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Unidade I TEORIA DOS NÚMEROS Prof. Gastón A. C. Henriquez Introdução Este curso visa apresentar, de forma mais elaborada, os objetivos da disciplina Teoria dos Números e sua vinculação com o projeto pedagógico e político do curso. Introdução Essa perspectiva defende não ser concebível estudar qualquer disciplina de licenciatura como algo estanque, sem vinculação pedagógica com disciplinas específicas, e muito menos utilizá-la como mero atrativo inicial para oscomo mero atrativo inicial para os conteúdos a serem ministrados. Possibilidades de ação política O objetivo é sistematizar o conhecimento que a humanidade acumulou nesta área, mas sem perder de vista as análises dos contextos social, histórico e cultural que proporcionam a possibilidade de compreensão da ciência de modo maiscompreensão da ciência de modo mais abrangente e, em consequência, uma ação política mais efetiva na esfera da educação. História da matemática A matemática desenvolveu-se de acordo com condições e necessidades históricas. Os povos da Idade da Pedra eram nômades e viviam da caça de pequenos animais selvagens, das frutas, castanhas e raízes. Habitavam, em geral, porções menos inóspitas da África, sul da Europa, sul da Ásia e América Central. História da matemática As mudanças climáticas obrigaram os homens e as mulheres a se adaptarem a um ambiente progressivamente hostil e a seguir os animais em fuga para lugares com condições para todas as formas de vidaas formas de vida. Emergem, assim, após 3000 a.C., comunidades agrícolas densamente povoadas ao longo do rio Nilo na África, dos rios Tigre e Eufrates no Oriente Médio e ao longo do rio Amarelo na China nase ao longo do rio Amarelo na China, nas quais a ciência e a matemática começam a se desenvolver. História da matemática Essa espécie de “revolução agrícola” criou novas necessidades, tais como o desenvolvimento da engenharia em construções de sistemas de barragens e irrigações; e também registros das estações das chuvas e das enchentes; eestações das chuvas e das enchentes; e traçados de mapas que especificavam as valas de irrigação. História da matemática Há dificuldades em localizar, no tempo, as descobertas em matemática. As comunidades não se comunicavam com facilidade e os materiais de escrita sobre as descobertas na Antiguidade não se preservaram em decorrêncianão se preservaram, em decorrência da fragilidade dos materiais utilizados para esse fim. Interatividade Assinale a alternativa falsa: a) A matemática primitiva, no Egito, se desenvolveu em função de uma “revolução agrícola”. b) Análises dos contextos social, histórico eb) Análises dos contextos social, histórico e cultural proporcionam uma ação política mais efetiva na esfera da educação. c) Há dificuldades em localizar, no tempo, as descobertas em matemática. d) A história da matemática é linear ed) A história da matemática é linear e organizada. e) A matemática desenvolveu-se de acordo com condições e necessidades históricas. A sensação numérica e a faculdade abstrata de contar É preciso diferenciar a forma como o número é concebido por diferentes grupos humanos. Nem sempre qualquer pessoa é capaz de conceber qualquer número abstrato. Inúmeras hordas “primitivas” como os zulus e os“primitivas”, como os zulus e os pigmeus da África, os aranda e os kamilarai da Austrália, os aborígenes das ilhas Murray e os botocudos do Brasil, percebem o número de modo um tanto qualitativo.qualitativo. Faculdade abstrata de contar A “faculdade abstrata de contar” constitui uma aquisição relativamente recente da inteligência humana. Esta capacidade humana está relacionada às funções psíquicas superiores que possibilitam ao interno estar em unidadepossibilitam ao interno estar em unidade com os meios externos de pensamento (linguagem conceitual, esquemas simbólicos, gráficos, algoritmos, entre