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2 2017 1 MORMO 2005

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98
ASPECTOS HEMATOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS EM MUARES
NATURALMENTE INFECTADOS PELA Bulkholderia mallei
SilvanaSuelyAssisRABELO1*, RinaldoAparecidoMOTA1, Eliezer Silva doNASCIMENTO
SOBRINHO2,Arildo Pinto da CUNHA2, João Barbosa da SILVANETO2, MiriamNogueira
TEIXEIRA1,Pierre Castro SOARES1,Adriano da Silva CARNEIRO2,Antônio Tadeu
VASCONCELOS3, Francisco José SILVA3
RESUMO: Estudaram-se os aspectos hematológicos e bioquímicos em mua-
res naturalmente infectados pela Burkholderia mallei. Foram constituídos três
grupos de animais: Grupo 1 (G1): composto por 30 animais sadios e sorologica-
mente negativos para o mormo; Grupo 2 (G2): composto por 30 animais sorolo-
gicamente positivos para o mormo e sem sintomatologia aparente da doença e
Grupo 3 (G3): composto por 30 animais sorologicamente positivos e com sinto-
mas sugestivos do mormo. Foram realizados hemogramas e dosagens bioquí-
micas: billirubinas séricas, aspartato amino transferase (AST), gama glutamil
transferase (GGT), creatina kinase (CK), fosfatase alcalina (FA), desidrogenase
láctica (LDH), uréia e creatinina. Observou-se variação significativa para as vari-
áveis: VG, Hb e os índices hematimétricos: VCM, HCM, indicando anemia normo-
cítica, normocrônica no G3. O leucograma revelou leucocitose com neutrofilia e
desvio à esquerda, além de monocitose, linfocitopenia e eosinopenia, compatí-
veis com infecções bacterianas agudas ou crônicas. Para as variáveis da bioquí-
mica sérica não se detectou diferença significativa entre os grupos. Concluiu-se
que os achados hematológicos e bioquímicos não são ferramentas suficientes
para confirmar o diagnóstico da doença, mas podem auxiliar na indicação para a
realização de testes mais sensíveis para o diagnóstico do mormo.
Termos de Indexação: bilirrubinas, creatinina, enzimas hepáticas, hemograma,
mormo, muares, uréia.
HAEMATOLOGICAL AND BIOCHEMICAL ASPECTS OF MULES
NATURALLY INFECTED BY Bulkholderia mallei
ABSTRACT: The hematological and biochemical aspects were studied in mules
naturally infected by Burkholderia mallei - Brasil. Three experiment groups were
created, being: G1 (n=30) with negative serum for glanders; G2 (n=30) with positive
serum for glanders but which had not developed the symptoms and G3 (n=30)
with positive serum for glanders and which suggestive symptoms. Hematological
tests and biochemical measuring were done (serum bilirrubin, aspartate amino
transferase, alanine amino transferase, gama glutamil transferase, creatinokinase,
alkaline phosphatase, lactic dehidrogen, blood urea nitrogen and creatinin). On
the hematological test therewas a significant variation for: packed cell, hemoglobin,
VCM, and HCM in G1, G2 and G3, showing normocytic normochromic anaemia
in G3. The leukogram showed neutrophilic leukocitosis left switch monocytosis,
linphopenia and eosinopenia compatible with acute or chronic bacterial infection.
There was no significant difference of the serum biochemical elements among
1 Professor Ajunto Doutor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros, s/n, CEP: 52171-900, Recife-PE, BRASIL. E-mail:
silvanarabelo@bol.com.br *Autor para correspondência
2 Discentes do Curso de Medicina Veterinária – UFRPE – Bolsistas PIBIC – CNPq
3 Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado Pernambuco - HEMOPE.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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the investigated groups. The hematological and biochemical findings were not
enough to diagnose glanders alone, but can be suggestive for more precise tests
for the diagnosis of glanders.
Index Terms: creatinin, glanders, hemogram, hepatic enzymes, mules, bilirrubin.
INTRODUÇÃO
O Mormo é uma das mais antigas do-
enças infecto-contagiosas dos eqüídeos,
causada por um bacilo denominado
Burkholderiamallei (YABUUCHI et al., 1992).
Responsável por alta morbidade e
letalidade, ocorre em diferentes partes do
mundo (JUBB et al., 1993). No Brasil, após
anos sem relatos da doença, Langenneger
et al. (1960) descreveram detalhadamente
um foco de mormo, ocorrido na região de
Campos, Rio de Janeiro. Após um período
de aproximadamente 30 anos sem registro
da doença no país, Mota et al. (2000) rela-
taram os aspectos microbiológicos, epide-
miológicos, clínicos, patológicos e de diag-
nóstico em eqüídeos dos Estados de Per-
nambuco e Alagoas.
