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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária HEMIOLEGIA LARINGEANA Liana Mara Lepka Curitiba 2006 ii UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária HEMIPLEGIA LARINGEANA Curitiba 2006 iii Liana Mara Lepka HEMIPLEGIA LARINGEANA Curitiba 2006 Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Professor Orientador: Uriel V. C. Andrade, Médico Veterinário; Msc Orientador Profissional: Reinaldo de Campos, Médico Veterinário iv SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS........................................................................................ v RESUMO......................................................................................................... vi 1 INTRODUÇÃO................................................................................... 1 2 HEMIPLEGIA LARINGEANA............................................................ 3 3 PATOLOGIA...................................................................................... 5 4 DIAGNÓSTICO.................................................................................. 6 4.1 DIAGNÓSTICO ENDOSCÓPICO...................................................... 6 5 TRATAMENTO.................................................................................. 9 5.1 LARINGOTOMIA E VENTRICULECTOMIA LARINGEANA............... 9 5.1.1 Preparação Cirúrgica e anestesia...................................................... 10 5.1.2 Técnica Cirúrgica ............................................................................... 11 5.1.3 Pós- Operatório.................................................................................. 14 5.2 TRAQUEOSTOMIA............................................................................ 14 5.2.1 Preparação Cirúrgica e anestesia .................................................... 14 5.2.2 Técnica Cirúrgica................................................................................ 15 5.2.3 Pós operatório.................................................................................... 17 6 ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS................................................... 18 7 CONCLUSÃO.................................................................................... 19 REFERÊNCIAS............................................................................................... 20 v LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – DIAGRAMA DA LARINGE ........................................................ 4 FIGURA 2 – POSIÇÃO ANATÔMICA NORMAL DA LARINGE..................... 8 FIGURA 3 – LARINGE APRESENTANDO A HEMIPLEGIA LARINGEANA GRAU 3...................................................................................... 8 FIGURA 4 – LARINGE APRESENTANDO A HEMIPLEGIA LARINGEANA GRAU5....................................................................................... 8 FIGURA 5 – TÉCNICA CIRÚRGICA EMPREGADA NA LARINGOTOMIA E VENTRICULECTOMIA.............................................................. 13 FIGURA 6 – TÉCNICA CIRÚRGICA EMPREGADA NA TRAQUEOSTOMIA................................................................... 16 vi RESUMO A hemiplegia laringeana é um distúrbio em que há paralisia (incompleta) ou paralisia da musculatura laringeana impedindo a abdução (abertura) e a adução (fechamento) eficazes das cartilagens aritenóides (estruturas da garganta). Como resultado desta paralisia, os animais podem apresentar sinais clínicos de ronco ao trote ou galope. O nervo laríngeo recorrente é responsável pela inervação de grande parte dessas estruturas anatômicas. Logo, uma compressão ou lesão neste nervo poderá ocasionar uma movimentação deficiente das cartilagens aritenóides, levando a uma diminuição do fluxo de ar para os pulmões. Na maioria dos casos não existe uma causa conhecida para a paralisia laringiana, portanto ela é demonstrada como hemiplegia laringiana idiopática. É classificada de grau I a V e o tratamento consiste em larigoplastia ou aritnoidectomia. Palavras-chave: hemiplegia laringiana, síndrome do cavalo roncador, ventriculectomia, aritnoidectomia, laringoplastia. vii 1 INTRODUÇÃO A hemiplegia laringeana é uma neuropatia que causa diminuiçao na ventilaçao pulmonar dos equinos, levando as vezes a outras complicações. É conhecida tamém como síndrome do cavalo roncador ou neuropatia laringeana recorrente. Normalmente, a cada respiração as cartilagens aritenóides da laringe são arrastadas na direção do exterior por seus músculos, para a admissão de ar. Nesta moléstia ocorre paralisia habitualmente parcial, de um dos músculos das cartilagens aritenóides. Comumente, os músculos possuem força suficiente para manter as cartilagens abertas durante a respiração comum, mas não durante a respiração mais violenta, que decorre do exercício vigoroso, quando a corrente aérea arrasta o pedículo de tecido para a parte central da corrente de ar. O resultado é que, a cada inspiração essa obstrução adejante não só limita a quantidade de ar que pode chegar aos pulmões, mas também gera um som de intensidade considerável, que é responsável pela moléstia conhecida como cornagem ou ronqueira. O diagnóstico da neuropatia laringeana é concluído através da endoscopia, onde é classificada de grau I a V, sendo I, movimentos sincrônicos e plena abdução; II, movimentos assincrônicos, porém com abdução total; III, assimetria da esquerda, porém plena abdução; IV, assimetria e inabilidade de abdução total; e V, hemiplegia total. Nos animais onde a função laringeana é classificada em I e II, não há necessidade de um tratamento cirúrgico, podendo, o animal, conviver com esta alteração; no grau II, alguns profissionais preferem aguardar a evolução desta viii moléstia antes de efetuar um tratamento invasivo, porém quando graduados em IV e V, se faz necessária a intervenção cirúrgica. Os tratamentos cirúrgicos indicados são a laringoplastia e a aritnoidectomia, sendo a primeira opção mais utilizada entre os profissionais. ix 2 HEMIPLEGIA LARÍNGEA Essa doença, referida às vezes como ronqueira, é um distúrbio comum, mas obscuro, de eqüinos. Caracteriza-se por atrofia dos músculos cricoaritenoideos dorsal e lateral (abdutor/ adutor da cartilagem aritenóide), particularmente no lado esquerdo. A atrofia é devido à desnervação resultante de doença axonal primaria (idiopática) ou dano secundário por compressão ou inflamação do nervo recorrente esquerdo da laringe. O nervo laríngeoe os linfonodos retrofaríngeos estão localizados abaixo do assoalho das bolsas guturais. Como resultado dessa relação anatômica estreita, tumefação e inflamação das bolsas guturais. Causas comuns de lesões secundárias do nervo incluem micose das bolsas guturais, abscessos retrofaríngeos, inflamações devido à injeção iatrogênica em tecidos perivasculares, lesões no pescoço e neoplasias. Os ruídos anormais (ronqueira) observados durante o exercício em cavalos com hemiplegia laríngea são devido à paralisia dos músculos cricoaritenóides dorsal e lateral esquerdos. Essa paralisia causa dilatação incompleta da laringe, obstrução do fluxo do ar e vibração das pregas vocais soltas. Na Figura 1 observa-se a posição anatômica de algumas estruturas da laringe (LÓPES,1998). x FIGURA 1 - DIAGRAMA DA LARINGE xi 3 PATOLOGIA A hemiplegia laringeana idiopática é geralmente considerada um distúrbio dos eqüinos das raças de maior porte, raramente relatada em árabes e pôneis. A sintomatologia usualmente ocorre depois dos três anos de idade, quando se inicia o treinamento. No entanto, esta doença pode ser detectada precocemente em potros jovens, através da endoscopia. A abdução inadequada das aritenóides cria uma resistência inspiratória ao fluxo de ar e conseqüentemente deficiência nas trocas gasosas. Como resultado irá ocorrer uma intolerância ao exercício que se transmite pelo cansaço e pela fadiga muscular. A maioria dos animais com hemiplegia laringeana idiopática, além da intolerância ao exercício, apresentam ruído inspiratório descrito como ronqueira. Quando essa enfermidade é bilateral (afeta ambas cartilagens), além do ruído, podem exibir desconforto inspiratório severo, necessitando em alguns casos de se efetuar uma traqueostomia para melhorar o fluxo de ar para os pulmões (JONES, etal, 2000). xii 4 DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito por um exame endoscópico onde se observa o posicionamento assimétrico ou amplitude de movimentos das cartilagens aritenóides e relaxamento das pregas vocais do lado acometido. Clinicamente pode-se observar ruídos ou roncos inspiratórios durante os exercícios, acompanhado por intolerância aos mesmos e fadiga muscular freqüentes. O exame físico e a palpação da laringe também podem auxiliar em detectar a atrofia do músculo da laringe (cricoaritenóideo dorsal). Utiliza-se também o slap-test ou teste da palmada, em que, através do endoscópio, observa-se movimento das aritenóides logo depois da palmada realizada próxima à região da paleta-cernelha. Em eqüinos normais, quando a palmada é realizada em um dos lados do animal, ocorre abdução da cartilagem aritenóide contralateral. Tal reflexo estará ausente em eqüinos com neuropatia laringiana idiopática (CAMPOS, 2006). 