentes” ou históricos” para com isso designar o quadro de referência pessoal da 
proposta ele pesquisa. 
 A presença desse quadro de referência é muito comum nos casos das pesquisas que brotam 
diretamente de pesquisas anteriores, o que pode acontecer, por exemplo, quando o pesquisador 
decide continuar no doutorado com uma questão que não foi possível desenvolver ou 
aprofundar no mestrado. Para introduzir um novo projeto, o pesquisador procede ao breve relato 
das conclusões ou resultados alcançados na pesquisa anterior, com atenção para o ponto em que 
sua atenção foi despertada para uma nova questão. Nesse momento, o relato inclui 
obrigatoriamente o quadro de referência pessoal, quer dizer, em que medida o pesquisador está 
implicado naquilo que deseja realizar. 
Mesmo no caso de uma pesquisa não estar na linha de continuidade de uma outra já 
realizada pelo pesquisador, o interesse por um assunto, um tema ou uma questão não surge do 
vácuo. Ele é fruto de uma história de vida, de experiências profissionais, intelectuais, 
construídas mediante caminhos próprios, dos valores e escolhas que nos definem. Tem-se aí a 
gênese do tema da pesquisa cujas vicissitudes já foram discutidas acima. Trata-se agora, no 
momento de elaboração do projeto, de incorporar em um relato aquilo que, dessas vicissitudes, 
tem pertinência para a apresentação do tema e daquilo que conduziu à sua escolha. 
Embora não compareça em outros livros de metodologia como um passo necessário à 
elaboração de um projeto de pesquisa, considero essa apresentação muito importante. Afinal, 
nós pesquisadores somos seres viventes. A pesquisa não é algo estranho, à margem de nossa 
história de vida, mas nela se integra de maneira indissolúvel. Quando bem dosado, evitando o 
mero biografismo inoportuno, o relato de como o pesquisador chegou ao tema pode dar sabor 
de vida ao projeto. Além disso, ao incorporar aquilo que realmente importa, isto é, como foi se 
dando o estreitamente gradativo da amplitude do tema para a delimitação do problema da 
pesquisa, o quadro de referência pessoal vai pouco a pouco se encaminhando para o tópico 
seguinte, o mais importante do projeto, ou seja, a delimitação da questão proposta pela 
pesquisa. 
4.2. A DEFINIÇÃO DO PROBLEMA 
Para Laville e Dionne (1999: 27), conscientizar-se de um problema de pesquisa "depende 
daquilo que dispomos no fundo de nós mesmos: conhecimentos de diversas ordens - brutos e 
construídos - e entre esses conceitos e teorias; conhecimentos que ganham sentido em função 
de valores ativados por outros valores: curiosidade, ceticismo, confiança no procedimento 
científico e consciência dos seus limites." 
Na fase de definição do problema, entretanto, como já foi discutido e também querem os 
autores, as capacidades intuitivas ganham importância, pois a percepção inicial de um problema 
é, o mais das vezes, pouco racional. 
Para se sair da problemática sentida, imprecisa e vaga e se chegar a uma problemática 
consciente e objetivada, uma problemática racional, Laville e Dione (ibid.: 98) aconselham o 
pesquisador "a jogar o mais possível de luz sobre as origens do problema e as interrogações 
iniciais que concernem a ele, sobre a sua natureza e sobre as vantagens que se teria em resolvê-
lo, sobre o que se pode prever como solução e sobre o modo de aí chegar". 
Rudio (ibid.: 72) fornece uma exemplificação muito oportuna para se compreender a 
passagem gradativa em que um tema ainda vago vai sendo delimitado de modo a ir se 
transformando em um problema de pesquisa. Suponhamos que alguém diga que quer fazer uma 
pesquisa sobre delinqüência juvenil, essa afirmação apenas indica de modo muito vago e geral 
um dos elementos do campo de observação: a população. Mas se acrescenta que seu interesse 
está nos crimes cometidos pelos delinqüentes, passa a nos indicar, então, uma das variáveis a 
serem observadas. Se complementar que deseja saber se certos crimes que os delinqüentes 
cometem são ocasionados pelo efeito do uso de tóxicos, tem-se aí a intenção de relacionar duas 
variáveis: se o LISO de tóxicos (variável independente) ocasiona os crimes (variável 
dependente), cometidos por delinqüentes juvenis. É claro que a delimitação da questão não 
pára aí, pois há outros elementos no campo de observação a serem levados em consideração. 
De todo modo, quando aparecem as duas variáveis, a amplitude do tema já se especificou em 
uma pergunta, que é substancial para a definição de um problema. Enfim, como parece óbvio, 
para se passar do tema ao problema, o tema deve ser problematizado. 
O que é, portanto, um problema de pesquisa? Vejamos algumas das definições que já foram 
formuladas sobre isso. Não há problema sem uma indagação central, uma dificuldade que se 
quer resolver. Desse modo, o problema de pesquisa é uma interrogação que implica em uma 
dificuldade não só em termos teóricos ou práticos, mas que seja também capaz de sugerir uma 
discussão que pode, inclusive, em alguns casos, passar por um processo de mensuração, para 
terminar em uma solução viável através de estudo sistematizado (BASTOS, 1999: 114). Do 
ponto de vista formal, um problema é um enunciado interrogativo. Semanticamente, é uma 
dificuldade ainda sem solução que deve ser determinada com precisão para que se possa realizar 
seu exame, avaliação, crítica, tendo em vista sua solução (ASTI VERA, 1974: 94). 
Certamente nem todos os problemas que existem podem se prestar à pesquisa científica. 
Para ser problema de pesquisa, ele deve ser um problema que se pode resolver, com 
conhecimentos e dados já disponíveis, além de outros passíveis de serem produzidos. Não se 
trata de um problema que pode ser resolvido pela intuição, especulação ou senso comum, pois 
um problema de pesquisa "supõe que informações suplementares podem ser obtidas a fim de 
cercá-lo, compreendê-lo, resolvê-lo ou eventualmente contribuir para a sua resolução". 
Finalmente, um verdadeiro problema de pesquisa deve ser capaz de produzir compreensão que 
forneça novos conhecimentos para o tratamento de questões a ele relacionadas (LAVILLE e 
DI0NNE, 1999: 87-88). 
As conclusões pragmáticas que podem ser extraídas das definições acima indicam que um 
problema deve ser formulado corno uma pergunta. Há, no entanto, perguntas e perguntas. 
