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Alexandre Matos - A complexidade no estudo do controle motor humano

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A COMPLEXIDADE NO ESTUDO DO CONTROLE MOTOR HUMANO
Alexandre Matos1 amatos@fase-se.edu.br
Cristiano Sena1 cristianosena@gmail.com
Francisco Antônio Pereira Fialho2 fapfialho@egc.ufsc.br
Irlândia Ramos Araújo1 irlandia@egc.ufsc.br
Milena Alves Medrado1milamedrado@terra.com.br
Rosângela Martins Gueudeville1 rosangela@egc.ufsc.br
Resumo
A evolução das teorias que procuram explicar o controle motor partiu do pensamento 
cartesiano positivista e caminharam para uma abordagem mais ampla e holística. Nas 
teorias do controle motor mais atuais como a teoria ecológica é possível notar a 
preocupação com os fatores ambientais e cognitivos. O objetivo deste artigo é entender 
o organismo humano e para tal foi realizado uma revisão bibliográfica em livros e 
artigos. Como resultado verificou-se que o controle motor humano dever ser 
compreendido como um sistema complexo e como tal está sujeito a uma organização 
baseada na dinâmica não linear. Assim este artigo colabora para uma melhor 
compreensão do movimento e em especial das teorias do controle motor.
Palavras-chave: Controle Motor; Movimento; Complexidade.
INTRODUÇÃO
O movimento é a mudança de posição ou postura que envolve gasto energético, 
controle e produção de força (HAMILL, 1999). De uma maneira geral o movimento 
humano pode ser entendido como uma comunhão de vários sistemas orgânicos: 
neurológico, biomecânico e bioquímico em associação com as características 
ambientais.
O controle motor responsável pelo movimento humano vem sendo analisado por 
muitos estudiosos na tentativa de descrever como o movimento é adquirido, 
desenvolvido e durante o ato motor como ele é planejado e executado. Para tal, muitas 
teorias foram elaboradas na tentativa de explicar de que forma os movimentos são 
controlados, ou seja, como ocorre o Controle Motor.
1
METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, artigos, revistas, dissertações, 
teses e sites sobre o Controle Motor Humano, Complexidade e Movimento.
Teorias do Controle Motor
Estas teorias são um grupo de hipóteses ou idéias que tentam descrever a 
interação dos sistemas orgânicos e o ambiente na elaboração e controle do movimento. 
Teoria do Reflexo
Nesta teoria os reflexos são considerados a unidade básica do movimento, 
assim os movimentos mais complexos seriam formados por uma junção de reflexos. 
(FREDERICKS, 1996).
Um exemplo desta teoria seria o sapo que ao ver uma mosca, desencadeia um 
estímulo, que produz a ativação reflexa do impulso da língua para capturar a mosca, o 
que corresponde à resposta, caso seja realmente capturada (SHUMWAY-COOK E 
WOOLLACOTT, 2003). Entretanto, esta teoria possui diversas limitações, pois não 
explica os movimentos voluntários e os movimentos que acontecem na ausência de um 
estímulo sensorial.
Teoria Hierárquica
A teoria hierárquica propõe que no Sistema Nervoso existe uma hierarquia, onde 
os centros superiores (córtex, áreas motoras frontais e áreas responsáveis pela 
consciência) comandam os centros inferiores (medula espinhal e nervos cranianos). 
Umphred (2004) relata que nesta teoria o centro superior contém toda a informação 
necessária para o movimento e pode ou não usar o feedback externo ou interno para 
regular o movimento. 
Conforme esta teoria os centros superiores e inferiores não interagem, não 
existindo controle de baixo para cima e apenas de cima para baixo. Alguns 
pesquisadores uniram as teorias acima citadas, formando a teoria reflexo-hierárquica, 
sugerindo que o controle motor ocorre devido a reflexos organizados hierarquicamente 
no sistema nervoso, mas não esclarece a dominância do comportamento reflexo que 
acontece em algumas situações como no exemplo da pisada em um prego que leva a 
uma resposta reflexa estereotipada de retirada imediata da perna.
