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A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO CONTEXTO DO CONSELHO DE DEFESA SUL AMERICANO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS / CENTRO 
DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – COPPEAD/ESC
BACHARELADO EM DEFESA E GESTÃO ESTRATÉGICA 
INTERNACIONAL
RODRIGO DA SILVA BRAGA DIAS
A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL DA BASE INDUSTRIAL
DE DEFESA NO CONTEXTO DO CONSELHO DE DEFESA SUL-
AMERICANO
Rio de Janeiro
2017
RODRIGO DA SILVA BRAGA DIAS
A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO REGIONAL DA BASE INDUSTRIAL
DE DEFESA NO CONTEXTO DO CONSELHO DE DEFESA SUL-
AMERICANO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Defesa e Gestão Estratégica
Internacional da UFRJ – Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como requisito parcial
necessário à obtenção de título de Bacharel em
Defesa e Gestão Estratégica Internacional.
Orientadora: Prof. Drª. Daniele Dionisio da
Silva
Rio de Janeiro
2017
Dias, Rodrigo da Silva Braga
 A Política de Integração Regional da Base Industrial de Defesa 
no contexto do Conselho de Defesa Sul-Americano / Rodrigo da 
Silva Braga Dias. - Rio de Janeiro, 2017. 
 84 f. : il. 
 Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Defesa e 
Gestão Estratégica Internacional) – Universidade Federal do Rio 
de Janeiro, 2017. 
 Orientação: Profª. Drª. Daniele Dionisio da Silva.
 1. Defesa 2. Relações Internacionais 3. América do Sul 4. 
Indústria de Defesa 5. Integração Regional I. Título 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS / CENTRO 
DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – COPPEAD/IESC
BACHARELADO EM DEFESA E GESTÃO ESTRATÉGICA 
INTERNACIONAL
Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “A Política de Integração regional da Base
Industrial de Defesa no contexto do Conselho de Defesa Sul-americano”, de autoria do
graduando Rodrigo da Silva Braga Dias, aprovado pela banca examinadora constituída pelos
seguintes professores: 
 ______________________________________________________________________
Profª. Drª. Daniele Dionisio da Silva – DGEI/UFRJ – Orientadora
 ______________________________________________________________________
Profº. Drº. Gilberto Carvalho de Oliveira – DGEI/UFRJ
 ______________________________________________________________________
Profª. Drª. Ana Luiza Bravo e Paiva – UFRJ
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Paulo e Rosangela, por todo o incetivo e apoio que me deram
após a minha vinda repentina ao Rio de Janeiro, para realizar a graduação de Defesa e Gestão
Estratégica Internacional (DGEI), que me encantou por completo. Muito obrigado por
confiarem em mim e por me auxiliarem, com tudo que precisei, para concluir essa graduação.
Amo vocês.
Agradeço a minha namorada, Leticia, muito obrigado pela paciência, compreensão,
carinho, apoio e incetivo. Você é uma pessoa incrível, palavras não são suficientes para
descrever tudo o que sinto por você. É uma dádiva compartilhar essa vida contigo. Te amo
mais que o infinito. 
Agradeço a minha professora e orientadora, Daniele. Por ter me aceitado como seu
orientando, me dando oportunidade de explorar um tema que gosto tanto. Também devo
agradecer por toda atenção, incentivo e auxílio, muito obrigado por ter estado sempre presente
e principalmente por ter me inspirado a continuar os estudos na área da defesa.
Agradeço a ex coordenadora da graduação de DGEI, Maria Isabel, por tudo que fez ao
curso. Também devo agradecimentos especiais para a atual coordenadora do curso, Sandra
Becker; ao secretário Marcus, por sempre me ajudar quando precisei; a professora Ariane, por
ter tido a paciência de me auxiliar na elaboração do projeto desse trabalho; e a todo o corpo
docente que fez parte da minha trajetória em DGEI.
Por fim, agradeço a Escola Superior de Guerra, principalmente ao CMG Fonseca e ao
Gen. Eustáquio, por terem me permitido assistir algumas aulas do Curso Avançado de Defesa
do Sul – CADSUL, que foi da onde surgiu a ideia de elaborar esse trabalho, sobre a
integração regional da base industrial de defesa da América do Sul.
 
RESUMO
Este trabalho possui como área de estudo a sinergia entre a integração regional e a
indústria de defesa na América do Sul, no contexto do Conselho de Defesa Sul-Americano
(CDS). No arcabouço teórico será utilizado a teoria de construção de região, de Iver B.
Neumann, com o objetivo de realizar uma análise documental, permitindo sugerir que o Brasil
estaria discursivamente almejando ser o regional builder (construtor de região) da integração
da Base Industrial de Defesa (BID), e também da ideologia securitária a ser construída e
legitimada pelo CDS. O primeiro capítulo desse trabalho possui o propósito de mostrar o
contexto histórico que desencadeou o fortalecimento da ideia sul-americana de integração
regional, por meio de análise das Conferências Pan-americanas e em seguida pelas reuniões
da Organização dos Estados Americanos (OEA), destacando o desenvolvimento da assimetria
de interesses em matéria de segurança internacional e de defesa. O segundo capítulo refere-se
a uma análise dos documentos da Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), que
posteriormente se tornou a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), que elucidam o
desenvolvimento da proposta de integração regional em indústria de defesa. Mais adiante
serão analisados os principais documentos do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS),
onde são caracterizados planos de ações voltados para a indústria de defesa regional. Esse
capítulo possui como primeiro objetivo pontuar a importância da indústria de defesa para os
Estados, tanto em âmbito interno quanto no externo. Como segundo propósito, busca-se a
compreensão se o processo que levou a proposta de uma integração regional, em matéria de
indústria de defesa, foi uma construção política de região, utilizando a teoria do Neumann. No
terceiro capítulo é pontuado uma análise dos principais documentos da área de defesa de cada
país-membro do CDS, com a finalidade de compreender a importância que cada país dá na
área industrial de defesa e identificar se o Brasil é principal ator que construiu a ideia de
integração regional da indústria de defesa.
Palavras-chave: Defesa; Relações internacionais; Integração regional; Indústria de defesa;
América do Sul; União das Nações Sul Americanas – UNASUL; Conselho de Defesa Sul-
Americano – CDS.
ABSTRACT
This work has as field of study the synergy between the regional integration and the
Defense industry in South America, in the context of South American Defense Council
(SDC). In the theoretical framework will be used the region-buiding theory by Iver B.
Neumann, with the purpose to make a documental analysis suggesting that Brazil would be
discursively aiming to be the regional builder of the Defense Industrial Base (DIB), and also
of the security ideology to be built and legitimized by South American Defense council. The
purpose of the first chapter of this work is to show the historical context that triggered the
strengthening of South American idea of regional integration, through the analysis of Pan-
American Conference, and afterward the Organization of American States (OAS) meetings,
emphasizing the development of the asymmetric interests in regards to international security
and defense. The second chapter refers to an analysis of the South American Community of
Nations (SACN) documents, that later became Union of South American Nations (USAN),
that elucidates the development of regional integration proposal in defense industry. Then will
be analysed the principal South American Defense Council (SADC) documents, which
characterizes action plans for the regionaldefense industry. This chapter has as main objective
to punctuate the importance of defense industry to the countries, both internally and
externally. As a second objective, seeks to understand if the proccess that triggered the
regional integration proposal, related to defense industry, was a political contruction of region,
using Neumann’s region-building theory. The third chapter punctuates an analysis of the main
documents in the field of defense of each member in SADC, with the purpose of
understanding the importance that each country gives to the field of industrial defense and
indentifying if Brazil is the protagonist that created the idea of regional integration of defense
industry.
Keywords: Defense; International Relations; Regional Integration; Defense Industry; South
America; Union of South American Nations – USAN; South American Defense Council –
SADC. 
