Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cálculo Infinitesimal Gabriela Chaves versão de Agosto de 2004 ii Índice Índice iii 1 Propriedades básicas dos números 1 1.1 Operações de adição e multiplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Relação de ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.3 Princípio de indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2 Funções (reais de variável real) 9 2.1 Generalidades sobre funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.2 Soma, multiplicação e composição de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3 Monotonia, máximos e mínimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.4 Gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3 Limites e continuidade 27 3.1 Limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4 Derivadas 41 4.1 Motivação e interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4.2 Definição e propriedades básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.3 Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4.4 Resolução de alguns exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5 Integrais e Primitivas 71 5.1 Motivação e interpretação geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5.2 Integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 5.3 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 5.3.1 Definição e primitivas elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 5.3.2 Primitivação por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 5.3.3 Primitivação por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 5.3.4 Primitivação de funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 5.4 Resolução de alguns exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 5.5 Integrais impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 5.6 Cálculo de comprimentos, volumes e áreas de superfície . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 5.6.1 Comprimentos de gráficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 5.6.2 Volumes de sólidos de revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 5.6.3 Áreas de superfície de sólidos de revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 6 Polinómios de Taylor 111 6.1 Polinómios de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 6.2 Máximos e mínimos locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 6.3 Cálculo de valores aproximados de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 7 Sucessões e séries 129 7.1 Sucessões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 7.2 Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 iii iv ÍNDICE 8 Sucessões e séries de funções 149 8.1 Sucessões de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 8.2 Séries de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 8.3 Séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 9 Curvas em Rn 171 A Coordenadas polares 199 B Funções exponenciais e logaritmos 211 C Funções trigonométricas 221 Índice alfabético 231 Capítulo 1 Propriedades básicas dos números O objectivo deste capítulo não é a construção dos números reais; supõe-se conhecida a existência destes e far-se-á apenas um resumo das propriedades mais importantes das operações e da relação de ordem. 1.1 Operações de adição e multiplicação O conjunto dos números reais R, munido da adição e da multiplicação (designadas respectivamente por + e .), verifica as seguintes propriedades: 1. ∀x, y, z ∈ R (x+ y) + z = x+ (y + z) (associatividade da adição) 2. ∀x ∈ R x+ 0 = 0 + x = x (0 é elemento neutro para a adição) 3. ∀x ∈ R ∃x′ ∈ R x+ x′ = x′ + x = 0 (existência de inverso para a adição) 4. ∀x, y ∈ R x+ y = y + x (comutatividade da adição) 5. ∀x, y, z ∈ R (x.y).z = x.(y.z) (associatividade da multiplicação) 6. ∀x, y ∈ R x.y = y.x (comutatividade da multiplicação) 7. ∀x, y, z ∈ R x.(y + z) = x.y + x.z (distributividade da multiplicação relativamente à adição) 8. ∀x ∈ R x.1 = 1.x = x (1 é elemento neutro para a multiplicação) 9. ∀x ∈ R\{0}∃x′ ∈ R x.x′ = x′.x = 1 (existência de inverso para a multiplicação para qualquer elemento diferente de 0) Por (R,+) satisfazer às propriedades 1-3 diz-se que se trata de um grupo; por satisfazer às propriedades 1-4 diz-se que se trata de um grupo comutativo. Por (R,+, .) satisfazer às propriedades 1-8 diz-se que se trata de um anel comutativo com elemento unidade; por satisfazer às propriedades 1-9 diz-se que se trata de um corpo. 1.2 Relação de ordem A relação ≤ em R verifica as seguintes propriedades: 1. ∀x ∈ R x ≤ x (reflexividade) 2. ∀x, y, z ∈ R (x ≤ y e y ≤ z)⇒ x ≤ z (transitividade) 3. ∀x, y ∈ R (x ≤ y e y ≤ x)⇒ x = y (anti-simetria) 4. ∀x ∈ R (x ≤ y ou y ≤ x) 5. ∀x, y ∈ R (0 ≤ x e 0 ≤ y)⇒ 0 ≤ x+ y 6. ∀x, y, z ∈ R x ≤ y ⇒ x+ z ≤ y + z 7. ∀x, y ∈ R (0 ≤ x e 0 ≤ y)⇒ 0 ≤ x.y 1 2 CAPÍTULO 1. PROPRIEDADES BÁSICAS DOS NÚMEROS Observação: As propriedades 1-4 envolvem apenas ≤; 5-6 relacionam ≤ e +; 7 relaciona ≤ e .. Por (R,≤) satisfazer às propriedades 1-4 diz-se que se trata de um conjunto totalmente ordenado; por (R,+,≤) satisfazer às propriedades 1-6 diz-se que se trata de um grupo comutativo ordenado. Por (R,+, .,≤) satisfazer às propriedades 1-7 diz-se que se trata de um corpo ordenado. Definição 1.2.1 Para cada x ∈ R, chama-se valor absoluto (ou módulo) de x a |x| = { x se x ≥ 0 -x se x ≤ 0 . Proposição 1.2.2 1. ∀x, y ∈ R : |x+ y| ≤ |x|+ |y|. 2. ∀x, y ∈ R : |x− y| ≥ ||x| − |y||. 3. ∀x, y ∈ R : |xy| = |x||y|. 4. ∀x ∈ R : −|x| ≤ x ≤ |x|. 5. ∀x ∈ R, a ∈ R+ : |x| ≤ a⇔ −a ≤ x ≤ a. Demonstração: 1. Se x ≥ 0 e y ≥ 0, então x + y ≥ 0 e |x| + |y| = x + y, portanto |x + y| = |x| + |y|. Se x ≤ 0 e y ≤ 0, então x+ y ≤ 0, |x+ y| = −x− y, |x|+ |y| = −x− y e |x+ y| = |x|+ |y|. Se x < 0 < y e |x| < |y|, então x+ y ≥ 0, |x+ y| = x+ y e |x|+ |y| = −x+ y; ora neste caso x+ y < −x+ y, uma vez que x < 0. Analogamente se trata o caso x < 0 < y e |x| > |y|. 2. Da alínea anterior, conclui-se que |x|(= |x− y + y|) ≤ |x− y|+ |y| |y|(= |y − x+ x|) ≤ |y − x|+ |x| = |x− y|+ |x|. Então |x− y| ≥ |x| − |y| e |x− y| ≥ |y| − |x|, portanto |x− y| ≥ ||x| − |y||. 3. Trivial. 4. Trivial. 5. |x| ≤ a ⇔ (x ≥ 0 e x ≤ a) ou (x ≤ 0 e − x ≤ a) ⇔ 0 ≤ x ≤ a ou − a ≤ x ≤ 0 ⇔ −a ≤ x ≤ a. Definição 1.2.3 Seja A ⊂ R. 1. Diz-se que A é majorado (ou limitado superiormente) sse existe M ∈ R tal que ∀x ∈ A x ≤M . Um número M nestas condições diz-seum majorante de A. 2. Diz-se que A é minorado (ou limitado inferiormente) sse existe m ∈ R tal que ∀x ∈ A m ≤ x. Um número m nestas condições diz-se um minorante de A. 3. Diz-se que A é limitado sse existe l ∈ R tal que ∀x ∈ R |x| ≤ l. Observações: 1. O conjunto dos majorantes de um conjunto não vazio, A, é minorado (por qualquer elemento de A). 2. O conjunto dos minorantes de um conjunto não vazio, A, é majorado (por qualquer elemento de A). 3. O conjunto A é limitado sse é majorado e minorado. Definição 1.2.4 1. Chama-se máximo (ou último elemento) de um conjunto A a um majorante de A que pertence a A. 2. Chama-se mínimo (ou primeiro elemento) de um conjunto A a um minorante de A que pertence a A. Observações: 1.2. RELAÇÃO DE ORDEM 3 1. Um conjunto majorado pode não ter máximo e um conjunto minorado pode não ter mínimo. 2. Um conjunto não pode ter mais de um máximo nem mais de um mínimo. Propriedades de N e Z: 1. Qualquer parte não vazia de N tem primeiro elemento. 2. Qualquer parte majorada não vazia de N tem último elemento. 3. Qualquer parte minorada não vazia de Z tem primeiro elemento. 4. Qualquer parte majorada não vazia de Z tem último elemento. Definição 1.2.5 Seja A ⊂ R. 1. Diz-se que M é o supremo de A sse M for o mínimo do conjunto dos majorantes de A. Notação: M = supA. 2. Diz-se que m é o ínfimo de A sse m for o máximo do conjunto dos minorantes de A. Notação: m = inf A. Propriedade de R: Qualquer parte majorada de R tem supremo. Observação: Esta propriedade de R, assim como as propriedades de N e Z mencionadas acima, não serão aqui demonstradas. Demonstrá-las só teria sentido no contexto de uma construção ou descrição axiomática dos números, o que está para alem dos objectivos deste curso. Lema 1.2.6 1. Seja A uma parte majorada de R e seja M o conjunto dos majorantes de A. Então o conjunto −A = {−a, a ∈ A} é minorado e o conjunto dos minorantes de −A é −M. 2. Seja A uma parte minorada de R e sejaM o conjunto dos minorantes de A. Então o conjunto −A = {−a, a ∈ A} é majorado e o conjunto dos majorantes de −A é −M. Demonstração: 1. Seja x ∈ −M. Então x = −x em que x é um majorante de A, isto é ∀a ∈ A a ≤ −x. Resumindo, ∀x ∈ −M∀a ∈ A x ≤ −a, de onde ∀a ∈ A x ≤ −a, isto é, ∀x ∈ −M∀a ∈ A x ≤ a, portanto qualquer elemento de −M é um minorante de −A. Reciprocamente, seja x um minorante de −A. Então ∀a ∈ A x ≤ −a, de onde ∀a ∈ A a ≤ −x, portanto −x é um majorante de A, isto é, −x ∈M, ou seja, x ∈ −M. 2. Demonstração análoga. � Proposição 1.2.7 Qualquer parte minorada de R tem ínfimo. Demonstração: Seja A uma parte minorada de R. Então, pelo lema anterior, sabemos que −A é majorado; pela propriedade de R enunciada acima, existe sup(−A), designemo-lo por s. Então s é o mínimo do conjunto M dos majorantes de −A, e é imediato que −s é o máximo de −M , mas, pelo lema anterior, −M é o conjunto dos minorantes de A, logo −s é o ínfimo de A. � Proposição 1.2.8 (trivial) Se supA ∈ A então supA é o máximo de A; se inf A ∈ A então inf A é o mínimo de A. Proposição 1.2.9 Seja A um conjunto não vazio e M um majorante de A. Então M = supA sse ∀� > 0 ∃a ∈ A : M − � < a. Demonstração: 1. Suponhamos que M = supA e seja � > 0. Por definição de supremo, M − � não é um majorante de A (porque o supremo de A é o menor dos majorantes de A). Então existe um elemento a de A tal que a > M − �. 