2
Teoria da Programação Motora
Indica que o movimento acontece devido a programas motores que são ativados 
por processo central e estímulo sensorial, assim pode ocorrer na ausência de uma ação 
reflexa. 
Bernstein (1967 apud SHUMWAY-COOK E WOOLLACOTT, 2003) um dos 
criadores desta teoria, descreve sua limitação, para ele o programa central não pode 
ser considerado a única determinante da ação motora, uma vez que dois comandos 
iguais para uma região específica do corpo pode produzir movimentos diferentes, por 
exemplo a flexão do joelho pode ser executada ou controlada por ações musculares 
diferentes a depender se o pé estiver fixo no solo a flexão é controlada por uma ação 
muscular excêntrica do quadríceps e se estiver com a extremidade inferior livre a flexão 
é produzida por uma contração dos músculos isquiotibiais.
Teoria dos Sistemas
Sugere que vários sistemas atuam no controle motor, tanto os componentes internos 
como musculares, neurais quanto externos, gravidade e inércia e que diferentes 
comandos podem resultar no mesmo movimento (FREDERICKS, 1996). 
Uma grande limitação desta teoria é o não aprofundamento na interação do organismo 
com o ambiente. 
Teoria da Ação Dinâmica
Aborda variáveis denominadas parâmetros de controle, que segundo esta teoria, 
regulam as alterações no comportamento de todo o sistema. Uma alteração critica 
destas variáveis em um dos sistemas induz a um novo movimento. Este ponto crítico 
seria o limite máximo que os sistemas suportariam naquele determinado movimento 
quando então haveria a transição para um novo estágio de movimento. 
Esta teoria faz referência ao estado atrator que seria aquele padrão preferido do 
movimento, que poderia ser entendido como aquele ritmo preferido para realizar as 
atividades da vida cotidiana. Por exemplo, poderíamos caminhar com diversos tipos de 
velocidade de macha, mas normalmente caminhamos em um ritmo preferido que é 
individual e pode variar segundo exigências ambientais.
Shumway-Cook e Woollacott (2003) relatam que uma limitação deste modelo 
pode ser a suposição de que o Sistema Nervoso cumpre uma função 
3
consideravelmente irrelevante e que a relação entre o sistema físico do animal e o 
ambiente no qual ele funciona determina principalmente o comportamento do animal.
Teoria Ecológica
Surgida em 1960 com estudos do psicólogo James Giibson, que pesquisou as 
interações do sistema motor com o meio ambiente (GIBSON, 1986). Esta teoria 
posteriormente desenvolvida por dois alunos de Gibson foi conhecida como teoria 
ecológica do controle motor e caracterizada pela grande ênfase à percepção que ao 
contrario das demais teorias que apontavam a sensação como fator mais importante no 
controle motor. Segundo Shumway-Cook e Woollacott (2003), a perspectiva ecológica 
ampliou o nosso conhecimento sobre o Sistema Nervoso Central que deixou de ser 
considerado um sistema sensório-motor que reage às variáveis ambientais e 
transformou-se em um sistema de percepção/ação capaz de explorar ativamente o 
ambiente, a fim de satisfazer seus próprios objetivos.
As teorias de controle motor possuem limitações decorrentes do momento 
histórico em que foram desenvolvidas e do paradigma aceito na sua criação, por 
exemplo, as primeiras teoria se encaixam no paradigma newtoniano-cartesiano, 
tradicional, que dividia o todo em partes e as teorias da ação dinâmica e a teoria 
ecológica trazem uma abordagem mais atual, na qual o ambiente pode limitar ou 
influenciar a atividade funcional. 
Contudo, percebe-se que a teoria da ação dinâmica não destaca o organismo 
como um sistema complexo que está sujeito à dinâmica não-linear existente na relação 
entre a estruturae o processo relativos ao movimento humano principalmente em 
relação à questão da subjetividade como por exemplo a consciência. A única teoria que 
mais se aproxima da abordagem à experiência subjetiva é a teoria ecológica ao dar 
ênfase à percepção em vez da sensação.
