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Direitos e Seguridade Social 2/275 Direitos e Seguridade Social Autora: Viviane Masotti Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós- Constituição De 1988 07 Assista a suas aulas 29 Unidade 2: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais 37 Assista a suas aulas 63 Unidade 3: Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social 70 Assista a suas aulas 99 Unidade 4: Conceito e Proteção de Direitos Humanos 106 Assista a suas aulas 127 Unidade 5: Marco Legal da Seguridade Social 135 Assista a suas aulas 168 2/275 3/2753 Unidade 6: Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 176 Assista a suas aulas 208 Unidade 7: Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência 217 Assista a suas aulas 243 Unidade 8: Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios 251 Assista a suas aulas 268 Sumário Direitos e Seguridade Social Autora: Viviane Masotti Como citar este documento: MASOTTI, Viviane. Direitos e Seguridade Social. Valinhos: 2015. 4/275 Apresentação da Disciplina A disciplina de Direitos e Seguridade Social tem por objetivo proporcionar ao aluno o conhecimento de quais são os direitos sociais fundamentais do cidadão, de acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil. E de que forma são ou podem ser protegidos e garantidos estes direitos, de acordo com o marco legal das políticas setoriais e de defesa de direitos. Os desafios contemporâneos têm exigido uma atuação integrada do Estado e da sociedade, através de seus diversos agentes na solução das demandas sociais. As intervenções praticadas por estes agentes devem ser balizadas por um conhecimento técnico-científico do Direito Social. Esta disciplina do MBA em Gestão Social, traz a fundamentação jurídica que introduz ao aluno a importância e a necessidade destas intervenções. O aluno do MBA em Gestão Social poderá, a partir da ampliação do seu conhecimento dos direitos sociais e dos instrumentos disponíveis para sua efetivação, ter uma atuação aperfeiçoada, seja enquanto profissional envolvido na área ou enquanto membro da sociedade civil pertencente à rede ativa de proteção destes direitos. A Constituição Federal de 1988 é conhecida como a “Constituição Cidadã”, porque, ao contrário das Constituições anteriores, parte do ser humano e não do Estado como diretriz filosófica para configurar garantias e direitos individuais condizentes com a proteção aos Direitos Humanos. 5/275 O conjunto de discussões e normas, formado a partir do processo constituinte iniciado em 1987 e pelo texto constitucional final daí originado, representa o maior período democrático vivenciado no Brasil até então. Esse período democrático foi precedido pelo movimento das “Diretas Já”. A reivindicação da população por eleições presidenciais diretas, pela possibilidade de o povo escolher seu representante político, contrariando o regime militar vigente na época. O Brasil vivia desde abril de 1964 uma Ditadura Militar, na qual foram amplamente praticadas, de modo oficial, legalizados por Atos Institucionais: a censura aos meios de comunicação e expressão livre, a repressão aos opositores, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais. Enfim, a total falta de democracia e o desrespeito a muitos dos direitos hoje reconhecidos como fundamentais do cidadão. Como uma reação a esse período e em busca da construção de um Estado Democrático de Direito que permitisse o surgimento de uma sociedade fraterna e solidária, caracterizada pelo desenvolvimento e pelo bem-estar- social, nasce uma Constituição Federal extensa e detalhista. No entender de vários críticos, uma “carta de intenções ampla e genérica”, com garantia de direitos cuja regulamentação demorou ainda alguns anos, e sua efetiva aplicação outros tantos. 6/275 Nesta disciplina buscamos explicitar: quais são estes direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988; em que medida foram influenciados pelas Emendas Constitucionais (as alterações no texto original já passam de 80); quais são as legislações infraconstitucionais regulamentadoras dos direitos sociais; quais as medidas desenvolvidas pelo Estado e pela Sociedade para a concretização e garantia desses direitos e quais as perspectivas para o futuro. 7/275 Unidade 1 Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós- Constituição De 1988 Objetivos 1. Ter um primeiro contato com os direitos sociais garantidos pela Constituição de 1988. 2. Relacionar os direitos individuais fundamentais com os Direitos Humanos 3. Entender os direitos sociais enquanto evolução dos direitos humanos 4. Compreender a necessidade de políticas de defesa de direitos a partir das garantias constitucionais Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19888/275 Introdução A Constituição Federal de 1988 trouxe grande avanço, principalmente no reconhecimento de Direitos Fundamentais aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Brasil, bem como nos princípios que regem suas relações internacionais. Busca garantir a criação de um Estado Democrático de Direito, para assegurar o respeito, a proteção e a viabilização do exercício dos direitos civis, políticos, sociais e individuais, a Liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores de uma sociedade fraternal, pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social, ainda que isso significasse a ampliação da intervenção estatal na sociedade. A Constituição e, por consequência, todas as normas derivadas a partir daí têm como fundamento maior os valores da dignidade da pessoa humana, o valor social do trabalho e a livre iniciativa. Busca-se garantir a formação de uma sociedade solidária, cujas relações internas e externas devem se pautar pela prevalência dos direitos humanos. Assim como aconteceu com outros países na mesma época, a Constituição de 1988 ampliou o sistema de proteção social a partir do reconhecimento, em seus princípios basilares, dos direitos humanos em sua concepção mais moderna e completa, derivada dos Tratados Internacionais, em especial após a Declaração Universal dos direitos humanos de 1948. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 19889/275 Na maioria das situações, não bastava o reconhecimento constitucional de direitos humanos e a definição dos direitos fundamentais correspondentes, entre os quais os direitos sociais ampliados. Era também necessária a regulamentação desses direitos, com a edição de norma infraconstitucional que possibilitasse a efetivação dessa proteção social. Nesse sentido, enquanto se discutia no legislativo como tais direitos seriam regulamentados, o Estado manteve suas políticas públicas setoriais atreladas à legislação preexistente. Mas à medida que o legislativo incorporava os direitos humanos no ordenamento jurídico nacional, já durante a década de 90, as políticas públicas do Poder Executivo passaram a seguir sua orientação e instituições e programas sociais foram criados para implementar tais direitos.As diretrizes para implementação dos direitos humanos recém reconhecidos e positivados constitucionalmente foram criadas em 1996 através do PNDH I – o primeiro Programa Nacional de Direitos Humanos, cuja preocupação central era a garantia de direitos civis e políticos, embora a Constituição já tivesse determinado outros direitos fundamentais essenciais à dignidade, em conformidade com a indivisibilidade dos direitos humanos trazida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e suas posteriores reiterações. Estes direitos sociais, econômicos e culturais foram incorporados Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198810/275 ao Programa Nacional de Direitos Humanos apenas em 2002 (PNDH II). A partir de então foram realizadas no Brasil diversas ações de promoção dos direitos humanos através da criação de instrumentos de participação social nas políticas públicas sobre temas sociais; criação de Conselhos Nacionais Setoriais (educação, criança e adolescente, saúde); criação de Secretarias Especiais para formulação de políticas públicas relacionadas a Direitos Humanos; criação de Comissão de Direitos Humanos no Legislativo e Executivo; criação de mecanismos judiciais de controle e procedimentos jurisdicionais visando a acessibilidade e celeridade processuais. Na sequência houve a descentralização destes instrumentos protetivos, com a criação de estruturas estaduais e municipais para a promoção dos direitos humanos, permitindo a criação de programas locais de proteção de direitos a partir das diretrizes estabelecidas pelo PNDH. Já prevista na Constituição Federal de 1988, a participação popular através dos direitos políticos ao plebiscito, referendo e iniciativa popular, foram regulamentados apenas pela Lei nº 9.709 de 18/11/98. Mas em 1990 já se institucionalizava a participação nos conselhos setoriais, através da Lei nº 8142 que dispunha sobre a participação popular na gestão do SUS. Entre 2003 e 2011 foram realizadas mais de 70 Conferências Nacionais Temáticas para debater sobre necessidades Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198811/275 diversidade cultural e social, e as desigualdades econômicas e estruturais, o desafio tem sido coordenar as ações de defesa dos direitos humanos em seus diversos aspectos e garantir a efetividade das garantias constitucionais. da comunidade e possíveis políticas públicas para suprir tais necessidades, com participação direta de cidadãos consolidando a democracia participativa no país. A partir destas conferências com participação da comunidade, e após a 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos, surge a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos, incorporando elementos dos tratados internacionais mais recentes e traçando as diretrizes atualmente vigentes a orientar as políticas públicas setoriais e os instrumentos de defesa dos direitos humanos no Brasil. Diante destas diretrizes, considerada a extensão de nosso território, nossa Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198812/275 1. Direitos Humanos e Direitos Sociais Para Ingo Wolfgang Sarlet1, “hoje se tem como praticamente incontroversa a existência de um liame entre a dignidade da pessoa e os direitos humanos e fundamentais”. A dificuldade tem sido então, estabelecer como se dá essa relação, e principalmente quais os conteúdos e significados desses conceitos para a sociedade regulada pela ordem jurídica daí derivada. 1 SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) huma- na e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. Para saber mais Você sabia que o SUAS – Sistema Único de Assistência Social foi criado por deliberação da Conferência Nacional de Assistência Social em 2003, com modelo similar ao SUS – Sistema Único de Saúde, reafirmando o seu caráter de política pública com participação popular e não como caridade? Acesse o artigo sobre “Participação Popular – A construção da democracia participativa” na revista do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) “Desafios do Desenvolvimento” Edição 65 de 05/05/2011 no link abaixo: <http://www.ipea.gov. br/desafios/index.php?option=com_ content&id=2493:catid=28&Itemid=23> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198813/275 A concepção contemporânea de direitos humanos, considerando-se a evolução filosófica- histórica destes, caracteriza-se pelo significado universalista e indivisível, originário da Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948. Após as atrocidades praticadas na Segunda Guerra Mundial, sobretudo pelos nazistas, em meio aos esforços de reconstrução das cidades e economias envolvidas nos combates, 50 países (exceto os pertencentes ao Eixo) assinaram a Carta das Nações Unidas, criando a ONU, com o propósito de estimular uma união entre as nações e manter entre elas uma relação sem conflitos, a fim de evitar novas guerras, potencialmente tão devastadoras quanto a última. Ali já surgiam os fundamentos iniciais do que hoje temos por direitos humanos, ainda que pouco detalhados: “NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.” Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198814/275 É com base nesses mesmos princípios que a ONU adota a partir de 1948 a Declaração Universal dos Direitos Humanos, detalhando quais seriam esses direitos através dos quais se garantiria a dignidade inerente a qualquer ser humano. “Sob o prisma da reconstrução dos direitos humanos, no Pós-Guerra, há, de um lado, a emergência do “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, e, por outro, a nova feição do Direito Constitucional ocidental, aberto a princípios e a valores. ”2 Foi nesse espírito de readequação dos direitos constitucionais que diversas nações incluíram em suas leis 2 PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos: Desafios da ordem internacional contemporânea, in Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Ma- gistratura do TRF4. fundamentais o princípio da dignidade da pessoa humana. Alemanha, Portugal, Espanha, por exemplo, positivaram constitucionalmente o princípio da dignidade humana. O Brasil também o fez na Constituição Federal de 1988, promulgada após período intenso de regime militar (1964 – 1985), em que foi notório o desrespeito à pessoa humana com práticas de perseguição e tortura, entre outros tantos desrespeitos à liberdade. Com a positivação constitucional da dignidade como valor e princípio de nosso ordenamento jurídico, positivaram- se também diversos direitos humanos. Não por acaso, muitos dos direitos fundamentais individuais são coincidentes Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos noBrasil Pós-Constituição De 198815/275 com aquelas garantias elencadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: a inviolabilidade do direito à vida, à Liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, reconhecidos como direitos de caráter universal, inerentes à condição de ser humano, independente de formas de organização política ou social às quais pertençam. Ao estudar a evolução do direito constitucional, no plano do direito interno dos países, pode-se considerar, com finalidade didática, a teoria das gerações de direitos humanos de Karel Vasak3. Os direitos humanos, enquanto 3 BARROS, Sérgio Resende de. Três Gerações de Direi- tos. Artigo consultado em 26/08/2015, disponível em <http://www.srbarros.com.br/pt/tres-geracoes-de-di- reitos.cont> objetivos ideais ou metas, devem ser considerados em seu duplo caráter de universalidade e indivisibilidade, onde a violação de qualquer de seus aspectos implica na violação do todo, impedindo a efetividade da dignidade humana. Mas com a finalidade de analisar a evolução da positivação constitucional desses direitos e sua relação com o modelo de Estado correspondente é útil recorrer à teoria geracional de direitos humanos. As três dimensões ou gerações de direitos humanos foram relacionadas por Karel Vasak aos princípios da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A primeira geração estaria relacionada aos Direitos de Liberdade, e corresponderia aos direitos civis e políticos individuais, visando Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198816/275 proteger os indivíduos dos abusos do Estado. Típico do Estado Liberal de Direito, de acordo com Ricardo Lobo Torres, em que “institucionaliza-se a proteção ao mínimo existencial e à pobreza, mas não se nota ainda a preocupação com os direitos sociais. ” A preocupação tinha caráter fiscal, proibindo-se por exemplo a tributação sobre a parcela mínima necessária à existência humana digna e a incidência de taxas remuneratórias de prestações estatais positivas (Constituição brasileira de 1924, por exemplo, garantia os socorros públicos e a instrução primária gratuita a todos os cidadãos). 4 4 TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos sociais em mínimo existencial. SARLET, Ingo Wolfgang (organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de direito constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. Uma evolução na consideração destes direitos traz a concepção de que esta garantia já não basta. Sendo necessário, de forma complementar, também a atuação do Estado de forma a proporcionar bens e serviços básicos, que garantam o bem- estar social de todos os seus cidadãos, através da garantia dos direitos da Igualdade, típicos da Segunda Geração de direitos humanos, que incluiriam: saúde, educação, moradia, alimentação, enfim, direitos econômico-sociais. Típico do Estado Social de Direito, de acordo com Ricardo Lobo Torres. A terceira geração de direitos humanos, corresponderia aos Direitos de Fraternidade e caracteriza-se pelos direitos coletivos ou direitos dos povos, tais como: direito ao desenvolvimento Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198817/275 e à paz. “O Estado Democrático de Direito passa a garantir o mínimo existencial, em seu contorno máximo, deixando a questão da segurança dos direitos sociais para o sistema securitário e contributivo, baseado no princípio da solidariedade. ”5 A Constituição Federal de 1988 em sua redação original trazia como direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. A Emenda Constitucional nº 26/2000 incluiu o direito à moradia e a Emenda Constitucional nº 63/2010 incluiu o direito à alimentação no rol dos direitos sociais. Muito interessante, a partir da inclusão do direito à alimentação no rol dos 5 TORRES, Ricardo Lobo, idem. direitos sociais, é começar a acompanhar o comportamento do judiciário para ver cumprida a determinação constitucional. Acesse a decisão do TRT2 (São Paulo) sobre o direito à alimentação adequada fornecida por empregador, onde o desembargador ressalta que o fornecimento de lanches “revela-se nocivo à saúde, o que, em última análise, malfere a dignidade do trabalhador, que tem direito a se alimentar adequadamente”: Link <http://www.trtsp.jus.br/indice-de- noticias-noticias-juridicas/19637-8-turma- fornecimento-de-lanches-tipo-fast-food- e-nocivo-a-saude-e-fere-a-dignidade-do- trabalhador?device=xhtml> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198818/275 A doutrina diverge sobre a classificação dos direitos sociais como direitos fundamentais ou como mera regra programática constitucional, visto não haver instrumentos processuais claros para sua concretização enquanto obrigações de prestações positivas. Ocorre que tal situação não diverge de outros direitos fundamentais cuja característica em relação ao Estado possuem sempre as duas dimensões, negativa e positiva, onde por um lado limita-se o eventual abuso do Estado na lesão do direito e de outro busca-se a ação do Estado para promover a implantação de tal direito. O Estado aparece não necessariamente como fornecedor ou executor da obrigação prestacional, mas pode ter função ativa como facilitador ao propiciar condições para que o cidadão atinja tais direitos. Como nos ensina Zeno Simm6, “por meio do reconhecimento dos chamados direitos sociais, o que se tem em mira é conseguir-se criar uma situação de igualdade material entre as pessoas, reduzindo os desníveis entre elas e buscando uma situação de equilíbrio, ou, ao menos, eliminar ou suprir as necessidades mínimas do indivíduo, dando- lhes as condições básicas de uma existência digna. Sem se assegurar essas condições vitais mínimas, de nada vale querer-se assegurar outros tipos de direitos, como da liberdade de expressão ou de crença, da liberdade de associação, etc.” 6 SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade Social. São Paulo, LTR Editora, 2005. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198819/275 Vale lembrar do conceito de indivisibilidade dos direitos humanos ao argumentar que, por exemplo, sem a educação básica não se garante sequer o exercício da liberdade plena. Para saber mais Você sabia que o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) que atualmente norteia as políticas públicas de garantia de direitos fundamentais é organizado a partir de 6 Eixos Orientadores? É a partir de cada eixo orientador que são definidas as diretrizes e respectivos Objetivos Estratégicos com suas ações programáticas. Por exemplo: O primeiro eixo orientador do PNDH-3 é a “Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil”, reconhecendo a necessidade de atuação conjunta do Estado e da sociedade civil na promoção e proteção dos Direitos Humanos. A primeira diretriz deste eixo é a “Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia participativa” e o primeiro Objetivo Estratégico é a “Garantia da participação e do controle social das políticas públicas em Direitos Humanos, em diálogo plural e transversal entre os vários atores sociais”. Para atingir tal objetivo estratégico, uma das ações programáticas deve ser: “apoiar fóruns, redes e ações da sociedade civil que fazem acompanhamento,controle social e monitoramento das políticas públicas de Direitos Humanos. ” Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198820/275 2. Políticas setoriais e de defesa de direitos no Brasil pós-consti- tuição de 1988 O Brasil possui um extenso território e uma população caracterizada pela diversidade cultural e desigualdades sociais e econômicas significativas. Para a garantia de proteção e promoção dos direitos humanos fundamentais e dos direitos sociais tem se mostrado necessária a atuação tanto do Estado quanto da sociedade, através dos órgãos governamentais, de parcerias público- privadas e de organizações e membros da sociedade civil. Nesse sentido há diversas ações destinadas à promoção e defesa dos direitos humanos, e à garantia dos direitos sociais, seguindo diretrizes criadas a partir de políticas públicas que contam com a participação popular em sua elaboração, implementação e fiscalização. Criam-se espaços de participação cuja importância está em identificar a demanda da sociedade em determinado setor e estabelecer critérios, obter recursos e implantar soluções, que Para saber mais Conheça a íntegra do PNDH-3 no link abaixo: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito- para-todos/programas/pdfs/programa- nacional-de-direitos-humanos-pndh-3> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198821/275 atendam tal demanda. A participação popular representada por grupos de bairro, associações, movimentos de trabalhadores, e outros atores sociais, permite identificar necessidades de minorias que dificilmente chegariam ao conhecimento do Estado com tal agilidade sem tais instrumentos de participação. As políticas públicas podem ser federais, estaduais ou municipais, dependendo de sua abrangência ou da descentralização na execução. As políticas setoriais específicas, como educação, saneamento básico, habitação, saúde, em geral fazem parte de uma política pública mais abrangente e tanto na obtenção de recursos quanto na definição de objetivos deve-se considerar a integração entre os diversos setores e atores sociais. Podemos citar algumas medidas e programas com objetivo de promover e proteger os direitos humanos fundamentais no Brasil: • Adesão à quase totalidade das convenções internacionais sobre o tema. Desde 2004 os Tratados internacionais de Direitos Humanos podem ser recepcionados com status de emenda constitucional no ordenamento jurídico brasileiro. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2009, foi o primeiro a ter força constitucional. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198822/275 • O Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) contém as diretrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas básicas atualmente consideradas para o estabelecimento de políticas públicas na área de direitos fundamentais e sociais. 7 • Programas de redução da pobreza e promoção da igualdade social. O Plano Brasil sem Miséria, por exemplo, é um programa direcionado a brasileiros que vivem em lares cuja renda familiar per capita é de até R$70,00. De acordo com o censo de 7 <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/ programas/pdfs/programa-nacional-de-direitos-huma- nos-pndh-3> 2010 estariam nessa situação 16,2 milhões de brasileiros. Este programa pode ser considerado multi setorial, à medida que procura agregar transferência de renda, acesso a serviços públicos, à educação, saúde, assistência social, saneamento e energia elétrica e inclusão produtiva, através do aperfeiçoamento de programas já existentes e criação de novos, em parceria com estados, municípios, empresas públicas e privadas e organizações da sociedade civil, ou seja, com o apoio de todos os atores sociais. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198823/275 Para saber mais Você sabe o que é o programa de BUSCA ATIVA? É uma estratégia do Plano Brasil sem Miséria e tem por objetivo localizar e incluir no Cadastro Único todas as famílias extremamente pobres, além de encaminhá-las para atendimento na rede de proteção social. A ideia é levar o Estado ao cidadão, sem esperar que ele procure a ajuda do poder público. Conheça os detalhes do Plano Brasil Sem Miséria e a estratégia do Busca Ativa no link abaixo: <http://mds.gov.br/assuntos/brasil-sem- miseria/busca-ativa> Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198824/275 Glossário Políticas públicas: são conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados, que visem assegurar determinado direito garantido ao cidadão e que necessite de estabelecimento de diretrizes e de ações para sua implementação. Democracia participativa: sistema no qual os cidadãos possam participar, diretamente das decisões políticas fundamentais. Tratado internacional: de acordo com a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969, trata- se de um acordo internacional escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, destinado a produzir efeitos jurídicos. Questão reflexão ? para 25/275 O que se entende por rede de proteção social no âmbito do Plano Brasil sem Miséria e quais as medidas efetivas para identificação de beneficiários deste serviço? 26/275 Considerações Finais (1/2) A dignidade da pessoa humana foi alçada a um dos fundamentos basilares da Constituição Federal de 1988, junto ao valor social do trabalho e à livre iniciativa. Muitos dos direitos fundamentais individuais garantidos em nossa Constituição coincidem com as garantias elencadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, como a inviolabilidade do direito à vida, à Liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com a participação do Brasil em mais de uma organização internacional direcionada à proteção dos direitos humanos, e incorporando elementos dos tratados internacionais mais recentes, a Constituição reflete o respeito e garantia dos direitos humanos em sua concepção mais moderna e completa. Atualmente as diretrizes vigentes a orientar as políticas públicas setoriais e os instrumentos de defesa dos direitos humanos no Brasil estão na terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH III). 27/275 Considerações Finais (2/2) Os direitos sociais atualmente garantidos na Constituição Federal são: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, o direito à moradia e o direito à alimentação. Para efetivar a garantia e promoção destes direitos é que são elaboradas as políticas setoriais específicas, como as de educação, saneamento básico, habitação, saúde, que em geral fazem parte de uma política pública mais abrangente e implementada através da integração entre os diversos setores e atores sociais. Um exemplo dos programas executados a partir destas políticas públicas é o Plano Brasil Sem Miséria. Unidade 1 • Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição De 198828/275 Referências SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. PIOVESAN,Flávia – Direitos Humanos: Desafios da ordem internacional contemporânea, in Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Magistratura do TRF4. TORRES, Ricardo Lobo – A metamorfose dos direitos sociais em mínimo existencial. SARLET, Ingo Wolfgang (organizador). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de direito constitucional, internacional e comparado. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais e a Seguridade Social. São Paulo, LTR Editora, 2005. 29/275 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição de 1988 Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 5fa182c9f9d6908c998293e3245ad80d>. Aula 1 - Tema: Direitos Humanos, Direitos Sociais e as Políticas Setoriais e de Defesa de Direitos no Brasil Pós-Constituição de 1988 Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/0c- cb837a88d7a4234c1bedb8b691ff33>. 30/275 1. Assinale a alternativa errada. Após a Segunda Guerra Mundial, a Declaração dos Direitos Humanos era baseada nos seguintes princípios: a) paz e igualdade entre as nações, independentemente de seus tamanhos b) levar energia elétrica e saneamento aos necessitados c) igualdade de direito dos homens e das mulheres d) promoção do progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla e) estabelecer condições de respeito às obrigações decorrentes de tratados Questão 1 31/275 2. A necessidade de atuação do Estado de forma complementar, para garan- tir o bem-estar social dos seus cidadãos, sob o aspecto dos direitos huma- nos, está ligado a qual direito da Revolução Francesa? a) igualdade b) liberdade c) soberania d) cidadania e) fraternidade Questão 2 32/275 3. Não só bastava o reconhecimento constitucional dos direitos, era ne- cessária sua efetivação. A partir da frase exposta, qual foi a medida ado- tada. a) criação de normas infraconstitucionais b) prática cotidiana de civilidade e boa convivência c) trabalho dos agentes públicos d) medidas de iniciativa privada e) fomento às instituições de caridade Questão 3 33/275 4. A Constituição de 1988, também conhecida como “Constituição Cida- dã” tem ênfase na liberdade de expressão, pois foi resultado de qual mo- mento histórico? a) A Era Vargas b) O fim da ditadura militar c) A queda do império d) A República da Espada e) A Guerra Fria Questão 4 34/275 5. Qual destes itens é um dos eixos orientadores do PNDH-3? a) Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil b) a democracia, a soberania, a liberdade e a justiça c) a relação de respeito mútuo entre as nações d) a divisão dos poderes do Estado e) a necessidade de encanamento em todas as casas Questão 5 35/275 Gabarito 1. Resposta: B. Embora seja uma necessidade a ser suprida pela ação governamental, o fornecimento de energia elétrica e saneamento não são mencionados especificamente como fundamento na Declaração de Direitos Humanos. 2. Resposta: A. A necessidade de atuação ou participação ativa do Estado seria típica do Estado Social de Direito, e relacionada à segunda geração de direitos humanos na divisão defendida por Karel Vasak. 3. Resposta: A. Muitos dos direitos garantidos pela Constituição de 1988 foram considerados não autoaplicáveis, e para que tais direitos fossem efetivados foi necessária a edição de normas infraconstitucionais, que em alguns casos demoraram mais de 5 anos para serem aprovadas e sancionadas. 4. Resposta: B. Durante o período militar que vigorou no Brasil antes de 1988, tivemos três fases com existência da censura, mas o período mais rígido contra a liberdade de expressão no país ocorreu com a publicação do AI- 5, durando de 13/12/1968 até o início do governo Geisel em 1975. 