LISTA DE SIGLAS
ABIMDE – Associação Brasileira das Industrias de Materiais de Defesa e Segurança
ALCA – Área de Livre Comércio das Américas
BID – Base Industrial de Defesa
CASA – Comunidade Americana de Nações
CADSUL – Curso Avançado de Defesa Sul-americano
CATSUL – Fórum Permanente sobre Catalogação na América do Sul
CEED – CDS – Centro de Estudos Estratégicos de Defesa do Conselho de Defesa Sul-
Americano
CDS – Conselho de Defesa Sul-Americano 
CMDA – Conferência entre Ministérios da Defesa das Américas
CT&I – Ciencia, Tecnologia e Inovação
DSN – Doutrina da Segurança Nacional
EB – Exército Brasileiro
EMCFA – Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas
END – Estratégia Nacional de Defesa
ESUDE – Escola Sul-Americana de Defesa
FAB – Força Aérea Brasileira
FAs – Forças Armadas
IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana
JID – Junta Interamericana de Defesa
LBDN – Livro Branco de Defesa Nacional
MB – Marinha Brasileira
MD – Ministério da Defesa
OCIAA – Office of the Coordinator of Inter-American Affairs
OEA – Organização dos Estados Americanos
ONU–Organização das Nações Unidas
PIB – Produto Interno Bruto
PND – Política Nacional de Defesa
PNID – Política Nacional de Indústria de Defesa
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RESIM – Registro Sul-americano de Inventários Militares
SELOM – Secretaria de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia
SEPESD – Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto
SEPROD – Secretaria de Produtos de Defesa
Sisfron – Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
SisGAAz – Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul 
SMI – Sistema Militar Interamericano
SOC – Sistema OTAN de Catalogação
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência recíproca
UNASUL – União das Nações Sul-Americanas
VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………..1
CAPÍTULO 1 – A TEIA HISTÓRICA QUE DESENCADEOU A CRIAÇÃO DA UNASUL 
1.1 ANTECEDENTES:……………………………………………………………………..5
1.2 AS CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS………………………………………….6
1.3 AS CONFERÊNCIAS ENTRE MINISTROS DA DEFESA DAS AMÉRICAS….…..11
CAPÍTULO 2 – DA UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS À CONSTRUÇÃO DO
CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO: A INTEGRAÇÃO REGIONAL DA
INDÚSTRIA DE DEFESA
2.1 A COMUNIDADE SUL AMERICANA DE NAÇÕES…………………………....….21
2.2. A UNIÃO DAS NAÇÕES SUL AMERICANAS…………………………….……....28
2.3 O CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO.………………………………….34
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO…....…………………………..42
CAPÍTULO 3 – INTEGRAÇÃO DA INDÚSTRIA DE DEFESA NA AMÉRICA DO SUL: 
UMA ANÁLISE CONJUNTURAL
3.1 PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL E SUAS BASES INDUSTRIAIS DE DEFESA….44
3.2 O BRASIL:……………………………….…………………………………………....59
CONCLUSÃO………………………………………………………………………………..68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………….……….72
ANEXOS
ANEXO I – Organograma da UNASUL ……………………………….………….…..….86
ANEXO II – Iceberg científico-tecnológico militar ou BID……………..…………….….87
ANEXO III – Acordos bilaterais da Argentina em matéria de defesa……...…...……..…..88
INTRODUÇÃO
O objetivo do presente trabalho é verificar a posição de cada ator Estatal do Conselho
de Defesa Sul-Americano (CDS) sobre o tema da Integração regional da Base Industrial de
Defesa (BID) por meio de uma análise documental. Essa análise será utilizada para responder
a pergunta se a possibilidade de integração da BID no CDS poderia ser uma construção
política promovida pelo Brasil. O arcabouço teórico empregado trata-se do processo de
construção de região elaborado por Iver B. Neumann. Essa teoria define a região como sendo
um processo de construção política, “investiga por que as regiões surgem, e como elas são
construídas discursivamente pela política”1.
O primeiro capítulo desse trabalho tem como objetivo mostrar os fatos que
desencadearam o fortalecimento de uma integração regional na América do Sul, por meio de
uma análise documental de diversas conferências sobre a defesa. A ideia de integração
americana é antiga, iniciando-se pelos ideais de Símon Bolivar, em 1815. A partir do século
XIX, o governo dos Estados Unidos elaborou a Doutrina Monroe, que tinha como objetivo: a
América para os americanos. Essa doutrina foi uma resposta à ação espanhola ao se aderir à
Santa Aliança, podendo intervir na América do Sul, onde haviam várias de suas colônias e ex-
colônias, que estavam em processo de independência ou recém-independentes. 
A partir do ano de 1889, os Estados Unidos tomaram a iniciativa de realizar
conferências Pan-Americanas, com o objetivo dos Estados discutirem sobre medidas de
resolução de controvérsias e a melhora nas relações econômicas desses Estados. Essas
conferências duraram até 1954. Nesse período ocorreram as guerras mundias e o início da
guerra fria. Em questões políticas, originadas nessas conferências, é válido ressaltar o
adensamento da doutrina Monroe e a política do Big Stick, que abriram certo espaço para o
intervencionismo norte-americano nas questões da América Latina. A política da boa
vizinhança e a tentativa de criação do Sistema Interamericano de Defesa, por meio da carta da
Organização dos Estados Americanos (OEA), a Junta Interamericana de Defesa (JID), o
Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e o Pacto de Bogotá, que foram uma
resposta norte-americana pelos países da América Latina terem visto essa posição
intervencionista como algo negativo. Na última conferência pan-americana foi aprovada uma
1 SARRO, T.J. Análise Comparativa das Estratégias Brasileiras de Poder Naval para o Atlântico Sul.
Dissertação – Programa de Pós-Graduação em História Comparada, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2016. p. 24.
1
resolução condenando o comunismo como uma ameaça. As conferências pan americanas
foram substituídas pelas reuniões da OEA. 
Em 1962, Cuba foi excluída do Sistema Militar Interamericano (SMI), por conta do
seu alinhamento ao comunismo. No mesmo ano houve a crise dos mísseis, em Cuba, e a
criação do Colégio Interamericano de Defesa, que pregava uma doutrina anticomunista. Com
o término da Guerra Fria, agora num mundo multipolar, foram iniciadas as Conferências entre
Ministérios da Defesa das Américas, que ocorreram entre 1995 e 2010. Os Estados Unidos
tentam criar uma visão em comum na área de defesa e segurança pelo hemisfério americano,
porém não conseguem consolidar essa visão comum pelas assimetrias de interesses e de
compreensão sobre os temas de defesa e segurança, entre os Estados do continente. 
O capítulo dois contém o histórico, por meio da análise documental, sobre a criação da
União de Nações Sul Americanas (UNASUL) e do CDS, focando no tema da indústriade
defesa, mostrando a importância da integração regional desse setor. O antecedente da
UNASUL é a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), criada em 2004, durante a
terceira Reunião de Presidentes da América do Sul. A CASA possui a finalidade de criar um
caminho sólido para integração da América do Sul. Esse interesse de integração regional seria
justificada pelo compartilhamento de histórico, fragilidades e valores em comuns entre os
Estados sul-americanos, podendo se auxiliarem nos setores econômicos, sociais, culturais,
políticos e de segurança. Suas reuniões começaram em 2005. No ano de 2006, na segunda
reunião da CASA, que deu origem a declaração de Cochabamba, que é o primeiro documento
a ser analisado que contém a menção da cooperação em matéria de defesa e da integração
industrial e produtiva, sendo um marco importante para o desenvolvimento desse trabalho,
pois a partir daí foram formadas ideias para uma integração regional na temática de indústria
de defesa. Esses documentos da CASA entram em sinergia com a teoria do Neumann, que
define a integração como sendo uma construção política, onde os construtores de região
selecionam discursivamente os aspectos em comuns entre os Estados, para gerarem a ideia de
que são integrados. Essas ideias são fortalecidas por meio de instituições, esse trabalho
utilizará da estrutura teórica desse autor com o objetivo de identificar quem foi o construtor
político da ideia de integração regional da indústria de defesa.
A indústria de defesa é importante para os Estados, tanto em questões internas quanto
externas, pois promove o desenvolvimento econômico, tecnológico e capacidade profissional,
e, ao mesmo tempo mantém uma estrutura de cunho dissuasório, por mostrar que o país não
2
depende de tecnologias de defesa externas para manter a sua soberania em casos de situações
de conflitos. Além disso, a indústria de defesa impulsiona a integração regional, favorecendo
o softpower2. A integração regional desse setor permite um desenvolvimento conjunto na
economia, tecnologia e capacidade profissional, providenciando o desenvolvimento de
projetos em comum, o intercâmbio de tecnologias, ideias e pessoas, consolidando a confiança
e a paz na região, pelos Estados serem interdependentes entre si e estarem economicamente e
estruturalmente integrados.
Em 2007, a CASA teve seu nome alterado para UNASUL. Em 2008, com a assinatura
do Tratado Constitutivo da UNASUL, essa organização obteve maior solidez em seus
objetivos. No terceiro artigo, desse Tratado Constitutivo, são mencionados os objetivos
específicos, sendo que quatro deles possuem relevância para esse trabalho, entrando em
sinergia com a teoria do Neumann, de construtores de região, e na relevância da indústria da
defesa: 
• A consolidação de uma identidade sul-americana;
• A integração industrial e produtiva;
• O intercâmbio de informação e de experiências em matéria de defesa;
• A implementação de políticas e projetos comuns na área de ciência, tecnologia e
inovação.
Esses objetivos específicos evoluíram com a criação do Conselho de Defesa Sul-
Americano, que em 2009 iniciou a publicação de seus planos de ação, que possui um tópico
voltado para a indústria e tecnologia da defesa. Esses planos pautam o fomento de projetos em
comum entre os países-membros, para o aumento da confiança entre os mesmos, na
disseminação de um pensamento comum em defesa e na cooperação industrial e tecnológica. 
O capítulo três desse trabalho, remonta na análise dos principais documentos da área
de defesa dos doze países que são membros da UNASUL e do Conselho de Defesa Sul-
Americano, para auxiliar na compreensão será utilizado uma tabela comparativa entre esses
países. É mostrado como cada Estado visualiza a importância da indústria de defesa e da
integração regional desse setor. Esse capítulo possui o intuito de identificar se o Brasil é o
2 Softpower é um conceito proposto pelo analista de relações internacionais Joseph Samuel Nye, Jr, pode ser
traduzido como “poder brando”. Seria o poder de convencimento de um ator estatal, por meio da cultura,
ideologia e política.
3
promotor da ideia de uma indústria regional de defesa integrada, solidificando a teoria de
construtores de região, do Neumann.
