Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MATERIAL DIDÁTICO FUNDAMENTOS DA SEGURANÇA NO TRABALHO CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................... 3 UNIDADE 2 - ACIDENTES X SEGURANÇA .............................................................. 6 UNIDADE 3 - EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE SEGURANÇA NO TRABALHO ... 8 3.1 RELAÇÕES DE TRABALHO NA SOCIEDADE PRIMITIVA ..................................................... 8 3.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E ACIDENTES DO TRABALHO ................................................ 13 3.3 PRIMEIRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO AO TRABALHADOR .............................................. 15 3.4 PROTEÇÃO AO TRABALHADOR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ...................................... 18 UNIDADE 4 - PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA NO TRABALHO .............................. 20 UNIDADE 5 - POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ................. 27 5.1 PROGRAMA DE SEGURANÇA .................................................................................... 28 5.2 ESTRUTURA E RESPONSABILIDADE .......................................................................... 28 5.3 TREINAMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO E COMPETÊNCIA .................................................. 28 5.4 CONSULTA E COMUNICAÇÃO ................................................................................... 29 5.5 DOCUMENTAÇÃO .................................................................................................... 29 5.6 MONITORAÇÃO DO DESEMPENHO ............................................................................ 30 UNIDADE 6 - SISTEMA DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO – SGSST .. 31 6.1 BS 8800:1996 – BRITISH STANDARDS .............................................................. 35 6.2 OHSAS 18.001 – OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ASSESSMENT SERIES .......... 39 6.3 GUIA ILO-OSH 2001 - GUIDELINES ON OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH MANAGEMENT SYSTEMS OU DIRETRIZES SOBRE SISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO .................................................................................................. 44 6.4 OBJETIVOS E VANTAGENS DE UM SGSST ................................................................ 47 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56 3 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO Bem-vindos ao curso! A Saúde e a Segurança do Trabalho caracterizam-se pela adoção de estratégias que levam os trabalhadores a desenvolver atitudes conscientes para o trabalho seguro durante a realização de suas atribuições. Visa, ainda, implantar preceitos e valores de segurança, no esforço de integrá-los à qualidade do trabalho e do meio ambiente, à produção e ao controle de custos das empresas (SENAC, 2006). Os Serviços de Segurança e Saúde no Trabalho das organizações exigem a formação de profissionais adequadamente preparados para a busca da qualidade, pressupondo a melhoria das condições dos ambientes de trabalho a fim de reduzir os níveis de risco e de proporcionar proteção aos trabalhadores, o que acarreta o aumento da produtividade e da competitividade das organizações. O Brasil, lamentavelmente, ainda é destaque em número de acidentes de trabalho e incidência de doenças ocupacionais, conforme indicam as estatísticas, estando sistematicamente entre os países que mais registram acidentes de trabalho no mundo. Essa posição poderia ser ainda pior, se todos os acidentes ocorridos fossem registrados e se o universo de trabalhadores abrangidos pelas estatísticas não estivesse aquém da força real de trabalho existente no País. O Anuário Estatístico da Previdência Social publicado em 2005 apresentou o seguinte quadro evolutivo dos acidentes de trabalho de 1996 a 2004. 4 Fonte: www.previdenciasocial.gov.br/estatisticas Dos 458.956 acidentes acontecidos no Brasil em 2004, 17.778 ocorreram na região Norte; 44.401 no Nordeste; 107.213 no Sul; 29.722 no Centro-Oeste e 259.842 no Sudeste, sendo que destes 170.036 foram em São Paulo. Constata-se, assim, a necessidade cada vez maior da formação de profissionais em nível técnico, possibilitando o exercício de suas atividades, de acordo com as normas legais, para responder às exigências decorrentes das formas de gestão, de novas técnicas e tecnologias e da globalização nas relações econômicas, o que vêm transformando a sociedade e a organização do trabalho. Estas práticas exigem desses profissionais a atuação em equipes multiprofissionais, com criatividade e flexibilidade, atendendo a diferentes situações em diversos tipos de organizações, permanentemente sintonizados com as transformações tecnológicas e socioculturais (SENAC, 2006). Pois bem, discorremos sobre acidentes, a segurança, a evolução, os princípios e políticas voltados para segurança no trabalho bem como analisaremos os sistemas de segurança e a normas, principalmente as AHSAS. Esta apostila não é uma obra inédita, trata-se de uma compilação de autores e temas ligados aos fundamentos de segurança no trabalho e tomamos o cuidado 5 de disponibilizar ao final da mesma, várias referências bibliográficas que podem complementar o assunto e sanar possíveis lacunas que vierem a surgir. Desejamos bons estudos a todos! 