Na clínicamédica veterinária, os exa-
mes laboratoriais são importantes recursos
para um diagnóstico mais seguro, orientan-
do o prognóstico e a indicação terapêutica,
com os valores de referência, consideran-
do-se diferentes fatores como sexo, idade
e raça que servem para detectar estados
patológicos e, por conseguinte, diagnosti-
car alterações.
Estudos realizados por Al-Kafawi et al.
(1977) naArábia; Bazargani et al. (1996) no
Iran, Krishna et al. (1992) na Índia,
Muhammad et al. (1998) no Paquistão e
Mota et al., (1999) no Brasil, demonstraram
que os eqüídeos infectados com o mormo
apresentam usualmente um quadro de leu-
cocitose com neutrofilia, linfocitopenia,
monocitopenia e eosinopenia, além de
fibrinogênio elevado. Verifica-se também
diminuídas concentrações de eritrócitos e
hemoglobina.
Considerando a importância que a en-
fermidade assume para criações de
eqüídeos da região nordeste do país e a
grande lacuna existente entre a última co-
municação de focos da enfermidade que
culminou com grande escassez de dados
na literatura, objetivou-se estudar os parâ-
metros hematológicos e bioquímicos
séricos de eqüídeos naturalmente infecta-
dos pela Burkholderia mallei.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado na Mesorre-
gião Mata do Estado de Pernambuco que
apresenta clima quente e úmido, com ele-
vadas temperaturas e chuvas abundantes
e os solos de massapé que tornaram esta
região ideal para o desenvolvimento da la-
voura canavieira. As propriedades estuda-
das foram engenhos produtores de cana de
açúcar, que utilizavam os muares e eqüi-
nos exclusivamente como animais de tra-
ção e sela para o trabalho e beneficiamen-
to da cana-de-açúcar.
Foram utilizados 90 muares adultos,
sem distinção de raça e sexo, criados em
regime semi-intensivo e alimentados com
pastagem nativa, capim de corte, broto da
cana-de-açúcar e melaço. Os animais não
recebiammineralização nem vermifugação.
Todos os animais estudados foram prove-
nientes de propriedades com histórico de
doença respiratória e submetidos anterior-
mente à prova de Fixação de Complemen-
to para diagnóstico sorológico do mormo.
Para realização da pesquisa foram forma-
dos três grupos compostos igualmente por
30 animais, sendo que o Grupo 1 (G1) foi
constituído por animais sadios e sorologi-
camente negativos para o mormo; o Grupo
2 (G2) composto por animais sorologica-
mente positivos para o mormo e sem sin-
tomatologia clínica aparente dessa enfer-
midade e o Grupo 3 (G3) composto por
animais sorologicamente positivos para o
mormo e com sintomatologia clínica suges-
tiva da doença.
Aspectos hematológicos e bioquímicos em muares...
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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Após a prévia realização dos exames
clínicos e sorológicos dos animais, de acor-
do com Speirs (1999), para a formação dos
grupos experimentais, foram colhidas
amostras de sangue mediante
venopunção da jugular, utilizando-se agu-
lhas descartáveis. O sangue obtido foi
dividido em quatro alíquotas. A primeira
em tubos com capacidade para 5mL,
contendo 0,05 mL de uma solução aquo-
sa a 10% de sal dissódico de
etilenodiaminotetracetato (EDTA), para a
realização dos exames hematológicos. A
segunda, contendo cinco mililitros, em tu-
bos revestidos com papel alumínio sem
anticoagulante para a dosagem das bilirru-
binas. A terceira e a quarta amostras, con-
tendo 10mL de sangue sem anticoagulante,
utilizadas para a determinação das dosa-
gensbioquímicas no soro.
Para realização dos exames, utilizou-
se a técnica manual e compreenderam as
seguintes determinações, segundo Jain
(1986): contagem de hemácias e leucócitos
totais utilizando-se o método do hemocitô-
metro; hemoglobina (Hb) pelo método da
cianometahemoglobina; volume globular
(VG) realizado pelo método domicrohema-
tócrito e os índices hematimétricos.
A contagemdiferencial dos leucócitos
foi realizada em esfregaços sangüíneos,
corados pelo método de panótipo, realizan-
do-se leitura em objetiva de imersão (100x),
de acordo com descrição de Jain (1986).
