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Sociologia jurídica Prof. M.Sc. Fernando-Rogério Jardim Introdução à Sociologia. Surgimento das ciências sociais. Contribuições intelectuais: O Renascimento e o Iluminismo. Circunstâncias históricas: Revolução Industrial e Revolução Francesa. Perspectiva filosófica e científica da sociedade. Surgimento das ciências jurídicas. A inserção da sociologia jurídica. O que as ciências sociais estudam? Relações entre os indivíduos e as comunidades; A formação e o funcionamento das instituições; Formas de exclusão, conflito, cooperação e competição; Formas de poder, dominação, hegemonia e autoridade; Manifestações e experiências culturais e simbólicas. Os fenômenos que a sociologia estuda já existiam antes do surgimento dessa ciência, mas só passaram a despertar o interesse humano a partir de certa época. Veremos o porquê. A GÊNESE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS A sociedade existe desde que os homens saíram de seu estado de relativo isolamento e passaram a conviver em coletividade. Porém, a sociedade enquanto preocupação científica teve início somente como resultado dum conjunto específico de: Contribuições intelectuais: o método científico do Renascimento e a crítica social e política do Iluminismo; Circunstâncias históricas: a crise do Antigo Regime pelas Revoluções Industrial (c. 1770) e Francesa (1789). Era das revoluções “A liberdade guiando o povo” Eugéne Delacroix (1798–1863). Definições possíveis. “A sociologia é uma ciência surgida no século XIX; ela trata dos fenômenos sociais com o objetivo de analisar seus efeitos e intervir em suas causas.” Definições possíveis. “A sociologia trata do que todo mundo sabe, mas com uma linguagem que ninguém entende.” emitimos nossas opiniões usando noções vagas do senso comum, sem refletir sobre elas nem submetê-las à análise científica. a sociologia pesquisa a sociedade empregando conceitos precisos, refletindo sobre eles e confrontando-os com a realidade. ingredientes O surgimento da sociologia no século XIX está ligado à união entre: Contribuições intelectuais: Revolução científica - Renascimento (séc. XV-XVI). Contestação política - Iluminismo (séc. XVII-XVIII). Circunstâncias históricas: Revolução Industrial (c. 1770). Revolução Francesa (1789-99). Contribuições intelectuais 1. Revolução científica - Renascimento. Humanismo: o homem é centro da criação e criador de si. Classicismo: inspiração nos modelos da Grécia Antiga. Heliocentrismo: contestação dos dogmas religiosos. Racionalismo: a verdade é observável e demonstrável. Resultados: método científico, navegações, imprensa. renascimento “O homem vitruviano.” Leonardo da Vinci (1452-1519). renascimento Contribuições intelectuais 2. Contestação política - Iluminismo. A idéia de direitos humanos naturais. A ilegitimidade do poder monárquico. A noção de contrato social revogável. As idéias de progresso e de civilização. A crítica às superstições e aos preconceitos. A idéia de autonomia e maioridade individual. O mundo como resultado da vontade humana. Expoentes: Rousseau, Voltaire, Kant, Locke. iluminismo “Experiência de um pássaro numa bola de ar”. Joseph Wright (1734-97). Circunstâncias históricas 1. Revolução Industrial (c. 1770). Expansão marítima européia. Colonialismo e mercantilismo. Acumulação primitiva de riquezas. Renascimento urbano e comercial. Tecnologia e divisão do trabalho. Lutas de classe e mobilidade social. Burguesia como classe ascendente. Revolução Francesa (1789-99). Centralização das monarquias absolutistas. Aumento do domínio político da burguesia. Tensões entre burguesia, nobreza e realeza. Influência do ideário protestante e iluminista. Racionalização, individualismo, secularização. Circunstâncias históricas 2. Revoluções industrial e francesa Como era antes: a sociedade tradicional do Antigo Regime. Sociedade dividida em estamentos conforme o prestígio familiar. Hierarquia rígida e estável, sem possibilidade de mobilidade social. Estrutura: 1º Estado (clero); 2° Estado (nobres); 3º Estado (povo). Autoridade exercida