4.1 DIAGNÓSTICO ENDOSCÓPICO A endoscopia fornece o diagnóstico definitivo na maioria dos casos. O exame da laringe é realizado com o animal em repouso, sendo a posição e a movimentação das cartilagens aritenóides verificadas. A função laríngea também pode ser observada durante a deglutição, uma breve oclusão nasal bilateral (30-60 segundos) e durante e após o exercício. Para localizar a sonda nasogátrica no esôfago observa-se a mesma no lado esquerdo do pescoço (exceto quando o esôfago passa dorsalmente ou ao xiii lado direito da traquéia). Normalmente há uma leve resistência à passagem da sonda. Ao assoprar-se no tubo, encontra-se uma leve resistência, ocorre distensão do esôfago e, freqüentemente, há refluxo de gases estomacais. A sonda pode ser palpada no esôfago no lado esquerdo do pescoço e barulhos característicos de gorgolejo são ouvidos quando a sonda está no estômago. Já na traquéia, o cavalo, às vezes, tosse; não há resistência à passagem da sonda, se a mesma for sacudida de lado a lado, pode-se ouvir um som de chocalho da sonda sobre os anéis cartilaginosos da traquéia. Não há resistência quando se sopra na sonda e pode-se detectar a passagem de ar, coordenada com a respiração (SPEIRS, 1999) A gravidade da doença é graduada de I a V: Grau I: aparência de assimetria como um artefato, devido à posição do endoscópio. A perspectiva de distorção é cancelada colocando-se o endoscópio pela narina direita e esquerda. Quando o endoscópio passa pela narina direita, a cartilagem aritenóide esquerda parece menos abduzida e vice- versa. Grau II: a maioria dos movimentos são assimétricos com abdução total. Assincronia transiente ou atraso na abdução pode ser visto, especialmente, na aritenóide esquerda. Grau III: assimetria, porém com plena abdução. Grau IV: assimetria é marcada, não há plena abdução, mas alguns movimentos estão presentes. Grau V: hemiplegia verdadeira, assimetria marcada com ausência de movimento do lado afetado e não há resposta ao slap test (CAMPOS, 2006) xiv FIGURA 2 - POSIÇÃO ANATÔMICA NORMAL DA LARINGE FIGURA 3 - LARINGE APRESENTANDO A HEMIPLEGIA LARINGEANA GRAU 3 xv FIGURA 4 - LARINGE APRESENTANDO A HEMIPLEGIA LARINGEANA GRAU 5 xvi 5 TRATAMENTO Normalmente, os eqüinos que apresentam classificação I e II conseguem conviver com o problema, não necessitando de intervenção cirúrgica. Já aqueles com graus IV e V, devido à intensa diminuição no fluxo de ar e acentuada intolerância ao exercício, podem se beneficiar com a intervenção cirúrgica. Com relação ao grau III, há controvérsias, pois alguns profissionais preferem esperar e outros optam pela cirurgia. Em alguns casos, há a necessidade de se colocar o animal em uma treadmil (esteira), para uma melhor avaliação das cartilagens aritenóides durante o exercício. Isto porque o animal poderá apresentar outra doença, além da já diagnosticada anteriormente, como é o caso do colapso faringeano. Quanto a opção cirúrgica, a mais utilizada atualmente é a laringoplastia; uso de uma prótese para manter a aritenóide acometida em abdução através de dois fios de sutura não absorvíveis. 5.1 LARINGOTOMIA E VENTRICULECTOMIA LARINGEA A ventriculectomia laríngea é indicada para o tratamento de hemiplegia laríngea e consiste na remoção do revestimento mucoso do ventrículo laríngeo. A freqüência de êxito deste procedimento varia na definição pessoal do que seja um resultado satisfatório. Um autor acredita que acima de 80% dos pacientes melhoravam significativamente com a ventriculectomia, mas menos de 10% das operações poderiam ser consideradas “um sucesso completo”. Sua definição de um sucesso completo era “o resultado é obtido quando a obstrução é avaliada e torna a respiração do cavalo indistinguível para o ouvido xvii experimentado de um cavalo são a todos os momentos”. Outro cirurgião eminente acreditava que se após uma ventriculectomia o cavalo poderia executar o seu trabalho de maneira satisfatória ao proprietário, a operação teria sido bem sucedida. Usando-se este critério sua freqüência de êxito estava entre 60 a 70%. Nos casos graves de hemiplegia laríngea, está indicada uma cirurgia adicional envolvendo a inserção de uma prótese laringea para abduzir a cartilagem aritenóidea e a prega vocal. A maioria dos cirurgiões efetua este segundo procedimento, mais envolvente, quando o exame endoscópico revelar que a cartilagem aritenóide está medialmente deslocada de sua posição normal de repouso. Nestes casos, a ventriculectomia não produz abdução suficiente da prega vocal. Nos casos onde a cartilagem aritenóidea não é abduzida para além da sua posição normalde repouso, de maneira que a laringe pareça simétrica no seu descanso, a ventriculectomia como procedimento exclusivo fica justificada se o fator econômico não é considerado pelo proprietário, que almeja o melhor resultado possível, insere-se uma prótese laríngea em qualquer caso equívoco. A ventriculectomia é consumada com a execução de uma laringotomia através da membrana cricotireóidea. A técnica de laringotomia também é aplicada para ressecção parcial do palato mole, a aritenoidectomia, e o tratamento cirúrgico do engasgamento da epiglote, os cistos faríngeos, ou a hiperplasia linfóide. 5.1.1 Preparação cirúrgica e anestesia xviii A laringotomia e a ventriculectomia podem ser efetuadas com o cavalo sob anestesia geral posicionado em decúbito dorsal ou com o animal em pé sob sedativos e injetado com um analgésico local no sitio cirúrgico. Quando se realiza o procedimento com o animal em pé, a ventriculectomia é executada as cegas, mas é o mesmo procedimento feito com o animal sob uma anestesia geral. Antes da cirurgia, os pacientes recebem 2g de fenilbutazona por via intravenosa para minimizar o edema laríngeo pós-operatório. A região cirúrgica é tosada e preparada de modo asséptico. 5.1.2 Técnica cirúrgica Uma incisão da pele de aproximadamente 10 centímetros de comprimento é feita da superfície da cartilagem cricóide, indo além da junção das cartilagens tireóides . Em alguns casos, a depressão triangular entre as cartilagens tireóide e cricóide poderá ser sentida antes da execução da incisão da pele. Quando isto não for possível, a região central da incisão da pele é localizada posicionando-se uma linha horizontal através da área onde os ramos da mandíbula unem-se com o pescoço. A incisão da pele expõe a linha mediana entre os músculos esternotirohióideos, que são separadas com uma tesoura para expor a membrana cricotireóidea. Depois da separação inicial com as tesouras, os músculos poderão ser retraídos digitalmente ao longo do cumprimento da incisão da pele. A membrana cricotereóidea é liberada do tecido adiposo, e neste estagio, talvez seja necessário ligar uma pequena veia que normalmente está presente no local cirúrgico. A membrana cricotireóidea é excisada, começando com uma incisão perfurante para que se consiga a penetração da mucosa laríngea. Então a incisão estende-se longitudinalmente xix da porção caudal da cartilagem cricóide até a parte cranial da junção da cartilagem tireóide. As asas das cartilagens tireóideas são retraídas com um afastador auto-estático. Se uma sonda endotraqueal de manguito com pequeno diâmetro for utilizada, a ventriculectomia poderá ser executada com a sonda endotraqueal posicionada no local; por outro lado, a remoção da sonda é necessária para a identificação do