4
CAPÍTULO 1: 
A TEIA HISTÓRICA QUE DESENCADEOU A CRIAÇÃO DA UNASUL
Para compreender o processo de criação da União de Nações Sul-Americanas
(UNASUL), e posteriormente do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), nesse capítulo
será feita uma breve revisão histórica sobre os principais mecanismos e fatos políticos que
levaram os Estados Sul-Americanos a elaborarem uma ideia de integração regional na
América do Sul.
1.1 ANTECEDENTES:
Os primórdios da ideia de uma integração americana remontam o ano de 1815, onde
Simón Bolívar, escreveu a Carta da Jamaica, mostrando a sua vontade de unificar a América
espanhola. No ano de 1826, Bolívar fez a primeira tentativa de perpetuar e consolidar essa
ideia de união com a realização do Congresso do Panamá, porém tal iniciativa não vigorou
pela ausência de vários países e a falta de uma organização administrativa dos mesmos, que
posteriormente caminharam para repúblicas3. 
No entanto, durante o século XIX, os Estados Unidos possuíam um posicionamento
isolacionista no panorama internacional. Com o advento do interesse espanhol, de querer se
aliar à Santa Aliança, criada em 1815 no Congresso de Viena, por um acordo elaborado entre
o Império Russo, Império Austríaco e Reino da Prússia para combater os ideais liberais que
ganharam força com a Revolução Francesa e tentar gerar uma recolonização. Com isso a
Espanha deteria um poder intervencionista que poderia frear o processo de independência de
suas colônias presentes no continente americano, fazendo os Estados Unidos perderem
influencia no hemisfério americano. 
Sendo assim James Monroe (Presidente dos EUA entre 1817 e 1825), mantendo um
posicionamento anticolonialista, deu como resposta, em 1823, a criação de sua doutrina que
3 MOUSSALLEM, Ricardo. O Significado da Criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, para o
Brasil, no contexto da integração da América do Sul. 282 p. Projeto de pesquisa – Programa de pós-
graduação stricto sensu em Ciências Militares, 2011. Disponível em:
<http://www.eceme.ensino.eb.br/images/IMM/producao_cientifica/teses/mo-4742-moussalem.pdf>.
Acessado em: 09 de dezembro de 2016. p.27
5
defendia um alinhamento protecionista no hemisfério americano. Os Estados Unidos não
iriam se envolver em conflitos europeus, a doutrina negava a criação de novas colônias
europeias na região e abolia as intervenções europeias nas questões internas dos países
americanos4, porém validava o intervencionismo norte-americano nos outros Estados da
América. Essa política ficou conhecida como Doutrina Monroe e visava a América para os
americanos.
1.2 AS CONFERÊNCIAS PAN-AMERICANAS
No ano de 1889, os Estados Unidos inciaram reuniões periódicas com os outros
Estados americanos, onde aos poucos foram criadas normas e instituições. Esses encontros
possuíam o objetivo5:
“[…] de discutir e recomendar para adoção dos respectivos governos um plano de
arbitragem para a solução de controvérsias e disputas que possam surgir entre eles,
para considerar questões relativas ao melhoramento do intercâmbio comercial e dos
meios de comunicação direta entre esses países, e incentivar relações comerciais
recíprocas que sejam benéficas para todos e assegurem mercados mais amplos para
os produtos de cada um desses países”. OEA, Nossa História. 
Entre 1889 e 1954 ocorreram as dezconferências Pan Americanas6 que seguiam a
ideia do pan-americanismo, um movimento que visava a distinção e o distanciamento do
Velho Mundo (Europa) para o Novo Mundo (América)7, ainda apoiada nos pilares da
Doutrina Monroe8. Segundo Leslie Bethell, o Brasil participou de todas as conferências e
manteve um posicionamento pró norte-americano. 
Na I Conferência Pan Americana, em Washington (1889 – 1890) foi estabelecido a
União Internacional das Repúblicas Americanas, inicialmente composta por 18 Estados
americanos, nela foi estabelecida a coleta e a distribuição de informações comercias9. Esse
4 AYERBE, L. F. A Reinvenção da Doutrina Monroe, Determinismo cultural e política externa de
Estados Unidos pós-11/09. Disponível em:
<http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/arquivos/nucleos/artigos/Ayerbe1.pdf>. Acessado em: 09
de dezembro de 2016. p.1-2
5 Organização dos Estados Americanos. Nossa História. Disponível em:
<http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 05 de dezembro de 2016.
6 Ou Conferências Internacionais Americanas
7 BETHELL, Leslie. Conferências Pan-Americanas. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf>. Acesso em: 19 de novembro de 2016.
8 Elaborada em 1823, nela repercutia que o continente americano não acataria às interferências europeias,
surgindo o ideal de América para os Americanos.
9 Organização dos Estados Americanos. Nossa História. Disponível em: 
<http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 05 de dezembro de 2016.
6
movimento da “América para os americanos”, previsto pela Doutrina Monroe e fomentado
pela criação da União Pan-americana abriu espaço para a intervenção norte-americana no
hemisfério. Theodore Roosevelt (Presidente dos EUA entre 1901 e 1909) foi eleito num
período em que os EUA estava passando por uma crise de produção, assim definiu a América
do Sul como sendo uma área de interesse, visando maior projeção norte-americana como
parte da estratégia de reerguer os EUA10. Um exemplo explícito é a política que ficou
conhecida como Big Sitck, criada pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt (1901-
1909), que mostra a utilização do hard power para a realização de seus feitos políticos,
deixando claro a posição intervencionista dos norte-americanos. Caso algum Estado vá contra
a corrente das opiniões de seu governo terá que se preparar para enfrentar uma atitude hostil
por parte dos Estados Unidos:
Há um antigo provérbio que diz: fale calmamente e carregue um bastão; você irá
longe. Se a nação americana falar calmamente, e ainda construir e continuar a
trabalhar arduamente no campo de maior treinamento, uma marinha bastante
eficiente, a Doutrina Monroe irá longe. Theodore Roosevelt, 2 de abril, 190311.
Theodore Roosevelt não poderia perder a hegemonia na região sul-americana, onde
havia um nicho de mercado que poderia ser aproveitado e assim tirar o seu país da crise. Em
outro discurso dele há uma clara autodenominação dos EUA como sendo uma polícia
internacional, mostrando que caso os países vizinhos não sigam o que os EUA considera
como sendo decente e civilizado em questões políticas e sociais ele será obrigado a intervir
por conta das especificações da Doutrina Monroe:
Tudo o que este país deseja é ver os países vizinhos estáveis, organizados e
prósperos. Qualquer país cuja população se conduz de maneira adequada pode
contar com a nossa calorosa amizade. Se uma nação mostrar que sabe como agir
com razoável eficiência e decência, em questões sociais e políticas, se consegue
manter a ordem e cumprir com suas obrigações, não precisar temer nenhuma
interferência dos Estados Unidos. Injustiça crônica ou impotência que resulte em um
afrouxamento das rédeas da sociedade civilizada, seja na América ou em outro lugar,
no final requer intervenção de uma nação civilizada, e no hemisfério ocidental o
cumprimento da Doutrina Monroe por parte dos Estados Unidos pode forçá-lo,
embora relutante, em flagrantes casos de injustiça ou impotência, ao exercício do
poder de polícia internacional. Theodore Roosevelt, 6 de dezembro, 1904.12
10 MOUSSALLEM, Ricardo. O Significado da Criação do Conselho de Defesa Sul-Americano . 282 p.
Projeto de pesquisa – Programa de pós-graduação stricto sensu em Ciências Militares, 2011. Disponível em:
<http://www.eceme.ensino.eb.br/images/IMM/producao_cientifica/teses/mo-4742-moussalem.pdf>.
Acessado em: 09 de dezembro de 2016. p.29-30.
11 There is a homely old adage which runs:Speak softly and carry a big stick;you will go far. If the American
Nation will speak softly,and yet build,and keep at a pitch of the highest training, a thoroughly efficient
navy,the Monroe Doctine will go far. Theodore Roosevelt, April 2, 1903. THEODORE ROOSEVELT. The
Complete Speeches and Addresses of Theodore Roosevelt. Disponível em: <http://www.theodore-
roosevelt.com/images/research/txtspeeches/41.txt>. Acesso em: 23 de novembro de 2016.
7
Como reflexo à posição norte-americana intervencionista doa política do Big Stick, durante as
conferências Pan Americanas da Cidade do México (1901), Rio de Janeiro (1906), Santiago
(1923) e Havana (1928) houve o fomento da preocupação de vários países da América Latina
a respeito do modelo político intervencionista norte-americano13. 
No ano de 1933, na conferência de Montevidéu, Franklin Delano Roosevelt
(presidente dos EUA entre 1933 e 1945) apresentou a Política da Boa Vizinhança que
caracterizava-se no comprometimento dos EUA para cessar as intervenções que haviam sido
prevalecidas desde então. Houve o estreitamento da relação diplomática com a América do
Sul onde o foco foi o investimento e venda de tecnologia militar e a colaboração econômica,
tudo isso em troca de apoio político. Essas estratégias proporcionaram aos EUA força para
competir internacionalmente com a Alemanha nacional-socialista, que vinha desenvolvendo
poderio militar, incluindo indústrias de defesa. 
