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A PERCEPÇÃO DA QUALIDADE TOTAL NO SERVIÇO PÚBLICO: UMA PROPOSTA PARA O CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MATO GROSSO DO SUL (CBMMS) Geísa Maria Rodrigues Ferreira Romero1 Edmilson Vicente Pereira2 RESUMO Este artigo apresenta uma proposta para implementar um programa de controle de qualidade dos serviços do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) com o objetivo de construir um documento que expresse e assegure a qualidade total, tanto nas atividades internas quanto nas externas, considerando as peculiaridades dos serviços, os valores, as necessidades dos bombeiros militares e dos cidadãos, bem como os objetivos estratégicos da Corporação. A metodologia adotada é a pesquisa qualitativa, constituída de revisão bibliográfica e pesquisa documental. Com base nos resultados da pesquisa, conclui-se que, para atender às necessidades citadas, o controle da qualidade total (TQC), no estilo japonês (maslowniano), é o modelo ideal, uma vez que parte da ideia de que a natureza humana é boa, razão pela qual o homem se satisfaz com o bom trabalho, ao passo que, quando há cometimento de erros, o foco do trabalho institucional deve estar nas causas do problema e não na busca por culpados. Ademais, o TQC prevê o aperfeiçoamento contínuo e infinito dos serviços. Palavras-chave: Qualidade Total. Corpo de Bombeiros Militar. Modelo Japonês. ABSTRACT This article presents a proposal to implement a quality control program of Military fire services of Mato Grosso do Sul (CBMMS) with the goal of building a document that expresses and ensures total quality, both in the internal activities and in the external, considering the peculiarities of the services, the values, the needs of military firefighters and citizens enjoyed the services of the Corporation as well as the strategic objectives of the Corporation. The methodology adopted is the qualitative research, literature review and 1 Graduada em Engenharia de Incêndio e Pânico; Bacharela em Direito; Pós-graduada em Gestão e Segurança Pública; MBA em Gestão Pública; Pós-graduanda em Administração Estratégica 2 Orientador especialista em Psicologia Organizacional; Especialista em Administração Estratégica; Especialista em Gestão de Operações Logísticas; Licenciado em Matemática; Administrador; Economista 2 documentary research. Based on the results of the survey, we conclude that, to meet the needs of the Corporation and citizens enjoyed the services of CBMMS, the total quality control (TQC), Japanese style (maslowniano), is the ideal model, since part of the idea that human nature is good, which is why the man is satisfied with the good work, while, when there are committing errors, the focus of the work must be on institutional causes of the problem and not the search for culprits. Keywords: Total quality. Military fire. Japanese Model. 1 INTRODUÇÃO O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS) é uma corporação que demanda interesse em manter a qualidade na prestação de serviços à comunidade, com a missão de proteger a vida, o patrimônio e zelar pela ordem pública, proporcionando segurança à sociedade, tendo como valores essenciais o compromisso com a vida, a coragem, o comprometimento, o respeito aos direitos humanos e a responsabilidade socioambiental, entre outros (BRASIL, 2012). Esta pesquisa apresenta uma avaliação da estrutura e da evolução dos processos de atendimento realizados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul em consonância com o objetivo de propor a construção de um documento que traga alicerces para uma política institucional de controle da qualidade dos serviços prestados pela Corporação, com vistas a minimizar possíveis ocorrências de desvios na execução de tarefas fundamentais. Para o alcance dessa finalidade, serão elencadas ferramentas de controle de qualidade dos serviços nos procedimentos do CBMMS. A escolha do tema se justifica pelo interesse da pesquisadora, enquanto profissional bombeira militar, exercendo a função de Comandante do 1º Subgrupamento de Bombeiros Militar Independente, responsável pelo atendimento dos serviços de bombeiro em Aquidauana, Anastácio, Miranda e Bodoquena, municípios de Mato Grosso do Sul, em ampliar a qualidade dos atendimentos e procedimentos prestados à sociedade e ao profissional bombeiro militar, com \uma visão sistêmica de melhoria contínua da qualidade. A metodologia adotada é a