sáculo laríngeo e da vetriculectomia. O ventrículo laríngeo é identificado escorregando o dedo indicador na direção cranial e para fora da borda da prega vocal e virando o dedo lateral e ventralmente em direção à base da orelha para entrar no ventrículo. Passa-se o extrator laríngeo através do ventrículo o mais profundamente possível torcendo o extrator para que agarre a mucosa. Quando o cirurgião acredita que a mucosa já está encaixada no extrator, cuidadosamente recolhe o extrator do ventrículo revirando a mucosa ventricular. Neste estágio, é oportuno posicionar um par de pinças sobra a mucosa que está evertida, para evitar a rasgadura ou a escorregadura enquanto a mucosa é totalmente retraída. As pinças são fixadas sobre a mucosa, o extrator é distorcido e retirado, e com consegue-se uma reversão completa do sáculo ventricular aplicando-se tração. Enquanto a retração está sendo mantida pela pinça de Ochsner ou um instrumento similar posicionado através do sáculo, a membrana mucosa revertida é ressecada com tesoura o mais perto possível da base, sem lesar a cartilagem associada. Habitualmente exerce-se a ventriculectomia bilateral, mas o problema clínico está normalmente associado com o lado esquerdo. Depois da excisão o ventrículo, qualquer resto de membrana mucosa remanescente é removido. xx A incisão de laringotomia não é suturada; ela permanece aberta, porque a mucosa do trato respiratório não pode ser preparada assepticamente e a contaminação da incisão pode ocorrer com uma infecção subseqüente e também uma abscedação como problema potencial. Os ferimentos da laringotomia resolver-se-ão satisfatoriamente por segunda intenção; assim, a sutura desse ferimento não é considerado um risco justificável. A sonda de traqueostomia permanece no local da laringotomia enquanto o cavalo recupera-se da anestesia (TURNER, 2002). Conforme ilustrado na Figura 5. xxi FIGURA 5 - TÉCNICA CIRURGICA EMPREGADA NA LARINGOTOMIA E VENTRICULECTOMIA FONTE: TURNER,A.S. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte. 2002. 5.1.3 Pós-operatório xxii Não se faz uso de antibióticos. O ferimento da laringotomia deve ser limpo duas vezes ao dia, e o animal fica confinado por duas a três semanas, sendo o tempo estimado para a cicatrização do ferimento. Após este período, o cavalo é passeado. O animal poderá voltar às suas atividades normais depois de aproximadamente 56 dias. Normalmente o tubo da traqueostomia fica na abertura da laringotomia até a recuperação da anestesia. Caso ocorra trauma demasiado durante a cirurgia, o que é possível em alguns procedimentos mais extensos, talvez seja conveniente deixar a sonda de traqueostomia no local. 5.2 TRAQUEOSTOMIA A traqueostomia é um procedimneto comumente realizado nos casos ventriculectomia. Além disso é também empregada após uma cirurgia nasal, laríngea, ou sempre que uma obstrução operatória for antecipada, incluindo de neoplasia nasofaríngea edema pós cirúrgico, obstrução de vias aéreas superiores 5.2.1 Preparação cirúrgica e anestesia Normalmente executa-se a traqueostomia com o animal em pé, os pelos devem ser raspados acima do terço médio do pescoço e a região é esfregada cirurgicamente. O local cirúrgico é anestesiado pela infusão de anestésico local de forma subcutânea ao longo da linha de incisão proposta, em torno de 10 centímetros. Se o procedimento for realizado na forma eletiva para completar uma outra cirurgia, neste caso a ventriculectomia, é feita com o animal deitado sob anestesia geral. 5.2.2 Técnica cirúrgica xxiii O local cirúrgico geralmente localiza-se na junção dos terços médio e superior do pescoço o cirurgião posiciona-se do lado direito do animal (o reverso para um canhoto), faz-se uma incisão de 10 centimetros através da pele e tecido subcutâneo; isto é facilitado pelo tensionamento da pele na extremidade proximal da incisão com a mão esquerda e fazendo uma incisão da pele com a mão direita. Após a incisão da pele e tecidos subcutâneos, as massas dos músculos esternotiróideos são vizualizadas. Estas massas musculares são divididas pela linha mediana com uma tesoura ou com a ponta de um bisturi de cabo rígido. São, então, identificados os anéis traqueais. O bisturi é inserido entre dois anéis traqueais com um golpe agudo. A incisão é feita na direção horizontal tendo por volta de 1 centímetro em qualquer uma das direções partindo da linha mediana; feita a incisão a sonda de traqueostomia deve ser introduzida. Este método é utilizado quando a sonda de traqueostomia deve permanecer no local por um período de tempo relativamente curto (Figura 6). Outro método é remover um pedaço elíptico de cartilagem proveniente de cada um dos dois anéis adjacentes. Isto envolve a remoção de um pedaço semicircular de cartilagem da superfície caudal do próximo anel. Antes que o pedaço de cartilagem seja separado completamente o segmento deve ser agarrado por um par de fórceps. Este método é aplicado quando a sonda de traqueostomia for necessária por um longo período. Os anéis traqueais nunca devem ser completamente divididos já que os anéis traqueais do cavalo são incompletos no aspecto dorsal; o corte através da porção ventral irá dividir cada anel em dois pedaços e resultará no colapso da traquéia e em condrite. (TURNER, 2002) xxiv Em ambos os métodos a incisão não é fechada; deve-se deixar que o ferimento feche por segunda intenção quando a sonda for retirada. FIGURA 6 - TÉCNICA CIRURGICA EMPREGADA NA TRAQUEOSTOMIA FONTE: TURNER,A.S. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte. 2002. xxv 5.2.3 Pós operatório O local da traqueostomia deve ser limpo diariamente com solução fisiológica estéril. A região deve ser simultaneamente coberta com uma pomada antibacteriana adequada e não irritante. Quando a sonda de traqueostomia encontra-se em posição, a mesma deve ser retirada e limpa uma ou duas vezes ao dia, dependendo da quantidade de secreção que for acumulada. xxvi 6 ACHADOS HISTOPATOLÓGICO O músculo cricoaritenóideo afetado sofre atrofia de muitas de suas fibras; essa atrofia progride até seu completo desaparecimento, com substituição por tecido fibroso. Macroscopicamente, diz-se que o músculo degenerado fica como “carne de peixe”. Podem ser observados estágios sucessivos de desmineralização e degeneração walleriana no nervo laríngeo recorrente que inerva o músculo. Microscopicamente, as fibras musculares têm lesões de atrofia por desnervação. É quase sempre a cartilagem aritenóide, músculo cricoaritenóideo, e nervo laríngeo do lado esquerdo, que estão envolvidos nesse distúrbio. Acredita-se que isso se deva ao curso peculiar do nervo esquerdo em todo arco da aorta e ao longo da face profunda desse vaso. As causas de certos casos infreqüentes que podem ocorrer em ambos os lados são: pressão exercida por linfonodos granulomatosos hipertrofiados, tumores, abscessos, aneurismas, e inchaço do esôfago. Há suspeita de defeitos congênitos. Muitos casos ocorrem em seguida à pneumonia (JONES ,et al., 2000). xxvii 7 CONCLUSÃO Na hemiplegia laringeana o diagnóstico precoce é importante para se avaliar o adequado tratamento, uma vez que os cavalos tratados geralmente são usados em competições, como por exemplo: corridas e saltos. O animal com síndrome do cavalo roncador que apresenta grau I e II podem ter uma vida normal, sendo acompanhados pelo médico veterinário responsável e exame endoscópico periódico. Aqueles classificados com grau IV e V são submetidos ao tratamento cirúrgico adequado. Após a completa recuperação podem voltar às suas atividades competitivas sem prejuízo de rendimento. xxviii REFERÊNCIAS CAMPOS,R. Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha. Disponível em: www.abqm.com.br. Acesso em: 14/09/2006. JONES,T.C. et al. Sistema Respiratório. In: JONES,T.C. et al. Patologia Veterinária. 6ed.São Paulo: Manole, 2000. 963 – 990p. LÓPEZ,A. Sistema Respiratório. In: CARLTON,W.V.; MC GAVIN,M.D. Patologia Veterinária Especial de Thomson. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. 132-193p. SPEIRS,V.C. Exame Clínico de Eqüinos. 1ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 366p. TRAUB-DARGATZ,J.L.; BROWN,C.M. Equine Endoscopy. 2ed. St Louis: Mosby. 1997. 252p. TURNER, A. S. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte. 1ed. São Paulo: Roca, 2002. 