Na vertente econômica, a Política da Boa Vizinhança, auxiliava os EUA a saírem da
crise de 1929, formando mercados externos na América do Sul e garantindo suprimentos e
matérias-primas para a sua indústria14. Também houve esforço de aproximação cultural no
período da Segunda Guerra, com a viagem de várias celebridades para a América Latina,
especialmente com a visita de Walt Disney em 1941. Disney, foi indicado pelo presidente
Delano Roosevelt para Nelson Rockefeller. Rockefeller era o diretor da Secretaria para
Assuntos Interamericanos (OCIAA – Office of the Coordinator of Inter-American Affairs).
Essa recomendação foi feita para que Disney, junto com Rockefeller, pudessem criar um
projeto de aproximação e inserção cultural entre os dois polos do continente americano15. Em
12 All that this country desires is to see the neighboring countries stable, orderly, and prosperous. Any country
whose people conduct themselves well can count upon our hearty friendship. If a nation shows that it knows
how to act with reasonable efficiency and decency in social and political matters, if it keeps order and pays
its obligations, it need fear no interference from the United States. Chronic wrongdoing, or an impotence
which results in a general loosening of the ties of civilized society, may in America, as elsewhere, ultimately
require intervention by some civilized nation, and in the Western Hemisphere the adherence of the United
States to the Monroe Doctrine may force the United States, however reluctantly, in flagrant cases of such
wrongdoing or impotence, to the exercise of an international police power. Theodore Roosevelt,December6,
1904. The American Presidency Project. Theodore Roosevelt: "Fourth Annual Message," December 6,
1904. Online by Gerhard Peters and John T. Woolley, The American Presidency Project. Disponível em:
<http://www.presidency.ucsb.edu/ws/?pid=29545.>. Acesso em: 26 de dezembro de 2016.
13 BETHELL, Leslie. Conferências Pan-Americanas. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CONFER%C3%8ANCIAS%20PAN-
AMERICANAS.pdf>. Acesso em: 19/11/2016. P. 6-9.
14 Organização dos Estados Americanos. Nossa História. Disponível em:
<http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 05 de dezembro de 2016.
15 LEITE, Sidney Ferreira. Um pouco de malandragem. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/um_pouco_de_malandragem.html>. Acesso em: 05 de
dezembro de 2016.
8
1942, durante a terceira reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das
Repúblicas americanas, é criada a Junta Interamericana de Defesa (JID) com o objetivo de
preparar os Estados americanos para a defesa do continente através da realização de estudo e
por recomendar medidas para essa finalidade. 
Em 1945, a Segunda Guerra chega ao seu fim, esse é o início do processo que
configurou o mundo de maneira bipolar entre a União Soviética e os Estados Unidos e com
isso ocorre a Conferência Interamericana sobre Problemas da Guerra e da Paz, em suas
resoluções mais importantes foram definidas que: os Estados do continente americano se
declararam solidários em que qualquer ataque efetuado contra um Estado constitui um ataque
ou uma ameaça para todos16; que é indispensável a existência de um organismo militar
permanente que estude e resolva os problemas que afetam o hemisfério ocidental; que a Junta
Interamericana de Defesa tem provado ser um organismo para o intercâmbio de pontos de
vista, para o estudo de problemas e fazer recomendações sobre a defesa do hemisfério,
promovendo uma colaboração estreita entre as forças militares, navais e aéreas nos Estados
americanos17. 
Por fim, os EUA focaram os seus esforços para a reconstrução da Europa. Com a
evolução da Guerra Fria, e o aumento do poder militar russo e depois chinês, os EUA voltou o
seu olhar para o pacífico, na observação da União Soviética por conta da ameaça comunista.
Desse modo, nesse mesmo ano, a Política da Boa Vizinhança teve o seu fim, pois as
prioridades norte-americanas foram alteradas com a evolução da guerra fria. Pode-se dizer
que esses acontecimentos do pós Segunda Guerra posteriormente geraram os fatos que foram
revertidos para o distanciamento de interesses entre os dois polos do hemisfério americano.
Em 1947 se iniciou a Guerra Fria, com o passar do tempo as assimetrias da
bipolaridade mundial obtiveram mais força. Nesse mesmo ano houve a Conferência
Interamericana para Manutenção da Paz e Segurança no Continente e é assinado o Tratado
Interamericano de Assistência recíproca (TIAR), um mecanismo de defesa coletiva que pode
ser resumido pelo seu Artigo 3º:
“As Altas Partes Contratantes concordam em que um ataque armado, por parte de
qualquer Estado, contra um Estado Americano, será considerado como um ataque
contra todos os Estados americanos, e, em consequência, cada uma das ditas Partes
Contratantes, se compromete a ajudar a fazer frente ao ataque, no exercício do
16 Posteriormente, essa resolução evoluiu para uma das diretrizes do TIAR, em 1945, com a Conferência
Interamericana para Manutenção da Paz e Segurança no Continente, realizada no Rio de Janeiro.
17 Junta Interamaericana de Defensa. Reseña Histórica. Disponível em: <http://www.jid.org/quienes-
somos/resena-historica-de-la-sede-de-la-jid>. Acesso em: 05 de dezembro de 2016.
9
direito imanente de legítima defesa individual ou coletiva que é reconhecido pelo
Artigo 51 da Carta das Nações Unidas.”
Na IX Conferência, em Bogotá (1948), a União de Repúblicas Americanas teve o seu
nome alterado para Organização dos Estados Americanos (OEA), após a apresentação da
Carta da OEA. Outra resolução importante foi o Tratado Americano de Soluções Pacíficas18,
denominado de Pacto de Bogotá que pelo Artigo LX do tratado, ele especifica os diversos
meios de solução pacífica de controvérsias que podem ser aplicados pelos Estados signatários
(Conselho permanente da OEA, 2000). Com a OEA, a JID, o TIAR e o Pacto de Bogotá há a
estratégia de ir se formando um Sistema Militar Interamericano (SMI) que demonstrava uma
regular cooperação militar na América19. 
A X Conferência em Caracas (1954) condenou o comunismo como uma ameaça ao ter
aprovado uma resolução chamada de “Declaração de Caracas”, que considerava o controle de
um Estado americano por forças comunistas como uma ameaça à soberania e integridade de
todos os Estados americanos20, assim deixando válido uma ação intervencionista por parte dos
EUA. Essa foi a última conferência Pan-americana que foi sucedida pelas reuniões e trabalhos
da OEA. 
Poucos anos depois, em 1959 houve a Revolução Cubana, onde Cuba adere a um
sistema político com os ideais comunistas, tornou-se uma ameça aos interesses dos Estados
Unidos, justamente por compactuar com a União Soviética. Em janeiro de 1962, na Resolução
IV da Oitava Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, Cuba foi excluída
do Sistema Interamericano:
1. Que a adesão de qualquer membro da Organização dos Estados
Americanos ao marxismo-leninismo é incompatível com o Sistema
Interamericano (…)
[…]
3. Que essa incompatibilidade exclui o atual Governo de Cuba da
participação no Sistema Interamericano.
18 No quadro jurídico da OEA, a solução pacífica de controvérsias também é citada na Carta da OEA e no
TIAR.
19 SOUZA, T. A. F. Cooperação em defesa e a a região sul-americana. 173 p. Dissertação (mestrado) -
Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais, UFRGS, 2015. p.55
20 FGV, CPDOC. X Conferência Interamericana. Disponível em:
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/glossario/x_conferencia_interamericana>. Acesso em:
de dezembro de 2016.
10
Nesse mesmo ano, no mês de outubro ocorreu a crise dos mísseis de Cuba. Em
resposta aos mísseis norte-americanos, fixados na Itália e na Turquia, a União Soviética teve a
decisão de implantar mísseis nucleares em Cuba, após alguns dias de negociações ambos os
Estados decidiram retirar essas armas. Ainda em outubro de 1962, é inaugurado o Colégio
Interamericano de Defesa (CID), onde se consolida a proposta da JID de intercâmbio de
conhecimentos na área de defesa entre as nações do continente americano, o Colégio depende
de financiamento da OEA e a da JID. Nele é fomentado a Doutrina da Segurança Nacional
(DSN):
Elaborada pelo Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos e
difundida através das escolas militares, para a América Latina. As ditaduras
que se estabeleceram no Cone Sul tiveram como sustentação ideológica os
preceitos dessa doutrina21.
De acordo com Fernandes, essa doutrina estabelece a necessidade de proteger os
valores democráticos e ocidentais contra a ameaça comunista22. Nesse período que se
enquadra entre o pós Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, os Estados da América do Sul
se posicionaram a favor dos Estados Unidos23. Segundo Abdul-Hak, com o passar do tempo,
são reveladas as incapacidades da tentativa de implementar um Sistema Militar
Interamericano. A OEA, por várias vezes, foi ineficaz em evitar o uso da força, como exemplo
se pode citar intervenções norte-americanas nos seguintes Estados: a invasão da República
Dominicana (1965); desestabilizaçãoda América Central (1980’s); intervenções armadas na
Granada (1983) e no Panamá (1989). O TIAR perdeu sua credibilidade durante a Guerra das
Malvinas, em 1982, pelos Estados Unidos apoiarem o Reino Unido em vez de auxiliarem a
Argentina24.