2. Suponhamos que M é um majorante de A tal que ∀� > 0 ∃a ∈ A : M − � < a. Seja M ′ um número menor do que M e seja � = M −M ′. Tem-se � > 0, portanto existe a ∈ A tal que a > M − �, masM−� = M ′, portantoM ′ não é majorante de A. Conclui-se que nenhum númeroM ′ menor do queM é majorante de A, logo M é o supremo de A. � Proposição 1.2.10 Seja A um conjunto não vazio e m um minorante de A. Então m = inf A sse ∀� > 0 ∃a ∈ A : a < m+ �. Demonstração: análoga à anterior � 4 CAPÍTULO 1. PROPRIEDADES BÁSICAS DOS NÚMEROS Proposição 1.2.11 1. Se B é majorado (resp. minorado) e A ⊂ B, então A é majorado (resp. minorado). 2. Se A e B são majorados (resp. minorados) então A ∩B e A ∪B são majorados (resp. minorados). Demonstração: trivial. Proposição 1.2.12 Sejam A e B dois conjuntos limitados não vazios. 1. A ⊂ B ⇒ inf B ≤ inf A ≤ supA ≤ supB 2. sup(A ∪B) = max{supA, supB} 3. Se A ∩B 6= ∅ então sup(A ∩B) ≤ min{supA, supB} 4. inf(A ∪B) = min{inf A, inf B} 5. Se A ∩B 6= ∅ então inf(A ∩B) ≥ max{inf A, inf B} 6. Se A e B forem intervalos e A∩B 6= ∅ então sup(A∩B) = min{supA, supB} e inf(A∩B) = max{inf A, inf B}. 7. Se ∀a ∈ A ∀b ∈ B a ≤ b então supA ≤ inf B, e supA = inf B sse ∀� > 0 ∃a0 ∈ A, b0 ∈ B : b0 − a0 < �. Demonstração: 1. Seja m um minorante de B. Então ∀b ∈ B m ≤ b. Como ∀a ∈ A : a ∈ B, tem-se ∀a ∈ A m ≤ a. Conclui-se que todos os minorantes de B são minorantes de A, logo inf B (que é um minorante de B) é um minorante de A e portanto é menor ou igual do que inf A (que é o maior dos minorantes de A). Mostra-se analogamente que supA ≤ supB. É trivial que inf A ≤ supA (porque A 6= ∅, portanto ∃a ∈ A, e então inf A ≤ a ≤ supA). 2. De A ⊂ A∪B e B ⊂ A∪B conclui-se, pela alínea anterior, que supA ≤ sup(A∪B) e supB ≤ sup(A∪B), logo max{supA, supB} ≤ sup(A ∪ B). Por outro lado, max{supA, supB} ≥ supA e max{supA, supB} ≥ supB, portanto max{supA, supB} é um majorante de A e um majorante de B, ou seja, é um majorante de A ∪ B e portanto é maior ou igual do que sup(A ∪B). 3. De A ∩ B ⊂ A e A ∩ B ⊂ B, conclui-se, pela alínea 1., que sup(A ∩ B) ≤ supA e sup(A ∩ B) ≤ supB, logo sup(A ∩B) ≤ min{supA, supB}. 4. Análoga à demonstração de 2. 5. Análoga à demonstração de 3. 6. Sejam a1 e a2 os extremos do intervalo A e b1 e b2 os extremos do intervalo B. Então supA = a2, inf A = a1, supB = b2 e inf B = b1. Por outro lado, A ∩ B é um intervalo de extremos max{a1, b1}, min{a2, b2}, portanto inf(A ∩B) = max{a1, b1} e sup(A ∩B) = min{a2, b2}. 7. Seja a ∈ A. Como ∀b ∈ B a ≤ b, conclui-se que a é um minorante de B, logo a ≤ inf B. Então ∀a ∈ A a ≤ inf B, isto é, inf B é um majorante de A, portanto supA ≤ inf B. Suponhamos que supA = inf B, sejam α = supA = inf B e δ > 0. Por se ter α = supA, existe a0 ∈ A tal que a0 > α − δ; por se ter α = inf B, existe b0 ∈ B tal que b0 < α + δ. Então b0 − a0 < 2δ. Seja agora � > 0; aplicando o raciocínio anterior a δ = �/2, vemos que existem a0 ∈ A, b0 ∈ B tais que b0 − a0 < �. Por outro lado, se supA < inf B, então ∀a ∈ A, b ∈ B, tem-se b−a ≥ inf B−supA, portanto, se � < inf B−supA, não existem a0 ∈ A, b0 ∈ B tais que b0 − a0 < �. � Proposição 1.2.13 Se A 6= ∅ é tal que ∀x, y ∈ A : |x− y| < l, então existe um intervalo fechado, I, de comprimento l, tal que A ⊂ I. Demonstração: Seja a ∈ A; para todo o x ∈ A, tem-se |x−a| < l, logo a− l < x < a+ l, portanto A é limitado. Sejam α = inf A, β = supA e I = [α, β]; tem-se obviamente A ⊂ I, portanto basta mostrar que β − α ≤ l. l l l 22 1.2. RELAÇÃO DE ORDEM 5 Suponhamos que β − α > l, e seja � = β−α−l2 ; existem a1 ∈ A tal que a1 < α+ � e a2 ∈ A tal que a2 > β − �, isto é, a1 < α+β−l2 e a2 > β+α+l 2 . Mas então a2− a1 > β+α+l2 − α+β−l2 = l, o que contradiz a hipótese sobre A. Conclui-se que β − α ≤ l. � Observação: não existe necessariamente um intervalo aberto I, de comprimento l, tal que A ⊂ I. Teorema 1.2.14 (do encaixe de intervalos) Para cada n ∈ N seja In = [an, bn] um intervalo. Se ∀n ∈ N In+1 ⊂ In então ⋂ n∈N In 6= ∅. Demonstração: De In+1 ⊂ In conclui-se que se k < l então Il ⊂ Ik e portanto al ≥ ak e bl ≤ bk. Seja A = {ai, i ∈ N} e B = {bj , j ∈ N}, e sejam n ∈ N e m ∈ N. Se p designar o máximo de {n,m} temos an ≤ ap ≤ bp ≤ bm, portanto ∀x ∈ A ∀y ∈ B x ≤ y. Conclui-se da alínea 7 da proposição 1.2.12 que supA ≤ inf B. É imediato que ∀n ∈ N [supA, inf B] ⊂ In, portanto ∅ 6= [supA, inf B] ⊂ ⋂ n∈N In. � Exemplos 1. A =]2, 3[ {majorantes de A} = [3,+∞[; {minorantes de A} =]−∞, 2] supA = 3; inf A = 2; A não tem máximonem mínimo. 2. A = {2}∪] 52 , 3[ {majorantes de A} = [3,+∞[; {minorantes de A} =]−∞, 2] supA = 3; inf A = 2; A não tem máximo; minA = 2. 3. A = { 1−nn ;n ∈ N} {majorantes de A} = [0,+∞[; {minorantes de A} =]−∞,−1] supA = 0; inf A = −1; maxA = 0; A não tem mínimo. 4. A = {x ∈ Q : x2 ≤ 3} {majorantes de A} = [√3,+∞[; {minorantes de A} =]−∞,−√3] supA = √ 3; inf A = −√3; A não tem máximo nem mínimo. 5. A = {x ∈ R \Q : x2 ≤ 3} {majorantes de A} = [√3,+∞[; {minorantes de A} =]−∞,−√3] supA = √ 3; inf A = −√3; maxA = √3; minA = −√3 6. A = {5} {majorantes de A} = [5,+∞[; {minorantes de A} =]−∞, 5] supA = 5; inf A = 5; maxA = 5; minA = 5 Observação: ∀A ⊂ R : inf A = supA⇔ A é constituido por um único elemento. 7. A = {2, 3}; B = [2, 3] maxA = supA = 3; maxB = supB = 3 minA = inf A = 2; minB = inf B = 2 Neste caso, A ⊂ B, A 6= B e supA = supB, inf A = inf B. 8. A = {0, 1, 2}; B =]− 1, 5] maxA = supA = 2; maxB = supB = 5 minA = inf A = 0; inf B = −1; B não tem mínimo Neste caso, A ⊂ B, A 6= B e supA < supB, inf A > inf B. 9. A = [1, 2[∪{6}; B = [0, 2[∪{4} maxA = supA = 6; maxB = supB = 4 minA = inf A = 1; minB = inf B = 0 A ∩B = [1, 2[; sup(A ∩B) = 2; min(A ∩B) = inf(A ∩B) = 1; A ∩B não tem máximo Neste caso sup(A ∩B) < min{supA, supB}; inf(A ∩B) = max{inf A, inf B}. 6 CAPÍTULO 1. PROPRIEDADES BÁSICAS DOS NÚMEROS 10. A = { 1n , n ∈ N}; B = {1− 1n , n ∈ N} maxA = supA = 1; supB = 1; B não tem máximo A não tem mínimo; inf A = 0; minB = inf B = 0 A ∩B = { 12}; max(A ∩B) = sup(A ∩B) = min(A ∩B) = inf(A ∩B) = 12 Neste caso sup(A ∩B) < min{supA, supB}; inf(A ∩B) > max{inf A, inf B}. 11. A = [0, 1]; B = {2} maxA = supA = 1; maxB = supB = 2 minA = inf A = 0; minB = inf B = 2 Neste caso ∀a ∈ A ∀b ∈ B : a < b e supA < inf B 12. A = {0, 1}; B = {1 + 1n2 , n ∈ N} maxA = supA = 1; maxB = supB = 2; minA = inf A = 0; inf B = 1; B não tem mínimo Neste caso ∀a ∈ A ∀b ∈ B : a < b e supA = inf B 1.3 Princípio de indução Seja A um conjunto de números naturais tal que 1 ∈ A e ∀n ∈ N (n ∈ A⇒ n+ 1 ∈ A). Então A = N. Exemplos de demonstração por indução 1. ∀n ∈ N : 1 + 13 + 19 + · · ·+ 13n = 3 n+1−1 2.3n+1 Demonstração: Seja A = {n ∈ N; 1 + 13 + 19 + · · ·+ 13n = 3 n+1−1 2.3n } Tem-se 1 ∈ A porque 1 + 13 = 9−12.3 . Suponhamos que m ∈ A, isto é, que 1 + 13 + 19 + · · ·+ 13m = 3 k+1−1 2.3m . Então 1 + 13 + 1 9 + · · ·+ 1 3m + 1 3m+1 = 3m+1 − 1 2.3m + 1 3m+1 = (3 m+1 − 1).3 + 2 2.3m+1 = 3 m+2 − 3 + 2 2.3m+1 = 3 m+2 − 1 2.3m+1 isto é, m+ 1 ∈ A. De 1 ∈ A e m ∈ A⇒ m+ 1 ∈ A conclui-se que A = N. � 2. ∀n ∈ N : n∑ k=0 Cnk = 2n, em que Cnk = ( n k) = n! k!(n− k)! . Demonstração: Comecemos por verificar que ∀k ∈ {1, 2, . . . , n} se tem Cn+1k = Cnk + Cnk−1. Com efeito, tem-se Cnk + Cnk−1 = n! k!(n− k)! + n! (k − 1)!(n− k + 1)! = n!(n+ 1− k) + n!k k!(n+ 1− k)! = n!(n+ 1) k!(n+ 1− k)! = Cn+1k Seja agora A = {n ∈ N : ∑nk=0 Cnk = 2n}. Tem-se 1 ∈ A, porque C10 + C11 = 1 + 1 = 21. 1.3. PRINCÍPIO DE INDUÇÃO 7 Suponhamos que m ∈ A, isto é, que ∑mk=0 Cmk = 2m. Então m+1∑ k=0 Cm+1k = C m+1 0 + m∑ k=1 Cm+1k + C m+1 m+1 = 1 + ( m∑ k=1 (Cmk + Cmk−1) ) + 1 = Cm0 + m∑ k=1 Cmk + m∑ k=1 Cmk−1 + Cmm = m∑ k=0 Cmk + m∑ k=0 Cmk = 2m + 2m porque m ∈ A = 2m+1 De 1 ∈ A e m ∈ A⇒ m+ 1 ∈ A conclui-se que A = N. � 3. Seja (xn)n a sucessão definida por { x1 = 1 xn+1 = x 2 n 2 ∀n > 1 Então ∀n ∈ N : xn < 2. Demonstração: Seja A = {n ∈ N : xn < 2}. Tem-se 1 ∈ A porque x1 = 1 < 2. Suponhamos que m ∈ A, isto é, que xm < 2. É fácil ver que ∀n ∈ N : xn > 0, portanto de xm < 2 conclui-se que x2m < 4, logo x2m/2 < 2, isto é, xm+1 < 2. Portanto m+ 1 ∈ A. Conclui-se que A = N. � 4. ∀n ∈ N : n(n2 + 5) é múltiplo de 6. Demonstração: Seja A = {n ∈ N;n(n2 + 5) é múltiplo de 6}. Tem-se 1 ∈ A porque 1.(12 + 5) = 6, e 6 é múltiplo de 6. Suponhamos que m ∈ A, isto é, que m(m2+5) é múltiplo de 6, ou seja, que existe k ∈ N tal que m(m2+5) = 6k. Então (m+ 1)((m+ 1)2 + 5) = m((m+ 1)2 + 5) + (m+ 1)2 + 5 = m(m2 + 5 + 2m+ 1) +m2 + 2m+ 6 = m(m2 + 5) + 3m2 + 3m+ 6 = 6k + 3m(m+ 1) + 6 = 6(k + 1) + 3m(m+ 1). Mas m(m+ 1) é par (porque m é par ou m é ímpar e neste caso m+ 1 é par), portanto 3m(m+ 1) é múltiplo de 6. Tem-se então que (m+ 1)((m+ 1)2 + 5) é a soma de dois múltiplos de 6, portanto é múltiplo de 6, isto é, m+ 1 ∈ A. Conclui-se que A = N. � 5. ∀n ∈ N : 2n < 3n! Demonstração: Seja A = {n ∈ N : 2n < 3n!