6 UNIDADE 2 - ACIDENTES X SEGURANÇA Muitas são as definições de acidente, e variam segundo o enfoque que pode ser legal, prevencionista, ocupacional, estatístico, previdenciário, entre outros. Uma definição abrangente e genérica apresenta o seguinte enunciado: ACIDENTE é um evento indesejável e inesperado que produz desconforto, ferimentos, danos, perdas humanas e ou materiais. Um acidente pode mudar totalmente a rotina e a vida de uma pessoa, modificar sua razão de viver ou colocar em risco seus negócios e propriedades (UNESP, 2010). Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o acidente não é obra do acaso e nem da falta de sorte. Denomina-se SEGURANÇA, a disciplina que congrega estudos e pesquisas visando eliminar os fatores perigosos que conduzem ao acidente ou reduzir seus efeitos. Seu campo de atuação vai desde uma simples residência até complexos conglomerados industriais (UNESP, 2010). Sob o ponto de vista dos especialistas em Segurança, os acidentes são causados por fatores conhecidos, previsíveis e controláveis. Milhares podem ser as causas de um simples acidente, entretanto todas elas podem ser agrupadas em duas categorias: Condição Insegura; Ato Inseguro. As pessoas reconhecem com maior facilidade as condições inseguras, que os atos inseguros. Por exemplo, um indivíduo ao abalroar o veículo que vai a sua frente, facilmente atribuirá a causa do acidente a: defeito nos freios; parada brusca do veículo dianteiro; pista molhada, entre outros. Este mesmo indivíduo terá muita dificuldade em admitir que a causa foi um ato inseguro decorrente de não ter mantido a mínima distância necessária, em relação ao veículo da frente, para uma parada de emergência. Estatisticamente sabe-se que os atos inseguros são responsáveis por mais de 90% dos acidentes das mais diversas naturezas. Uma condição insegura normalmente é o resultado do ato inseguro de alguém ao longo do desencadeamento do acidente. 7 A implosão parcial de um shopping center, devido ao vazamento de GLP1, é o resultado de uma condição insegura criada pelo ato inseguro daqueles que não deram tratamento técnico adequado ao projeto e ao local. O ato inseguro normalmente decorre de situações tais como: Excesso de confiança; Agir sem ter conhecimento específico do que está fazendo; Não valorizar medidas ou dispositivos de prevenção de acidentes; Exceder limites de máquinas, veículos ou do corpo humano; Uso de veículos para fins de demonstração e não transporte; Imprudência e negligencia; improvisações. No Brasil, os acidentes nas rodovias são causadores de milhares de mortos e feridos vindo a seguir acidentes na construção civil e na indústria. Nos países desenvolvidos medidas preventivas e de segurança de caráter individual ou coletivo são aplicadas e praticadas pela maioria de seus cidadãos, ao passo que nos países em desenvolvimento ainda são largamente inexistentes ou ignoradas. Em alguns destes países a legislação apresenta alguns absurdos como compensação monetária pela exposição ao risco (periculosidade, insalubridade), fazendo com que empregados e empregadores concentrem suas atenções no custo da exposição e não na eliminação da mesma (ST, 2006). Estes conceitos apresentados não só parecem como são primários, mas infelizmente a maioria das pessoas não se preocupa com a segurança como deveriam, daí as estatísticas mantêm-se altas, necessitando de uma política e programas de educação para a segurança nos vários tipos de trabalho. 1 Gás Liquefeito de petróleo – uma mistura de gases de hidrocarbonetos geralmente usados como combustível. 8 UNIDADE 3 - EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES DE SEGURANÇA NO TRABALHO A história nos situa no tempo e no espaço, leva a refletirmos sobre a evolução da vida, dos acontecimentos, como chegamos aqui e quais as perspectivas podemos reservar para o futuro, portanto, vamos conhecer um pouco da história do trabalho, dos acidentes e as relações de segurança no trabalho. 3.1 Relações de trabalho na sociedade primitiva Devido às inter-relações entre homem e trabalho, torna-se imprescindível discorrer sobre sua história. A disciplina segurança no trabalho foi concebida para prevenir os acidentes que atingem direta e indiretamente o trabalhador, por meio da segregação ou eliminação dos riscos gerados pelas condições dos locais de trabalho e pelas tecnologias empregadas, de modo a promover, continuamente, medidas para prevenção de acidentes, doenças e otimização das condições e do meio ambiente de trabalho. Por meio do trabalho, o homem atendeu e continua atendendo às suas necessidades bio-psico-sociais e construindo os bens que sustentam as bases da vida material em suas dimensões econômica, política, social, religiosa e cultural. Nos tempos mais remotos, o trabalho humano era restrito a tarefas que tinham como finalidade assegurar, essencialmente, a proteção do grupo e sua sobrevivência, desta forma, a caça e a pesca eram as atividades preponderantes. A vida era marcada pelo nomadismo e pela