341p. xxix UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) Liana Mara Lepka Curitiba 2006 xxx UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) Curitiba 2006 xxxi Reitor Profº Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profª Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Secretário Geral Profº João Henrique Ribas de Lima Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Profº João Henrique Faryniuk Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profª Neide Mariko Tanaka Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária Profª Elza Ciffoni Metodologia Científica Profª Ana Laura Angeli CAMPUS CHAMPAGNAT Rua .Marcelino Champagnat, 505 - Mercês CEP 80.215-090 – Curitiba – PR Fone: (41) 3331-7958 xxxii A P R E S E N T A Ç Ã O Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o período de 07/08/06 a 06/10/2006, período este em que estive na Equine Center, localizada no município de São Paulo cumprindo estágio curricular e também de uma Monografia que versa sobre o tema: Hemiplegia laringeana. xxxiii À minha mãe EMILCE ROLOFF LEPKA, ao meu pai LUIS MARIO LEPKA e ao meu irmão Daniel Luis Lepka, que estiveram sempre presente ao meu lado, me orientando e incentivando, DEDICO xxxiv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter permitido e me capacitado a completar o curso de Medicina Veterinária. À minha família que investiu e me apoiou durante esses cinco anos. Ao Dr. Marlon Siqueira que confiou e me indicou para a clínica Equine Center, À família Garotti que me recebeu com muito carinho e me hospedou durante esses dois meses. Ao meu Orientador Uriel V. C. Andrade que esteve sempre me dando muita força no decorrer do curso e dividindo seu conhecimento. Ao Dr. Pedro Werner que esteve sempre pronto para ensinar não somente sobre a Medicina Veterinária, mas também lições da vida. Aos meus amigos que estiveram sempre presente para rir, para chorar, para bagunçar e para estudar. À toda equipe da Equine Center que me receberam, me ensinaram e colaboraram para a realização deste trabalho. xxxv Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode,que o medo impeça. xxxvi SUMÁRIO ix xi LISTA DE FIGURAS............................................................................................ LISTA DE ABREVEATURAS.............................................................................. RESUMO.............................................................................................................. xii 1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 1 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO............................................... 2 3 ATIVIDADES REALIZADAS NO ESTÁGIO........................................... 3 3.1 CÓLICA.................................................................................................... 3 3.1.1 Revisão de Literatura............................................................................... 3 3.1.2 Caso Clínico 01 – Cólica Eqüina.............................................................. 4 3.2 TRAUMA E ACIDENTE............................................................................ 8 3.2.1 Caso Clínico 02 – Acidente durante Treino............................................. 8 3.3 DESMOTOMIA......................................................................................... 12 3.3.1 Revisão de Literatura............................................................................... 12 3.3.2 Caso Clínico 03 – Desmotomia................................................................ 13 3.4 NEURECTOMIA....................................................................................... 17 3.4.1 Revisão de Literatura............................................................................... 17 3.4.2 Caso Clínico 04 – Neurectomia................................................................ 18 3.5 PNEUMONIA............................................................................................ 20 3.5.1 Revisão de Literatura............................................................................... 20 3.5.2 Caso Clínico 05 – Pneumonia.................................................................. 21 3.6 LESÃO OCULAR..................................................................................... 25 3.6.1 Revisão de Literatura............................................................................... 25 3.6.2 Caso Clínico 06 – Lesão Ocular............................................................... 27 3.7 TERMOCAUTERIZAÇÃO........................................................................ 30 3.7.1 Revisão de Literatura............................................................................... 30 3.7.2 Caso Clínico 07 – Termocauterização..................................................... 31 3.8 OSTECTOMIA.......................................................................................... 33 3.8.1 Revisão de Literatura............................................................................... 33 3.8.2 Caso Clínico 08 – Ostectomia................................................................. 34 4 CONCLUSÃO.......................................................................................... 38 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 39 xxxvii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1– SINAIS CLÍNICOS DA CÓLICA EQÜINA.............................. 6 FIGURA 2 – PRESENÇA DE ALÇA INTESTINAL NECROSADA............ 7 FIGURA 3 – PRESENÇA DE VÓLVULO DO INTESTINO DELGADO...... 7 FIGURA 4 – PORÇÃO DO INTESTINO DELGADO NECROSADO.......... 8 FIGURA 5 – PACIENTE ACIDENTADO RECÉM CHEGADO NO HOSPITAL VETERINÁRIO.................................................... 9 FIGURA 7 – PROCEDIMENTO CIRURGICO PÓS- TRAUMA................. 11 FIGURA 8 – DEISCÊNCIA DOS PONTOS................................................ 12 FIGURA 9 – PROCEDIMENTO CIRURGICO PARA INCISAO DO MEMBRO ANTERIOR DIREITO............................................ 15 FIGURA 10 – UTILIZAÇÃO DO TENÓTOMO DURANTE O PROCEDIMENTO CIRURGICO DE DESMOTOMIA............. 16 FIGURA 11 – EXPOSIÃO DO LIGAMENTO ANULAR ................................ 16 FIGURA 12 – EXPOSIÇÃO DO NERVO DIGITAL PALMAR...................... 19 FIGURA 13 – NERVOS SECCIONADOS E UM RAMO ACESSÓRIO........ 19 FIGURA 14 – EXAME US MOSTRANDO ÁREAS DE CONSOLIDAÇÃO DE ALGUNS COMET TAILS.................................................. 23 FIGURA 15 – EXAME US MOSTRANDO ÁREAS DE MINERALIZAÇÃO NO 8º EIC............................................................................... 23 FIGURA 16 – EXAME US MOSTRANDO LEVES COMET TAILS NO 6º EIC.......................................................................................... 24 FIGURA 17 – EXAME US MOSTRANDO ALARGAMENTO DOS COMET TAILS NO 6º EIC.................................................................... 25 FIGURA 18 – EXAME US MOSTRANDO ALARGAMENTO DOS COMET TAILS NO 6º EIC .................................................................. 25 FIGURA 19 – LESÃO DA CÓRNEA NO DIA 26/08/2006 ............................ 28 FIGURA 20 - LESÃO DA CÓRNEA NO DIA 31/08/2006 ........................... 29 FIGURA 21 - LESÃO DA CÓRNEA NO DIA 06/09/2006 ............................ 29 FIGURA 22 - LESÃO DA CÓRNEA NO DIA 16/09/2006 ............................ 29 FIGURA 23 – UTILIZAÇÃO DE TERMOCAUTÉRIO PARA REVERSÃO DE DISTÚRBIOS ARTICULARES ........................................ 33 FIGURA 24 – PROCEDIMENTO CIRURGICO PARA OSTECTOMIA – I ... 36 FIGURA 25 – PROCEDIMENTO CIRURGICO PARA OSTECTOMIA – II .. 36 FIGURA 26 – ESQUÍROLA ÓSSEA RETIRADA DURANTE O PROCEDIMENTO DE OSTECTOMIA................................... 