}. Tem-se 1 ∈ A porque 21 = 2 < 3 = 3.1!. Suponhamos que m ∈ A, isto é, que 2m < 3m!. Então 2m+1 = 2.2m < 2.3m! ≤ (n+ 1).3m! = 3(m+ 1)!, isto é, m+ 1 ∈ A. Conclui-se que A = N. � Exemplos de subconjuntos de R que verificam 1 ∈ A e ∀x ∈ R (x ∈ A⇒ x+ 1 ∈ A) e tais que A 6= R N, Z, Q, N ∪ (R \Q), [1,+∞[, ]− 2,+∞[, {x ∈ R : 6x ∈ Z}, ∪n∈N[n, n+ 12[ 8 CAPÍTULO 1. PROPRIEDADES BÁSICAS DOS NÚMEROS Capítulo 2 Funções (reais de variável real) O objectivo principal deste curso é o estudo de funções reais de variável real, isto é, em que o domínio e o conjunto de chegada são partes de R. No entanto, uma grande parte das noções e resultados vistos neste capítulo aplicam-se a funções definidas em quaisquer conjuntos. 2.1 Generalidades sobre funções Seja f : A −→ B uma função de domínio A e conjunto de chegada B (a não confundir com contradomínio). Definição 2.1.1 Chama-se contradomínio de f ao conjunto das imagens por f de elementos de A, isto é, {f(a); a ∈ A}, ou ainda {b ∈ B;∃a ∈ A : f(a) = b}. Notação: f(A) ou Im(f). Definição 2.1.2 1. Diz-se que f é sobrejectiva sse f(A) = B, isto é, sse ∀b ∈ B ∃a ∈ A : f(a) = b. 2. Diz-se que f é injectiva sse elementos distintos de A têm sempre imagens distintas, isto é, sse ∀a1, a2 ∈ A : f(a1) = f(a2)⇒ a1 = a2. 3. Diz-se que f é bijectiva sse f é sobrejectiva e injectiva, isto é, sse ∀b ∈ B ∃1a ∈ A : f(a) = b. Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ 2x+ 5 f é bijectiva porque para cada y ∈ R, f(x) = y ⇔ 2x+ 5 = y ⇔ x = y − 52 , portanto existe um único x ∈ R tal que f(x) = y. 2. f : ]−∞, 0[∪[2,+∞[ −→ R x 7→ 2x+ 5 f não é sobrejectiva, uma vez que, por exemplo, não existe x ∈]−∞, 0[∪[2,+∞[ tal que f(x) = 7. f é injectiva, pois f(x1) = f(x2)⇒ 2x1 + 5 = 2x2 + 5⇒ x1 = x2. 3. f : R −→ R x 7→ x2 − 6x+ 4 f não é injectiva, pois f(2) = f(4) = −4. f(R) = [−5,+∞[ Se y < −5, não existe x ∈ R tal que x2 − 6x + 4 = y (porque 62 − 4(4 − y) < 0). Se y ≥ −5 então f(3 + √ y + 5) = f(3−√y + 5) = y, portanto y ∈ f(R). Observações: 1. f não é sobrejectiva 2. Se y = −5 existe um único x ∈ R tal que f(x) = y; trata-se de x = 3. Se y > −5 existem duas soluções da equação f(x) = y, pois 3 + √ y + 5 6= 3−√y + 5. 9 10 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 4. f : ]4,+∞[ −→ [−5,+∞[ x 7→ x2 − 6x+ 4 f é injectiva. De facto, suponhamos que f(x1) = f(x2) = y. Então x1 = 3 + √ y + 5 ou x1 = 3 − √ y + 5 e x2 = 3+ √ y + 5 ou x2 = 3− √ y + 5. Mas x1 ∈]4,+∞[, x2 ∈]4,+∞[ e 3− √ y + 5 ≤ 3. Logo x1 = x2 = 3+ √ y + 5. f(]4,+∞[) =]− 4,+∞[ Demonstração: Se y > −4, então 3 + √y + 5 > 4 e f(3 + √y + 5) = y, portanto y ∈ f(]4,+∞[). Se y ≤ −4, então não existe x ∈]4,+∞[ tal que f(x) = y, porque ou y < −5, caso em que já vimos não existir x ∈ R tal que x2− 6x+ 4 = y, ou −5 ≤ y ≤ −4, caso em que as soluções em R de x2− 6x+ 4 = y são 3 +√y + 5 e 3−√y + 5, mas 3 + √ y + 5 ≤ 4 e 3−√y + 5 ≤ 4. 5. f : ]2,+∞[ −→ [−5,+∞[ x 7→ x2 − 6x+ 4 f não é injectiva, porque f( 52 ) = f( 7 2 ) = − 194 . f é sobrejectiva, porque para y ∈ [−5,+∞[ existe x ∈]2,+∞[ tal que f(x) = y. Basta tomar x = 3 +√y + 5. 6. f : [0, 1] −→ [−1, 4] x 7→ x2 − 6x+ 4 f é bijectiva. Demonstração: Seja y ∈ [−1, 4]. A equação x2 − 6x + 4 = y tem como soluções reais x = 3 + √y + 5 e x = 3−√y + 5. Ora 3 +√y + 5 6∈ [0, 1] e 3−√y + 5 ∈ [0, 1], portanto a equação f(x) = y tem uma e uma só solução. Definição2.1.3 1. Seja f : A −→ B e A′ ⊂ A. Chama-se restrição de f a A′ à função f|A′ : A′ −→ B x 7→ f(x). 2. Seja f : A −→ B e A′′ ⊃ A. Diz-se que g : A′′ −→ B é um prolongamento de f a A′′ sse ∀a ∈ A : g(a) = f(a) (isto é, se f = g|A). Observação: Em geral existe mais de um prolongamento de f a A′′. Exemplo : f : [1, 4] −→ R x 7→ x− 3 , g1: R −→ R x 7→ x− 3 , g2: R −→ R x 7→ x− 3, se x ∈ [1, 4]1, se x ≥ 4−2, se x ≤ 1 , g3: [0, 10] −→ R x 7→ { x− 3, se x ≥ 1 −x2 − 1, se x ≤ 1 , g4: R −→ R x 7→ x− 3, se x ∈ [1, 4]x2 − 3, se x ≤ 1 x3, se x > 4 g1, g2, g3 e g4 são prolongamentos de f . f é a restrição a [1, 4] de g1, de g2, de g3 e de g4. Definição 2.1.4 Sejam f : A −→ B, A1 ⊂ A, B1 ⊂ B. 1. Chama-se imagem de A1 por f ao contradomínio de f|A1 (={f(a); a ∈ A1} = {b ∈ B;∃a ∈ A1 : f(a1) = b}) Notação: f(A1) 2. Chama-se imagem recíproca de B1 por f ao conjunto {a ∈ A : f(a) ∈ B1}. Notação: f−1(B1). Observação: f−1(B) = A. Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ 3 f(R) = f({0}) = f([2, 3]) = f(Q) = {3} Qualquer que seja A1 ⊂ R, A1 6= ∅, tem-se f(A1) = {3}. f−1({0}) = f−1([−5,−1[) = f−1({pi}) = f−1({0} ∪ {4}) = ∅ f−1({3}) = f−1(Q) = f−1(R) = f−1([0, 4]) = f−1(]−∞, 3]) = R Para cada B1 ⊂ R tem-se { f−1(B1) = R, se 3 ∈ B1 f−1(B1) = ∅, se 3 6∈ B1 2.1. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES 11 2. f : ]− 10, 10[ −→ R x 7→ x2 f([0, 1]) = [0, 12 ]; f(Q∩]− 10, 10[) = Q∩]− 5, 5[; f({5}) = { 52} f−1(]3, 4[) =]6, 8[; f−1(]0,+∞[) =]0, 10[; f−1(]3, 7]) =]6, 10[; f−1([−8, 2]) =]− 10, 4] 3. f : R −→ R x 7→ x2 − 8x f(]2, 6[) = [−16,−12[; f(R) = [−16,+∞[;f([4,+∞[) = [−16,+∞[; f({0, 3, 5, 8}) = {−15, 0} f−1({0}) = {0, 8}; f−1({−7}) = {1, 7}; f−1(]−∞,−16]) = {4}; f−1(R+) =]−∞, 0[∪]8,+∞[;f−1(R−) =]0, 8[ 4. f : R −→ R x 7→ x+ 3, se x < −5x2, se x ∈ [−5, 0]1 x , se x > 0 f(R) =]−∞,−2[∪[0,+∞[; f(]− 1, 1[) = [0, 1[∪]1,+∞[; f([−6,−1]) = [−3,−2[∪[1, 25]; f({-1,1})={1} f−1(]−∞, 4]) =]−∞,−5[∪[−2, 0]∪[ 14 ,+∞[; f−1([0, 1]) = [−1, 0]∪[1,+∞[;f−1({2}) = {− √ 2, 12}; f−1(]−2, 0[) =∅ 5. idA: A −→ A x 7→ x (função identidade em A) ∀A1 ⊂ A : idA(A1) = A1 ∀A1 ⊂ A : id−1A (A1) = A1 6. Seja A ⊂ R. χA: R −→ R x 7→ { 1 se x ∈ A 0 se x 6∈ A (função característica de A) χA(A1) = {1} se A1 ⊂ A{0} se A1 ∩A = ∅{0, 1} se A1 ∩A 6= ∅ e A1 6⊂ A χ−1A (B1) = R se {0, 1} ⊂ B1 A se 1 ∈ B1, 0 6∈ B1 R \A se 1 6∈ B1, 0 ∈ B1 ∅ se 1 6∈ B1, 0 6∈ B1 Proposição 2.1.5 Seja f : A −→ B. 1. Qualquer que seja A1 ⊂ A tem-se A1 ⊂ f−1(f(A1)). 2. f é injectiva sse ∀A1 ⊂ A : A1 = f−1(f(A1)). 3. Qualquer que seja B1 ⊂ B tem-se f(f−1(B1)) ⊂ B1. 4. f é sobrejectiva sse ∀B1 ⊂ B : f(f−1(B1)) = B1. 5. A1 ⊂ A2 ⇒ f(A1) ⊂ f(A2) 6. B1 ⊂ B2 ⇒ f−1(B1) ⊂ f−1(B2) Demonstração: 1. Seja A1 ⊂ A. Se a ∈ A1, então, por definição de f(A1) tem-se f(a) ∈ f(A1). Mas, por definição de f−1(f(A1)), isso quer dizer que a ∈ f−1(f(A1)). 2. Suponhamos que f é injectiva e seja A1 ⊂ A. Pela alínea anterior, tem-se A1 ⊂ f−1(f(A1)). Seja x ∈ f−1(f(A1)), isto é f(x) ∈ f(A1). Então existe a ∈ A1 tal que f(a) = f(x), por definição de f(A1). Mas f é injectiva, portanto a = x, isto é, x ∈ A1. Suponhamos agora que ∀A1 ⊂ A : A1 = f−1(f(A1)). Sejam x1, x2 ∈ A tais que f(x1) = f(x2) e ponhamos X1 = {x1}. Tem-se X1 = f−1(f(X1)); mas f(x2) = f(x1) ∈ f(X1), portanto x2 ∈ f−1(f(X1)) = X1 = {x1}, isto é, x1 = x2. 12 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 3. Sejam B1 ⊂ B e y ∈ f(f−1(B1)). Então existe x ∈ f−1(B1) tal que y = f(x); mas x ∈ f−1(B1), logo f(x) ∈ B1, isto é, y ∈ B1. 4. Suponhamos que f é sobrejectiva. Seja B1 ⊂ B. Pela alínea anterior, tem-se f(f−1(B1)) ⊂ B1. Seja y ∈ B1. Como f é sobrejectiva, existe x ∈ A tal que f(x) = y. Mas y = f(x) ∈ B1, isto é, x ∈ f−1(B1), portanto y ∈ f(f−1(B1)). Suponhamos agora que ∀B1 ⊂ B : f(f−1(B1)) = B1. Seja y ∈ B. Então f(f−1({y})) = {y}, isto é, por definição de f(f−1({y})) existe x ∈ f−1({y}) tal que f(x) = y. 5. trivial 6. trivial � Proposição 2.1.6 Seja f : A −→ B. 1. ∀A1, A2 ⊂ A : f(A1 ∪A2) = f(A1) ∪ f(A2) 2. ∀A1, A2 ⊂ A : f(A1 ∩A2) ⊂ f(A1) ∩ f(A2) 3. ∀B1, B2 ⊂ B : f−1(B1 ∪B2) = f−1(B1) ∪ f−1(B2) 4. ∀B1, B2 ⊂ B : f−1(B1 ∩B2) = f−1(B1) ∩ f−1(B2) Demonstração: 1. De A1 ⊂ A1 ∪ A2 e A2 ⊂ A1 ∪ A2 conclui-se que f(A1) ⊂ f(A1 ∪ A2) e f(A2) ⊂ f(A1 ∪ A2). Então f(A1) ∪ f(A2) ⊂ f(A1 ∪A2). Por outro lado, se y ∈ f(A1) (resp. f(A2)) então existe x ∈ A1 (resp. A2) tal que f(x) = y; mas tem-se A1(resp. A2) ⊂ A1 ∪A2, portanto x ∈ A1 ∪A2, logo y ∈ f(A1 ∪A2). 2. De A1 ∩ A2 ⊂ A1 e A1 ∩ A2 ⊂ A2 conclui-se que f(A1 ∩ A2) ⊂ f(A1) e f(A1 ∩ A2) ⊂ f(A2), portanto f(A1 ∩A2) ⊂ f(A1) ∩ f(A2) 3. Dizer que x ∈ f−1(B1 ∪B2) é equivalente a dizer que f(x) ∈ B1 ∪B2, o que é equivalente a dizer que f(x) ∈ B1 ou f(x) ∈ B2, o que é equivalente a dizer que x ∈ f−1(B1) ou x ∈ f−1(B2), o que é equivalente a dizer que x ∈ f−1(B1) ∪ f−1(B2). 4. análoga à anterior. � Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ x4 + 1 f−1(f({0})) = {0} f−1(f({1})) = f−1({2}) = {−1, 1} 6= {1} f−1(f([−1, 3])) = f−1([1, 82]) = [−3, 3] 6= [−1, 3] f(f−1({2})) = {2} f(f−1(R)) = f(R) = [1,+∞[ 6= R f(f−1({0})) = f(∅) = ∅ 6= {0} 2. f : R −→ R x 7→ x2 A1 = [0,+∞[; A2 =]−∞, 0]; A1 ∩A2 = {0} f(A1) = f(A2) = [0,+∞[; f(A1 ∩A2) = {0} 6= [0,+∞[= f(A1) ∩ f(A2) A′1 = {1, 2}; A′2 = {2, 3}; A′1 ∩A′2 = {2} f(A′1) = {1, 4}; f(A′2) = {4, 9}; f(A′1 ∩A′2) = {4} = f(A′1) ∩ f(A′2) 2.1. GENERALIDADES SOBRE FUNÇÕES 13 3. f : R \ {0} −→ R x 7→ 1x2 A1 = {1}; A2 = {1, 2}; f(A1) = {1}; f(A2) = {1, 14}; A′1 = {1}; A′2 = {−1, 1}; f(A′1) = {1}; f(A′2) = {1}; Neste caso A′1 ⊂ A′2, A′1 6= A′2 e f(A′1) = f(A′2). Definição 2.1.7 Seja f : R −→ R 1. Diz-se que f é par sse ∀x ∈ R : f(−x) = f(x). 2. Diz-se que f é ímpar sse ∀x ∈ R : f(−x) = −f(x). 3. Diz-se que f é periódica sse existe p ∈ R \ {0} tal que ∀x ∈ R : f(x+ p) = f(x); (*) um número p ∈ R que verifica a condição (*) diz-se um período de f . Observações: 1. Se f é ímpar, então f(0) = 0. 2. Se f é par e ímpar, então f é a função nula. 3. Se p é um período de f , então ∀n ∈ Z, np tambem é um período de f . 4. Se f é periódica, contínua (ver capítulo 3) e não constante, o conjunto {p ∈ R+; p é um período de f} tem mínimo; em geral, a expressão “o período def” refere-se a este mínimo do conjunto dos períodos positivos de f . Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ xn , n ∈ N f é par se n for par; f é ímpar se n for ímpar. 2. f : R −→ R x 7→ 2x f é ímpar. 3. f : R −→ R x 7→ x− 5 f nem é par nem ímpar. 