pesquisa qualitativa, constituída de revisão bibliográfica e pesquisa documental. A revisão bibliográfica recorreu à literatura disponível e analisou 3 simultaneamente os processos internos do CBMMS. A pesquisa documental buscou, nos arquivos do 1° Subgrupamento de Bombeiros Militar Independente (1º SGBM/Ind.), documentos relacionados ao controle da qualidade no âmbito da Corporação. A delimitação espacial se refere às áreas operacional e administrativa do referido quartel, bem como as experiências da pesquisadora em outras unidades da Corporação. A partir da análise dos resultados, considera-se que um Programa de Qualidade Total apresenta algumas dificuldades e, para permitir um processo de implantação bem sucedido, é necessário envolver primeiramente os oficiais para que, compreendendo o modelo e a necessidade da sua implantação, possam motivar seus subordinados no exercício do controle da qualidade total, no estilo japonês, apresentado como ideal para a realidade do CBMMS. 2 CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), vinculado à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), tem suas origens no Corpo de Bombeiros Militar da Polícia Militar de Mato Grosso. A unidade pioneira em terras sul-mato- grossenses é o atual 1º Grupamento de Bombeiros Militar, à época denominado 2º Grupamento de Incêndio, instalado em 1970, em Campo Grande-MS. Em 1977, com a divisão do estado o Corpo de Bombeiros Militar passou a integrar a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, da qual se desvinculou somente em 1989 (BRASIL, 2017). Atualmente o CBMMS comporta em Campo Grande, o 1º Grupamento de Bombeiros Militar (1º GBM) subdividido em 1º e 2º Subgrupamentos de Bombeiros Militar (SGBM), responsáveis pelo atendimento da área sul da cidade e pelo atendimento nas regiões dos municípios de Terenos e Nova Alvorada do Sul, com cinco unidades de atendimento (Costa e Silva, Guanandi, Moreninha, Tijuca, Aeroporto) e o 6° Grupamento, subdividido em dois Subgrupamentos Operacionais, o 1º conhecido como “Quartel Central” e o 2º como “Quartel Coronel Antonino”, responsáveis pelo atendimento da área que compreende todo o norte da capital. Ademais, está presente em mais 23 municípios (BRASIL, 2017). Ao constituir a sua identidade organizacional, o CBMMS estabeleceu como sua missão: "Proteger a vida, o patrimônio e zelar pela ordem pública, proporcionando segurança 4 à sociedade do Estado de Mato Grosso do Sul". Tem como visão a preocupação em: "Ser sustentável, referência nacional pela excelência dos serviços prestados na prevenção, combate a incêndios, salvamento, atendimento pré-hospitalar e defesa civil até 2020". Os valores estabelecidos como essenciais são: "o compromisso com a vida, a hierarquia, a ética, a disciplina, o profissionalismo, a coragem, o comprometimento, a camaradagem, o vigor físico, o respeito aos direitos humanos e a responsabilidade socioambiental" (BRASIL, 2012). De acordo com Amorim (1982, p. 275), "Todosesforços devem ser concentrados no ato de salvar pessoas que estejam em perigo". Para atender essa finalidade, o comando do socorro empregará todo material e pessoal necessário, sendo admissível até o risco à vida da tropa e do comando. Ao estabelecer os seus objetivos estratégicos, a Corporação demonstra interesse nas questões que envolvem a qualidade dos serviços, expressando que se deve valorizar os recursos humanos, complementar o quadro de pessoal, investir na capacitação profissional, aumentar a capacidade de atendimento, modernizar tecnologicamente a corporação, intensificar ações conjuntas de defesa civil em todos os municípios (BRASIL, 2012). 2.1 Etapas das operações de atendimento realizadas pelo CBMMS Os atendimentos às emergências realizados pelo CBMMS exigem uma série de etapas interdependentes. Em qualquer lugar do Estado o cidadão deve solicitar atendimento pelo número de telefone 193, seja para casos envolvendo pessoas em situação de risco (terra, água, fogo e altura), trauma decorrente de acidentes ou emergências clínicas. A estrutura operacional padrão, se destaca na seguinte ordem: 1. Os procedimentos começam com a solicitação de socorro pelo cidadão, via número de emergência 193 ou acionamento direto em alguma unidade do CBMMS; 2. O atendente deve fazer a triagem necessária, identificar a necessidade ou não de acionamento do serviço de socorro da Corporação, bem como os tipos de recursos a serem mobilizados para a cena; 3. O atendente aciona o socorro necessário; 4. Os militares recebem o acionamento e se deslocam para executarem suas missões; 5 5. Ao chegar à cena, o militar mais antigo, auxiliado pelos demais respondedores, analisará o cenário. Com base em uma série de quesitos inerentes à segurança de todos os envolvidos, serão estabelecidas táticas e técnicas capazes de atender à ocorrência com eficiência, eficácia e efetividade. 