36/275 5. Resposta: A. O PNDH-3 ou Programa Nacional de Direitos Humanos, em sua 3ª edição é organizado a partir de Eixos orientadores, e dentro deles serão alocadas as políticas sociais específicas. São 6 os eixos orientadores: Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil; Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar Direitos em um Contexto de desigualdades; Segurança Pública, acesso à justiça e combate à violência; Educação e Cultura em Direitos Humanos; Direito à Memória e à Verdade. Gabarito 37/275 Unidade 2 O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Objetivos 1. Ter um contato inicial com o conceito e formação do Sistema Jurídico Brasileiro 2. Aprender sobre a Constituição Federal de 1988 e seus princípios básicos 3. Conhecer as normas infraconstitucionais relacionadas aos direitos humanos fundamentais Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais38/275 Introdução O Brasil é um país cujo Direito é apresentado tradicionalmente na forma escrita. Possui uma Constituição rígida que prevê o processo de formulação do direito, das normas que irão regular as relações jurídicas, como competência exclusiva do legislador. A República Federativa do Brasil, organizada na forma de Estado Democrático de Direito, é estruturada por três poderes independentes e harmônicos entre si: Legislativo, Executivo e o Judiciário. O poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara de Deputados e o Senado Federal, cujas atribuições envolvem o processo legislativo no qual são elaboradas: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. O processo legislativo pode ser considerado a fonte formal de direito, cujo resultado é a lei em suas diversas categorias previstas pela Constituição Federal. Esse processo começa pela fase de apresentação de um projeto de lei que apresente um direito novo ou uma modificação em um direito vigente. O projeto poderá ser apresentado pelo Legislativo, pelo Executivo, pelos Tribunais Federais ou pela iniciativa popular, dependendo da matéria a que se refira a norma proposta, de acordo com a Constituição Federal.1 Em seguida inicia- 1 A Constituição Federal dispõe sobre a competência legis- lativa nos seguintes dispositivos: art. 27, §4º; art. 29, XIII; art. 61, §1º e §2º; art. 84, III e XXIII; art. 96, II, a, b, c e d. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais39/275 se o processo de discussão do projeto pelos membros dos corpos legislativos, em alguns casos com a formação de Comissões Especializadas na matéria proposta. A esse projeto podem ser propostas emendas modificativas ou substitutivas antes de nova discussão e aprovação para enfim ser elaborado um texto que será direcionado à fase de Deliberação ou votação. A fase de votação acontece na Câmara e no Senado, e caso o projeto seja aprovado será remetido para a sanção ou veto do Executivo. O Executivo, representado neste ato pelo Presidente da República, também exerce uma parte da função legislativa, pois deve apreciar cada projeto aprovado pelo Legislativo e resolver pela sua aceitação sancionando-o para que seja convertido em Lei, ou pelo veto, rejeitando a proposta. O veto do Executivo ao projeto de lei aprovado pelo Legislativo pode ser total ou parcial e irá ocorrer em duas situações: a) por entender que a norma proposta é inconstitucional; b) por entender que a aprovação da norma é inconveniente de acordo com os critérios de governabilidade que estiver seguindo.Todo esse processo legislativo demonstra a busca pelo equilíbrio entre os Poderes de Estado, a fim de regular as relações jurídicas mantendo a governabilidade do país, de acordo com os preceitos constitucionais. Se o processo legislativo se encerrasse no ato do veto do Executivo ao projeto de lei haveria o perigo de Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais40/275 desequilíbrio de forças. No entanto, o projeto com o veto presidencial volta ao Legislativo para reapreciação e tal ato pode ser rejeitado por maioria qualificada. Se o Legislativo aceitar o veto então encerra- se o processo legislativo. Mas se o veto for rejeitado o projeto será enviado novamente ao Executivo para sanção e promulgação no prazo de 48 horas. Após a promulgação vem a publicação no Diário Oficial, o ato final do processo legislativo, a partir do qual a Lei torna-se pública para a comunidade que será por ela regulada. Vimos acima que um dos motivos do veto presidencial a um projeto de lei pode ser a sua inconstitucionalidade. A Constituição Federal é lei maior de um Estado, e contém os valores, princípios e regras que fundamentam e devem ser seguidos por todo o ordenamento jurídico complementar. O sistema jurídico nacional é formado pela sua Constituição e as normas infraconstitucionais em todas as categorias permitidas em nosso ordenamento. Mas é importante destacar que também podemos considerar a jurisprudência como fonte de direito, inclusive como forma de controle de constitucionalidade. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais41/275 Assim, confirmando a possibilidade e a busca do equilíbrio entre os poderes do Estado, temos a ação do Poder Judiciário exercendo a função de controle de constitucionalidade das normas oriundas do processo legislativo e também decidindo sobre a correta interpretação ou aplicação dessas normas nas relações jurídicas concretizadas. A jurisprudência, através da uniformização das decisões judiciais, forma normas gerais de aplicação de determinadas leis a casos concretos iguais ou semelhantes. Essas decisões se incorporam ao sistema jurídico de tal forma que passam a integrar o direito vigente, e chegam a provocar alterações para readequação da legislação ao posicionamento jurisprudencial. O uso normativo da Jurisprudência no sistema jurídico brasileiro é essencial, à medida que auxilia na aplicação correta da legislação aos casos concretos, como parte dos instrumentos de proteção aos direitos fundamentais dispostos na Constituição. Em alguns casos supre inclusive a lacuna legislativa, quando decide sobre situações que não se enquadram nas hipóteses regulamentadas pelas leis vigentes, mas que podem ser solucionadas pela aplicação de normas análogas, desde que respeitados os princípios constitucionais. 1. Constituição Federal de 1988 A Constituição da República Federativa do Brasil, vigente desde 05/10/1988, e modificada por diversas emendas Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais42/275 constitucionais nos últimos anos, é a Lei Maior do país. Estabelece os direitos fundamentais e todos os princípios que norteiam nosso sistema Jurídico, a estruturação do Estado e o funcionamento dos Poderes, os direitos políticos, sociais, etc. A Constituição Federal traz algumas cláusulas pétreas: dispositivos constitucionais que não podem ser alterados mesmo por Emenda Constitucional (mecanismo previsto para permitir mudanças no texto original). Entre estas cláusulas estão: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais. O preâmbulo da Constituição Federal de 1988 traz a declaração da missão da Assembleia Nacional Constituinte formada em 1987: instituir um Estado Democrático que a partir daquele momento histórico destinava-se a: assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, de modo a garantir a existência de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, socialmente harmoniosa e comprometida com a paz. Os fundamentos elencados como valores principais do Estado Democrático de Direito criado com a Constituição Federal de 1988 são: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais43/275 sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político e a democracia onde todo o poder emana do povo exercido por meio de representantes por ele eleitos. Dentre os objetivos da República e os princípios que regem suas relações internacionais encontram-se como base vários dos Direitos Humanos considerados em sua concepção moderna. São objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Regem as relações internacionais os princípios de: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não- intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. Conhecida como Constituição Cidadã, pois, nas palavras de Ulisses Guimarães, pronunciadas em sua manifestação enquanto presidente da Assembleia Constituinte em sessão ocorrida em 27 de julho de 1988: “essa será a Constituição cidadã, porque irá recuperar como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria. ” Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais44/275 BERWANGER2 aponta que diversas críticas foram feitas à Constituição após sua promulgação em 1988, que variam desde exageros saudosistas anti-democracia até observações pertinentes cujo estudo 2 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um olhar sobre minorias vinculadas à seguridade social./ Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curiti- ba: Juruá, 2014. podem nos levar ao aperfeiçoamento da norma constitucional vigente. Assim, o texto constitucional teria erros de grafia ou terminologia mas não é ilógico ou incompreensível; é extensa e detalhista, contém dispositivos que não tratam de matérias tipicamente constitucionais, mas isso não chega a prejudicar a garantia dos direitos, ao contrário, representa bem o contexto histórico em que foi gerada e ainda reproduz o fenômeno ao ampliar garantias contra abusos em Emendas constitucionais recentes; seria utópica, uma carta programática com excesso de direitos previstos, mas “se com uma Constituição muito avançada, “utópica”, com excesso de direitos alegado pelos que a combatem, consegue-se manter milhões em Link Acesse a íntegra deste pronunciamento no link abaixo: <http://www2.camara.leg.br/ atividade-legislativa/plenario/discursos/ escrevendohistoria/discursos-em- destaque/serie-brasileira> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais45/275 pobreza extrema, imaginem se esses direitos não fossem constitucionalizados?!”3 É evidente que existem problemas sérios relacionados à nossa Lei Maior, como por exemplo a inérciae demora na regulamentação dos dispositivos que necessitavam de lei infraconstitucional para serem aplicáveis. E pouco tempo depois de alguns dispositivos serem regulamentados já ocorria a reforma do texto constitucional através de emendas constitucionais, a primeira ainda em 1992 alterando dispositivo referente a remuneração de Deputados estaduais e vereadores! 3 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. idem Considerado o cenário de falta de consenso político nos últimos anos, esse excesso de mudanças no texto constitucional é temerário, causando insegurança jurídica na comunidade. Principalmente no tema da Seguridade Social, as alterações legislativas ocorridas nos últimos 20 anos, constitucionais e infraconstitucionais, representaram de modo significativo uma restrição de direitos anteriormente garantidos, com a justificativa de necessidade de ajustes em prol do equilíbrio econômico-financeiro do Sistema de Seguridade Social. Há muitos temas pendentes de julgamento no STF relacionados a estas mudanças legislativas, que aguardam uma análise sob o aspecto do princípio da proibição Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais46/275 do retrocesso social e da salvaguarda dos direitos sociais vinculados à garantia do mínimo existencial. Pois a lesão ao mínimo existencial caracterizada pelo retrocesso de um direito anteriormente garantido, pela insuficiência de proteção, significará sempre uma violação desproporcional à dignidade humana. E a questão aqui será ao mesmo tempo o reconhecimento de um princípio implícito no texto constitucional, e a definição da amplitude e limites do que seja o mínimo existencial, ou a que e quanto corresponderiam as prestações materiais indispensáveis para uma vida com dignidade para todas as pessoas, considerando-se que “ o conteúdo do mínimo existencial para uma vida digna encontra-se condicionado pelas circunstâncias históricas, geográficas, sociais, econômicas e culturais em cada lugar e momento em que estiver em causa, mas varia também conforme a natureza do direito social em particular (moradia, saúde, assistência social...)”4. 4 SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um direito constitucio- nal comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./ set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/hand-le/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais47/275 2. Normas infraconstitucionais Os instrumentos legais infraconstitucionais do ordenamento jurídico brasileiro: as leis complementares e leis ordinárias cuja iniciativa cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos na Constituição; as medidas provisórias, cuja iniciativa cabe ao Presidente da República em caso de relevância e urgência, e têm natureza temporária e força de lei, com processo legislativo específico de submissão ao Congresso Nacional; as leis delegadas; os decretos legislativos; as resoluções; ainda, de competência dos Ministros de Estado com a finalidade de expedir instruções para a execução das leis, há os Decretos regulamentares. Para saber mais Você sabia que já são mais de 85 emendas constitucionais aprovadas desde a promulgação da Constitucional Federal de 1988? Acesse o link abaixo para ter acesso ao quadro das Emendas Constitucionais e seus textos integrais. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Constituicao/Emendas/Emc/quadro_emc. htm> Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais48/275 No contexto da administração pública há ainda a emissão de Instruções normativas, ordens de serviço, e orientações internas, sempre com o objetivo de uniformizar entendimentos e interpretações sobre a melhor forma de aplicação da legislação, em conformidade com os decretos regulamentares e a legislação. Deve-se tomar muito cuidado ao estudar qualquer tema através das Instruções normativas emitidas pela administração pública para consulta e orientação de seus servidores, pois não possuem caráter normativo oficial, não podendo ser considerados fonte formal de direito, e em muitos casos possuem falhas interpretativas que podem levar à lesão de direitos do cidadão. Para saber mais Você sabia que é vedada a edição de Medida Provisória: sobre matéria relativa a nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos, direito eleitoral, direito penal, processual penal e processual civil, organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares; que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; de matéria reservada a lei complementar (aprovada por maioria absoluta); de matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto presidencial. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais49/275 Na regulamentação dos direitos sociais relacionados à Seguridade Social, que serão objeto de nosso estudo nas próximas aulas desta disciplina, podemos relacionar as seguintes normas infraconstitucionais. 2.1 – Direito à Previdência Social Na Constituição Federal estão previstos: nos arts. 6º e 7º os direitos à previdência social, à aposentadoria e ao seguro contra acidentes do trabalho dos trabalhadores urbanos e rurais e domésticos, ao salário mínimo e ao décimo terceiro salário, ao salário-família pago ao trabalhador de baixa renda; no art. 40 as regras do Regime de Previdência dos servidores Para saber mais Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deverão ser convertidas em lei ordinária, se aprovadas, num prazo de 60 dias prorrogáveis por mais 60. Se rejeitadas, tacitamente ou expressamente, perdem a eficácia desde sua edição, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que surgiram a partir de sua vigência através de decreto legislativo no prazo de 60 dias a partir da perda de eficácia. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais50/275 públicos; no art. 201 a previsão do Regime Geral de Previdência Social e no art. 202 o Regime de Previdência Complementar. A legislação infraconstitucional que regulamenta os Regimes de Previdência Social é representada principalmente pelos instrumentos abaixo relacionados: • Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da Previdência Social; • Lei nº 8212/91 – Lei de custeio de Previdência Social; • Lei nº 9876/99 – Lei que altera o cálculo da renda mensal inicial dos benefícios previdenciários; • Lei nº 10.666/2003 – Lei que despreza a perda da qualidade de segurado para as aposentadorias por idade; • Lei complementar nº 142/2013 – Aposentadoria especial da pessoa com deficiência no RGPS; • Decreto nº 8.145/2013 – Regulamenta a aposentadoria da pessoa com deficiência; • Lei nº 13.135/2015 – Altera as regras do benefício de pensão por morte, o cálculo da renda mensal do auxílio- doença; • Decreto nº 3048/99 – Regulamento de Previdência Social; • Instrução Normativa nº 77/2015 Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais51/275• LC nº 108/2001 – Dispõe sobre entidades fechadas de Previdência Complementar; • LC nº 109/2001 – Dispõe sobre o Regime de Previdência Complementar; • Lei nº 12.618/2012 – Institui o Regime de Previdência Complementar dos servidores públicos federais; • Decreto nº 7.808/2012 – Cria a Funpresp-Exe, Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo. • Lei nº 9.717/98 – Dispõe sobre os Regimes Próprios de Previdência 2.2 – Direito à Assistência So- cial A Constituição Federal prevê o sistema de Assistência Social como uma das dimensões ou subsistemas da Seguridade Social no art. 203. A assistência social será prestada independente de contribuição a quem dela necessitar com os objetivos de proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, o amparo às crianças e adolescentes carentes, a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação, reabilitação e promoção da integração à vida comunitária das pessoas com deficiência. Ainda garante de forma não contributiva o direito ao benefício Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais52/275 de prestação continuada assistencial equivalente ao valor de um salário mínimo à pessoa com deficiência ou ao idoso que comprovem não possuir meios de subsistência ou de tê-la provida por sua família. A Assistência Social é financiada pelo orçamento da Seguridade Social, além de outras fontes. E é organizada de forma descentralizada a fim de atingir quem dela necessitar de forma mais eficaz. A coordenação e as normas gerais cabem à esfera federal da organização político- administrativa da Assistência Social, mas sua execução cabe às esferas estadual e municipal, às entidades beneficentes e de assistência social, sendo incentivada a participação da população através de organizações representativas em todos os níveis, permitindo assim a ampliação da rede de proteção necessária. A legislação infraconstitucional que podemos destacar no tema de Assistência Social, embora algumas leis não tratem exclusivamente de direitos assistenciais, segue abaixo relacionada: • Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social; • Lei nº 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência; • Decreto nº 6.214/2007 – Regulamento do Benefício de Prestação Continuada (Loas); • Lei nº 8.842/94 – Lei da Política Nacional do Idoso; Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais53/275 • Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso; • Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente; • Instrução normativa nº 2/2014 – orienta procedimentos para a aposentadoria do servidor com deficiência, por analogia com a Lei do RGPS; • Portaria Interministerial nº 1/2014 – aprova o instrumento de avaliação dos graus de deficiência para fins de benefício (índice de funcionalidade); • Lei nº 10.836/2004 – Bolsa Família; • Lei nº 12.513/2011 – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); • Lei nº 11.346/2006 - Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN. 2.3 – Direito à saúde Um dos direitos sociais previstos no art. 6º, a garantia à saúde também está prevista no art. 196 e seguintes da Constituição Federal, que define o subsistema Saúde no âmbito da Seguridade Social. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais54/275 Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único: SUS. A legislação infraconstitucional relacionada à Saúde compreende a Lei nº 8080/1990 – a Lei Orgânica da Saúde, regulamentada pelo Decreto nº 7.508/2011. O SUS está regulamentado através da Portaria nº 2.048/2009. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais55/275 Glossário Sistema jurídico: é um conjunto dinâmico de normas que regulam as relações jurídicas de um determinado grupo, por exemplo o Sistema Jurídico Brasileiro. Jurisprudência: é um conjunto de decisões uniformes e constantes, emitidas pelos Tribunais em sua atividade jurisdicional, sobre situações de aplicação da norma a casos semelhantes, tratando da mesma matéria. Constituição Rígida: classificação das Constituições quanto à estabilidade. É rígida a “constituição somente alterável mediante processos, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação de leis ordinárias ou complementares”, conforme José Afonso da Silva15. 5 SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2004. Questão reflexão ? para 56/275 Considerando os direitos humanos aqui estudados e a estrutura de seguridade social criada pela Constituição Federal de 1988, você entende que a garantia destes direitos humanos (no todo ou em parte deles) em relação a estrangeiros residentes no Brasil, dependeria da existência de acordos de reciprocidade entre as nações? Pesquise um pouco sobre a garantia destes direitos no Brasil. E considere a notícia16 reproduzida abaixo em suas pesquisas: 6 Acessado em 02/09/2015 e disponível para consulta no link: <http:// www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_ noticia=11214> Questão reflexão ? para 57/275 Nacionalidade estrangeira não impede que idoso tenha acesso a benefício assistencial Um italiano morador de Porto Alegre tem direito a benefício assistencial ao idoso garantido. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que manteve, na última semana, sentença que confirmou que a nacionalidade estrangeira não impede o acesso à ajuda assistencial. O homem alegou não ter condições econômicas de se manter, e recorreu à Justiça depois de ter o pedido de amparo negado pelo INSS sob o argumento de que esse auxílio é destinado apenas aos brasileiros. A defesa alegou que, de acordo com a Lei n° 8.742/93, a nacionalidade estrangeira, único motivo citado pelo órgão para rejeitar o benefício, não impede a concessão, sendo sua situação no país regular. Questão reflexão ? para 58/275 O juízo de primeira instância aceitou o pedido e o INSS recorreu ao tribunal alegando que a legislação fala em “cidadão”, o que se refere a nato ou naturalizado. A 5ª Turma negou o recurso. Conforme a relatora do processo, juíza federal convocada Taís Schilling Ferraz, “a condição de estrangeiro, ainda que não naturalizado, não impede a concessão de benefício assistencial ao idoso, porque a Constituição Federal, em seu artigo 5º, garante ao estrangeiro residente no país o gozo dos direitos e garantias individuais em igualdade de condições com o nacional”. Questão reflexão ? para 59/275 Benefício assistencial ao idoso Visando ao cumprimento do art. 6º da Constituição, que assegura a assistência aos desamparados, a Lei n° 8.742, de 1993, garantiu uma série de auxílios, entre eles o benefício assistencial ao idoso, no valor de um saláriomínimo. Para solicitá-lo, é necessário ter 60 anos ou mais e comprovar a condição de carência. 60/275 Considerações Finais (1/2) A Constituição Federal é a Lei Maior do país e define os fundamentos que devem ser seguidos por todas as demais leis. A Constituição Federal de 1988 é considerada o marco legal de início de garantia ou proteção de diversos direitos sociais, cuja abrangência ou amplitude ali adotada significaram grandes avanços. Por isso foi muito criticada, sendo considerada utópica ou meramente programática. Para a implementação de parte dos direitos sociais garantidos, foi criado constitucionalmente o Sistema da Seguridade Social, estrutura composta por três subsistemas relacionados a direitos fundamentais do cidadão: Saúde, Previdência Social e Assistência Social. A legislação infraconstitucional regulamentando os direitos sociais garantidos na Constituição Federal de 1988 tardou a surgir, e em alguns casos já foi severamente reformada, chegando a provocar polêmicos retrocessos sociais. 61/275 Considerações Finais (2/2) Nos últimos anos o embate tem sido entre as tentativas do governo para atingir o equilíbrio fiscal e a reforma da legislação de direitos sociais, considerada por muitos como uma das causas de déficit público. Em alguns casos havendo o retrocesso, mas em outros implantando-se novos direitos conquistados, como por exemplo nos casos da legislação definidora de direitos de pessoas com deficiência. Unidade 2 • O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais62/275 Referências BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Constituição: um olhar sobre minorias vinculadas à seguridade social./ Jane Lucia Wilhelm Berwanger, Osmar Veronese./Curitiba: Juruá, 2014. SILVA, José Afonso da. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO. 23ª edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2004. SARLET, Ingo Wolfgang. A assim designada proibição de retrocesso social e a construção de um direito constitucional comum latino-americano. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte, ano 3, n. 11, jul./set. 2009. Consultado em 17/08/2015. Disponível em <http://aplicacao.tst.jus.br/dspace/bitstream/handle/1939/13602/007_sarlet.pdf?sequence=4> 63/275 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ dfd1d69166fe0396234989eeb4f1ea7a>. Aula 2 - Tema: O Sistema Jurídico Brasileiro: Constituição Federal de 1988 e Normas Infraconstitucionais Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 6430703f2b62c440cd4dbf5f137f8934>. 64/275 1. O processo legislativo começa pela fase: a) do veto b) da apresentação de projeto c) da discussão de emendas d) de sanção e) de votação Questão 1 65/275 2. A decisão de veto ou sanção de um projeto de lei é competência do: a) presidente do Supremo Tribunal Federal b) presidente da Câmara dos Deputados c) presidente do Senado d) deputado federal mais votado e) presidente da República Questão 2 66/275 3. Para Ulisses Guimarães qual era a pior das discriminações? a) a soberba b) o racismo c) a miséria d) a doença e) a tirania Questão 3 67/275 4. Assinale a alternativa correta: a) Os benefícios e prestações da previdência social não dependem de contribuição prévia. b) O benefício de prestação continuada assistencial é devido ao idoso maior de 60 anos de idade que comprovar não ter renda própria. c) A Saúde é direito de todos e dever do Estado, com acesso universal e igualitário. d) É proibida a participação popular na implementação de políticas públicas de Assistência Social. e) A Saúde só pode ser atendida por empresas privadas Questão 4 68/275 5. Assinale qual lei não se refere ao Sistema de Seguridade Social: a) Lei nº 8213/91 – Lei de benefícios da Previdência Social b) Lei complementar nº 142/2013 – Aposentadoria especial da pessoa com deficiência no RGPS c) Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente d) Lei nº 8742/93 – Lei Orgânica da Assistência Social e) Lei nº 6697/79 – Código de Menores Questão 5 69/275 Gabarito 1. Resposta: B. O processo legislativo obedece uma estrutura formal que se inicia sempre pela apresentação de um projeto ou proposta de lei. 2. Resposta: E. Após a aprovação do Senado, o projeto de lei segue para exame do titular na Presidência da República que poderá vetar ou sancionar o mesmo. 3. Resposta: C. Ulisses Guimarães considerava a Constituição de 1988 como “cidadã” porque esta recuperaria milhares de brasileiros como cidadãos ao tirá-los da miséria. 4. Resposta: C. A Saúde é um dos subsistemas da Seguridade Social caracterizada pela universalidade de acesso, pela qual não se exigem contribuições prévias. 5. Resposta: E. O Código de Menores é legislação anterior aos direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e restringia-se à disciplinar as regras de vigilância do menor infrator (ou delinquente) e a amparar as crianças abandonadas. 70/275 Unidade 3 Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social Objetivos 1. Conceituar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade social 2. Relacionar os princípios da dignidade e da solidariedade social aos direitos sociais 3. Analisar a seguridade social no contexto dos princípios da dignidade e solidariedade Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social71/275 Introdução Os princípios constitucionais são normas que servem de diretrizes, vinculam a interpretação de todo o texto legal construído sobre si. Eles têm como fundamento os valores, que prescindem o ordenamento jurídico. Os valores são inerentes ao homem, fazem parte do ser. Desta forma os princípios, fundamentados nos valores, são o “dever-ser”. Para Roque Carraza1 “princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam.” 1 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitu- cional tributário. 11 Ed. rev. atua. amp. São Paulo: Ma- lheiros Editores, 1998. Há vários conceitos definidos pelos doutrinadores em busca de um significado para os princípios, em especial na busca de diferenciá-los das regras, e na busca de estudar sua eficácia jurídica, ou seja, o que se pode exigir judicialmente com fundamento em tais normas. No entanto há um consenso no que se refere à função dos princípios: enquanto fundamento da ordem jurídica, orientadora ou determinante na interpretação da norma e fonte em caso de lacuna da lei. A violação a um princípio constitucional seria assim a violação à ordem jurídica como um todo. Dentre os princípios consagrados na Constituição Federal de 1988 podemos destacar o princípio da dignidade Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social72/275 da pessoa humana e o princípio da solidariedade social. Já no preâmbulo da Constitucional, que contém uma declaração dos valores que norteiam todas as normas ali engendradas, as intenções da Assembleia Constituinte incluem a dignidade e a solidariedade, embora não com estes exatos termos. Ao incluir como objetivos e valores supremos do Estado Democrático de Direito a garantia de diversos direitoshumanos fundamentais, entre os quais a liberdade, a igualdade, a segurança e a justiça, o constituinte estabelecia ainda que implicitamente a preponderância do princípio (ou super valor) da dignidade humana. Já o princípio da solidariedade pode ser identificado na descrição da sociedade que será normatizada pelo Estado Democrático de Direito assim criado: uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida com a solução pacífica das controvérsias. Em seguida, o texto constitucional traz a previsão expressa do princípio da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Ela está relacionada no art. 1º, III, ao lado do valor social do trabalho e da livre iniciativa e da cidadania. Esclarecer o significado ou conceito da expressão “dignidade da pessoa humana” tem sido um desafio. Certamente é mais simples apreender o que seria lesivo à dignidade do ser humano do que necessariamente Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social73/275 compreender o que a compõe. Afinal, não seriam o exercício da cidadania e a capacidade e oportunidade de trabalhar essenciais para garantir a dignidade humana? Pode-se interpretar, por exemplo, considerada a indivisibilidade dos direitos humanos fundamentais, que a violação a qualquer destes princípios seria a violação à dignidade. Tomemos como exemplo a decisão da Ministra Rosa Weber em julgamento de 29-03-2012 no Inquérito nº 3.412, em que os princípios acima relacionam-se diretamente: A ‘escravidão moderna’ é mais sutil do que a do século XIX e o cerceamento à liberdade pode decorrer de diversos constrangimentos econômicos e não necessariamente físicos. Priva-se alguém de sua liberdade e de sua dignidade tratando-o como coisa, e não como pessoa humana, o que pode ser feito não só mediante coação, mas também pela violação intensa e persistente de seus direitos básicos, inclusive do direito ao trabalho digno. A violação do direito ao trabalho digno impacta a capacidade da vítima de realizar escolhas segundo a sua livre determinação. Isso também significa ‘reduzir alguém a condição análoga à de escravo’.” (Inq 3.412, rel. p/ o ac. min. Rosa Weber, julgamento em 29- 3-2012, Plenário, DJE de 12-11-2012.) Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social74/275 O princípio da solidariedade também aparece expresso no texto constitucional, no art. 3º, I, que estabelece como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Esta sociedade solidária aparece posteriormente em diversos dispositivos, ainda que de forma implícita, em alguns casos de forma obrigatória, outras como possibilidade de participação em alguma questão social. Nesse sentido podemos tomar como exemplo, novamente através de uma jurisprudência do STF – Supremo Tribunal Federal, tema relacionado à Seguridade Social, que será objeto de nossos estudos. O Ministro Eros Grau destaca a relação entre o princípio da solidariedade no custeio da Previdência Social com o princípio da isonomia. O sistema público de previdência social é fundamentado no princípio da solidariedade (art. 3º, I, da CB/1988), contribuindo os ativos para financiar os benefícios pagos aos inativos. Se todos, inclusive inativos e pensionistas, estão sujeitos ao pagamento das contribuições, bem como aos aumentos de suas alíquotas, seria flagrante a afronta ao princípio da isonomia se o legislador distinguisse, entre os beneficiários, alguns mais e outros menos privilegiados, eis que todos contribuem, conforme as mesmas regras, para financiar o sistema. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social75/275 Se as alterações na legislação sobre custeio atingem a todos, indiscriminadamente, já que as contribuições previdenciárias têm natureza tributária, não há que se estabelecer discriminação entre os beneficiários, sob pena de violação do princípio constitucional da isonomia.” (RE 450.855-AgR, rel. min. Eros Grau, julgamento em 23-8- 2005, Primeira Turma, DJ de 9-12-2005.) Vamos examinar estes princípios e seus significados com mais detalhe, ao longo do texto constitucional. 1. Dignidade da Pessoa Humana A Assembleia Constituinte, que gerou a Constituição Federal de 1988, tinha como contexto político social o regime militar e todo o tipo de desrespeito à pessoa humana praticado na ocasião, como a tortura física e psicológica. Daí a inclusão da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito disposto em nossa Constituição. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social76/275 A dignidade da pessoa humana, como bem afirma José Afonso da Silva2, não é uma criação constitucional, mas um conceito preexistente por esta reconhecido e transformado em valor supremo da ordem jurídica, alçado a um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. E assim deve ser considerado um princípio da ordem jurídica, política, social, econômica e cultural. Assim, a proteção constitucional não se resume à proteção dos direitos 2 SILVA, José Afonso da. Interpretação da Constituição – em I Seminário de Direito Administrativo de 30 de maio a 03 de junho de 2005. Consultado em 18/08/2015, disponível em <http://www.tcm.sp.gov.br/legislacao/ doutrina/30a03_06_05/jose_afonso1.htm> e em R. Dir. Adm., Rio de Janeiro, 212: 89-94, abr./jun. 1998 disponí- vel em <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/ article/download/47169/45637> individuais tradicionais, mas de assegurar a existência digna em todos os aspectos, reconhecidos aqui os direitos humanos em sua concepção contemporânea, que além do caráter universal integra um conceito ambiental, expandindo o que seria o mínimo existencial necessário para uma vida digna para além dos recursos básicos de alimentação e saúde. Além de estabelecer um norte para todo o texto constitucional, tendo sido colocado como um dos principais fundamentos do Estado Democrático de Direito, o princípio da dignidade humana ainda aparece expressamente em outros dispositivos. Vejamos alguns exemplos. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social77/275 O valor social do trabalho e a livre iniciativa são reafirmados como condição para a existência de uma vida digna no capítulo que trata dos princípios que regem a Ordem Econômica e Financeira do Estado brasileiro. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios(...) Em relação aos princípios do valor social do trabalho e da dignidade humana, os “princípios gerais da atividade econômica” relacionados no art. 170 da CF, podem ser considerados subprincípios. Uma análise destes princípios relacionados no texto constitucional nos leva ao questionamento sobre a natureza do direito ali declarado, se positivo ou negativo. Ou seja, o significado de “a ordem econômica assegurar a existência digna observado o princípio da busca da livre concorrência” seria não apenas “permitir ou não impedir a livre concorrência” (obrigação negativa) como também “agir de forma a promover, a dar condições para que exista a livre concorrência” (obrigação positiva). O mesmo raciocínio pode ser feito com os princípios da defesa do consumidor, da busca do pleno emprego, da defesa do meio ambiente, da redução das desigualdades regionais e sociais. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social78/275Neste sentido podemos entender a responsabilidade e a necessidade das ações do Estado e da sociedade em prol da concretização dos direitos estabelecidos na Constituição. Ou seja, aqui está a importância das políticas públicas e a participação da sociedade na definição e na execução destas políticas. Outro dispositivo que demonstra a existência de obrigações negativas e positivas, de acordo com o raciocínio anterior, é o que trata do planejamento familiar, que não pode ser imposto de forma coercitiva pelo Estado, mas cujas possibilidades devem ser esclarecidas para a sociedade através da educação (informação em sentido amplo). Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.” Mas qual seria, enfim, o significado da dignidade da pessoa humana? Ingo Sarlet afirma que este seria um conceito amplo, aberto, ainda em construção. O conceito mais aceitável e resumido tem sido relacionado à dignidade como algo inerente ao ser; ligado à sua autonomia Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social79/275 e liberdade, e a ser tratado como ser vivo racional e não como coisa; um indivíduo que deve ser protegido e respeitado pela sociedade e pelo Estado, independentemente das ações que tenha praticado; como direito inviolável cuja defesa é uma obrigação dos Poderes estatais, é um conceito de origem histórica e proteção constitucional semelhante em diversos países. Como afirma BALERA3, “Identificar o status da dignidade da pessoa no quadro normativo é delimitar as fronteiras de atuação dos demais e dos Estados em face da pessoa, antes do que instituir em seu favor algo que já lhe pertence em seu natural. Quando se concede a alguém determinada prestação a que faz jus mais do que se faz do que reconhecer-lhe a dignidade inerente à respectiva condição humana”. O valor “dignidade da pessoa humana” foi colocado como ponto central da Constituição Federal de 1988, que reconhece vários princípios fundamentais relacionados com a dignidade. Mas nem todos teriam relação direta com a dignidade. Seriam fundamentais por assim estarem determinados no texto constitucional, mas não necessariamente com um conteúdo mínimo em dignidade. Discute-se, por exemplo, se os direitos sociais poderiam mesmo ser classificados como fundamentais. Depende desse reconhecimento a possibilidade de se exigir judicialmente sua concretização como direitos positivos (ou prestacionais). Assim, os direitos 3 Balera, Wagner Valores e Seguridade Social in Previdência – Entre o Direito Social e a Repercussão Econômica no Século XXI, ed. Juruá. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social80/275 sociais, econômicos e culturais, têm sido considerados fundamentais, e, portanto, exigíveis, principalmente em situações de garantia do mínimo existencial. 2. Solidariedade Social A Constituição Federal de 1988 traz em seus fundamentos e objetivos a caracterização de uma sociedade fraterna, fundada na harmonia social; uma sociedade livre, justa e solidária. Mas qual o significado de solidariedade? O princípio parece ter a conceituação tão complexa quanto o de dignidade da pessoa humana. Mas antes de avaliar o princípio no seu aspecto normativo constitucional e suas implicações na rede de proteção social que interessa em nosso estudo, examinemos a definição comum do vocábulo. O dicionário online Michaelis4 define “solidariedade” como: “qualidade de solidário”; “estado ou condição de duas ou mais pessoas que repartem entre si igualmente as responsabilidades de uma ação, empresa ou de um negócio, respondendo todas por uma e cada uma por todas”; “mutualidade de interesses e deveres”; “compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras e cada uma delas por todas”. “Solidariedade social” seria “consistência interna de um agregado social; coesão social”. 4 Disponível em <http://michaelis.uol.com.br/ moderno/portugues/index.php?lingua=portu- gues-portugues&palavra=solidariedade> Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social81/275 Percebe-se claramente nestas definições que solidariedade traz um forte conteúdo filosófico e moral, e como tal comporta variações de acordo com o momento histórico, local e comunidade em que se avalie o fenômeno. Se “ser solidário” no senso comum nos remete ao conceito de “ajuda”, esta deve ser considerada no sentido de mutualidade, ou seja, a solidariedade não se confunde com a caridade, talvez seja até uma evolução nesse sentido. A solidariedade se traduz em uma responsabilidade mútua entre indivíduos pertencentes a um mesmo grupo (não importando no momento por qual motivo ou regra). A caridade tem um sentido de “mão única”, de um indivíduo prestando socorro ou assistência a outro que está em estado de necessidade, sem que isso caracterize um comprometimento com o outro, ou denote qualquer organização prévia para possibilitar tal ato. A solidariedade no seu sentido de mutualidade, traz a ideia de reciprocidade, de organização prévia dentro de um grupo específico, caracterizado pelo comprometimento entre seus membros com finalidade protetiva diante de uma situação de necessidade eventual. O termo solidariedade social foi utilizado pelo sociólogo Èmile Durkheim5 em que analisa o fenômeno da divisão do trabalho como originário de um tipo de solidariedade especifica na Sociedade 5 Durkheim, Emile. Da Divisão do Trabalho Social. WMF Martins Fontes, 4ª edição. 2010 Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social82/275 Industrial. Ele identifica na sociedade inicialmente a existência de dois tipos de consciência: a individual e a coletiva. A consciência coletiva é aquela em que um indivíduo é influenciado pela coletividade e há reciprocidade nessa relação de influência. A solidariedade surge desta consciência coletiva e traduz uma sociedade em que as pessoas interagem porque precisam umas das outras como um grupo, independentemente de suas relações familiares ou religiosas que caracterizavam a “solidariedade” tradicional individual. Em relação à solidariedade social, Durkheim buscou utilizar como parâmetro de análise o direito. Entendia que a quantidade das relações de solidariedade entre os indivíduos seria diretamente proporcional às regras criadas para regulá- las. Identificou dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. A solidariedade mecânica seria aquela existente entre indivíduos que possuem interesses em comum, semelhanças entre si, por exemplo um grupo de trabalhadores de mesma função ou atividade, própria de sociedades mais simples. Em sociedades mais complexas aparece a solidariedade orgânica. Nesta a coesão social precisa ser mais intensa e originada de um sistema de regras aperfeiçoado pois aqui os indivíduos não se agrupariam por suas semelhanças, mas por suas diferenças e individualidades. É neste contexto de necessidade de coesão social Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social83/275 e de dependência mútua que podemos inserir os conceitos de direitos da seguridade social que estudaremos em seguida. A ideia de solidariedade está insitamente relacionada à noção de seguro social, segundo o qual indivíduos pertencentes a uma mesma coletividade (por força de trabalho, por força de lei, por força deinteresse comum ou outros) firmam um pacto de auxílio-mútuo, comprometendo- se a colaborar para a formação de uma poupança coletiva, a ser utilizada em prol de cada um sempre que ocorridas as contingências previamente estabelecidas”.16 6 FRANÇA, Giselle de Amaro. O poder judiciário e as políticas públicas previdenciárias. São Paulo, LTR: 2011. O sistema de Seguridade Social criado pela Constituição Federal de 1988 traduz muito bem essa ideia de sociedade solidária já em sua definição: “conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social84/275 O próprio sistema de seguridade social pode ser considerado como resultado de um amplo pacto de gerações, que vai além do que até então se conhecia como proteção social. A solidariedade no contexto da seguridade social abrange tanto as relações de custeio e financiamento quanto as ações de planejamento e execução das políticas protetivas. Ter a solidariedade alçada a princípio constitucional nos traz o mesmo questionamento feito sobre outros princípios fundamentais, no sentido de tê- la como objetivo programático ou como obrigação exigível. Ao examinarmos as regras de financiamento da seguridade social logo percebemos que tal solidariedade não é facultativa, posto que os recursos utilizados se originam das contribuições diretas (contribuições sociais de destinação específica) mas também das contribuições indiretas (impostos). Dessa forma o financiamento é responsabilidade de toda a sociedade, nesta considerados o Estado através das receitas da União; as empresas e os trabalhadores através das contribuições sociais; da sociedade como um todo através de receitas de outras fontes. Ao tratar de direitos previdenciários, um dos direitos sociais constitucionais, a Constituição Federal assegura um regime previdenciário de caráter contributivo obrigatório e solidário, estruturado através de um regime financeiro de repartição Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social85/275 simples. É um pacto de gerações onde os trabalhadores atuais financiam o pagamento de prestações previdenciárias dos antigos segurados, e cuja garantia de proteção futura depende da continuidade contributiva e do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema de previdência. Nos RPPS – Regimes Próprios de Previdência, cujos segurados são servidores públicos, a solidariedade se traduz pela contribuição do ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas. Aqui a solidariedade inclui também a contribuição sobre aposentadorias e pensões e não apenas sobre a remuneração pelo trabalho dos economicamente ativos. No RGPS – Regime Geral de Previdência Social, cujos segurados são os facultativos e os trabalhadores da economia privada e servidores não protegidos por regimes próprios, a solidariedade no financiamento se traduz pela contribuição de Estado, trabalhadores e empresas. A solidariedade está presente também na garantia constitucional aos direitos fundamentais de crianças, adolescentes e idosos, cuja responsabilidade passa a ser conjunta e solidária entre a família, a sociedade e o Estado. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social86/275 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.” Importante destacar que esta responsabilidade solidária para a proteção dos direitos fundamentais de crianças e idosos, dividida entre família, sociedade e Estado, conforme os dispositivos acima reproduzidos, constitui-se como um “dever” e por isso são exigíveis de qualquer destes atores sociais as ações necessárias tanto para defender quanto para promover tais direitos. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social87/275 A evolução do conceito de ajuda aos que se encontram em situação de necessidade: da caridade ou filantropia, individual ou religiosa e eventual à solidariedade constitucional, obrigatória e exigível, como se reconhece atualmente em grande parte dos países do mundo ocidental, envolve uma série de transformações políticas, econômicas, sociais e culturais, coincidentes com a evolução histórica do mundo moderno. Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social88/275 Glossário Mutualidade: a definição encontrada nos dicionários concentra o conceito na ocorrência de reciprocidade. Na origem do seguro privado, a mutualidade caracterizava a prática de os participantes do seguro responsabilizarem-se reciprocamente pela reposição do prejuízo causado pela concretização do risco segurado. Responsabilidade Solidária: ocorre quando temos corresponsabilidade, ou várias pessoas responsáveis pela totalidade da obrigação contraída, sendo que a ausência de cumprimento da obrigação por uma parte obrigará o outro a fazê-lo. Valor Social do Trabalho: o primado do trabalho ou valor social do trabalho é um dos fundamentos da Constituição Federal de 1988, e através dele garante-se a proteção constitucional das relações de trabalho dos cidadãos, mas reafirma-se a possibilidade de exercício do trabalho como condição para atingir plenamente o respeito à dignidade humana. Questão reflexão ? para 89/275 O conceito de direitos humanos, inerente ao ser e universal, teve origem com a DUDH em 1948, exatamente no pós-guerra, depois de todas as atrocidades e desrespeitos às liberdades individuais praticadas pelo nazismo. A reflexão maior talvez seja: como estar em guerra e ainda assim respeitar os direitos humanos? 90/275 Considerações Finais (1/8) O desafio a partir de agora é concretizar internamente os direitos fundamentais constitucionais fundados no princípio da dignidade humana, amparada pelo princípio da solidariedade social. E para além do direito interno, considerada a globalização social e econômica como uma realidade sem sinais de retrocesso, se faz necessária uma releitura global tanto dos direitos fundamentais quanto dos pactos de solidariedade social geracional. O desafio é a universalidade da dignidade tanto quanto da solidariedade. Para demonstrar o quanto este desafio é importante, considere a notícia abaixo, extraída do website do Supremo Tribunal Federal, que trata da possibilidade de o Poder Judiciário impor que o Poder Executivo realize obras em presídios a fim de garantir o ambiente adequado aos detentos, de modo a não ferir seus direitos fundamentais17. 7 Texto original disponível no link <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteu- do=297592> 91/275 Considerações Finais (2/8) Judiciário Pode Impor Realização de Obras em Presídios Para Garantir Direitos Fundamentais O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na sessão desta quinta- feira (13), que o Poder Judiciário pode determinar que a Administração Pública realize obras ou reformas emergenciais em presídios para garantir os direitos fundamentais dos presos, comosua integridade física e moral. A decisão foi tomada no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 592581, com repercussão geral, interposto pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) contra acórdão do Tribunal de Justiça local (TJ-RS). A corte gaúcha entendeu que não caberia ao Poder Judiciário adentrar em matéria reservada à Administração Pública. 92/275 Considerações Finais (3/8) Ação Civil Pública Na origem, o Ministério Público gaúcho ajuizou ação civil pública contra o Estado do Rio Grande do Sul para que promovesse uma reforma geral no Albergue Estadual de Uruguaiana. O juízo de primeira instância determinou a reforma do estabelecimento, no prazo de seis meses. O estado recorreu ao TJ-RS, que reformou a sentença por considerar que não cabe ao Judiciário determinar que o Poder Executivo realize obras em estabelecimento prisional, “sob pena de ingerência indevida em seara reservada à Administração”. O MP recorreu ao STF, alegando que os direitos fundamentais têm aplicabilidade imediata, e que questões de ordem orçamentária não podem impedir a implementação de políticas públicas que visem garanti-los. De acordo com o MP, a proteção e a promoção da dignidade do ser humano norteiam todo ordenamento constitucional, e o estado tem obrigação de conferir eficácia e efetividade ao artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, para dar condições minimamente dignas a quem se encontra privado de liberdade. 93/275 Considerações Finais (4/8) Poder do Estado O relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski, disse entender que o Poder Judiciário não pode se omitir quando os órgãos competentes comprometem a eficácia dos direitos fundamentais individuais e coletivos. “É chegada a hora de o Judiciário fazer jus às elevadas competências que lhe foram outorgadas pela Constituição Federal, assumindo o status de Poder do Estado, principalmente quando os demais Poderes estão absolutamente omissos na questão dos presídios”, salientou. Em seu voto, o presidente da Corte fez um relato da situação das penitenciárias brasileiras, que encarceram atualmente mais de 600 mil detentos, revelando situações subumanas, violadoras do principio constitucional da dignidade da pessoa humana, além de revoltas, conflitos, estupros e até homicídios, incluindo casos de decapitação. No caso do Albergue de Uruguaiana, discutido no recurso em julgamento, o presidente revelou que um preso chegou a morrer eletrocutado, em consequência das péssimas condições do estabelecimento. O próprio TJ- RS, lembrou o ministro, apesar de reformar a decisão do juiz de primeiro grau, reconheceu a situação degradante dos presos. 94/275 Considerações Finais (5/8) Essa situação de calamidade, disse o ministro, faz das penitenciárias brasileiras “verdadeiros depósitos de pessoas”, impedindo a consecução da função ressocializadora da pena, causando ainda uma exacerbação da sanção, pela aplicação de penas adicionais, na forma de situações degradantes. “A sujeição dos presos às condições até aqui descritas mostra, com clareza meridiana, que o estado os está sujeitando a uma pena que ultrapassa a mera privação da liberdade prevista na sentença, porquanto acresce a ela um sofrimento físico, psicológico e moral, o qual, além de atentar contra toda a noção que se possa ter de respeito à dignidade humana, retira da sanção qualquer potencial de ressocialização”, afirmou. A intervenção do Judiciário, nesses casos, frisou o relator, também tem a função de impedir esse excesso de execução. 95/275 Considerações Finais (6/8) Contrariamente ao sustentado pelo TJ, o ministro disse entender que não é possível cogitar de hipótese na qual o Judiciário estaria ingressando indevidamente em seara reservada à Administração Pública. “No caso dos autos, está-se diante de clara violação a direitos fundamentais, praticada pelo próprio Estado contra pessoas sob sua guarda, cumprindo ao Judiciário, por dever constitucional, oferecer-lhes a devida proteção”. Separação de Poderes O presidente disse ainda que não se pode falar em desrespeito ao princípio da separação do Poderes, e citou o princípio da inafastabilidade da jurisdição, uma das garantias basilares para efetivação dos direitos fundamentais. O dispositivo constitucional (artigo 5º, inciso XXXV) diz que a lei não subtrairá à apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça de lesão a direito. Esse postulado, conforme ressaltou, é um dos pilares do Estado Democrático de Direito. 96/275 Considerações Finais (7/8) Fundos Para o ministro, não cabe também falar em falta de verbas, pois o Fundo Penitenciário Nacional dispõe de verbas da ordem de R$ 2,3 bilhões, e para usá- los basta que os entes federados apresentem projetos e firmem convênios para realizar obras. Mas, para Lewandowski, não existe vontade para a implementação de políticas, seja na esfera federal ou estadual, para enfrentar o problema. Com isso, concluiu que a chamada cláusula da reserva do possível também não pode ser usada como argumento para tentar impedir a aplicação de decisões que determinem a realização de obras emergenciais. Unanimidade O voto do relator, no sentido de dar provimento ao recurso do MP-RS, foi seguido por todos os ministros, que fizeram menções à péssima situação dos presídios brasileiros e concordaram que o Ministério Público detém legitimidade para requerer em juízo a implementação de políticas públicas pelo Poder Executivo para concretizar a garantia de direitos fundamentais coletivos. Todos salientaram, ainda, que compete ao Judiciário agir para garantir aos presos tratamento penitenciário digno, como forma de preservar seus direitos fundamentais. 97/275 Considerações Finais (8/8) Tese Também por unanimidade, o Plenário acompanhou a proposta de tese de repercussão geral apresentada pelo relator. “É lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o artigo 5º (inciso XLIX) da Constituição Federal, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos Poderes”. Fonte: Supremo Tribunal Federal Unidade 3 • Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social98/275 Referências CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitucional tributário. 11 Ed. rev. atua. amp. São Paulo: Malheiros Editores, 1998. SILVA, José Afonso da. Interpretação da Constituição – em I Seminário de Direito Administrativo de 30 de maio a 03 de junho de 2005. Consultado em 18/08/2015, disponível em http://www. tcm.sp.gov.br/legislacao/doutrina/30a03_06_05/jose_afonso1.htm e em R. Dir. Adm., Rio de Janeiro, 212: 89-94, abr./jun. 1998 disponível em <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/ rda/article/download/47169/45637> Balera, Wagner Valores e Seguridade Social in Previdência – Entre o Direito Social e a Repercussão Econômica no Século XXI, ed. Juruá FRANÇA, Giselle de Amaro. O poder judiciário e as políticas públicas previdenciárias. São Paulo, LTR: 2011. Durkheim, Emile. Da Divisão do Trabalho Social. WMF Martins Fontes, 4ª edição. 2010 99/275 Assista a suas aulas Aula 3 - Tema: Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ bead771a94147ca72fe90af8f685590b>. Aula 3 - Tema: Princípios Constitucionais: Dignidade da Pessoa Humana e Solidariedade Social Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-1d/1c562cad1acbfae3e8196233ed78f5f0>. 100/275 1. A sociedade brasileira almejada pelo poder constituinte a partir das ga- rantias da Constituição Federal de 1988 não se caracteriza por: a) ser fraterna b) ser pluralista c) ter preconceitos d) proporcionar harmonia social e) ser comprometida com a solução pacífica de controvérsias Questão 1 101/275 2. Não são fundamentos do Estado Democrático de Direito: a) dignidade da pessoa humana b) valor social do trabalho c) livre iniciativa d) cidadania e) censura à liberdade de expressão Questão 2 102/275 3. Assinale a afirmativa errada: a) a dignidade da pessoa humana é um conceito originalmente criado pela nossa Constituição Federal de 1988 b) O conceito de dignidade da pessoa humana ainda está em construção c) “Quando se concede a alguém determinada prestação a que faz jus mais do que se faz do que reconhecer-lhe a dignidade inerente à respectiva condição humana” d) Solidariedade é um compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras e cada uma delas por todas. e) Nos RPPS a solidariedade inclui a contribuição dos aposentados sobre suas aposentadorias. Questão 3 103/275 4. Não é forma de manifestação do princípio da solidariedade na Segurida- de Social: a) algumas empresas possuem fundos de pensão para complementar a aposentadoria de seus funcionários b) o financiamento é responsabilidade de toda a sociedade c) o regime financeiro de estrutura da previdência social é o de repartição simples d) o servidor público aposentado é contribuinte do regime de previdência própria e) as empresas contribuem sobre o valor de sua folha de pagamentos de funcionários Questão 4 104/275 5. Escolha a alternativa correta de acordo com a Constituição Federal: a) é dever apenas da família assegurar às crianças e adolescentes o direito à vida e à saúde b) é dever apenas do Estado amparar as pessoas idosas c) o princípio da solidariedade não se aplica à proteção de idosos, crianças, adolescentes e jovens d) a família, a sociedade e o Estado têm o dever de observar os direitos constitucionais de proteção a idosos, crianças, adolescentes e jovens e) é dever apenas da escola assegurar às crianças e adolescentes o direito à vida, à saúde, à educação e à profissionalização. Questão 5 105/275 Gabarito 1. Resposta: C. Os objetivos da Constituição Federal de 1988 incluem a formação de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. 2. Resposta: E. A censura à liberdade de expressão é uma das grandes mazelas do período de ditadura militar no Brasil. 3. Resposta: A. O conceito de dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional, mas algo que surge mais fortemente a partir de 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 4. Resposta: A. Os fundos de pensão são próprios da Previdência Complementar que não funciona sob o princípio da solidariedade, mas da capitalização individual, ainda que com contribuição também do empregador, pois fundada em conta individual do segurado. 5. Resposta: D. O princípio da solidariedade se traduz na proteção de idosos, crianças, adolescentes e jovens pela responsabilidade solidária entre a família, o Estado e a sociedade, de acordo com os preceitos constitucionais (art. 227 e art. 230) 106/275 Unidade 4 Conceito e Proteção de Direitos Humanos Objetivos 1. Entender o conceito de direitos humanos 2. Conhecer as instituições de proteção aos direitos humanos e a estrutura envolvida nesses esforços no Brasil 3. Ter um contato inicial com os projetos de proteção aos direitos humanos desenvolvidos pelo Estado brasileiro Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos107/275 Introdução Conceituar direitos humanos tem sido um desafio tanto quanto conceituar dignidade ou solidariedade, visto que sua significação envolve noções filosóficas, morais, culturais e históricas. De direitos naturais inerentes ao ser humano a direitos fundamentais de caráter normativo constitucional, de direitos individuais a direitos ambientais coletivamente considerados, importa o reconhecimento de que devem ser respeitados, protegidos e promovidos a fim de permitir-se uma convivência pacífica entre os povos, garantindo a cada membro individualmente e à comunidade como consequência, uma vida digna e justa. Para saber mais Você sabia que nos dias 6 a 8 de setembro de 2000 foi realizado em Nova York o encontro conhecido como a Cúpula do Milênio das Nações Unidas? Nesse encontro estavam presentes 100 chefes de Estado, 47 chefes de Governos, 3 Príncipes, 5 Vice-Presidentes, 3 Primeiros-Ministros, 8000 Delegados de representações e 5500 jornalistas. Como resultado dessa reunião divulgou-se a Declaração do Milênio das Nações Unidas, que reafirma os direitos relacionados na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, com uma preocupação globalizada e considera como valores fundamentais para o século XXI, entre outros: a liberdade, a igualdade, a solidariedade, a tolerância, o respeito pela natureza, a existência de responsabilidades compartilhadas. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos108/275 Dado o caráter universalista dos Direitos Humanos e o comprometimento das nações da ONU em sua defesa, criou-se, principalmente através dos tratados internacionais, um sistema internacional de proteção a fim de estabelecer parâmetros que garantam, pelo menos, o mínimo existencial do homem. Esta proteção possui mais o caráter de fiscalização sobre o respeito das nações aos direitos humanos. Dá-se, portanto, inicialmente a partir dos Pactos internacionais globais sob a estrutura normativa da ONU. O principal órgão da ONU nesse sentido é a Comissão de Direitos Humanos (CDH), composta por membros de 53 países, que realiza reuniões anuais com objetivo de cooperação internacional na promoção universal dos direitos humanos. Seu papel não é Para saber mais Acesse a íntegra deste documento, bem como outros documentos relacionados ao tema dos Direitos Humanos, na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da USP, no link abaixo: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Confer%C3%AAncias-de-C%C3%BApula-das- Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas-sobre-Direitos-Humanos/declaracao-do-milenio-das-nacoes- unidas-08-de-setembro-de-2000.html> Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos109/275 judicial mas regulamentar, através do estabelecimento de parâmetros universais e controle de sua observância pelos Estados-membros. Em seguida, de modo complementar e ainda fiscalizatório, ocorre de forma regional, de acordo com a organização geográfica ou econômica das nações participantes de blocos com interesses ou características afins. São sugeridos instrumentos de defesa, com diretrizes fundadas na pessoa e efetivação ou implantação descentralizada, normatizada e representada pelos sistemas nacionais de proteção. Podemos analisar o Sistema de Proteção aos Direitos Humanos considerando as recomendações e ações do geral para o particular. Temos organizações supranacionais como a ONU e a OEA, por exemplo, organizadas geograficamente em âmbito internacional ou regional, com resoluções de caráter programático que definem os parâmetros ideais a serem atingidos pelas Nações como proteção e respeito aos Direitos Humanos em seus territórios. Tais resoluções podem ser assinadas pelos Estados-membros e, após o processo legislativo adequado, internalizadas no ordenamento jurídico pátrio. A partir da internalização das resoluções no ordenamento jurídico pátrio, efetivar a proteção, transformar normas programáticas em realidade, é responsabilidade do Estado. Isso é Unidade 4 • Conceito e Proteção de DireitosHumanos110/275 1. Direitos Humanos Na concepção moderna do que seriam os direitos humanos, encontram-se duas de suas características principais: a universalidade e indivisibilidade. feito através da elaboração de Políticas Públicas e planos de ação, implantando programas e fornecendo condições para que os diversos atores envolvidos possam respeitar, promover e defender os direitos humanos. Há diversas ações que buscam promover e proteger os direitos humanos no Brasil. Parte destas ações são relacionadas aos direitos sociais e serão estudadas com maior detalhe nas próximas aulas sobre a Seguridade Social. Outras podem ser citadas, com base em relatórios apresentados pelo governo brasileiro para organismos de controle da ONU. Fazem parte de políticas públicas de enfrentamento de necessidades da comunidade fundamentadas nas recomendações dos Pactos e Tratados internacionais reconhecidos pelo Estado brasileiro. Link Acesse o website da ONU no Brasil para conhecer mais sobre as ações da organização em âmbito nacional e internacional, através do link <http:// nacoesunidas.org>/ Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos111/275 Por universalidade entende-se a “extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade. ”A indivisibilidade tem sua melhor explicação no super- princípio da dignidade humana, pois considera que a violação a qualquer aspecto dos direitos humanos significa a violação de todos os demais. Qualquer violação afetaria o ser humano em sua condição moral e existencial. (PIOVESAN, 2006). O conceito de direitos humanos envolve os direitos inerentes a todos os seres humanos, simplesmente em função de sua existência, sem distinções de raça, sexo, nacionalidade, idioma, religião, comportamento, ou qualquer outra condição. Seu estudo costuma ser dividido em dimensões ou gerações, para facilitar a compreensão da evolução do conceito. A crítica a esta classificação seria o risco de considerar que a divisão é rígida e que há uma data de início ou fim na definição dos direitos humanos. Melhor entender que a classificação atende à evolução da sociedade no reconhecimento e respeito aos direitos humanos e na necessária ampliação do conceito frente à dinâmica das necessidades do homem. A primeira geração de direitos humanos seria a da proteção dos direitos individuais, de liberdade, civis e políticos. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos112/275 A proteção do homem contra o Estado, uma limitação do poder deste sobre o homem. A segunda geração seria a proteção dos direitos econômicos, sociais e culturais, demandando a ação do Estado fornecendo condições para o exercício desses direitos. A terceira geração traria os direitos relacionados à comunidade, como a solidariedade e fraternidade. Incluiria aqui os direitos relacionados ao ambiente. Alguns doutrinadores como Paulo Bonavides trazem uma evolução nessa análise por gerações e propõem uma quarta geração de direitos humanos, relacionada aos direitos resultantes da globalização da economia, da sociedade e da própria universalização dos direitos humanos. Seriam o direito de participação democrática, ao pluralismo, à bioética, aos limites da manipulação genética. De certa forma modernizam a necessidade de proteção dos direitos do homem, frente novas realidades, mas sempre buscando limitar intervenções abusivas de particulares ou do Estado ao mesmo tempo em que se busca promover as condições para que certos direitos sejam concretizados. O fundamento basilar é sempre o mesmo, ainda que precise ser adaptado frente à realidade: a proteção do direito à vida, tratada esta vida como algo mais que o simples respirar e ter o coração batendo no peito. Para se ter uma ideia do que envolve esse direito à vida, considerada no aspecto da dignidade, importa avaliar o que faria parte Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos113/275 do mínimo existencial. Conteúdo que deve prover meios necessários e suficientes não apenas para a sobrevivência, mas para a sobrevivência com dignidade humana, com “qualidade de vida” (para usar uma expressão de uso comum atualmente). Nesse sentido estão envolvidos, entre outros, os seguintes direitos: • Vida, reconhecimento como pessoa, vida privada, igualdade; • Segurança pessoal, proibição de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante, presunção de inocência, integridade do preso, acesso à justiça; • Liberdade de locomoção, liberdade de reunião e associação, liberdade de opinião e expressão, liberdade de pensamento e religião, direito de asilo, trabalho, proibição de escravidão, liberdade sindical; • Proteção à família, proteção ao idoso e à criança, direito à educação, direito à moradia e à alimentação adequada 2. Proteção de direitos humanos A proteção dos direitos humanos é responsabilidade de cada Estado perante seus cidadãos e estrangeiros residentes em seu território, de acordo com os parâmetros definidos nos Tratados Internacionais e recepcionados pelo Direito interno. A recepção dos Tratados no direito interno significa o reconhecimento do Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos114/275 caráter universal dos direitos humanos e de certa relação de interdependência entre as Nações para o cumprimento dos objetivos globais de paz e justiça social. A partir deste reconhecimento é importante que se criem mecanismos de controle e fiscalização sobre a efetiva implantação dos direitos por parte dos Estados-membros. Os instrumentos internacionais de controle e monitoramento mais utilizados atualmente são: relatórios, comunicações interestatais, petições individuais e procedimentos de investigação. Os relatórios são elaborados por cada Estado-membro e contém as medidas administrativas, legislativas e judiciais adotadas por este para promover e proteger os direitos humanos e cumprir as obrigações assumidas perante os Tratados Internacionais. A Assembleia Geral da ONU de 2007, que estabeleceu o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, criou um relatório a ser entregue pelos países- membros a cada quatro anos, como medida de acompanhamento e fiscalização do cumprimento das recomendações o das obrigações internacionais assumidas por esses países na promoção dos direitos humanos em seu território e em suas relações internacionais. O Brasil apresentou em 2008 o seu primeiro relatório nos moldes da RPU – Revisão Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos115/275 Periódica Universal. O segundo relatório, apresentado em 2012, pode ser consultado no website da UNESCO.1 Há também mecanismos de promoção e fiscalização com atuação complementar, organizados em bases regionais, como o SIDH – Sistema Interamericano de proteção aos direitos humanos. O SIDH é composto pela CIDH – Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela CorteIDH – Corte Interamericana de Direitos Humanos. Age através de três procedimentos: petições individuais, monitoramento da situação de 1 Fonte: website da UNESCO, disponível no endereço eletrônico <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/ about-this-office/single-view/news/brazil_in_the_hu- man_rights_universal_periodic_review_of_the_uni- ted_nations_main_documents_of_the_second_cycle/#. VdQ8WPlVi1c> direitos humanos dos estados-membros e atenção a temas prioritários. Com o sistema de petições é aberto um canal de comunicação entre vítimas, organizações de defesa de direitos humanos e estados- membros, possibilitandoque sejam feitas denúncias e consequentemente dando início a processos investigatórios sobre atos lesivos aos direitos humanos. A tramitação desses processos infelizmente não é rápida, e depende de cooperação do estado-membro em cumprir com as obrigações assumidas internacionalmente como signatário de tratados ou acordos. Ou seja, após a investigação a organização pode até fazer pressão para que o Estado- membro atenda suas recomendações, mas não pode força-lo a nada, não havendo Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos116/275 sanção que ultrapasse os limites da soberania do Estado. É importante entendermos que, apesar de participar ativamente destas organizações de direitos humanos, o Brasil não ratificou todos os instrumentos, Convenções ou recomendações, desses órgãos globais. O que dificulta ou impossibilita em muitos casos o processo de fiscalização e acompanhamento do processo de defesa dos direitos humanos no país. De qualquer forma, por conta da ratificação da Convenção Americana pelo Brasil, a estrutura da OEA parece atender melhor às questões ocorridas em nosso território que a ONU. Em âmbito nacional, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) tem status ministerial e é responsável pela coordenação dos Link Acesse o website da OEA e conheça o Portal do Sistema Individual de Petições, bem como a estrutura e as atividades do SIDH. Descubra um pouco mais sobre as denúncias de violação aos direitos humanos no Brasil que estão em tramitação. E mantenha-se atualizado sobre os temas que tem causado preocupação em matéria de direitos humanos no continente americano. <http://www.oas.org/pt/cidh/> Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos117/275 programas de proteção e promoção dos direitos humanos no Brasil, em conformidade com o PNDH- Programa Nacional de Direitos Humanos. Sua organização administrativa está dividida entre 4 Secretarias: Gestão da Política de Direitos Humanos, Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Há ainda na estrutura da SDH os seguintes órgãos colegiados, organizados conforme a temática principal de suas atividades: • CNDH – Conselho Nacional dos Direitos Humanos; • Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da criança e do Adolescente; • CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência; • CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso; • CNCD – Conselho Nacional do combate à discriminação; • CEMPD – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos; • CONATRAE – Comissão Nacional de Erradicação do trabalho escravo; • CNPCT – Comitê Nacional de Prevenção e Combate à tortura; • MNPCT – Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à tortura. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos118/275 No contexto de promoção de direitos humanos da SDH há políticas, ações, projetos e atividades relacionadas a: promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes; combate à tortura; pessoas com deficiência; pessoa idosa; LGBT; adoção e sequestro internacional; mortos e desaparecidos, combate às violações; combate ao trabalho escravo; direitos para todos; diversidade religiosa; atuação internacional; educação em direitos humanos; registro civil de nascimento; formação de centros de referência em direitos humanos. Dentro de cada temática e de acordo com os objetivos determinados no PNDH-III, há vários programas em desenvolvimento, dos quais selecionamos, a título de exemplo, alguns listados no último relatório apresentado pelo Brasil ao CDHNU. • Política Nacional para População em situação de Rua – garantir acesso a Link Acesse o website da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República em <http://www.sdh.gov.br/> para saber mais detalhes da estrutura e dos projetos em cada área temática. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos119/275 serviços e benefícios que permitam a inclusão dessa população; criação de Centros de Referência Especializada em Assistência Social, aumento de vagas em Unidades de Acolhimento para população de rua. • Ação efetiva na proteção de refugiados, apátridas e migrantes. • Política Nacional de Segurança Alimentar, inclusão do direito humano à alimentação adequada como direito social constitucional, e criação do Programa de Aquisição de Alimentos e do Programa Nacional de Alimentação Escolar. • Combate ao trabalho escravo, com o Plano Nacional para a erradicação do trabalho escravo, com ampliação da fiscalização e repressão. • Erradicação do Trabalho infantil; • Promoção da reforma agrária, INCRA, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais. • Estatuto da igualdade racial, atenção especial às comunidades de quilombolas; • Programa Paz no Campo e Plano Nacional de Combate à Violência no Campo; • Combate à violência contra a Mulher, Lei Maria da Penha; • Educação em Direitos Humanos; Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos120/275 • Política Nacional de Segurança Pública; • Promoção da justiça comunitária e do acesso à justiça; ampliação da Defensoria Pública. Link Acesse a Cartilha de direitos Humanos do Ministério da Educação e outras publicações correlatas no link <http://portal.mec.gov.br/pro-conselho/publicacoes/194-secretarias-112877938/ secad-educacao-continuada-223369541/14772-educacao-em-direitos-humanos> e os Portais da Educação em Direitos Humanos, para ver exemplos de como vem sendo trabalhado o tema de divulgação dos conceitos de direitos humanos para a sociedade, através da educação. Portais da Educação em Direitos Humanos: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/direito-para-todos/ programas/educa> <http://portaledh.educapx.com/> Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos121/275 • Melhoria do sistema prisional (número de vagas, condições de estadia e convivência, processo penal) • Melhoria do sistema socioeducativo, aprimoramento da implantação do ECA. • Prevenção e combate à tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos122/275 Glossário Blocos: no sentido usado no texto, temos os Blocos Econômicos ou Regionais, como o Mercosul, o NAFTA, a União Europeia. São nações que se reúnem em esquemas de integração regional e de negociação de acordos de livre comércio entre si, com o objetivo de proporcionar desenvolvimento sustentável mútuo. Ratificação de acordos ou convenções: a Constituição Federal de 1988 prevê a forma de participação e de aprovação de tratados internacionais no direito interno. De acordo com o art. 84 da CF, compete ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais. E de acordo com o art. 49, compete exclusivamente ao Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Desta forma, após a aprovação do Congresso acontece a ratificação pela Presidência República, ato autorizado por aquela aprovação. Quilombolas: são descendentes de africanos escravizados que mantêm tradições culturais, de subsistência e religiosas ao longo dos séculos. A Fundação Cultural Palmares foi fundada pelo Governo Federal em 1988 para promover e preservar a arte e cultura afro-brasileira e formalizar a existência das comunidades quilombolas, assessorá-las juridicamente e desenvolver projetos, programas e políticas públicas de acesso à cidadania. Há mais de 2.000 comunidadesespalhadas pelo território nacional. Conheça as atividades da Fundação no link a seguir: <http://www.palmares.gov.br/> Questão reflexão ? para 123/275 Em que medida o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, previsto na Constituição Federal de 1.988, e amplamente debatido tanto na mídia quanto nas vias judiciais, reflete no cidadão? Há efetividade na proteção constitucional dos Direitos Humanos no Brasil? A lei é efetiva quando protege alguns ou quando não permite a violação de nenhum direito protegido? 124/275 Considerações Finais (1/2) A ONU foi fundada em 1942, com a adesão de 51 países, em um movimento para a reconstrução da paz entre as nações envolvidas pelas duas grandes guerras mundiais. Atualmente são mais de 190 países-membros (http:// nacoesunidas.org/conheca/paises-membros/) reunidos na tentativa de chegar a um consenso sobre diversos temas de convivência internacional, entre os quais os temas relacionados aos Direitos Humanos. Os parâmetros de respeito, promoção e proteção de direitos humanos, definidos pelas Convenções da ONU, quando ratificados pelos países- membros, servem como normas programáticas a que cada Estado deve dar efetividade. Há dificuldade em conceber uma definição clara e consensual do que sejam direitos humanos. Trata-se de um conceito indeterminado, amplo em seus parâmetros programáticos, mas sujeito a definições mais limitadas, e conformes com as questões políticas e orçamentárias de cada Estado, quando da regulamentação legislativa de seu conteúdo e extensão. 125/275 Considerações Finais (2/2) Uma análise de cada órgão na estrutura da SDH dá a dimensão dos desafios enfrentados para a implementação das Políticas de Direitos Humanos no Brasil. A cada tema que se coloque em pauta podem ser encontrados exemplos de proteção ou de violações recentes. Os desafios e a evolução protetiva convivem cotidianamente. Não importa em que região do território brasileiro você viva, avalie o seu entorno e perceba quantos eventos de violação aos direitos humanos consegue identificar, seja no âmbito das relações individuais, seja nas relações com o Estado, apesar de todos os esforços contrários. Todas estas situações constituem demandas por gestão pública e social, pela efetivação na construção de redes de defesa de direitos. Mas, sobretudo, constituem demandas por Educação em Direitos Humanos, pois apenas com a disseminação do conhecimento sobre tais valores fundamentais será possível ampliar o comprometimento individual e a solidariedade social em busca de soluções duradouras. Unidade 4 • Conceito e Proteção de Direitos Humanos126/275 Referências SARLET, Ingo Wolfgang – Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 10.ed.rev.atual e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2015. PIOVESAN, Flávia – Direitos Humanos: Desafios da ordem internacional contemporânea, in Caderno de Direito Constitucional – 2006. EMAGIS – Escola da Magistratura do TRF4. 127/275 Assista a suas aulas Aula 4 - Tema: Conceito e Proteção de Direitos Humanos Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/91bb8128ea09f2901ebcff780203af53>. Aula 4 - Tema: Conceito e Proteção de Direitos Humanos Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ a715c68a1b3b0407ff2b735a48fb99e7>. 128/275 1. O que significa a indivisibilidade dos direitos humanos? a) que os direitos humanos têm que ser aplicados integralmente ao cidadão b) que a violação a qualquer dos princípios fundamentais seria a violação à dignidade humana. c) que o cidadão não pode dividir sua dignidade com outro d) que o direito fundamental não pode ser partilhado e) que os direitos humanos devem ser aplicados igualmente a todos Questão 1 129/275 2. Qual destas relações não corresponde à teoria das Gerações de Direitos fundamentais? a) primeira geração com direitos individuais, de liberdade, civis e políticos b) segunda geração com direitos econômicos, sociais e culturais c) terceira geração com direitos comunitários, solidariedade e fraternidade d) quarta geração com direitos ambientais, de participação democrática, de manipulação genética e) quinta geração com direitos interplanetários Questão 2 130/275 3. A partir das seguintes afirmações escolha a alternativa correta: I. O Brasil ratificou todos os instrumentos das organizações internacionais e regionais de direitos humanos das quais participa. II. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) é responsável pela coordenação dos programas de proteção e promoção dos direitos humanos no Brasil. III. O combate ao trabalho escravo, a proteção de refugiados e às comunidades de quilombolas, não fazem parte dos programas de proteção aos direitos humanos desenvolvidos pelo Brasil nos últimos anos. a) apenas a afirmação I é verdadeira; b) todas as afirmações são verdadeiras; c) todas as afirmações são falsas; d) apenas a afirmação II é verdadeira; e) apenas a afirmação III é verdadeira; Questão 3 131/275 4. Entre os órgãos apontados abaixo qual não faz parte da estrutura da SDH/PR: a) MNPCT – Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à tortura b) CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência; c) CNPCT – Comitê Nacional de Prevenção e Combate à tortura; d) CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; e) Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da criança e do Adolescente; Questão 4 132/275 5. Dos itens abaixo, assinale quais não fariam parte do mínimo existen- cial, necessário para atingir a sobrevivência com dignidade humana. a) Segurança pessoal, proibição de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante, presunção de inocência, integridade do preso, acesso à justiça; b) Liberdade de locomoção, liberdade de reunião e associação, liberdade de opinião e expressão, liberdade de pensamento e religião; c) direito de asilo, trabalho, proibição de escravidão, liberdade sindical; d) Proteção à família, proteção ao idoso e à criança, direito à educação, direito à moradia e à alimentação adequada e) Acesso à internet, serviços de televisão a cabo e telefonia celular gratuitos. Questão 5 133/275 Gabarito 1. Resposta: B. A indivisibilidade é uma das características atribuídas aos direitos humanos no sentido de que o desrespeito a qualquer aspecto destes significa a violação de todos os demais, pois já afetaria a dignidade humana. 2. Resposta: E. Embora a teoria das gerações de direitos tenha novos adeptos e propostas de evolução, e as novas gerações contemplem um aspecto global de proteção do ser humano, ainda não se incluiu nisso uma geração de direitos interplanetários, sequer há menção disso no texto. 3. Resposta: D. O Brasil não ratificou todos os instrumentos das organizações de direitos humanos das quais participa. O combate ao trabalho escravo, a proteção de refugiados e das comunidades quilombolas, são alguns dos muitos programas de proteção aos direitos humanos desenvolvidos pelo país nos últimos anos, através da SDH/PR. 4. Resposta: D. CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – é um órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que objetiva fomentar a pesquisa científica e 134/275 Gabarito tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros. Não há qualquer relação com a Secretaria de Direitos Humanos. 5. Resposta: E. Embora para alguns tais itens possam ser considerados essenciais para a qualidade de vida na sociedade moderna, acesso gratuito a serviços de internet,televisão a cabo ou telefonia celular, parecem extrapolar (diante de outras necessidades) o conceito de mínimo existencial necessário para a dignidade humana. 135/275 Unidade 5 Marco Legal da Seguridade Social Objetivos 1. Identificar a Constituição Federal como marco legal da Seguridade Social 2. Entender a composição da Seguridade Social e seus objetivos 3. Conhecer os serviços e princípios da seguridade social no Brasil Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social136/275 Introdução As origens da Seguridade Social são relacionadas ao seguro social, e antes a todas as formas de proteção mutualista. A evolução histórica da proteção social passa primeiro por uma preocupação de proteção dos meios econômicos para a sobrevivência dos trabalhadores e suas famílias. Com o tempo passa a objetivar o bem-estar social em um sentido mais amplo e menos securitário. Regida principalmente pelo princípio da solidariedade, acontece no Brasil na esteira do já determinado em outros países mais desenvolvidos no sentido social. Começa por setores economicamente relevantes e estende- se como proteção institucional e governamental, sempre com vistas a ampliar a cobertura de atendimento. Embora, historicamente, a proteção social não tenha seu início com a Constituição Federal de 1988, esta é o marco legal do que conhecemos por “Seguridade Social”. A melhor definição do que seria esta Instituição é o próprio texto constitucional: “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. A partir da criação da seguridade social como “instrumental apto a garantir as finalidades do bem-estar e justiça sociais a que se acha pré-ordenado Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social137/275 o Estado brasileiro”1, a legislação infraconstitucional começa a organizar o Sistema Nacional de Seguridade Social, destinado a aplicar e executar as normas necessárias para garantir a proteção social, através da normatização e da criação das instituições sanitárias, previdenciárias e assistenciais, bem como da definição do papel dos atores sociais envolvidos no sistema. Há uma evolução legislativa, incluindo aqui o período pré-Constituição Federal de 1988, no que são os riscos, ou contingências sociais, cobertos pelo sistema de seguridade social, caracterizada pela aplicação 1 BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 5ª edi- ção. São Paulo, LTR, 2009. dos princípios da “seletividade” e “distributividade”. Estes princípios constitucionais referem-se a “o que” é protegido, “a quem” é dirigida e “como” se dará esta proteção. Os últimos anos nos trouxeram a eliminação de alguns benefícios ou prestações, a limitação de acesso a outros (requisitos mais restritivos), ou até a alteração das características da proteção (valor, duração). Em muitos casos a restrição de direitos tem provocado muitas críticas, e processos judiciais, quanto à possível inconstitucionalidade por ocorrência de retrocesso social. Considerando-se a realidade econômica e política nacional, o sistema protetivo acaba limitado por razões orçamentárias, Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social138/275 sujeito às possibilidades de distribuição de recursos, influenciado por planos de ajuste fiscal, enfim, sujeito aos ditames da “reserva do possível”. O sistema protetivo encontra-se também sujeito à falta de planejamento atuarial eficiente para a sobrevivência do sistema em longo prazo. Desta forma, as alterações estruturais, sociais, econômicas, tecnológicas, tem provocado uma série de reformas, de modo a adaptar o sistema às novas situações mundiais. As reformas mais significativas afetaram o regime previdenciário, sistema de filiação obrigatória e caráter contributivo. Entre estas alterações podemos exemplificar com a redução de valores de aposentadorias com a criação do fator previdenciário; ou as novas regras da pensão por morte, que passa a ter duração temporária para cônjuges/ companheiros de acordo com sua idade. Por outro lado, temos a ampliação da cobertura previdenciária, através da inclusão de segurados de baixa renda através da redução dos percentuais de contribuição, ou a criação de novos benefícios, como a aposentadoria diferenciada para pessoas com deficiência. Muitas questões têm sido resolvidas judicialmente, como por exemplo a definição para comprovação dos requisitos de miserabilidade para fins de concessão do benefício assistencial Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social139/275 de prestação continuada para idosos ou deficientes, previsto na Constituição Federal e regulamentado Lei 8742/93 (Lei Orgânica de Assistência Social)2. Outras tantas aguardam decisão no STF. E muitos são os projetos de lei em tramitação, seja por iniciativa do Poder Legislativo ou por iniciativa do Executivo, dada a grande quantidade de alterações consideradas “emergenciais” e propostas através de Medidas Provisórias. 2 Acesse o inteiro teor da decisão do STF referente à comprovação dos requisitos de miserabilidade para concessão do BPC da LOAS em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=4614447> Para saber mais A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS - Lei nº 8742/93) regulamenta o benefício, equivalente a um salário-mínimo, garantido na Constituição Federal de 1988 (art. 203, V) para a pessoa com deficiência e para o idoso que comprovarem não possuir meios próprios ou familiares de subsistência. Inicialmente, para fins de concessão do benefício, a LOAS considerava “idosa” a pessoa com 70 anos de idade ou mais. Ocorre que esta era a idade considerada para fins de benefício similar criado na Lei nº 6179/74, porém de caráter contributivo e previdenciário, portanto de amplitude protetiva restrita aos segurados, conhecido como “renda mensal vitalícia”. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social140/275 Para saber mais Esta proteção que antes era restrita a segurados da Previdência Social, foi ampliada com sua inclusão no sistema de Assistência Social, de caráter não contributivo, ou seja, extensiva a todos os cidadãos independentemente de contribuição ao sistema. Posteriormente, foi ampliada a cobertura protetiva, com a redução da faixa etária envolvida, para 65 anos pelo Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/2003. No entanto, pode-se considerar que a Lei nº 8742/93 inovou de forma restritiva ao estabelecer um parâmetro objetivo de comprovação de miserabilidade, que não existia na Lei nº 6179/74, correspondente à renda per capita equivalente a ¼ do salário mínimo, e que ainda dificulta a concessão dos benefícios assistenciais (mesmo após o julgamento da matéria no STF – Recurso Extraordinário 567.985). Um exemplo de como esta situação tem sido tratada pelo Judiciário pode ser visto na notícia reproduzida abaixo, disponível no website do Tribunal Regional Federal da 1ª Região13: 3 <https://portal.trf1.jus.br/portaltrf1/comunicacao-social/imprensa/noticias/decisao-condicao-de-miserabilidade-e- -condicao-essencial-para-o-recebimento-do-beneficio-de-amparo-social.htm> Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social141/275 Para saber mais Condição de miserabilidade é condição essencial para o recebimento do benefício de amparo social A 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região confirmou sentença de primeiro grau que julgou improcedente o pedido de concessão de benefício de amparo social feito por uma pessoa deficiente, ora parte autora, ao fundamento de que, embora provada sua incapacidade para exercer atividade laborativa, a requerente não tem hipossuficiência familiar.Inconformada, a demandante recorreu ao TRF1 sustentando possuir todos os requisitos necessários para concessão do benefício, quais sejam: ser a pessoa deficiente ou idosa; não receber benefícios de espécie alguma, não estar vinculada a nenhum regime de previdência social, e ter renda mensal per capita inferior a um quarto do salário mínimo. Não foi o que entendeu o relator, desembargador federal Candido Moraes, ao analisar o caso. “O laudo pericial produzido constatou que a parte autora é portadora de patologia que a impede de exercer atividade laborativa. Por outro lado, no que tange ao limite de renda per capita, o estudo socioeconômico trazido aos fólios não autoriza o enquadramento da situação da parte autora na condição de miserabilidade justificadora do deferimento do benefício assistencial em exame”, explicou. Isso porque, segundo o magistrado, a autora mora com os pais, carpinteiros em serraria própria e professora estadual aposentada, dois irmãos, maiores e com renda fixa, e sobrinho que mora em casa própria. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social142/275 Para saber mais Além disso, consta dos autos que a demandante afirmou fazer bico como cabeleireira. “Assim, inexistindo a prova da condição de miserabilidade autorizadora do deferimento da prestação, não há como retificar o teor do comando sentencial da origem”, finalizou o relator. A decisão foi unânime. Processo nº 0061972-68.2011.4.01.9199/PI Data do julgamento: 6/5/2015 Data de publicação: 16/7/2015 JC Assessoria de Comunicação Social Tribunal Regional Federal da 1ª Região Também em relação à polêmica sobre os requisitos necessários para definição de miserabilidade e direito ao BPC da LOAS, podemos avaliar a notícia reproduzida a seguir, disponível no website do Tribunal Regional Federal da 4ª Região14: 4 <http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_noticia=11147> Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social143/275 Para saber mais Renda per capita não pode ser único critério para definir situação de miserabilidade O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) deu provimento, na última semana, ao recurso de um morador de Taquari (RS) que sofre de esquizofrenia e determinou ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que lhe pague benefício assistencial. A decisão da 5ª Turma reformou sentença que havia negado o pedido alegando que a renda per capita familiar era superior a ¼ do salário mínimo. O autor, absolutamente incapaz, mora somente com a mãe, que ganha um salário mínimo de aposentadoria. Um parecer socioeconômico anexado ao processo atesta a condição de vulnerabilidade social de ambos. Segundo o relator, desembargador federal Rogerio Favreto, o benefício assistencial destina-se àquelas pessoas que se encontram em situação de extrema pobreza, cabendo ao julgador, na análise do caso concreto, aferir o estado de miserabilidade do autor e sua família, ainda que a renda per capita seja superior ao ¼ do salário mínimo definido em lei. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social144/275 Para saber mais Favreto ressaltou que o critério legal para definir uma pessoa como hipossuficiente foi relativizado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Diante do compromisso constitucional com a dignidade da pessoa humana, a limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família”, escreveu em seu voto, citando jurisprudência do STJ. A turma concedeu tutela antecipada ao pedido, determinando que o INSS comece a pagar, no prazo de 15 dias, o benefício assistencial, no valor de um salário mínimo. 1. Evolução histórica da política social no Brasil Em função das finalidades do Estado tem-se um menor ou maior grau de intervenção na economia e nas relações individuais. Stuart Mill, citado por Feijó Coimbra35, afirmava “que o único fim que justifica uma autorização para a humanidade, individual ou coletivamente considerada, intervir com a liberdade de ação de qualquer um dos seus membros é a sua autoproteção”. 5 COIMBRA, J. R. Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social145/275 Um dos mecanismos de política social, utilizado pelo Estado para atingir seus objetivos do Bem-Estar social, é o Sistema de Seguridade Social criado com a Constituição Federal de 1988. O modelo ideal de Seguridade Social, conforme delineado por Beveridge46, teria “por objeto abolir o estado de necessidade”. A política social com vistas a abolir este estado de necessidade em seus diversos aspectos não se iniciou com a Constituição de Federal de 1988 mas vem evoluindo ao longo da história brasileira. Uma análise breve sobre as Constituições Históricas Brasileiras sinaliza a evolução 6 BEVERIDGE, William. Social and Allied Services (The Beveridge Report), 1942. Acessado em 19/08/2015, disponível em <http://legacy.fordham.edu/halsall/mo- d/1942beveridge.html> das garantias dos direitos sociais, em especial o direito de aposentadoria, até os dias de hoje. Os direitos sociais aos poucos vão sendo garantidos. A Constituição Política do Império do Brasil, de 25/03/1824, no inciso XXXI do artigo 179, garantia os “Socorros Públicos”. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24/02/1891, prevê apenas que a aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação. A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 16/07/1934 trazia as garantias de proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País; assistência médica e sanitária ao Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social146/275 trabalhador e à gestante; e instituição de previdência a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10/11/1937 garante a mesma proteção dada em 1934, em outras palavras ou artigos. Mas acrescentava a possibilidade da aposentadoria compulsória e por invalidez de funcionários públicos. Com a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18/09/1946, surgem os princípios de Justiça social, com valorização do trabalho humano; com previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte; seguro contra acidentes do trabalho; aposentadoria compulsória e por invalidez dos funcionários públicos. A Constituição da República Federativa do Brasil, de 24/01/1967, estabelece garantia de aposentadoria por invalidez, compulsória e voluntária do funcionário público; previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte; salário- família; aposentadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social147/275 Percebe-se, pela análise da evolução constitucional relacionada acima, que a proteção social em sua maioria era direcionada aos trabalhadores e suas famílias, organizada através de um sistema de seguro social. O objetivo era a proteção do trabalhador contra as consequências ou necessidades geradas pela incapacidade para o trabalho em seus variados aspectos. Não havia, antes da Constituição Federal de 1988, o direito subjetivo público à Assistência Social, no sentido de assistência aos desamparados não- contribuintes. O que existia nesse sentido era meramente a atuação caritativade instituições ou indivíduos beneméritos. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 traz novas garantias, tendo como base o primado do trabalho e como objetivos o bem-estar e a justiça sociais. Estabelece como direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Define como direitos dos trabalhadores urbanos e rurais: seguro- desemprego; fundo de garantia do tempo de serviço; salário mínimo nacional capaz de atender as necessidades do trabalhador e sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social (com preservação de poder aquisitivo e vedação de vinculação para qualquer fim); décimo- terceiro salário integral; salário-família para seus dependentes; licença de 120 Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social148/275 dias para a gestante; aposentadoria; seguro obrigatório pelo empregador contra acidentes do trabalho; integração à previdência social assegurada para os trabalhadores domésticos. Para concretizar parte dessas garantias, no que interessa nesta fase de nosso estudo, institui o Sistema de Seguridade Social, composto pela Saúde, Assistência Social e pela Previdência Social (art.194). 2. Seguridade Social Seguridade Social, no conceito de Wagner Balera57, é “o conjunto de medidas constitucionais de proteção dos direitos 7 BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 5ª edi- ção. São Paulo, LTR, 2009. individuais e coletivos concernentes à saúde, à previdência e à assistência social”, considerado no modelo estabelecido pela Constituição Federal de 1988 no Brasil, com a clara definição do arcabouço normativo necessário para amparar os indivíduos contra as graves contingências apresentadas em nosso meio social; sem considerar, no entanto, o custo dessa proteção, de difícil sustentabilidade, trazendo desafios constantes à economia nacional. O art. 6º da Constituição Federal traz como direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Parte destes direitos Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social149/275 é atendida pelo Sistema de Seguridade Social, criado conforme o art. 194 da Constituição Federal. O Sistema de Seguridade Social é formado pela Saúde, Previdência Social e Assistência Social, através da ação integrada dos Poderes Públicos e da sociedade, atendendo aos seguintes objetivos: universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação do custeio; diversidade da base de financiamento e caráter democrático e descentralizado da administração. Assim, estão protegidas pelo Sistema de Seguridade Social brasileiro as seguintes contingências sociais: doença, invalidez, morte, idade avançada, desemprego involuntário, maternidade, carência financeira. Esta proteção ocorre em vários níveis, em caráter contributivo ou não- contributivo. Nesse sentido, “a seguridade social brasileira terá duas vias de acesso aos problemas sociais: a via previdenciária (seguro social) e a via assistencial (composta por dois instrumentos de atuação: o sistema de saúde e o sistema de assistência social)” e “no interior do sistema, é legítimo combinar diversas medidas, a fim de que diferentes necessidades sejam satisfeitas, atentos Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social150/275 os entes protetores à peculiaridade das situações que surgem”. 68 O Sistema de Seguridade Social criado pela Constituição Federal de 1988 significa uma evolução no esquema protetivo do cidadão brasileiro. Nosso sistema não é exatamente aquele imaginado por Beveridge como a Seguridade Social ideal, mas um misto entre o antigo Seguro Social e a Seguridade idealizada. Na Seguridade idealizada por Beveridge, a proteção seria universal e completa, onde todos os cidadãos estariam protegidos contra todas as necessidades provocadas pelos riscos sociais, com prestações financiadas por toda a sociedade num 8 Wagner BALERA. Noções preliminares de Direito Previ- denciário. P. 72,73 regime de solidariedade obrigatória, sem qualquer vinculação à contribuição prévia. Nossa Seguridade Social, limitada por questões políticas e orçamentárias, mescla os dois sistemas e está estruturada em um sistema misto de Seguro Social (Previdência Social de filiação e contribuição obrigatória relacionadas ao exercício do trabalho e protegendo os segurados contra a incapacidade para o mesmo) e Seguridade Social (prestações de Assistência Social e Saúde universais e não contributivas). A Assistência Social, regulamentada pela Lei nº 8742/93, é área onde, segundo Feijó Coimbra79, “procurou-se ampliar a faixa protetora do ne cessitado, ainda não 9 Direito Previdenciário Brasileiro. p. 58 Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social151/275 protegido pelas prestações da Previdência Social. Para as prestações assistenciais, há o limite natural de concessão, que é o da carência de recursos verificada no interessado. Assim ocorre nas presta ções em moeda, deferidas aos deficientes físicos e aos idosos, como adiante veremos. Condição da prestação é a inexistência, para o postulante, de outra fonte de recursos, com o qual possa atender suas necessidades. A Seguridade Social, assim se completa, atendendo, pela Assistência, aos que não o são pela Previdência. ” Entre os objetivos da Assistência Social, conforme determinado no art. 203 da Constituição Federal de 1988, destinada a quem dela necessitar, de caráter não contributivo, estão: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. A Saúde, regulamentada pela Lei nº. 8112 de 11/12/90, é o subsistema que apresenta possivelmente as inovações mais relevantes instituídas pela Constituição Federal de 1988, ao conceder proteção universalizante reconhecendo a todos o Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social152/275 direito à saúde. Segundo Feijó Coimbra810: “...o artigo 196 não faz escolhas nem abriga privilégios: dá o direito aos serviços médicos a quantos, no território nacional, deles tenham necessidade contra a doença. Esses serviços são devidos em dose igual seja qual for seu destinatário, bastando que se revele carecedor deles. É a saúde objeto de alongada disposição dos artigos 232 a 235, que tratam da prevenção das doenças e da restauração da saúde através de ações e serviços prestados por uma rede regionalizada e hierarquizada em sistema único. ” 10 COIMBRA, J. R. Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. p. 57 Para saber mais Você sabia que antes da Constituição Federal de 1988 e da criação do SUS a Saúde no Brasil não era um direito de todos os cidadãos? O problema é que a efetivação destes direitos de forma plena ainda não foi possível, devido a restrições de ordem orçamentária. A implantação dos direitos trazidos pela Constituição Federal de 1988 tem sido feita de forma gradativa, de acordo com os recursos disponíveis,através do estabelecimento de prioridades e metas, submetidos a ajustes a cada governo ou alteração de planos econômicos e/ou ajustes fiscais. Ocorre que esta implantação gradativa faz com que certos tratamentos médicos ou o fornecimento de certos medicamentos não seja aprovado pelo SUS, provocando o fenômeno que tem sido chamado de “judicialização da saúde”. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social153/275 A Previdência Social, garantida no art. 6º da Constituição Federal de 1988 como um dos direitos sociais, adquire caráter de estrutura conforme o art. 194, quando definida como um dos componentes do Sistema de Seguridade Social. Nas palavras de Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira911, a Previdência Social é “a organização criada pelo Estado, destinada a prover as necessidades vitais de todos os que exercem atividade remunerada e de seus de pendentes, e, em alguns casos, de toda a popu lação, nos eventos previsíveis de suas vidas, por meio de um sistema de seguro obrigatório, de cuja administração e custeio participam, em maior ou menor escala, o próprio Estado os segurados e as empresas”. 11 Moacyr Velloso Cardoso de OLIVEIRA. Previdência Social: doutrina e exposição da legislação vi gente. Para saber mais Esta judicialização da saúde nada mais é que o aumento de ações judiciais do cidadão contra o Estado para o fornecimento do serviço de saúde negado. Uma crítica frequente a esta atuação do Judiciário “intervindo” para obrigar o Estado no fornecimento de tratamentos de saúde antes negados, é a própria desigualdade no acesso à Justiça e a interpretação do direito subjetivo à saúde como um direito individual a todo e qualquer tratamento médico existente, independentemente de seu custo. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social154/275 Na definição de Celso Barroso Leite1012, Previdência Social seria o “conjunto de medidas, a cargo do poder público, destinadas a proteger as classes assalariadas e tanto quanto possível a população em geral contra determinadas situações que afetam a capacidade econômica individual ou familiar, seja pela cessação dos rendimentos, seja pela superveniência de necessidades especiais. PREVIDÊNCIA SOCIAL propriamente dita só começou a existir quando o Estado a trouxe para sua órbita de ação, tornando-a serviço público. ” O modelo da Previdência Social brasileira é de participação obrigatória, contributivo, 12 Celso Barroso LEITE e Luiz Paranhos VELLOSO. Previ- dência Social. p. 30. com sistema de repartição simples, no qual as contribuições sociais originam um fundo único, do qual saem os recursos para o pagamento de prestações a qualquer beneficiário que, tendo sido atingido pela contingência prevista, atenda aos requisitos da legislação previdenciária. O modelo descrito, no qual se insere o objeto de nosso estudo, denomina-se Regime Geral de Previdência Social. A natureza do Regime Geral da Previdência Social é essencialmente de serviço público. Ao Estado cabe a função de administrar a Previdência Social. Essa tarefa não caberia nas operações rotineiras da administração pública, por isso a administração é feita de forma descentralizada através de uma autarquia, estrutura teoricamente mais Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social155/275 dinâmica. Assim, o Decreto-lei nº 72 de 21/11/1966 criou o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social – hoje denominado INSS – Instituto Nacional do Seguro Social, autarquia responsável pela administração do sistema previdenciário brasileiro. A proteção previdenciária é feita através da concessão de prestações, benefícios, aos segurados ou seus dependentes, que atingidos pelas contingências previstas cumpram os requisitos determinados na legislação. A Previdência Social, enquanto subsistema da Seguridade Social, é composto por diferentes regimes, organizados de forma autônoma entre si. • O Regime Geral de Previdência Social, destinado aos trabalhadores da iniciativa privada, tem caráter contributivo e filiação obrigatória (exceto para os segurados facultativos, categoria de segurado que não vinculado obrigatoriamente a nenhum regime decide participar do sistema de proteção). • Os Regimes Próprios de Previdência, destinados aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, instituídos e organizados pelos respectivos entes federativos, de caráter contributivo e solidário; também tem caráter de filiação obrigatória, pois na inexistência de regime próprio que o abrigue será segurado obrigatório do regime geral de previdência. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social156/275 • O Regime de Previdência Privada, de caráter complementar e de filiação facultativa. Organizada a partir da integração da atuação das instituições estatais, empresas e da sociedade, nas questões envolvendo Previdência, Assistência Social e Saúde, é através de ações de promoção e execução das políticas públicas setoriais, fornecimento de benefícios e serviços, que a Seguridade Social presta atendimento à população a fim de atingir os objetivos constitucionais de construção de uma sociedade fraterna e desenvolvida e, de acordo com os ideais de dignidade da pessoa humana, bem-estar e justiça sociais. As prestações devidas pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) são divididas entre benefícios e serviços, conforme o art. 18 da Lei nº 8.213/91. São benefícios por incapacidade, como a aposentadoria por invalidez, o auxílio-doença e o auxílio- acidente; benefícios programáveis, como a aposentadoria por idade, a aposentadoria por tempo de contribuição, a aposentadoria especial; benefícios dos dependentes, como o salário-família, o salário-maternidade, a pensão por morte e o auxílio-reclusão; e as prestações como o serviço social e a reabilitação profissional. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social157/275 Para saber mais A partir de 1995 alterações na legislação infraconstitucional e a partir de 1998 através de Emendas Constitucionais, vários direitos previdenciários sofreram restrições. Entre outras: a caracterização da insalubridade para concessão de aposentadoria especial tem requisitos mais difíceis de comprovação; não há mais a aposentadoria por tempo de contribuição proporcional (a não ser em fase de transição e com idade mínima); os benefícios de auxílio-reclusão e salário-família ficaram restritos a dependentes de segurados de baixa renda; o valor das aposentadorias por tempo de contribuição foi potencialmente reduzido com o aumento do período base de cálculo e a criação do fator previdenciário (índice derivado da relação entre tempo de contribuição e expectativa de sobrevida do segurado); o benefício de pensão por morte deixou de ser vitalício para cônjuges ou companheiro(a)s com idade inferior a 44 anos, além de exigir 18 contribuições mínimas do segurado falecido e comprovação de união estável ou casamento de no mínimo 2 anos. Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social158/275 Para saber mais Por outro lado, há avanços, como a instituição de categorias diferenciadas de contribuintes com alíquotas reduzidas para ampliar a quantidade de pessoas protegidas, por exemplo com a formalização do microempreendedor individual ou a proteção das donas-de-casa de baixa renda. E há a criação de nova aposentadoria diferenciada, destinada a pessoas com deficiência. Acesse o website da Previdência Social para conhecer todos os direitos previdenciários vigentes e acompanhar as eventuais alterações na legislação. <www.previdenciasocial.gov.br> A LOAS, Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8742/93), prevê entre seus benefícios, serviços, programas e projetosassistenciais: o benefício de prestação continuada a idosos e deficientes hipossuficientes; provisões suplementares e provisórias em virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e calamidade pública; benefícios eventuais subsidiários de até 25% do salário mínimo para crianças de até seis anos de idade; serviços socioassistenciais de apoio e amparo à população em situação de risco pessoal e social; programas de assistência social, entre os quais o PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social159/275 Integral à Família), o PAEFI (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil); projetos de enfrentamento da pobreza. Para facilitar o planejamento e a organização sobre as necessidades assistenciais da população foi criado o CadÚnico, um cadastro único com informações da população inscrita e beneficiária de Programas Sociais do Governo Federal. A Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90) dispõe sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS) em cujo campo de atuação estão incluídas ações relativas a vigilância sanitária e epidemiológica, ações de saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral (inclusive farmacêutica); ações de saneamento básico, vigilância nutricional e orientação alimentar; coordenação na formação de recursos humanos para atuar na área da saúde; controle e fiscalização de serviços e produtos que afetem a saúde, entre os quais alimentos e bebidas, produtos potencialmente tóxicos, meio ambiente inclusive de trabalho, medicamentos e equipamentos. Para saber mais Acesse o website do Ministério da Saúde para conhecer a estrutura e os programas de promoção aos direitos da saúde dos cidadãos brasileiros no link <http://portalsaude.saude. gov.br/> Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social160/275 Glossário Benefícios por incapacidade: no âmbito da proteção previdenciária, os benefícios por incapacidade são responsáveis pela proteção contra o risco “incapacidade para o trabalho”. Não pode ser confundida com o conceito de doença, pois a pessoa pode ser doente e ainda assim manter a capacidade para o seu trabalho habitual e permanente. Dependendo da classificação do grau e duração da incapacidade para o trabalho é que se define a concessão do benefício de auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria por invalidez. Benefícios dos dependentes: os benefícios previdenciários podem ser divididos para estudo de acordo com os seus beneficiários. Estes podem ser os próprios segurados ou seus dependentes. Os benefícios cujos dependentes são os beneficiários são: a pensão por morte, o auxílio-reclusão, o salário-família e o salário- maternidade. Benefícios programáveis: são assim conhecidos aqueles em que o segurado não é atingido de repente como os de incapacidade, não há incapacidade para o trabalho) e o indivíduo pode programar quando atingirá o direito ao mesmo. Estão nesta classificação as aposentadorias por idade e por tempo de contribuição. Questão reflexão ? para 161/275 Considere a definição de seguridade social e a atuação de forma integrada dos três subsistemas: Previdência, Saúde e Assistência Social. Como você entende que o desenvolvimento ou retrocesso de um dos subsistemas afeta os outros? 162/275 Considerações Finais (1/5) Antes da Constituição Federal de 1988 os direitos sociais não eram considerados direitos subjetivos públicos e, portanto, exigíveis judicialmente pelos cidadãos. A Previdência Social evoluiu historicamente através de um regime de seguro social obrigatório, que protegia os trabalhadores contra as necessidades causadas pelas situações de incapacidade para o trabalho. Esta proteção sempre teve caráter contributivo e filiação obrigatória e começou de forma restrita para trabalhadores de algumas empresas, depois para categorias profissionais, e só depois para todos os trabalhadores urbanos. A proteção foi estendida para os trabalhadores rurais apenas com a Constituição de 1988. A Assistência Social até a década de 30 era caracterizada por ações de caridade e filantropia de pessoas ou instituições religiosas e estatais. A partir da década de 30 foram criadas as primeiras escolas de Serviço Social, que produziram profissionais preparados para “aplicar as técnicas de serviço social na solução de problemas sociais” como definido na Lei nº 3252/57 163/275 que enfim regulamentou a profissão de assistente social. No entanto, é certo que pouco havia mudado em relação à assistência aos desamparados, posto que ainda não era considerada um dever do Estado, mas algo que se fazia de forma paternalista, eventual, de caráter assistencialista. Foi a Constituição Federal de 1988 que alçou a Assistência Social à categoria de direitos sociais subjetivos públicos, um dever do Estado com o cidadão brasileiro, independentemente de qualquer contribuição. A Saúde também passou a ser direito de todos independentemente de contribuições a partir da Constituição Federal de 1988. Antes disso as políticas públicas de Saúde se resumiam a preocupações sanitárias e de certa forma preventivas; a assistência médica ou socorro médico era restrito a alguns serviços relacionados com saúde mental, tuberculose, hanseníase e outros ligados a doenças transmissíveis. A proteção era desigual já que os segurados das Caixas de Aposentadorias e Pensões contavam também com proteção médica. O sistema de saúde se manteve desta forma, atrelado Considerações Finais (2/5) 164/275 ao sistema previdenciário ou através de crescimento da assistência médica de serviços privados. A década de 70 se caracteriza pela exclusão de boa parte da população dos serviços de saúde e o início da pressão política e social que culminou com as primeiras manifestações da integração que seria constitucionalizada posteriormente entre Saúde, Previdência e Assistência Social: em 1975 surge o SNS (Sistema Nacional de Saúde) e em 1977 o SINPAS (Sistema Nacional da Previdência e Assistência Social) e o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). Mas é apenas no contexto do Sistema de Seguridade Social criado em 1988, e com a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) que a saúde foi alçada a direito subjetivo público universal independentemente de contribuições ou filiação com regime de previdência. Considerações Finais (3/5) 165/275 Considerações Finais (4/5) Para saber mais Acesse o link a seguir para acesso aos livros da coleção “Educação Profissional e Docência em Saúde: a formação e o trabalho do agente co- munitário de saúde” dirigida aos docentes das instituições responsáveis pela formação dos agentes comunitários de saúde <http://www. epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Serie&Ti- po=8&Num=13&nInicio=1&quant=9> e saiba mais sobre a evolução das políticas de saúde até a criação do SUS e os desafios atuais. 166/275 A Constituição Federal de 1988 como se pode notar pelas considerações desta aula, tinha um projeto ambicioso de definição de direitos subjetivos componentes da cidadania. Após mais de 20 anos, e várias Emendas Constitucionais depois, muitos direitos ainda não foram totalmente efetivados e outros sofreram restrições, como por exemplo os benefícios de auxilio-reclusão e salário-família restritos após a EC20/98 aos dependentes de segurados de baixa renda. Entre avanços e retrocessos, fica o desafio do equilíbrio social, sem ferir os direitos de cidadania nem permitir a violação dos direitos humanos fundamentais. Considerações Finais (5/5) Unidade 5 • Marco Legal da Seguridade Social167/275 Referências BALERA, Wagner. Sistema de Seguridade Social. 5ª edição. São Paulo, LTR, 2009.COIMBRA, J. R. Feijó. Direito previdenciário brasileiro. 11.ª ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 2001. BEVERIDGE, William. Social and Allied Services (The Beveridge Report), 1942. Acessado em 19/08/2015, disponível em <http://legacy.fordham.edu/halsall/mod/1942beveridge.html> Moacyr Velloso Cardoso de OLIVEIRA. Previdência Social: doutrina e exposição da legislação vigente. Celso Barroso LEITE e Luiz Paranhos VELLOSO. Previdência Social. p. 30. Wagner BALERA. Noções preliminares de Direito Previdenciário. P. 72,73 168/275 Assista a suas aulas Aula 5 - Tema: Marco Legal da Seguridade Social Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/351e28d61889b8515cdb8ddbc8a5e373>. Aula 5 - Tema: Marco Legal da Seguridade Social Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ee- 823f07d3023ed0c77466f300f76575>. 