Indagações gerais, tão gerais quanto o próprio tema, estão muito longe de permitir o 
detalhamento do projeto. Além disso, a formulação deve ser clara e precisa. Essa clareza se 
constitui em passo fundamental, pois dela dependerão os passos subseqüentes do projeto, 
sobretudo a formulação das hipóteses e a obtenção de parâmetros para as escolhas 
metodológicas. A pergunta deve também ser significativa, deve conter a promessa de que uma 
solução pode ser esperada, caso contrário não haveria razão para se fazeruma pesquisa. O 
problema deve ser, além disso, viável, exeqüível, quer dizer, ele pode ser objetivamente 
verificado. Em suma, formular um problema, segundo Rudio (ibid.: 75), 
"consiste em dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a 
dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando seu campo e 
apresentando suas características. Dessa forma, o objetivo da formulação do problema da 
pesquisa é torná-lo individualizado, específico, inconfundível". 
Cumpre lembrar aqui que o pesquisador não deve passar para a próxima etapa do projeto, a 
revisão da literatura, antes de ter circunscrito muito bem seu problema através da formulação de 
sua pergunta. Sem isso, correrá o risco de se deixar levar à deriva nas inesgotáveis fontes de 
pesquisa. Para avançar com eficácia nos passos do projeto, é preciso saber bem o que se 
procura. Só com esse trunfo nas mãos, o pesquisador pode mergulhar nas leituras e consultas, o 
que não significa que, no percurso, estas não possam produzir reorientações no problema. 
 
4.3 O ESTADO DA QUESTÃO 
Também chamado de "revisão bibliográfica" ou "bibliografia comentada", este passo.da 
elaboração do projeto já teve seu início nos estudos preliminares. Neste novo momento, 
entretanto, uma vez 'circunscrito o problema com clareza necessária para funcionar como um fio 
condutor e ajudar o pesquisador a dar prosseguimento ao seu projeto, o contorno da revisão 
bibliográfica torna-se também mais nítido. 
 O conhecimento se dá em um continuum. As interpretações que fazemos das coisas, 
fatos e pessoas estão sempre a meio caminho, têm algo de provisório. Essa é a regra número 
um que se pode extrair da noção de semiose peirceana. As crenças que adquirimos através da 
ciência não são muito diferentes. Nada há nelas de eternidade. Também na pesquisa científica, 
estamos sempre a meio caminho. E só deixamos de estar quando cessamos de ter dúvidas 
porque perdemos a disponibilidade para ouvir o 'que o outro tem a dizer. Em suma, nenhuma 
pesquisa parte da estaca zero. Mesmo em um tipo muito simples de pesquisa, a exploratória, 
que visa meramente à avaliação de uma situação concreta desconhecida, alguém em algum 
lugar já deve ter tido uma preocupação semelhante. Por isso, a procura cuidadosa e paciente, 
por vezes até mesmo obstinada, de fontes documentais ou bibliográficas é imprescindível. 
 Raros são os problemas e as perguntas que não foram previamente levantados. Mais uma 
vez é Borges quem nos lembra que os grandes problemas já foram pensados pelos gregos, de 
modo que a proeza do tempo é a de levar o ser humano a incansavelmente recolocá-los sob 
novas e mais alargadas entonações. Mesmo quando o pesquisador não vai tão longe, não se 
deslocando muito na direção do passado, a abóbada ideativa que recobre as sociedades e 
culturas históricas, determinando os limiares daquilo que dá para ser pensado em cada momento 
histórico dado, traz como conseqüência que, mesmo que as perspectivas possam diferir, as 
interrogações e questionamentos de cada historicidade acabam não sendo a rigor muito 
distintos. Há, enfim, 11m inegável Zeitgeist, espírito de tempo, ou aquilo que, com muito mais 
precisão, Foucault chamaria de episteme, que coloca o pesquisador em um círculo de questões 
no qual muitos estão simultaneamente inseridos. 
 
Por isso mesmo, a revisão bibliográfica significa, muitas vezes, conforme as palavras de 
Laville e Dionne (ibid.: 113) "seguir a informação como um detetive procura pistas: com 
imaginação e obstinação. É, aliás, esse aspecto do trabalho, agir como um detetive, que, com 
freqüência, torna prazerosa a realização da revisão da literatura". 
Alongo-me tanto - e me alongarei ainda mais - nos meandros da questão bibliográfica, em 
primeiro lugar, porque nas pesquisas não-experimentais e não-quantitativas, essa é a etapa que 
lhes dá alma. Dela advirá a melhor escolha de uma teoria ou sínteses de teorias e conceitos que 
nortearão a escolha do método e, conseqüentemente, o teste, muitas vezes argumentativo, de 
nossas hipóteses. Se não vamos utilizar métodos e técnicas para medir um certo aspecto bem 
recortado da realidade, devemos, em troca, enfrentar os desafios da imprecisão qualitativa. Para 
isso, temos de nos valer da ajuda tanto quanto possível alargada do pensamento do outro a que 
podemos ter acesso. 
Em segundo lugar, chamo tanta atenção para a pesquisa bibliográfica porque a típica 
indigência das bibliotecas nas universidades brasileiras muitas vezes acaba por criar em nós 
uma espécie de autodefesa inconsciente que se manifesta na negligência e até mesmo no 
desprezo pela obstinação na perseguição das fontes. Disso decorre, via de regra, uma 
autocomplacência muito satisfeita, despida de inquietação, como são satisfeitas todas as 
formas de ignorância. Tanto se sedimentou em nosso país a cultura da negligência com as 
fontes que, mesmo quando têm o privilégio de freqüentar universidades com boas bibliotecas e 
com acesso à informação bibliográfica, que hoje se tornou tão facilitada pela internet, os 
estudantes continuam se contentando com bem pouco. 
Enfim, fazer a revisão da literatura para a constituição do estado da questão significa passar 
em revista todos os trabalhos disponíveis, objetivando selecionar tudo que possa servir em uma 
pesquisa. Nela, o pesquisador tenta encontrar essencialmente. 
 
"os saberes e as pesquisas relacionadas com a sua questão; deles se serve para alimentar 
seus conhecimentos, afinar suas perspectivas teóricas, precisar e objetivar seu aparelho 
conceitual. Aproveita para tornar ainda mais conscientes e articuladas suas intenções e, 
desse modo, vendo como os outros procederam em suas pesquisas, vislumbrar sua própria 
maneira de fazê-lo" (LAVILLE e DIONNE, ibid.: 112). 