transumância, ou seja, o homem primitivo não vivia fixado num local determinado. Por evidenciar um espírito eminentemente gregário, detectou-se no homem primitivo os indícios da presença de uma noção, mesmo que muito rústica, de segurança e proteção coletiva (BRASIL, 2002). De acordo com Oliveira (2000), a transumância foi o fenômeno que possibilitou ao homem passar de caçador, nômade, para uma outra fase, intitulada coletora, passando a se valer de outras fontes de alimentos, como tubérculos, frutos silvestres e leguminosas. O fato do homem primitivo se abrigar em cavernas ou no cume das montanhas, buscando um modo de proteção contra as intempéries, animais de grande porte e até mesmo de inimigos, merece destaque neste início de curso, pois 9 revela comportamentos em busca de medidas de proteção coletiva, como requisito básico para a própria sobrevivência e do grupo (BRASIL, 2002). Como esses grupos se abrigavam em cavernas próximas a cursos d’água, sementes e raízes presentes nos restos de alimentos jogados à terra começavam a se reproduzir e, por conseguinte, a lhes proporcionar uma outra fonte de alimento, nascendo dessa experiência a agricultura. Com a evolução da agricultura, criaram-se as bases necessárias a uma nova experiência de vida – o pastoreio. Através das atividades relacionadas com o pastoreio, o homem passou a dispor de animais não somente como fonte de alimento, mas também como meio de tração. A agricultura permitiu o aumento populacional do homem e o tornou sedentário, isto é, fixado em uma base territorial onde se encontram as terras cultivadas e as primeiras edificações, onde se formaram as primeiras cidades, nações e impérios. Por este novo paradigma o homem é liberado da transumância penosa, abrindo caminho à agropecuária (BRASIL, 2002). A agropecuária marcou um dos estágios mais significativos da evolução humana, não só porque facilitou ao homem a obtenção dos meios necessários à vida, como a alimentação e a habitação, mas, principalmente, por ter lhe proporcionado um dos primeiros modelos de organização e economia que vai estimular a produção de excedentes. No entendimento de Oliveira (2000), quando o homem passou a produzir mais do que era necessário ao consumo diário e desenvolveu a ideia de guardar esse excedente para consumo posterior, nasceram as trocas e a noção de posse. Por meio das trocas, o intercâmbio entre povos diferentes tornou-se possível. A noção de propriedade, a princípio grupal, depois privada, mudou radicalmente os paradigmas da vida humana. O advento da propriedade privada levou o homem a construir uma outra forma de vida calcada na organização e no controle. A família monogâmica e o Estado, que surgiram em virtude dessa mudança, passaram a dar sustentação a esse novo estilo de vida. Da propriedade privada ao escravismo foi apenas uma questão de tempo (BRASIL, 2002). Das lutas travadas contra seus inimigos, emerge naturalmente no homem a necessidade de se proteger, portanto, ele começa a adotar as primeiras medidas de proteção individual e coletiva. Cave (1986 apud Brasil, 2002) afirma que a forma 10 mais antiga de proteção individual adotada pelos nossos ancestrais foi o “escudo”. O homem primitivo sabia que entre ele e o perigo havia a necessidade de se antepor uma barreira para sua defesa. Foi bastante natural também pensar que essa barreira pudesse ser carregada pelo homem de um local para outro. Em seguida, o homem adota também o capacete para proteção da cabeça nas lutas contra seus inimigos e, mais tarde, em estádios mais avançados da história, os guerreiros adotam armaduras de metal, composta por elmo, couraça e cota de malha. Associadas a essas práticas nasciam também os inconvenientes e até os primeiros casos de rejeição ao uso (BRASIL, 2002). Quando o homem se conscientizou de que a riqueza acumulada era oriunda da terra e de braços que a cultivavam, começou a poupar da morte os vencidos de guerra e a transformá-los em produtores de excedentes – os escravos – que, a princípio, produtores de bens, em pouco tempo vieram a se transformar em um deles, sendo transacionados como qualquer outro bem de consumo. É importante destacar que o rebaixamento de cidadão à condição de escravo, segundo costumes e normas adotadas por civilizações na Idade Antiga e no período medieval, podia se dar por questões políticas e até mesmo pelo inadimplemento de uma dívida. Na condição de escravo nenhum tipo de direito ou defesa, nem mesmo religiosa, era assegurado ao indivíduo. Ao escravo só restava ser produtivo e leal ao seu dono. A única preocupação de seu dono era a de evitar que ele adoecesse ou tivesse morte prematura, pois assim deixaria de explorá-lo ao máximo de sua resistência física (OLIVEIRA, 2000). A partir deste período e em decorrência do novo contexto vivenciado pelo grupo humano, compreende-se o desinteresse e a inexistência de registros históricos relacionados com a segurança do trabalhador, uma vez que os trabalhos mais pesados ou de mais elevado risco eram destinados a escravos. Além disto, na cultura greco-romana, o trabalho se relacionava em sua origem filosóficaao rebaixamento humano, porque ligava o indivíduo à matéria, daí ser também sinônimo de castração, de