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Modelo de agências reguladoras independentes Prof. Marcos Vinicius Pó marcos.po@ufabc.edu.br Regulação e Agências Reguladoras no Contexto Brasileiro Regulação • Arranjos regulatórios: padrões de intervenção político- institucional que estruturam as relações entre mercado, Estado e sociedade. • Nem toda regulação é benéfica à sociedade ou contrária aos interesses privados. • A regulação torna-se também um mercado. ► Mercadoria monopolista de Estado ► Campo de luta de interesses Prof. Marcos Vinicius Pó 2 Agencificação: motivadores • Privatizações • Globalização e “corrida para baixo” • Busca de atração de investimentos: ► “Menos” regulação ► Credibilidade regulatória: delegação e autonomia • Harmonização de regras e formatos institucionais internacionais (Ex.: União Europeia, OMC...) • Influência de agências multilaterais e consultorias internacionais • Reforma do Estado: “solução mágica”, apelo da modernidade Prof. Marcos Vinicius Pó 3 Privatização e agências 4 Fonte: David Levi-Faur: The Global Diffusion of Regulatory Capitalism.2005. p 18. Agências reguladoras • Autonomia decisória e gerencial • “Independência” política • Estabilidade regulatória • Limitação de decisões autocráticas colegiado • Controle por procedimentos administrativos e transparência • Mistura de funções legislativas, executivas e judiciárias ► (eufemismo para legislativo: normativo) Prof. Marcos Vinicius Pó 5 Modelo de agências: Estados Unidos • Criação norte-americana ► No sistema administrativo norte-americano quase todos os órgãos governamentais são agências: (1) ''agency'' means each authority of the Government of the United States, whether or not it is within or subject to review by another agency. (Administrative Procedure Act, § 551. Definitions) • Final do século XIX: agências estaduais voltadas para a defesa da concorrência e o controle dos monopólios naturais locais. ► 1887: Interstate Commerce Commission –ICC Prof. Marcos Vinicius Pó 6 Agências nos Estados Unidos • Nos EUA a provisão de bens, inclusive de serviços públicos (utilities) historicamente sempre foi feita pela iniciativa privada. • As modernas agências reguladoras surgiram com o New Deal (década de 1930), numa época de controle da economia. • Entre 1960 e 1980 houve outra fase de criação de agências, principalmente para a regulação social. • Na décadas de 1980 e 1990 muitas agências foram reformuladas ou extintas no movimento de desregulação da economia. • Não há um formato único de agências (agency, commissions...) Prof. Marcos Vinicius Pó 7 Agências pelo mundo: Europa • A regulação por meio de agências da forma que entendemos hoje começou após a onda de privatizações e reforma do Estados das décadas de 1980 e 1990, especialmente no Reino Unido; • A maioria dos serviços públicos era fornecida por empresas estatais (regulação endógena); • O crescimento do Mercado Comum Europeu também trouxe a necessidade de garantir regras e instituições similares nos diferentes países; • Além disso, o modelo começou a ser copiado em áreas diversas (isomorfismo). Prof. Marcos Vinicius Pó 8 Agências pelo mundo: América Latina • Os principais motivadores foram as privatizações e a necessidade de atração de investimentos • Acordos internacionais (OMC) e instituições de desenvolvimento como Banco Mundial também influenciaram • As agências surgiram para garantir os contratos em setores onde há investimentos pesados e de longo prazo de retorno (sunk costs) – necessidade de estabilidade de regras • Também se espalharam por outros setores e no nível federativo (isomorfismo) Prof. Marcos Vinicius Pó 9 A difusão de agências reguladoras na Europa e América Latina • Fonte: Regulation in the Age of Globalization: The Diffusion of Regulatory Agencies across Europe and Latin America. Fabrizio Gilardi, Jacint Jordana and David Levi-Faur, 2006 Prof. Marcos Vinicius Pó 10 