4. f : R −→ R x 7→ x− [x] f é periódica; o período de f é 1. 5. f : R −→ R x 7→ { 0 se x ∈ Q 1 se x 6∈ Q f é periódica; qualquer número racional diferente de 0 é um período de f . 6. f : R −→ R x 7→ sen x f é ímpar; f é periódica; o período de f é 2pi. 7. f : R −→ R x 7→ cos(5x+ 2) f é periódica; o período de f é 2pi5 . 8. f : R −→ R x 7→ sen 4x cos(6x− 1) f é periódica; o período de f é pi. 14 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 2.2 Soma, multiplicação e composição de funções Dadas duas funções f, g : A −→ B, designa-se por f + g a função A −→ B x 7→ f(x) + g(x) e por f.g a função A −→ B x 7→ f(x).g(x) Se g nunca se anular designa-se por f g a função A −→ B x 7→ f(x)g(x) Seja f : A −→ B e g : B −→ C. Define-se a composta g ◦ f : A −→ C por g ◦ f(x) = g(f(x)). Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ { x, se x > 1 x− 1, se x ≤ 1 g: R −→ R x 7→ { √ x, se x ≥ 0 x2, se x < 0 f + g: R −→ R x 7→ x− 1 + x 2, se x < 0 x− 1 +√x, se 0 ≤ x ≤ 1 x+ √ x, se 1 < x f.g: R −→ R x 7→ (x− 1)x 2, se x < 0 (x− 1)√x, se 0 ≤ x ≤ 1 x √ x, se 1 < x 2. f : R −→ R x 7→ { x2, se x ≤ 0 x− 3, se x > 0 g: R −→ R x 7→ { 2x, se x ≥ 1 −x+ 3, se x < 1 g(f(x)) = { 2f(x), se f(x) ≥ 1 −f(x) + 3, se f(x) < 1 = 2x2, se x ≤ 0 e f(x) ≥ 1 2(x− 3), se x > 0 e f(x) ≥ 1 −x2 + 3, se x ≤ 0 e f(x) < 1 −(x−3) + 3, se x > 0 e f(x) < 1 = 2x2, se x ≤ 0 e x2 ≥ 1 2(x− 3), se x > 0 e x− 3 ≥ 1 −x2 + 3, se x ≤ 0 e x2 < 1 −(x− 3) + 3, se x > 0 e x− 3 < 1 = 2x2, se x ∈]−∞,−1] 2(x− 3), se x ∈ [4,+∞[ −x2 + 3, se x ∈]− 1, 0] −x+ 6, se x ∈]0, 4[ g ◦ f : R −→ R x 7→ 2x2, se x ∈]−∞,−1] 2(x− 3), se x ∈ [4,+∞[ −x2 + 3, se x ∈]− 1, 0] −x+ 6, se x ∈]0, 4[ Proposição 2.2.1 Sejam f : A −→ B e g : B −→ C. 1. Se f é injectiva e g é injectiva então g ◦ f é injectiva. 2. Se f é sobrejectiva e g é sobrejectiva então g ◦ f é sobrejectiva. 3. Se g ◦ f é injectiva e f é sobrejectiva então g é injectiva. 4. Se g ◦ f é sobrejectiva e g é injectiva então f é sobrejectiva. 5. Se g ◦ f é injectiva então f é injectiva. 6. Se g ◦ f é sobrejectiva então g é sobrejectiva. Demonstração: 1. Sejam x1, x2 ∈ A tais que (g ◦ f)(x1) = (g ◦ f)(x2), isto é, g(f(x1)) = g(f(x2)). Como g é injectiva conclui-se que f(x1) = f(x2); mas f é injectiva, portanto isso implica que x1 = x2. 2. Seja z ∈ C. Como g é sobrejectiva, existe y ∈ B tal que g(y) = z; como f é sobrejectiva, existe x ∈ A tal que f(x) = y. Mas então (g ◦ f)(x) = g(f(x)) = g(y) = z. 3. Sejam y1, y2 ∈ B tais que g(y1) = g(y2). Como f é sobrejectiva, existem x1, x2 ∈ A tais que f(x1) = y1 e f(x2) = y2. Então (g ◦ f)(x1) = g(y1) = g(y2) = (g ◦ f)(x2), e de g ◦ f ser injectiva deduz-se que x1 = x2, portanto y1 = y2. 4. Seja y ∈ B e seja z = g(y). Como g ◦ f é sobrejectiva, existe x ∈ A tal que (g ◦ f)(x) = z = g(y). Mas como g é injectiva tem-se então f(x) = y. 2.2. SOMA, MULTIPLICAÇÃO E COMPOSIÇÃO DE FUNÇÕES 15 5. Sejam x1, x2 tais que f(x1) = f(x2). Então (g ◦ f)(x1) = (g ◦ f)(x2); mas g ◦ f é injectiva, portanto x1 = x2. 6. Seja z ∈ C. Como g ◦ f é sobrejectiva, existe x ∈ A tal que (g ◦ f)(x) = z. Então z = g(y), em que y = f(x). � Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ { 1 1−x , se x ≤ 0 x+ 1, se x > 0 ; g: R −→ R x 7→ x2 g ◦ f : R −→ R x 7→ { 1 (1−x)2 , se x ≤ 0 (x+ 1)2, se x > 0 Neste caso g ◦ f é injectiva, f é injectiva mas g não é injectiva. 2. f : ]−∞, 2] −→ R x 7→ 1− x ; g: R −→ R+0 x 7→ |x+ 1| g ◦ f : ]−∞, 2] −→ R+0 x 7→ |2− x| Neste caso g ◦ f é sobrejectiva, g é sobrejectiva mas f não é sobrejectiva. 3. f : [0, 1] −→ [−5, 5] x 7→ 2x ; g: [−5, 5] −→ [−5, 5] x 7→ x g ◦ f : [0, 1] −→ [−5, 5] x 7→ 2x Neste caso g é sobrejectiva mas g ◦ f não é sobrejectiva. 4. f : ]− 10, 10[ −→ R+ x 7→ |x| ; g: R+ −→ R x 7→ √x g ◦ f : ]− 10, 10[ −→ R x 7→ √|x| Neste caso g é injectiva mas g ◦ f não é injectiva. Definição 2.2.2 Seja f : A −→ B. 1. Diz-se que g : B −→ A é inversa à direita de f sse f ◦ g = idB. 2. Diz-se que g : B −→ A é inversa à esquerda de f sse g ◦ f = idA. 3. Diz-se que g é inversa de f sse g é inversa à direita e inversa à esquerda de f . Notação: f−1 Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ x3 ; f−1: R −→ R x 7→ 3√x 2. f : R −→ R+0 x 7→ x2 ; g1: R+0 −→ R x 7→ √x g2: R+0 −→ R x 7→ −√x ; g3: R+0 −→ R x 7→ { √ x, se x ∈ Q −√x, se x 6∈ Q g1, g2 e g3 são inversas à direita de f ; nenhuma é inversa à esquerda de f ; f não tem inversa à esquerda. 3. f : ]−∞, 1] −→ R x 7→ x2 − 4x g1: R −→ ]−∞, 1] x 7→ { 2−√x+ 4, se x ≥ −3 0, se x < −3 ; g2: R −→ ]−∞, 1] x 7→ { 2−√x+ 4, se x ≥ −4 x, se x < −4 g1 e g2 são inversas à esquerda de f ; nenhuma è inversa à direita de f ; f não tem inversa à direita. 16 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 4. f : R −→ ]−∞, 5[ x 7→ 2x+ 4 se x ≤ −2 x2 + 1 se x ∈]− 2, 0] x x+1 se x > 0 ; f−1: ]−∞, 5[ −→ R x 7→ x−4 2 se x ≤ 0 x 1−x se x ∈]0, 1[ −√x− 1 se x ∈ [1, 5[ Observação: f não pode ter mais do que uma inversa. De facto, se g1 e g2 são inversas de f , tem-se g1 = g1 ◦ (f ◦ g2) = (g1 ◦ f) ◦ g2 = g2. Proposição 2.2.3 Seja f : A −→ B. 1. f tem inversa à direita sse f é sobrejectiva. 2. f tem inversa à esquerda sse f é injectiva. 3. f tem inversa sse f é bijectiva Demonstração: 1. Suponhamos que g é inversa à direita de f ; então f ◦ g = idB é sobrejectiva, logo f é sobrejectiva. Por outro lado, se f é sobrejectiva, para cada x ∈ B escolha-se um elemento ax de f−1({x}) (f−1({x}) não é vazio porque f é sobrejectiva); seja g a função definida por g: B −→ A x 7→ ax Então ∀x ∈ B : f(g(x)) = x, isto é, g é uma inversa à direita de f . Observação: g não é necessariamente determinada por f , uma vez que para cada x ∈ B se pode escolher como g(x) qualquer dos elementos de f−1({x}) e este conjunto pode ter mais de um elemento. 2. Suponhamos que g é uma inversa à esquerda de f ; então g ◦ f = idA é injectiva, logo f é injectiva. Por outro lado, se f é injectiva, seja a0 um elemento qualquer de A e seja g a função definida por g : B −→ A x 7→ { o único elemento a ∈ A tal que f(a) = x, se x ∈ f(A) a0, se x 6∈ f(A) Seja a ∈ A e b = f(a). Então g(f(a)) = g(b) e g(b) é o único elemento a′ de A tal que f(a′) = b; ora f(a) = b, portanto a′ = a. Conclui-se que g ◦ f(a) = a, isto é, g é uma inversa à esquerda de f . Observação: g não é necessariamente determinada por f , uma vez que as imagens por g de elementos que não pertencem ao contradomínio de f não interferem com o facto de g ser ou não inversa à esquerda de f . 3. Do que foi visto em 1. e 2. conclui-se que se f tem inversa então f é bijectiva. Suponhamos que f é bijectiva e seja g a função definida por g: B −→ A x 7→ o único elemento a de A tal que f(a) = b Então é fácil verificar que g é a inversa de f . � Observação: Se f : A −→ B é uma função injectiva, então a função f : A −→ f(A) x 7→ f(x) é bijectiva e portanto tem inversa. Por abuso de notação designa-se frequentemente por f−1 a função f−1 : f(A) −→ A. 2.3 Monotonia, máximos e mínimos Definição 2.3.1 Seja f : A −→ B. 1. Diz-se que f é crescente sse ∀x1, x2 ∈ A : x1 < x2 ⇒ f(x1) ≤ f(x2). 2. Diz-se que f é estritamente crescente sse ∀x1, x2 ∈ A : x1 < x2 ⇒ f(x1) < f(x2). 3. Diz-se que f é decrescente sse ∀x1, x2 ∈ A : x1 < x2 ⇒ f(x1) ≥ f(x2). 4. Diz-se que f é estritamente decrescente sse ∀x1, x2 ∈ A : x1 < x2 ⇒ f(x1) > f(x2). 5. Diz-se que f é monótona sse f é crescente ou decrescente. 6. Diz-se que f é estritamente monótona sse f é estritamente crescente ou estritamente decrescente. 2.3. MONOTONIA, MÁXIMOS E MÍNIMOS 17 Observação: “f é monótona” não é equivalente a ∀x1, x2 ∈ A : (f(x1) ≤ f(x2) ou f(x2) ≤ f(x1)). Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ x+ 5 f é estritamente crescente, crescente, estritamente monótona e monótona. 2. f : R− −→ R x 7→ x2 f é estritamente decrescente, etc. 3. f : R −→ R x 7→ { 1 x , se x 6= 0 0, se x = 0 f não é crescente (por exemplo 1 < 2 e f(1) > f(2)). f não é decrescente (por exemplo −1 < 1 e f(−1) < f(1)). 4. f : R −→ R x 7→ { 0, se x < 0 x3 + 3, se x ≥ 0 f é crescente mas não estritamente crescente. Proposição 2.3.2 Se f : A −→ B é uma função bijectiva estritamente crescente (resp. estritamente decrescente) en- tão f−1 : B −→ A tambem é estritamente crescente (resp. estritamente decrescente). Demonstração: Seja f : A −→ B uma função bijectiva estritamente crescente e sejam y1, y2 ∈ B tais que y1 < y2; queremos mostrar que f−1(y1) < f−1(y2). Como f−1 é bijectiva, não se pode ter f−1(y1) = f−1(y2). Por outro lado, se f−1(y1) > f−1(y2), como f é estritamente crescente, ter-se-ia f(f−1(y1)) > f(f−1(y2)), isto é, y1 > y2, o que é contrário à hipótese. Conclui-se que f−1(y1) < f−1(y2). Demonstra-se analogamente o caso em que f é estritamente decrescente. � Definição 2.3.3 Se A1 ⊂ A diz-se que f é crescente (resp. estritamente crescente, decrescente, estritamente decrescente) em A1 sse f|A1 é crescente (resp. estritamente crescente, decrescente, estritamente decrescente). Observação: De f ser crescente (resp. estritamente crescente, decrescente, estritamente decrescente) em A1 e em A2 não se pode concluir que f é crescente (resp. estritamentecrescente, decrescente, estritamente decrescente) em A1 ∪A2. Exemplo: f : R −→ R x 7→ { 1 x , se x 6= 0 0, se x = 0 f é decrescente em ]−∞, 0[ e em ]0,+∞[ e não é decrescente em ]−∞, 0[∪]0,+∞[. Definição 2.3.4 Seja f : A −→ B. 1. Diz-se que f é limitada sse f(A) é limitado (isto é, sse ∃l ∈ R ∀a ∈ A : |f(a)| ≤ l). 2. Diz-se que f é majorada sse f(A) é majorado (isto é, sse ∃M ∈ R ∀a ∈ A : f(a) ≤M). 