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Palestra Psicanalise

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Psicanálise: Teoria e Prática
Jamille Cardoso
Psicóloga Clínica 
Psicanálise
Ao falarmos de psicanálise, estamos nos remetendo a teoria do aparelho psíquico elaborada por Sigmund Freud. 
Esse médico vienense ousou colocar como problemas científicos os processos misteriosos do psiquismo, ou seja, sonhos, fantasias, entre outros. 
A grande descoberta de Freud foi o inconsciente.
Psicanálise
Na concepção psicanalítica, nossos comportamentos considerados inexplicáveis ou atos aparentemente praticados por acaso estão relacionados a uma série de fatos ocorridos em nosso passado, a maioria deles na infância, que não temos consciência, mas que se manifestam no comportamento presente. 
A Metapsicologia Freudiana
Metapsicologia é um termo criado por Freud para designar a psicologia por ele fundada, considerada na sua dimensão mais teórica. A metapsicologia elabora um conjunto de modelos conceituais mais distantes da experiência, tais como o aparelho psíquico, as pulsões, o recalque.
A metapsicologia leva em consideração três pontos: o tópico, o dinâmico e o econômico. (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
1ª Tópica Freudiana
Freud apresentou a primeira teoria do aparelho psíquico no livro “A interpretação dos sonhos”, publicado em 1900.
Essa concepção considerava que a estrutura psíquica se compunha de 3 níveis: Consciente, Pré-consciente e Inconsciente.
2ª Tópica Freudiana
Refere-se aos três grandes sistemas que compõe a personalidade:
Id- está relacionado às funções biológicas. Sua atividade consiste de impulsos que obedecem ao princípio de prazer.
Ego- passa a existir porque as necessidades do organismo requerem transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Superego- é o último sistema a se desenvolver. Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme interpretados para a criança pelos pais (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Alguns Conceitos Fundamentais
Inconsciente;
Resistência;
Recalque/Repressão;
Transferência;
Contratransferência;
Deslocamento;
Pulsão.
Inconsciente
Freud esclarece que o núcleo do inconsciente consiste de representantes pulsionais que visam a descarga de seus investimentos; portanto, de moções de desejo.
“No inconsciente não funciona o princípio da não-contradição, o que pode ocorrer é um maior ou menor investimento de uma representação, mas não exclusão de uma delas por ser incompatível com a outra” (GARCIA-ROZA, 2008, p. 82).
Ademais, a ausência de temporalidade e a presença de energia livre são características do inconsciente.
Resistência
No decorrer do tratamento psicanalítico, dá-se o nome de resistência a tudo o que, nos atos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu inconsciente (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Recalque
Recalque é a operação pela qual o sujeito procura manter no inconsciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. O recalque produz-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão – suscetível de proporcionar prazer por si mesma - ameaçaria provocar desprazer. O recalque está na origem da constituição do inconsciente como domínio separado do resto do psiquismo (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Repressão
Operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável. Neste sentido, o recalque seria uma modalidade especial de repressão (LAPLANCE; PONTALIS, 1970).
Transferência
Designa o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica.
Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sensação de atualidade acentuada (LAPLACHE; PONTALIS, 1970).
Transferência
“[...] Freud entende que o paciente repete na transferência para não lembrar, por ser impossível lembrar. A transferência é uma forma especial de recordar, ele afirma em Recordar, repetir e elaborar.
O paciente está repetindo protótipos infantis, atualizando seus desejos inconscientes infantis nas relações atuais, especialmente com o analista, desenvolvendo, então, uma neurose de transferência” (TELLES, 2003, p. 30). 
Contratransferência
Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e mais particularmente a transferência deste (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Deslocamento
Fato de a acentuação, o interesse, a intensidade de uma representação ser suscetíveis de se soltar dela para passar a outras representações originariamente pouco intensas, ligadas à primeira por uma cadeia associativa (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Pulsão
Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força que faz tender o organismo para um alvo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu alvo é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto, ou graças a ele, que a pulsão pode atingir sua meta (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Aspectos característicos da Pulsão
Fonte: condição corporal ou necessidade.
Meta ou objetivo: é a remoção da excitação corporal;
Objeto: é aquele que pode satisfazer ou apaziguar o estado de excitação interna.