Nesse ponto, as autoras acima alertam para dois fatores: em primeiro lugar, o cuidado que o 
pesquisador deve ter nessa etapa do trabalho para "não se deixar levar por suas leituras como 
um cata-vento ao vento". A indagação que foi formulada na circunscrição de seu problema não 
pode ser perdida de vista e deve funcionar como um centro de gravidade. No fundo, o que deve 
ser feito aqui é considerar a afirmação de Borges (esse grande esteta da arte de ler) de que 
somos inelutavelmente leitores distraídos com atenções parciais. No caso da revisão 
bibliográfica, aceitar essa limitação não é tarefa fácil, especialmente quando falta ao 
pesquisador a experiência de numerosas leituras anteriores, experiência da qual sempre se extrai 
uma espécie de metodologia própria da leitura. 
Na ausência de um repertório já formado de leituras, o pesquisador, via de regra, se vê 
perdido em um labirinto de idéias, tendências e posições, sem conseguir, de imediato, dar a elas 
uma configuração coerente. Quando isso acontece, Laville e Dionne (ibid.: 112) aconselham o 
pesquisador a usar a técnica do zoom, partindo "de uma tomada ampla de sua pergunta, sobre 
um espaço documental que a ultrapasse grandemente, mas sem dela desviar os olhos e, assim 
que possível, fechar progressivamente o ângulo da objetiva sobre ela". 
De minha experiência em pesquisas que realizei, algumas delas sobre temas que me eram 
quase inteiramente novos, extrai um ensinamento que talvez possa ajudar o pesquisador 
iniciante nessa fase de seu trabalho. Quando damos início ao levantamento do estado da arte 
relativo à questão que estamos pesquisando, geralmente dispomos de um certo número de 
títulos colhidos durante a fase de estudos preliminares. Cada um desses títulos já funciona como 
uma fonte para novos títulos, nas citações e referências que faz, de modo que a listagem 
bibliográfica que consta no final de cada obra se constituitambém em uma fonte inestimável de 
pesquisa. Quando lemos, de fato, os livros com cuidado, essa fonte costuma ser bastante 
preciosa, pois é dela que começamos a destacar os títulos de maior interesse para nós. 
 Conforme vamos avançando nessas leituras e na coleta dessas fontes, a um dado momento, 
sentimo-nos, de fato, perdidos em um labirinto, sem vislumbre de qualquer fio que possa nos 
tirar dele. Entretanto, se não desistirmos antes da hora, chegará um outro momento em que nós, 
como leitores, começaremos a reconhecer e, inclusive saber localizar, em termos de linha de 
pensamento e posição teórica, as citações que os autores fazem uns dos outros. Quando as 
redes de referências começam a ser reconhecidas por nós, isso significa que já estamos 
conseguindo desenhar mentalmente a configuração panorâmica de um tema ou problema de 
pesquisa. Aí é chegado o momento de interromper o estado da arte para dar prosseguimento às 
outras fases da elaboração do projeto, de modo que só voltamos às consultas bibliográficas, 
quando, na execução da pesquisa, deparamo-nos com dúvidas não previstas e 
conseqüentemente ainda não resolvidas, algo que sempre acontece. 
O segundo fator da revisão bibliográfica para o qual Laville e Dione (ibid.: 112-113) 
chamaram atenção diz respeito à necessidade de se evitar que essa atividade se assemelhe a 
"uma caminhada no campo onde se faz um buquê com todas as flores que se encontra". A 
revisão é, sobretudo, um percurso crítico que deve ter em mira a pergunta que se quer 
responder. Por isso mesmo, em função ela contribuição que podem trazer para nosso trabalho, o 
interesse que as obras despertam em nós são desiguais. Ademais, nem tudo que se lê é 
lealmente bom. Daí vem a outra expressão sinonímica de revisão bibliográfica, "bibliografia 
comentada". Não, se trata portanto de simplesmente resumir, parafraseando o que está escrito 
nos livros, mas sim de fazer considerações, interpretações e escolhas, explicando e justificando 
essas escolhas, sempre em função do problema posto pela pesquisa, 
Felizmente não há receitas a serem dadas para a bibliografia comentada, sobretudo porque 
se trata de uma arte ensaística que só pode ser dominada com a prática e com a observação 
interessada em como ensaístas competentes a realizam. Em segundo lugar, porque as diretrizes 
de uma revisão bibliográfica dependem muito do tipo de pesquisa que está sendo realizada. 
Luna destaca que 
"uma revisão bibliográfica que procure recuperar a evolução de determinados conceitos 
enfatizará aspectos muito diferentes daqueles contemplados em um trabalho de revisão 
que tenha como objetivo, por exemplo, familiarizar o pesquisador com o que já foi 
investigado sobre um determinado problema de interesse". 
Como resumo final, cumpre assinalar que a revisão bibliográfica deve existir para que 
clichês sejam evitados, para que esforços não sejam duplicados, para que se possa apreender o 
grau de. Originalidade de uma pesquisa. Outro aspecto de relevância de uma bibliografia 
comentada, muito bem lembrado por Luna (ibid.: 82), reside na sua constituição - na medida 
em que condensa os 
pontos importantes do problema em questão - tanto de fonte de consulta para futuros 
pesquisadores que se iniciam na área, quanto de fonte de atualização para pesquisadores fora 
da área na qual se realiza o estudo. 
 
 
 
 
4.4 A APRESENTAÇÃO DAS JUSTIFICATIVAS 
Nos passos para a elaboração de um projeto de pesquisa, muitos metodólogos costumam 
colocar a fundamentação teórica ou quadro de referência teórico de uma pesquisa junto ou 
dando seqüência à revisão bibliográfica. Prefiro colocar a justificativa logo em seguida da 
revisão bibliográfica. De um lado, porque julgo que a fundamentação teórica deve vir 
imediatamente antes da metodologia, pois, nas pesquisas qualitativas, em muitos casos, o 
método deriva ou de uma teoria que funciona também como um modelo aplicativo ou da 
operacionalização dos conceitos teóricos tendo em vista sua aplicação. 
De outro lado, porque, no decorrer da bibliografia comentada, ao citar as principais 
conclusões a que outros autores chegaram, ao indicar discrepâncias entre tendências ou constatar 
certos entraves teóricos ou práticos, ao constatar alguma lacuna que sua "pesquisa pode vir a 
preencher, o pesquisador já deve ir conduzindo seu texto na direção da contribuição que se 
espera da pesquisa 
a ser realizada. 