37 xxxviii LISTA DE ABREVIATURAS mL ..............................................................................................................Mililítros JCSP .................................................................................Jockey Club de São Paulo EIC ..............................................................................................Espaço Intercostal US ................................................................................................Ultra-sonográfico g ...............................................................................................................gramas mg ............................................................................................................miligrama kg. ............................................................................................................kilograma xxxix RESUMO O objetivo deste trabalho consiste na descrição das atividades desenvolvidas durante o estágio curricular, no período de 07 de agosto de 2006 a 06 de outubro de 2006, na Clínica Equine Center localizada no Jockey Club de São Paulo, totalizando 352 horas. Teve como meta aperfeiçoamento profissional nas áreas de clinica médica, cirúrgica e diagnóstico por imagem, sob a supervisão do Dr. Uriel V. C. de Andrade e pela supervisão do Dr. Reinaldo de Campos. Palavras-chave: cólica, desmotomia, neurectomia, pneumonia, termocauterização, ostectomia. xl 1 INTRODUÇÃO Durante o estágio curricular realizado na clínica Equine Center no Jockey Club de São Paulo, sob a supervisão do Dr. Uriel Vinicius Cotarelli de Andrade, acompanhei o Dr. Reinaldo de Campos, Dr. Douglas Moreira, Dra. Fernanda Manzano e o enfermeiro Consuélio da Silva nas suas práticas, participando de casos como: cólica, desmotomia do ligamento anular, neurectomia do nervo digitalpalmar, ostectomia do quarto metacarpiano, diagnóstico por imagem (ultra-som, radiografia), ponta de fogo, infiltração, perfuração da córnea. xli 2 LOCAL DO ESTÁGIO A clínica Equine Center especializada em cavalos está localizada dentro do Jockey Club de São Paulo, na Rua Bento Frias, 248, grupo 39. A clínica funciona diariamente, com veterinários, enfermeiro e estagiários, porém estagiários trabalham de segunda a sexta das 7 horas às 17 horas, sábado das 7 horas às 12 horas, exceto quando há emergências. A clínica possui 10 cocheiras, tronco, sala de diagnóstico por imagem, farmácia, laboratório para exames, escritório e uma ambulância para atendimentos externos ao Jockey Club de São Paulo. xlii 3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO 3.1 CÓLICA 3.1.1 Revisão de Literatura A síndrome do abdômen agudo, também chamada de cólica, pode ser definida como a associação de sinais e sintomas que existem ao mesmo tempo e isso caracteriza clinicamente uma dor especifica; tem geralmente um começo brusco que é manifestado com sinais localizados na cavidade abdominal. A torção do intestino delgado é causada pelas alterações dos movimentos intestinais, cujas causas são as mais variáveis como: diarréias, movimentos intestinais bruscos, etc. Os eqüinos possuem uma característica no seu trato entérico que são fortes movimentos e poucos pontos de fixação do intestino no organismo, deixando-o vulnerável às torções. Os sinais aparecem subitamente, como a cólica, anorexia completa, dor acentuada contínua, ansiedade, delírio e sudorese. Os animais fazem movimentos violentos, causando traumatismos auto-infligidos, manoteiam o chão e pateiam o abdômen. Alguns rolam pelo chão, têm temperatura e pulso elevados, membranas congestas, há ausência de movimentos peristálticos e de fezes. Tenesmo é um sinal de vólvulo de intestino delgado. Após a ocorrência de necrose da parte afetada, tornam-se quietos e permanecem deitados, com uma temperatura subnormal que precede a morte. O diagnóstico desse tipo de cólica é difícil e, o único tratamento é a cirurgia até 6 a 8 horas, xliii após o inicio dos sinais, depois deste período, o processo é irreversível causando gangrena, peritonite, ruptura do intestino e morte. Na necropsia o vólvulo aparece com um segmento torcido do intestino delgado, ocasionalmente incluindo o ceco e o colón proximal, que está consideravelmente distendido, balonoso e vermelho-escuro ou negro. O vólvulo freqüentemente é difícil de desenrolar. A torção pode ser de 360 a 720 graus, tanto no sentido horário quanto no anti-horário. Toda parede do segmento afetado está espessada por edema e congestão acentuados. As veias de paredes finas do mesentério são ouvidas primeiro, enquanto as artérias não ocluídas permitem o fluxo de sangue pelo segmento afetado. O mesentério está usualmente espessado, acentuadamente congesto e vermelho-escuro. Os linfonodos adjacentes ao intestino estão congestos e tumefeitos. Microscopicamente, o intestino afetado apresenta lesões de necrose, congestão e hemorragia. A flora aprisionada em alças anorexicas ingurgitadas por sangue produz toxinas e gás que causam distensão da parte e necrose da mucosa (KRUININGEN, 1998). 3.1.2 Caso Clínico 01 – Cólica Eqüina Data:11/09/2006 Local: Centro Hípico Itaguaçú Idade: 6 Anos Sexo: Macho Anamnese xliv Animal às 00:00h apresentou sinais de cólica, proprietário foi avisado, mas não foi feito atendimento clínico, às 05:00 horas os sinais da cólica haviam aumentado, proprietário foi até ao local, passou a sonda nasogástrica para potros e na lavagem o conteúdo gástrico não foi retirado. Às 08:00 horas o proprietário solicitou o atendimento clínico. Sinais Animal apresentava muita dor, desconforto e distensão abdominal. Exame físico Baixa motilidade intestinal, freqüência cardíaca 56 batimentos por minuto. Tratamento No primeiro momento foi administrado 10 mL de flumixim meglumina intra venosa , a sonda de potro foi trocada por uma de adulto, tendo em vista que não houve sucesso na lavagem, ao passar novamente a sonda nasogástrica observou-se presença de gás, foram administrados aproximadamente 20 litros de água pela sonda para ser realizada a lavagem, porém não houve retorno do líquido e/ou conteúdo. Pelo cateter foram administrados alternadamente nos 5 litros de ringer com lactato 20 mL de sorbitol, 40 mL de gluconato de cálcio, 30 mL de paracetamol, durante esse protocolo o animal apresentou uma piora no seu desconforto abdominal, muitas vezes se jogava no chão, então foi administrado por via intra muscular 5 mL de xlv morfina, no decorrer do tempo a dor do animal passou a piorar rapidamente, impossibilitando, então, o cumprimento do protocolo descrito. Às 10:00 horas o animal já estava em decúbito com muita dor (Figura 1), com 90 batimentos cardíacos por minuto, o proprietário optou por uma eutanásia ao invés de um tratamento cirúrgico. No local não havia medicamento disponível para uma eutanásia medicamentosa, optou-se, então, por arma de fogo. Suspeita clínica Ruptura do estômago, ruptura do esôfago, volvulo intestinal, mau posicionamento da sonda nasogástrica. Achados na necropsia Ao abrir a cavidade abdominal foi encontrado uma grande quantidade de líquido (aproximadamente 1,5 litro), o estômago estava distendido (presença de gás e capim), como também suas alças intestinais. Observou-se então uma torção com necrose (Figura 2 e 3) de aproximadamente 1,5 metro do intestino delgado, desde a porção final do jejuno, todo o íleo até o óstio íleocecal (Figura 4). xlvi FIGURA 1 - SINAIS CLÍNICOS DA CÓLICA EQÜINA FIGURA 2 – PRESENÇA DE ALÇA INTESTINAL NECROSADA xlvii FIGURA 3 – PRESENÇA DE VÓLVULO DO INTESTINO DELGADO FIGURA 4 – PORÇÃO DO INTESTINO DELGADO NECROSADO 3.2 TRAUMA E ACIDENTE 3.2.1 Caso Clínico 02 - Acidente Durante Treino xlviii Data: 02/09/06 Local: Jockey Club de São Paulo- JCSP Idade: 4 anos Sexo: fêmea Anamnese Durante o treino para a corrida a égua estava correndo na raia de areia e se assustou ao pisar numa poça d’água, neste momento o jockey perdeu o controle das rédeas e a égua caiu numa curva, indo de encontro à uma cerca. A ambulância do JCSP foi até ao local socorrê-la, levando-a até o hospital (Figura 5). FIGURA 5 – PACINTE ACIDENTADO RECÉM CHGADO NO HOSPITAL VETERINÁRIO Tratamento xlix Ao chegar no hospital do JCSP as feridas foram avaliadas e lavadas com água, haviam cortes na região do peitoral, escápulo-umeral, esterno, joelho, quartela anterior esquerda, olecrano esquerdo. Na Figura 6, é mostrado o procedimento anestésico para posteroir sutura do membro traumatizado. Para a sutura foram usados 360 mL de cloridrato de lidocaína local e fio monofilamentoso 2.0. FIGURA 6 – PROCEDIMENTO ANESTÉSICO LOCALIZADO As suturas foram feitas com o animal em estação para evitar que houvesse deiscência dos pontos. Foram usadas técnicas de deslizamento, tendo em vista os locais de grande tração e, como sutura de eleição a simples interrompida. Conforme apresentado na Figura 7. l FIGURA 7 - PROCEDIMENTO CIRURGICO PÓS- TRAUMA Para o curativo e tratamento medicamentoso, foram utilizados: Polivinilpirrolidona degermante (10dias),Solução fisiológica 0,9% com permanganato de potássio (10 dias), Água oxigenada (4dias), sulfato de cobre (4 dias), fipronil e sulfadiazina de prata spray (10 dias). Penicilina e gentamicina uma vez ao dia durante 5 dias 22 mg/kg, fenilbutazona durante 4 dias. Obteve-se um bom resultado com o preenchimento de tecido de granulação, porém houve deiscência das suturas (Figura 8), somente a sutura na região do peitoral não abriu, as demais foram tratadas como ferida aberta, cicatrizando, então, por segunda intenção. A partir do 5º dia formou-se uma grande quantidade de tecido de granulação na região do joelho, como não era aceitável, esse excesso foi queimado com sulfato de cobre. li FIGURA 8 - DEISCÊNCIA DOS PONTOS 3.3 DESMOTOMIA 3.3.1 Revisão de Literatura Este procedimento é indicado para o tratamento da constrição do ligamento anular palmar ou plantar, sendo associado com problemas de traumatismo e/ou infecção. O traumatismo direto do ligamento anular com inflamação subseqüente poderá causar fibrose, cicatrizes e constrição primária do ligamento; o ligamento constrito, por sua vez, pressiona o tendão flexor superficial. O trauma primário no tendão flexor superficial com tendinite apresentará o mesmo resultado, por estar associado com o edema do tendão lii flexor digital superficial contra o ligamento anular inelástico. O animal é colocado sob anestesia geral, a perna afetada fica mais elevada, pode ser usado uma faixa de Esmarch e um torniquete pneumático facilita a cirurgia. A incisão na pele é feita superiormente à borda lateral do tendão flexor digital superficial. A secção é feita através do ligamento anular e da bainha tendínea do flexor digital, os tendões dos flexores são examinados em busca de danos ou adesões. Havendo adesão a mesma é excisada. A bainha do tendão e o ligamento anular não são suturados, apenas o subcutâneo e a pele com sutura simples interrompida de material absorvível sintético. Este fechamento deve ser apertado para evitar que haja vazamento do liquido sinovial proveniente da bainha do tendão e o desenvolvimento de uma possível fistula sinovial. A pele por sua vez é suturada com material inabsorvível. É feito um curativo estéril sobre a incisão e outro compressivo é aplicado. De modo geral não é feito uso de antibióticos. Os exercícios começam 3 dias após a cirurgia de maneira crescente para evitar a formação de aderências. Os pontos são retirados em aproximadamente 14 dias e a atadura é mantida por 24 dias. Após a cicatrização e sem problemas de adesões, alterações extensas no tendão flexor superficial, o prognostico é bom e o animal é liberado para o trabalho, porém havendo aderências ou alterações patológicas diminui a possibilidade de um resultado bem sucedido (TURNER et al, 2002). 3.3.2 Caso clínico 03 – Desmotomia Data: 28/08/06 liii Local: Equine Center Idade: 3,5 anos Sexo: macho Anamnese Tendinite do tendão flexor superficial com garroteamento pelo ligamento anular. Apresentava dor a palpação, aumento de volume e calor. Tratamento Optou-se, então, por uma desmotomia do ligamento anular. Para a sedação foram utilizados 2 mL de acepromazina e 1 mL de xilazina, para a anestesia local 20 mL de cloridrato de lidocaína. Após a tricotomia e a assepsia do local realizou-se uma incisão de 3 cm (Figura 9), o ligamento em questão foi identificado (Figura 11) e com a ajuda de um tenótomo (Figura 10) o mesmo foi seccionado. A sutura de eleição foi a colchoeiro interrompida com fio de seda 1. Este procedimento foi repetido na outra pata. Para o curativo e tratamento medicamentoso, foram utilizados: Bandagem (algodão, gaze e atadura) diariamente, Polivinilpirrolidona degermante, Sulfadiazina de prata spray. Solução a base de 3-Benzilpenicilinas 6 mL duas vezes ao dia durante 5 dias. No dia seguinte, o paciente realizou exercício de caminhar, sendo puxado pelo cabresto, por um período de 11 dias. A retirada dos pontos ocorreu aos 10 dias após o procedimento cirúrgico, porém o curativo foi liv mantido durante mais 4 dias; dessa vez o animal caminhou montado por mais 20 dias completando 31 dias. Desse modo será reavaliado a tendinite com exame ultra-sonografico, se as fibras estiverem alinhadas será feito fomentação com iodo revulsivo durante 2 dias, caminhará mais 1 mês montado completando 60 dias, será liberado para trote durante mais 1 mês; reavaliar-se- á com o exame ultra-sonográfico, se a lesão estiver preenchida o animal será liberado para galopar. FIGURA 9 – PROCEDIMENTO CIRÚRGICO PARA INCISÃO DO MEMBRO ANTERIOR DIREITO lv FIGURA 10 – UTILIZAÇÃO DO TENÓTOMO DURANTE O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO DE DESMOTOMIA FIGURA 11 – EXPOSIÇÃO DO LIGAMENTO ANULAR lvi 3.4 NEURECTOMIA 3.4.1 Revisão de Literatura A neurectomia é usada para o alívio da dor da fratura do osso navicular, doença do navicular e fraturas do apêndice lateral da terceira falange. A técnica cirúrgica consiste em uma incisão de 3 a 4 cm de comprimento, sendo continuada no subcutâneo. A incisão sobre a borda dorsal dos tendões flexores, ajuda o cirurgião a chegar no nervo digital palmar. A identificação da posição da veia, artéria e ligamento também auxiliam a orientação do cirurgião. O nervo digital palmar é identificado pelo seu posicionamento palmar em relação à atéria digital, estando aproximadamente 1 cm abaixo da superfície da pele e mais profundamente que o ligamento de Ergot. O cirurgião deve procurar por ramos acessórios, eles se localizam próximos ao ligamento de Ergot, se forem encontrados, deve-se retirar uma porção de 3 cm com o auxílio do bisturi. A técnica de cobertura epineural é uma maneira de reduzir a incidência de neuroma doloroso. O nervo é identificado e dissecado liberando-o do tecido subcutâneo. A estrutura é identificada se na raspagem sua superfície revelar filamentos longitudinais dos axônios. A secção do nervo de 3 a 4 cm de comprimento é exposta e liberada de toda sua fáscia e tecido conectivo. O nervo é cortado na sua porção distal e erguido da sua incisão. A extremidade do nervo é presa por uma pinça, e o epineuro é refletido por 2 a 3 cm, e duas incisões são feitas através da metade do nervo e em cada lado. O nervo é lvii cortado distalmente a estes cortes e o epineuro é recolocado acima da extremidade cortada e ligada com seda 2-0. O tecido subcutâneo poderá ser fechado com suturas de material sintético absorvível, e a pele é fechada com suturas interrompidas de material inabsorvível. Pós-operatório Não se faz uso de antibióticos, apenas logo após a cirurgia são administrados 2 g de fenilbutazona para minimizar a inflamação. Faz-se o uso de curativo estéril que é mantido por 10 dias, após esse período os pontos são retirados e o animal permanece em repouso por 40 dias. As complicações mais comuns são as formações de neuroma doloroso, ruptura do tendão flexor digital profundo, reinervação e persistência da sensação devido ao fracasso na identificação e secção dos ramos acessórios do nervo, e a perda da parede do casco (STASHAK,1994). 3.4.2 Caso Clínico 04 – Neurectomia Data: 08/08/06 Local: Hípica Santo Amaro Idade: 15 anos Sexo: fêmea Tratamento cirúrgico A cirurgia foi realizada sob anestesia geral, acepromazina para indução e isofluranopara aprofundar. Após a tricotomia, assepsia do local e com o lviii casco isolado, é feita uma incisão de 3 cm, o nervo (Figura 12) é dessecado e retirado num tamanho de pelo menos 3 cm para evitar os neuromas; primeiramente foi seccionado o nervo digital palmar lateral esquerdo e um ramo, medial direito, medial esquerdo e lateral direito (Figura 13). A sutura foi realizada utilizando fio nylon 2.0 com pontos simples interrompidos. Deve-se tomar muito cuidado durante o procedimento e certificar-se que está retirando o nervo digital palmar, pois existem outras estruturas como o ligamento de Ergot, veia e artéria. FIGURA 12 – EXPOSIÇÃO DO NERVO DIGITAL PALMAR lix FIGURA 13 - NERVOS SECCIONADOS E UM RAMO ACESSÓRIO 3.5 PNEUMONIA 3.5.1 Revisão de Literatura Pneumonia é a inflamação do parênquima pulmonar, é geralmente acompanhada por inflamação dos bronquíolos e quase sempre pleuresia. Sua manifestação clinica se dá por um aumento na freqüência respiratória, tosse, sons respiratórios anormais à auscultação e, quando por pneumonia