Com as alíquotas de soro foram rea-
lizados os seguintes testes: proteína séri-
ca total, albumina, aspartato amino trans-
ferase (AST), desidrogenase láctica (LDH),
fosfatase alcalina (FA), gama glutamil trans-
ferase (GGT), creatina kinase (CK), bilirru-
bina total e suas frações (BT, BD e BI), além
da uréia e creatinina, utilizando-se Kits di-
agnósticos (Biosystem), com leitura efetu-
ada em fotocolorímetro (COBAS MIRA
PLUS).
Os dados foram testados, inicialmen-
te, quanto à sua normalidade, mediante o
teste de Kolmogorov-Smirnov. As variáveis
estudadas foram descritas por meio das
respectivas medidas estatísticas: médias,
medianas, desvios-padrão e percentis.
Para verificar o comportamento das variá-
veis em função da condição clínica, reali-
zou-se Análise de Variância (Estatística F)
e seu respectivo nível de significância (P)
para dados paramétricos, e teste de
Kruskall-Wallis para dados não-
paramétricos, para amostras independen-
tes. O teste de Student-Newman-Keuls foi
utilizado para o contraste entre as médias,
adotando-se o nível de significância (P) de
5% (Sampaio, 1998). Os dados foram pro-
cessados em programa estatístico SAS –
Statistical Analisys Sistem (SAS INSTITU-
TE, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados obtidos para o conjunto de
variáveis do eritrograma de muares sadios
(G1), sorologicamente positivos sem sin-
tomatologia (G2) e com sintomatologia (G3)
encontram-se na Tabela 1.
As variáveis que apresentaram varia-
ção significativa (P<0.05) foram hematócri-
to, hemoglobina, VCM, HCM, enquanto que
as demais não foram significativas ao nível
de P<0,05.
S.S.A. RABELO et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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Verificou-se que os contrastes de mé-
dias emedianas para o hematócrito, hemo-
globina, VCM, HCM mostraram diferenças
significativas para o grupo G3, além de que
os dados obtidos foram menores em rela-
ção ao G1. Para as variáveis hemácias e
hemoglobina, os valores médios encontra-
ram-se reduzidos quando se comparou os
valores obtidos para o grupoG3 comos dos
grupos G1 e G2.
Quando se comparou o achado do G3
com o G1, verificou-se que a anemia ob-
servada era do tipo normocítica normocrô-
mica. O mecanismo mais provável para a
ocorrência deste tipo de anemia pode ser a
deficiência na eritropoiese observada em
processos infecciosos crônicos ou inflama-
tórios (DUNCAN et al., 1994). Outro aspec-
to que deve ser considerado nos quadros
de doença crônica e caquetizante é o de
animais subnutridos, sem mineralização,
sem vermifugação e com medidas sanitá-
rias inadequadas, podendo ocasionar pos-
síveis falhas secundárias extramedulares
na produção de hemácias.
Segundo Al-Kafawi et al. (1977), os
achados de anemia sugerem que a bacté-
ria do mormo reduz a atividade eritropoiéti-
ca da medula óssea. Estes mesmos auto-
res citaram ainda, a possibilidade de a me-
dula óssea ser um sítio adverso dos efei-
tos da B. mallei e sugerem estudos que
comprovem este possível efeito.
Fritz et al. (1999) promoveram infecção
experimental em hamsters com amostras
virulentas deB.mallei e relataram que ocor-
reram freqüentes lesões histológicas da
medula óssea, relacionadas a mielite
piogranulomatosa, necrose e redução do
tecido mielóide e eritropoiético com a pro-
gressão da doença. Este achado é muito
relevante e provavelmente possa explicar,
em parte, alguns fenômenos hematológicos
observados neste estudo, como a redução
dos valores de hemácias, do hematócrito e
da hemoglobina. Contudo, para confirmar
esta hipótese é necessária a realização do
mielograma e exames histológicos da me-
dula óssea em muares naturalmente infec-
tados, nas fases aguda e crônica da doen-
ça.
Com relação à contagem de eritrócitos
os achados desse estudo concordam com
aqueles descritos porAl-Kafawi et al. (1977)
e Krishma et al. (1992), que relataram re-
dução desta contagem em casos crônicos
domormo, enquanto queMuhammad et al.
(1998) citaram apenas o decréscimo da
Tabela 1 – Valores médios e desvios-padrão do eritrograma demuares sadios (G1), mu-
ares sorologicamente positivos para o mormo sem sintomatologia (G2) e
muares sorologicamente positivos para o mormo com sintomatologia (G2),
criados no Estado de Pernambuco – Brasil
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hemoglobina e do hematócrito em casos
de mormo.