Ímpeto ou força: é a força da pulsão que é determinada pela intensidade da necessidade subjacente (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Pulsão: de Vida e de Morte
Pulsão de Vida: serve ao propósito de sobrevivência individual e da propagação da espécie.
Pulsão de Morte: esse princípio afirma que os processos vivos tendem a retornar à estabilidade do estado inorgânico. Um derivado importante da pulsão de morte é a pulsão agressiva (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Fases do Desenvolvimento Psicossexual
 Fase Oral
Primeira fase da evolução libidinal: o prazer sexual está, então, ligado de forma predominante à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. 
 Fase anal
Segunda fase da evolução libidinal: é caracterizada por uma organização da libido sob o primado da zona anal; a relação de objeto está impregnada de significações ligadas à função de defecação e ao valor simbólico das fezes.
Fases do Desenvolvimento Psicossexual
 Fase fálica
Fase de organização infantil da libido caracterizada por uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos órgãos genitais; mas, o que já não será o caso da organização genital pubertária, a criança, de sexo masculino ou feminino, só conhece nesta fase um único órgão genital, o órgão masculino e a oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico-castrado (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Complexo de Édipo
O complexo de Édipo consiste em uma catexia sexual no progenitor do sexo oposto e em uma catexia hostil no progenitor do mesmo sexo. O menino quer possuir a mão e afastar o pai; a menina quer possuir o pai e afastar a mãe (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Complexo de Castração Masculino
Angústia de Castração:
 Menino: induz à repressão do desejo sexual pela mãe e da hostilidade em relação ao pai. A repressão também ajuda o menino a se identificar com o pai. Leva ao declínio do complexo de Édipo (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Complexo de Castração Feminino
Inveja do Pênis:
Menina: inicia o complexo de Édipo ao enfraquecer sua catexia na mãe e instituir uma catexia no pai (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Complexo de Édipo
O complexo de Édipo do menino é reprimido ou de outra forma modificado pela angústia de castração. Em contraste, o complexo de Édipo da menina tende a persistir, embora sofra alguma modificação devido às barreiras realistas que a impedem de gratificar seu desejo sexual pelo pai. Mas ele não é fortemente reprimido, como no menino (HALL; LINDZEY; CAMPBELL, 2000).
Fases do Desenvolvimento Psicossexual
 Período de Latência
Período que vai do declínio da sexualidade infantil até o início da puberdade, e que marca um intervalo na evolução da sexualidade (LAPLACHE; PONTALIS, 1970).
 
 Fase genital
Fase do desenvolvimento psicossexual
caracterizada pela organização das pulsões parciais sob o primado das zonas genitais (LAPLACHE; PONTALIS, 1970).
Mecanismos de Defesa
São processos inconscientes através dos quais o indivíduo distorce ou suprime a realidade; são usados pelo ego para proteger o aparelho psíquico de sensações ou conteúdos indesejáveis, dolorosos e, embora apresentem a realidade de maneira distorcida, ajudam a preservar nossa saúde mental (LAPLACHE; PONTALIS, 1970). 
Alguns Mecanismos de Defesa
 Regressão
Num processo psíquico que contenha um sentido de percurso ou de desenvolvimento, designa-se por regressão um retorno em sentido inverso desde um ponto já atingido até um ponto situado antes desse (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970). 
Alguns Mecanismos de Defesa
 Formação de Compromisso
Forma que o recalcado vai buscar para ser admitido no consciente , retornando no sintoma, no sonho, e , mais geralmente, em qualquer produção do inconsciente: as representações recalcadas são então deformadas pela defesa ao ponto de serem irreconhecíveis. Na mesma formação podem assim satisfazer-se- num mesmo compromisso- simultaneamente o desejo inconsciente e as exigências defensivas (LAPLACHE; PONTALIS, 1970).
Alguns Mecanismos de Defesa
Racionalização- São desculpas aceitáveis que damos a nós mesmos e também aos outros para justificar racionalmente ações motivadas pelos impulsos do id.