outros). Alguns sistemas de numeração existentes a partir da necessidade das sociedades em desenvolvimento Se dois conjuntos finitos e não vazios podem ser colocados em correspondência biunívoca, ou seja, se a cada elemento do primeiro é possível associar, de alguma maneira, um único elemento do segundo e vice versaelemento do segundo, e vice-versa, então há, entre esses conjuntos, sob o aspecto quantitativo, algo em comum. Diz-se que ambos têm o mesmo número de elementos ou a mesma cardinalidade. Os símbolos usados para indicar osOs símbolos usados para indicar os números chamam-se “numerais”. Alguns sistemas de numeração Na Mesopotâmia, por volta de 4000 a.C, os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme, representada em placas de argila. Quase simultaneamente, foi desenvolvida, no Egito, a forma de escrita hieroglífica que propiciou o desenvolvimento de mais duas formas para a escrita: hierática - usada pelos sacerdotes, era uma escrita cursiva; demótica - uma forma simplificada, usada para as situações de comércio e situações gerais do dia a dia. Sistemas de numeração Os babilônios usavam um sistema numérico sexagesimal, isto é, com base no número 60. Eles utilizavam símbolos que variavam de significado conforme sua posição, constituindo, assim, o primeiro exemplo de escrita posicionalprimeiro exemplo de escrita posicional. Os numerais romanos foram os únicos utilizados em toda a Europa durante mais de um milhar de anos. O sistema derivou do sistema etrusco. Numerais indo-arábicos O sistema de numeração atual, no qual se formam os números por justaposição dos dez dígitos, é quase sempre denominado “notação árabe”, porque aos árabes se atribui sua divulgação pelo mundo no século VIIpelo mundo no século VII. Com os hindus, o “zero” ganhou o status de número, uma vez que, até então, mesmo entre os gregos do período alexandrino, ele era usado apenas para indicar “ausência”indicar “ausência”. Escola pitagórica Era um misto de escola e comunidade religiosa, em que coexistiam os estudos referentes à filosofia, à ciência e à matemática. Os ensinamentos eram transmitidos oralmente e com exigência da promessa de segredo Todas asda promessa de segredo. Todas as descobertas eram atribuídas a Pitágoras, de forma que não se sabe ao certo quais foram suas verdadeiras contribuições na produção desses conhecimentos. Em razão da tradição oral da escola, nenhumrazão da tradição oral da escola, nenhum documento original restou sobre a matemática pitagórica. Pitagóricos Os pitagóricos perceberam a ligação da matemática com a música e com a astronomia. O estudo teórico dos números era denominado “aritmética”, e os cálculos práticos, “logística”. Muitos conhecimentos da matemática pitagóricaconhecimentos da matemática pitagórica foram reunidos em “Os elementos”, de Euclides (c. 300 a.C.): uma obra em treze livros. Nela, é atribuída aos pitagóricos a distinção entre números pares e ímpares, a divisão de números emímpares, a divisão de números em primos e secundários (compostos) e a descoberta do número perfeito (número que é igual à soma de suas partes). Números racionais Os números inteiros são abstrações que surgiram em função da necessidade de contar coleções. Mas a vida cotidiana requer a medição de quantidades, como comprimento, peso e tempo. Para tanto, descobriu se a necessidade de númerosdescobriu-se a necessidade de números fracionários. Definiu-se, assim, o número racional como o quociente p/q, diferente de zero, de dois números inteiros. Números irracionais Os pitagóricos descobriram que havia pontos na reta que não correspondiam a nenhum número racional. Em particular,eles provaram que não há nenhum número racional ao qual corresponda o ponto P reta em que OP é a diagonal deponto P, reta em que OP é a diagonal de um quadrado cujos lados medem uma unidade. Novos números foram associados a esses pontos: os