bacteriana evidencia de toxemia. Além dos agentes infecciosos, há outros fatores que predispõe a suscetibilidade do animal. A pneumonia pode ser causada por vírus, bactéria ou por uma combinação de ambos, fungos, parasitas metazoários e agentes físicos e químicos. Grande parte das pneumonias é de origem broncogênica, e outras propagam-se por via hematogênica. Para o tratamento podem ser usados antibacterianos específicos dependendo do resultado do antibiograma, também antimicrobianos de ação prolongada ao invés de administrá-lo diariamente como os de curta ação. Não lx há tratamento específico para as pneumonias a vírus, geralmente são complicadas por infecções bacterianas secundárias, é comum tratá-las com antibacterianos até que se verifique a recuperação. Tem sido empregado corticóides devido a seu efeito antiinflamatório no tratamento de pneumonia aguda, porém não há evidência clínica de que seja um tratamento benéfico. Broncodilatadores e as drogas antiinflamatórias não- esteroidal estão sendo avaliados como terapia adjuvante no tratamento da pneumonia. O tratamento de apoio pode incluir oxigênio nos estágios críticos ou quando a hipoxia é grave. Os expectorantes podem ser úteis nos casos crônicos e durante a convalescença ( BLOOD et al, 1991). 3.5.2 Caso Clínico 05 - Pneumonia Data: 27/08/06 Local: Equine center Idade: 5 anos Sexo: fêmea Anamnese A égua ia viajar para o Rio de Janeiro na semana do dia 27/07/06, porém apresentou sinais de febre e havia alteração na auscultação pulmonar Exame complementar - ultra-som (US) Dia 27 de julho de 2006 Tórax direito: presença de áreas de consolidação no 6º e 7º espaço intercostal (EIC), e comet tails em todo campo pulmonar (Figura 14). lxi Tórax esquerdo: leve efusão no 7º EIC, pequena quantidade de comet tails no 8ºEIC Diagnóstico: Pneumonia leve Tratamento: Penicilina e gentamicina duas vezes ao dia durante 5 dias Dia 10 de agosto de 2006 Animal continuava apresentando tosse Tórax direito: presença de comet tails no 6º e 7º EIC e mineralização no 8º EIC (Figura 15). Tórax esquerdo: discretos comet tails no 6º e 7º EIC Diagnóstico: Pneumonia leve Tratamento: Penicilina e gentamicina 2 vezes ao dia durante 5dias Dia 18 de gosto de 2006 Tórax direito: presença de áreas de consolidação pulmonar maiores no 6º EIC Diagnóstico: Pneumonia. Tórax esquerdo: discretos comet tails no 6º e 7º EIC (Figura 16). Tratamento: Ceftiofur sódico durante 8 dias Dia 26 de agosto de 2006 Tórax direito: alargamento dos comet tails no 6º e 7º EIC (Figura 17). Diagnóstico: Pneumonia Tórax esquerdo: alguns comet tails Aguardou-se mais 1 semana para repetir o exame. lxii Dia 04 de setembro de 2006 Tórax direito: alargamento dos comet tails no 6º EIC (Figura 18) Tórax esquerdo: alguns comet tails FIGURA 14 - EXAME US MOSTRANDO ÁREAS DE CONSOLIDAÇÃO DE ALGUNS COMET TAILS NO 6º EIC. FIRURA 15 – EXAME US MOSTRANDO ÁREAS DE MINERALIZAÇÃO NO 8ºEIC lxiii FIGURA 16 - EXAME US MOSTRANDO LEVES COMET TAILS NO 6ºEIC FIGURA 17 – EXAME US MOSTRANDO ALARGAMENTO DOS COMET TAILS NO 6º EIC lxiv FIGURA 18 - EXAME US MOSTRANDO ALARGAMENTO DOS COMET TAILS NO 6º EIC 3.6 LESÃO OCULAR 3.6.1 Revisão de Literatura A laceração da córnea geralmente está acompanhada por uma iridociclite, para o tratamento dessa laceração é usado topicamente antibiótico de amplo espectro, soro do próprio animal e antiinflamatório não esteroidal sistêmico. Uma laceração muito profunda requer uma reparação cirúrgica, ou uma sutura da córnea. As complicações da laceração incluem: infecção, prolapso da íris, formação de catarata e iridociclite persistente. O prognostico cirúrgico depende do tamanho da lesão, se há infecção e hemorragia. Geralmente a enucleação é indicada nesses casos. O humor aquoso é um líquido transparente, composto por água e cloreto de sódio, produzido pelo corpo ciliar que preenche toda a câmara anterior do lxv olho; qualquer alteração na sua formação ou drenagem altera esta tensão podendo causar glaucoma. Hifema é a hemorragia da câmara anterior do olho, ocorre quando a úvea ou a retina são dilaceradas. Hifema traumático está geralmente associado à uma hemorragia subconjuntival e da órbita. Para o tratamento recomenda-se carprofen via oral, atropina 1% midriaticos, corticosteróide tópico e sistêmico, é importante também confinar o animal em uma cocheira pequena e silenciosa para minimizar sua atividade e as chances de ocorrer uma hemorragia recorrente. O corticosteróide tópico e sistêmico é administrado por 10 a 21 dias e a atropina é instilada duas a 4 vezes por dia para estimular a midriase e, quando a dilatação estiver normalizando a freqüência diária do medicamento é diminuída para 1 ou 2 vezes ao dia e quando a hemorragia já estiver sido reabsorvida o tratamento pode ser descontinuado. Hipópio são células inflamatórias na câmara anterior, pode ser tratado com corticóide tópico e/ ou subconjutival de ação rápida, como a dexametazona. A panoftalmite é uma inflamação envolvendo todas as estruturas do olho, causa graus variáveis de desnutrição da retina e úvea, formação de abscessos no corpo vítreo e deposição de exsudato na câmara anterior; a extensão da inflamação através da esclera produz tenonite e celulite orbitária. As formas agudas são mais freqüentes devido à introdução de bactérias por lacerações, corpos estranhos intra-oculares, extensão de infecções corneais por ulceração e perfuração da córnea, procedimentos cirúrgicos e septicemias com metástases bacterianas para o coróide e a retina (RENDER e CARLTON, 1998). O tratamento inclui injeções de antimicrobianos que são feitas na lxvi câmara anterior, antibiótico sistêmico e em alguns casos a enucleação se faz necessária. 3.6.2 Caso Clínico 06 – Lesão Ocular Data: 12/07/06 Local: Jockey Club de São Paulo Idade: 4 anos Sexo: macho Anamnese Na volta do treino, o animal se assustou, disparou e sofreu uma queda batendo num carrinho de golf. Houve uma laceração da córnea com extravasamento do humor aquoso que evoluiu para um hifema, posteriormentehipopio, panoftalmite e cegueira; conforme ilustrado nas Figuras 19, 20, 21 e 22. Tratamento Fase 1 7 dias de solução a base de 3 Benzilpenicilinas, 8 dias de gentamicina, 4 dias de flumixin melgumina; Intra ocular – durante 20 dias: lavagem com solução de n-acetil cisteina 1%, plasma do próprio animal, lxvii tobramicina pomada, atropina colírio Fase 2 5 dias de gentamicina, 8 dias de ceftiofur Intra ocular - lavagem com solução de n-acetil cisteina 1%, plasma do próprio animal, tobramicina pomada, atropina colírio, ciprofloxacina sulfato de condroitina FIGURA 19 - LESÃO DA CÓRNEA NO DIA 26/08/2006 lxviii FIGURA 20 - LESÃO OCULAR NO DIA 31/08/2006 FIGURA 21 - LESÃO OCULAR NO DIA 06/09/2006 FIGURA 22 - LESÃO OCULAR NO DIA 16/09/2006 lxix 3.7 TERMOCAUTERIZAÇÃO 3.7.1 Revisão de Literatura Esta é a forma mais intensa de contra-irritação, muitas vezes é empregada após os procedimentos menos invasivos que falharam, e algumas vezes é empregada em regiões onde apresentam alta incidência de problemas, porém não há evidencias para apoiar seu uso profilático. A intenção da ponta de fogo é causar um processo inflamatório agudo nas inflamações crônicas. A idéia é que a hiperemia aumentada no interior dos tecidos doentes resultariam um cura mais rápida, sendo o resultado final uma formação de tecido cicatricial e menor irrigação sanguínea, restringindo o movimento se o cautério for aplicado sobre uma articulação. A cauterização em linha nunca penetra completamente na pele, por isso os eu uso vem sendo questionado, pois algumas pessoas acreditam que a espessura aumenta a pele, agindo como apoio dos tecidos subjacetes. Este não é um agente terapêutico bem empregado na medicina veterinária, entretanto as razões alegadas para a utilização são: capacidade de melhorar a cicatrização, reabsorção de cálcio, produzir tecido cicatricial para apoiar a região, dessensibilização local e acelerar a artrodese de pequenas articulações no interior do carpo ou tarso. Provavelmente, o aspecto mais benéfico seja o repouso forçado. Este procedimento é utilizado geralmente nos casos de danos aos tecidos moles, principalmente quando em torno de uma articulação, ligamento e tendão, carpites, atrites crônicas, exostoses, tendossinovites e lxx tendinites, sesamoidites, esparavão ósseo, sobrecanas e doença metacárpica dorsal (MCILWRAITH, 2002). 