6. Prestados os atendimentos necessários, os militares devem deixar a cena segura e a cargo de quem for competente, colocar materiais, equipamentos e militares em condições de efetuar novos serviços de emergência. Caso não seja acionado para nova ocorrência, deverão retornar à unidade e manterem-se prontos para novo emprego, quando esses novos processos se desenrolarem novamente. Falhas que ocorram em quaisquer das etapas podem resultar em perdas de patrimônio e de vidas. Desta maneira, a qualidade dos processos é essencial. Outro fator importante a ser considerado na etapa inicial de atendimento é definir o que vem a ser uma situação de urgência ou emergência. De acordo com Resolução nº 145/95 do Conselho Federal de Medicina, em seu Artigo 1º e parágrafos 1º e 2º (BRASIL, 1995): [...] Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. [...] Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo portanto, tratamento médico imediato. A urgência é uma situação onde não existe risco imediato à vida (ou risco de morte), o paciente pode aguardar, geralmente até 24 horas. A emergência exige ação imediata, por representar ameaça à vida diante de situação de aparecimento súbito e imprevisto. Consequentemente, o que vai definir o tratamento de um paciente que acabou de chegar em uma instalação hospitalar são esses entendimentos. 2.2 Dos serviços Técnicos de Vistoria Quando se aborda o aspecto dos serviços técnicos de vistoria em edificações e eventos, análise de projetos de proteção contra incêndio, pânico e outros riscos, observa-se os seguintes critérios: - O cidadão deve requerer os serviços na unidade do Corpo de Bombeiros responsável pela área; 6 - A seção responsável recebe o requerimento, devidamente assinado pelo requerente, e o insere na ordem de prioridade para atendimento. O setor responsável pelos serviços de vistoria do Corpo Bombeiros Militar, que resultarão na emissão dos Certificados de Vistoria do Corpo de Bombeiros, Laudo de Exigências de Análise, notificação de exigências, atuação, interdição, embargos, dentre outros procedimentos devidamente regulados, deve obedecer a prazos e exigências previstos em leis específicas, em consonância com a Lei Estadual 4.335/2013, que Institui o Código de Segurança contra Incêndio, Pânico e outros Riscos, no âmbito do Estado de Mato Grosso do Sul e normas técnicas vigentes. Compete ao Serviço de Segurança Contra Incêndio, Pânico e outros Riscos (SvSCI) dentre outras atribuições, regulamentar medidas de segurança, analisar os Processos de Segurança contra Incêndio, Pânico e outros riscos (PSCIP); realizar vistorias nas edificações, nas instalações, nas ocupações temporárias e nas áreas de risco e expedir a respectiva notificação ou o Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros Militar (CVCBM) (BRASIL, 2013). No que se refere à vistoria em edificações, o Certificado de Vistoria é o documento necessários para que uma edificação seja regularizada junto ao Corpo de Bombeiros Militar. O Certificado de Vistoria tem sua validade por, no máximo, um ano. Portanto, o funcionamento de qualquer edificação no Estado de Mato Grosso do Sul, depende da aprovação e expedição do Certificado de Vistoria pelo CBMMS, anualmente. Em situações específicas e previstas em norma, o cidadão pode, ainda, requere o CVCBM no modo on line. Conforme previsto no Artigo 9º da Lei Estadual 4.335/2013 (BRASIL, 2013): Art. 9º O funcionamento de qualquer edificação, instalação, ocupação temporária ou área de risco dependerá da expedição do Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros Militar, e, a licença para construir dependerá de prévia aprovação das medidas de segurança contra incêndio, pânico e outros riscos pelo CBMMS. A imensa gama de áreas de procedimentos da Corporação exige a constante preocupação com o padrão de qualidade dos serviços, visando a atender o cidadão de forma 7 coerente com suas necessidades. Outro fator preponderante está na responsabilidade de fazer jus à confiança da população no trabalho dos bombeiros militares. 