3. Diz-se que f é minorada sse f(A) é minorado (isto é, sse ∃m ∈ R ∀a ∈ A : f(a) ≥ m). 4. Chama-se max(f) ao máximo de f(A) (caso exista). 5. Chama-se min(f) ao mínimo de f(A) (caso exista). 6. Chama-se sup(f) ao supremo de f(A) (caso exista). 7. Chama-se inf(f) ao ínfimo de f(A) (caso exista). 8. Diz-se que f tem um máximo global em a sse f(a) = max(f) (isto é ∀x ∈ A : f(x) ≤ f(a)). 9. Diz-se que f tem um mínimo global em a sse f(a) = min(f) (isto é ∀x ∈ A : f(x) ≥ f(a)). 18 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 10. Diz-se que f tem um máximo estrito global em a sse f(a) = max(f) e ∀x ∈ A, x 6= a : f(x) < f(a). 11. Diz-se que f tem um mínimo estrito global em a sse f(a) = max(f) e ∀x ∈ A, x 6= a : f(x) > f(a). 12. Diz-se que f tem um máximo local em a sse existe algum intervalo aberto I contendo a tal que f|I∩A tenha um máximo global em a. 13. Diz-se que f tem um mínimo local em a sse existe algum intervalo aberto I contendo a tal que f|I∩A tenha um mínimo global em a. 14. Diz-se que f tem um máximo estrito local em a sse existe algum intervalo aberto I contendo a tal que f|I∩A tenha um máximo estrito global em a. 15. Diz-se que f tem um mínimo estrito local em a sse existe algum intervalo aberto I contendo a tal que f|I∩A tenha um mínimo estrito global em a. Proposição 2.3.5 Se f, g : A −→ R são funções majoradas (resp. minoradas), então f + g é majorada (resp. mino- rada) e sup(f + g) ≤ sup(f) + sup(g) (resp. inf(f + g) ≥ inf(f) + inf(g)). Demonstração: Suponhamos f e g majoradas. Tem-se ∀x ∈ A : f(x) ≤ sup(f) e g(x) ≤ sup(g). Então (f + g)(x)(= f(x) + g(x)) ≤ sup(f) + sup(g), logo f + g é majorada por sup(f) + sup(g), portanto sup(f + g) ≤ sup(f) + sup(g). A demonstração é análoga para o ínfimo. � Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ x2 − 2x+ 1 f não é majorada; f é minorada; min(f) = 0; f tem um mínimo estrito global em 1. 2. f : R −→ R x 7→ senx f é limitada; max(f) = 1; min(f) = −1; para cada k ∈ Z, f tem um máximo global (e um máximo estrito local) em 2kpi+ pi2 ; f tem um mínimo global (e um mínimo estrito local) em 2kpi− pi2 ; f não tem máximo estrito global nem mínimo estrito global em nenhum ponto. 3. f : R −→ R x 7→ { 0, se x ≤ 0 −x, se x ≥ 0 f não é minorada; f é majorada; max(f)=0; para cada x ≤ 0 f tem um máximo global em x; f não tem máximo estrito global nem local em nenhum ponto; para cada x < 0 f tem um mínimo local em x. 4. f : R −→ R x 7→ x3 − 3x f não é majorada nem minorada; f tem um máximo estrito local em −1 e um mínimo estrito local em 1. 5. f : [1, 5] −→ R x 7→ 3x f é limitada; max(f) = 15; min(f) = 3; f tem um máximo estrito global em 5 e um mínimo estrito global em 1. 6. f : R −→ R x 7→ { −2x, se x < 0 2x+ 1, se x ≥ 0 f não é majorada; f é minorada; f não tem mínimo; inf(f)=0. 7. f : [0, 1] −→ R x 7→ x , g: [0, 1] −→ R x 7→ 1− x , f + g: [0, 1] −→ R x 7→ 1 inf(f) + inf(g) = 0 < 1 = inf(f + g); sup(f + g) = 1 < 2 = sup(f) + sup(g). Definição 2.3.6 Seja f : A −→ B e a ∈ A. 2.3. MONOTONIA, MÁXIMOS E MÍNIMOS 19 1. Diz-se que f é crescente em a sse existe um intervalo aberto I contendo a tal que{ ∀x ∈ I ∩A, x > a⇒ f(x) ≥ f(a) ∀x ∈ I ∩A, x < a⇒ f(x) ≤ f(a) 2. Diz-se que f é decrescente em a sse existe um intervalo aberto I contendo a tal que{ ∀x ∈ I ∩A, x > a⇒ f(x) ≤ f(a) ∀x ∈ I ∩A, x < a⇒ f(x) ≥ f(a) 3. Diz-se que f é estritamente crescente em a sse existe um intervalo aberto I contendo a tal que{ ∀x ∈ I ∩A, x > a⇒ f(x) > f(a) ∀x ∈ I ∩A, x < a⇒ f(x) < f(a) 4. Diz-se que f é estritamente decrescente em a sse existe um intervalo aberto I contendo a tal que{ ∀x ∈ I ∩A, x > a⇒ f(x) < f(a) ∀x ∈ I ∩A, x < a⇒ f(x) > f(a) Observações: 1. f ser crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em a não é equivalente a f ser crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em {a}; f é sempre crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em {a}. 2. Se f é crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) num intervalo aberto, então é crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em qualquer ponto desse intervalo, mas f pode ser crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) num ponto a e não ser crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em nenhum intervalo aberto contendo a. Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ −2, se x 6∈ Q e x > 0 −1, se x ∈ Q e x > 0 0, se x = 0 1, se x ∈ Q e x < 0 2, se x 6∈ Q e x < 0 f é estritamente decrescente em 0 e no entanto não existe nenhum intervalo aberto I contendo 0 tal que f seja decrescente em I; f não é decrescente em nenhum outro ponto de R. 2. f : R −→ R x 7→ { 2x+ xsen 1x , se x 6= 0 0, se x = 0 f é contínua (ver capítulo 3) e estritamente crescente em 0 mas não existe nenhum intervalo aberto I contendo 0 tal que f seja crescente em I. Proposição 2.3.7 Seja f : [a, b] −→ R. 1. f é crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em a sse f tem um mínimo (resp. máximo, mínimo estrito, máximo estrito) local em a. 2. f é crescente (resp. decrescente, estritamente crescente, estritamente decrescente) em b sse f tem um máximo (resp. mínimo, máximo estrito, mínimo estrito) local em b. Demonstração: Se f é crescente em a existe um intervalo aberto I =]a− δ, a+ δ[ tal que ∀x ∈ I ∩ [a, b] { x > a⇒ f(x) ≥ f(a) x < a⇒ f(x) ≤ f(a) Mas I ∩ [a, b] = [a, a+ δ[, portanto ∀x ∈ I ∩ [a, b] : f(x) ≥ f(a), logo f tem um mínimo local em a. 20 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) Reciprocamente, se f tem um mínimo local em a, então existe um intervalo aberto I =]a − δ, a + δ[ tal que ∀x ∈ I ∩ [a, b] : f(x) ≥ f(a). Mas I ∩ [a, b] = [a, a+ δ[, portanto ∀x ∈ I ∩ [a, b] { x > a⇒ f(x) ≥ f(a) x < a⇒ f(x) ≤ f(a) de onde se conclui que f é crescente em a. Os outros casos demonstram-se de maneira análoga. � 2.4 Gráficos Dados dois conjuntos não vazios A e B, define-se o produto cartesiano A×B por A×B = {(a, b); a ∈ A, b ∈ B}. Seja f : A −→ B. Definição 2.4.1 O gráfico de f é o subconjunto de A×B Gr(f) = {(a, f(a)); a ∈ A} = {(a, b) ∈ A×B; b = f(a)}. Seja X ⊂ A × B. Dizer que X é o gráfico de alguma função f : A −→ B, equivale a dizer que qualquer “recta vertical” (isto é, qualquer conjunto Ya = {(a, y); y ∈ B}, a ∈ X) intersecta X num e num só ponto. Se f : A −→ B e a ∈ A, então {(a, y); y ∈ B} ∩Gr(f) = {(a, y); y = f(a)} = {(a, f(a))}. Portanto qualquer recta vertical intersecta Gr(f) num único ponto. Supondo agora que X ⊂ A×B e que qualquer recta vertical intersecta X num único ponto, seja f a função definida por f : A −→ B x 7→ o único ponto b de B tal que (x, b) ∈ X . Então Gr(f) = X. � Proposição 2.4.2 1. f é sobrejectiva sse qualquer “recta horizontal” (isto é, qualquer conjunto Xb = {(x, b);x ∈ A}, b ∈ Y ) intersectar Gr(f). 2. f é injectiva sse nenhuma recta horizontal intersectar Gr(f) em mais do que um ponto. 3. f é bijectiva sse qualquer recta horizontal intersectar Gr(f) num único ponto. Demonstração: 1. f é sobrejectiva sse ∀b ∈ B ∃a ∈ A : f(a) = b, isto é, sse ∀b ∈ B ∃a ∈ A : (a, b) ∈ Gr(f), isto é, sse qualquer recta horizontal intersecta Gr(f). 2. f é injectiva sse ∀x1, x2 ∈ A : f(x1) = f(x2) ⇒ x1 = x2, isto é, sse ∀x1, x2 ∈ A, y ∈ B : (x1, y) ∈ Gr(f) e (x2, y) ∈ Gr(f) ⇒ x1 = x2, ou ainda, sse∀y ∈ B : {(a, y); a ∈ A} ∩ Gr(f) não tem mais de um elemento, o que acontece sse qualquer recta horizontal intersecta Gr(f) no máximo num ponto. 3. consequência trivial de 1. e 2. � Se A e B são dois conjuntos não vazios, chama-se projecção de A × B em A (resp. de A × B em B) à função p1 : A×B −→ A (x, y) 7→ x (resp. p2 : A×B −→ B (x, y) 7→ y ). Proposição 2.4.3 Seja f : A −→ B, A1 ⊂ A, B1 ⊂ B. 1. f(A1) é a projecção sobre B de Gr(f) ∩ (A1 ×B). 2. f−1(B1) é a projecção sobre A de Gr(f) ∩ (A×B1). Demonstração: 1. Se y ∈ f(A1) então existe x ∈ A1 tal que f(x) = y, portanto (x, y) ∈ Gr(f) ∩ (A1 × B), ou seja, y pertence à projecção sobre B de Gr(f) ∩ (A1 ×B). Reciprocamente, se y pertence à projecção sobre B de Gr(f) ∩ (A1 × B), então existe um x ∈ A tal que (x, y) ∈ Gr(f)∩ (A1×B). De (x, y) ∈ A1×B conclui-se que x ∈ A1, e de (x, y) ∈ Gr(f) conclui-se que y = f(x), logo y ∈ f(A1). 2.4. GRÁFICOS 21 2. Se x ∈ f−1(B1), então f(x) ∈ B1, portanto (x, f(x)) ∈ Gr(f) ∩ (A×B1), ou seja, x pertence à projecção sobre A de Gr(f) ∩ (A×B1). Reciprocamente, se x pertence à projecção sobre A de Gr(f) ∩ (A × B1), então existe y ∈ B tal que (x, y) ∈ Gr(f) ∩ (A× B1). De (x, y) ∈ A× B1 conclui-se que y ∈ B1, e de (x, y) ∈ Gr(f) conclui-se que y = f(x), logo f(x) ∈ B1, isto é, x ∈ f−1(B1). � Proposição 2.4.4 1. f é par sse o gráfico de f é simétrico em relação ao eixo dos yy. 2. f é ímpar sse o gráfico de f é simétrico em relação à origem. Demonstração: 1. f é par sse ∀x ∈ R : f(−x) = f(x), isto é, sse ∀x ∈ R : (x, y) ∈ Gr(f) ⇔ (−x, y) ∈ Gr(f), mas isto quer dizer que o gráfico de f é simétrico em relação ao eixo dos yy. 2. f é ímpar sse ∀x ∈ R : f(−x) = −f(x), isto é, sse ∀x ∈ R : (x, y) ∈ Gr(f) ⇔ (−x,−y) ∈ Gr(f), mas isto quer dizer que o gráfico de f é simétrico em relação à origem. � Proposição 2.4.5 Seja f : A −→ B uma função bijectiva. Então o gráfico de f−1 : B −→ A é o simétrico do gráfico de f relativamente à recta de equação y = x. Demonstração: Tem-se (a, b) ∈ Gr(f) ⇔ b = f(a) ⇔ f−1(b) = a ⇔ (b, a) ∈ Gr(f−1) Ora (a, b) e (b, a) são pontos simétricos em relação à recta de equação y = x, de onde se conclui que os pontos do gráfico de f−1 são os simétricos dos pontos do gráfico de f relativamente à recta de equação y = x. � Exemplos: 1. f : [0, 7] −→ R x 7→ x2 − 6x+ 4 ; g: [−2, 2] −→ R x 7→ x4 + 1 1 2 3 4 5 6 7 f -5 -2.5 2.5 5 7.5 10 -2 -1 1 2 g 0.5 1 1.5 2 2.5 2. f : [1, 4] −→ R x 7→ x− 3 ; g1: [0, 6] −→ R x 7→ { x− 3 se x ≥ 1 −x2 − 1 se x < 1 ; g2: [0, 6] −→ R x 7→ x− 3 se x ∈ [1, 4] x2 − 3 se x ≤ 1 x2 10 se x > 4 g1 e g2 são prolongamentos de f ; f é a restrição de g1 e de g2. 