Essa contribuição constitui-se em uma chave que abre as portas de acesso à justificativa, 
uma vez que, frente aos estudos já realizados sobre o problema, a justificativa visa colocar em 
relevo a importância da pesquisa proposta, quer no campo da teoria quer no da prática, para a 
área de conhecimento em que a pesquisa se desenvolve. 
Portanto, a contribuição pode ser de ordem científica-teórica, quando o conhecimento que 
advirá da pesquisa proporcionar a construção de uma nova teoria, caso este evidentemente mais 
raro, ou auxiliar na amplicação do conhecimento teórico já existente, ou preencher lacunas 
detectadas no conhecimento da área, ou ajudar na compreensão de conceitos teóricos 
complexos. Mas a contribuição pode também ser de ordem científica-prática, quando se 
pretende dar respostas a um aspecto novo que a realidade apresenta como fruto do 
desenvolvimento das forças produtivas, técnicas etc., ou quando se busca aplicar uma teoria a 
um dado fenômeno julgado problemático, ou ainda quando se tem a intenção de sugerir 
caminhos para uma determinada aplicação tecnológica e assim por diante. 
A contribuição pode ainda ser de ordem social, por exemplo, quando o conhecimento que 
resultar da pesquisa estiver voltado para a reflexão e debate em torno de problemas sociais ou 
quando um conhecimento prático é buscado como meio de intervenção na realidade social. 
Parece óbvio que é impossível apresentar justificativas sem dispor de um problema de 
pesquisa muito bem circunscrito e de uma revisão bibliográfica caprichosa. Como justificar 
algo que não está bem definido e bem recortado contra o pano de fundo dos estudos que já 
foram realizados no mesmo circuito de questões no qual uma pesquisa se insere? 
Enfim, a justificativa deve apresentar os elementos que respondem às questões: "por que a 
pesquisa é relevante"?,"de onde vem sua pertinência"? "qual é o âmbito ou quais são os âmbitos 
da contribuição que ela trará"? Para respondê-las, Lakatos e Marconi (1992: 103) fornecem o 
seguinte roteiro: frente ao estágio em que a teoria se encontra, indicar as contribuições teóricas 
que a pesquisa pode trazer, a saber: em termos de confirmação geral: em termos de confirmação 
na sociedade particular em que se insere a pesquisa; sua especificação para casos particulares; 
clarificação da teoria; resolução de pontos obscuros etc. Além disso, o roteiro inclui: 
importância do tema de um ponto de vista geral; sua importância para casos particulares em 
questão; possibilidades de sugerir modificações no âmbito da realidade abarcada pelo tema 
proposto; descoberta de soluções para casos gerais e ou particulares etc. 
A apresentação da contribuição que a pesquisa pode trazer é uma excelente ponte de 
passagem para a explicitação de seus objetivos. 
4.5 A EXPLICITAÇÃO DOS OBJETIVOS 
-. 
A palavra "objetivo" é um derivativo do termo latino objectus, "objeto", que significa algo 
que é lançado diante dos nossos sem tidos ou mente. O derivativo "ivo", presente em "objetivo", 
indica uma tendência para ter o caráter de objeto. 
 Um sinônimo adequado para a palavra "objetivo", no contexto de uma pesquisa, é a palavra 
"alvo" ou fim que se pretende atingir, um fim movido por um propósito. Quando se atira uma 
flecha, mira-se em um alvo. Os objetivos dapesquisa se parecem, portanto, com uma flecha na 
direção de um alvo. Uma vez que o mirar do alvo antecede o lançamento da flecha, os objetivos 
também trazem dentro de si o sentido de intenção que guia a mirada. O que a pesquisa visa 
alcançar? Esta é a questão central inclusa nos objetivos. 
 Objetivos, via de regra, são hierarquicamente divididos em objetivos gerais e objetivos 
específicos. Os gerais dizem respeito a uma visão global e abrangente do problema, do 
conteúdo intrínseco quer dos fenômenos e eventos, quer das idéias estudadas. Os objetivos 
específicos têm uma função intermediária e instrumental de modo a permitir que o objetivo 
geral seja atingido ou que ele seja aplicado a situações particulares (LAKATOS e 
MARCONI, 1992: 103). 
Por ser uma explicitação da natureza do trabalho, tendo em vista o problema que ele visa 
resolver, a gama dos objetivos pode ser mais extensa do que sua divisão em objetivo geral e 
objetivos específicos. Assim, os objetivos podem também ser de longo prazo ou imediatos, 
podem ser intrínsecos, quando se referem ao problema que se quer resolver, ou extrínsecos, 
quando chegam até a explicitação dos resultados esperados. 
É curioso observar que a maior parte dos livros sobre metodologia científica não reserva 
muito espaço para o tratamento dos objetivos. Carvalho et al. (2000: 107) nos explicam que 
essa ausência deve se dar porque se a formulação do problema for bem estruturada, a 
explicitação dos objetivos é dispensável, a não ser que o pesquisador queira colocar ênfase 
nos resultados que pretende alcançar ao final de seu trabalho. De todo modo, os autores 
indicam que, na descrição dos objetivos, "é importante que os verbos sejam utilizados no 
infinitivo, por exemplo: analisar, compreender, identificar e interpretar. 
Luna (ibid.: 35) constata a confusão que costuma existir entre problema e objetivos, mas 
acredita que o bom-senso deva ser suficiente para dirimir dúvidas. Assim sendo, ou os 
objetivos coincidem com o problema e, então, não é necessário dar entrada a eles no projeto, 
ou, com a sua entrada, pretende-se chamar atenção para a aplicabilidade dos resultados. 
Mesmo assim, é bom lembrar que, quando elaboramos projetos para agências de fomento 
ou para orientadores de pesquisa, nesses casos somos obrigados a inserir os objetivos em 
nosso projeto; muito provavelmente porque a explicitação dos objetivos nos força a sintetizar, 
em itens muito claros, o horizonte do projeto, os fios que ligam o problema às conseqüências 
que resultarão de sua possível solução, assim como as habilidades intelectuais que estão 
implicadas nos procedimentos que serão utilizados para que os fins pretendidos sejam 
alcançados. 
 
 
4.6·A FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES 
A hipótese, segundo passo mais importante na hierarquia dos itens do projeto, está ligada 
por um cordão umbilical ao problema da pesquisa. Deve, por isso mesmo, ser obrigatoriamente 
inserida em um projeto de pesquisa. Não vem do acaso, mas muito justamente da importância 
do papel que as hipóteses desempenham em um projeto, o grande espaço que os livros de 
metodologia científica dedicam a elas. Alguns epistemólogos chegam a afirmar que a essência 
da pesquisa consiste apenas em enunciar e verificar hipóteses. 
