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ÚLCERA DE CÓRNEA E ENXERTO CONJUNTIVAL DE 360° EM FELINO – RELATO DE CASO HOFFMANN, Martina L. 1 ; MARTINS, Danieli B. 2 ; FETT, Rochana R. 3 Palavras-chave: Úlcera. Olho. Enxerto Conjuntival. Introdução Devido a sua localização externa e exposta, a córnea está constantemente sujeita a traumas (GALERA et al., 2009; MILLER, 2001; SAMUELSON 1999; SLATTER, 2005). A ulceração, erosão ou abrasão corneana consiste na perda de uma ou mais camadas epiteliais da córnea, denominadas superficiais ou profundas (CARNEIRO, 1997; BIRCHARD, 1998). Desta forma este trabalho tem como objetivo relatar um caso de úlcera corneal, seu tratamento especifico, tanto medicamentoso quanto cirúrgico. Material e Métodos Foi atendida na Clínica Chatterie Saúde do Gato, uma gata fêmea, da raça persa, com 14 anos de idade e pesando 2,75 Kg. A proprietária relatou que o olho esquerdo do animal estava com aspecto opaco e com secreção (Figura 1). Na anamnese foi aferida a temperatura, que estava 38,2°C e os batimentos cardíacos que estavam em 160bpm e demais parâmetros dentro do fisiológico para a espécie. A gata já havia sido tratada anteriormente com ofloxacina colírio, flurbiprofeno sódico colírio, acetilcisteína 5% colírio e uma pomada a base de acetato de retinol, aminoácidos, metionina e cloranfenicol nas pálpebras, pois havia sido feito o exame com o corante fluoresceína sódica 1%, o qual revelou uma úlcera de córnea superficial. Não observando melhora do quadro clínico, foi recomendada uma consulta com um especialista em oftalmologia que confirmou o diagnóstico, que apesar de superficial, era indolente (não cicatriza, fica com epitélio solto) e que o animal também causou uma ceratite bem importante (córnea muito inflamada) desconfiando de ceratite viral pela agressividade da inflamação em relação a uma úlcera superficial. Então foi receitado tratamento com pomada a base de cloridrato de ciprofloxacino 0,3% (SID), tobramicina 0,3% colírio, acetilcisteína 10% 1 Médica Veterinária autônoma. martinalese.vet@hotmail.com 2 Médica Vterinária Drª e professora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ. 3 Médica Veterinária Msc proprietária da Clínica Chatterie Saúde do Gato - Porto Alegre, RS. colírio, cloridrato de tramadol 2mg/kg, pelo manuseio do olho na consulta e uma cirurgia de enxerto conjuntival de 360°. Figura 1 – Úlcera de córnea com aspecto opaco. A cirurgia foi realizada pela técnica de enxerto conjuntival de 360°, a qual consiste em incidir e divulsionar a conjuntiva em 360, imediatamente ao limbo, com enxerto base fórnice, tracionando a conjuntiva por sobre a córnea. A conjuntiva é, então, suturada a ela própria, no centro da córnea em padrão Wolff interrompido ou em sutura simples continua (Figura 2). Figura 2 – A) Tracionamento da conjuntiva sobre a córnea. B) Fechamento do flap conjuntival com pontos Wolff. Resultados e discussões Após a confirmação do quadro e do tratamento medicamentoso e cirúrgico, foi receitado um tratamento pós-operatório com idoxuridina 0,5%, acetilcisteína 10%, cetrolaco de trometamina 5mg/ml, gatifloxacina 0,3% colírio, cloridrato de tramadol 2mg/kg e prednisolona 2,5mg/kg. Foi recomendado uma reconsulta para revisão em 10 dias o qual manteve-se gatifloxacino 0,3% colírio, idoxorudina 0,5% e cetrolaco de trometamina 5mg/ml. A retirada do flap foi realizada após 21 dias, com previas 8 horas de jejum. O tratamento após a retirada do flap foi mantido com gatifloxacino 0,3% colírio, após os 3 dias iniciou-se o uso de tobramicina 0,3% colírio, manter o uso do colar elisabetano por 7 dias e também foi marcada uma revisão após 14 dias. No retorno do animal observou-se uma melhora significativa do quadro. A ulceração, erosão ou abrasão corneana consiste na perda de uma ou mais camadas epiteliais da córnea, denominadas superficiais ou profundas. A perda de epitélio em espessura completa com pelo menos uma perda estromal é chamada de ulceração (CARNEIRO, 1997; BIRCHARD, 1998). Existem diversas causas possíveis de ulceração corneal, existem algumas mais comuns, como anormalidades palpebrais, anormalidades ciliares ou pilosas, irritantes, como