com base na tradição (direito divino dos reis). Influência da moral religiosa na condução da vida pessoal e social. Vida comunitária baseada em fortes laços de cooperação obrigatória. Como ficou depois: a sociedade moderna, ocidental e capitalista. Crise da sociedade estamental e tradicional do Antigo Regime. Sociedade capitalista dividida em classes conforme a riqueza. Estrutura: burguesia (capital e terras); proletariado (trabalho). Possibilidade de mobilidade entre as camadas da sociedade. Secularização do Estado: autoridade burocrática e carismática. Diminuição da influência religiosa na condução da vida social. Desencantamento do mundo e politeísmo dos valores morais. Êxodo rural: passagem da vida agrícola para a vida industrial. Quebra dos laços comunitários, crescimento do individualismo. Surgimento e/ou agravamento dos problemas da sociedade. Desemprego; mendicância; revoluções; suicídios; epidemias. Resultado. As mudanças da sociedade pós-revoluções trouxeram questões que exigiram o esforço de intelectuais (os sociólogos) que pudessem responder: Se nascemos iguais, por que a sociedade é desigual? Como combinar tradição e modernidade? Como conseguir progresso sem provocar desordem? Como resolver problemas sociais inéditos? Como combinar liberdade individual e ordem social? Então As Revoluções Industrial e Francesa provocaram mudanças na sociedade que trouxeram expectativas e incertezas: o que era considerado verdadeiro, foi desacreditado; o que se julgava certo e válido, foi posto em questão; os valores sagrados que orientavam os comportamentos e os pensamentos foram perdendo o sentido; era necessário uma nova ciência que explicasse esse admirável mundo surgido após as revoluções. A GÊNESE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS A série de transformações ocasionadas pela crise do Antigo Regime criaram uma dinâmica social de novo tipo onde: problemas antigos se agravaram; problemas novos apareceram. A sociedade passava, portanto, a ser não apenas uma constatação da realidade, mas um problema propício à abordagem científica, visando o “diagnóstico” e a “terapia” dum corpo social “doente”. A GÊNESE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Surgia assim a sociologia: uma ciência social cujo objetivo era entender: que transformações haviam ocorrido nas sociedades ocidentais? para que destino provável tais sociedades estavam caminhando? que métodos estavam disponíveis para o estudo destes problemas? quais soluções poderiam ser oferecidas para a solução deles? A sociologia é a “ciência da crise” ou a ciência “condenada à eterna juventude”. sociologia Resumo parcial Igualmente, desde que os humanos passaram a compartilhar um convício coletivo, surgiram interesses a serem harmonizados e conflitos a serem solucionados, os quais demandavam certas normas de direito que estabelecessem com equanimidade: os direitos e deveres, o junto e o injusto; a solução pacífica dos conflitos presentes; a prevenção razoável de conflitos futuros. A gênese das ciências jurídicas O direito antes Entretanto, nem sempre tais normas de direito foram consideradas um problema digno de ocupação científica, uma vez que, nas sociedades pré-industriais, o direito era: ou a vontade das divindades imposta aos homens; ou os princípios de funcionamento da natureza. essa natureza poderia se manifestar enquanto: força, tempo, razão. O direito antes Logo, sendo as normas do direito produtos dos deuses ou da natureza, elas eram: universais; necessárias; absolutas; imutáveis; legítimas. Como tal direito não se prestava a atualizações, dúvidas ou críticas, não havia o porquê dele receber uma abordagem científica. Bastava conhecê-lo e respeitá-lo. Aliás: a própria sociedade se encarregava da produção, divulgação e aplicação do direito; sociedades simples possuíam problemas simples que não exigiam especialistas; não havia ainda a separação entre produtores, operadores e destinatários do direito. Direito divino “Moisés com as tábuas da lei.” Rembrandt von Rijn (1606-69). A gênese do direito enquanto ciência Os mesmos