Riscos e problemas das agências independentes • Legitimidade democrática: agentes não-eleitos tomam decisões politicamente importantes em setores de grande interesse público com poucos controles democráticos; • Captura por interesses restritos, especialmente grupos econômica ou politicamente poderosos; • Possibilidade das instituições se desviarem do interesse público ou se oporem a mudanças manifestadas pela sociedade; • Uso das assimetrias de conhecimento e especialização para manipular e evitar o escrutínio público; • Como garantir que agências com autonomia atendam aos interesses da sociedade? Prof. Marcos Vinicius Pó 11 Agências reguladoras no Brasil Prof. Marcos Vinicius Pó marcos.po@ufabc.edu.br Regulação e Agências Reguladoras no Contexto Brasileiro Privatização no Brasil • Collor de Melo ► Programa Nacional de Desestatização (Lei n° 8031/1990) ► Programa Federal de Desregulamentação (Decreto n° 99.179/1990) ► Itamar Franco deu continuidade ao processo • Fernando Henrique Cardoso ► Lei 8987/1995 (Lei das Concessões) ► Quebra do monopólio de telecomunicações e do setor do petróleo ► Energia elétrica: empresas distribuidoras estaduais Prof. Marcos Vinicius Pó 13 Motivações para criação de agências reguladoras no Brasil • Privatização e concessão de serviços públicos • Busca de credibilidade regulatória • Eficiência e modernização • Reforço da estrutura governamental ► Facilidades fiscais e de aprovação congressual • Definições legais (Ex.: Lei do Saneamento 11.445/2007) • Isomorfismo Prof. Marcos Vinicius Pó 14 Modelo brasileiro de agências reguladoras? • Novembro/1995: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, preparado pelo Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado (MARE). • 31/05/1996: Recomendação “Construção do Marco Legal dos Entes Reguladores” do Conselho da Reforma do Estado (CRE). • Não houve processo coordenado de reforma regulatória e das privatizações, o que resultou na falta de um modelo regulatório. Isso tornou o processo fragmentado, sendo fortemente conduzido pelas concepções dos ministérios e pela burocracia de cada setor. Prof. Marcos Vinicius Pó 15 Recomendações do CRE • Autonomia gerencial, financeira e operacional e independência decisória. Os dirigentes, atendendo a critérios de mérito e competência, seriam nomeados pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado Federal, com mandato fixo. O processo decisório deveria ser colegiado. ► Possibilidade de perda de mandato por decisão do Senado Federal. • Necessidade de participação de usuários, consumidores e investidores no processo de elaboração de normas, em audiências públicas; busca de informações além das trazidas pelos interessados, com a possibilidade de contratar fontes independentes. • Publicidade das normas, procedimentos, decisões e relatórios de atividade. • Necessidade de definição das atribuições e competências privativas do ente regulador exercidas em caráter definitivo e daquelas definidas de acordo com a política governamental. Prof. Marcos Vinicius Pó 16 Desenho institucional das agências reguladoras • Independência financeira, funcional e gerencial ► Autarquia especial sem subordinação hierárquica ao ministério correspondente ► Última instância de recurso no âmbito administrativo ► Delegação normativa ► Poder de instruir e julgar processos ► Orçamento com fontes próprias ► Quadro de pessoal próprio • Transparência ► Ouvidoria commandato ► Publicidade de atos e decisões • Autonomia e estabilidade dos dirigentes ► Mandatos fixos e não- coincidentes ► Estabilidade dos dirigentes ► Aprovação pelo Poder Legislativo, mediante argüição ► Pré-requisitos quanto à qualificação dos dirigentes • Procedural ► Justificativa por escrito de votos e decisão dos dirigentes ► Audiências públicas ► Diretoria com decisão colegiada Prof. Marcos Vinicius Pó 17 Criação das agências reguladoras brasileiras • 1996-1997: privatização