O problema que o pesquisador circunscreveu, isto é, conseguiu recortar de um fundo 
temático muito amplo, tem a forma de uma indagação, urna interrogação, uma pergunta para a 
qual, no seu percurso, a pesquisa buscará respostas. Ora, a hipótese é urna resposta antecipada, 
suposta, provável e provisória que o pesquisador lança e que funcionará como guia para os 
passos subseqüentes do projeto e do percurso da pesquisa. Se o problema tem uma forma 
interrogativa, a hipótese tem uma forma afirmativa. Não se trata, entretanto, de uma afirmação 
indubitável, mas apenas provável. Funciona como uma aposta do pesquisador de que a resposta 
a que o desenvolvimento da pesquisa levará será a mesma ou estará muito perto da resposta 
enunciada na hipótese=Ela cria, por isso mesmo, uma expectativa na mente do pesquisador, 
expectativa esta que costuma dar ao percurso da pesquisa emoções similares àquelas que nos 
acompanham em uma situação de suspense, pois como toda aposta, a hipótese pode ser 
confirmada ou cair no vazio, caso em que a hipótese tem de ser repensada e as estratégias 
reconduzidas. 
Trata-se, pois, de uma suposição objetiva "que se faz na tentativa de explicar o que se 
desconhece". Para ter bases sólidas, ela deve estar assentada e suportada por boas teorias e 
"por matérias primas consistentes da realidade observável". Portanto, "não pode ter 
fundamento incerto". Mas por ter a natureza de uma suposição, a hipótese tem por 
característica o fato de ser provisória, devendo, portanto, ser testada para se verificar sua 
validade" (RUDIO, ibid.: 78). 
Embora seja importante que a hipótese esteja vinculada "a uma teoria que a sustente para 
ter maior poder de explicação e ter possibilidade de ser comprovada ou verificada na pesquisa" 
(CAR- VALHO et a!.: ibid.: 103), embora ela tenha muito a ver com a experiência e a 
competência do pesquisador, embora sua formulação implique em uma elaboração racional, 
uma hipótese surge sempre como um lampejo cuja formação escapa completamente de nosso 
controle consciente. 
Peirce desenvolveu sua belíssima teoria da abdução justamente para evidenciar que uma 
hipótese nasce como fruto de uma luz natural que advém da capacidade humana para adivinhar, 
na ciência as leis que regulam os fenômenos e, na vida cotidiana, as veias secretas das coisas. 
Nessa capacidade, residem os arcanos de nossa alma criativa. Por isso mesmo, nenhum 
pesquisador é obrigado a justificar por que fez a opção por uma certa hipótese e não outra 
qualquer. Cada um é livre para escolher a que lhe parece mais razoável. Uma vez que a 
freqüência com que os pesquisadores atinam com a hipótese correta é muito grande 
comparativamente à espontaneidade imediata e livre com que as hipóteses irrompem em suas 
mentes, isso funciona como indicador de que aí se localiza a fonte do poder humano para a 
descoberta. Mesmo assim, uma hipótese é o mais frágil dos argumentos. Em razão disso, para 
receber seu veredito, necessita passar pelo teste da experiência. 
Segundo Lakatos e Marconi (1992: 104), há diferentes formas de hipóteses. Em primeiro 
lugar, elas se dividem em hipótese básica e hipóteses secundárias. A primeira corresponde à 
resposta fundamental que as segundas complementam. Entre as hipóteses básicas, há aquelas 
"que afirmam, em dada situação, a presença ou ausência de certos fenômenos", ou aquelas "que 
se referem à natureza ou características de dados fenômenos, em uma situação específica". Há 
ainda "aquelas que apontam a existência ou não de determinadas relações entre fenômenos" ou 
também aquelas "que prevêem variação concomitante, direta ou inversa, entre certos fenômenos 
etc. 
 Na sua natureza de complementos da hipótese básica, as secundárias podem "abarcar em 
detalhes o que a hipótese básica afirma em geral", podem também "englobar aspectos não 
especificados na básica", ou ainda "indicar relações deduzidas das primeiras", assim como 
"decompor em pormenores a afirmação geral" ou "apontar outras relações possíveis de serem 
encontradas". 
O modo de aparecimento de uma hipótese em nossas mentes é, via de regra, tão repentino 
quanto um relâmpago, fruto da agilidade natural de nossos poderes de iluminação diante de tudo 
aquilo para que buscamos respostas. Entretanto, no contexto da ciência, que é sempre 
especializado, podem surgir dificuldades para se chegar a uma hipótese. Goode e Hatt (1968: 
75) dizem que isso se dá sobretudo quando falta ao pesquisador um quadrode referência teórico 
claro, quando lhe falta também habilidade para utilizar logicamente esse esquema teórico ou 
quando ele desconhece as técnicas de pesquisa existentes. 
Mesmo que as dificuldades acima não existam e a hipótese emerja com certa rapidez, isso 
não deve nos levar a crer que a hipótese possa prescindir do crivo de nosso espírito crítico e a 
sua formulação, ou seja, o enunciado das hipóteses, tenha de ser desordenada e confusa. Para 
evitar que se incorra nesses defeitos, Rudio (ibid.: 80-83) elaborou alguns critérios que podem 
servir como "balizas demarcando um campo", sem que, com isso, a liberdade do pesquisador 
na proposta de sua hipótese seja constrangida. 
 Assim sendo, cabe à hipótese ser plausível, isto é, "deve indicar uma situação passível de 
ser admitida, de ser aceita; ela deve também ter consistência, termo este que indica que o 
enunciado da hipótese não pode estar "em contradição nem com a teoria e nem com o 
conhecimento científico mais amplo", do mesmo modo que não pode existir contradição dentro 
do próprio enunciado; o enunciado da hipótese deve ainda "ser especificado, dando as 
características para identificar o que deve ser observado"; além disso, "a hipótese deve ser 
verificável pelos processos científicos" em curso; seu enunciada precisa ser claro, isto é, 
"constituído por termos que ajudem realmente a compreender o que se pretende afirmar e 
indiquem, de modo denotativo, os fenômenos a que se referem"; não basta ser claro, o 
enunciado precisa ser também simples, quer dizer, "ter todos os termos e somente os termos que 
são necessários à compreensão"; da simplicidade decorre -que o enunciado deve ser também 
econômico, ou seja, além de utilizar tão somente os termos necessários à compreensão, deve 
fazê-lo na menor quantidade possível. Por fim, "uma das finalidades básicas de uma hipótese é 
servir de explicação para o problema que foi enunciado". Se isso não acontece, a hipótese não 
tem razão de ser". 