22 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) 1 2 3 4 5 6 f -4 -2 0 2 4 1 2 3 4 5 6 g1 -2 -1 1 2 3 1 2 3 4 5 6 g2 -3 -2 -1 1 2 3 3. f1: [−3, 3] −→ R x 7→ x− [x] ; f2: [−4, 4] −→ R x 7→ cos(5x+ 2) ; f3: [−4, 4] −→ R x 7→ sen 4x cos(6x− 1) f1, f2 e f3 são periódicas; os respectivos períodos são 1, 2pi/5 e pi. -3 -2 -1 1 2 3 0.2 0.4 0.6 0.8 1 -4 -2 2 4 f2 -1 -0.5 0.5 1 -4 -2 2 4 f3 -1 -0.5 0.5 1 4. f : [−3, 3] −→ R x 7→ x4/2− 3x2 + 1 ; g: [−2, 2] −→ R x 7→ x3 − x f é par; g é ímpar. -3 -2 -1 1 2 3 f -2 2 4 6 -2 -1 1 2 g -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 5. f : [−3, 6] −→ R x 7→ { x2 se x ≤ 0 x− 3 se x > 0 ; g: [−3, 6] −→ R x 7→ { 2x se x ≥ 1 −x+ 3 se x < 1 ; g ◦ f : [−3, 6] −→ R x 7→ 2x2 se x ∈ [−1, 0] 2x− 6 se x ∈]0, 4] −x2 + 3 se x < −1 −x+ 6 se x ≥ 4 2.4. GRÁFICOS 23 -2 2 4 6 f -2 2 4 6 8 -2 2 4 6 g 2 4 6 8 10 12 -2 2 4 6 gof -6 -4 -2 2 6. f : [−4, 4] −→ [0, 16] x 7→ x2 ; g1: [0, 16] −→ [−4, 4] x 7→ √x ; g2: [0, 16] −→ [−4, 4] x 7→ { √ x se [x] par −√x se [x] ímpar g1 e g2 são inversas à direita de f . -4 -2 2 4 f 2.5 5 7.5 10 12.5 15 2.5 5 7.5 10 12.5 15 g1 1 2 3 4 2.5 5 7.5 10 12.5 15 g2 -4 -2 2 4 7. f : [−1, 1] −→ [−6, 5] x 7→ x2 − 4x ; g1: [−6, 5] −→ [−1, 1] x 7→ { 2−√x+ 4 se x ≥ −3 1 2 se x < −3 ; g2: [−6, 5] −→ [−1, 1] x 7→ { 2−√x+ 4 se x ≥ −4 x se x < −4 g1 e g2 são inversas à esquerda de f . -1-0.5 0.5 1 f -2 2 4 -6 -4 -2 2 4 g1 -1 -0.5 0.5 1 -6 -4 -2 2 4 g2 -6 -4 -2 2 8. f : [−4,+∞[ −→ [−4, 5[ x 7→ 2x+ 4 se x ∈ [−4,−2] x2 + 1 se x ∈]− 2, 0] x x+1 se x > 0 ; f−1: [−4, 5[ −→ [−4,+∞[ x 7→ x−4 2 se x ∈ [−4, 0] x 1−x se x ∈]0, 1[ −√x− 1 se x ∈ [1, 5[ 24 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) -4 -2 2 4 6 f -4 -2 2 4 -4 -2 2 4 -1 f -4 -2 2 4 6 9. f : [−6pi, 6pi] −→ R x 7→ { 2x+ xsen 1x se x 6= 0 0 se x = 0 -0.1-0.05 0.05 0.1 f -0.2 -0.1 0.1 0.2 10. Os exemplos seguintes mostram casos em que f−1(f(C)) 6= C e f(f−1(D)) 6= D. f(C) C -1 f (f(C)) -1 f (D) D -1 f( f (D)) Observações: 1. Dada uma função f : A −→ R e a ∈ R, o gráfico da função g: {x : x− a ∈ A} −→ R x 7→ f(x− a) é o translatado do gráfico de f de |a| unidades na horizontal (para a direita se a > 0, para a esquerda se a < 0). 2.4. GRÁFICOS 25 2. Dada uma função f : A −→ R e a ∈ R, o gráfico da função g: A −→ R x 7→ f(x) + a é o translatado do gráfico de f de |a| unidades na vertical (para cima se a > 0, para baixo se a < 0). Exemplo f : R −→ R x 7→ x22 ; f1: R −→ R x 7→ (x−2)22 ; f2: R −→ R x 7→ x22 − 1 ; f3: R −→ R x 7→ (x+1)22 + 2 ; -3 -2 -1 1 2 3 f 1 2 3 4 -1 1 2 3 4 5 f1 1 2 3 4 -3 -2 -1 1 2 3 f2 -1 1 2 3 -4 -3 -2 -1 1 2 f3 1 2 3 4 5 6 26 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES (REAIS DE VARIÁVEL REAL) Capítulo 3 Limites e continuidade 3.1 Limites As figuras seguintes mostram gráficos de funções que ilustram o significado geométrico da existência de lim x→a f(x). f1 a l f1(a) f2 a l1 l2 f2(a) f3 a f3(a) f4 a f5 a f5(a) Tem-se lim x→a f1(x) = l 6= f(a); limx→a+ f2(x) = l2; limx→a− f2(x) = l1; não existe limx→a f2(x); limx→a f3(x) = f3(a); não existe lim x→a+ f4(x) nem lim x→a− f4(x); lim x→a f5(x) = f5(a). Definição 3.1.1 1. Diz-se que a é um ponto de acumulação (resp. ponto de acumulação à direita, ponto de acumulação à esquerda) de um conjunto A sse para qualquer δ > 0 existe x ∈]a − δ, a + δ[∩(A \ {a}), (resp. x ∈]a− δ, a[∩A, x ∈]a, a+ δ[∩A). 2. Diz-se que a é um ponto de acumulação bilateral de A sse a é um ponto de acumulação à direita de A e a é um ponto de acumulação à esquerda de A. Seja f : A −→ B. Observação: Sempre que se escrever f(x), supõe-se que x pertence ao domínio de f , embora isso por vezes não seja explicitamente mencionado, para não sobrecarregar a exposição. Definição 3.1.2 1. Diz-se que l é limite de f quando x tende para a sse a é ponto de acumulação de A e ∀� > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x)− l| < �. 27 28 CAPÍTULO 3. LIMITES E CONTINUIDADE 2. Diz-se que l é limite à esquerda de f quando x tende para a sse l for limite de f|A∩]−∞,a[ quando x tende para a. 3. Diz-se que l é limite à direita de f quando x tende para a sse l for limite de f|A∩]a,+∞[ quando x tende para a. Proposição 3.1.3 Se l1 e l2 são limites de f quando x tende para a então l1 = l2. Demonstração: Suponhamos que l1 6= l2; então |l1−l2| > 0. Seja δ1 > 0 tal que 0 < |x−a| < δ1 ⇒ |f(x)−l1| < |l1−l2|/2 (existe tal δ1 porque l1 é limite de f quando x tende para a). Seja δ2 > 0 tal que 0 < |x−a| < δ2 ⇒ |f(x)−l2| < |l1−l2|/2 (existe tal δ2 porque l2 é limite de f quando x tende para a). Sejaagora δ = min{δ1, δ2} e seja x ∈]a− δ, a+ δ[\{a}. Então 0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x)− l1| < |l1 − l2|/2 e |f(x)− l2| < |l1 − l2|/2 ⇒ |(l1 − f(x)) + (f(x)− l2)| ≤ |l1 − f(x)|+ |f(x)− l2| < |l1 − l2|/2 + |l1 − l2|/2 = |l1 − l2| ⇒ |l1 − l2| < |l1 − l2| o que é impossível. Conclui-se que l1 = l2. � Notação: Se l é (o único) limite de f quando x tende para a, escreve-se lim x→a f(x) = l; se l é (o único) limite à esquerda de f quando x tende para a, escreve-se lim x→a− f(x) = l; se l é (o único) limite à direita de f quando x tende para a, escreve-se lim x→a+ f(x) = l. Proposição 3.1.4 1. Seja a um ponto de acumulação bilateral de A. Então lim x→a f(x) = l sse limx→a+ f(x) = l e lim x→a− f(x) = l. 2. Seja a um ponto de acumulação à esquerda mas não à direita (resp. à direita mas não à esquerda) de A. Então lim x→a f(x) = l sse limx→a+ f(x) = l (resp. sse limx→a− f(x) = l). Demonstração: 1. Para um ponto de acumulação bilateral a de A, é trivial que se l é limite de f quando x tende para a então l é limite à direita de f quando x tende para a e l é limite à esquerda de f quando x tende para a. Suponhamos que lim x→a+ f(x) = l e lim x→a− f(x) = l e seja � > 0. Sejam δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que a < x < a+ δ1 ⇒ |f(x)− l| < � e a− δ2 < x < a⇒ |f(x)− l| < �. Se δ = min{δ1, δ2}, então 0 < |x− a| < δ ⇒ a < x < a+ δ ou a− δ < x < a ⇒ a < x < a+ δ1 ou a− δ2 < x < a ⇒ |f(x)− l| < � Logo ∀� > 0 ∃δ > 0 : 0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x)− l| < �. 2. demonstração trivial � Proposição 3.1.5 Existe l ∈ R tal que lim x→a f(x) = l sse a é ponto de acumulação de A e ∀� > 0 ∃δ > 0 ∀x, x ′ ∈ ]a− δ, a+ δ[\{a} : |f(x)− f(x′)| < �. Demonstração: Suponhamos que l = lim x→a f(x) e seja � > 0; existe então δ > 0 tal que 0 < |x−a| < δ ⇒ |f(x)−l| < �/2. Sejam x, x′ ∈]a−δ, a+δ[\{a}; então tem-se 0 < |x−a| < δ e 0 < |x′−a| < δ, portanto |f(x)−l| < �/2 e f(x′)−l| < �/2, de onde |f(x)− f(x′)| = |f(x)− l + l − f(x′)| ≤ |f(x)− l|+ |l − f(x′)| < �/2 + �/2 = �. Suponhamos agora que ∀� > 0 ∃δ > 0 ∀x, x′ ∈]a− δn, a+ δn[\{a} : |f(x)−f(x′)| < �. Para cada n ∈ N, seja δn > 0 tal que ∀x, x′ ∈]a−δ, a+δ[\{a} : |f(x)−f(x′)| < 1/n e tal que δn < δn−1 se n > 1. Seja xn um ponto do domínio de f tal que |xn−a| < δn. Então, para x ∈]a− δn, a+ δn[\{a} tem-se |f(x)−f(xn)| < 1/n, portanto f(]a− δn, a+ δn[\{a}) está contido no intervalo [f(xn)− 1/n, f(xn) + 1/n], que tem comprimento 2/n. Daqui podemos concluir a existência de uma sucessão decrescente de intervalos fechados In, tal que 3.1. LIMITES 29 1. ∀n ∈ N comprimento de In ≤ 2/n; 2. ∀n ∈ N : f(]a− δn, a+ δn[\{a}) ⊂ In. Basta pôr I1 = [f(x1)− 1, f(x1) + 1] e In+1 = In ∩ [f(xn+1)− 1n+1 , f(xn+1) + 1n+1 ] para n ≥ 1. Pelo teorema do encaixe de intervalos, existe l ∈ ⋂n∈N In; tem-se mesmo ⋂n∈N In = {l}, visto que o comprimento de In tende para 0. Vejamos que l é limite de f quando x tende para a. Para todo o � > 0 sejam n ∈ N tal que n > 3/�, δ = δn e an 6= a tal que |an − a| < δ e an pertence ao domínio de f ; se 0 < |x− a| < δ então |f(x)− l| ≤ |f(x)− f(an)|+ |f(an)− l| < 1/n+ |f(an)− l|. Ora f(an) e l pertencem a In, logo |f(xn) − l| ≤ 2/n, portanto |f(x) − l| < 1/n + 2/n = 3/n < �. Conclui-se que lim x→a f(x) = l. � Exemplos: 1. f : R −→ R x 7→ 3x+ 1 lim x→5 f(x)=16 Demonstração: Seja � > 0. Queremos mostrar que existe δ > 0 tal que 0 < |x− 5| < δ ⇒ |f(x)− 16| < �. Mas |f(x) − 16| = |3x + 1 − 16| = |3x − 15| = 3|x − 5|. Então |x − 5| < �/3 ⇒ |f(x) − 16| < �, isto é, basta tomar δ = �/3. � 2. f : R −→ R x 7→ { x se x ≤ 0 2x+ 2 se x > 0 Não existe lim x→0 f(x); lim x→0+ f(x)=2; lim x→0− f(x)=0 Demonstração: Para x > 0 tem-se f(x) > 2 e para x < 0, f(x) < 0. Então, se δ > 0 tem-se f(δ/2) > 2 e f(−δ/2) < 0, logo f(δ/2) − f(−δ/2) > 2. Conclui-se que se � = 1 então ∀δ > 0 ∃x = δ/2, x′ = −δ/2 : 0 < |x|, |x′| < δ e |f(x)− f(x′)| > �. Logo não existe lim x→0 f(x). Para x > 0, tem-se f(x) − 2 = 2x + 2 − 2 = 2x. Logo se 0 < x < δ, então |f(x) − 2| < 2δ. Conclui-se que ∀� > 0 ∃δ > 0 : 0 < x < δ ⇒ |f(x)− 2| < � (para cada � > 0 basta tomar δ = �/2). Logo lim x→0+ f(x)=2. Para x < 0 tem-se f(x) = x. Logo se −δ < x < 0 então |f(x)| = |x| < δ. Conclui-se que ∀� > 0 ∃δ > 0 : −δ < x < 0⇒ |f(x)| < � (para cada � > 0 basta tomar δ = �). Logo lim x→0− f(x)=0. � 3. f : R −→ R x 7→ x2 ; a ∈ R lim x→a f(x)=a 2 Demonstração: Suponhamos a ≤ 0 (a demonstração para a > 0 é análoga). Seja � > 0. Queremos mostrar que existe δ > 0, tal que 0 < |x − a| < δ ⇒ |x2 − a2| < �. Ora |x2 − a2| = |x − a||x + a|. Se |x − a| < 1 então −1 < x − a < 1, de onde 2a − 1 < x + a < 2a + 1, e, portanto, |x + a| < max{|2a − 1|, |2a + 1|}, que é 1 − 2a porque a < 0; logo |x+ a| < 1− 2a. Então, se δ = min{1, �1−2a} tem-se, para todo o x tal que |x− a| < δ, |x2 − a2| = |x− a||x+ a| < |x− a|(1− 2a) (porque |x− a| < 1) < � 1− 2a (1− 2a) (porque |x− a| < � 1−2a ). = � � 4. f : R \ {0} −→ R x 7→ cos(1/x) Não existe lim x→0+ f(x) nem lim x→0− f(x). Demonstração: Para qualquer inteiro k 6= 0 tem-se f( 12kpi ) = 1 e f( 12kpi ) = −1, isto é, arbitrariamente próximo de 0 dos dois lados temos pontos cuja imagem é 1 e pontos cuja imagem é −1. Mais precisamente, sejam � = 1, δ > 0. e k um número inteiro positivo tal que 2kpi > 2/δ (então tambem 2kpi + pi > 2/δ); para x1 = 12kpi e 30 CAPÍTULO 3. LIMITES E CONTINUIDADE x2 = 12kpi , tem-se |x1 − x2| ≤ |x1| + |x2| < δ e |f(x1) − f(x2)| = 1 − (−1) = 2 > �. Então existe � > 0 tal que para todo o δ > 0 existem x1 = 12kpi e x2 = 1 2kpi+pi maiores do que 0 tais que |x1 − x2| < δ e |f(x1)− f(x2)| > �. Conclui-se da proposição anterior que não existe lim x→0+ f(x). De maneira análoga se conclui que não existe lim x→0− f(x). � 5. f : R \ {0, 1} −→ R x 7→ x2x−1 sen 1x lim x→0 f(x)=0 Demonstração: Para x tal que 0 < |x| < 1/2 tem-se |x− 1| > 1/2, portanto |x2/(x− 1)| < 2|x2|. Por outro lado, para qualquer x 6= 0 tem-se | sen(1/x)| ≤ 1. Seja agora � > 0. Ponhamos δ = min{1/2, �/2} e seja x tal que 0 < |x| < δ; por se ter δ ≤ 1/2, deduz-se que 0 < |x| < 1/2, portanto |f(x)| = |x2/(x − 1)|| sen(1/x)| < 2|x|2 ≤ 2|x|;e por se ter δ ≤ �/2 deduz-se que |x| < �/2. Conclui-se pois que se 0 < |x| < δ então |f(x)| < �. � 6. f : R \ {2} −→ R x 7→ 1x−2 lim x→3/2 f(x)=-2 Demonstração: f(x)− (−2) = 1x−2 + 2 = 2x−3x−2 = 2(x−3/2)x−2 Se |x− 3/2| < 1/4, então |x− 2| > 1/4, portanto 2(x−3/2)x−2 < 8|x− 3/2|. Para cada � > 0, seja δ = min{1/4, �/8} e consideremos x tal que |x− 3/2| < δ. Por se ter δ ≤ 1/4, conclui-se que |f(x)− (−2)| < 8|x− 3/2|; por se ter δ ≤ �/8 conclui-se que 8|x− 3/2| < �. Então, para x tal que 0 < |x− 3/2| < δ, tem-se |f(x)− (−2)| < �. � Sejam f : A −→ B, l ∈ R, a ∈ R. Definição 3.1.6 1. Diz-se que lim x→+∞ f(x) = l sse A não é majorado e ∀� > 0 ∃R ∈ R : x > R⇒ |f(x)− l| < �. 2. Diz-se que lim x→−∞ f(x) = l sse A não é minorado e ∀� > 0 ∃R ∈ R : x < R⇒ |f(x)− l| < �. 3. Diz-se que lim x→a f(x) = +∞ sse a é ponto de acumulação de A e ∀R ∈ R ∃δ > 0 : 0 < |x− a| < δ ⇒ f(x) > R. 4. Diz-se que lim x→+∞ f(x) = +∞ sse A não é majorado e ∀M ∈ R ∃R ∈ R : x > R⇒ f(x) > M . Observações: 1. Define-se de maneira semelhante: lim x→a f(x) = −∞, limx→a+ f(x) = +∞, limx→a− f(x) = +∞, limx→a+ f(x) = −∞, lim x→a− f(x) = −∞, lim x→+∞ f(x) = −∞, limx→−∞ f(x) = +∞, limx→−∞ f(x) = −∞. 2. As notações utilizadas nas definições anteriores pressupõem a prévia demonstração da unicidade do limite em cada caso, demonstração essa que não será aqui feita por ser semelhante à demonstração da unicidade do limite de f(x) quando x tende para a ∈ R. Exemplos: 1. lim x→+∞ 3x+ cosx x = 3 Demonstração: Para x > 0 tem-se | 3x+cos xx − 3| = | cos xx | ≤ | 1x | = 1x . Para cada � > 0 seja R = 1/�; para x > R tem-se 1x < �, portanto | 3x+cos xx − 3| < �. � 2. lim x→−∞ x2 + 5 3x2 − 2x = 1 3 Demonstração: Tem-se ∣∣∣∣x2 + 53x2 − 2x − 13 ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ 3x2 + 153(3x2 − 2x) − 3x2 − 2x3(3x2 − 2x) ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ 2x+ 159x2 − 6x ∣∣∣∣ . Para x < 0 tem-se ∣∣∣∣ 2x+ 159x2 − 6x ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣2 + 15/x9x− 6 ∣∣∣∣ ≤ 2|9x− 6| + ∣∣∣∣ 15/x9x− 6 ∣∣∣∣ ; 3.1. LIMITES 31 ora |9x− 6| = 6− 9x, 16−9x < 16 , e 16−9x < − 19x , portanto 2 |9x− 6| + ∣∣∣∣ 15/x9x− 6 ∣∣∣∣ = 26− 9x + |15/x|6− 9x < − 29x − 156x. Então, se − 29x < �/2 e − 156x < �/2, tem-se ∣∣∣ x2+53x2−2x − 13 ∣∣∣ < �. Mas x < − 49� ⇒ − 29x < �/2 e x < − 5� ⇒ − 156x < �/2. Conclui-se que, para cada � > 0, existe R ∈ R (R = min{− 49� ,− 5� }) tal que x < R⇒ ∣∣∣ x2+53x2−2x − 13 ∣∣∣ < �. � 3. lim x→1− 1 x2 − 1 = −∞ Demonstração: Para x tal que 0 < x < 1, tem-se 1 < x+ 1 < 2, portanto 12 < 1 x+1 < 1, de onde 1 x2−1 < 1 2(x−1) . Seja R ∈ R; se R ≥ 0, pondo δ = 1, tem-se −δ < x− 1 < 0⇒ 1/2(x− 1) < 0 ≤ R, portanto 1/(x2 − 1) < R. Se R<0, pondo δ = min{1,−1/(2R)}, tem-se −δ < x− 1 < 0 ⇒ 1 x2 − 1 < 1 2(x− 1) (porque 0 < x < 1) ⇒ 12(x− 1) < − 1 2δ (porque −δ < x− 1 < 0) ⇒ 12(x− 1) < R (porque δ < − 1 2R ⇒ − 12δ < R) � 4. f : R −→ R x 7→ x cosx Não existe lim x→+∞ f(x) Demonstração: Suponhamos que lim x→+∞ f(x) = l ∈ R. Então existe R ∈ R tal que x > R⇒ |f(x)− l| < 1. Seja k ∈ Z tal que 2kpi > |l|+ 1 e 2kpi > R. Então, para x = 2kpi, tem-se f(x) = 2kpi > |l|+ 1, portanto |2kpi− l| > 1, o que é absurdo. Por outro lado, se lim x→+∞ f(x) = +∞, então existe R ∈ R tal que x > R ⇒ f(x) > 1, mas se k ∈ Z é tal que kpi + pi/2 > R, então para x = kpi + pi/2 tem-se x > R e f(x) = 0. Analogamente se mostra que não se tem lim x→+∞ f(x) = −∞. � 5. lim x→+∞x n = +∞, para todo o n ∈ N. Demonstração: Para cada M ∈ R, seja R = max{1,M}. Então x > R ⇒ xn ≥ x (porque x > 1) ⇒ x > M (porque R ≥M) ⇒ xn > M � 6. lim x→−∞x n = { +∞ se n par −∞ se n ímpar Demonstração: Se n é par, então x < −1 ⇒ −x > 1 ⇒ (−x)n ≥ −x ⇒ xn ≥ −x Para cada M ∈ R seja R = min{−1,−M}. Então x < R ⇒ x < −1 ⇒ xn ≥ −x ⇒ xn > M 32 CAPÍTULO 3. LIMITES E CONTINUIDADE Se n é ímpar, então x < −1 ⇒ −x > 1 ⇒ (−x)n ≥ −x ⇒ −xn ≥ −x ⇒ xn ≤ x Para cada M ∈ R seja R = min{−1,M}. Então x < R ⇒ x < −1 ⇒ xn ≤ x ⇒ xn < M � Proposição 3.1.7 Seja a ∈ R ∪ {−∞,+∞}, c, l1, l2 ∈ R. 1. lim x→a c = c 2. lim x→ax = a 3. Se lim x→a f(x) = l1 e limx→a g(x) = l2, então limx→a(f + g)(x) = l1 + l2. 4. Se lim x→a f(x) = l1 e limx→a g(x) = l2, então limx→a(f.g)(x) = l1l2. 5. Se lim x→a f(x) = l1 6= 0 então limx→a 1/f(x) = 1/l1. Demonstração: A demonstração só será feita no caso de a ∈ R; nos outros casos o raciocínio é análogo. 1. Seja � > 0; para qualquer δ > 0, em particular, por exemplo para δ = 1, tem-se 0 < |x− a| < δ ⇒ |c− c| < �. 2. Seja � > 0; se tomarmos δ = �, então 0 < |x− a| < δ ⇒ |x− a| < �. 3. Seja � > 0; sejam δ1, δ2 > 0 tais que 0 < |x− a| < δ1 ⇒ |f(x)− l1| < �/2 e 0 < |x− a| < δ2 ⇒ |g(x)− l2| < �/2. Se tomarmos δ = min{δ1, δ2}, tem-se 0 < |x − a| < δ ⇒ |(f + g)(x) − (l1 + l2)| = |f(x) − l1 + g(x) − l2| ≤ |f(x)− l1|+ |g(x)− l2| < �/2 + �/2 = �. 4. Seja � > 0; tem-se |(fg)(x)− l1l2| = |f(x)g(x)− l1l2| = |f(x)g(x)− l1g(x) + l1g(x)− l1l2| ≤ |g(x)||f(x)− l1|+ |l1||g(x)− l2|. Se |g(x)||f(x)− l1| < �/2 e |l1||g(x)− l2| < �/2, então |(fg)(x)− l1l2| < �. Mas |l1||g(x)− l2| ≤ max{1, |l1|}|g(x)− l2|, portanto |g(x)− l2| < �2 max{1, |l1|} ⇒ |l1||g(x)− l2| < �|l1| 2 max{1, |l1|} < �/2. Por outro lado, |g(x)−l2| < 1⇒ l2−1 < g(x) < l2+1⇒ |g(x)| < |l2|+1. Se |g(x)−l2| < 1 e |f(x)−l1| < �2(|l2|+1) , então |g(x)||f(x)− l1| < (|l2|+ 1) �2(|l2|+1) = �/2. Ora existem δ1, δ2, δ′2 tais que 0 < |x− a| < δ1 ⇒ |f(x)− l1| < � 2(|l2|1+) , 0 < |x− a| < δ2 ⇒ |g(x)− l2| < �2(max{1,|l1|}) , 0 < |x− a| < δ′2 ⇒ |g(x)− l2| < 1. Se δ = min{δ1, δ2, δ′2}, então 0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x)g(x)− l1l2| < �2 + �2 = �. 5. Se f(x) 6= 0 então ∣∣∣ 1f(x) − 1l1 ∣∣∣ = |f(x)−l1||f(x)||l1| . Mas, se |f(x)| > |l1|/2 então 1|f(x)||l1| < 2|l1|2 . Como l1 6= 0, existe δ1 > 0 tal que 0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f(x) − l1| < |l1|/2; então 0 < |x − a| < δ1 ⇒ l1 − |l1|/2 < f(x) < l1 + |l1|/2 ⇒ |f(x)| > |l1|/2 (o que implica, em particular, f(x) 6= 0). Seja agora � > 0; do que vimos resulta que, para x tal que 0 < |x− a| < δ1, se tem ∣∣∣ 1f(x) − 1l1 ∣∣∣ < 2|f(x)−l1||l1|2 . Mas, por outro lado, existe δ2 > 0 tal que 0 < |x− a| < δ2 ⇒ |f(x)− l1| < �|l1|2 = �|l1|2/2. Para δ = min{δ1, δ2}, tem-se então 0 < |x− a| < δ ⇒ ∣∣∣∣ 1f(x) − 1l1 ∣∣∣∣ < 2�|l1|22|l1|2 = �. 3.1. LIMITES 33 Observação: Os n.os 3,4,5 da proposição anterior são válidos quando l1 ou l2 são infinitos, se convencionarmos as seguintes regras: se l ∈ R então l+(+∞)=(+∞)+ l = +∞, l/(+∞) = l/(−∞) = 0, l+(−∞)=(−∞)+ l = −∞; se l ∈ R \ {0}, l.(+∞) = (+∞).l = (sinal de l)∞, l.(−∞) = (−∞).l = (sinal contrário ao de l)∞, (+∞)/l = (sinal de l)∞, (−∞).l = (sinal contrário ao de l)∞, (+∞).(+∞) = (−∞).(−∞) = +∞, (+∞).(−∞) = (−∞).(+∞) = −∞, (+∞)+ (+∞) = +∞, (−∞) + (−∞) = −∞. Exemplos: 1. lim x→1 x2 + 3x x3 − 5x2 = −1 2. lim x→+∞ x2 + 1 x+ 1 = +∞ Neste caso, lim x→+∞x 2 + 1 = +∞ e lim x→+∞x+ 1 = +∞, portanto não se pode concluir nada sobre o limite do quociente directamente a partir da proposição anterior. Mas, para x 6= 0, x2+1x+1 = x+ 1x 1+ 1x . Ora lim x→+∞x+ 1 x = lim x→+∞x+ limx→+∞ 1 x = +∞+ 1lim x→+∞x = +∞+ 1+∞ = +∞+0 = +∞. Analogamente se conclui que limx→+∞ 1 + 1 x = 1. Então lim x→+∞ x2 + 1 x+ 1 = limx→+∞ x+ 1x 1 + 1x = +∞1 = +∞. 3. lim x→+∞ x+ 1 x2 + 1=0 Com efeito, para x 6= −1, x+ 1 x2 + 1 = 1 x2+1 x+1 e lim x→+∞ x2 + 1 x+ 1 = +∞. 4. lim x→3 x2 − 9 (x− 3)3 = +∞ Para x 6= 3, tem-se x2−9(x−3)3 = x+3(x−3)2 . Ora limx→3x+ 3 = 6 e limx→3(x− 3) 2 = 0, portanto lim x→3 x2 − 9 (x− 3)3 = +∞. 5. lim x→3 (x2 − 9)3 (x− 3)2 = 0 Para x 6= 3, tem-se (x2−9)3(x−3)2 = (x− 3)(x+ 3)3, de onde limx→3 (x2 − 9)3 (x− 3)2 = 0.6 3 = 0. 6. lim x→3 x2 − 9 (x− 3)(x+ 1) = 3/2 Com efeito, para x 6= 3 tem-se x2−9(x−3)(x+1) = x+3x+1 , portanto limx→3 x2 − 9 (x− 3)(x+ 1) = 6/4 = 3/2. 