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AULA 1: MEDIA TEMPESTAS Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecerá a definição de Medievo Ocidental; 2. aprenderá sobre os olhares para a Idade Média e descobrirá que a História tem história; 3. compreenderá que existem linhas complexas de ocupação no espaço europeu e um grande mix de culturas que dialogam entre si; 4. descobrirá que o Império Romano do Ocidente não caiu por conta da invasão de cruéis bárbaros. Muito antes da “queda”, o Império Romano já passava por profundas transformações. A tentativa de Diocleciano em estabelecer uma tetrarquia em 293 é denominada por muitos autores de processo de fragmentação do Império Romano. Os poderes locais cada vez mais resistiam às práticas de dominação romana e as disputas entre os diversos centros apareciam de maneira cada vez mais intensa. Nesse momento o Império tinha dois grandes centros: Ravena (cidade próxima a Roma) e Constantinopla (atual Istambul na Turquia) e daí vem a ideia de divisão de Ocidente e Oriente – centros de poder Ocidental em Roma e Oriental em Constantinopla. Essa é divisão base para separarmos nossos estudos em Idade Média Ocidental, pois nos concentraremos nas fronteiras do Império Romano do Ocidente. Nesse período, já se nota um importante processo de ruralização no império, com as cidades perdendo importância, o comércio decaindo e um aumento de relações de poder estabelecidos no campo. Apesar desses traços, a historiografia coloca seu marco na perda da coroa de Rômulo Augusto, em 476, tentando criar a figura dos grupos que ‘’invadem’’ o império como os causadores do seu fim. Na Idade Média nem sempre houve castelos, eles são um fenômeno dos séculos XIII/XI, com o crescimento das cidades. Outra ideia é a de que, na Idade Média, quem fosse contra o cristianismo morria na fogueira. Isso é falso. A Idade Média só teve fogueira no seu período tardio, quando a Igreja se fortaleceu (sim, ao longo da Idade Média ela não foi a única e cruel dominadora). A Igreja, ao longo da Idade Média, estava em formação e passou a ser Católica Apostólica Romana no século XIII, além de só conseguir poderio para escolher seus membros em torno do século XII. A Inquisição em si é um fenômeno gigantesco dos séculos XV e principalmente XVII e XVIII, na modernidade. De fato, a Igreja que se apoiara em Roma com o fim do governo Ocidental vive um duro golpe ao longo da Primeira Idade Média. Por que será que imaginamos uma Igreja tão poderosa na Idade Média? Por conta dos escritos medievais, é um período em que a preocupação com registros de "oficialidade" governamental, muito presente em Roma, perdeu prestígio. A valorização do prestígio militar se impunha ao intelectual em seu modelo mais ruralizado. A Igreja, em especial nos espaços dos mosteiros, não só guardava os documentos, mas principalmente os copiava. O filme O nome da Rosa, que reflete a preocupação da Igreja em controlar o que se lia, já ilustra o período da Baixa Idade Média, após o nascimento de Universidades, período no qual o controle dos escritos se faz fundamental. Na maior parte do período é o episcopado (elite eclesiástica) que tinha o interesse na educação greco-romana e, por conta disso, foi seu guardião e reprodutor. Esse fato nos dá, claro, um tipo de voz principal - o da Igreja - não temos como conhecer as outras vozes por sua manifestação, não houve registro e, por isso o necessário cuidado ao ler os documentos medievais. Os bispos tinham na Idade Média, desde o seu início, um poder singular. Mas, para pensar na questão não podemos deixar de pensar em um aspecto vital: Quem é o bispo? Alguém nasce na Igreja? São sim, de fato, membros das elites locais! Media Tempestas significa o próprio tempo daquele período, não pelo sentido do Médio, que é como já vimos, uma leitura posterior, mas é a ideia de que aquelas populações, os períodos em que eles viviam, tinham-se outras noções e outras interpretações de tempo que são muito diversas das utilizadas por nós. Quer ver: Que dia é hoje? Tem certeza? Pense que você está no calendário Gregoriano e vive sobre a ditadura do tempo, a hora, o minuto, às vezes os segundos, são importantes e você marca seus compromissos, comemora com base no tempo. Esse controle de tempo no campo é igual, então, pense em uma sociedade rural. Não há noção de tempo no nosso modelo