3 QUALIDADE TOTAL, CONCEITOS BÁSICOS No campo conceitual, um produto ou serviço é considerado de qualidade quando atende perfeitamente as necessidades do cliente. A Qualidade Total (QT) ou Controle Total da Qualidade (TQC - total quality control), definida como um sistema de gestão da qualidade do produto ou serviço, foi usado por Armand Feigenbau, especialista em qualidade da General Eletric, já em 1956, quando propôs que só haveria qualidade de um trabalho quando todos se envolvessem no desempenho da organização. Nessa linha de raciocínio, a qualidade tem como objetivo superar as expectativas do cliente e de todo o público estratégico (os stakeholders) (OLIVEIRA, et al., 2013). A subjetividade do tema está em torno dos processos e fundamentos organizacionais, onde qualidade de produtos e serviços, em um ambiente de extrema concorrência se apresentam como requisitos de sobrevivência e atinge não apenas as empresas privadas, mas também o setor público e a sociedade em geral. O TQC surgiu nos Estados Unidos, mas, foi fortalecido e aperfeiçoado no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, quando os produtos japoneses eram considerados de qualidade inferior à da maioria das nações industrializadas. Nesse sentido, TQC, no conceito da corrente teórica japonesa, passou a envolver no processo produtivo, no estudo e na condução do controle de qualidade, todos os empregados da empresa. Assim, o controle passou a ser exercido portodos os membros da organização para a satisfação das necessidades das pessoas (CAMPOS, 1992). No contexto da gestão, a qualidade passa a apresentar conceitos mais específicos. Para Campos (1992), um produto ou serviço de qualidade, basicamente, é aquele que atende, de maneira acessível, confiável, segura e no tempo certo às necessidades do cliente, a qualidade total (QT) deve abranger cinco dimensões: qualidade, custo, entrega, moral e segurança. Essas dimensões afetam a satisfação das necessidades das pessoas e a sobrevivência da empresa. 8 Ao distinguir várias abordagens durante o período 1986/1988, quando realizou pesquisas pelo mundo em torno de projeto do governo brasileiro e do Banco Mundial, Campos (1992) reconheceu que o TQC japonês era o melhor para a realidade das empresas brasileiras, pela simplicidade e clareza do método, baseado em envolver todas as pessoas e todos os setores da empresa para o alcance da qualidade total. Para Periard (2013, p. 01) "qualidade total deve ser aplicada a todas as áreas e níveis da empresa, devendo sempre começar do topo, com comprometimento total da alta administração. Este apoio é fundamental para o sucesso da abordagem". Assim, a melhoria contínua e a qualidade total, fomentam a excelência em qualidade dos produtos e processos, seguindo etapas de valor contínuo que requerem escolha, análise, estudos e implementação. A norma ABNT NBR ISO 9000, descreve os conceitos fundamentais e princípios de gestão da qualidade, por meio da compreensão comum do vocabulário utilizado na gestão da qualidade, que são universalmente aplicáveis para melhorar continuamente o desempenho das organizações, levando em consideração, as necessidades de todas as partes interessadas (ABNT, 2005). Diante desses pressupostos, é perceptível que, para assegurar a qualidade de produtos e serviços, seja necessário investir no aprimoramento constante de todos os envolvidos na produção ou prestação de serviços, desde a alta administração até os operários. Nesse sentido, a aplicação de princípios da filosofia japonesa Kaizen, que traduz o significado de melhoria gradual, como o aprimoramento contínuo, é a mais recomendada como estratégia para se alcançar a qualidade total no Brasil. Assim, tudo pode ser aprimorado em qualquer processo que envolve o ser humano, sendo a preparação deste essencial para o sucesso de qualquer atividade (CERQUEIRA NETO, 1994) Na mesma linha de raciocínio, Campos (1992) defende o controle da qualidade total (no estilo japonês) para o atendimento dos objetivos da empresa, uma vez que se trata de um sistema gerencial que reconhece as necessidades pessoais e estabelece padrões para o atendimento dessas necessidades, visando melhorar continuamente os padrões a partir de uma abordagem humanística. Neste contexto, fica evidente a influência da metodologia Kaizen no 9 estilo japonês do controle da qualidade total. Baseado neste estilo o comprometimento de todos os indivíduos em todos os setores da empresa consiste na gestão orientada para o controle da qualidade total como um processo diário, contínuo e reciclado. 