Toda e qualquer pesquisa deve contar com a formulação das hipóteses, caso contrário, 
estará lhe faltando um norte, pois a função da hipótese é servir como uma bússola. Ela está no 
cerne das pesquisas experimentais, pois nestas, a observação de- um fenômeno leva o 
pesquisador a supor tal ou tal causa ou conseqüência; suposição esta que se constitui na 
hipótese que só pode ser demonstrada por meio do teste dos fatos, ou seja, da experimentação. 
Embora implique em procedimentos lineares que já foram sobejamente criticados, quando se 
trata de transpor esse modelo para as ciências humanas, essa linearidade nos ajuda a 
compreender o papel articulador que a hipótese deve desempenhar em qualquer processo de 
pesquisa, como solução possível antecipada e ordenadora das operações que devem resultar 
dessa antecipação, de modo a verificar seu fundamento ou não. 
Nas pesquisas empíricas, que nascem da observação de fatos concretos, as operações que 
resultam da hipótese consistem em levar o pesquisador a saber se a explicação antecipada e 
plausível que a hipótese lhe forneceu resiste à prova dos fatos. Para tal, o pesquisador deve 
armar as estratégias de verificação, determinando as informações que serão necessárias, as 
fontes às quais recorrer e a maneira de recolhê-las e analisá-las para tirar conclusões. 
Nas pesquisas quantitativas que, deve-se salientar, são muito especializadas, visto que 
implicam em conhecimentos ou assessorias em estatística, deve-se distinguir a hipótese da 
pesquisa, aquela de que viemos tratando até agora, da hipótese da estatística, isto é, aquela que 
vai ser utilizada para aplicação das técnicas estatísticas e que, de modo geral, costuma ser a 
primeira traduzi da para uma linguagem numérica. De acordo com Rudio (ibid.: 84-85), uma 
hipótese pode ser constituída de apenas uma variável; pode ter duas ou mais variáveis 
relacionadas entre si sem vínculo de causalidade ou pode ainda ter duas ou mais variáveis 
relacionadas por vínculo de causalidade. 
Barros e Lehfeld (ibid.: 30) classificam as hipóteses de acordo com sua natureza em: 
hipóteses de relação causal e hipóteses nulas. As causais "demonstram que a todo valor x 
corresponde um valor y", apresentando assim uma relação de causa e efeito entre duas 
variáveis, quando um acontecimento ou característica se apresentam como fatores que 
determinam outra característica ou fenômeno. As autoras nos fornecem como exemplo a 
seguinte hipótese: "A falta de desenvolvimento de atividade de lazer conduz à intensificação do 
grau de tensão do indivíduo que vive nas cidades". A definição da hipótese nula parece muito 
complicada para os leigos em estatística (ver ibid.: 31 e Rudio, ibid.: 86-87). De todo modo, ela 
é basicamente um resultado possível da observação de um fenômeno que pode ser verificado 
estatisticamente. A definição do tipo de hipótese depende dos objetivos da pesquisa e do nível 
de conhecimento que o pesquisador possui do comportamento das variáveis e das possibilidades 
de rnensuração. 
 No contexto das pesquisas quantitativas conduzidas segundo preceitos estatísticos, a 
hipótese sempre teve significados e funções precisas. Conforme Luna (ibid.: 34), a primazia 
quase absoluta da pesquisa quantitativa, durante anos, chegou ao ponto de tornar impensável 
que se dispensasse o uso de testes estatísticos para encaminhar os resultados da pesquisa. 
Quando, nas ciências humanas, "começaram a serem introduzidos novos modelos de pesquisas, 
a estatística inferencial teve seu uso drasticamente reduzido, do que decorreu uma confusão 
entre problema e hipótese". Para muitos, simplesmente porque confundem problema de 
pesquisa com hipótese estatística, falar em problema parece evocar ecos da pesquisa estatística, 
de modo que lhes parece desnecessária a preocupação com a precisão da formulação do 
problema da pesquisa. 
A meu ver, essas confusões e despreocupações que resultam da falta de informação e do 
descuido, sob a alegação confortável do anti-positivismo e anti-cientificismo, podem chegar à 
dispersão mais leviana e ao extremo da perversão do espírito que deve guiar os procedimentos 
da pesquisa científica. Sem problema bem definido e hipóteses bem elaboradas, não é possível 
haver pesquisa, seja ela empírica, experimental, quantitativa ou qualitativa, teórica ou aplicada. 
O que difere nesses tipos não é a ausência ou presença de problema e hipóteses, mas os meios, 
isto é, os métodos, que são mais apropriados a cada uma para testar suas hipóteses e, 
conseqüentemente, o modo como o processo de testagem é diferentemente compreendido em 
cada uma delas. Até mesmo em uma pesquisa puramente teórica, há sempre uma tese que é 
proposta para ser defendida. Essa tese é o problema em relação ao quais as idéias que se 
desenvolvem são hipóteses particulares "cuja demonstração permite alcançar as várias etapas 
que se deve atingir para a construção total do raciocínio" (SEVERINO, ibid.: 161). Para isso, é 
preciso, em primeiro lugar, não confundir hipótese com evidência prévia e, em segundo lugar, 
dominar com segurança o quadro teórico em que se funda o raciocínio. 
 
4.7 O QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA 
 
 Não apenas temos o direito, mas também o dever de dispensar, quando isso se mostra 
necessário, a precisão dos cálculos matemáticos que dá alicerce às pesquisas quantitativas. Essa 
dispensa pode se dar por motivos vários, entre eles, para buscar o acesso à complexidade a 
linear e não mensurável, à exuberância com que pulsa diante de nós a realidade tanto na sua 
dimensão abstrata quanto concreta. Quando essa dispensa se dá, entretanto, o que se perde do 
seu peso em precisão e confiabilidade, deve ser compensado pela fundamentação teórica de uma 
pesquisa.Vem daí a grande importância do papel que esse passo, ou melhor, mergulho, 
desempenha nas pesquisas não-quantitativas. Enquanto as quantitativas dispõem de um padrão 
de base repetível para ser aplicado a quaisquer pesquisas, as não-quantitativas devem encontrar 
seu caminho em um emaranhado intrincado de teorias e métodos. 