de calendários e tudo estará diretamente relacionado com a colheita, plantação. O tempo do medievo não é o espaço da Igreja ou do meio, é o período do contemporâneo àquele momento e assim devem ser entendidos e discutidos. Vamos agora para uma boa leitura: um dos principais medievalistas brasileiros, Hilário Franco Jr. “A Idade Média para os medievais Mas, enfim, que conceito tinham da “Idade Média” os próprios medievos? Questão difícil de ser respondida, apesar dos progressos metodológicos das últimas décadas. A resposta, mesmo provisória e incompleta, precisaria ser matizada no tempo e no espaço, e ainda considerar pelo menos duas grandes vertentes, a do clero, elaborada a partir de interpretações teológicas, e a dos leigos, presa a concepções antigas, pré-cristãs. Simplificadamente, essa bipolarização quanto à História partia de duas visões distintas quanto ao tempo. A postura pagã, fortemente enraizada na psicologia coletiva*, aceitava a existência de um tempo cíclico, daquilo que se chamou de “mito* do eterno retorno”. Ou seja, as primeiras sociedades só registravam o tempo biologicamente, sem transformá-lo em História, portanto sem consciência de sua irreversibilidade. Isso porque, para elas, viver no real era viver segundo modelos extra-humanos, arquetípicos. Assim, tanto o tempo sagrado (dos rituais) quanto o profano (do cotidiano) só existiam por reproduzir atos ocorridos na origem dos tempos. Daí a importância da festa de Ano-Novo, que era uma retomada do tempo no seu começo, isto é, uma repetição da cosmogonia, com ritos de expulsão de demônios e de doenças. Tal concepção sofreu sua primeira rejeição com o judaísmo, que vê em Javé não uma divindade criadora de gestos arquetípicos, mas uma personalidade que intervém na História. O cristianismo retornou e desenvolveu essa idéia, enfatizando o caráter linear da História, com seu ponto de partida (Gênese), de inflexão (Natividade) e de chegada (Juízo Final). Portanto, linear mas não ao infinito, pois há um tempo escatológico* — que só Deus conhece — limitando o desenrolar da História, isto é, da passagem humana pela Terra. Contudo, se o cristianismo reinterpretou a História, não pôde deixar de sentir seu peso, inclusive da mentalidade* cíclica, daí a liturgia cristã basear-se na repetição periódica e real de eventos essenciais como Natividade, Paixão e Ressurreição de Jesus: ao participar da reprodução do evento divino, o fiel volta ao tempo em que ele ocorreu. Ou seja, a cristianização das camadas populares não aboliu a teoria cíclica, pelo contrário, influenciou o cristianismo erudito e reforçou certas categorias do pensamento mítico. Em virtude disso, pelo menos até o século XII os medievos não sentiam necessidade de maior precisão no cômputo do tempo, o que expressava e acentuava a falta de um conceito claro sobre sua própria época. De maneira geral, prevalecia o sentimento de viverem em “tempos modernos”, devido à consciência que tinham do passado, dos “tempos antigos”, pré-cristãos. Estava também presente a idéia de que se caminhava para o Fim dos Tempos, não muito distante. Espera difusa, que raramente se concentrou em momentos precisos. Sabemos hoje que os pretendidos “terrores do ano 1000” foram uma criação historiográfica, pois não houve nenhum sentimento especial e generalizado de que o mundo fosse acabar naquele momento. Mas c inegável que a psicologia coletiva* medieval esteve constantemente (ainda que com flutuações de intensidade) preocupada com a proximidade do Apocalipse. Catástrofes naturais ou políticas eram freqüentemente interpretadas como indícios da chegada do Anticristo. Havia uma difundida visão pessimista do presente,porém carregada de esperança no iminente triunfo do Reino de Deus. Nesse sentido, a visão de mundo medieval trazia implícita em si a concepção de um tempus medium, precedendo a Nova Era. Tempo não monolítico, dividido em várias fases. A quantidade e a caracterização delas não eram, contudo, consensuais. A periodização mais comum, ao menos entre o clero, concebia seis fases históricas, de acordo com os dias da Criação. Como no sétimo dia Deus descansou, na sétima fase os homens descansarão no seio de Deus. Assim pensavam muitos, de Santo Agostinho (354-430) e Isidoro de Sevilha (560-636) até Fernão Lopes (1380-1460). Também teve sucesso uma concepção trinitária da História, surgida