sofrimento, humilhação, expiação e de afastamento dos deuses (BRASIL, 2002). Para se ter uma dimensão mais clara do descaso com os registros sobre as questões ligadas à proteção do trabalhador à época, mesmo Hipócrates (460-375 a.C.) citado por Mendes (1996), no momento em que descreve com particular agudeza o quadro clínico da intoxicação saturnina, encontrado em um trabalhador 11 mineiro, omite totalmente o ambiente de trabalho e a ocupação no seu clássico “Ares, Águas e Lugares”. Inúmeros ensinamentos são dedicados às relações entre ambiente – incluindo clima, topografia, qualidade da água e mesmo organização política e saúde, sem haver qualquer menção às condições em que o trabalho era realizado. Ramazzini (2000) cita a preocupação de Lucrécio em Roma, um século antes do início da Era Cristã, já perguntando a respeito dos cavadores das minas: “Não viste ou ouviste como morrem em tão pouco tempo, quando ainda tinham tanta vida pela frente?”. O mesmo ocorre com Plínio, o Velho (23 a 79 d.C.), citado por Mendes (1996), autor da obra De História Naturalis, que, após visitar alguns locais de trabalho, principalmente galerias de minas, descreve impressionado o aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e a poeiras. Mendes (1996) menciona a iniciativa dos escravos de utilizarem à frente do rosto, à guisa de máscaras rústicas, panos ou membranas de bexiga de carneiro para atenuar a inalação de poeiras. Na Europa, do ponto de vista do trabalho, especificamente do trabalho manual, a transformação do escravismo em feudalismo mudou pouco a vida das pessoas. Os escravos e os trabalhadores romanos, com o feudalismo, transformaram-se em servos de gleba, tão miseráveis quanto antes. O único ganho foi o de não serem mais vendidos como mercadoria qualquer, ficando, porém, vinculados ao senhor feudal (BRASIL, 2002). Os primeiros registros de casos de acidentes e doenças e os seus respectivos nexos com o trabalho ocorreram na Idade Média e foram efetuados por médicos que atendiam pacientes nas corporações de ofícios. Hunter (apud Nogueira, 1981) afirma que, em 1556, Georg Bauer, mais conhecido pelo seu nome latino de Georgii Agricolae, publica o livro De Re Metallica, onde eram relatados estudos sobre os diversos problemas relacionados à extração de minérios argentíferos e auríferos e sua fundição. Conforme as observações de Agricolae, em algumas regiões extrativas, “as mulheres chegavam a casar sete vezes, roubadas que eram de seus maridos, pela morte prematura encontrada na ocupação que exerciam”. O próprio Agricolae já sabia como estes problemas poderiam ser evitados. Não se tratava de uma questão médica e sim de um problema de natureza tecnológica, decorrente do processo de trabalho utilizado, cuja modificação, acrescida da introdução de meios para melhorar 12 a ventilação no interior das minas, poderia, como medida profilática, proteger os trabalhadores da inalação de poeiras nocivas. O mesmo Hunter (apud Nogueira, 1981) assinala também a publicação, no ano de 1567, da primeira monografia sobre as relações entre trabalho e doença, de autoria de Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido pelo nome de Paracelso. Seu autor nasceu e viveu durante muitos anos em um centro da Boêmia, sendo numerosas as suas observações relacionando métodos de trabalho ou substâncias manuseadas e doenças, destacando-se, por exemplo, que, em relação à intoxicação pelo mercúrio, os principais sintomas dessa doença profissional, a despeito de sua importância, ali se encontram assinalados. Estes trabalhos pioneiros permaneceram praticamente ignorados por mais de um século e não tiveram qualquer influência sobre a segurança ou a saúde do trabalhador (BRASIL, 2002). Em 1700, era publicada em Módena, na Itália, a primeira edição de um livro que iria ter notável repercussão em todo o mundo. Tratava-se da obra De Morbis Artificum Diatriba – as doenças dos trabalhadores – de autoria do médico italiano Bernardino Ramazzini, mais tarde justamente cognominado o “Pai da Medicina do Trabalho”. Neste famoso tratado, o autor descreve uma série de mais de 50 doenças relacionadas a profissões diversas. Às perguntas hipocráticas fundamentais na anamnese médica, propõe Ramazzini que se acrescente mais uma: “Qual é a sua ocupação?” De acordo com o autor, tal pergunta é considerada oportuna e é mesmo necessário lembrar ao médico que trata um homem do povo, que dela se vale para chegar às causas ocasionais do mal, a qual nunca é posta em prática, ainda que o médico a conheça. Entretanto, se a houvesse observado, poderia obter uma cura mais feliz. (RAMAZZINI, 2000). Brasil (2002) ressalta que a importância do trabalho de Ramazzini não pôde ser devidamente avaliada na época. Realmente, ainda predominavam as corporações de ofício, com número de trabalhadores relativamente pequeno e um sistema de trabalho muito peculiar. Os casos de doenças profissionais eram poucos, assim, não obstante as corporações não raro disporem de médicos que deviam atender seus membros, tais profissionais praticamente ignoraram o trabalho de Ramazzini, cuja importância só seria reconhecida quase um século mais tarde. 