números irracionais. Por algum tempo 2 foi o único Por algum tempo, 2 foi o único número irracional conhecido. Interatividade Assinale a alternativa falsa: a) Na cultura egípcia, a escrita hierática foi usada pelos sacerdotes. b) Na cultura egípcia, a escrita demótica era uma forma simplificada de escrita.uma forma simplificada de escrita. c) O sistema de numeração dos egípcios baseava-se em dez números-chave: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9. d) Os pitagóricos descobriram os números irracionaisirracionais. e) Para os pitagóricos, o estudo teórico dos números era denominado “aritmética”, e os cálculos práticos, “logística”. Descrições de conjuntos 1. Enumerando-se, um a um, os seus elementos: Exemplo: A = {1, 2, 3, 4} 2. Descrevendo seus elementos através de uma propriedade:uma propriedade: Exemplo: A = {x є N / 1 ≤ x ≤ 4} Subconjuntos de um conjunto Exemplo: S = {2, 6, 9} Subconjuntos de S: vazio: { } = com apenas um elemento: {2}, {6}, {9} com apenas dois elementos: {2, 6}, {2, 9}, {6, 9} com três elementos: {2, 6, 9} Observações: 1 t d j t A { } A1. para todo conjunto A, { } A 2. para todo conjunto A, A A União entre conjuntos Exemplo: A é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos. B é o conjunto de todos os estudantes de matemática.de matemática. AUB é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos (que estudam ou não matemática) e de todos os estudantes de matemática (independentemente de sua idade).idade). A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = {3, 4, 5, 6}, AUB = {1, 2, 3, 4, 5, 6} Intersecção de conjuntos Exemplo: A é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos. B é o conjunto de todos os estudantes de matemática.de matemática. A B é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos que são estudantes de matemática. A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = {3, 4, 5, 6}, A B = {3, 4, 5} Diferença entre conjuntos Exemplo: A é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos. B é o conjunto de todos os estudantes de matemática.de matemática. A – B é o conjunto de todas as pessoas de 20 anos que não são estudantes de matemática. B – A é o conjunto de todos os estudantes de matemática que não têmestudantes de matemática que não têm 20 anos. A = {1, 2, 3, 4, 5}, B = {3, 4, 5, 6}, A – B = {1, 2}, B – A = {6} Produto cartesiano AxB = {(x,y) / x є A e y є B} Exemplo: A = {3, 5}, B = {1, 2, 3} AxB = {(3,1),(3,2),(3,3),(5,1),(5,2),(5,3)} BXA = {(1,3),(1,5),(2,3),(2,5),(3,3),(3,5)} Observe que AxB é diferente de BxA. Situações em que AxB = BxA: 1. A = { } ou B = { } 2 A B2. A = B Se A tem x elementos e B tem y elementos, então n(AxB) = x.y. Relações sobre conjuntos Uma relação sobre um conjunto A é um subconjunto R do produto cartesiano AxA. Exemplo: A = {1, 2, 3} AxA = {(1,1), (1,2), (1,3), (2,1), (2,2), (2,3),AxA {(1,1), (1,2), (1,3), (2,1), (2,2), (2,3), (3,1), (3,2), (3,3)} Algumas possibilidades de R neste exemplo: {(1,3)} {(2,1), (3,2)} {(1,1), (2,2), (3,3)} Propriedades das relações Se A tem n elementos, então AxA tem n.n elementos e 2n.n relações. Algumas relações podem ter as seguintes propriedades: 1. Reflexiva - para qualquer elemento a do1. Reflexiva para qualquer elemento a do conjunto A: aRa. Exemplo 1: A = N* e R a relação que leva cada número em todos os seus divisores. Como todo número é divisor de si mesmo, R é reflexiva.divisor de si mesmo, R é reflexiva. Exemplo 2: no conjunto A = {1, 2, 3}, a relação R = {(1, 1), (2, 2), (3, 3)} é reflexiva. Propriedades das relações 2. Simétrica: para quaisquer elementos a e b de A: Se aRb, então bRa. Exemplo: no conjunto A = {1, 2, 3}, a relação R = {(1, 2), (2, 1), (3, 3)} é simétrica. 