3.7.2 Caso Clínico 07 – Termocauterização Data: 24/07/06 – 15/09/06 Local: Equine Center Idade: 4anos Sexo: macho Anamnese Ao realizar exame de rotina, o animal apresentou dor a palpação nos joelhos. Exame radiográfico Dia 24 de julho de 2006 Joelho esquerdo apresentou: Osteófito médio crônico no lábio articular do osso intermédio carpiano face cranial a crânio lateral, Osteófito médio crônico com subfragmentação no lábio articular distal do osso carpo radial face crânio medial, Rarefação óssea, Condrose na superfície articular proximal do osso terceiro carpiano face cranial Joelho direito apresentou: lxxi Osteófitos médios crônicos nos lábios articulares distal do médio face crânio lateral proximal e distal do osso carpo radial face crânio medial, Rarefação difusa na superfície articular proximal do osso terceiro carpiano face cranial. Dia 26 de agosto de 2006 – Infiltração Joelho esquerdo: acetato de triancinolona 6,0mg Canela direita: equipin 10mL Dia 29 de agosto de 2006 - Exame Clínico Animal fracassou na corrida, ao exame apresentou dor a palpação nos joelhos Dia 15 de setembro de 2006 - Termocauterização –Ponta de Fogo Após feita a tricotomia, assepsia do local e sob anestesia local, cloridrato de lidocaína, foi realizado a termocauterização diagonalmente no joelho esquerdo e direito. Os pontos foram feitos numa distância menor que 1 centímetro, atingindo uma profundidade suficiente, aproximadamente 0,5 centímetros (Figura 23). O tratamento curativo foi realizado durante 3 dias utilizando iodo 20% sobre a lesão, posteriormente 4 dias de iodo 10% associado a sulfadiazina de prata spray, após 20 dias, no lugar onde foi realizada a ponta de fogo. Como conseqüência a derme se soltará pela aplicação de iodo. Nesta fase, o uso de nitrofurasona 2% pomada torna-se necessário para facilitar a remoção da crosta e a ferida, então, cicatrizará por segunda intenção. lxxii O animal deve permanecer em repouso durante 2 meses, nos primeiros 15 dias parado, após deve caminhar puxado, ao completar o período de repouso, o animal é reavaliado para ser liberado para o trote e galope. FIGURA 23 – UTILIZAÇÃO DE TERMOCAUTÉRIO PARA REVERSÃO DE DISTÚRBIOS ARTICULARES 3.8 OSTECTOMIA 3.8.1 Revisão de Literatura A amputação dos pequenos ossos metacárpicos e metatársicos é indicada quando há fraturas. Geralmente o local da fratura encontra-se na metade distal do osso. A claudicação pela fratura normalmente é leve, podendo ser até um achado radiológico. Para esta cirurgia é recomendada anestesia geral e decúbito lateral, um torniquete facilita a cirurgia. O local cirúrgico é lxxiii raspado e preparado para a cirurgia asséptica. Este procedimento necessita de um osteótomo curvo, um cinzel e um martelo. Uma incisão de comprimento variável é feita sobre o osso metacárpico ou metatársico, estendendo-se distalmente até a extremidade distal da fratura. A extremidade distal do osso afetado é escavada com auxilio de dissecação para liberar a fáscia circundante. Em seguida a extremidade é agarrada com um fórceps. Com a ajuda de um osteótomo ou um cinzel o fragmento é amputado. Este osso assim como o periósteo circundante deve ser removido com o auxilio de uma cureta, as bordas devem ser aparadas para evitar borda aguda e, quaisquer fragmentos soltos devem ser retirados ou lavados do campo cirúrgico. Após a remoção, o tecido subcutâneo deve ser fechado com uma sutura absorvível sintética. A pele deve ser fechada com uma sutura absorvível monofilamentar, aplicando a sutura interrompida simples. A incisão é revestida por um curativo não aderente e colocado sob um curativo compressivo (TURNER, 2002). 3.8.2 Caso Clínico 08 – Ostectomia Data: 04/08/06 Local: Hospital do Jockey Club de São Paulo Idade: 6 anos Sexo: macho Anamnese lxxiv No dia 24 de agosto de 2006 foi realizado exame radiográfico, pois o animal apresentava dor à palpação e aumento de volume na região do osso matacarpo principal. Boleto anterior esquerdo: Aumento de volume de tecidos moles face medial, Osso primeira falange apresenta em seu terço proximal fragmentação menor face dorsal, Fratura no terço médio a distal do osso quarto metacarpiano, alinhada levemente deslocada. Tratamento cirúrgico Ostectomia do quarto osso metacarpiano realizado no dia 04 de setembro de 2006. Após a sedação com acepromazina e isoflurano como inalatório, o membro foi raspado, garroteado para promover a homeostasia. Antes do procedimento cirúrgico, foi feita assepsia com polivinilpirrolidona degermante, álcool iodado e polivinilpirrolidona tópico. O procedimento cirúrgico constituiu de uma incisão de 9 centímetros com o auxílio de bisturi externo, duas pinças Allis, 1 pinça hemostática Péan curva,1 bisturi interno, 1 pinça dente de rato, 1 cureta de Burnoval e 1 bisturi elétrico (Figura 24). Foi retirado o fragmento de aproximadamente 7 cm. A sutura do subcutâneo foi com material absorvível, pontos simples interrompidos e a pele com material inabsorvível ponto simples interrompido. Uma bandagem estéril (algodão, gaze e atadura) foi aplicada sobre a ferida. lxxv FIGURA 24 – PROCDIMENTO CIRURGICO PARA OSTECTOMIA – I FIGURA 25 - PROCDIMENTO CIRURGICO PARA OSTECTOMIA - II lxxvi FIGURA – 26 ESQUÍROLA ÓSSEA RETIRADA DURANTE O PROCEDIMENTO DE OSTECTOMIA lxxvii 4 CONCLUSÃO O estágio obrigatório realizado na clínica Equine Center localizada no Jockey Club de São Paulo, foi benéfico quanto a minha formação como médica veterinária, acrescentando conhecimento na área de eqüinocultura. Participei de todas as atividades realizadas na clínica, assim como visitei outros grupos no próprio Jockey Club de São Paulo, alguns haras e hípicas, acompanhando as diversas modalidades de atendimento. Tive a oportunidade de verificar que, às vezes, a literatura preconiza um determinado procedimento e que na prática pode diferir. Há casos em que se usa o senso lógico ou até improvisa-se para obter melhor resultado, o que por muitas vezes é eficaz; outras vezes a relação de custo benefício para o proprietário do animal não é satisfatório, levando-o a optar por tratamentos não convencionais; ocorre também diferentes práticas entre profissionais da mesma área; e até mesmo diferença entre as literaturas. No estágio tive oportunidade de aprender todas as práticas mencionadas neste trabalho; clínica médica, cirúrgica, diagnóstico por imagem e ensinamentos teóricos. De modo geral a avaliação do desenvolvimento do estagio foi boa, porém ressalta-se que como auxiliar no médico veterinário realizei apenas as atividades não invasivas aos animais. lxxviii REFERÊNCIAS BLOOD,D.C.; RADOSTITS,O.M. Clínica Veterinária. 7ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. 1263p BROOKS, D.E. Oftalmologia para Veterinários de Eqüinos. 1ed. São Paulo: Roca, 2005. 144p BROOKS,E.D. Equine Ophtalmology. In: GELATT,K.N.Veterinary Ophtalmology. 3ed. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, 1999. p. 1053- 1117. CARNEIRO,L.F. Serviço de Oftalmologia Veterinária. Disponível em: www.compuland.com.br/oftalvet/glossar.htm. Acesso em: 17/10/2006. KRUININGEN,H.J.V. Sistema Gastrointestinal. In: CARLTON,W.W.; MCGAVIN,M.D. Patologia Veterinária Especial de Thomson. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 1998 p. 13- 94. MCILWRAITH,C.W. Doenças das Articulações, Tendões, Ligamentos e estruturas relacionadas. In: Claudicação em Eqüinos Segundo Adams. 4ed. São Pailo: Roca, 2002. p350-502. MOORE,C.P.; COLLINS,B.K.; Diseases and Surgery of the Canine Anterior Uvea. In: GELATT,K.N. Veterinary Ophtalmology. 3ed. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins, 1999. p.755-796. MÜELLER,M.E.W. Oftalmo News. Disponível em: www.oftalmonews.com.br. Acesso em: 17/10/2006. RENDER,J.A.; CARLTON,W.W. Patologia do Olho e do Ouvido. In: CARLTON,W.W.; MCGAVIN,M.D. Patologia Veterinária Especial de Thomson. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 1998 p. 590-636. STASHAK,T.S. Claudicação. In: Claudicação em Eqüinos Segundo Adams. 4ed. São Paulo: Roca, 2002. p503- 821 TURNER, A. S. Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte. 1ed. São Paulo: Roca, 2002. 341p WHITE II,N.A.; MOORE,J.M. Current Practice of Equine Surgery. Philadelphia: J.B. Lipincott.
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