4. RESULTADOS DA PESQUISA Os pressupostos do CBMMS pautados na missão, na visão, e nos objetivos estratégicos da Corporação, revelam a preocupação em executar com acerto as atividades que lhe competem. Assim, a carreira de um bombeiro militar é sistematicamente contemplada por cursos. Um soldado para chegar à graduação de subtenente, passa por, pelo menos, quatro cursos. O oficial combatente, por sua vez, passa por três cursos fundamentais, sendo o Curso de Formação de Oficiais o mais longo do CBMMS. Assim, a vida profissional do bombeiro militar envolve uma rotina de treinamentos difíceis sob normas rígidas de postura e comportamento Durante os serviços, são realizados os chamados "testes de prontidão" que visam adestrar o militar para a utilização de técnicas e equipamentos necessários ao exercício da função. Mensalmente, são executadas as chamadas "instruções de tropa pronta" que objetivam instruir o militar, na teoria e na prática, sobre determinado assunto inerente à atividade dos bombeiros militares. A escolha do tema do mês cabe ao comando da unidade, após identificar quais são as maiores necessidades de aprendizado do grupo. O maior diferencial do CBMMS é o trabalho em equipe, na busca de evitar desperdício de energia e otimizar esforços. As tarefas são organizadas e cada um executa sua parte em prol da missão coletiva. Ao longo do estudo foi observado que a corporação já estabeleceu procedimentos operacionais padronizados para responder a vários tipos de emergências. Entretanto, nem todos os temas passaram por esta sistematização. Com o pensamento de garantir a qualidade dos serviços internos e externos, o Regulamento disciplinar, vigente na corporação, instituído pelo Decreto 1.260, de 02 de outubro de 1981 (BRASIL, 1981), estabelece em seu rol de transgressões disciplinares, dentre outras, que o profissional não poder deixar de cumprir ou de fazer cumprir normas 10 regulamentares na esfera de suas atribuições e nem trabalhar mal, seja intencionalmente ou por falta de atenção. Essas ressalvas reforçam que o trabalho da corporação ocorre em um ambiente onde os sujeitos envolvidos procuram eliminar a ocorrência de erros, tomados pela consciência de que equívocos podem ter consequências drásticas, principalmente, para as vítimas, inclusive com a perda de vidas e/ou patrimônio, bem como para o profissional que assume o risco à própria vida, durante suas ações, além das responsabilidades administrativas, cíveis e penais que lhe são impostas quando do cometimento de erros. Todavia, lidar com os erros e punir os militares do CBMMS, não é uma tarefa fácil. Diversos dispositivos do Código Penal Militar são sistematicamente organizados para orientar punições. Porém, como a maioria dos procedimentos realizados pela Corporação são externos, ou seja, ocorrem fora do quartel e longe das vistas dos comandantes de unidade e respectivos chefes de seção, há uma tendência daquele que o comete em não divulgá-lo e, às vezes, até escondê-lo, a fim de se evitar a punição. Desse modo, o controle da qualidade acaba ficando, em grande parte, vinculado ao que os militares, as vítimas ou pessoas a elas ligadas reportam à unidade. Quando os fatos são negativos, são tomados procedimentos de sindicâncias ou inquéritos. Entretanto, as vítimas e seus parentes, na maioria das vezes fragilizados, ao considerar que, caso o CBMMS não tivesse atuado a situação teria sido pior, acabam não reportando suas insatisfações ou fatos reais. Por outro lado, cabe reconhecer ainda que, muitas vezes, o cidadão não possui conhecimento suficiente para avaliar a qualidade dos serviços que recebeu, não enxergando falhas até mesmo graves. Assim, perde-se a oportunidade de identificar procedimentos equivocados e se criar mecanismos eficientes e eficazes de educação e treinamento para se garantir a qualidade dos serviços. Mesmo diante do esforço em bem atender ao cidadão, não se tem um diagnóstico real sobre a qualidade dos serviços prestados pelo CBMMS. Logo, não há um controle da qualidade total, apenas ações relevantes pela busca de qualidade. 