3. Transitiva: para quaisquer elementos a, b e c de A: Se aRb e bRc, então aRc. Exemplo - no conjunto A = {1, 2, 3}, seja R a relação que leva cada elemento em números menores que ele:números menores que ele: R = {(2,1), (3,1), (3,2)} Observe que 3R2 e 2R1. Logo, 3R1. Relações de equivalência Definição: uma relação binária num conjunto A diz-se uma relação de equivalência se ela é reflexiva, simétrica e transitiva. Exemplo - no conjunto dos números inteiros, seja R a relação tal que: dados a e b inteiros, aRb se a soma a+b é par. Verifica-se que: 1. Se a é um número inteiro, então a + a é par, logo, aRa (reflexiva).par, logo, aRa (reflexiva). 2. Se a e b são inteiros e a + b é par, então b + a é par. Logo, se aRb, então bRa (simétrica). Relações de equivalência 3. Se a + b é par e b + c é par, então ocorre uma das duas seguintes situações: I. b é par e, portanto, a e c são pares. II. b é ímpar e, portanto, a e c são ímpares. Nos dois casos a + c é soma de dois Nos dois casos, a + c é soma de dois números pares ou de dois números ímpares, que resulta em par. Logo, se aRb e bRc, então aRc (transitiva). Conclusão: R é uma relação de equivalência. Interatividade Seja A = {1, 2, 3, 4, 5, 6} e R a relação que leva cada elemento x do conjunto A em elementos de A menores que x, assinale a afirmação verdadeira. a) R é apenas reflexiva. b) R é apenas simétrica. c) R é apenas transitiva. d) R é uma relação de equivalência. e) R é apenas reflexiva e simétrica. Relações de ordem Propriedade antissimétrica. Sejam: A um conjunto não vazio. x e y elementos quaisquer de A. R uma relação binária em A. Se xRy e yRx, então x = y. Definição: se uma relação R em um conjunto A possui as propriedades reflexiva, antissimétrica e transitiva, , , então é dita uma relação de ordem. Nesse caso, o par (A, R) é dito uma estrutura de ordem. Exemplo O par (N, x≤ y) é uma estrutura de ordem, pois, dados quaisquer x, y e z pertencentes a N, tem-se que: 1. x ≤ x. 2. Se x ≤ y e y ≤ x, então x = y.2. Se x ≤ y e y ≤ x, então x y. 3. se x ≤ y e y ≤ z, então x ≤ z. Além disso, dizemos que, dada a ordem (A,R), se todo subconjunto não vazio de A tem elemento mínimo, então (A,R) é boa ordem É fácil verificar que (N x ≤ y)boa ordem. É fácil verificar que (N, x ≤ y) é uma boa ordem. O conjunto dos números inteiros Observe que o conjunto dos números inteiros, munido da relação x ≤ y, não é uma boa ordem. Z = {..., -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, ...} Se tomarmos o subconjunto B de Z:Se tomarmos o subconjunto B de Z: B = { ..., -12, -11, -10}, verificamos que ele não possui elemento mínimo (não existe um elemento x de B tal que x seja menor que qualquer outro elemento de B). Portanto, (Z, x ≤ y) não é uma boa ordem.Portanto, (Z, x ≤ y) não é uma boa ordem. Mais exemplos (1) Em um plano α, é fixado um ponto O, sendo P e Q pontos quaisquer de α. Verificaremos que (α, OP = OQ) é uma estrutura de equivalência. 1. PO = OP (reflexiva). 2. Se PO = OQ, então OQ = OP (simétrica). 3. Se OP = OQ e OQ = OS, então OP = OS (transitiva). Mais exemplos (2) Seja o conjunto α de todas as retas contidas em um determinado plano, dadas duas retas r e s de α, definimos que r é paralela a s (r//s) se e somente se: r = s ou r s = { } Verificaremos que (α, r//s) é uma estrutura de equivalência. Demonstração do exemplo 2 1. r // r, pois r = r (reflexiva). 2. Se r // s, então s // r (simétrica). 3. Se r // s e s//t, então r // t (transitiva). Logo, a relação r // s em α é uma relação de equivalênciade equivalência. Interatividade O conjuntodos números inteiros (Z) é tal que: a) Qualquer subconjunto de Z possui elemento mínimo. b) Possui a propriedade reflexiva parab) Possui a propriedade reflexiva para qualquer relação binária R. c) Se R é a relação x + y par em Z, então R é uma relação de equivalência. d) Se R é a relação x ≥ y em Z, então R não possui a propriedade reflexivapossui a propriedade reflexiva. e) Se R é a relação x ≥ y em Z, então R possui a propriedade simétrica. ATÉ A PRÓXIMA!
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