13 3.2 Revolução Industrial e acidentes do trabalho Os impactos da Revolução Industrial ocorrida na Europa, notadamente na Inglaterra, França e Alemanha, principalmente sobre a vida e a saúde das pessoas têm sido objeto de importantes estudos. Historiadores sociais, cientistas políticos, economistas e outros têm enfocado este período da história, principalmente de 1760 a 1850, com detalhes descritivos e analíticos extremamente minuciosos e perspicazes, até porque o fenômeno, em sua natureza, tem se repetido em outras regiões e épocas, sem que as lições mais duras e cruéis tivessem sido aprendidas. Hunter (apud Mendes, 1996), afirma que toda a sorte de acidentes graves, mutilantes e fatais, além de intoxicações agudas e outros agravos à saúde, atingiram os trabalhadores, incluindo crianças de cinco, seis ou sete anos e mulheres, preferidos que eram – crianças e mulheres – pela possibilidade de lhes serem pagos salários mais baixos. Nogueira (1981) enfatiza que a Revolução Industrial foi um marco inicial da moderna industrialização que teve a sua origem com o aparecimento da primeira máquina de fiar. Até então, a fiação e tecelagem de tecidos tinham constituído uma atividade doméstica tradicional, com uma produção apenas suficiente para atender às necessidades do próprio lar e com um pequeno excesso que era vendido, a preço elevado, em regiões onde estas atividades não eram desenvolvidas. O advento das máquinas, que fiavam em ritmo muitíssimo superior ao do mais hábil artífice, tornou possível uma produção de tecidos em níveis, até então, não imaginados. Até o advento das primeiras máquinas de fiação e tecelagem, o artesão fora dono dos seus meios de produção. O custo relativamente elevado das máquinas, porém, não mais permitiu ao próprio artífice possuí-las, desta forma, essas máquinas eram adquiridas pelos detentores do capital, antevendo as possibilidades econômicas dos altos níveis de produção. A burguesia necessitava empregar pessoas para fazer as máquinas funcionarem, surgiram, assim, as primeiras manufaturas, fábricas de tecidos, e com elas, uma marcante dicotomia entre o capital e o trabalho (BRASIL, 2002). As primeiras máquinas de fiação e tecelagem necessitavam de força motriz para acioná-las e esta foi encontrada na energia hidráulica. As primeiras fábricas foram instaladas em antigos moinhos. A localização não permitia uma expansão adequada da nascente indústria, que era obrigada a instalar-se apenas junto a 14 cursos d’água. A invenção da máquina a vapor e seuaperfeiçoamento no ano de 1760 por Scott James Watt, permitiram a instalação de fábricas em outros lugares mais favoráveis ao comércio. Naturalmente as grandes cidades, onde existia abundante mão-de-obra com salários aviltados, foram escolhidas como locais favoritos para o funcionamento das indústrias. Huberman (1976) destaca que a introdução da máquina a vapor do Sr. Watt era tão importante para os ingleses que, “no ano de 1800, essas máquinas se encontravam em uso em 30 minas de carvão, 22 minas de cobre, 28 fundições, 17 cervejarias e 8 usinas de algodão”. Galpões, estábulos e velhos armazéns, eram rapidamente transformados em fábricas, colocando-se no seu interior o maior número possível de máquinas de fiação e tecelagem. Nas grandes cidades inglesas, o baixo nível de qualidade de vida e as famílias com numerosa quantidade de filhos, garantiam um suprimento fácil de mão-de-obra com míseros salários, sendo aceitos, como trabalhadores, não só homens, mas também mulheres e mesmo crianças, sem quaisquer restrições quanto ao estado de saúde e desenvolvimento físico. Intermediários inescrupulosos percorriam as grandes cidades inglesas arrebanhando crianças que lhes eram vendidas por pais miseráveis e, posteriormente, revendidas a cinco libras por cabeça aos empregadores que, ansiosos por obter um suprimento inesgotável de mão-de-obra barata, se comprometiam a aceitar uma criança débil mental para cada 12 crianças sadias (NOGUEIRA, 1981). A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por crianças e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. O número de acidentes do trabalho era aterrorizante, provocados por máquinas sem qualquer tipo de proteção e movidas por engrenagens e correias expostas, sendo que as mortes, principalmente de crianças, eram muito frequentes. Inexistindo limites de horas de trabalho, homens, mulheres e crianças iniciavam suas atividades pela madrugada, abandonando-as somente ao cair da noite. Em muitos casos o trabalho continuava mesmo durante a noite em fábricas precariamente iluminadas por bicos de gás. As atividades profissionais eram executadas em ambientes fechados, com ventilação extremamente escassa. Os ruídos provocados pelas máquinas primitivas atingiam limites altíssimos, tornando impossível até mesmo a audição de ordens e comandos, o que muito contribuía para aumentar o número de acidentes (BRASIL, 2002). 15 Não é, pois, de estranhar-se, que doenças de toda a ordem se alastrassem entre os trabalhadores, especialmente entre as crianças, doenças tanto de origem não ocupacional (principalmente as infectocontagiosas, como o tifo europeu, que era chamado de febre das fábricas), quanto de origem ocupacional, cujo número aumentava à medida que se abriam novas fábricas e novas atividades industriais eram iniciadas (MENDES, 1996). 