11 4.1 Uma proposta possível para o CBMMS Diante da razão da existência da Corporação, pautada em atender às necessidades das pessoas (stakeholders), dentro dos marcos legais e sob os princípios de metas a serem atingidas em todas as áreas da corporação, a adoção do controle da qualidade total no estilo japonês apresenta-se como a proposta ideal para a excelência dos serviços, internose externos do CBMMS. Nessa proposta, para uma divulgação adequada, é preciso reconhecer que: O controle da qualidade no Japão é maslowniano, pois toma como princípio a idéia de que o homem tem uma natureza boa. As pessoas são inerentemente boas e sentem satisfação por um bom trabalho realizado. Quando um problema ocorre, não existe um culpado! Existem causas que devem ser buscadas por todas as pessoas da empresa de forma voluntária (CAMPOS, 1992, p. 22). A adoção do TQC com foco nas causas não significa contrariar a leis e regulamentos inerentes à Corporação, mas, promover abordagem precisa diretamente na origem dos problemas para que os serviços sejam executados com qualidade. Da mesma forma, é preciso reconhecer que a conquista do TQC deve ser um processo permanente, pois, nenhuma organização em pleno desenvolvimento das suas atividades, atingirá a completa perfeição. O primeiro passo é a apresentação da proposta do TQC para o sistema administrativo de comando, os oficiais, com o propósito de iniciar o processo de informações, compreendendo os contornos específicos, desde a valorização dos meios de comunicação, eficácia de tempo e resolutividade e como a própria cultura institucional pode e deve sofrer mudanças acompanhadas de planejamentos, que permitam correções necessárias sem contrariar as normas legalmente previstas. Sugere-se que o processo de implantação seja acompanhado por equipe técnica externa com a formação necessária em TQC e visão do sistema produtivo, bem como com profundo conhecimento dos processos envolvidos e da cultura institucional para adequação às peculiaridades da Corporação. No decorrer do processo essas equipes devem ser devidamente acompanhadas por agentes internos que conhecem profundamente a dinâmica da corporação, já que qualquer descaso ou juízo errôneo pode tornar o trabalho improdutivo. 12 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da realidade do CBMMS permite concluir que a Corporação e seus integrantes valorizam a qualidade nos serviços prestados, compreende a necessidade do aprimoramento, seja pela consciência de que o trabalho do Corpo de Bombeiros Militar atinge diretamente questões essenciais da trajetória humana, quais sejam a vida e o patrimônio, seja pela imperatividade de normas e dispositivos legais diversos que regem o dia a dia da profissão. Neste sentido, são realizados cursos e instruções, vários procedimentos operacionais estão padronizados, busca-se a correção de erros quando constatados. Todavia, o que se enxerga são fragmentos de controle da qualidade, dominados por iniciativas individuais e/ou de grupo, com base em conhecimentos adquiridos ao longo do tempo e na boa vontade dos atores. Não se pode falar, portanto, que há uma sistematização deste controle em um modelo escolhido, conhecido e compreendido pelos membros do CBMMS. A compreensão de que as etapas das operações de atendimentos realizados pela Corporação são interdependentes em todas as atividades de sua competência, as quais interferem diretamente em questões graves como vidas e bens, converge à conclusão de que o controle de qualidade desses serviços é de natureza essencial e fundamental, devendo acontecer em todos os processos e não apenas nos resultados finais, bem como ser um compromisso de cada bombeiro militar. Pelas peculiaridades do controle da qualidade total (TQC), no estilo japonês, no sentido de envolver os integrantes da corporação e trabalhar em cada um desses processos da prestação dos serviços, em um contínuo aprimoramento, ele se apresenta como modelo ideal a ser adotado pelo CBMMS. Há que se ter, todavia, a precaução, os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários na condução dos trabalhos. Neste sentido, é essencial que a implantação do TQC na Corporação seja iniciada por equipes de assessoria externa treinadas e aptas, acompanhadas por agentes internos que conhecem, com profundidade, a realidade e as peculiaridades institucionais, para que sejam adotados critérios técnicos simples, dinâmicos e efetivos, a fim de culminar no franco desenvolvimento da Corporação. 13 REFERÊNCIAS ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT-NBR 9000. Sistema de gestão da qualidade, fundamentos e vocabulários. Rio de Janeiro: ABNT, 2005 - Direitos reservados AMORIN, Valter Vasconcelos. 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