xampus, fumaça, ácidos ou álcalis e luz UV, anormalidades do filme lacrimal, traumas, infecções como bacteriana primária, viral primária como, por exemplo, o Herpesvírus Felino tipo 1, Vírus da Imunodeficiência Felina, entre outros e raramente de causa fúngica, distrofia/degeneração (TURNER, 2011). No caso relatado o diagnóstico dado pela oftalmologista foi de causa viral, pela agressividade da inflamação em uma úlcera superficial. Para chegar a um diagnóstico definitivo, é importante que ocorra a inspeção remota do paciente observando sinais de dor e desconforto ocular, ocorrência de secreções e, se possível, a presença ou ausência de visão, a anamnese detalhando a possível causa da lesão, tempo de progressão, presença e intensidade de secreção, se realizou algum tipo de tratamento e existência de histórico anterior e também a realização de um exame clínico detalhado, pois em algumas ocasiões a úlcera de córnea pode não ser facilmente visível, então ele deve ser feito em uma sala em que seja possível controlar a intensidade luminosa e se deve ter acesso a uma fonte de iluminação e de magnificação (STADES et al.,1999; SLATTER, 2005; KERN, 1994). O próximo passo consiste no uso de corantes vitais na córnea com o intuito de diagnosticar a presença de úlcera. Os corantes comumente utilizados são a fluoresceína sódica a 2% e o rosa bengala (SLATTER, 2005; STADES et al., 1999). Na consulta relatada, foi usado o corante de fluoresceína sódica a 2%, que demonstrou que havia uma úlcera na córnea do olho esquerdo da paciente. Vários são os tratamentos utilizados para reparar as úlceras de córnea e a escolha da conduta mais adequada dependerá da gravidade da lesão (LAUS, 1999; SLATTER, 2005, STARUP, 1984). No caso relatado, foi realizada a terapêutica medicamentosa como tentativa de tratamento de úlcera superficial, mas como a úlcera não respondeu ao tratamento inicial foi então optado fazer o recobrimento com enxerto conjuntival de 360°, o qual é recomendado no tratamento de lesões de córnea e consistem na transposição do tecido conjuntival adjacente sobre a úlcera tendo a finalidade de sua proteção e cicatrização (GALERA, 2009; GILGER, 2001; HAKANSON e MERIDETH, 1986; SLATTER 2005). Conclusão Concluiu-se que a técnica de enxerto conjuntival 360°, constitui-se em uma opção valiosa para centros menos especializados ou com menos infra-estrutura quando comparada ao atendimento oftálmico de um hospital veterinário e é de suma importância para o tratamento de lesões na córnea, por ser uma técnica que constitui em uma melhor vascularização e melhor cicatrização para essas lesões. Referências bibliográficas BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 1ª ed. São Paulo: Roca, 1998. CARNEIRO, L. F. Manual de Oftalmologia Veterinária: um guia prático para clínicos veterinários. São Paulo: Roca, 1997. GALERA, P. D.; LAUS, J. L.; ORIÁ, A. P. Afecções da túnica fibrosa. In: LAUS, J. L. Oftalmologia clínica e cirurgia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2009. GELATT, K. N. Manual de Oftalmologia Veterinária. Barueri, SP: Manole, 2003. GILGER, B. C. Medical vs. surgical treatment of corneal diseases. Small animal ophthalmology. Outubro, 2001. HAKANSON, N. E. e MERIDETH, R. E. Conjunctival pedicle grafting in the treatmentof corneal ulcers in the dog and cat. Journal of American Animal Hospital Association, 1986. KERN, T. J. Diseases of the cornea and sclera. In: Saunder Manual of Small Animal Practice. 3 ed. Pensylvania: WB Saunders, 1994. MILLER, W. W. Evaluation and management of corneal ulcerations: A systematic approach. Clinical Thechniques in Small Animal Practice. v.16, n.1, 2001. SAMUELSON, D. A. Ophthalmic Anatomy. In: Veterinary Ophthalmology. 3. ed, Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 1999. SLATTER, D. Fundamentos de oftalmologia veterinária. 3. ed. São Paulo: Roca. 2005. STADES, F. C.; BOEVÉ, M. H.; NEUMANN, W.; WYMAN, M. Fundamentos de Oftalmologia Veterinária. São Paulo: Manole, 1999. TURNER, S. M. Oftalmologia em pequenos animais - Série Clínica Veterinária na prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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