Para compreender como a teoria da complexidade pode influenciar e fornecer bases 
conceituais para maior conhecimento das atuais teorias do controle motor é necessário 
entender como surgiu a idéia complexa a partir do pensamento simplificador.
Pensamento Simplificador
Segundo Morin, 1995, o pensamento simplificador está baseado na confiança 
absoluta da lógica para estabelecer as verdades da sua teoria. René Descartes no 
4
século XVII baseado no ideal separatista e reducionista procurou explicar a natureza 
das coisas e assim dividiu em mente ou coisa pensante (res cogitans) e matéria ou 
coisa extensa (res extensa). Ele ordena a separação do objeto do meio, da ordem da 
desordem, das disciplinas das ciências, da ciência da filosofia. Estas foram as bases 
conceituais da teoria cartesiana que norteou por muito tempo a ciência e a filosofia 
ocidental.
A partir disto, entende-se porque não existem teorias completas, pois há 
inúmeros fatores a se considerar, principalmente quando se reconhece que o ser 
humano é um sistema aberto e está sujeito a influências externas.
Hoje os cientistas se deparam com o paradigma da complexidade e por assim ser ainda 
se encontra relutância em seu aceito pela dificuldade que alguns cientistas têm em 
adotar a estrutura não-linear da teoria da complexidade. 
A Complexidade
Para Morin (1995) a Complexidade é uma forma de compreender o mundo, 
tendo a capacidade de integrar no real as relações que sustentam a co-existência entre 
os seres no universo, possibilitando o reconhecimento da ordem e da desordem, do uno 
e do diverso, da estabilidade e da mudança. As idéias de ordem, desordem e 
organização necessitam ser pensadas em conjunto e surgem de diferentes pontos de 
vista.
Assim, a idéia de ordem, desordem e organização demonstra o antagonismo e a 
complementaridade que se encontra na complexidade. Morin (1998) coloca também 
que o funcionamento do ser vivo tolera, até certos limites, uma parte de desordem, de 
ruídos, de erros. A degradação contínua das moléculas e das células de um organismo, 
por exemplo, é a desordem permanente. 
Princípios da complexidade
Sete princípios básicos são colocados por Morin (2000), os quais são 
complementares e interdependentes.
O primeiro princípio denominado sistêmico ou organizacional associa o 
conhecimento das partes ao conhecimento do todo, sendo que o todo é igualmente 
mais e menos que a soma das partes.
5
O segundo princípio é o holográfico, o qual demonstra que a parte está no todo, 
como o todo está na parte, ressaltando que cada parte possui sua singularidade e sua 
individualidade, além de conter o todo. Por exemplo, as células do corpo humano que 
possuem a informação genética do corpo, mas não é em si o corpo.
O terceiro princípio, a retroatividade, aceita o conhecimento dos processos auto-
reguladores, rompe com o princípio da causalidade linear, no qual a causa age sobre o 
efeito e o efeito sobre a causa.
O quarto princípio, a recursividade, refere-se ao circuito gerador, em que os 
produtos e os efeitos são causadores e produtores do que se produz. Como exemplo, 
o ciclo da reprodução, que produz seres vivos que reproduzem o ciclo de vida da 
reprodução. 
O quinto princípio, a autonomia/dependência, relata que os seres vivos são 
autônomos, mas esta autonomia depende do meio exterior, por isso são seres auto-
eco-organizadores.
O sexto princípio é o dialógico, o qual se refere a duas lógicas, pois um 
fenômeno complexo une duas noções que tendem a excluir-se reciprocamente e ao 
mesmo tempo são indissociáveis em uma mesma realidade, como a ordem, a 
desordem e a organização.
O sétimo princípio é a re-introdução do conhecimento em todo conhecimento, ou 
seja, todo o conhecimento é uma reconstrução de um conhecimento prévio. 