e a quebra do monopólio do Estado. ► Busca de credibilidade regulatória para os investidores ► ANEEL, ANATEL e ANP. • 1999-2000: eficiência e modernização. Setores já estabelecidos. ► Possivelmente motivado por dificuldades para a implementação das agências executivas e pela necessidade de fortalecer a atuação em setores estratégicos. ► ANVISA e ANS • 2001-2005: mistura de finalidades, isomorfismo ► ANTT, ANTAQ, ANA, ANCINE, ANAC Prof. Marcos Vinicius Pó 18 Agência federal Ministério relacionado Lei de criação Decreto de instalação n° de diretores duração do mandato ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica Minas e Energia 9.427, de 26/12/1996 2.335, de 06/10/1997 5 4 ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações Comunicações 9.472, de 16/07/1997 2.338, de 07/10/1997 5 5 ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Minas e Energia 9.478, de 06/08/1997 2.455, de 14/01/1998 5 4 ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária Saúde 9.782, de 26/01/1999 3.029, de 16/04/1999 5 3 ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar Saúde 9.961, de 28/01/2000 3.327, de 05/01/2000 5 3 ANA - Agência Nacional de Águas Meio Ambiente 9.984, de 17/07/2000 3.692, de 19/12/2000 5 4 ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquáticos Transportes 10.233, de 05/06/2001 4.122, de 13/02/2002 3 4 ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres Transportes 10.233, de 05/06/2001 4.130, de 13/02/2002 5 4 ANCINE - Agência Nacional do Cinema Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MP 2.228, de 06/09/2001 - 4 4 ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil Defesa 11.182, de 27/09/2005 5.731, de 20/03/2006 5 5 Agências nos estados e municípios • No site da Associação Brasileira de Agências Reguladoras (ABAR), são listadas 28 agências estaduais e 13 municipais associadas; • A maioria das agências estaduais são atuam em mais de uma área. ► Os principais setores são: energia elétrica; água e saneamento; e transporte. • No nível municipal costumam se concentrar na área de água e saneamento. Prof. Marcos Vinicius Pó 20 Criação de agências no Brasil • Bianculli, Andrea C. The Brazilian Association of Regulatory Agencies: Integrating levels, consolidating identities in the regulatory state in the south. Regulation & Governance. 2013. P 3 Prof. Marcos Vinicius Pó 21 Agências e os governos do PT • Acusação de “terceirização do governo” (reajuste de telefonia) ► Posicionamento vai ficando mais ameno com o passar do tempo • Grupo de trabalho interministerial coordenado pela Casa Civil ► Relatório “Análise e avaliação do papel das agências reguladoras no atual arranjo institucional Brasileiro” em outubro de 2003 com recomendações: – Definição criteriosa dos setores que necessitam de agências reguladoras. – Fortalecimento dos ministérios e instâncias responsáveis pela formulação de políticas. – Segurança do mandato dos dirigentes e definição da competência da diretoria colegiada. – Necessidade de articulação com o sistema de defesa da concorrência. – Aperfeiçoamento do controle social. ► Projeto de lei (3337/2004) o PL é retirado em 2013 pela presidente Dilma • Programa de Fortalecimento da Capacidade Institucional para Gestão em Regulação (PRO-REG) em 2007 Prof. Marcos Vinicius Pó 22 23 • Próxima semana: A rede de accountability das agências reguladoras • Texto base: PÓ, Marcos V; ABRUCIO, Fernando L. Desenho e funcionamento dos mecanismos de controle e accountability das agências reguladoras brasileiras: semelhanças e diferenças. RAP – Revista de Administração Pública, 40 (4), pp 679-698, Jul/Ago 2006. Rio de Janeiro. • Texto complementar: OCDE. Relatório sobre a Reforma Regulatória – Brasil: Fortalecendo a governança para o crescimento. 2007. Capítulo 6 • Material disponível em: http://perguntasaopo.wordpress.com/disciplinas/ragcb/
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