3.3 Primeiras medidas de proteção ao trabalhador As primeiras medidas de proteção ao trabalhador, adotadas nas fábricas inglesas, eram de natureza estritamente médica. Nascia uma preocupação direcionada à higiene pessoal nos locais de trabalho, por conseguinte, também relacionada com a saúde dos trabalhadores. Inexistiam relatos sobre iniciativas destinadas à segurança no trabalho, entendida como medidas de natureza educativa, técnica ou legal, voltadas para melhoria do ambiente de trabalho, proteção coletiva e individual, segregação ou eliminação de fontes de riscos de acidentes, proteção e otimização de máquinas, ferramentas e equipamentos (BRASIL, 2002). No início do século XIX, na Inglaterra, a dramática situação dos trabalhadores não poderia deixar indiferente a opinião pública e, por essa razão, criou-se no Parlamento britânico, sob a direção de Sir Robert Peel, uma comissão de inquérito que, após longa e tenaz luta, conseguiu que, em 1802, fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano e tornava obrigatória a ventilação destas. Tal lei não resolvia senão parcela mínima do problema e assim foi seguida de leis complementares surgidas em 1819, em geral, pouco eficientes devido à forte oposição dos empregadores. Em 1830, quando as condições de trabalho das crianças ainda se mostravam péssimas, a despeito dos diversos documentos legais, Robert Dernham, proprietário de uma indústria têxtil inglesa, que se sentia perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus pequenos trabalhadores, procurou Robert Baker, famoso médico inglês, pedindo-lhe conselho sobre a melhor forma de proteger a 16 saúde dos mesmos. Baker vinha já há bastante tempo se interessando pelo estudo do problema da saúde dos trabalhadores. Conhecedor que era da obra de Ramazzini dedicava grande parte de seu tempo a visitar fábricas e a tomar conhecimento das relações entre trabalho e doença, o que levou o governo britânico, quatro anos mais tarde, a nomeá-lo Inspetor Médico de Fábricas (BRASIL, 2002). Diante do pedido do empregador inglês, Baker aconselhou-o: “Coloque no interior de sua fábrica o seu próprio médico, que servirá de intermediário entre você, os seus trabalhadores e o público. Deixe-o visitar a fábrica, sala por sala, sempre que existam pessoas trabalhando, de maneira que ele possa verificar o efeito do trabalho sobre as pessoas. E se ele verificar que qualquer dos trabalhadores está sofrendo a influência de causas que possam ser prevenidas, a ele competirá fazer tal prevenção. Dessa forma você poderá dizer meu médico é a minha defesa, pois a ele dei toda a minha autoridade no que diz respeito à proteção da saúde e das condições físicas dos meus operários. Se algum deles vier a sofrer qualquer alteração da saúde, o médico unicamente é que deve ser responsabilizado”. Surgia, assim, o primeiro serviço médico industrial em todo o mundo (OLIVEIRA, 1998). A iniciativa daquele empregador, movida até pelo temor de ser responsabilizado pelos infortúnios laborais, veio mostrar a necessidade urgente de medidas de proteção aos trabalhadores, pelo que, em 1831, uma comissão parlamentar de inquérito, elaborou um cuidadoso relatório, concluído do seguinte modo: Diante desta Comissão desfilou longa procissão de trabalhadores – homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era a clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que, quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à capacidade dos fortes (MENDES, 1996). O impacto deste relatório sobre a opinião pública foi tremendo, e assim, no ano de 1833, foi baixado na Inglaterra o Factory Act 1833, que deve ser considerada como a primeira legislação realmente eficiente no campo da proteção ao trabalhador. Aplicava-se a todas as empresas têxteis onde se usasse força hidráulica ou a vapor; proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos e restringia as horas de trabalho destes a 12hs por dia e 69 por semana; as fábricas precisavam 17 ter escolas, que deviam ser frequentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos; a idade mínima para o trabalho era de nove anos, e um médico devia atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondia à sua idade cronológica (NOGUEIRA, 1981). O grande desenvolvimento industrial da Grã-Bretanha levou ao estabelecimento de uma série de medidas legislativas, destacando-se a criação do Factory Inspectorate, primeiro órgão do Ministério do Trabalho britânico, com função de proceder ao exame médico pré-admissional, ao exame médico periódico, ao estudo de casos de doenças causadas por agentesquímicos potencialmente perigosos e à notificação e investigação de doenças profissionais, especialmente em fábricas pequenas, que não dispunham de serviço médico próprio (BRASIL, 2002). Observada por Oliveira (1988), a expansão da Revolução Industrial no resto da Europa resultou, também, no aparecimento progressivo dos serviços médicos de empresa industrial em diversos países, sendo que em alguns deles, foi dada tal importância a esses serviços que sua existência deixou de ser voluntária, como de princípio na Grã-Bretanha, para tornar-se de imediato obrigatória. Nos Estados Unidos, a despeito da industrialização