Sistemas Complexos e a dinâmica não linear
Os sistemas complexos não são lineares, envolvem muitos componentes, 
apresentam uma dinâmica de interação entre eles, dando origem a um número de 
níveis ou escalas que exibem comportamentos comuns, apresentando processos de 
emergência e auto-organização.
Segundo Axelrod (2000), “complexidade” não denota simplesmente “muitas 
partes em movimento”. Ao contrário, indica que o sistema consiste de partes as quais 
interagem de forma que influenciam fortemente o sistema como um todo. A 
complexidade normalmente resulta em características que são propriedades do sistema 
que as partes separadas não tem. Por exemplo, nenhum neurônio tem consciência, 
mas o cérebro humano tem consciência como uma propriedade emergente. 
6
Conforme Capra, 1997, a dinâmica não-linear é a nova matemática da 
complexidade que permite um número limitado de forma e funções possíveis, que são 
descritos matematicamente pelos atratores – padrões geométricos complexos que 
representam as propriedades dinâmicas do sistema. Para o matemático Stewart, 1998 
a dinâmica não-linear será um dos campos mais frutíferos da ciência nos próximos 
anos, no qual a matemática traduzirá a necessidade de compreender a organização do 
mundo vivo.
Para entender a complexidade natural ao organismo humano, o primeiro passo é 
procurar compreender como a complexidade tendo como base a teoria da autopoiese 
explica a formação de redes de relacionamento e o surgimento de formas e funções 
biológicas. Conforme Capra, (2002) o sistema autopoiético é aquele que sofre 
mudanças estruturais continuas ao mesmo tempo em que conserva seu padrão de 
organização em teia. Os componentes da teia continuamente produzem e transformam 
uns aos outros, e os fazem de maneiras distintas. 
Assim, os sistemas vivos são sistemas fechados quanto à sua organização e por 
isso são redes autopoiéticas, mas aberto do ponto de vista material e energético, uma 
vez que necessita de matéria e energia do ambiente e devolve estes elementos na 
forma de excrementos.Quando o fluxo de energia aumenta o sistema pode chegar a 
uma instabilidade que Capra chama de ponto de bifurcação, o qual pode resultar em 
um estado totalmente novo, em que podem surgir novas estruturas e novas formas de 
ordem. O fenômeno do surgimento espontâneo é reconhecido como a origem dinâmica 
do desenvolvimento, do aprendizado e da evolução. Assim, a geração de formas novas 
é uma das propriedades dos sistemas vivos que é uma característica essencial dos 
sistemas abertos. 
O conhecimento da teoria da complexidade nos permite dizer que não é possível 
mais explicar os fenômenos biológicos a luz simplista da física e da bioquímica sem 
levar em consideração a dinâmica não-linear dos sistemas complexos. Por exemplo, o 
ato motor humano, o foco deste estudo, não deve ser entendido apenas como uma 
função apenas dos sistemas neurológicos e biomecânicos. Na verdade o controle motor 
é oriundo da dinâmica não-linear complexa das redes que envolvem os sistemas 
neurológicos e biomecânicos em constante relação com seu ambiente.
7
Desta forma a ciência que busca estudar fenômenos biológicos como o controle 
motor deve reconhecer a importância da analise da experiência viva, ou seja, da 
subjetividade que envolve os agentes. E isso representa mais uma quebra de 
paradigma uma vez que nega a visão cartesiana de separação do corpo da mente. É 
com este pensamentoque as teorias do controle motor evoluíram e chegaram as atuais 
teorias da ação dinâmica e ecológica
Para uma melhor compreensão da complexidade no controle motor e avançar 
num aspecto pouco abordado pela teoria da ação dinâmica e mais amplamente pela 
teoria ecológica é necessário entender a relação do corpo e da mente em especial no 
estudo da consciência. 