processos históricos que levaram à crise do Antigo Regime e ao nascimento da sociedade capitalista e urbana-burguesa, trouxeram consigo: a secularização; a complexidade; a racionalização; a dessacralização; a noção de direitos; a divisão do trabalho. então Todos esses processos levaram à constatação de que o direito, como produto social, recebe as mesmas influências, é resultado das mesmas demandas e conflitos que governam a sociedade como um todo. E sendo a sociedade (cada vez mais) complexa e mutável, era necessário que um grupo de especialistas se encarregassem da periódica interpretação e atualização do sistema jurídico: surgiu assim a ciência do direito. A PROPOSTA DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. A sociologia jurídica é uma disciplina ou conteúdo de interface entre a própria sociologia e as ciências jurídicas. Ela se utiliza dos conceitos, modelos e métodos da sociologia para estudar as relações entre direito e sociedade. A meta da sociologia jurídica é proporcionar uma visão mais ampla e crítica sobre as origens, funções e efeitos do direito: não apenas sob a forma das leis, mas também enquanto sistema coletivo de princípios, valores e normas que regulam o convívio dos indivíduos em sociedade. Em vez de indagar sobre a lógica interna das leis e dos sistemas jurídicos, a sociologia jurídica dedica-se a analisar a forma como os interesses e conflitos são solucionados ou cristalizados na forma de direito (noções sobre o justo e o injusto) e os impactos posteriores desse direito. De um lado, temos uma abordagem interna do direito, a qual se preocupa apenas com a validade das normas e dos sistemas de normas, sem levantar perguntas sobre os efeitos, a justiça, a adequação, a eficácia das leis. (disciplinas dogmáticas). Do outro lado, temos uma abordagem externa do direito, a qual se preocupa também com a eficácia das normas do direito, indagando-se sobre os interesses envolvidos, os resultados obtidos, o contexto de aplicação. (disciplinas introdutórias). A PROPOSTA DA SOCIOLOGIA JURÍDICA. esquema CIÊNCIAS JURÍDICAS exegese jurídica CIÊNCIAS SOCIAIS sociologia SOCIOLOGIA JURÍDICA ESQUEMA SOCIEDADE campo jurídico “causas” “efeitos” sensibilidade social responsabilidade social demandas > decisões As abordagens do direito Positivista (dogmática). “visão interna” o objeto de estudo do direito são as normas e os sistemas de normas; tudo o mais não é objeto das ciências jurídicas, mas das ciências sociais. Hans Kelsen Racionalista (universalista) Immanuel Kant. o direito é produto da razão humana, a qual é universal e necessária. o objetivo da ciência jurídica é encontrar esse conteúdo universal. Historicista (relativista) Friedrich von Savigny. a verdadeira fonte do direito são os costumes e tradições de cada povo. o direito não é expressão da razão pura, mas das diferentes culturas. Realista (pragmática) Oliver Holmes. o verdadeiro direito não é o que se expressa nas leis (direito acabado), mas o que é realmente aplicado nos tribunais (direito sendo feito); o objeto de estudo do direito é a “lei em ação”, a jurisprudência, as idiossincrasias dos juízes e dos júris e a prática cotidiana dos tribunais. As abordagens do direito Sociológica (evolutiva). “visão externa” o objeto das ciências jurídicas é a relação do direito com a sociedade. as leis são produtos de interesses, conflitos, normas e valores sociais. Karl Marx. As abordagens do direito visão interna objeto: normas e sistemas jurídicos preocupação: a validade (as leis aplicam-se?) método descritivo postura: neutralidade missão: “aplicar o direito” perguntas que faz: o que? quem? como? o direito pronto exemplo: Hans Kelsen. visão externa objeto: relações entre direito e mundo social preocupação: a eficácia (as leis funcionam?) método prescritivo postura: engajamento missão: “fazer a justiça” perguntas que faz: para quê? para quem? o direito sendo feito Exemplo: Karl Marx. Os efeitos práticos Positivista ou visão interna Sociológica ou visão externa Cuidado: juristas trabalhando!
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