no século IX com João Escoto Erígena (ca. 830-ca. 880) e que teve seu maior representante no monge cisterciense Joaquim de Fiore (1132-1202). Para este, a Era do Pai ter-se-ia caracterizado pelo temor servil à lei divina, a Era do Filho pela sabedoria, fé e obediência humilde, a do Espírito Santo (que começaria em 1260) pela plenitude do conhecimento, do amor universal e da liberdade espiritual. Qualquer que fosse a divisão temporal adotada, reconhecia-se que o suceder das fases acabaria com a Parusia, quando a História enquanto tal deixaria de existir. A organização dos reinos germânicos; a presença dos Hunos e o aumento da migração para o Império; os grupos de “germânicos” nas galias e na península Ibérica: Suevos, vândalos e visigodos. Nessa aula você: Compreendeu que o fim do Império Romano não foi o colapso do mundo para um mergulho nas trevas; analisou que a sociedade no medievo já foi vista de maneiras diversas ao longo da história, e que isso demanda cuidado. Catálogo: HISTÓRIA DA IDADE MÉDIA OCIDENTAL Matriz: O que é a Idade Média Aula: 1 Assunto: O significado do termo "Idade Média" Dúvida: De onde surge a noção de Idade Média como uma idade do meio? E porque apresenta um sentido pejorativo? Resposta: A perspectiva de Idade do Meio surge em período posterior, durante o Renascimento como forma de valorizar a Antiguidade Clássica, resgatando alguns aspectos fundamentais dessa cultura que teriam sido perdidos durante o período medieval, mas que emergiam novamente a partir do século XV, numa sociedade que renasce para as artes, cultura e ciências. Buscavam passar a idéia de que durante os mil anos de história entre a transformação do mundo romano e o Renascimento do século XV a humanidade teria vivido um período de estagnação econômica e social e de uma frágil produção intelectual e artística. O Iluminismo irá aprofundar esta perspectiva que carrega um sentido negativo, posto que os homens do Iluminismo buscavam distanciar-se daquilo que dava sentido a sociedade medieval, como a religiosidade cristã e a organização econômica e social baseada no monopólio, condena do lucro e da noção individualista que caracterizam a ascensão da organização burguesa. Aula: 1 Assunto: Edward Gibbon e a "queda" do Império Romano Dúvida: Quais seriam as causas para a ¿queda do Império Romano¿ segundo o historiador do século XIX Edward Gibbon? Resposta: Segundo Gibbon, o crescimento e fortalecimento do poder da Igreja Católica teria fragilizado a autoridade do imperador romano, que não buscava mais enfatizar suas habilidade e coragem bélicas. Deste modo, teria havido um enfraquecimento daquilo que dava a identidade do imperador e do Império Romano. A fragilidade política proporcionada pela fraqueza moral do imperador teria impedido a efetiva resposta às ¿invasões bárbaras¿. Aula: 1 Assunto: Idade das Trevas Dúvida: Porque a Idade Média foi identificada como Idade das Trevas? Resposta: A perspectiva pejorativa que temos da Idade Média, que em muitos casos é identificada como Idade das Trevas, surge no período do Renascimento e é reforçada durante o Iluminismo para marcar um distanciamento em relação ao passado medieval, que teria se iniciado com uma violenta invasão de povos chamados de ¿bárbaros¿ e sublinhar um Renascer da humanidade e uma valorização do período Antigo. Deste modo, buscava-se afirmar uma ruptura que de fato devemos questionar, posto que a chamada modernidade possui inúmeras características medievais ou nelas está fortemente enraizada. Aula: 1 Assunto: As divisões da Idade Média Dúvida: Em quais períodos se divide a Idade Média? Resposta: A idade Média se divide em três períodos, que embora tenham características específicas não podem ser considerados de forma rígida, já que uma divisão da história sempre inclui elementos arbitrários com fim de criar referenciais didáticos. A primeira idade Média, ou Alta Idade Média, é o período de transição entre a desestruturação do Império romano e a organização dos reinos germânicos. Depois vem a chamada Idade Média Central, auge do período feudal, que abrange os séculos centrais do período. E por fim, Baixa Idade Média, que abrange os últimos séculos do período, no qual se conhece um crescimento do comércio, das cidades, universidades e dos poderes reais que emergem no ocidente medieval.
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