Corpo, mente e consciência
Por mais que as teorias tenham modificado, uma questão sempre motivou os 
pesquisadores: a relação entre o corpo e a mente. Segundo Capra (2002), o avanço 
decisivo da concepção sistêmica da vida foi o abandono da visão cartesiana da mente 
como uma coisa e ter percebido que mente e consciência são processos.
Uma das teorias que surgiram a partir desta visão sistêmica foi difundida na 
década de 70 pelos biólogos Humberto Maturana e Franscisco Varela e é conhecida 
como a teoria da cognição de Santiago. A idéia central desta teoria é reconhecer que a 
cognição é um processo essencial da vida. As interações de um organismo vivo com 
seu ambiente são interações cognitivas. Assim a cognição envolve todos os processos 
da vida, percepção, emoção, aprendizado, comportamento e por assim ser também o 
movimento humano.
Sendo o organismo humano um sistema aberto e autopoiético ele está sujeito a 
influencia ambiental e como resultado desta interação está submetido a constantes 
mudanças que refletem no desenvolvimento do homem. Um exemplo claro é o sistema 
nervoso do homem.
 A estrutura do sistema nervoso supra segmentar tem em sua característica a 
neuroplasticidade que pode ser entendida como a capacidade que os neurônios 
possuem de assumir novas funções a partir do uso e reuso de estímulos adequados a 
uma tarefa. Isto fica evidente nos casos de lesão cerebral como, por exemplo, um 
trauma crânio-encefálico. Durante o processo de reabilitação, verifica-se uma mudança 
8
estrutural para observar uma mudança funcional, uma vez que, a função motora 
pertencente a área de tecido cerebral morta pode ser substituída por uma nova área, 
mesmo que esta nunca tenha sido usada para tal. Esta capacidade (neuroplasticidade) 
ocorre na dependência de estímulos e do treinamento adequados destas funções 
“perdidas” ( ARRIBAS et al, 2006).
O grande fator estimulante que favorece a neuroplasticidade parece ser mesmo 
o inter-relacionamento do indivíduo com o seu ambiente. Porem há que se ver que os 
sistemas vivos são autônomos. O ambiente só faz desencadear as mudanças 
estruturais, não as especifica nem as dirige. Isto porque, segundo Maturana e Varela, 
(1987), a interação de um sistema vivo com seu ambiente responde a um padrão não-
linear e assim o resultado é imprevisível. No caso de treinamento de tarefas em um 
paciente com lesão cerebral por mais que o terapeuta busque uma resposta em 
especial ele deve estar ciente que o resultado pode ser o mais diverso possível, uma 
vez que como foi visto esta resposta está de acordo com a dinâmica não-linear e é 
dependente da natureza comportamental do individuo.
A teoria ecológica do controle motor é interessante por levar em consideração o 
fator ambiental e a percepção individual na aquisição e controle do movimento. Ao 
reconhecer que o organismo vivo responde às influencias ambientais com mudanças 
estruturais que irão refletir no seu comportamento, percebe-se que o treinamento de 
reabilitação deve ser o mais motivador possível e as tarefas a serem prescritas devem 
fazer parte do cotidiano do paciente. Isto fica claro quando Capra, (2002), afirma que o 
sistema que se liga ao ambiente através de um vínculo estrutural é um sistema que 
aprende. As mudanças contínuas são seguidas de adaptações, aprendizados e 
desenvolvimentos também contínuos, o que é uma característica dos seres vivos.
Para Maturana e Varela, (1987) nenhum sistema vivo pode ser controlado, só 
pode ser perturbado. Os sistemas vivos não especificam somente as mudanças 
estruturais; especificam também quais são as perturbações do ambiente que podem 
desencadeá-las. Ou seja, reside ao sistema vivo a capacidade de filtrar os tipos de 
perturbações e assim ter a liberdade de aceitar que tipo de perturbação é do seu 
interesse. E assim a teoria ecológica ao envolver a dicotomia o ambiente-percepção 
define estímulos, no caso perturbações que normalmente fazem parte da vida diária do 
9
paciente. Por isto, as aquisições de tarefas durante o treinamento de pacientes 
lesionados devem englobar justamente as tarefas que fazem parte do ambiente natural 
do indivíduo, pois assim tornam-se mais fáceis de ser percebidas e reprogramadas pelo 
paciente.