ter-se desenvolvido de forma acentuada, a partir da segunda metade do século XIX, os serviços médicos nas empresas permaneceram praticamente desconhecidos, não dando os empregadores nenhuma atenção especial aos problemas de saúde dos seus trabalhadores. No entanto, o aparecimento, no início do século XX, da legislação sobre indenizações em casos de acidentes do trabalho, levou os empregadores a estabelecerem os primeiros serviços médicos de empresa industrial naquele país, com o objetivo básico de reduzir o custo das indenizações, através de cuidado adequado dos casos de acidentes e doenças profissionais. Desses relatos se conclui que, mesmo na Europa e nos Estados Unidos, a conscientização dos empregadores precisava ser impulsionada pela coerção da lei, pois continuava inexistindo, salvo raríssimas exceções, interesse em preservar a saúde ou a vida dos trabalhadores (BRASIL, 2002). No final do século XIX, no dia 15 de maio de 1891, a Encíclica do Papa Leão XIII, De Rerum Novarum, conclama os povos no sentido da justiça social, influenciando legisladores e estadistas para o avanço da proteção social. A Encíclica mencionada, no Capítulo 22, asseverou ser absolutamente necessário “aplicar a força e autoridade das leis, dentre outros casos, contra os patrões que esmagam os 18 trabalhadores sob o peso de ônus iníquos, ou desonram, neles, a pessoa humana, por condições indignas e degradantes ou, ainda, que atentam contra a saúde destes por um trabalho desproporcionado com a sua idade e sexo”. Mais adiante, no capítulo 27 desta mesma Encíclica, a censura contra os abusos dos empregadores é clara “Não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso de fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo. A atividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites que se não podem ultrapassar” (apud OLIVEIRA, 1998). 3.4 Proteção ao trabalhador no mundo contemporâneo No período que coincide com a Primeira Guerra Mundial, manifestações e reivindicações ocorridas em diversos congressos de trabalhadores levaram à Conferência da Paz de 1919, organizada pela Sociedade das Nações, a criar, pelo Tratado de Versalhes, a Organização Internacional do Trabalho – OIT. Esta organização foi criada com o propósito de dar às questões trabalhistas um tratamento uniformizado, com fundamento na justiça social. O preâmbulo da constituição da OIT enfatiza que “existem condições de trabalho que implicam para grande número de indivíduos misérias e privações, e que o descontentamento que daí decorre põe em perigo a paz e harmonia universais.” (SUSSEKIND, 1994). Já na primeira reunião da OIT, no ano de 1919, foram aprovadas seis convenções, com visíveis propósitos de proteger à saúde e integridade física dos trabalhadores, tratando de limitação da jornada de trabalho, desemprego, proteção à maternidade, trabalho noturno das mulheres, idade mínima para admissão de crianças e o trabalho noturno dos menores. O eco dessas convenções, posteriormente, levou representantes da Organização Internacional do Trabalho – OIT e da Organização Mundial da Saúde – OMS a se reunirem para deliberar e estudar com maior ênfase o assunto. Em 1950, a Comissão Conjunta OIT/OMS sobre saúde ocupacional estabeleceu, de forma muito ampla, os objetivos da saúde ocupacional. Em junho de 1953, a Conferência Internacional do Trabalho adotou princípios, elaborando a Recomendação n° 97, sobre a Proteção à Saúde dos Trabalhadores em Locais de Trabalho, e insistiu com os Estados-membros, no sentido de que os mesmos incrementassem a criação de serviços médicos nos locais de trabalho. Em junho de 1959, a 43ª Conferência 19 Internacional do Trabalho, reunida em Genebra, Suíça, estabeleceu a sua Recomendação n° 112, que tomou o nome de “Recomendação para os Serviços de Saúde Ocupacional” (BRASIL, 2002). 20 UNIDADE 4 - PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA NO TRABALHO São vários os princípios de segurança que já salvaram muitas vidas, sendo relacionados abaixo os mais básicos e simples de seguir. Salientamos que ao longo do curso falaremos das normas regulamentadores, as quais agem de maneira mais concreta e mediante protocolos, ou seja, são preconizadas em leis. Reconheça suas limitações Não tente realizar um trabalho para o qual você não está qualificado. A falta de conhecimentos e o jeitinho podem trazer consequências lamentáveis. Seu corpo também tem limitações, ele só pode alcançar até determinada altura e levantar determinado peso. Leia os manuais antes de operar algo Entenda a intenção do fabricante de determinado dispositivo e para quê e dentro de que limites foi projetado para atuar. Os manuais não foram feitos para serem usados só em caso de dúvidas e sim permitir a correta utilização de determinado dispositivo. Use ferramentas apropriadas Cada ferramenta tem limitações e um propósito específico de utilização. As ferramentas e máquinas têm uma maneira inesperada e violenta de protestarem quando ao seu uso inadequado. Use o método apropriado Não utilize improvisações ou de nenhum método para realizar determinada tarefa, trabalho ou atividade. Siga regulamentos, sinalizações e instruções Eles foram idealizados para protegê-lo. Um sinal de pare, pode indicar que naquele local muitas pessoas já se acidentaram. 