Além disso, enquanto as pesquisas quantitativas partem de pressupostos epistemológicos 
tácitos e, portanto, sem exigências de questionamentos que são próprios do empiricismo, o mais 
das vezes positivista, as não-quantitativas devem levar em consideração a posição 
epistemológica que assumem, uma vez que elas se propõem não-quantitativas justamente 
porque colocam em questão os pressupostos das quantitativas. Como se pode ver, tudo tem seu 
preço. E o preço das pesquisas não-quantitativas, em termos de investimento intelectual, é 
inelutavelmente alto. 
 De fato, teorias não caem do céu para nos auxiliar a enfrentar as dificuldades em que a 
resolução de um problema de pesquisa sempre acarreta. Muito menos cai do céu a 
familiaridade 'que precisamos adquirir para lidar com seus conceitos. Problemas específicos 
exigem soluções específicas, do mesmo modo que soluções específicas só podem ser 
encontradas por meio do auxílio de teorias que se adéquam às soluções buscadas. Por isso 
mesmo escolhas teóricas não podem ser feitas por impulso; ainda menos por imposição, ou 
para estar de acordo com a especialidade do orientador de uma pesquisa, ou, o que é pior, 
simplesmente para agradá-lo. Opções teóricas só podem nascer das exigências internas que o 
problema da pesquisa cria. Para optar, precisamos conhecer as alternativas que se apresentam. 
Isso implica em se de bruçar demoradamente sobre os livros com curiosidade e 
desprendirnento, com a paciência do conceito. 
 Infelizmente, o mercado pedagógico muitas vezes nos obriga a dar a uma pesquisa a 
velocidade de uma pista de corrida. Por ISSO mesmo, os níveis de complexidade das pesquisas 
devem ser dosados de acordo com a experiência prévia que o pesquisador já acumulou ou não, e 
em função do tempo que se tem para realizar uma pesquisa. Em suma, os meios para se evitar a 
leviandade devem ser pensados. 
Também chamado de "fundamentação teórica", "embasamento teórico" ou de "teoria de 
base"; o quadro teórico de referência é algo que brota diretamente do levantamento 
bibliográfico para a elaboração do estado da questão de um problema de pesquisa. Tendo 
brotado do estado da questão, a fundamentação teórica implica um avanço em relação 
àquele, na medida em que resulta de uma escolha consciente, crítica e avaliativa da teoria ou 
compósito teórico que está melhor equipado para fundamentar o desenvolvimento da 
pesquisa, em consonância com a metodologia que designa. 
O quadro de referência teórico consiste no corpo teórico no qual a pesquisa encontrará seus 
fundamentos. Ora, todo pensamento existe em uma corrente de pensamento. Pensamentos têm 
genealogia, situando-se, portanto, em um contexto teórico maior. Por isso, quando um corpo 
teórico. É escolhido pelo pesquisador, este precisa ter em mente o contexto mais amplo em que 
esse corpo se insere. Com isso, evita-se um problema muito comum nos trabalhos de 
pesquisadores iniciantes: a salada de teorias com genealogias bastante distintas e, muitas vezes, 
epistemologicamente antagônicas e incompatíveis. 
Em suma, todo projeto deve conter os pressupostos teóricos com os quais as 
interpretações irão se conformar. Eles são inevitáveis simplesmente porque não podemos 
descartar os pressupostos, sob pena de ficarmos imersos tão somente no senso comum. Por 
essa razão não apenas temos de escolher pressupostos, mas temos de escolhê-los com 
carinho, pois são eles que darão forma e cores às nossas interpretações. Formas e cores 
devem ser escolhidas se não as queremos impostas sobre nós. 
Teorias lidam com princípios, conceitos, definições e categorias. Esses são os legítimos 
habitantes das teorias, entidades que sintetizam uma quantidade de fenômenos particulares em 
abstrações gerais. Conceitos podem ter significados diferentes dependendo do quadro de 
referência ou da ciência em que são empregados. Além disso, formam conjuntos sistemáticos 
logicamente coerentes, nisso consistindo a essência de uma teoria. É com tudo isso que temos 
de nos familiarizar para nos tornarmos capazes de empregar os conceitos com segurança e 
mesmo operacionalizá-los quando, em pesquisas aplicadas, isso se faz necessário. 
Só conseguimos fazer uso realmente eficaz dos conceitos teóricos quando eles como que 
entram em nossa corrente sangüínea com tal intimidade a ponto de não sentirmos mais sua 
presença como estranha. Só assim nos tornamos capazes de utilizá-los com flexibilidade como 
diretrizes para os caminhos da reflexão e não meramente como fórmulas rígidas a serem 
obedientemente aplicadas. Quanto mais conhecemos uma teoria, no confronto com outras 
teorias, mais nos tornamos capazes de dialogar com ela e menos escravizados nos tornamos à 
moldura referencial em que toda teoria nos enquadra. Se as teorias são inevitáveis, para que não 
se lide com a reflexão apenas com os instrumentos mentais que o senso comum nos fornece, 
que, pelo menos, elas sejam escolhidas através do filtro da qualidade. 
 
 
4.8 A SELEÇÃO DO MÉTODO 
Com o método chegamos ao terceiro termo, completando-se o trio que dá suporte a uma 
pesquisa. Do problema para a hipótese e desta para o método, tem-se aí a coluna dorsal que dá 
sustentação a um projeto de pesquisa. Como querem Laville e Dione (ibid.: 124), trata-se de 
dois movimentos que se unem na constituição de uma tríade coesamente configurada: quando o 
problema desemboca na hipótese, tem-se o ponto de chegada do primeiro movimento de um 
itinerário de pesquisa. Este ponto de chegada, entretanto, torna-se o ponto de partida do 
segundo movimento, indicando a direção a ser seguida para que se possa resolver o problema 
de partida: verificar sua solução antecipada. Para se chegar a uma confirmação, são os métodos 
que nos fornecem os meios. 
Uma vez que todo o capítulo 3 deste livro foi dedicado à problemática da metodologia e 
dos métodos, não é necessário repetir aqui o que já foi dito lá. Limito-me, por isso, a chamar 
atenção para alguns pontos que, a meu ver, devem ser retidos em nossa mente. 