Assim as idéias da teoria da cognição de Santiago se complementam com a 
teoria ecológica do controle motor, pois da mesma forma são uma cisão com a visão 
cartesiana ao fornecer uma visão mais holística, além disso, a teoria da cognição de 
Santiago fornece subsídios para compreensão da complexidade no controle motor ao 
entender que a resposta ao um estimulo está de acordo com o padrão não-linear, ou 
seja o estímulo ou perturbação pode ser ou não aceito pelo individuo e da mesma 
forma o resultado pode ser aquele esperado ao não. Além disso, fica evidente que a 
mente é um processo de cognição do viver e o cérebro é a estrutura na qual se dá este 
processo. Desta forma a relação da mente com o cérebro é uma relação entre processo 
e estrutura. E a consciência emerge como fator atribuído a esta relação.
Importância da consciência no controle motor
Para entender a importância da consciência no controle motor é necessário estar 
ciente da dinâmica não-linear que envolve os sistemas complexos e assim levar em 
consideração a subjetividade e os resultados imprevisíveis dos relacionamentos entre 
os agentes. Para tal, Capra em 2002 fez uma revisão das escolas de estudo da 
consciência:
1.Neurorreducionista: definição dada por Fransico Varela por reduzir a consciência a 
mecanismos nervosos. O comportamento é definido pela relação das células nervosas 
e das moléculas.
2.Funcionalista: a mais popular entre estudiosos da cognição, afirma que os estados 
mentais são definidos pela “organização funcional”, descritos por padrões de relações 
causais no sistema nervoso. E ao levar em consideração estes padrões está diante da 
dinâmica não-linear dos sistemas complexos.
3.Misterianos: escola menos conhecida que define a consciência como um mistério 
profundo o qual o homem jamais irá compreender. Por mais que se compreenda a 
estrutura cerebral, isto não permitirá condições do entendimento da experiência 
consciente.
10
4.Neurofenomenologista: difundida por Francisco Varela é uma escola que vem 
crescendo e faz uso da teoria da complexidade e das experiências subjetivas contidas 
nos relatos de caso em primeira pessoa e assim procura compreender de que maneira 
as experiências subjetivas surgem espontaneamente a partir de atividades neurais 
complexas.
Aprofundando os conhecimentos preconizados pela escola 
neurofenomenologista, entendemos que o estudo do controle motor deve compreender 
o estudo da cognição e as atividades neurais complexas devem envolver as 
experiências subjetivas consciente.
Resultados
A experiência consciente se baseia num conjunto específico de células que 
envolve muitas atividades neuronais diferentes, associadas à percepção sensorial, às 
emoções, à memória, aos movimentos corporais, etc. As experiências subjetivas ao 
estarem ligadas aos movimentos corporais devem ser um campo de atenção para o 
entendimento do controle motor humano. Para tal, as bases científicas dasescolas 
Funcionalista e Neurofenomenologista servem de primeiro entendimento uma vez que 
estas entendem que a consciência é um processo cognitivo que surge 
espontaneamente a partir da atividade neural complexa em especial a ultima por estar 
ligada a fenômenos subjetivos faz jus a a dinâmica não-linear dos sistemas complexos. 
(VARELA, 1996 apud CAPRA, 2002) 
A fim de entender a complexidade desta atividade neural Capra, (2002), define 
que os principais estudiosos foram Francisco Varela e mais recentemente Gerald 
Edelman junto com Giulio Tononi.
Nestes estudos fica evidente que a experiência consciente não se localiza numa 
parte específica do cérebro, nem pode ser relacionada a determinadas estruturas 
neurais. Na verdade é uma propriedade que surge espontaneamente de um processo 
cognitivo particular (formação de aglomerados funcionais transitórios de neurônios) 
Estes aglomerados seriam estruturas que se formam para descrever um padrão que 
define uma função realizada pelo sistema nervoso. 