21 FERNANDES, Amanda Simões. A reformulação da Doutrina de Segurança Nacional pela Escola
Superior de Guerra no Brasil. Antíteses. vol. 2, n. 4, jul.-dez. De 2009. p.838-9.
22 FERNANDES, Amanda Simões. A reformulação da Doutrina de Segurança Nacional pela Escola
Superior de Guerra no Brasil. Antíteses. vol. 2, n. 4, jul.-dez. De 2009. p. 837.
23 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde (Edição em português. Online), v. 04,
2010. p7.
24 ABDUL-HAK, Ana Patrícia Neves Tanaka. O Conselho de Defesa Sul-americano (CDS): Objetivos e
interesses do Brasil. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013.p.43-44
11
1.3 AS CONFERÊNCIAS ENTRE MINISTROS DA DEFESA DAS AMÉRICAS
Conforme Fiori, com o término da Guerra Fria, a maioria dos governos da região sul-
americana aderiram às políticas e reformas neoliberais preconizadas pelos Estados Unidos25.
Em dezembro de 1994, por meio da OEA (que atua como secretária técnica do processo de
Cúpulas), foi realizada a primeira Cúpula das Américas, com o objetivo de afirmar o
compromisso regional com a democracia, a justiça e as oportunidades, estabelecendo uma
nova arquitetura de relacionamentos regionais, para construir parcerias que preservem os
valores compartilhados, promovendo a prosperidade26. Como resultado dessa primeira reunião
foram dadas as propostas por parte dos EUA para a criação da Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA) e foram originadas as Conferências entre Ministérios da Defesa das
Américas (CMDA), um espaço de discussão sobre as questões de defesa no hemisfério
americano. A primeira CMDA ocorreu em 1995:
O ministério da defesa das Américas de julho de 1995, em Williamsburg, Virgínia,
reuniu líderes civis e militares da região pela primeira vez. Durante os três dias de
reunião, discutiram uma ampla gama de questões de segurança em uma atmosfera de
diálogo aberto e confiança mútua. (Casa Branca, Washington, 1995)27
Nessa I Conferência em Williamsburg foram definidos seis princípios: 
• A preservação da democracia como sendo a base para garantir a segurança mútua; 
• O reconhecimento que as forças armadas e de segurança desempenham um papel
fundamental para garantir o apoio dos interesses dos Estados e atuem dentro dos
limites das Constituições nacionais, respeitando os direitos humanos; 
• Aumentar a transparência nos assuntos relacionados a defesa através do intercâmbio
de informações e um maior diálogo entre civis e militares; 
25 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde (Edição em português. Online), v. 04,
p. 03-18, 2010. p7.
26 CONFERENCE OF DEFENSE MINISTERS OF THE AMERICAS, I. 1995. The Williamsburg 
Principles. Disponivel em: 
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/i_cdma_williamsburg_principles_english.pdf>. Acesso em 01 de 
novembro de 2016.
27 The July 1995 Defense Ministerial of the Americas in Williamsburg, Virginia gathered civilian and military
leaders of the region for the first time. During three days of meetings, they discussed a broad range of
security issues in an atmosphere of open dialogue and mutual confidence.(The White House,Washington,
1995). Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/i_cdma_williamsburg_principles_english.pdf>. Acesso em 01 de
novembro de 2016.
12
• Definir como meta a resolução de disputas por meio de acordos, adotando medidas
para o fortalecimento da confiança, reconhecer que o desenvolvimento da segurança
econômica afeta a defesa e vice-versa;
• a promoção da cooperação da área de defesa, apoiando as operações de manutenção de
paz pelo critério da Organização das Nações Unidas (ONU);
• Fomentar a cooperação no apoio da luta contra o narcoterrorismo28.
O último desses seis princípios apresentados durante a primeira CMDA mostra a
preocupação para as novas ameaças à segurança internacional. De acordo com Buzan e
Hansen durante o período da Guerra Fria, a definição de ameaça à segurança internacional se
limitava no enlace político e militar do combate ao comunismo29. Os temas das agendas
internacionais rodeavam em torno de discussões sobre o perigo das armas nucleares e que a
União Soviética representava uma profunda ameaça militar e ideológica para o Ocidente.
Durante os últimos anos da Guerra Fria houve a inserção do conceito de segurança
multidimensional, as seguranças econômica e ambiental, que se refere tanto aos desastres
naturais quanto a ação do homem no meio ambiente, fizeram parte da agenda internacional
com o adentramento da segurança identitária ou societal. 
Com a queda da União Soviética e o fim do conflito bipolar ocorreu a ausência de uma
ameaça global centrada no Estado, nesse contexto houve a multiplicação do que é chamado de
“novas ameaças”, que são difusas, não estatais e transfronteiriças30. A definição dessas novas
ameaças é dependente do contexto histórico, econômico, e pelas assimetrias de poderes
regionais e globais entre os Estados, sendo uma construção política e militar semelhante à do
comunismo, até certo ponto, por ter uma participação mais ativa da população, principalmente
em questões ambientais e humanitárias. 
Durante a IV CMDA, em 2000, foi originada a Declaração de Manaus que define a
finalidade dessas conferências como sendo a “de promover o conhecimento recíproco e o
28 CONFERENCE OF DEFENSE MINISTERS OF THE AMERICAS, I. 1995. The Williamsburg
Principles. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/i_cdma_williamsburg_principles_english.pdf>. Acesso em 01 de
novembro de 2016.
29 BUZAN, Barry, HANSEN, Lene. A Evolução dos Estudos de Segurança Internacional. Trad. Flávio Lira.
São Paulo: Editora Unesp, 2012. 576p. ISBN 978-85-393-0266-6. 
30 ABDUL-HAK, Ana Patrícia Neves Tanaka. O Conselho de Defesa Sul-americano (CDS): Objetivos e
interesses do Brasil. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão.p.35.
13
intercâmbio de ideias no campo da defesa e da segurança31”. O ator que possui a maior parte
do conhecimento na área de defesa são os EUA, e nessas conferências as ideias
preponderantes são desse Estado. No entanto, nos artigos 5 e 6 desse documento fica claro
uma certa confusão em determinar uma ameaça comum entre todos os Estados que compõe o
hemisfério americano:
5. […] Há necessidade de continuação dos estudos para a revisão do Sistema de
Segurança Hemisférica vigente.
6. É necessário definir os conceitos de segurança e defesa para facilitar o seu
entendimento doutrinário no âmbito hemisférico32;
Depois desses dois artigos são elaborados pedidos para que os Estados participantes
fomentem a cooperação e a confiança, é citado a importância da publicação dos Livros
Brancos de Defesa na região. A partir do artigo 13 começam a surgir importantes questões
sobre como lidar com as novas ameças afirmando que constituem em um risco real para a paz
no hemisfério e no mundo, que a participação voluntária em missões de paz será apoiada. Nos
artigos 15 ao 17 são citadas novas ameças específicas que afetariam o continente americano,
se compondo pelo narcotráfico, terrorismo, desastres naturais:
15. É de primordial importância continuar apoiando os esforços dos Estados e
instituições dedicados àluta contra as drogas ilícitas e atividades criminosas
transfronteiriças correlatas (…);
16. Todas as formas de terrorismo são condenáveis (…) levando-se em conta que
eles representam uma séria ameaça à democracia no hemisfério;
17. Deve ser estimulada, também, a cooperação na área de desastres naturais (…)33
Após isso é citado a importância do estudo da área de direitos humanos, que abrange
mais um aspecto importante do leque da nova agenda de segurança internacional, que é a
segurança humana, conceito apresentado em 1994 no Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD)34. Nessa IV CMDA há a tentativa de definir uma agenda de
31 CONFERÊNCIA MINISTERIAL DE DEFESA DAS AMÉRICAS, IV. 2000, Manaus, Brasil. Declaração
de Manaus. Disponível em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_iv_cdma_manaus_brazil_portuguese.pdf>. Acesso em:
de novembro de 2016.
32 Disponível em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_iv_cdma_manaus_brazil_portuguese.pdf>. Acesso em:
01 de novembro de 2016.
33 Disponível em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_iv_cdma_manaus_brazil_portuguese.pdf>. Acesso em:
01 de novembro de 2016.
34 OLIVEIRA, Ariana Bazzano. Segurança Humana: Avanços e desafios na política internacional.
Dissertação (mestrado) - Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas, 2011. p.23.
14
segurança em comum para a América do Sul, arriscando ressaltar pontos considerados
imprescindíveis para a criação de um ambiente de paz na região, sendo que uma agenda difere
de uma aliança de segurança coletiva. Posteriormente essa agenda influenciou nas ameaças
presentes no Tratado Constitutivo da UNASUL, como o terrorismo, narcotráfico, desastres
naturais e questões humanitárias.