Projeção- é atribuir aos outros nossos próprios desejos e impulsos, que por alguma razão não toleramos que existam em nós mesmos (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Alguns Mecanismos de Defesa
 Ato falho
Consiste na troca de palavras, nos enganos que aparentemente nos parecem não intencionais e inexplicáveis. Os atos falhos são provocados por impulsos reprimidos que procuram descarga de alguma forma.
Prática em Psicanálise
Entrevistas preliminares: as entrevistas preliminares são ao mesmo tempo diferentes e iguais ao processo terapêutico. Diferentes por ser um período de estabelecimento de uma hipótese diagnóstica. E, iguais por manter a associação livre como regra básica (QUINET, 2009).
Entrevista inicial:
O cliente apresenta sua queixa;
Estabelecimento do contrato terapêutico.
Processo de triagem: 
Tempo de compreender;
Tempo de Concluir.
Prática em Psicanálise
Retificação Subjetiva- O cliente dá um sentido a cada um de seus sofrimentos, a cada um dos seus distúrbios. E é nesse nível, no nível do sentido, que temos que fazer a nossa primeira intervenção [...] (NASIO, 1999, p. 12).
 
Implicação Subjetiva;
Prática em Psicanálise
Processo Terapêutico
A escuta Analítica: o cliente fala e o analista/psicoterapeuta está atendo as falhas do seu discurso, e por aí pesquisa, pressupondo que estas falhas são decorrentes do conflito interno e, ao serem expostas, conduzirão o discurso do paciente para o conteúdo desses conflitos (TELLES, 2003). 
O poder da palavra, “[...]que ao simbolizar e produzir sentidos até então ignorados pelo analisando, desfaz emaranhados nós sintomáticos, diminuindo-lhe a dor psíquica” (TELLES, 2003. p.15). 
Prática em Psicanálise
Processo Terapêutico
Intervenções:
Esclarecimento;
Pontuação- observar os significantes que se repetem;
De corte;
Interpretativa- traz a luz as modalidades do conflito defensivo e, em última análise, tem em vista o desejo que se formula em qualquer produção inconsciente (LAPLANCHE; PONTALIS, 1970).
Prática em Psicanálise
Processo Terapêutico
Término
Pelo cliente;
Pelo par terapêutico.
Caso Clínico
Lindaura
	Lindaura chega à sessão muito nervosa, ansiosa, deixa cair o cigarro aceso no carpete e preocupa-se caso o tenha queimado, pois não o achou imediatamente. Atribui seu nervosismo às interpretações do dia anterior que mostravam seu interesse amoroso e possessivo pelo analista, material que apareceu em associações ligadas a uma das músicas de Chico Buarque, que diz “Oh, metade adorada de mim”. Acha que tudo foi uma bobagem, nega a interpretação e fica em silêncio por longo tempo, até falar: 
Caso Clínico
Não sei o que falar... Deveria ter trazido um crochê para fazer aqui... Você não fala, eu também não, assim com o crochê eu não perderia tempo...
	Pergunto-lhe se sabe fazer crochê, ao que responde, para minha surpresa, negativamente. Após outro silêncio diz:
Você deveria por uma lâmpada de bronzear aqui... Eu não falo, você também não, eu aproveitaria meu tempo me bronzeando.
Caso Clínico
	Lindaura fala de maneira francamente irônica e irritada, superior.
	Digo-lhe, então, que é curioso que ela tenha querido trazer um crochê para fazer aqui, quando é algo que não sabe fazer. Ela concorda e diz que não saber de onde tirou tal ideia. Continuo dizendo que está muito assustada com relação ao que vimos na sessão anterior e se vê ora como uma velhinha fazendo crochê, ora como uma jovem se bronzeando, em roupas sumárias, como sucede com alguém que vai se bronzear. Quem sabe gostaria de se exibir para mim, bonita, bronzeada em trajes de banho. 
Caso Clínico
	Lindaura acha absolutamente ridículo o que lhe disse. Queixa-se de eu ficar “inventando um monte de bobagens” e fica calada por um certo tempo. Diz-me, então, que conseguiu se lembrar de onde veio a ideia de bronzeamento. Vai dizer-me e, com isso, quer provar como estou redondamente equivocado, confirmando que sua fala anterior não tinha a ver comigo, nem com a análise. 