169/275 1. Assinale a alternativa correta: a) O Regime de Previdência Complementar tem caráter contributivo de filiação obrigatória. b) Os Regimes próprios de Previdência são destinados a trabalhadores urbanos da iniciativa privada. c) O Regime Geral de Previdência Social tem caráter não contributivo de filiação facultativa. d) A administração do sistema previdenciário brasileiro é feita pelo INSS e) O modelo de previdência social brasileira adota o sistema financeiro de capitalização Questão 1 170/275 2. Assinale a alternativa errada: a) A Seguridade Social é formada pelos sistemas de Previdência, Saúde e Assistência Social. b) O CadÚnico é um cadastro com informações da população inscrita em Programas Sociais do Governo Federal. c) O benefício de prestação continuada da LOAS é um benefício previdenciário d) São direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. e) O modelo ideal de Seguridade Social, conforme delineado por Beveridge, teria por objeto abolir o estado de necessidade. Questão 2 171/275 3. Não é um objetivo da Assistência Social: a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; b) a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. c) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; d) a promoção do pleno emprego; e) a promoção da integração ao mercado de trabalho; Questão 3 172/275 4. O sistema de Seguridade Social atende a todos os direitos a seguir, exceto: a) a educação b) a saúde c) a assistência aos desamparados d) a proteção à maternidade e à infância e) a previdência social Questão 4 173/275 5. Para facilitar o planejamento e a organização sobre as necessidades assistenciais da população foi criado: a) o PIS b) a SEPLAN c) a SEFIP d) o CNIS e) o CadÚnico Questão 5 174/275 Gabarito 1. Resposta: D. O INSS é a autarquia federal responsável pela administração da Previdência Social e pelo atendimento dos segurados e concessão de benefícios. 2. Resposta: C. O BPC é um benefício assistencial e não previdenciário, tem caráter não contributivo. 3. Resposta: D. Programas para atingir a situação de pleno emprego, ou redução significativa dos índices de desemprego, são em geral desenvolvidos pela área econômica do governo e não guardam qualquer relação com a Assistência Social ou a Seguridade, embora um dos riscos cobertos seja o desemprego involuntário. 4. Resposta: A. O Sistema de Seguridade Social abrange apenas a proteção nas áreas de assistência social (desamparo ou necessidades sociais), saúde e previdência social. A área da educação não está inclusa em suas previsões. 5. Resposta: E. O CadÚnico foi criado para ajudar a identificar as pessoas com necessidades assistenciais, principalmente aqueles 175/275 Gabarito candidatos a programas de substituição de renda, com finalidade de reduzir a pobreza e eliminar a miséria, por exemplo o Bolsa- Família e programas similares. 176/275 Unidade 6 Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas Objetivos 1. Entender a evolução histórica da proteção do idoso, criança, adolescente e pessoa com deficiência 2. Conhecer a legislação atual de proteção do idoso, criança, adolescente e pessoa com deficiência 3. Entender a legislação como parâmetros de elaboração de políticas públicas setoriais Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 177/275 Introdução Uma análise histórica da legislação de proteção do idoso, da criança e do adolescente, e da pessoa com deficiência no Brasil começa por uma análise das Constituições do Brasil, da influência da economia e história mundial em nossas instituições e nos direitos garantidos aos brasileiros. A Constituição Política do Império do Brasil (1824) era extremamente liberal e estabelecia uma serie de direitos e garantias individuais, embora seja conveniente lembrar que ainda direcionada a uma sociedade essencialmente agrícola e escravocrata. A primeira Constituição da República (1891) já após a abolição dos escravos, caracterizou-se pela pouca implementação de seus princípios democráticos por força de pressão dos interesses de cafeicultores dominantes econômica e politicamente. A próxima Constituição brasileira (1934) pertence ao contexto histórico pós I Guerra Mundial, pós Revolução Constitucionalista de São Paulo de 1932, e pretendia organizar um regime democrático com liberdade e bem-estar social. Mas dura pouco tempo, tem as garantias constitucionais suspensas por um estado de sítio em 1935, e é substituída pela Constituição de 1937 (a primeira com caráter autoritário no Brasil). É de fácil compreensão que nesse momento político de restrição de direitos individuais não encontremos maiores progressos na legislação com relação a proteção de Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 178/275 idosos, crianças e adolescentes ou pessoas com deficiência. Os direitos sociais, principalmente através do reconhecimento de direitos trabalhistas, apesar de previstos na Constituição de 1934, concretizam-se a partir de 1941 e começam a aparecer na legislação a partir de 1943 com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e de 1946 quando a Justiça do Trabalho passou a integrar o Poder Judiciário e ter independência em relação ao Estado. É relacionado aos direitos trabalhistas, principalmente na sua expressão de garantias previdenciárias, que encontraremos as primeiras manifestações de proteção aos idosos, por intermédio de aposentadorias por velhice. No entanto, vale destacar que a proteção é mais direcionada ao trabalhador com direito à aposentadoria por velhice do que propriamente à pessoa idosa. Neste sentido pode-se entender que a “renda mensal vitalícia” criada pela Lei nº 6.179/74 surge como primeira manifestação de proteção ao idoso hipossuficiente, com alcance mais amplo em relação à quantidade de beneficiários possíveis. As manifestaçõesde proteção ao idoso na legislação pré-Constituição de 1988 possuem apenas caráter de substituição de renda; as de proteção à criança e adolescente possuem caráter de tutela estatal de pessoas abandonadas ou delinquentes, com destaque para o Código de Menores. As de proteção às Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 179/275 pessoas com deficiência envolvem o reconhecimento de sua vulnerabilidade, por exemplo, quando tomada como agravante em crimes cometidos contra “deficientes”; a isenção de impostos de importação de veículos destinados a uso exclusivo de pessoas com deficiência física ou paraplégicos; facilitar a acessibilidade aos locais de votação para o eleitor deficiente físico; pensão especial para os que possuem deficiência física causada pela Síndrome da Talidomida. Toda a previsão legislativa anterior à Constituição de 1988 apresenta sistemas de proteção restritos à substituição de renda ou a esquemas assistencialistas do governo ou da sociedade enquanto executora de atividades de caridade e filantropia. A Constituição de 1988 é o marco legal do sistema protetivo com caráter integral, que busca a integração e a inclusão social e participativa, tanto de idosos quanto de crianças, adolescentes, jovens e pessoas com deficiência. Ao mesmo tempo que busca garantir os direitos sociais fundamentais, como saúde, educação, alimentação adequada, liberdade, também deve proporcionar condições para que estas pessoas participem ativamente da sociedade, em todos os aspectos, a fim de atingirem o bem-estar e a dignidade. 1. Proteção do idoso A primeira manifestação a favor do idoso nos textos constitucionais ocorre na Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 180/275 Constituição do Brasil de 1934, ao prever a instituição de sistema de previdência a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. Os princípios do seguro social, com a criação de “caixas de socorros” ou normatização de “aposentadorias” já existia desde 1888 em situações isoladas, mas historicamente é o Decreto nº 4682/1923 – Lei Eloy Chaves – conhecido como marco legal de nascimento da Previdência Social no Brasil, ao criar a “Caixa de Aposentadorias e Pensões” para os trabalhadores das ferrovias. Esta legislação previa dois tipos de aposentadoria: por invalidez ou ordinária (esta em 3 modalidades de acordo com a combinação entre idade e tempo de serviço do trabalhador). Nos anos seguintes este regime previdenciário foi estendido a trabalhadores de outros setores, como os portuários e marítimos, de serviços telegráficos e radiotelegráficos, dos serviços de força, luz e bondes, mineração e de todos os serviços públicos. E após a Constituição de 1934 continuou a ampliar-se a quantidade e diversidade de trabalhadores amparados por regimes de previdência, sempre ligados às empresas ou às categorias profissionais. No âmbito internacional, a ONU realizou em 1982 a primeira Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, da qual o Brasil foi signatário. Em 2002 foi realizada a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, gerando Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 181/275 um documento com recomendações para o desenvolvimento de uma política internacional para o envelhecimento no século XXI: o Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento. A ideia é desenvolver uma sociedade para todas as idades, na qual os idosos tenham oportunidade de continuar contribuindo de forma ativa. Para saber mais A Assembleia Geral da ONU de 1991, com base nas decisões geradas nas primeira Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em 1982, adotou a partir desta data, como forma de incentivar os Estados a incorporar direitos dos idosos em suas legislações nacionais, os PRINCÍPIOS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS PESSOAS IDOSAS1, como segue: 1 Acessado no link <http://direitoshumanos.gddc. pt/3_15/IIIPAG3_15_1.htm> em 02/09/2015 Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 182/275 Para saber mais “Independência 1. Os idosos devem ter acesso a alimentação, água, alojamento, vestuário e cuidados de saúde adequados, através da garantia de rendimentos, do apoio familiar e comunitário e da autoajuda. 2. Os idosos devem ter a possibilidade de trabalhar ou de ter acesso a outras fontes de rendimento. 3. Os idosos devem ter a possibilidade de participar na decisão que determina quando e a que ritmo tem lugar a retirada da vida ativa. 4. Os idosos devem ter acesso a programas adequados de educação e formação. 5. Os idosos devem ter a possibilidade de viver em ambientes que sejam seguros e adaptáveis às suas preferências pessoais e capacidades em transformação. 6. Os idosos devem ter a possibilidade de residir no seu domicílio tanto tempo quanto possível. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 183/275 Para saber mais Participação 7. Os idosos devem permanecer integrados na sociedade, participar ativamente na formulação e execução de políticas que afetem diretamente o seu bem-estar e partilhar os seus conhecimentos e aptidões com as gerações mais jovens. 8. Os idosos devem ter a possibilidade de procurar e desenvolver oportunidades para prestar serviços à comunidade e para trabalhar como voluntários em tarefas adequadas aos seus interesses e capacidades. 9. Os idosos devem ter a possibilidade de constituir movimentos ou associações de idosos. Assistência 10. Os idosos devem beneficiar dos cuidados e da proteção da família e da comunidade em conformidade com o sistema de valores culturais de cada sociedade. 11. Os idosos devem ter acesso a cuidados de saúde que os ajudem a manter ou a readquirir um nível ótimo de bem-estar físico, mental e emocional e que previnam ou atrasem o surgimento de doenças. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 184/275 Para saber mais 12. Os idosos devem ter acesso a serviços sociais e jurídicos que reforcem a respectiva autonomia, proteção e assistência. 13. Os idosos devem ter a possibilidade de utilizar meios adequados de assistência em meio institucional que lhes proporcionem proteção, reabilitação e estimulação social e mental numa atmosfera humana e segura. 14. Os idosos devem ter a possibilidade de gozar os direitos humanos e liberdades fundamentais quando residam em qualquer lar ou instituição de assistência ou tratamento, incluindo a garantia do pleno respeito da sua dignidade, convicções, necessidades e privacidade e do direito de tomar decisões acerca do seu cuidado e da qualidade das suas vidas. Realização pessoal 15. Os idosos devem ter a possibilidade de procurar oportunidades com vista ao pleno desenvolvimento do seu potencial. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criançae do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 185/275 Para saber mais 16. Os idosos devem ter acesso aos recursos educativos, culturais, espirituais e recreativos da sociedade. Dignidade 17. Os idosos devem ter a possibilidade de viver com dignidade e segurança, sem serem explorados ou maltratados física ou mentalmente. 18. Os idosos devem ser tratados de forma justa, independentemente da sua idade, género, origem racial ou étnica, deficiência ou outra condição, e ser valorizados independentemente da sua contribuição econômica. ” A Constituição Federal de 1988 mantém a previsão do regime de Previdência Social contra os eventos oriundos da velhice. No entanto, não se pode considerar apenas a instituição de proteção previdenciária como suficiente para caracterizar a proteção e os direitos concedidos ao idoso. A Constituição de 1988 inova na proteção ao idoso, ao prever o direito ao benefício assistencial de prestação continuada, no valor de um salário mínimo, ao idoso que comprovar hipossuficiência econômica, ampliando a proteção, antes previdenciária, dada pela “renda mensal vitalícia”, e tendo como um dos objetivos da Assistência Social a proteção à velhice. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 186/275 Além disso, a Constituição Federal de 1988 trata em capítulo próprio especificamente dos direitos “da família, da criança, do adolescente e do idoso”. Pela primeira vez o texto constitucional prevê o dever da família, da sociedade e do Estado para garantir os direitos dos idosos: ao amparo na velhice, carência ou enfermidade; à participação plena na comunidade, à defesa de sua dignidade e bem-estar, a garantia do direito à vida, a gratuidade aos transportes coletivos urbanos a maiores de 65 anos. A partir de então, a legislação infraconstitucional tem evoluído progressivamente, de forma a regulamentar e implementar os preceitos constitucionais relativos aos idosos. Mais do que regulamentar a proteção e a garantia de condições mínimas de sobrevivência aos idosos, com a evolução da tecnologia, da sociedade, e principalmente da medicina, permitindo um aumento na longevidade, tornou- se essencial também o estabelecimento de políticas públicas intersetoriais que proporcionem condições de vida, inclusão e participação social dignas. A Lei nº 8.842/94 dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e começa a concretizar os direitos constitucionalmente previstos, estabelecendo entre outras coisas as bases para as políticas públicas futuras, cujos objetivos devem ser: criar condições para a autonomia, integração e participação efetiva dos idosos na sociedade. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 187/275 Através da Portaria nº 1.395/99, do Ministério da Saúde, foi aprovada a Política Nacional de Saúde do Idoso, como parte da Política Nacional de Saúde, cujo foco central era a promoção do envelhecimento saudável e a manutenção da máxima capacidade funcional do indivíduo que envelhece, e a viabilização ficava a cargo dos gestores do SUS (Sistema Único de Saúde), mas já previa uma articulação intersetorial para melhor atingir os objetivos traçados. De forma a aperfeiçoar e atualizar estas diretrizes de política pública, e de conformidade com a nova legislação referente ao idoso, foi aprovada através da Portaria nº 2.528/2006 a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. A Lei nº 10.741/2003 – Estatuto do Idoso – veio complementar os direitos dos idosos, aperfeiçoando ou alterando também os direitos previstos na legislação previdenciária, de assistência social e da Política Nacional do Idoso. De forma complementar, a regular a atuação do Estado na elaboração e implementação da política nacional do idoso, em conformidade com as normas constitucionais e com o Estatuto do Idoso, foi criado em 2004 o CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, como parte integrante da estrutura da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 188/275 2.Proteção da criança e do ado- lescente No contexto internacional, a Assembleia das Nações Unidas enunciou em 1924 a Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança; em 1959 a Declaração dos Direitos da Criança; e em 1989 a Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil em 24/09/1990 e promulgada pelo Decreto nº 99.710/1990. O primeiro texto constitucional que traz alguma preocupação com os direitos específicos da criança foi a Constituição do Brasil de 1937 ao determinar a competência exclusiva da União para legislar em matéria de defesa e proteção da saúde, “especialmente da saúde da criança”. Novamente a Constituição Federal de 1988 aparece como marco legal na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Inclui o amparo de crianças e adolescentes como um dos objetivos da Assistência Social. Estabelece o dever do Estado em proporcionar a garantia de educação infantil e básica obrigatória e gratuita às crianças e adolescentes entre zero e 17 anos de idade. Possui capítulo próprio para tratar de direitos de crianças e adolescentes, no qual determina que é dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar com prioridade o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária; além de protege- Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 189/275 los contra a negligência, a discriminação, a exploração, violência, crueldade e opressão. Na legislação infraconstitucional relacionada a crianças, uma avaliação histórica nos remete ao primeiro Código de Menores (Decreto nº 17.943/1927) que consolidava as normas de assistência e proteção a menores, assim considerada a pessoa com menos de 18 anos de idade. Este código era direcionado especificamente aos menores abandonados ou delinquentes, e não tratava integralmente dos direitos de todas as crianças, mas sim daqueles que necessitavam ser tutelados pelo Estado. O Código de Menores de 1979 (Lei nº 6.697/79) regulava a necessidade de tutela estatal, através de assistência, proteção e vigilância, de pessoas até 18 anos de idade em “situação irregular”, ainda relacionadas a situações de abandono ou infração. A primeira legislação infraconstitucional a regulamentar os direitos integrais a crianças e adolescentes garantidos pela Constituição Federal de 1988 foi o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990). De acordo com o ECA, que revoga e substitui o antigo Código de Menores, considera-se criança a pessoa até doze anos de idade, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade, independentemente da situação regular ou irregular destas. Através da Emenda Constitucional nº 65/2010 cria-se uma nova categoria ao Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e suaRelação com as Políticas Públicas 190/275 lado de crianças e adolescentes, para definição dos direitos mencionados acima. O conceito de “jovem” só foi regulamentado pela Lei nº 12.852/2013, o Estatuto da Juventude, que define como jovem a pessoa com idade entre quinze e vinte e nove anos. Aqueles que tem entre quinze e dezoito anos continua-se aplicando as determinações do ECA, mas também, de forma complementar, as do Estatuto da Juventude no que não sejam conflitantes. É importante que tal legislação possa servir de razão e parâmetro para as políticas públicas, de modo a enfrentar-se diversas situações de violação de direitos de pessoas dessa faixa etária. Para saber mais Após tantos anos, feito um balanço da aplicação do ECA no país, o que se concluiu sobre sua efetividade? No ano em que a lei completa 25 anos, muitos se manifestaram a respeito. Confira na notícia reproduzida abaixo, divulgada pela Agência Brasil12: 2 Disponível no link <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noti- cia/2015-07/eca-movimentos-sociais-destacam-avancos-em-direitos-e-pro- tecao> Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 191/275 Para saber mais ECA: movimentos sociais destacam avanços em direitos e proteção Oriundo da luta de movimentos sociais antes mesmo da promulgação da Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) mudou a forma como o Estado via e tratava os jovens até 18 anos e é considerado por especialistas uma legislação moderna e avançada. A norma, aprovada pelo Congresso Nacional em junho de 1990, completa 25 anos de vigência nesta segunda-feira (13). “Sem dúvida, o Brasil se tornou muito melhor para uma criança viver após o estatuto. Temos que comemorar os resultados importantes, toda mobilização que existe na sociedade, mas não dá para fazer essa comemoração de forma ingênua”, disse à Agência Brasil o coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Mário Volpi. Para a ex-deputada Rita Camata (PSDB-ES), relatora do ECA na Câmara dos Deputados na segunda metade da década de 1980, as discussões em torno da proposta foram “extremamente ricas”. A proposta partiu de entidades sociais, como o Movimento dos Meninos e Meninas de Ruas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que integraram a comissão nacional sobre o tema. “Foi uma grande inovação [após a ditadura] a proposta partir dos movimentos que viviam o cotidiano da criança e do adolescente e sentiam a necessidade de ter uma proteção integral às crianças e aos adolescentes.” Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 192/275 Para saber mais A história do ECA começa no período pré-Constituinte, com a formação das comissões estaduais e da nacional. “Sobre o trabalho dessa comissão no período pré-Constituinte, em 1987, meados de 1988, fez-se com que os direitos da criança e do adolescente fossem para o Artigo 5° da Constituição. O ECA nasceu ali”, acrescentou o presidente nacional da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Everaldo Patriota. Direitos e proteção Diferentemente do chamado Código de Menores, lei de 1979 que antecedeu a legislação atual, o ECA extrapolou o aspecto punitivo e passou a prever direitos e proteção a crianças e adolescentes. “A lei anterior era mais punitiva e a sentença era determinada pela cabeça do juiz. Não havia preocupação com a prevenção. O Estado só intervia quando o adolescente tinha cometido um crime. Menor era o filho do pobre, criança era o filho do rico”, comparou Rita Camata. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 193/275 Para saber mais Na avaliação do advogado Pedro Hartung, do Instituto Alana, entidade que atua em prol da infância, a criança e o adolescente, com o ECA, passaram a ser o centro da preocupação do Estado, das famílias e da comunidade, ao serem considerados sujeitos de direito. “[Eles] passam a ser protegidos de forma especial. Esse foi o entendimento do ECA, seguindo padrões internacionais, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, da ONU [Organização das Nações Unidas], de 1989”, frisou ele, que também é membro do Conselho Nacional dos Direitos da Criança. A relatora da proposta avalia que o Brasil deve “celebrar” os 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente e destaca que a norma não é uma lei acabada. “[Há] ajustes que a sociedade vai pedindo e o legislador tem que ter essa sensibilidade de legislar sempre pensando, projetando avanços. [É preciso] pensar em como ter uma sociedade avançada, integrada, de forma permanente, em que todos tenham oportunidade”, disse Rita Camata. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 194/275 Para saber mais Internatos x ensino Um dos redatores do texto do ECA, o procurador federal aposentado Edson Sêda conta que dois aspectos marcaram as discussões sobre o tema: o fim dos chamados internatos e a universalização do ensino. “O Brasil tinha uma rede nacional de depósitos públicos, que o estatuto acabou, onde se metiam os meninos à força. Eram internatos, verdadeiras fábricas de crimes”, relembrou. Além disso, segundo ele, no final da década de 1980 mais de 30% das crianças não frequentavam a escola. “Na medida em que o estatuto foi sendo aplicado, as famílias foram obrigadas a matricular os meninos e hoje há um resíduo de 3% a 4% [de crianças fora da escola].” Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil Edição: Talita Cavalcante Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 195/275 3. Proteção das pessoas com deficiência É certo que sempre existiram pessoas com deficiência, algum tipo de limitação física, intelectual, funcional. De acordo com a ONU (http://nacoesunidas.org/acao/ pessoas-com-deficiencia/) cerca de 10% da população mundial ou algo em torno de 650 milhões de pessoas vivem com algum tipo de deficiência. Os resultados do CENSO 2000 do IBGE, divulgados em 2003, mostraram que aproximadamente 24,5 milhões de pessoas correspondendo a cerca de 14,5% da população brasileira na ocasião possuíam algum tipo de deficiência, distribuídos entre dificuldade de audição, locomoção, visão e deficiência física ou mental. Os resultados do CENSO 2010, divulgados em 2012, demonstram uma mudança de paradigma, não apenas quanto ao conceito de deficiência que sofreu uma evolução significativa nos últimos anos, mas quanto à metodologia de coleta de dados. Eles apontam para um total de aproximadamente 45,6 milhões de pessoas ou cerca de 23,9% da população brasileira. E, apesar da mudança de paradigma e da afirmação do próprio IBGE sobre as dificuldades na comparabilidade direta entre as estatísticas, ainda assim preocupa por apresentar um resultado que significa quase o dobro da quantidade de pessoas com deficiência com intervalo de 10 anos, o que significaria uma taxa de crescimento espantosa. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislaçõesda Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 196/275 A investigação do tema pessoas com deficiência também sofreu modificações ao longo dos levantamentos censitários para se adequar a essa evolução do conceito de deficiência. Além do Censo Demográfico 2010, o tema esteve presente no primeiro levantamento censitário brasileiro, em 1872, e nos Censos Demográficos 1890, 1900, 1920, 1940, 1991 e 2000, porém, com mudanças nos conceitos utilizados ou na formulação das perguntas, o que não permite a comparabilidade direta entre esses levantamentos. No Censo Demográfico 2010, as perguntas formuladas buscaram identificar as deficiências visual, auditiva e motora, com seus graus de severidade, através da percepção da população sobre sua dificuldade em enxergar, ouvir e locomover-se, mesmo com o uso de facilitadores como óculos ou lentes de contato, aparelho auditivo ou bengala, e a deficiência mental ou intelectual. A investigação dos graus de severidade de cada deficiência permitiu conhecer a parcela da população com deficiência severa, que se constitui no principal alvo das políticas públicas voltadas para a população com deficiência. São consideradas com deficiência severa visual, auditiva e motora as pessoas que declararam ter grande dificuldade ou que não conseguiam ver, ouvir ou se locomover de modo algum, e para aquelas que declararam ter deficiência mental ou intelectual. ”13 3 Relatório do CENSO 2010, pág. 72, acessado em 19/08/2015. Disponível em : <http://biblioteca.ibge.gov.br/ index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=794> Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 197/275 Para saber mais De acordo com a Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Assembleia Geral da ONU em 1975, as “pessoas com deficiência têm direito... • ao respeito pela sua dignidade humana … • aos mesmos direitos fundamentais que os concidadãos… • a direitos civis e políticos iguais aos de outros seres humanos … • a medidas destinadas a permitir-lhes a ser o mais autossuficientes possível • a tratamento médico, psicológico e funcional [e] a desenvolver suas capacidades e habilidades ao máximo [e] apressar o processo de sua integração ou reintegração social … • à segurança econômica e social e a um nível de vida decente … Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 198/275 Para saber mais • de acordo com suas capacidades, a obter e manter o emprego ou se engajar em uma ocupação útil, produtiva e remunerada e se filiar a sindicatos [e] a ter suas necessidades especiais levadas em consideração em todas as etapas do planejamento econômico e social … • a viver com suas famílias ou com pais adotivos e a participar de todas as atividades criativas, recreativas e sociais [e não] serem submetidas, em relação à sua residência, a tratamento diferencial, além daquele exigido pela sua condição … • [a] serem protegidas contra toda exploração, todos os regulamentos e todo tratamento abusivo, degradante ou de natureza discriminatória … [e] a beneficiarem-se de assistência legal qualificada quando tal assistência for indispensável para a própria proteção ou de seus bens …“ Conheça também o texto da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, recepcionado na legislação brasileira pelo Decreto Legislativo nº 186 de 2008, no seguinte link <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Congresso/DLG/DLG-186-2008.htm> Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 199/275 Como destacado acima, o recenseamento já dispunha de informações sobre a quantidade de pessoas com deficiência no Brasil desde 1890. Cabe analisar como e se havia algum tipo de proteção social destinada a estas pessoas. Interessante notar que se referia às pessoas com deficiência por diversos termos, entre os quais: “excepcional”, “defeituoso”, “incapaz”, “inválido”, “portador de necessidade especial”. A Emenda Constitucional nº 01 de 1969 seria um dos primeiros momentos de proteção à pessoa com deficiência na legislação brasileira, ao prever que lei especial disporia sobre a educação de excepcionais. Se considerarmos a possibilidade de confusão de conceitos, podemos intuir que muitas pessoas com deficiência tiveram proteção social a partir das regras de proteção aos inválidos, como por exemplo nas aposentadorias por invalidez. Um bom exemplo disto é o benefício da renda mensal vitalícia, da Lei nº 6179/74, considerado precursor do benefício assistencial de prestação continuada (LOAS) cujos beneficiários eram os maiores de 70 anos de idade e os “inválidos”. Atualmente na lei assistencial os beneficiários são os “deficientes”. A Emenda Constitucional nº 12/78, talvez reflexo da Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU 1975), tratava especificamente da proteção aos Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 200/275 deficientes, para assegurar sua melhoria de condição social e econômica e previa: educação especial e gratuita; assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do país; proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários; possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos. A Constituição Federal de 1988 contém diversos dispositivos relacionados aos direitos dos deficientes, dentre os quais: proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador; direito à saúde e assistência pública, proteção e integração social; percentual de cargos e empregos públicos reservados; aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados; habilitação e reabilitação para integração à vida comunitária; benefício assistencial equivalente a um salário mínimo se comprovada a hipossuficiência econômica; atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino; programas de prevenção e atendimento especializado; acesso adequado a logradouros e edifícios públicos, e ao transporte público. A legislação infraconstitucional que regulamenta tais direitos, a partir de 2008 tem alterações que visam incorporar a nova conceituação de deficiência e atender as diretrizes traçadas pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nova York, 2007), recepcionada no direito Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 201/275 brasileiro pelo Decreto Legislativo nº 186/2008. O Estado tem apresentado diversos programas de inclusão e proteção das pessoas com deficiência nos últimos anos. A Lei 13.146 de 06 de julho de 2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da pessoa com deficiência) - pode ser considerada um marco legal na defesa destes direitos, ao regulamentar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional. Trata de direitos gerais e fundamentaisdas pessoas com deficiência e provoca alterações em outras leis vigentes no país para adequação dos novos parâmetros de proteção e de promoção da inclusão, dando ênfase às políticas públicas setoriais, cujo desafio será a implementação integral da nova lei. Para saber mais A Lei 13.146/2015 criou o benefício de auxílio- inclusão. Este benefício será pago às pessoas com deficiência, moderada ou grave, que receba, ou tenha recebido nos últimos 5 anos, o benefício assistencial de prestação continuada (art. 20 da Lei nº 8742/93) e que passem a exercer atividade remunerada que as enquadre como segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social. Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 202/275 Glossário Pessoa com deficiência: de acordo com o artigo 1º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2007, “pessoas com deficiência são aquelas que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. ” E de acordo com o Estatuto de Inclusão da pessoa com deficiência, a Lei nº 13146/2015, a definição possui leve alteração que não lhe altera o sentido: “Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. ” Recenseamento: de acordo com o dicionário Michaelis, pode ser definido como “Estatística administrativa, periódica, que consiste em determinar o número de habitantes de cada cidade, Estado ou de todo o país, com a qualificação completa de cada um dos habitantes, indicando-se o sexo, nacionalidade, estado civil, profissão etc.; censo. ” Hipossuficiente: de acordo com o dicionário Michaelis, pode ser definido como a pessoa economicamente muito humilde, que não é autossuficiente. Questão reflexão ? para 203/275 Reflita um pouco sobre os seguintes objetivos estudados neste módulo: de se desenvolver uma sociedade para todas as idades, na qual os idosos tenham oportunidade de continuar contribuindo de forma ativa; de promover atividades de habilitação ou reabilitação que facilite a inclusão de pessoas com deficiência na comunidade; do direito à educação gratuita a crianças e adolescentes. Não parece possível a união destes objetivos em torno de algum projeto comum, integrado, organizado pelo Estado ou pela sociedade organizada? 204/275 Considerações Finais (1/2) A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada um marco legal na proteção de crianças e adolescentes, pois a partir dela é que se alterou o conceito de amparo ao abandonado ou controle do delinquente para o de proteção integral do “ser humano” jovem, confirmado pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Também com relação ao idoso a Constituição de 1988 pode ser considerada um marco, apesar de sua regulamentação ter ocorrido apenas em 2003 com o Estatuto do Idoso. Deve ser destacada a mudança no conceito de proteção, antes direcionada apenas ao amparo da pessoa com idade avançada e necessidade de cuidados especiais, e agora mais ampla e voltada também à manutenção de sua participação na comunidade. O Estatuto da Pessoa com deficiência é uma legislação mais recente em relação às do idoso e de crianças e adolescentes, e baseada em Convenção Internacional recepcionada como Emenda Constitucional em 2009. Neste sentido, é natural que haja um esforço maior de incentivo a políticas públicas 205/275 e programas de proteção voltados às pessoas com deficiência, pois é uma fase de implantação inicial do esforço na estruturação de uma rede de proteção. Intui-se que esta rede de proteção já esteja em funcionamento de forma equilibrada e consistente no caso de idosos e de crianças e adolescentes. Considerações Finais (2/2) Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 206/275 Referências CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 05/10/1988 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/ paginas/22/consti.htm> CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 24/01/1967 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/ paginas/22/1967.htm> CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 18/09/1946 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/22/1946.htm> CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 10/11/1937 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/22/1937.htm> CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 16/07/1934 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/ paginas/22/1934.htm> CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL DE 24/02/1891 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/ paginas/22/1891.htm> Unidade 6 • Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas 207/275 CONSTITUICÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL DE 25/03/1824 acessada em 24/08/2015 e disponível para consulta no link: <http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/22/1824.htm> Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, recepcionado na legislação brasileira pelo Decreto Legislativo nº 186 de 2008, no seguinte link <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Congresso/DLG/DLG-186-2008.htm> Relatório do CENSO 2010, pág. 72, acessado em 19/08/2015. Disponível em <http://biblioteca. ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=794> <http://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com-deficiencia/> 208/275 Assista a suas aulas Aula 6 - Tema: Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/7bb98bcca9dcac4f6dafd6ebfd96176b>. Aula 6 - Tema: Constituição Histórica e Principais Legislações da Proteção do Idoso, da Criança e do Adolescente e da Pessoa com Deficiência no Direito Brasileiro e sua Relação com as Políticas Públicas Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ f7b5bae04c41c4735a9aa190f57e6082>. 209/275 1. Qual alternativa não contém dispositivos relacionados aos direitos dos deficientes, de acordo com A Constituição Federal de 1988? a) proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador; b) direito à saúde e assistência pública, proteção e integração social; c) percentual de cargos e empregos públicos reservados; aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados; d) habilitação e reabilitação para integração à vida comunitária; benefício assistencial equivalente a um salário mínimo se comprovada a hipossuficiência econômica; e) bolsa alimentação e materialescolar gratuito para incentivo à educação profissional. Questão 1 210/275 2. Assinale a alternativa incorreta: a) A Constituição de 1988 é o marco legal do sistema protetivo com caráter integral, que busca a integração e a inclusão social e participativa, tanto de idosos quanto de crianças, adolescentes, jovens e pessoas com deficiência. b) O Censo 2010 foi o primeiro a levantar informações sobre a quantidade e o tipo de pessoas com deficiência no Brasil. c) O Estatuto da Pessoa com deficiência é baseado na Convenção das Pessoas com Deficiência da ONU realizada em 2008 e recepcionada como Emenda Constitucional em 2009. d) Até a Constituição Federal de 1988 e sua regulamentação com o ECA, a legislação previa a proteção de crianças e adolescentes apenas através da vigilância e “guarda” de delinquentes e do amparo contra o abandono. e) A “renda mensal vitalícia” era benefício previdenciário destinado a idosos acima de 70 anos e inválidos com hipossuficiência econômica. Questão 2 211/275 3. Assinale a alternativa correta. A responsabilidade pela proteção, ampa- ro e respeito aos direitos dos idosos é: a) da família b) da sociedade c) do próprio idoso d) do Estado e) solidária entre a família, a sociedade e o Estado Questão 3 212/275 4. Qual o conceito atual de pessoa com deficiência para fins de conces- são do benefício de prestação continuada da Assistência Social, previsto na Lei nº 8742/93? a) é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho, e a concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de incapacidade pela perícia médica e assistencial do INSS. b) aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas. E impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. c) aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. E impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. Questão 4 213/275 d) aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. E considera-se impedimento de longo prazo aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. e) é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. Questão 4 214/275 5. Assinale a alternativa correta, de acordo com o ECA e o ESTATUTO DA JUVENTUDE: a) considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade, adolescente a pessoa entre 12 e 14 anos de idade, jovem a pessoa com idade entre 15 e 29 anos b) considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade, adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos de idade, jovem a pessoa com idade entre 15 e 29 anos c) considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade, adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos de idade, jovem a pessoa com idade entre 19 e 29 anos d) considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade, pré-adolescente a pessoa entre 12 e 14 anos de idade, adolescente a pessoa com idade entre 15 e 18 anos, jovem a pessoa com idade entre 19 e 29 anos e) considera-se criança a pessoa até 14 anos de idade, adolescente a pessoa entre 15 e 18 anos de idade, jovem a pessoa com idade entre 19 e 29 anos Questão 5 215/275 Gabarito 1. Resposta: E. A legislação da pessoa com deficiência não prevê o fornecimento de material escolar gratuito ou bolsa alimentação para incentivo dos estudos. 2. Resposta: B. O tema deficiência já esteve presente em outros censos anteriores, porém o Censo de 2010 foi o primeiro realizado de acordo com o novo conceito de deficiência trazido pela Convenção Internacional da Pessoa com Deficiência de 2008. 3. Resposta: E. A Constituição Federal de 1988 prevê a responsabilidade de família, sociedade e Estado em conjunto para proteger as pessoas idosas. 4. Resposta: D. De acordo com o art. 20 da Lei 8742/93 com a redação dada pela Lei nº 13146/2015, a afirmação correta é a de que Pessoa com Deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade 216/275 Gabarito em igualdade de condições com as demais pessoas. E considera-se impedimento de longo prazo aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. 5. Resposta: B. De acordo com o ECA, considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade e adolescente a pessoa entre 12 e 18 anos de idade. De acordo com o ESTATUTO DA JUVENTUDE, considera-se jovem a pessoa com idade entre 15 e 29 anos. Desta forma há uma incidência concomitante das duas leis sobre a faixa etária dos 15 aos 18 anos, desde que não conflitantes, com prevalência do ECA. 217/275 Unidade 7 Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência Objetivos 1. Entender a estrutura das políticas de defesa de direitos sociais no Brasil 2. Conhecer as principais políticas de defesa de direitos relativas aos idosos, criança e adolescente e pessoa com deficiência 3. Identificar os instrumentos de participação social nas políticas de defesa de direitos sociais. Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência218/275 Introdução As políticas públicas de defesa de direitos de idosos, crianças e adolescentes, e das pessoas com deficiência, tem seus parâmetros determinados pela Constituição Federal e pela legislação infraconstitucional específica. Temos como legislação básica a considerar, além da influência do direito internacional e das Convenções e Tratados ratificados pelo Brasil, nas áreas de estudo que interessam a esta disciplina: Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto da Juventude, Estatuto da Pessoa com Deficiência. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República é responsável pela coordenação entre Ministérios e diversos setores para elaboração de políticas de promoção e proteção de Direitos Humanos. Possui em sua estrutura divisões temáticas para melhor condução da elaboração de diretrizes e fiscalização da implementação das mesmas pelos diversos órgãos responsáveis. O desenvolvimento das políticas públicas sobre os direitos de crianças e adolescentes fica a cargo da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA). 1. Políticas de defesa dos direi- tos de crianças e adolescentes Na esfera federal encontramos os programas coordenados pela Secretaria Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência219/275 Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente: • Proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte – Este programa tem execução integrada entre a SDH, governos estaduais e organizações não governamentais, e objetiva: identificar através do Poder Judiciário, dos Conselhos Tutelares e do Ministério Público, crianças e adolescentes sob risco; retirá-los da situação de risco, movendo-os do localda ameaça para novo espaço de moradia e convivência e oferecendo inclusão educacional e profissional. • Observatório Nacional de crianças e adolescentes – área técnica da SDH que age através do Sistema de Informações para a Infância e Adolescência (Sipia) e dos Núcleos Locais de Participação Cidadã dos Adolescentes, com objetivo de disseminar informações e bases de dados facilitando a gestão de programas de proteção aos direitos da infância e envolver a sociedade nos temas importantes de debate para a elaboração de políticas públicas na área. • Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) – responsável por coordenar as medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes infratores. Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência220/275 • Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes – desenvolvido através de ações articuladas regionalmente, com iniciativas e ações como o Disque 100 e o PAIR (Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual, Infanto-Juvenil no Território Brasileiro); com a Comissão Intersetorial de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, composta por ministérios, pela sociedade civil organizada e organismos de cooperação internacional, de forma a tratar o problema de forma global; Programa de Empresas contra a Exploração, promovendo a conscientização de corporações para o problema e incentivando que atuem com responsabilidade social divulgando os direitos da criança e adolescente. • Fortalecimento de Conselhos de Direitos das Crianças e dos Adolescentes e de Conselhos Tutelares – programa de incentivo a estados e municípios para a criação de novos Conselhos Tutelares para ampliar o sistema de atendimento e fiscalização do cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, em cumprimento ao ECA. • Convivência Familiar e Comunitária – a família é tida como o espaço mais adequado para o desenvolvimento humano saudável. Neste sentido Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência221/275 a SDH busca fomentar programas de apoio sociofamiliar. Algumas linhas de atuação na área de fomento à convivência familiar incluem: Protocolo Nacional para a Proteção Integral de Crianças e Adolescentes em Situação de Riscos e Desastres; Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos; Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária - Reordenamento Institucional de Unidades de Acolhimento; Adoção de Crianças e Adolescentes; Crianças e Adolescentes filhos de Mães Presas; Crianças e Adolescentes em Situação de Rua; Crianças e adolescentes submetidos a Castigos Corporais ou tratamento cruel ou degradante; Crianças e Adolescentes Indígenas e Quilombolas; Primeira Infância. Para saber mais Uma das formas de aperfeiçoamento do sistema de adoção de crianças e adolescentes no Brasil foi a criação de uma lista de pretendentes à adoção única em todo o país. Confira na notícia reproduzida abaixo como está a repercussão desta lista única e seus resultados1: 1 Disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-05/cadastro-nacional-e-simplificado- -e-processo-de-adocao-deve-ficar> e acessada em 02/09/2015. Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência222/275 Para saber mais Cadastro nacional é simplificado e processo de adoção deve ficar mais rápido O tempo de espera para adoção deve ficar menor. Essa é a expectativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que lançou na semana passada nova versão do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). O novo modelo é mais moderno, simples e permite o cruzamento de dados entre os pretendentes e as crianças de todo o Brasil. A principal mudança é a interligação nacional das comarcas. Antes, o juiz preenchia as informações, mas elas ficavam restritas ao estado de origem. Quando iniciava a procura por uma criança com o perfil solicitado pelos adotantes, o magistrado tinha de consultar diferentes cadastros, o que, segundo a corregedora nacional de Justiça, ministra Nancy Andrighi, dificultava a tramitação do processo. “O novo cadastro ligará todos os juízes das varas da Infância e da Juventude do Brasil, que, em tempo real, tomam conhecimento da criança colocada para adoção. Em qualquer ponto do país, ele pode se comunicar com o colega que preencheu a ficha da criança para adoção. Por exemplo, um pretendente do Norte do país poderá encontrar uma criança no Sul”, explicou Nancy Andrighi. Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência223/275 Para saber mais De acordo com a corregedora, o preenchimento do formulário também foi facilitado, reduzindo de 35 para o 12 o total de itens a serem informados pelos juízes no momento do lançamento dos dados no sistema. Segundo ela, a ordem da fila de adoção será respeitada. Todos os pretendentes do cadastro são considerados titulares do direito de adotar, já que, para ingressar no banco de dados, é necessário cumprir os trâmites exigidos pela lei. Dados do CNJ indicam que, atualmente, o cadastro tem 33,5 mil pretendentes e cerca de 5,7 mil crianças para adoção. Para Nancy Andrighi, a ferramenta foi concebida para ser um instrumento centralizador das informações nacionais a respeito da adoção. O CNA funcionará como mecanismo de auxílio ao juiz na localização de cadastros coincidentes, de forma a agilizar o processo de adoção. “O que fizemos foi uma simplificação, uma racionalização do cadastro e a interligação nacional. Simultaneamente, o juiz que cadastrou o pretendente é informado por email da existência de uma criança com o perfil pretendido pelo adotante.” Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência224/275 Para saber mais A ministra acrescentou que outro alerta importante é o aviso que será enviado ao juiz caso um registro fique inativo por muito tempo, permitindo verificar e corrigir obstáculos que dificultem a adoção. Presidenta da organização não governamental (ONG) Aconchego, grupo brasiliense de apoio a adoção, Soraya Pereira alertou que nem todas as comarcas do Brasil dispõem do sistema ou têm condições adequadas de informática para implantação do mecanismo. “O cadastro existe para facilitar, para que possa realmente ocorrer essa troca de informações. Não adianta dizer que funcionará em todos os lugares, porque muitos não têm o sistema. Precisamos modernizá-lo, claro, mas também trabalhar com a parte técnica, com os técnicos que assessoram os juízes, que estão em contato com os pretendentes de adoção e que estão alimentando o sistema”, afirmou Soraya. A ministra Nancy Andrighi reconheceu que comarcas, principalmente no interior do país, têm dificuldades de conexão com a internet. Entretanto, ressaltou que o sistema foi desenvolvido para facilitar o trabalho dos juízes e agilizar o processo de adoção. “Estamos tentando corrigir isso. É possível colocar as informações a partir de uma comarca onde a internet funcione normalmente”, concluiu. Agência Brasil Edição: Armando Cardoso Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência225/275 Para saber mais PARA saber mais sobre os programas de incentivo à convivência familiar para crianças e adolescentes, você pode acessar o conteúdo dos seguintes links: <http://www.desaparecidos.gov.br/> <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/programas/convivencia-familiar- e-comunitaria/pdf/orientacoes-tecnicas.pdf> <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/programas/convivencia-familiar-e-comunitaria/pdf/plano-nacional-de-convivencia-familiar-e.pdf> <http://www.criancanaoederua.org.br/> <http://www.naobataeduque.org.br/> <http://primeirainfancia.org.br/> Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência226/275 2. Políticas de defesa dos direi- tos dos idosos O Brasil já foi o país dos jovens. Passados muitos anos, estes jovens atingiram a idade adulta, muitos envelheceram. A expectativa de sobrevida tem aumentado consideravelmente, e as projeções indicam que a população de idosos será maioria em 2050. Trata-se de motivo suficiente para que se ampliem as Políticas Públicas de proteção ao idoso, pois certamente será maior o desafio de cumprir as garantias constitucionais e as regras do Estatuto do idoso. A tendência ao envelhecimento populacional não é realidade apenas no Brasil, mas no resto do mundo, e já preocupa a ONU, que tem desde 2002 o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. O objetivo é desenvolver uma sociedade adequada para todas as idades, permitindo a inclusão dos idosos na sociedade (propiciando até mesmo prolongar sua vida economicamente ativa). A ideia é o envelhecimento ativo, cujo conceito varia de acordo com o ângulo, pois a OMS, por exemplo, entende este envelhecer ativo como envelhecer com saúde. Os programas voltados para a proteção de idosos trata, entre outros: de incentivo à saúde através da promoção de realização de atividades físicas adaptadas; de programas de formação de cuidadores Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência227/275 através do Pronatec; fornecimento gratuito de medicamentos indicados para tratamento de doenças típicas do envelhecimento como diabetes e osteoporose através do Programa de Farmácia Popular; financiamento de moradia própria através do Programa Minha Casa Minha Vida; renda mínima através da concessão do BPC-LOAS para os hipossuficientes. Algumas políticas públicas de proteção aos direitos do idoso são de âmbito federal, mas há também políticas estaduais e municipais, gerenciadas por Conselhos locais. No âmbito federal, a Coordenação Geral dos Direitos do Idoso é o órgão, vinculado à Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, responsável pela promoção e garantia dos direitos da pessoa idosa articulando os agentes públicos para cumprimento das diretrizes do Estatuto do Idoso. Entre os programas de atuação desta Coordenação estão: 1. Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Contra Pessoa Idosa: objetiva promover ações em conformidade com o Estatuto do Idoso. Acesse a íntegra do Plano no link a seguir: <http://www.observatorionacional- doidoso.fiocruz.br/biblioteca/_manu- al/11.pdf> Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência228/275 Veja também o Manual do Cuidador da Pessoa idosa, mais uma iniciativa nos esforços de enfrentamento à violência contra os idosos. <http://www.sdh.gov.br/assuntos/ pessoa-idosa/legislacao/pdf/manual- do-cuidadora-da-pessoa-idosa> 2. Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento – criado na Convenção da ONU realizada em Madri em 2002, reitera o objetivo de desenvolver uma sociedade adequada para todas as idades. Acesse a íntegra do Plano no link a seguir: <http://www. observatorionacionaldoidoso.fiocruz. br/biblioteca/_manual/5.pdf> O Plano da ONU é dividido em 3 eixos prioritários: Pessoas Idosas e o Desenvolvimento; Promoção da saúde e bem-estar na velhice; Criação de ambiente propício e favorável. Sob cada um destes eixos determinam- se os temas e objetivos programáticos, como os listados a seguir: • Reconhecimento da contribuição social, cultural, econômica e política das pessoas idosas; • Participação de idosos nos processos de tomada de decisões em todos os níveis; • Oferecer oportunidades de emprego a todas as pessoas idosas que desejem trabalhar; Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência229/275 • Melhoria das condições de vida e da infraestrutura das zonas rurais; • Diminuição da marginalização de pessoas idosas nas zonas rurais; • Igualdade de oportunidades durante toda a vida em matéria de educação permanente, capacitação e reabilitação, assim como de orientação profissional e acesso a serviços de inserção no trabalho; • Plena utilização das possibilidades e dos conhecimentos de pessoas de todas as idades, reconhecendo os benefícios frutos de uma experiência adquirida com a idade; • Fortalecer a solidariedade mediante a equidade e a reciprocidade entre as gerações; • Redução da pobreza entre as pessoas idosas; • Realização de programas que permitam a todos os trabalhadores terem uma proteção social / seguridade social básica que compreenda, quando for o caso, pensões, seguro invalidez e assistência à saúde; • Renda mínima suficiente para idosos, com especial atenção aos grupos em situação social e econômica desvantajosa; Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência230/275 • Redução dos efeitos acumulativos dos fatores que aumentam o risco de sofrer doenças e, em consequência, a possível dependência na velhice; • Elaboração de políticas para prevenir a falta de saúde entre as pessoas idosas; • Acesso de todos os idosos à alimentação e a uma nutrição adequada; • Eliminação das desigualdades sociais e econômicas por razões de idade ou sexo ou por outros motivos, inclusive as barreiras linguísticas, a fim de garantir que os idosos tenham um acesso universal e em condições de igualdade à assistência à saúde; • Participação de idosos no desenvolvimento e fortalecimento dos serviços de atenção primária de saúde e atendimento a longo prazo; • Fortalecimento e reconhecimento da contribuição de idosos para desenvolvimento quando cuidam de crianças com enfermidades crônicas, inclusive a aids, e quando substituem aos pais; • Melhorar a informação e a capacitação de profissionais de saúde e de serviços sociais quanto às necessidades de idosos; Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência231/275 • Manutenção de máxima capacidade funcional durante toda a vida e promoção da plena participação dos idosos portadores de incapacidades; • Promover o envelhecimento na comunidade em que se viveu, levando devidamente em conta as preferências pessoais e as possibilidades no tocante à moradia acessível para idosos; • Melhoria do projeto ambiental e da moradia para promover a independência de idosos considerando suas necessidades, particularmente dos que apresentam incapacidades; • Melhorar a disponibilidade de transporte acessível e economicamente exequível, para os idosos; • Oferecer assistência e serviços contínuos, de diversas fontes, a idosos e às pessoas que prestam assistência; • Eliminação de todas as formas de abandono, abuso e violência contra idosos; • Criação de serviços de apoio para atender aos casos de abuso e maus-tratos a idosos; Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência232/275 ambém vinculada à SDH/PR temos o CNDI12 (Conselho Nacional dos Direitos do Idoso) criado em 2002 como órgão colegiado para elaborar as diretrizes de implantação da Política Nacional do Idoso (Lei nº 8842/94).23 O Decreto nº 8.114/201334 cria o Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo, fruto dos esforços e debates da sociedade civil durante a3ª Conferência Nacional dos Direitos 2 Consulte detalhes sobre o CNDI no link <http://www. sdh.gov.br/sobre/participacao-social/conselho-nacio- nal-dos-direitos-do-Idoso-CNDI> 3 Disponível para consulta no link: <http://www.mds.gov. br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normati- vas/politica_idoso.pdf> 4 Disponível para consulta no link <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8114. htm> da Pessoa Idosa, em 2011. Trata-se de um compromisso nacional para, a partir de determinados parâmetros mapear as necessidades e planejar as políticas públicas, que envolvem a participação de 17 ministérios, através da Comissão Interministerial, além de Estados e Municípios, para a defesa dos direitos dos idosos, através de 3 eixos: • Emancipação e protagonismo; • Promoção e defesa de direitos; e • Informação e formação. O Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo poderá contar com a colaboração, em caráter voluntário, de órgãos e entidades públicos ou privados, e de pessoas físicas, garantindo dessa forma Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência233/275 a participação social nas definições de políticas públicas e execução de programas de promoção e proteção dos direitos dos idosos. 2. Políticas de defesa dos direi- tos da pessoa com deficiência O Conade (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência) é um órgão superior de deliberação colegiada, ligado à SDH, criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento da política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e as políticas setoriais direcionadas a esse grupo. A Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNPD), é o órgão integrante da SDH responsável pela coordenação das políticas públicas relativas às pessoas com deficiência. Entre os programas desenvolvidos para fomentar a defesa dos direitos da pessoa com deficiência está o “Viver sem Limite – Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência” – lançado em 2011 com o objetivo de implementar novas iniciativas de governo para garantir oportunidades, cidadania e direitos. Trata-se de um conjunto de políticas públicas que incluem: Acesso à educação, Inclusão Social, Atenção à Saúde e Acessibilidade. No Viver sem Limite, as ações direcionadas à garantia de acesso à educação das pessoas com deficiência tem como fundamento proporcionar a igualdade de Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência234/275 oportunidades, e envolvem as seguintes iniciativas: • Salas de recursos multifuncionais; • Escola acessível; • Transporte escolar acessível; • Programa de capacitação técnica; • Acessibilidade na Educação Superior – Incluir; 3. Educação bilíngue; 4. BPC na escola. As ações direcionadas à inclusão social incluem: • BPC no trabalho; • Residências Inclusivas; • Centros-Dia As ações de Atenção à Saúde envolvem identificação precoce de deficiências, prevenção de agravos, tratamento e reabilitação, e incluem: • Programa Nacional de Triagem Neonatal; • Programa de diretrizes terapêuticas; • Centros Especializados em Reabilitação; • Fornecimento de transporte adaptado para acesso à saúde; • Oficinas ortopédicas e ampliação da oferta de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção; • Programa de atenção odontológica. Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência235/275 As ações que envolvem cuidados para proporcionar melhor acessibilidade incluem: • Programa de financiamento de casa própria – construção de casas adaptáveis ou kits para adaptação das moradias atuais; • Centros Tecnológicos Cães-Guia – para treinamento de instrutores e treinadores de cães-guia; • Programa Nacional de Inovação em Tecnologia Assistiva; • Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva; • Crédito facilitado para produtos de tecnologia assistiva. Como referência fundamental para definição de prioridades no atendimento às pessoas com deficiência nos programas do “Viver sem Limite”, a SDH informa que a partir da “constatação de que, ainda que a condição de deficiência esteja presente em diferentes grupos sociais e em diferentes idades, existe uma estreita relação entre pobreza extrema e agravamento das condições de deficiência” o plano terá especial atenção com as pessoas em situação de extrema pobreza. O acompanhamento das ações relativas ao Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência pode ser feito através do website de observatório do respectivo programa no endereço eletrônico da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência236/275 no seguinte link: <http://www.sdh.gov. br/assuntos/pessoa-com-deficiencia/> observatorio e as atividades da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência podem ser acompanhadas no link: <http://www. pessoacomdeficiencia.gov.br/app/> Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência237/275 Glossário Tecnologia assistiva: de acordo com o CAT – Comitê de Ajudas Técnicas, instituído pela Portaria nº 142/2006, “Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência238/275 Glossário Medidas socioeducativas: estão previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e são aplicáveis pela autoridade competente após ato infracional cometido pelo adolescente e definidas de acordo com a capacidade de ele cumpri-la. Podem ser as seguintes: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semi-liberdade, internação em estabelecimento educacional, encaminhamento aos pais ou responsável mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. Cães-guia: animais treinados para ajudar cegos ou pessoas com deficiência visual grave em sua locomoção e atividades diárias. Questão reflexão ? para 239/275 A SDH/PR afirma em seu website que os programas do Plano “Viver sem Limites”, para inclusão de pessoas com deficiência, terão como prioridade o atendimento das pessoas com deficiência em condições de extrema pobreza, por entender-se que tal condição tem relação diretamente proporcional de agravamento das condições da deficiência. Você considera este parâmetro de definição de prioridades adequado? Isso significa que a carência de recursos públicos orçamentários pode restringir o atendimento de pessoas com melhor condiçãofinanceira? Isso não eliminaria a efetividade da proteção constitucional à pessoa com deficiência? 240/275 Considerações Finais (1/2) As políticas públicas de proteção aos direitos dos idosos, das crianças, adolescentes e jovens, e das pessoas com deficiência, constituem um desafio para o Estado na implantação das legislações infraconstitucionais derivadas da Constituição Federal de 1988, bem como das normas programáticas de Convenções em que o país é signatário, emitidas por organismos Internacionais de Direitos Humanos, e incorporados ao nosso ordenamento jurídico. Todas se referem a direitos fundamentais subjetivos e possuem características comuns de inclusão e participação social como objetivos. Parte destas políticas públicas já estão em uma segunda fase, passados mais de 20 anos do surgimento da legislação originária, e a sociedade pode avaliar seus avanços e retrocessos. É o caso da proteção à criança e ao adolescente, agora acrescida dos direitos conferidos pelo Estatuto da Juventude, que em alguns casos inova além da Constituição (sem contrariá-la, mas aperfeiçoando a previsão legal de certos direitos específicos). A proteção ao 241/275 idoso também parte de uma fase inicial com a Constituição Federal de 1988, aperfeiçoada com o Estatuto do Idoso em 2003, e no âmbito da renovação das políticas públicas a caminho do aperfeiçoamento pelo Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo, criado pelo Decreto nº 8.114/2013. A Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência vem inovar e trazer os parâmetros necessários para internalização da Convenção da Pessoa com Deficiência de NY, e dá continuidade à implantação de direitos iniciada já em 2009 quando recepcionada a norma pela Constituição Federal. Há enfim, diversas políticas públicas setoriais para a promoção e a defesa dos direitos dos cidadãos mencionados em andamento, que contam com a participação ativa do governo Federal, de Estados, Municípios e entidades organizadas da sociedade civil, e devem fornecer as bases e as condições para a efetivação dos direitos em questão nos próximos anos. Considerações Finais (2/2) Unidade 7 • Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência242/275 Referências As referências para pesquisa sobre as políticas públicas de proteção aos idosos, crianças e adolescentes e pessoas com deficiência, com base na legislação vigente, foi a consulta aos websites oficiais dos programas desenvolvidos pelo Governo Brasileiro. 243/275 Assista a suas aulas Aula 7 - Tema: Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 866801f37f774b14c222f93b183c1e4b>. Aula 7 - Tema: Políticas de Defesa de Direitos: Idoso, Criança e Adolescente e Pessoa com Deficiência Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/78020863621486a71263e62eb6a2d9bc>. 244/275 1. As políticas públicas de defesa de direitos de idosos, crianças e adoles- centes, e pessoas com deficiência, tem seus parâmetros determinados, além das normas constitucionais, pelas seguinte legislações, exceto: a) Estatuto do Torcedor b) Estatuto do Idoso c) Estatuto da Criança e do Adolescente d) Estatuto da Juventude e) Estatuto da Pessoa com Deficiência Questão 1 245/275 2. Entre os esforços da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA) estão os seguintes programas, exceto: a) Proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte b) Observatório Nacional de crianças e adolescentes c) Programa de incentivo à cultura e ao esporte d) Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes e) Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo Questão 2 246/275 3. Considerando as afirmações abaixo, escolha a alternativa correta: I. A família é tida como o espaço mais adequado para o desenvolvimento humano saudável. II. Uma das formas de aperfeiçoamento do sistema de adoção de crianças e adolescentes no Brasil foi a criação de uma lista de pretendentes à adoção única em todo o país. III. Crianças e adolescentes ameaçados de morte são colocados sob proteção vigiada nos locais em que estão sob risco para não se afastarem do convívio social em que estão integrados. a) apenas a afirmação I é verdadeira; b) todas as afirmações são verdadeiras; c) todas as afirmações são falsas; d) apenas a afirmação III é falsa; e) apenas a afirmação II é verdadeira. Questão 3 247/275 4. São programas do Governo brasileiro voltados para a proteção dos di- reitos dos idosos, ou que atendem este objetivo, os seguintes, exceto: a) Programa Farmácia Popular; b) programa de formação de cuidadores; c) incentivo à saúde através da promoção de realização de atividades físicas adaptadas; d) Programa Minha Casa Minha Vida e) Programa Dança com os Idosos e Bocha Popular para incentivo de participação esportiva Questão 4 248/275 5. O programa “Viver sem Limite” é um conjunto de políticas públicas que envolve as iniciativas a seguir, exceto: a) Acesso à educação b) Refinanciamento de empréstimos consignados c) Inclusão Social d) Atenção à Saúde e) Acessibilidade Questão 5 249/275 Gabarito 1. Resposta: A. O Estatuto do Torcedor não se relaciona com os assuntos tratados nesta aula. É a Lei nº 10.671/03, fruto da preocupação com a segurança dos torcedores nos estádios de futebol, após um período de muita violência entre as torcidas organizadas. 2. Resposta: C. Embora relacionada aos direitos sociais, e importantes para a cultura e a saúde de crianças e adolescentes, o Programa de incentivo à cultura e ao esporte não faz parte dos esforços da Secretaria de Direitos Humanos através do SNPDCA, mas em geral tem ligação dom a Lei de Incentivo ao Esporte (Lei nº 11.438/06). 3. Resposta: D. O programa de proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte prevê que sejam retirados do local da ameaça, para afastá-los do risco, proporcionando novo local de moradia e estudo, longe do convívio social em que se encontram sob risco. 4. Resposta: E. O Programa Dança com os Idosos e Bocha Popular para incentivo de participação esportiva não existe no âmbito das Políticas públicas de proteção aos direitos dos idosos, embora mencione atividades desenvolvidas pelos idosos como lazer. 250/275 Gabarito 5. Resposta: B. O programa Viver sem Limites não tem qualquer relação com financiamento ou refinanciamento de empréstimos consignados. 251/275 Unidade 8 Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios Objetivos 1. Avaliar a perspectiva histórica da proteção de direitos humanos através da Seguridade Social 2. Destacar quais os avanços obtidos desde a Constituição Federal de 1988 3. Apontar os limites e os desafios aparentes na atual conjuntura econômica e social global Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios252/275 Introdução De forma condensada podemos traçar, a partir dos ensinamentos de Flávia Piovesan, alguns limites e desafios à proteção e implementação dos direitos humanos na ordem internacional contemporânea, que refletem diretamente na proteção destes direitos em cada nação individualmente. 2.1 – Universalismo ou relati- vismo cultural. Abordamos em aula anterior sobre a concepção contemporânea de direitos humanos, obtida a partir da Declaração de Direitos Humanos de 1948, em que uma das características principais é o universalismo, no sentido de direitos inerentes à condição de ser humano na qual todos os seres humanosteriam como valor intrínseco a dignidade, ainda que representada pelo seu mínimo existencial ou “mínimo ético irredutível”. Existe atualmente uma nova corrente doutrinária filosófica que busca definir uma noção de direitos humanos não mais universalista, mas relativista, consideradas as especificidades culturais de cada nação ou sociedade. O que permitiria valores diferenciados a ser respeitados por cada cultura, e de certa forma, traria fragilidade para a proteção em âmbito internacional dos direitos humanos, dada a diversidade de direitos fundamentais entre as diferentes culturas ou nações. O desafio se encontra em buscar um novo consenso na construção de parâmetros Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios253/275 internacionais mínimos voltados à proteção dos direitos humanos, baseado em um universalismo de confluência (como sustenta Joaquim Herrera Flores) ou em um multiculturalismo equilibrado (como sustenta Boaventura de Souza Santos), em que o segredo parece estar em conhecer as diferenças culturais e reconhecer o direito à dignidade e os direitos do outro apesar destas diferenças. 2.2 – Globalização econômica e direito ao desenvolvimento O direito ao desenvolvimento foi incluído pela ONU em 1986 como um dos direitos humanos. Ele envolve a necessidade de participação democrática, de justiça social e de políticas nacionais e de cooperação internacional para o desenvolvimento das nações. Ocorre que as desigualdades políticas, sociais e econômicas, resultam em oportunidades diferentes de desenvolvimento das nações, principalmente na economia globalizada atual. Estas desigualdades são a realidade tanto internamente, em um país ou região, quanto entre países. E se os direitos humanos não são apenas os direitos civis e políticos individuais, mas agora ampliados com direitos sociais e culturais, de desenvolvimento e econômicos, de inclusão social, então o grande desafio da era da globalização econômica é o enfrentamento da pobreza. Para este enfrentamento é essencial que Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios254/275 os parceiros econômicos globalizados incluam nas relações entre si não apenas a preocupação com a dimensão econômica das desigualdades, mas com a dimensão humana. 2.3 – Intolerância e vulnerabili- dade de minorias Considerando-se a indivisibilidade dos direitos humanos, e que a violação de um aspecto do ser humano implica na violação a todos os outros, a pobreza advinda das desigualdades econômicas e sociais é um dos grandes desafios das nações. Há que se considerar ainda sobre a natureza destas desigualdades em relação à pobreza, enquanto consequência de limitação de direitos por exclusão econômica, cultural ou social, em razão de qualquer diversidade, de forma a determinar se há grupos especialmente vulneráveis que demandariam políticas específicas de proteção. No Brasil, a criação do sistema de cotas para alunos afrodescendentes seria um exemplo destas políticas específicas no contexto do direito à educação. Assim como a política de cotas para pessoas com deficiência no direito trabalhista. Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios255/275 Para saber mais As empresas muitas vezes alegam dificuldade em preencher toda a cota obrigatória de pessoas com deficiência em seus quadros de funcionários. As alegações são diversas, mas em geral referem-se à falta de pessoal qualificado. Talvez seja mais fácil a estas empresas administrar programas de formação de pessoal destinado a pessoas com deficiência que possam ser aproveitadas na própria empresa, e assim estariam cumprindo também com sua função social. Confira na notícia1 reproduzida abaixo um exemplo de inclusão no trabalho no serviço público: Turma mantém nomeação e posse de deficientes auditivos unilaterais nas vagas destinadas a pessoas com deficiência A 6ª Turma do Tribunal Regional 1ª Região negou provimento à apelação interposta pela União contra sentença que concedeu a segurança a dois candidatos, ora impetrantes, reconhecendo-lhes o direito de serem classificados nas vagas destinadas às pessoas com deficiência em concurso público por serem, os requerentes, deficientes auditivos unilaterais, sendo que tal deficiência é irreversível. 1 Disponível em <https://portal.trf1.jus.br/portaltrf1/comunicacao-social/imprensa/noticias/decisao-turma-mantem- -nomeacao-e-posse-de-deficientes-auditivos-unilaterais-nas-vagas-destinadas-a-pessoas-com-deficiencia.htm> Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios256/275 Para saber mais No recurso, a União alegou que os apelados têm deficiência auditiva unilateral, não se enquadrando no inciso II, do art. 3º, do Decreto nº 3.928/99. Sustentou que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou entendimento no sentido de que surdez unilateral não pode ser considerada deficiência para fins de concurso público. Acrescentou, o ente público, que o edital é a norma de regência do concurso tanto para Administração quanto para o candidato. Ressaltou ainda que a sentença recorrida, além de implicar quebra do princípio da isonomia, revela ofensa aos princípios da legalidade, da moralidade, da impessoalidade, bem como viola os incisos I e II do artigo 37 da Carta Magna de 1988 e os dispositivos legais que disciplinam o ingresso no serviço público. Ao analisar o caso, o relator, desembargador federal Kassio Nunes Marques, entendeu que os requerentes impetraram a ação com o objetivo de anular o ato administrativo que não os reconheceu como candidatos deficientes no concurso por apresentarem deficiência auditiva unilateral. Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios257/275 Para saber mais “Em que pese a recente alteração de entendimento do STJ, no sentido de não ser possível assegurar às pessoas com deficiência auditiva unilateral o direito de concorrer como candidatos deficientes em concursos públicos, na presente hipótese, considerando que, por força da sentença, os impetrantes foram nomeados e empossados, e em se tratando de situação envolvendo pessoas integrantes de grupo vulnerável, vez que comprovadamente pessoas com deficiência, tal situação deve ser mantida em atenção aos princípios da dignidade humana, da boa-fé e da segurança jurídica”, finalizou o magistrado. A decisão foi unânime. Processo nº: 0051848-26.2012.4.01.3400/DF Nesse sentido teríamos não apenas o direito à igualdade, em que todos os homens são iguais e gozam dos mesmos direitos sem distinção ou discriminação de qualquer forma (raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política, origem nacional ou social, fortuna, nascimento...). Mas também teríamos o direito à diferença e à proteção diferenciada consideradas as vulnerabilidades histórico política sociais. Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios258/275 Percebemos aqui novamente a via de mão dupla da proteção dos direitos humanos, em que o mesmo demanda uma ação negativa e outra positiva do outro. Ao mesmo tempo garante-se a proteção contra a violação de determinado direito e a promoção ou implementação daquele direito. No caso das minorias ou categorias mais vulneráveis, por exemplo, o Estado deve dispor de instrumentos de proteção contra sua discriminação ou exclusão e ao mesmo tempo deve promover a sua inclusão, ainda que através de instrumentos diferenciados ou especiais (discriminando-os para proteger). “Daí a urgência no combate de toda e qualquer forma de racismo; sexismo; homofobia; xenofobia e outras formas de intolerância correlatas, tanto mediante a vertente repressiva (que proíbe e pune a discriminação e a intolerância), como mediante a vertente promocional(que promove a igualdade).”12 Ao analisar a evolução histórica e as perspectivas da proteção dos direitos sociais destaca-se a questão da Seguridade Social no Brasil. Assim como em outros países, a Seguridade Social brasileira encontra-se em constante processo de adaptação. A legislação, principalmente a previdenciária, tem sofrido alterações em busca de uma Reforma do sistema desde 1995, de caráter infraconstitucional e constitucional (através de emendas). Em grande parte, 2 PIOVESAN, Flávia – Caderno de Direito Constitucional Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios259/275 tais alterações restringem direitos sociais já conquistados ou torna mais rígidos os requisitos, as condições de elegibilidade aos benefícios previdenciários. O questionamento que se faz diante de tais alterações e da perspectiva de novas reformas legislativas abrange o princípio de proibição de retrocesso, o enquadramento dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais, sua caracterização como normas programáticas ou direitos subjetivos. A partir de uma análise do Sistema de Seguridade Social conforme estabelecido na Constituição Federal e os valores e princípios que embasam o Estado e o ordenamento jurídico a partir dela, concordamos com a conclusão de Wagner Balera23: “A base constitucional da Seguridade Social qualifica toda e qualquer uma das prestações como verdadeiros e próprios direitos públicos subjetivos. Os direitos sociais só podem ser entendidos, enquanto tais, como algo exigível pela população. Sem dúvida, foi essa a qualificação jurídica que os direitos sociais receberam no universo normativo do Brasil, em virtude da posição hierárquica que o valor social do trabalho (art. 1º, IV) possui no interior desse mesmo universo”. 3 Wagner BALERA. Noções preliminares de Direito Previ- denciário. p. 110. Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios260/275 Para saber mais Não só no âmbito da Seguridade Social, mas na proteção dos outros direitos sociais constitucionais, destaca-se o desafio de dar efetividade à nova Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Confira na notícia14 reproduzida abaixo as expectativas geradas pela nova legislação: Presidente Dilma sanciona Estatuto da Pessoa com Deficiência A presidente Dilma Rousseff sancionou ontem (6) a Lei Brasileira de Inclusão – Estatuto da Pessoa com Deficiência, espécie de marco legal para pessoas com algum tipo de limitação intelectual ou física. O texto, aprovado em junho pelo Congresso Nacional, classifica o que é deficiência, prevê atendimento prioritário em órgãos públicos e dá ênfase às políticas públicas em áreas como educação, saúde, trabalho, infraestrutura urbana, cultura e esporte para as pessoas com deficiência. 4 Disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-07/dilma-sanciona-lei-que-garante-direitos- -da-pessoa-com-deficiencia > Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios261/275 Para saber mais O ministro de Direitos Humanos, Pepe Vargas, disse que o estatuto vai consolidar e fortalecer o conjunto de medidas do governo direcionadas às pessoas com deficiência, mas disse que o cumprimento da lei também será responsabilidade de estados e municípios. “Agora, com o estatuto, temos uma legislação que precisa ser implementada na sua integralidade. Não é só uma responsabilidade da União, é também [responsabilidade] dos estados, municípios e da sociedade zelar pelo cumprimento do estatuto”, avaliou. “O Brasil se insere entre os países que têm legislação avançada e importante na afirmação dos direitos da pessoa com deficiência”, acrescentou. O presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade), Flávio Henrique de Souza, lembrou que o Brasil tem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência e disse que a entidade vai cobrar e fiscalizar o cumprimento do estatuto. “O Conade estará atento a todas as questões, porque essa é uma etapa que conquistamos junto com o governo. Essa conquista não é boa somente para as pessoas, para o Brasil, porque o Brasil mostra que tem discussão, tem acesso, tem parceria e que essa pauta coloca as pessoas com deficiência, de uma vez por todas, dentro do tema dos direitos humanos.” Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios262/275 Para saber mais Entre as inovações da lei, está o auxílio-inclusão, que será pago às pessoas com deficiência moderada ou grave que entrarem no mercado de trabalho; a definição de pena de reclusão de um a três anos para quem discriminar pessoas com deficiência; e ainda a reserva de 10% de vagas nos processos seletivos de curso de ensino superior, técnico e tecnológico para este público. Para garantir a acessibilidade, a lei também prevê mudanças no Estatuto da Cidade para que a União seja corresponsável, junto aos estados e municípios, pela melhoria de condições de calçadas, passeios e locais públicos para garantir o acesso de pessoas com deficiência. Luana Lourenço e Paulo Victor Chagas - Repórteres da Agência Brasil Edição: José Romildo DESAFIOS Dentre os desafios encontrados atualmente, considerando-se o mundo globalizado e cada vez mais influenciável no todo por movimentos regionais, o respeito e proteção aos direitos humanos enfrenta, entre outras, as seguintes questões: Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios263/275 • a diversidade cultural, religiosa e política não apenas entre países ocidentais, mas entre ocidente e não-ocidente, que dificulta um conceito comunitário de direitos humanos; • a pressão de movimentos migratórios de refugiados, fugindo da violência, de guerras ou da pobreza e da fome. Estes movimentos colocam em teste o comprometimento das nações com os princípios de Solidariedade Social e Dignidade Humana, demandando políticas de inclusão e desafios de adaptação cultural e social. Os desafios ao dar asilo a refugiados são comuns a qualquer nação, ou seja: possibilitar condições de moradia, saúde, alimentação adequada, emprego, acesso à educação e estímulo à integração social, respeitadas as diferenças culturais e religiosas. Para saber mais Acesse o link <http://www.acnur.org/t3/portugues/o-acnur/> e conheça as atribuições do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, destinado a estudar ações internacionais para a busca de soluções duradouras de proteção das pessoas deslocadas de seus locais de origem em todo o mundo. Acesse também a coletânea de Instrumentos legais para Proteção Nacional e Internacional de Refugiados e Apátridas, no link a seguir: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/scripts/doc. php?file=t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2012/Lei_947_97_e_Coletanea_ de_Instrumentos_de_Protecao_Internacional_de_Refugiados_e_Apatridas> Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios264/275 Ao mesmo tempo enfrentamos desafios internos sobre violação de direitos humanos, sobre retrocesso de direitos sociais, sobre reformas de adequação de legislação com objetivo de ajuste fiscal, e também os desafios externos ou globais. A proteção dada pela Seguridade Social aos estrangeiros em território brasileiro ainda é incompleta e instável. Os acordos internacionais de Seguridade Social possibilitam a proteção do brasileiro residente e trabalhador no país acordante, mas até que ponto tal proteção é efetiva se entendermos que os valores das prestações recebidas podem não ser muito superiores ao mínimo existencial possível. A proteção aos refugiados estará garantida na mesma medida que aos brasileiros e aos outros estrangeiros residentes no país? Além disso, a modernização da sociedade atual traz novos riscos, novas questõessociais cuja proteção será necessária. E ao lado das leis garantidoras e da sociedade participativa e solidária percebemos cada vez mais intolerância às diferenças, mais preconceito, e violência, gerando uma reação do poder de polícia que, de acordo com a Anistia Internacional, no Brasil tem sido uma das mais violentas do mundo. Enfim, é importante que se conheça a legislação protetiva, bem como o contexto social a que se referem e a dinâmica de geração de necessidades sociais, a fim de que possamos participar na gestão das soluções a tais desafios. Unidade 8 • Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios265/275 Glossário5 Refugiados: expatriado, exilado, aquele que, por motivo político, procura abrigo em país estrangeiro. Apátridas: pessoas sem Pátria, sem nacionalidade definida. Migrantes: pessoas que se mudam para outra região diferente da que habitualmente ocupavam. 15 5 Pesquisado no Dicionário Michaelis Online Português disponível em <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/in- dex.php> Questão reflexão ? para 266/275 Como preservar o respeito aos direitos humanos em tempos de terrorismo (Mundial) ou insegurança pública (Brasil)? 267/275 Considerações Finais A partir da análise da evolução histórica da proteção dos direitos fundamentais e sociais no Brasil, percebe-se que a Constituição Federal de 1988 foi responsável por transformações que possibilitaram um grau maior de bem-estar e justiça sociais que nos anos anteriores. Apesar das alterações sociais e tecnológicas, dos avanços e retrocessos ocorridos na legislação social, das limitações políticas e econômicas, nos parece que o saldo é positivo no sentido de efetividade da promoção e defesa dos direitos fundamentais constitucionais. Os desafios que o país enfrenta nas questões de segurança pública, nas tentativas de eliminação do estado de extrema pobreza, nos esforços de educação em direitos humanos em um país cuja sociedade por vezes se mostra tão intolerante, poderiam ser piores se não houvesse um pouco de efetividade na proteção constitucional dos direitos fundamentais dos cidadãos. 268/275 Assista a suas aulas Aula 8 - Tema: Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/550e8cd6759f03e303d1343253a77e4c>. Aula 8 - Tema: Perspectiva Histórica, Avanços, Limites e Desafios Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/7b821144e7c1b07b9ed8fe199f5420ff>. 269/275 1. De acordo com as afirmações abaixo escolha a alternativa correta: I. Na concepção contemporânea de direitos humanos, obtida a partir da DDH de 1948, o universalismo significa tais direitos são inerentes à condição de ser humano. II. Novas concepções de direitos humanos buscam definir o seu caráter relativista, em que para cada cultura poderia corresponder uma combinação diferenciada de valores a serem respeitados internacionalmente. III. Um novo consenso do conceito de direitos humanos é desafio atual em que o segredo parece estar em conhecer as diferenças culturais e reconhecer o direito à dignidade e os direitos do outro apesar destas diferenças. a) todas as afirmações são falsas b) apenas a afirmação I é falsa c) apenas a afirmação II é falsa d) todas as afirmações são verdadeiras e) apenas a afirmação III é falsa Questão 1 270/275 2. Entre os desafios causados pela globalização em relação aos direitos humanos não podemos afirmar que : a) o grande desafio da era da globalização econômica é o enfrentamento da riqueza b) as desigualdades políticas, sociais e econômicas, resultam em oportunidades diferentes de desenvolvimento das nações c) desigualdades são a realidade tanto internamente, em um país ou região, quanto entre países d) os direitos humanos são os direitos civis e políticos individuais, direitos sociais e culturais, de desenvolvimento e econômicos, de inclusão social e) para o enfrentamento da pobreza é essencial que os parceiros econômicos globalizados incluam nas relações entre si a preocupação com a dimensão humana das desigualdades Questão 2 271/275 3. O que significa que há uma via de mão dupla da proteção dos direitos humanos? a) que os homens têm direito à igualdade, mas também tem direito à diferença b) que o mesmo direito demanda duas ações negativas por parte do outro indivíduo ou instituição c) que o Estado pode discriminar para proteger d) que ao mesmo tempo deve-se garantir a proteção contra a violação de um direito e a promoção ou implementação desse direito e) que as categorias vulneráveis devem ser mais protegidas Questão 3 272/275 4. Entre os desafios que uma nação enfrenta ao receber refugiados em seu território não se inclui: a) possibilitar condições de moradia b) fornecer atendimento médico e de saúde c) possibilitar acesso à educação d) estimular a integração social, a inclusão na sociedade e) fornecer transporte gratuito para o retorno ao país de origem após quinze dias Questão 4 273/275 5. Entre os desafios internos enfrentados pelo Brasil, podemos incluir: a) os acordos internacionais de previdência garantem a prestação com renda mensal equivalente ao teto máximo de contribuição b) brasileiros, estrangeiros residentes e refugiados possuem os mesmos direitos perante a Seguridade Social c) constante violação de direitos humanos, retrocesso de direitos sociais, reformas restritivas de direitos para atingir ajuste fiscal d) a modernização da sociedade renova os antigos riscos e não traz nenhum novo e) o preconceito e o desrespeito às minorias foi finalmente erradicado do país. Questão 5 274/275 Gabarito 1. Resposta: D. Todas as afirmações estão no texto e são verdadeiras. 2. Resposta: A. O grande desafio das nações atualmente é o enfrentamento da pobreza, não da riqueza como no enunciado. 3. Resposta: D. A proteção dos direitos humanos sempre envolve uma ação negativa (não violar o direito) e uma ação positiva (promover a existência e a implementação do direito protegido). 4. Resposta: E. A finalidade ao dar asilo aos refugiados é permitir sua inclusão à sociedade receptora e não enviá-lo de volta ao local de fuga em 15 dias. 5. Resposta: C. Os desafios internos envolvem constante violação de direitos humanos, em diversas áreas e realidades. Nos últimos anos reformas causaram retrocesso em direitos sociais, a grande maioria com objetivo imediato de redução de gastos e equilíbrio para o ajuste fiscal.