Na virada do século XXI, os Estados da América do Sul começaram a pensar
individualmente sobre o que seriam as suas ameaças, ocorre a geração de diferentes tipos de
securitização, sobre diversos temas, criando assimetrias, logo o que é uma ameaça para um
ator estatal pode não ser a ameaça para outro. Há a se acrescentar, que o atentado de 11 de
setembro de 2001 refletiu na Declaração de Santiago do Chile, elaborado na V CMDA em
2002, mostrando que é necessário que haja o redobramento dos esforços para enfrentar as
novas ameaças transnacionais35, que são os terroristas:
6. A recusa mais enérgica a toda forma de terrorismo, cuja ação ameaça os princípios
fundamentais da civilização, e demonstra que a luta contra o terrorismo requer um
esforço especial para incrementar a cooperação internacional (…);
7. Sua mais enérgica reprovação aos atentados terroristas perpetrados contra os
Estados Unidos da América, em setembro de 2001, e reafirmam o princípio da
solidariedade hemisférica.
A partir desse acontecimento de 11 de setembro, o foco de ação dos Estados Unidos,
potência hegemônica, é nos espectros do narcotráfico e da Guerra ao Terror, dando mais um
passo na discrepância dos elementos securitizáveis dos outros atores da América. Nesse
período, os Estados sul-americanos ousaram tentar pensar a segurança pelo olhar da América
do Sul, podendo definir com maior intensidade as suas próprias percepções do que seriam
ameaças. De acordo com Fiori36, no início do século XXI, aconteceu uma mudança política na
região da América do Sul:
A partir de 2001, entretanto, a situação política do continente mudou, com a vitória
− em quase todos os países da América do Sul − das forças políticas nacionalistas,
desenvolvimentistas e socialistas, junto com o novo ciclo de crescimento da
economia mundial deste início de século37.
35 CONFERÊNCIA DE MINISTROS DE DEFESA DAS AMÉRICAS, V. 2002, Santiago, Chile. Declaração
de Santiago do Chile. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_v_cdma_santiago_chile_portuguese.pdf>. Acesso em:
02 de novembro de 2016.
36 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde, v. 04,, 2010. p7 e 17.
37 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde, v. 04, 2010. p7.
15
A eleição de Fernando Lugo para presidente do Paraguai, em 2008, foi mais uma
vitória das forças políticas de esquerda, seguindo as eleições de Hugo Chávez (1999,
na Venezuela), Luiz Inácio da Silva (2001 e 2005, no Brasil), Michele Bachelet
(2006,no Chile), Nestor e Cristina Kirshner (2003 e 2007, na Argentina,
respectivamente), Tabaré Vasquez (2004, no Uruguai) e Rafael Correa (2006 e 2009,
no Equador). Essa mudança político-eleitoral trouxe de volta algumas idéias e
políticas “nacional-populares”, e “nacional-desenvolvimentistas”, que haviam sido
engavetadas durante a década neoliberal de 199038. 
A vitória de governos nacionalistas na América do Sul, foram relevante, para
auxiliarem os Estados sul-americanos a pensarem, por eles mesmos, sobre as questões de
segurança, numa temática regional. Essa alternância governamental, somada a tentativa de
elaborar um pensando sul-americano em matéria de defesa, proporcionou maior empenho
para que houvesse a criação da CASA, UNASUL e do CDS.
No artigo 10, da Declaração de Santiago do Chile, é dito que a região está caminhando
para um sistema de segurança complexo onde estão surgindo instituições e regimes de
segurança tanto coletivas quanto cooperativas, se conformando na prática de uma nova
arquitetura de segurança que se entende pela sua flexibilidade para enfrentar ameças
tradicionais e não tradicionais, que emergiram durante o processo de globalização39, entrando
em contraste com o TIAR, que estava consolidado em um viés de segurança fixo, indo na
direção contrária na nova arquitetura securitária que estava sendo formada no mundo.
Esses acontecimentos também ajudam a justificar uma abertura do leque para visões
mais regionalizadas de segurança e defesa, como o Conselho de Defesa Sul-Americano
(CDS). Como reflexo dessa defasagem do TIAR, após o 11 de setembro, os EUA acionaram
esse tratado40, porém vários países da América Latina não foram complacentes à iniciativa
norte-americana de Guerra ao Terror, em 2002. O México saiu do TIAR, utilizando o exemplo
da sua ineficácia durante a Guerra das Malvinas, e alegando que o mesmo é um mecanismo
obsoleto. No mais, na Declaração de Santiago do Chile, é reafirmado a maioria dos tópicos
citados na Declaração de Manaus. 
Na Declaração de Quito, formulada na VI CMDA em 2004, há uma mudança de
paradigma em questões de segurança, no seu artigo 2 define que a segurança constitui uma
38 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde, v. 04, 2010. p17.
39 CONFERÊNCIA DE MINISTROS DE DEFESA DAS AMÉRICAS, V. 2002, Santiago, Chile. Declaração
de Santiago do Chile. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_v_cdma_santiago_chile_portuguese.pdf>. Acesso em:
de novembro de 2016.
40 REUNIÃO DE CONSULTA DE MINISTROS DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Ameaça Terroristas nas
Américas. 2001. Disponível em: <http://www.oas.org/oaspage/crisis/ameaca_port.htm>. Acesso em 30 de
novembro de 2016.
16
condição multidimensional do desenvolvimento e progresso das nações americanas, se
fortalecendo quando se aprofundada na sua dimensão da segurança humana, visando os
direitos humanos, o respeito e a dignidade41. No artigo 9 épontuado que, na era da
globalização, o hemisfério enfrenta um aumento de variadas e complexas ameaças, que
podem ser de caráter global ou multidimensional. 
As ameaças de caráter multidimensional que são os tráficos de armas, narcotráfico,
tráfico de pessoas, crime organizado, entre outros, podem agir com intensidades diferentes
sobre as nações menores, que são mais vulneráveis. Há a concordância da ameaça do espectro
global como sendo a possibilidade do uso de armas de destruição em massa por terroristas. Há
o reconhecimento que a cooperação nos assuntos de segurança e defesa regional é essencial,
que apenas através dela é possível enfrentar as novas e tradicionais ameaças42. Mesmo essa
declaração pontuando as ameças de caráter regional, fica claro que o foco dessa cooperação
em segurança e defesa seria a ameaça global, o terrorismo, que de certa forma não é uma
ameaça eminente e prioritária para a América do Sul, que nesse momento já possuíra uma
postura mais pró ativa em questões de definições das verdadeiras ameaças que assolam a
região. 
Na VII CMDA, que ocorreu na Nicarágua em 2006, houve apenas a reafirmação de
tudo que foi proposto nas conferências anteriores. Na VIII CMDA, ocorrida no Canadá em
2008, motivou a criação da Declaração de Banff, em seus artigos, além da reiteração das
CMDA anteriores, houve certa ênfase no interesse de desenvolver a cooperação em matéria de
segurança e defesa por meio de diversas entidades bilaterais, sub-regionais e regionais43.
Em 2010, na Declaração de Santa Cruz de La Sierra, elaborada na IX CMDA, ocorrida
na Bolívia, mostra um incetivo para promover os processos de modernização institucional no
setor da defesa44. Em seu artigo 4 reconhece a importância da cooperação em defesa e
41 CONFERENCIA DE MINISTROS DE DEFENSA DE LAS AMÉRICAS, VI. 2004, San Francisco de
Quito, Ecuador. Declaración de Quito. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_vi_cdma_quito_ecuador_spanish.pdf>. Acesso em: 02
de novembro de 2016.
42 CONFERENCIA DE MINISTROS DE DEFENSA DE LAS AMÉRICAS, VI. 2004, San Francisco de
Quito, Ecuador. Declaración de Quito. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_vi_cdma_quito_ecuador_spanish.pdf>. Acesso em: 02
de novembro de 2016.
43 CONFERÊNCIA DE MINISTROS DE DEFESA DAS AMÉRICAS, VIII. 2008, Banff, Canadá. Declaração
de Banff. Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_viii_cdma_banff_canada_portuguese.pdf>. Acesso em:
03 de novembro de 2016.
44 CMDA, IX. 2010, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Declaração de Santa Cruz de la Sierra. Disponivel
em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_ix_cdma_santa_cruz_de_la_sierra_bolivia_portuguese.p
17
segurança da região, em especial pelo avanço de medidas que aumentam a confiança e a
segurança da região. Um desses avanços reconhecidos no artigo 4, da Declaração de Santa
Cruz de La Sierra, destaca-se na importância dada aos mecanismos de confiança do Conselho
de Defesa Sul-Americano (CDS):
• O conjunto de medidas de confiança e segurança recentemente aprovadas no
âmbito do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) da UNASUL com seus
correspondentes mecanismos e procedimentos de aplicação, garantias e verificação 
• O esforço realizado durante o ano de 2010 pelo CDS, para gerar uma metodologia
sul-americana de medição e informação dos gastos de defesa; e promovem a mesma
como base para o desenvolvimento de uma metodologia hemisférica comum45.