Caso Clínico
	Conta-me, então, que alguns dias atrás, seu marido lhe falara mais uma história de seu amigo Sérgio, um dono de uma agência de modelos que tem uma vida sexual muito promíscua. A última é que ele descobrira na rua Augusta um local onde se faz bronzeamento artificial e passara a mandar todas as suas modelos, com as quais invariavelmente se envolve sexualmente, para ali se bronzearem, pois acha que assim ficam muito mais atraentes.
Caso Clínico
	Mostro para Lindaura que, ao tentar me contradizer, na verdade me confirmava a interpretação. Ali, lutava contra fantasias eróticas que poderiam “incendiar” o consultório, concluí fazendo uma menção ao cigarro que caíra no carpete. Eram fantasias onde se via bronzeada, exibindo-se para que o Sérgio a observe e se interesse sexualmente por ela. Por outro lado, também revelara um certo ciúme desse Sérgio “promíscuo”, que tem tantas mulheres (analisandas). 
Caso Clínico
	Por sentir-se embaraçada e ameaçada com tais fantasias, tenta tranquilizar-se imaginando-se uma velhinha que faz crochê ou adotando uma atitude irritada ou irônica.
Comentário
	A ansiedade de Lindaura é evidente para ela mesma, assim como seu tom irritado e agressivo. Ela mesma atribui seu estado à sessão anterior. Poder-se-ia ficar aí, reforçar sua autopercepção de mal-estar, mostrando que, por estar assustada, parte para uma atitude agressiva, de desprezo e descaso, achando perda de tempo a sessão, bobagens tudo o que o analista diz, etc.
Comentário
	Pensando no determinismo psíquico, que pressupõe a existência de uma lógica interna e que se evidencia numa sobredeterminação no acontecer psíquico e no discurso da analisanda, procuro descobrir o elo entre “fazer crochê” e “bronzear-se”. Também me tinha chamado a atenção o fato de Lindaura propor-se a fazer algo, que de fato, não poderia fazer (quando pergunto se ela sabe fazer crochê e ela diz que não). Tais incongruências ou falhas no discurso são pontos a serem pesquisados.
Comentário
	Isso me faz pensar até que ponto o que se chama “intuição”, esse misterioso e inapreensível condimento da cozinha analítica, não seria mais que a mera aplicação desses princípios teóricos, se não seria justamente a apreensão, pelo analista, do “fio lógico” mencionado por Freud e que se evidência nas fantasias, nas associações livres da analisanda. 
Comentário
	O que fiz então foi desenvolver dentro de minha própria mente- num trabalho no qual concorrem o inconsciente e a consciência- os possíveis elos de ligação lógica, dando amplo desenvolvimento às proposições que a analisanda trazia de maneira truncada. Pude dar esse desenvolvimento
por não apresentar, nesse material e nesse momento específico, as mesmas repressões que a analisanda tinha.
Comentário
	Caso minhas repressões coincidissem com as da analisanda, constituiriam-se pontos cegos meus, ao que chamamos de “contratransferência”. Ao completar, então, um nível de compreensão, salta à vista claramente um conteúdo, um significado que me esclarece a posição transferencial que a analisando me coloca naquele momento.
	Vemos, também, nesse exemplo que o guiar-se pelo afeto que a analisanda apresenta conscientemente é o mesmo que guiar-se pelo material manifesto.
Caso Clínico apresentado no livro: Fragmentos Clínicos de Psicanálise de Sergio Telles.
Referências Bibliográficas
GARCIA-ROZA, L. F. Introdução à Metapsicologia Freudiana, v. 3: artigos de metapsicologia- 7ª edição- Rio de Janeiro: Jorge Zahah Ed., 2008. 
HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da Personalidade -4ª edição- Porto Alegre: Atrmed, 2000. 
QUINET, A. As 4 +1 condições da análise- 12ª edição- Rio de Janeiro: Jorge Zahah Ed., 2009.
Referências Bibliográficas
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.-B. Vocabulário da Psicanálise -5ª edição- São Paulo: Martins Fontes, 1970.
NASIO, J.-D. Como trabalha um psicanalista? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.
TELLES, S. Fragmentos Clínicos de Psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo; São Carlos, SP: EdUFSCar, 2003.

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