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O proveito que se pode auferir das coisas é por meio da utilização de sua posse, seja esta direta ou indireta, não basta, portanto, que a ordem jurídica fixe princípios e regras sobre o direito de propriedade; é fundamental também que estabeleça o ordenamento da posse. O Direito Civil pátrio, pelo art. 1.196 do Código Civil, adotou a teoria da posse exposta por Ihering. Diz o citado artigo: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Tais poderes são: de uso, gozo, disposição e o de reaver a coisa de quem injustamente a possua. Em caso de esbulho, turbação ou ameaça, a posse é objeto de tutela judicial mediante as ações, respectivamente, de reintegração, de manutenção e de interditos possessórios. No ato de injusta violação da posse, o titular desta pode usar, incontinenti, a força em defesa de seu direito. A proteção rogada em juízo pode ser atendida liminarmente, independente da comprovação do direito à posse. Há uma presunção relativa de que a posse violada ou ameaçada se reveste de justo título. A posse está regulada nos artigos. 1.196 a 1.224 do Código Civil. O vocábulo posse é empregado diversamente em nosso ordenamento. No Direito das Coisas significa “exercício, pleno ou não, de algum dos poderes essenciais à propriedade”. No Direito de Família, a expressão posse do estado de casado significa vida em comum de pessoas não casadas. No Direito Administrativo, posse é ato de investidura em cargo público. O vocábulo quase-posse é referência ao exercício de algum poder sobre a coisa alheia, como o do usufruto. Os termos propriedade e domínio são tomados como equivalentes, mas há quem atribua sentido mais extenso ao primeiro, para abranger também os bens incorpóreos. O atual Código Civil emprega apenas o termo propriedade. Havemos de distinguir o ius possessionis (direito de posse) do ius possidendi (direito à posse). Quanto aos tempos primitivos, não há certezas, apenas conjeturas. Já em Roma, a posse, para ser protegida, devia reunir dois elementos, quais sejam: a) possessio naturalis, formada pelo poder físico sobre a coisa; b) o animus ou affectio possidendi, ou seja, a intenção de manter a coisa para dela se utilizar. As teorias de Savigny e Ihering. Para Savigny, a posse constitui um simples fato, mas com consequências legais. A posse reúne dois elementos: a) corpus, que é o poder físico sobre a coisa; b) animus, que significa o propósito de manter a coisa como se dono fora. Se faltar o elemento animus, ter-se- á a mera detenção. Para Ihering, o jurisconsulto Savigny teria cometido um erro ao considerar a posse um fato. Para Ihering, a posse consiste na prática de algum dos direitos essenciais à propriedade, independentemente da intenção do possuidor. Natureza da posse. Para alguns autores, a posse constitui um fato, pois a proteção possessória não exige o domínio. A crítica a esta concepção argumenta: se fosse um simples fato, não haveria ilícito em sua violação. A posse seria mais do que um fato, pois também um direito subjetivo. Uma terceira posição, a de Ihering, é a de quem entende que a posse não é um fato, mas um direito. Detenção. O conceito de detenção envolve dois elementos: a disponibilidade física da coisa e a sua conservação em nome de outrem. Posse e detenção são, pois, conceitos distintos. Quem possui uma não detém a outra. O detentor não dispõe da proteção de ação possessória, nem adquire o domínio pela usucapião. Contra o detentor, o proprietário pode ajuizar ação reivindicatória(caput do art. 1.228, do CC). Curso de Direito Civil, Direitos das Coisas, Vol. 4, Paulo Nader, 2016
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