Em especial, nessa IX CMDA houve um discurso do Presidente Boliviano Evo
Morales contra o governo dos Estados Unidos46, abrindo espaço para que o Ministro de
Estado da Defesa do Brasil, Nelson A. Jobim, discursasse sobre as assimetrias fundamentais
entre os membros da conferência. Essa ação personifica o crescimento do Brasil e a projeção
de sua influência para a criação de um pensamento estratégico de defesa sul-americano, mais
participativo e menos importado dos Estados Unidos. Jobim deixa claro que a Conferência se
consagra numa agenda norte-americana para a América Latina:
Os Estados Unidos procuram, desde 1995, universalizar no plano hemisférico suas
preocupações com as ditas “novas ameaças”: terrorismo; narcotráfico; catástrofes
naturais; tráfico de seres humanos, proliferação de armas de destruição em massa;
tráfico de armas; e destruição do meio ambiente. 47
De acordo com as palavras do discurso de Nelson Jobim, os EUA seriam os
promotores de elementos e ideologias que compõem a segurança hemisférica. Os outros
países do continente americano teriam apenas a responsabilidade para que as “novas
ameaças”, definidas em grande parte pelos interesses dos EUA, não avançassem para o
território norte-americano. Essas atitudes dos EUA geraram uma assimetria de papéis entre os
outros Estados da região. As preocupações da área de defesa dos EUA são voltadas para o
resto do mundo, não possuindo uma visão verdadeiramente regional de defesa e segurança,
que abranjam os interesses da América do Sul como um todo. Entretanto, os EUA ainda
df>. Acesso em: 04 de novembro de 2016.
45 Disponivel em:
<http://xiicdma.gov.tt/sites/default/files/declaration_ix_cdma_santa_cruz_de_la_sierra_bolivia_portuguese.p
df>. Acesso em: 04 de novembro de 2016.
46 ABDUL-HAK, Ana Patrícia Neves Tanaka. O Conselho de Defesa Sul-americano (CDS): Objetivos e
interesses do Brasil. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013. p.45.
47 BRASIL. Ministério da Defesa. Discurso do Ministro Jobim na IX Conferência de Ministros da Defesa
das Américas. Disponível em: <http://www.defesa.gov.br/index.php/noticias/3573-24112010-defesa-
discurso-do-ministro-jobim-na-ix-conferencia-de-ministros-da-defesa-das-americas-bolivia>. Acesso em: 05
de dezembro de 2016.
18
tentam mostrar certo interesse sobre as “novas ameaças” que impactam a América como um
todo, pelo simples fato de que essas “ameaças” poderiam atrapalhar as investidas norte-
americanas no resto do mundo. 
Utilizando o olhar brasileiro sobre a agenda internacional, proposta nas Conferências
entre Ministérios da Defesa das Américas (CMDA), além da divergência de ameaças entre os
Estados americanos, também há diferenças cruciais na compreensão do que é defesa e
segurança. A agenda internacional que foi proposta nas CMDA é muito focada para o setor da
segurança, que no regimento brasileiro é uma questão a ser resolvida por órgãos voltados para
a segurança pública e não pelo Ministério da Defesa:
Isso ocorre justamente porque nossos países não compartilham dos mesmos
conceitos sobre segurança e defesa. Temos extensões conceituais diversas. Por isso,
temos dificuldades de identificação dos órgãos e das ações. Da perspectiva
brasileira, está conferência é de Ministros da Defesa e não de segurança. Ministro
Jobim, 2010.
Por conta dessa assimetria, tanto de papéis atribuídos quanto de conceitos, o Ministro
Jobim defendeu uma diferenciação entre os conceitos de segurança e defesa, realizando uma
proposta para dividir a CMDA em duas para delimitar o escopo de ação, uma para a área de
defesa e outra para a segurança, cada uma com seus respectivos representantes dos órgãos
federais de cada país.
Vários países do bloco sul-americano são democracias recentes, que possuem
instituições no âmbito da defesa e da segurança que ainda estão se formando. Desse modo, a
agenda internacional, fomentada pelos norte-americanos, poderia influenciar no
desenvolvimento dessas instituições recém-criadas, fazendo-as perderem a sua identidade
estatal e regional em matéria de defesa e segurança. A agenda internacional propostapelas
CMDA, influenciam diretamente no processo de construção do pensamento de defesa e
segurança, tanto nacional quanto regional.
1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CAPÍTULO
Com as mudanças do panorama histórico mundial do final do século XIX até o início
do século XXI, os EUA tentaram manter uma visão particular e própria de defesa e segurança
no hemisfério americano para sustentar os seus próprios interesses. 
Os EUA, inicialmente, tendiam a manter um modelo político altamente
intervencionista no continente americano, causando certa discórdia entre os países da região.
19
Em resposta a esse desconforto por parte dos países latino-americanos, os Estados Unidos
colocaram em prática a Política da Boa Vizinhança, que foi seguida pelo adensamento das
relações comercias e diplomáticas na região. Com o fim da Segunda Guerra e o início da
Guerra Fria, o olhar norte-americano saiu da América e se voltou para a reconstrução da
Europa, a partir daí teria surgido um vácuo de poder hemisférico, mesmo assim a maioria dos
países da América estavam alinhados com os EUA. Com o fim da Guerra Fria e o advento das
“novas ameaças”, as assimetrias começaram a surgir vagarosamente e foram ganhando
bastante força com o passar dos primeiros anos do século XXI, nesse período também surge a
proposta norte-americana de ações de segurança e defesa cooperativas para combate de novas
ameaças. O que auxiliou nessa mudança de visão foi oatentado de 11 de setembro de 2001,
onde a atenção do conceito de ameaças para os norte-americanos foram quase que totalmente
voltados para o terrorismo. Nesse mesmo período houve a convergência com as mudanças da
liderança política de vários países da América do Sul, que de acordo com Fiori, ocasionaram o
retorno dos ideais “nacional populares” e “nacional desenvolvimentistas”48.
Concluindo esse capítulo, o discurso proferido pelo Ministro da Defesa Nelson Jobim
na IX CMDA pode ser entendido como se fosse o primeiro movimento que elucidou de forma
clara as assimetrias das duas partes do continente americano. Ficou evidente o distanciamento
de visões e a discrepância de papéis entre os EUA e América do Sul em matéria de segurança
e defesa. Tal consciência abriu espaço para que as instituições sul-americanas ganhassem
força para prosseguir o seu próprio caminho, construindo uma identidade regional. Esses fatos
podem ser interpretados como sendo uma mudança de paradigma. 
É necessário a compreensão dessa primeira parte do trabalho, sobre o panorama
histórico, para que haja maior entendimento do que levou ao processo de construção da
CASA (Comunidade Sul-Americana de Nações), da União de Nações Sul-Americanas e do
CDS (Conselho de Defesa Sul-Americano), que será discutido no segundo capítulo
48 FIORI, José Luis da Costa. Sistema Mundial, América do Sul, África e potências emergentes . RECIIS.
Revista eletrônica de comunicação, informação & inovação em saúde (Edição em português. Online), v. 04,
p. 03-18, 2010. p.7
20
CAPÍTULO 2: 
DA UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS À CONSTRUÇÃO DO
CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO: A INTEGRAÇÃO
REGIONAL DA INDÚSTRIA DE DEFESA
Nesse capítulo será abordado o histórico da criação da União das Nações Sul
Americanas (UNASUL) e do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), utilizando as
documentações oficiais. Posteriormente, será pontuado a importância da indústria de defesa
em âmbito nacional e regional, como uma análise dos principais documentos da UNASUL, do
CDS que falam sobre o tema. Por último será apresentado uma proposta de análise teórica do
processo de construção da região, elaborada por Iver Brynild Neumann49. 
 
2.1 A COMUNIDADE SUL AMERICANA DE NAÇÕES
Em 2004 nasceu a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), a antecedente da
UNASUL, que tinha como objetivo impulsionar políticas que favoreciam a construção de um
mercado regional para as produções industriais. A CASA possuía a identidade de manter
apenas a participação dos países da América do Sul. Foi uma proposta brasileira esboçada
desde do governo de Itamar Franco (1990-1992), e será aqui feito um breve histórico sobre a
sua construção.
Essa parte do capítulo se enquadra na primeira série de reuniões entre os Presidentes
da América do Sul, no período entre 2000 e 2004, onde foram apontadas áreas que os Estados
poderiam estreitar suas relações para o desenvolvimento. No ano de 2000, durante a primeira
Reunião dos Presidentes da América do Sul, que ocorreu entre 31 de agosto e primeiro de
setembro, em Brasília, durante o governo do Fernando Henrique Cardoso, foram encontradas
áreas em que os países poderiam fomentar a cooperação: democracia; comércio;
infraestrutura, onde houve a criação da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional
49 É professor Montague Burton de Relações Internacionais na London School of Economics, e mantém, ao
longo da carreira, sua afiliação ao Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais (NUPI) como professor de
pesquisa. Ele se especializou em teoria social, história das relações internacionais, estudo da politica externa
da Rússia e Noruega e diplomacia.
21
Sul-Americana (IIRSA)50; ciência, tecnologia, informação; e a luta contra o narcotráfico e o
tráfico de armas. 
Em julho de 2002, na cidade Santiago de Guayaquil, no Equador, houve a segunda
Reunião dos Presidentes da América do Sul, onde reafirmaram os princípios que foram
estabelecidos na I Reunião; além disso foi dada excepcional importância aos temas
relacionados ao nicho energético e a integração estrutural como um fator importante para a
região, com destaque para as estratégias da IIRSA. Fora adotado a Declaração sobre a Zona
de Paz Sul-Americana, que define a América do Sul como uma zona de paz e cooperação, de
acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas e a Carta da OEA, proibindo ameaçar
os outros Estados com o uso da força. Também há a proibição da “implantação,
desenvolvimento, fabricação, posse, testes e uso de todas as armas de destruição em massa”51.
