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ASPECTOS GERAIS DA ARBITRAGEM Douglas Diehl Dias 1 A arbitragem é um instituto jurídico regulado pela Lei n. 9.307, de 23-9-1996 2 , que busca a solução de conflitos entre as partes de determinado contrato. É um meio alternativo para resolução de controvérsias que envolvam direitos disponíveis de pessoas maiores e capazes. Depende exclusivamente da vontade das partes, que têm a liberdade de escolhê-la e estabelecer os procedimentos que serão usados para dirimir o litígio, tais como os prazos, a necessidade de audiências, a legislação aplicada, o tipo de julgamento (direito ou equidade), etc. O interesse das partes pela arbitragem se dá através de uma convenção na qual estão presentes a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. A cláusula compromissória – como o próprio nome revela – é uma cláusula inserida no contrato onde as partes, antes de ocorrer o conflito, optam pela arbitragem. Ela pode ser “cheia”, quando os árbitros ou câmara arbitral já estiverem definidos, bem como todas as formas de processo, mas também pode ser “vazia”, quando apenas manifestar a vontade das partes pela arbitragem. O compromisso arbitral, por sua vez, é um termo ajustado pelas partes após a ocorrência do litígio, se fazendo necessário sempre que a cláusula compromissória for “vazia” ou mesmo esta inexistir. Segundo César Fiúza, considera-se árbitro “toda pessoa natural que, sem estar investida da judicatura pública, é eleita por duas ou mais pessoas para solucionar conflito entre elas existente, prolatando decisão de mérito” 3. Com efeito, qualquer pessoa maior e capaz pode ser árbitro, desde que escolhido pelas partes e que não exerça a função pública de magistrado. As partes podem nomear mais de um árbitro; sempre em número ímpar (um, três, sete, etc.) para evitar um possível empate. Um árbitro tem os mesmos poderes de um juiz “togado” perante o conflito para o qual foi escolhido, podendo, inclusive, decidir contra legem (contra a lei) nos casos em que o julgamento se der por equidade, abstendo-se disto apenas quando o conflito versar sobre matérias de interesse ou ordem pública. O que justifica esta possibilidade é o fato da arbitragem ser facultativa, fruto apenas da vontade das partes e livre de qualquer intervenção estatal. Ainda sobre a figura do árbitro, é 1 Acadêmico do 3º semestre do curso de Direito, ULBRA Cachoeira do Sul. 2 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm 3 FIÚZA, César. Teoria geral da arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p. 120. importante destacar a existência das Câmaras Arbitrais, que nada mais são do que instituições privadas especializadas na arbitragem que visam a melhor sistematização deste instituto. Um julgamento arbitral pode ser de direito ou equidade. O julgamento é de direito quando as partes determinam que o árbitro deve-se valer da lei pátria para solucionar o problema. Já quando for de equidade, os contratantes estipulam outros critérios para o árbitro fundamentar sua decisão, tais como costumes, princípios, normas estrangeiras, etc., sempre respeitando a política dos bons costumes e a ordem pública, conforme já dito anteriormente (linha 25). À sentença arbitral não cabe recurso, não carece de homologação no Poder Judiciário e faz coisa julgada. A constitucionalidade desta lei já esteve em pauta no Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), no ano de 2001, quando alguns ministros alegaram incompatibilidade com dispositivo da Constituição Federal: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” 4. Os contrários alegaram que a Lei n. 9.307, de 23-9-1996 dificulta o acesso ao Poder Judiciário, direito garantido a todos. Porém, o entendimento majoritário foi de que a lei de arbitragem era um avanço na cultura jurídica brasileira. Em seu voto, o ministro Carlos Velloso diz: “por se tratar de direitos disponíveis, as partes têm faculdade de renunciar a seu direito de recorrer à Justiça. O inciso XXXV representa um direito à ação, e não um dever.” 5. Atualmente, a arbitragem vem ganhando espaço na sociedade, sobretudo pela duração de seus processos em relação à justiça tradicional. Porém, como tudo que é recente, sofre certo preconceito devido à insegurança de alguns cidadãos quanto a sua legitimidade. 17/06/2014 Cachoeira do Sul - RS 4 Artigo 5º, inciso XXXV da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm 5 Notícia publicada em 12 de dezembro de 2001 no site oficial do Supremo Tribunal Federal. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=58198
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