Quando foram comparados os resul-
tados obtidos neste estudo com aqueles
relatados por Reed e Bayly (2000) e
Radostits et al. (2002), nas infecções res-
piratórias causadas pelo Streptococcus
equi, verificou-se uma semelhança quanto
à série vermelha, onde os autores citaram
que pode ocorrer anemia devido ao efeito
hemolítico da estreptolisina O (hemólise
imunomediada) ou pela anemia da doença
crônica. Contudo, nos casos de mormo, o
mecanismo do desenvolvimento da anemia
ainda não está totalmente esclarecido.
Os contrastes de médias e medianas
para os valores referentes ao leucograma
(Tabela 2) são significativos para a maioria
das variáveis, exceto para os linfócitos reati-
vos. Em relação ao grupo G3, as médias e
as medianas para as variáveis leucócitos,
bastonetes, segmentadosemonócitos foram
significativamente maiores em relação aos
demais grupos. Estas mesmas variáveis,
com exceção dos monócitos, foram análo-
gas, entre os animais do G1 e G2.
Já em relação aos valores dos linfóci-
tos e eosinófilos, os respectivos valores do
G3 foram significativamente menores
(P<0,05) em relação aos dos grupos G1 e
G2, os quais também foram análogos.
Quanto aos basófilos, o G2 mostrou uma
significativa variação em relação aos dois
outros grupos (G1 e G3) (Tabela 2).
Menores valores médios de leucócitos,
bastonetes e segmentados foram observa-
dos nos animais dos grupos G1 e G2, em
relação ao G3, ou seja, em animais com
sorologia positiva acompanhada de sinto-
mas, a contagem dessas células é mais
elevada, enquanto que para os linfócitos a
observação é inversa (Tabela2).
Jain (1993) apontou, dentre outras cau-
sas, as infecções bacterianas como res-
ponsáveis por leucocitose que geralmente
está relacionada à neutrofilia. A neutrofilia
resulta de uma transferência aumentada
das células do pool marginal para o circu-
lante, diminuição da migração das células
para os tecidos e aumento da produção e
liberação dos neutrófilos pela medula ós-
sea. Ainda, de acordo com Meyer et al.
(1995), nas inflamações agudas intensas
e naquelas estabelecidas onde se enqua-
dram os animais do G3, a neutrofilia ocor-
reu pelo estímulo e demanda tecidual con-
tínuos e elevada produção e liberação de
neutrófilos para suprir a demanda tecidual.
Tabela 2 – Valores médios e desvios-padrão, medianas e percentis (P25; P75) do leuco-
grama de muares sadios (G1), muares sorologicamente positivos para o
mormo sem sintomatologia (G2) e muares sorologicamente positivos para o
mormo com sintomatologia (G3), criados no Estado de Pernambuco – Brasil
S.S.A. RABELO et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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Estudos realizados por Al-Kafawi et al.
(1977), Krishma et al. (1992), Bazargani et
al. (1996) e Mota et al. (2000), em eqüinos
commormo,relataram leucocitose por neu-
trofilia, assim como ocorre em outras do-
enças bacterianas de eqüídeos. Contudo,
apesar da diferença estatisticamente sig-
nificativa observada neste estudo para as
variáveis leucócitos, bastonetes e segmen-
tados, esses achados não são suficientes
para caracterizar o perfil dos animais com
mormo, uma vez que podem ocorrer varia-
ções no perfil leucocitário nas diferentes fa-
ses da doença (AL-KAFAWI et al.,1977) e
outras doenças infecciosas bacterianas
(JAIN, 1993; FELDMANet al., 2000).
As médias obtidas por Al-Kafawi et al.
(1977) para leucócitos e segmentados em
eqüinos árabes na fase crônica do mormo
foram de 13,88x10³/mm³ e 10,21x 10³/mm³
de sangue, respectivamente. Os valores
médios obtidos neste estudo para estas
duas variáveis do leucograma de muares
do G3 foram superiores àqueles relatados
por estes autores.
Os achados do leucograma de
eqüídeos do G3 também são compatíveis
com as anormalidades hematológicas ob-
servadas em eqüinos com garrotilho e re-
latados por Reed e Bayly (2000) e Radostist
et al. (2002), que observaram leucocitose
por neutrofilia.
Com relação aos monócitos verificou-
se uma monocitose quando se comparou
os resultados obtidos nos grupos G1 e G3.
Os resultados obtidos neste estudo diferem
daqueles relatados por Al-Kafawi et al.