7. lim x→0 ( 1 x2 − 1 x4 ) = −∞ Tem-se lim x→0 1 x2 = +∞ e lim x→0 1 x4 = +∞, portanto não se pode concluir nada sobre o limite da diferença direc- tamente a partir da proposição anterior. Mas 1x2 − 1x4 = x 2−1 x4 , limx→0(x 2 − 1) = −1 e lim x→0 1 x4 = +∞, portanto lim x→0 ( 1 x2 − 1 x4 ) = lim x→0 x2 − 1 x4 = (−1).(+∞) = −∞. 8. lim x→0+ ( 1 + x2 x − 1 x(x+ 1) ) = 1 lim x→0+ 1 + x2 x = +∞ e lim x→0+ 1 x(x+ 1) = +∞; não se pode concluir nada sobre o limite da diferença directamente a partir da proposição anterior. Mas, para x 6= 0,( 1 + x2 x − 1 x(x+ 1) ) = (1 + x 2)(x+ 1)− 1 x(x+ 1) = x3 + x2 + x x(x+ 1) = x2 + x+ 1 x+ 1 , e lim x→0+ x2 + x+ 1 x+ 1 = 1. 34 CAPÍTULO 3. LIMITES E CONTINUIDADE 9. lim x→+∞ sen x x =0 Tem-se ∣∣ sen x x ∣∣ ≤ ∣∣ 1x ∣∣. Para cada � > 0 seja R = 1/�. Então x > R⇒ 1x < �. Observação: Neste caso não existe limite do numerador mas existe limite do quociente. Proposição 3.1.8 Sejam f : A −→ B e a um ponto de acumulação de A. 1. Seja α > 0. Então lim x→a f(x) = l sse limx→a f|A∩]a−α,a+α[(x) = l. 2. Seja A1 ⊂ A tal que a é ponto de acumulação de A1. Se lim x→a f(x) = l então limx→a f|A1(x) = l (o recíproco não é verdadeiro). 3. Se lim x→a f(x) = l e existe α > 0 tal que ∀x ∈]a − α, a + α[\{a} : f(x) ≥ 0 (resp. f(x) ≤ 0) então l ≥ 0 (resp. l ≤ 0). Demonstração: 1. consequência imediata da definição. 2. consequência imediata da definição. 3. Suponhamos que l < 0; então existia δ > 0 tal que 0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x)− l| < −l ⇒ f(x) < 0. Mas 0 < |x− a| < α⇒ f(x) ≥ 0, portanto se β = min{α, δ}, então 0 < |x− a| < β ⇒ (f(x) ≥ 0 e f(x) < 0), o que é absurdo. � Proposição 3.1.9 Se f , g e h são funçõesde A em B tais que para todo o x ∈ A \ {a}, f(x) ≤ g(x) ≤ h(x), se fe g têm limite em a e lim x→a f(x)= limx→ah(x), então existe limx→a g(x) e limx→a g(x)= limx→a f(x). Demonstração: Seja l = lim x→a f(x) = limx→ah(x) e seja � > 0; Existem δ1, δ2 > 0 tais que 0 < |x−a| < δ1 ⇒ |f(x)− l| < � e 0 < |x − a| < δ2 ⇒ |h(x) − l| < �. Então, para x tal que 0 < |x − a| < min{δ1, δ2}, tem-se l − � < f(x) < l + � e l − � < h(x) < l + �, de onde l − � < g(x) < l + � (porque f(x) ≤ g(x) ≤ h(x)), portanto |g(x)− l| < �. � Exemplos: 1. f : R \ {0} −→ R x 7→ |x| Neste caso tem-se ∀x ∈ R \ {0} : f(x) > 0. No entanto não se tem lim x→0 f(x) > 0 2. f : R −→ R x 7→ { 1 se x ∈ Q 0 se x 6∈ Q Tem-se lim x→√2 f|R\Q(x) = 0, mas não existe lim x→√2 f(x). Proposição 3.1.10 1. Se f : A −→ R é monótona e a é um ponto de acumulação à esquerda de A (resp. ponto de acumulação à direita de A), então existe lim x→a− f(x) (resp. lim x→a+ f(x)). 2. Se f : A −→ R é monótona e A não é majorado (resp. minorado) então existe lim x→+∞ f(x) (resp. limx→−∞ f(x)). Demonstração: 1. Seja f : A −→ R crescente e suponhamos primeiro que f|A∩]−∞,a[ não é majorada. Seja R ∈ R; existe x0 ∈ A∩]−∞, a[ tal que f(x0) > R. Como f é crescente, x > x0 ⇒ f(x) ≥ f(x0) > R, ou seja, fazendo δ = a− x0, 0 < a− x < δ ⇒ x > x0 ⇒ f(x) > R 3.2. CONTINUIDADE 35 logo lim x→a− f(x) = +∞. Suponhamos agora que fA∩]−∞,a[ é majorada e seja s o seu supremo. Seja � > 0; existe x0 ∈ A∩] −∞, a[ tal que f(x0) > s − �; como f é crescente, x > x0 ⇒ f(x) ≥ f(x0) > s − �. Então, fazendo δ = a − x0, tem-se 0 < a− x < δ ⇒ f(x) > s− �; como f(x) ≤ s, conclui-se que lim x→a− f(x) = s. A demonstração da existência de limite à direita é semelhante. 2. análoga à anterior. � 3.2 Continuidade Seja f : A −→ B. Definição 3.2.1 1. Diz-se que f é contínua em a ∈ A sse a não é ponto de acumulação de A ou lim x→a f(x) = f(a), isto é, sse ∀� > 0 ∃δ > 0 : |x− a| < δ ⇒ |f(x)− f(a)| < � 2. Diz-se que f é contínua sse f for contínua em todos os pontos de A. Proposição 3.2.2 Se f e g são duas funções de domínio A, ambas contínuas em a então f + g e f.g são contínuas em a; se, para alem disso, g(a) 6= 0, então f/g é contínua em a. Demonstração: consequência imediata da proposição 3.1.7 � Proposição 3.2.3 Se f é contínua em a e f(a) > 0 (resp. f(a) < 0), então existe δ > 0 tal que ∀x ∈]a − δ, a + δ[: f(x) > 0 (resp. f(x) < 0). Demonstração: Suponhamos f(a) > 0. Existe δ > 0 tal que |x− a| < δ ⇒ |f(x)− f(a)| < f(a). Mas |f(x)− f(a)| < f(a)⇒ 0 < f(x) < 2f(a), portanto |x− a| < δ ⇒ f(x) > 0. � Proposição 3.2.4 Se f : A −→ B é contínua em a e a ∈ A1 ⊂ A, então f|A1 é contínua em a. Demonstração: Consequência da proposição 3.1.8. � Proposição 3.2.5 Se f , g e h são funções de A em B tais que para todo o x se tem f(x) ≤ g(x) ≤ h(x), e se a ∈ A é tal que f(a) = h(a) e f e h são contínuas em a, então g é contínua em a. Demonstração: consequência da proposição 3.1.9 � Exemplo: f : R −→ R x 7→ { −1 se x 6= 1 1 se x = 1 Tem-se f(1) > 0, mas qualquer que seja δ > 0 existe x ∈]1− δ, 1 + δ[ (por exemplo x = 1 + δ/2) tal que f(x) < 0 (f não é contínua em 1). Proposição 3.2.6 Se f : A −→ B é contínua em a e g : B −→ C é contínua em f(a) então g ◦ f é contínua em a. Demonstração: Seja � > 0; por g ser contínua em f(a), existe δ1 > 0 tal que |y − f(a)| < δ1 ⇒ |g(y) − g(f(a))| < �. Por f ser contínua em a, para aquele δ1 > 0 existe δ > 0 tal que |x− a| < δ ⇒ |f(x)− f(a)| < δ1. Mas então |x− a| < δ ⇒ |f(x)− f(a)| < δ1 ⇒ |g(f(x))− g(f(a))| < � Portanto ∀� > 0 ∃δ > 0 : |x− a| < δ ⇒ |(g ◦ f)(x)− (g ◦ f)(a)| < �. � Proposição 3.2.7 Se f é contínua em a então existe algum intervalo aberto I contendo a tal que f|I∩A é limitada. Demonstração: Existe δ > 0 tal que |x − a| < δ ⇒ |f(x) − f(a)| < 1. Então, se x ∈ I =]a − δ, a + δ[ tem-se f(a)− 1 < f(x) < 1 + f(a), portanto f|I∩A é majorada (por 1 + f(a)) e minorada (por f(a)− 1), logo é limitada. � Teorema 3.2.8 Se f : [a, b] −→ B é contínua, então f é limitada e f tem máximo e mínimo. 36 CAPÍTULO 3. LIMITES E CONTINUIDADE Demonstração: Seja L = {x ∈ [a, b]; f|[a,x]é limitada}. O conjunto L é não vazio, visto que a ∈ L; é limitado, visto que L ⊂ [a, b]; portanto tem supremo, que designaremos pos s. Suponhamos que s < b. Como f é contínua em s, existe δ > 0 tal que f é limitada em ]s− δ, s+ δ[. Mas por s ser o supremo de L, existe s0 ∈]s− δ, s] tal que f[a,s0] é limitada. Então f é limitada em [a, s0] e em ]s− δ, s+ δ[, portanto f é limitada em [a, s0]∪]s− δ, s+ δ[= [a, s+ δ[, que implica, por exemplo, s + δ/2 ∈ L, e isto contradiz a hipótese de s ser majorante de L. Conclui-se assim que s = b. Resta ver que b ∈ L. Por f ser contínua em b, existe δ > 0 tal que f é limitada em ]b− δ, b]. Por b ser o supremo de L, existe s0 ∈]b− δ, b] tal que s0 ∈ L, isto é, tal que f[a,s0] é limitada. Então f é limitada em [a, s0]∪]b− δ, b], isto é f é limitada em [a, b]. Vejamos agora que f tem um máximo. Seja s = sup f (sabemos que existe, pois já vimos que f é limitada). Se s não pertencesse ao contradomínio de f , isto é, se ∀x ∈ [a, b] : f(x) < s, então a função g: [a, b] −→ R x 7→ 1s−f(x) seria uma função contínua não limitada (∀M ∈ R+ ∃x ∈ [a, b] : f(x) > s − 1/M , mas f(x) > s − 1/M equivale a 1 s−f(x) > M); ora já vimos que uma função contínua num intervalo fechado (neste caso g) é limitada. Conclui-se que existe x tal que f(x) = s, isto é, que f tem um máximo. Analogamente se mostra que f tem um mínimo. � Exemplos: 1. f : ]− pi/2, pi/2[ −→ R x 7→ tg x f não é limitada. 2. f : [−1, 1] −→ R x 7→ { 1/x2 se x 6= 0 0 se x = 0 f não é limitada (f não é contínua em 0). 3. f : ]− 2, 2[ −→ R x 7→ x f é contínua e limitada mas não tem máximo nem mínimo. 4. f : [−2, 2] −→ R x 7→ { x se |x| 6= 2 1 se |x| = 2 f é limitada mas não tem máximo nem mínimo (f não é contínua em −2 nem em 2). Teorema 3.2.9 Seja f : [a, b] −→ R contínua tal que f(a).f(b) < 0. Então existe x0 ∈]a, b[ tal que f(x0) = 0. Demonstração: Suponhamos que não existe nenhum zero de f em [a, b]. Vamos construir uma sucessão de intervalos In = [an, bn] com as seguintes propriedades: 1. ∀n ∈ N : In+1 ⊂ In 2. comprimento de In= b−a2n−1 3. f(an)f(bn) < 0 (isto é, f(an) e f(bn) têm sinais opostos). Ponhamos I1 = [a, b]. Dado In = [an, bn], seja c = an+bn2 ; então, de f(an)f(bn) < 0 conclui-se que f(an)f(c) < 0 ou f(bn)f(c) < 0. Se f(an)f(c) < 0, seja In+1 = [an, c] = [an+1, bn+1]; se f(bn)f(c) < 0, seja In+1 = [c, bn+1] = [an+1, bn+1]. Tem-se obviamente In+1 ⊂ In e f(an)f(bn) < 0. Por outro lado, para todo o n ∈ N tem-se (comprimento de In+1)=(comprimento de In)/2, e o comprimento de [a, b] é b−a, portanto (comprimento de In)= b−a2n−1 . Pelo teorema do encaixe de intervalos,conclui-se que existe x0 ∈ ∩n∈NIn. Suponhamos que f(x0) > 0; então existe δ > 0 tal que x ∈]x0 − δ, x0 + δ[∩[a, b] ⇒ f(x) > 0. Se n for tal que b−a2n−1 < δ, então x0 ∈ In e (comprimento de In)< δ. Então an, bn ∈]x0 − δ, x0 + δ[; mas f(an)f(bn) < 0, o que contradiz x ∈]x0 − δ, x0 + δ[∩[a, b] ⇒ f(x) > 0. Se se supuser que f(x0) < 0, chega-se a uma contradição análoga. Conclui-se que f(x0) = 0, contrariamente à hipótese que fizemos sobre f . Logo existe x0 ∈]a, b[ tal que f(x0) = 0. � Corolário 3.2.10 1. (Teorema dos valores intermédios) Se f : [a, b] −→ R é contínua e c ∈ R é tal que f(a) < c < f(b) ou f(a) > c > f(b), então existe x0 ∈]a, b[ tal que f(x0) = c. 2. Se f, g : [a, b] −→ R são contínuas e tais que f(a) < g(a) e f(b) > g(b) (ou f(a) > g(a) e f(b) < g(b)), então existe x0 ∈]a, b[ tal que f(x0) = g(x0). 3.2. CONTINUIDADE 37 Demonstração: 1. Seja h: [a, b] −→ R x 7→ f(x)− c . Trata-se de uma função contínua tal que h(a)h(b) < 0. Logo existe x0 ∈]a, b[ tal que h(x0) = 0; mas h(x0) = 0 equivale a f(x0) = c. 2. Seja h: [a, b] −→ R x 7→ f(x)− g(x) . Trata-se de uma
Compartilhar