Por último, a declaração de zona de paz elucida a promoção da confiança entre os Estados da
América do Sul por meio da cooperação, consulta e medidas de transparência, de modo
permanente, na área da defesa e segurança:
Que as bases e ações para um projeto sobre a criação de uma Zona de Paz e
cooperação Sul-Americana formuladas na Primeira Reunião de Ministros das
Relações Exteriores da comunidade Andina-Mercosul e Chile, realizada em La Paz
em 17 de julho de 2001, constituem um adequado conjunto de diretrizes direcionado
a construir, sobre fundamentos firmes e consagrados pelo consenso de toda a região
dita Zona de Paz, baseada, entre outras múltiplas medidas, no fomento da confiança,
da cooperação e da consulta permanente das áreas de segurança, da defesa, da
atuação coordenada nos fóruns internacionais correspondentes, e da transparência e
limitação gradual da aquisição de armamentos, em conformidade com o regime
estabelecido na Convenção Interamericana sobre a Transparência nas Aquisições de
Armas Convencionais, no Registro de Armas Convencionais das Nações Unidas e
em outros esquemas previstos nas convenções regionais e internacionais
pertencentes a este importante tema.52.
50 O IIRSA é uma iniciativa dos 12 Estados da América do Sul, com o objetivo de criar uma integração física
entre os países do subcontinente, por meio das infraestruturas de telecomunicações, transporte e energia.
51 COMUNIDAD ANDINA. Declaración sobre Zona de Paz Sudamericana. 2002. Disponível em:
<http://www.comunidadandina.org/documentos/dec_int/CG_anexo2.htm>. Acesso em: 20 de dezembro de
2016.52 Que las Bases y Acciones para un Proyecto sobre la Creación de una Zona de Paz y Cooperación
Sudamericana formuladas en la Primera Reunión de Ministros de Relaciones Exteriores de la Comunidad
Andina-Mercosur y Chile, realizada en La Paz el 17 de julio de 2001, constituyen un adecuado conjunto de
directrices encaminado a construir, sobre fundamentos firmes y consagrados por el consenso de toda la
región, dicha Zona de Paz, basada, entre otras múltiples medidas, en el fomento de la confianza, la
cooperación y la consulta permanente en las áreas de la seguridad, la defensa, la actuación coordinada en
los foros internacionales correspondientes, y la transparencia y limitación gradual en la adquisición de
armamentos, en conformidad con el régimen establecido en la Convención Interamericana sobre la
Transparencia en las Adquisiciones de Armas Convencionales, en el Registro de Armas Convencionales de
las Naciones Unidas y en otros esquemas previstos en las convenciones regionales e internacionales
atinentes a este importante tema. Disponível em:
<http://www.comunidadandina.org/documentos/dec_int/CG_anexo2.htm>. Acesso em: 20 de dezembro de
22
Um ponto importante, nessa segunda Reunião dos Presidentes da América do Sul,
acompanhando o que foi definido na Declaração sobre a Zona de Paz Sul Americana, foi
enfatizado limitar de forma gradual os gastos de defesa e criação mecanismos de
transparência para a aquisição de armamentos pelos Estados, sem causar prejuízos para as
suas necessidades de defesa e segurança. No ano de 2004, na terceira Reunião de Presidentes
da América do Sul, que foi realizada em Cusco, no Peru, é decidido a criação da Comunidade
Sul-Americana de Nações, um avanço importante para continuar o trajeto de integração da
América do Sul. O documento que define a CASA é a Declaração de Cusco sobre a
Comunidade Sul-Americana de Nações, em sua primeira cláusula, no primeiro parágrafo é
mostrado a relevância da integração:
A história compartilhada e solidária de nossas nações, que desde as façanhas da
independência têm enfrentado desafios internos e externos comuns, demonstra que
nossos países possuem potencialidades ainda não aproveitadas tanto para utilizar
melhor suas aptidões regionais quanto para fortalecer as capacidades de negociação
e projeção internacionais;53
No mais, nessa primeira cláusula é dito que há o compartilhamento de valores comuns
entre os países da América do Sul que auxiliam no processo de integração: 
• a democracia;
• os direitos humanos;
• a justiça social;
• a liberdade;
• o respeito da integridade territorial;
• a diversidade;
• a igualdade da soberania entre os Estados; 
• a solução pacífica de controvérsias. 
É pontuado que existe a convergência de interesses entre os Estados sul-americanos,
nas áreas da política, economia, sociedade, cultura, infraestrutura, meio ambiente e segurança.
Essa simetria de interesses é observada como sendo um fator relevante para fortalecer as
2016.
53 FUNAG. Comunidade Sul Americana de Nações: Documentos.Declaração de Cusco sobre a
Comunidade Sul-Americana de Nações.2004. Disponível em: http://funag.gov.br/loja/download/285-
Comunidade_Sul Americana_de_Nacoes.pdf. Acessado em: 22 de dezembro de 2016.
23
capacidades internas dos Estados, auxiliando-os na inserção internacional e na criação de um
espaço integrado na América do Sul, solidificando uma identidade regional. Na segunda
cláusula da Declaração de Cusco, são mencionados quais processos serão impulsionados no
decorrer do desenvolvimento da integração do espaço sul-americano, serão ressaltados os
processos mais importantes para o desenvolvimento desse trabalho: 
• a harmonia na política e na diplomacia, para auxiliar nas relações externas; 
• a integração física, energética e de comunicações; 
• a transferência de tecnologia e a cooperação na ciência. 
Todos esses processos influenciam diretamente no nascimento de um projeto de
integração industrial na área da defesa, que será desenvolvido ao longo desse trabalho54. 
A segunda série de reuniões presidenciais ocorreram entre os anos de 2005 e 2006,
dessa vez num patamar de conceitos mais elevados, definidos na “declaração da CASA”. A I
Reunião de Chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações ocorreu em setembro
de 2005, em Brasília. Na Declaração Presidencial são reafirmados os princípios da Declaração
de Cusco e são definidas as normas de funcionamento institucionais da CASA. As áreas de
ação de sua agenda prioritária são definidas como sendo:
• o diálogo político;
• a integração física;
• o meio ambiente;
• a integração energética;
• os mecanismos financeiros sul-americanos;
• as assimetrias;
• a promoção da coesão social, da inclusão social e da justiça
social;
• as telecomunicações.
54 Até esse ponto o viés usado como base para análise foi o livro: REGUEIRO, Lourdes; BARZAGA, Mayra.
UNASUR: processo y propuesta. Quito: Fedaeps, 2012. 140 p. Disponível em:
<http://www.fedaeps.org/IMG/pdf/Libro_UNASUR.pdf>. Acesso em: 21 de dezembro de 2016.
24
Em julho de 2006 houve a I Conferência dos Ministros da Defesa da Comunidade Sul-
Americana de Nações, ocorreu em Bogotá. Teve a participação de 11 países da América do
Sul: Argentina, Bolívia; Brasil; Colômbia; Chile; Equador; Paraguai; Peru; Suriname; Uruguai
e Venezuela. Durante a reunião discutiu-se sobre uma nova instituição multilateral em matéria
de defesa no âmbito regional, para fomentar a cooperação e consolidar a América do Sul
como uma zona de paz e estabilidade. De acordo com Abdul-Hak, nessa conferência:
Foram firmados compromissos para o desenvolvimento de mecanismos de
intercâmbio de informação de inteligência, intercâmbio acadêmico, ações de
capacitação e treinamento, troca de experiências e conhecimentos científicos e
tecnológicos em matéria de indústria de defesa e realização de encontros bilaterais
ou multilaterais entre membros dos Ministérios de Defesa sul-americanos55.
Em dezembro de 2006, em Cochabamba, na Bolívia, foi realizada a II Reunião de
Chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações, o documento originário dessa
reunião foi a Declaração de Cochabamba. Em sua primeira Cláusula ressalta um novo modelo
de integração para o século XXI. Esse novo modelo se originou com o fim da bipolaridade
criada na guerra fria, enfraquecendo o multilateralismo e aprofundando as assimetrias entre os
países e continentes56. O processo de globalização gera uma grande influência na economia e
na sociedade sul-americana, por causa dessa situação:
[…] A integração regional é uma alternativa para evitar que a globalização aprofunde
as assimetrias que contribuem com a marginalidade econômica, social e politica, e
procura aproveitar as oportunidades para o desenvolvimento.57.
O texto continua evidenciando que a construção da Comunidade Sul Americanas de
Nações busca desenvolver um espaço integrado nos setores que foram afirmados e
reafirmados nas reuniões anteriores, como o político, social, ambiental, econômico, etc. Esse
modelo proposto de integração possuiria uma identidade própria, pluralista, e a integração
regional seria um elemento indispensável para a realização dos projetos que visam o
desenvolvimento da América do Sul, criando espaço para a cooperação em todos os níveis
55 ABDUL-HAK, Ana Patrícia Neves Tanaka. O Conselho de Defesa Sul-americano (CDS): Objetivos e
interesses do Brasil. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2013. p. 140.
56 UNASUR. Declaración de Cochabamba: Colocando la Piedra Fundamental para una Unión
Sudamericana. 2006. Disponível em:
<http://uniondelsur.menpet.gob.ve/interface.sp/database/fichero/free/36/10.PDF>.

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