Na etapa da metodologia, é fundamental que o pesquisador esteja consciente do tipo de 
pesquisa que está realizando, pois desse tipo dependerão os regramentos metodológicos a serem 
utilizados. A melhor pesquisa não é aquela que mais se aproxima dos métodos das ciências 
naturais, mas sim aquela cujo método é o mais adaptado ao seu objeto. Antes de tudo, é preciso 
explicitar se a pesquisa é empírica, com trabalho de campo ou de laboratório, se é teórica, 
histórica, tipológica ou se tem uma tipologia híbrida, o que, na área da comunicação, pode ser 
bem provável. Além do tipo de pesquisa, deve-se tentar evidenciar qual é o ângulo de 
abordagem da pesquisa: econômico, político, social, cultural, histórico, técnico etc. O mapa da 
área de comunicação que foi tentativamente desenhado no capítulo 2 pode ser de utilidade para 
essa tarefa. 
Mais uma vez, nesta fase relativa ao terceiro sustentáculo do tripé, o método, em que se 
erige um projeto de pesquisa, cumpre enfatizar que as pesquisas não-empíricas e as não 
quantitativas não podem ser utilizadas como álibis para a negligência metodológica. Se não há 
pesquisa sem problema, se não há rota que encaminhe para a resolução desse problema sem 
hipóteses, estas existem para serem testadas. Aí está a tarefa precípua de uma pesquisa, 
contanto que se saiba encontrar para cada tipo de pesquisa o tipo de teste que ela permite.Pesquisas não-quantitativas exigem que sejam seguidos os mesmos passos das 
quantitativas, com a diferença de que a natureza interna desses passos difere de um tipo de 
pesquisa para outra. Embora não exista um padrão paradigmático a que as pesquisas não 
quantitativas se ajustem, elas também dependem da observação, da coleta de dados, da análise 
dos dados coletados e de sua interpretação. Sem isso, a pesquisa fica sem chão, flutuando no ar. 
Até mesmo uma pesquisa teórica, fundamental, apresenta todos esses itens, quando se sabe 
adaptar seus significados às novas situações de pesquisa em que eles surgem. Assim, a palavra 
observação não se restringe necessariamente à observação empírica, daquilo que estreitamente 
costumamos chamar de realidade, mas se estende para a observação documental, estendendo-se 
até mesmo até a observação abstrativa, quando criamos diagramas mentais da rede de conceitos 
teóricos com os quais estamos lidando, observando suas configurações e modificando-as 
conforme as necessidades da condução de uma argumentação. Tanto quanto qualquer outra, a 
pesquisa teórica também depende de uma grande coleta de dados, com a diferença de que esses 
dados são idéias" conceitos, categorias que têm de ser manipuladas técnica, criativamente e, 
sobretudo, metodologicamente. Se isso já é verdadeiro para as pesquisas teóricas, não é preciso 
nos estendermos em considerações sobre as pesquisas aplicadas, especialmente porque nestas a 
metodologia está estreitamente ligada às teorias que dão suporte à pesquisa. 
Em suma, a tarefa metodológica é uma tarefa a ser enfrentada sem escusas, pois é dela que 
nos vêm os meios para comprovar ou não as hipóteses nas quais apostamos. 
4.9 A EQUIPE DE PESQUISA 
 
Neste item, cabe nomear quais são os responsáveis pela pesquisa, desenhando o perfil de 
cada um e indicando com clareza quais a tarefas que a cada membro da equipe cabe 
desenvolver. 
 
4. 10 O CRONOGRAMA 
Este item diz respeito ao planejamento do tempo de desenvolvimento da pesquisa. Cada 
etapa deve ser cuidadosamente pensada, inclusive prevendo o tempo que cada uma deve levar 
para se desenvolver. Quanto mais bem formulado estiver o projeto, mais clareza e segurança se 
terão na previsão de sua consecução. 
4.11 Os RECURSOS NECESSÁRIOS 
Embora a palavra "recursos" pareça indicar apenas os recursos materiais, infraestruturais e 
financeiros, eles devem ser pensados em termos mais amplos. Parece muito bom que o 
pesquisador também pense no tempo que tem para se dedicar à pesquisa, sobretudo na sua 
disponibilidade para assumir o modo de vida que a realização de uma pesquisa sempre exige. 
Enfim, olhando bem no fundo de si mesmo, neste item dos recursos, o pesquisador deve se 
perguntar se terá persistência, desprendimento de muitos outros apegos ou hábitos e mesmo 
obstinação para efetuar seu trabalho. Esses recursos são, às vezes, tanto ou mais fundamentais 
do que os materiais. 
4.12. A BIBLIOGRAFIA 
Quando fazemos tanto a revisão bibliográfica quanto à seleção do quadro teórico de 
referência para a pesquisa proposta, ou seja, sua fundamentação teórica ou escolha de uma 
teoria de base, essas atividades podem nos levar a enxergar um horizonte bibliográfico 
pertinente à pesquisa muito mais amplo do que aquele que podemos absorver enquanto estamos 
elaborando o projeto. Nesse caso, que, aliás, seria o ideal, no final do projeto devem aparecer 
duas listagens bibliográficas, aquela que já foi consultada e aquela que deverá ser consultada no 
decorrer da pesquisa. Muitas vezes, esta última já se insinua em comentários presentes na 
escolha da fundamentação teórica, visto que esta é sempre muito mais específica e especializada 
do que havia sido a revisão bibliográfica. 
4.13 NOTA FINAL 
Enfim, a elaboração de um projeto de pesquisa exige o cuidado paciente com os detalhes a 
que todo bom planejamento nos obriga. É preciso ter amor pelas minúcias e capacidade de olhar 
de frente para as dúvidas, sem subterfúgios, sem esquivas. Saber lidar com elas, atendê-las com 
atenção e energia, conscientes de que isso significa interromper o fluxo de nossas certezas e 
partir para as fontes que nos vêm do discurso do outro. 
Em meio às muitas compensações que um bom projeto nos traz, entre elas especialmente 
uma certa garantia de que a jornada deverá chegar com êxito ao seu destino, a compensação 
mais gratificante se encontra naqueles momentos em que a pesquisa começa a adquirir força e 
determinações próprias, exigências internas tão eloqüentes como se viessem de um corpo vivo. 
De agente do processo, o pesquisador passa para o estatuto de interlocutor, apalpando e 
auscultando as determinações internas do seu trabalho. Mais gratificantes ainda, como se 
fossem iluminações súbitas no meio do caminho, sem que saibamos bem de onde elas vêm, são 
os momentos em que nos defrontamos com as surpresas das descobertas imprevistas. 
Além de cumprir a função social de fazer avançar o conhecimento, tarefa precípua de toda 
pesquisa, pesquisas também decifram para cada um de nós o mistério dos prazeres muito 
próprios e decididamente intransferíveis que a vida intelectual traz consigo.

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