(1977), que não observaram diferença sig-
nificativa para esta variável do leucograma
quando comparam o grupo controle com o
grupo cronicamente infectado.
Neste caso, amonocitose pode ser jus-
tificada, segundo Jain (1993), pela evolução
da doença quando osmonócitos são reque-
ridos para realizarem a fagocitose de debris
celulares e células mortas. Pode ocorrer
nas bacteremias, doenças supurativas,
necrose tecidual e doenças piogranuloma-
tosas nas quais o mormo se enquadra
(DUNCAN et al., 1994).
Os animais do G3 apresentaram uma
significativa redução na média de linfócitos
quando comparada às médias dos grupos
G1 e G2 (Tabela 2). Resultados semelhan-
tes foram obtidos porAl-Kafawi et al. (1977),
que relataram decréscimo significativo de
linfócitos no grupo infectado quando com-
parado ao grupo controle. De acordo com
Duncan et al. (1994), as causas de
linfopenia incluem infecção bacteriana e
rompimento da arquitetura de nódulos lin-
fáticos em casos de inflamação.
Estudos realizados por Fritz et al. (1999
e 2000) relataram extensas perdas de teci-
do linforreticular no baço, nódulos linfáticos
e medula óssea. Esses achados
histológicos na infecção experimental de
hamsters e camundongos machos e fême-
as, respectivamente, caracterizaram lesões
microscópicas em órgãos linfóides em todo
o curso da doença. Os autores acreditam
que essas lesões são secundárias à infec-
ção pela B. mallei e que estas reduzem
significativamente a habilidade do orga-
nismo em responder à infecção. Apesar
de não se ter real izado exames
histológicos nos órgãos linfóides neste
estudo, acredita-se que tais lesões tam-
bém ocorram na infecção natural como
relatado por Mota et al. (2000), e que es-
tas possam contribuir para a redução da
contagem de linfócitos circulantes obser-
vada neste estudo.
Ainda com relação aos eosinófilos, ob-
servou-se média inferior para o grupo G3
quando comparado ao G1 e G2 (Tabela 2).
Estes achados são compatíveis com aque-
les descritos porAl-Kafawi et al. (1977) que
não observaram eosinófilos e basófilos nos
esfregaços sangüíneos em animais na fase
crônica da doença. Quanto aos basófilos,
estas células não foram observadas na
leucometria diferencial de muares do G3,
concordando com o autor supracitado.
Para o conjunto de variáveis da bioquí-
mica sérica (Tabela 3), a BT, BD, BI, AST,
ALT, GGT, BD, FA, LD, CK uréia e creatini-
na não apresentaram variação significativa
entre os grupos. Todas as variáveis da bio-
química sangüínea estudadas para os três
Aspectos hematológicos e bioquímicos em muares...
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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grupos apresentaram-se dentro dos limites
da normalidade para a espécie eqüina, de
acordo com Kaneko (1989) e Boggin et al.
(1989). Não foi possível realizar um estudo
comparativo com os muares, pois não se
encontraram referências na literatura con-
sultada para valores bioquímicos nesta es-
pécie, nem tampouco trabalhos que fazem
referência às possíveis alterações na bio-
química sérica de eqüídeos natural ou ex-
perimentalmente infectados com a B.
mallei, sendo este estudo pioneiro neste
tipo de avaliação. Estes achados levam a
crer que os animais do G3 não apresenta-
vam lesões hepáticas, renais e muscula-
res a ponto de comprometer a atividade
enzimática, detectáveis no momento da
realização deste estudo.
CONCLUSÕES
A infecção natural pela Burkholderia
mallei desencadeia alterações no
hemograma de muares caracterizando um
quadro compatível com processo inflama-
tório agudo ou crônico sem, contudo, inter-
ferir no perfil bioquímico dos parâmetros
estudados.
Para uma melhor avaliação dos parâ-
metros bioquímicos de eqüídeos com
mormo é necessário que se realize a ino-
culação experimental da B. mallei em ani-
mais desta espécie para realizar determi-
nações seriadas durante todo o curso da
doença.
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Tabela 3 – Valores médios e desvios-padrão, medianas e percentis (P25; P75) dos cons-
tituintes bioquímicos séricos demuares sadios (G1), muares sorologicamente
positivos para o mormo sem sintomatologia (G2) e muares sorologicamente
positivos para o mormo com sintomatologia (G3), criados no Estado de Per-
nambuco – Brasil
S.S.A. RABELO et al.
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v.7, nos 2 e 3, p. 98-105 - maio/dezembro, 2004
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