11
No caso do movimento humano ou ato motor este padrão pode ser descrito 
como uma seqüência de padrões de excitações neuronais que inicia com uma 
motivação e planejamento do ato motor em áreas especificas do córtex cerebral. Para 
este planejamento são usadas informações sensoriais internas (posição corporal) e 
externas (distancia de agentes externos, topografia, luminosidade, etc.) em seguida o 
movimento é iniciado com as contrações musculares que produzem o movimento e a 
tarefa funcional desejada, por exemplo, o caminhar. Após inicio do movimento ocorre 
uma constante avaliação pelo feedback sensorial que também são padrões de ativação 
neuronal que surgem a partir dos mesmos estímulos internos e externos que de forma 
aferente se direcionam ao sistema nervoso central e são encaminhados ao encéfalo 
para serem comparados a “padrões” aprendidos e armazenados no cerebelo que 
influencia a área motora determinando o controle da ação motora que está sendo 
executada (LUNDY-EKMAN, 2004).
Com estas informações é possível relacionar a tarefa que se deseja realizar ou 
que está sendo executada com ambiente externo e assim ajustar a ação motora ao 
planejamento feito ou ao movimento executado às exigências do ambiente em que se 
encontra.
CONCLUSÃO
Frente a este padrão percebe-se que o ato motor está relacionado a dois fatores 
vistos neste estudo: ambiente e consciência. E assim fica evidente que qualquer estudo 
que deseje entender o movimento humano deverá levar em consideração a dinâmica 
não-linear que envolve a relação complexa entre os sistemas vivos e seu ambiente, não 
subestimando a experiência subjetiva, em especial a consciência, essencial no controle 
das atividades motoras ou em qualquer programa de reabilitação funcional.
REFERÊNCIAS
ARRIBAS, M.J.D.,HERVÁS, P. P., LAVADO M. T. B., LAGO, M. R.,MAESTÚ, F. 
Plasticidad del sistema nervioso central y estratégias de tratamiento para la 
reprogramación sensoriomotora: comparación de dos casos de accidente 
cerebrovascular isquémico em el território de la artéria cerbral media, Rev Neurol, 
n.42, 2006.
12
AXELROD, R.M. The complexity of cooperation: agent-bases models models of 
competition and collaboration. New Jersey: Princeton University Press, 1997.
CAPRA, F. As conexões ocultas ciência para uma vida sustentável. Pensamento 
Cultrix. São Paulo, 2002.
CAPRA, F. A teia da vida. Pensamento Cultrix. São Paulo, 1997.
FREDERICKS, C. SALADIN, L.K. Pathophysiology of the motor control principles 
and clinical presentation. 1 ed. Philadelphia: F. A. Davis Company, 1996.
GIBSON, J. The ecological approach to visual perception. 2 ed. New Jersey: 
Lawrence Erbaulm Associates, 1986. 
HAMILL, J. KNUTZEN, K. M. Bases biomecanicas do movimento humano. 1ed. 
Manole, São Paulo, 1999.
LUNDY-EKMAN, L. Neurociência fundamentos para a reabilitação. 2 ed. Guanabara 
Koogan, Rio de Janeiro, 2004.
MATURANA, H., VARELA, F. The tree of Knowlegde. Shambhala. Boston. 1987.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4.ed. São Paulo: 
Corte, 2000.
MORIN, E. Ciência com consciência. 2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 2.ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1995.
SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOT, M. H. Controle motor: aplicações clínicas. 
2.ed. Manole .São Paulo, 2003.
STEWART, I. Life´s Other Secret, Jonhn Wiley, 1998.
UMPHERED, D. Reabilitação neurológica, 4.ed. Manole São Paulo. 2004.
1 - Mestrando do programa EGC, Gestão do Conhecimento na UFSC.
2 – Prof. Dr. do programa Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) na UFSC.
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