21 Use bom senso e moderação Existe uma grande diferença entre eficácia e pressa. Um ritmo consistente e progressivo permitirá atingir os objetivos a médio e longo prazo. Valorize sua vida e a dos outros Haja e pense como ser humano que é, não permita que o instinto prevaleça. DECLARAÇÃO DA OIT SOBRE OS PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS NO TRABALHO Considerando que a criação da OIT procede da convicção de que a justiça social é essencial para garantir uma paz universal e permanente; Considerando que o crescimento econômico é essencial, mas insuficiente, para assegurar a equidade, o progresso social e a erradicação da pobreza, o que confirma a necessidade de que a OIT promova políticas sociais sólidas, a justiça e instituições democráticas; Considerando, portanto, que a OIT deve hoje, mais do que nunca, mobilizar o conjunto de seus meios de ação normativa, de cooperação técnica e de investigação em todos os âmbitos de sua competência, e em particular no âmbito do emprego, a formação profissional e as condições de trabalho, a fim de que no âmbito de uma estratégia global de desenvolvimento econômico e social, as políticas econômicas e sociais se reforcem mutuamente com vistas à criação de um desenvolvimento sustentável de ampla base; Considerando que a OIT deveria prestar especial atenção aos problemas de pessoas com necessidades sociais especiais, em particular os desempregados e os trabalhadores migrantes, mobilizar e estimular os esforços nacionais, regionais e internacionais encaminhados à solução de seus problemas, e promover políticas eficazes destinadas à criação de emprego; Considerando que, com o objetivo de manter o vínculo entre progresso social e crescimento econômico, a garantia dos princípios e direitos fundamentais no trabalho reveste uma importância e um significado especiais ao assegurar aos próprios interessadosa possibilidade de reivindicar livremente e em igualdade de oportunidades uma participação justa nas riquezas cuja criação têm contribuído, assim como a de desenvolver plenamente seu potencial humano; 22 Considerando que a OIT é a organização internacional com mandato constitucional e o órgão competente para estabelecer Normas Internacionais do Trabalho e ocupar-se das mesmas, e que goza de apoio e reconhecimento universais na promoção dos direitos fundamentais no trabalho como expressão de seus princípios constitucionais; Considerando que numa situação de crescente interdependência econômica urge reafirmar a permanência dos princípios e direitos fundamentais inscritos na Constituição da Organização, assim como promover sua aplicação universal. A Conferência Internacional do Trabalho, 1. Lembra: a) que no momento de incorporar-se livremente à OIT, todos os Membros aceitaram os princípios e direitos enunciados em sua Constituição e na Declaração de Filadélfia, e se comprometeram a esforçar-se por alcançar os objetivos gerais da Organização na medida de suas possibilidades e atendendo a suas condições específicas; b) que esses princípios e direitos têm sido expressados e desenvolvidos sob a forma de direitos e obrigações específicos em convenções que foram reconhecidas como fundamentais dentro e fora da Organização. 2. Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e, d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. 3. Reconhece a obrigação da Organização de ajudar a seus Membros, em resposta às necessidades que tenham sido estabelecidas e expressadas, a alcançar esses objetivos fazendo pleno uso de seus recursos constitucionais, de funcionamento e orçamentários, incluída a mobilização de recursos e apoio externos, assim como estimulando a outras organizações internacionais com as 23 quais a OIT tenha estabelecido relações, de conformidade com o artigo 12 de sua Constituição, a apoiar esses esforços: a) oferecendo cooperação técnica e serviços de assessoramento destinados a promover a ratificação e aplicação das convenções fundamentais; b) assistindo aos Membros que ainda não estão em condições de ratificar todas ou algumas dessas convenções em seus esforços por respeitar, promover e tornar realidade os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções; e, c) ajudando aos Membros em seus esforços por criar um meio ambiente favorável de desenvolvimento econômico e social. 4. Decide que, para tornar plenamente efetiva a presente Declaração, implementar-se-á um seguimento promocional, que seja crível e eficaz, de acordo com as modalidades que se estabelecem no anexo que será considerado parte integrante da Declaração. 5. Sublinha que as normas do trabalho não deveriam utilizar-se com fins comerciais protecionistas e que nada na presente Declaração e seu seguimento poderá invocar-se nem utilizar-se de outro modo com esses fins; ademais, não deveria de modo algum colocar-se em questão a vantagem comparativa de qualquer país sobre a base da presente declaração e seu seguimento. I. OBJETIVO GERAL 1. O objetivo do seguimento descrito a seguir é estimular os esforços desenvolvidos pelos Membros da Organização com o objetivo de promover os princípios e direitos fundamentais consagrados na Constituição da OIT e a Declaração de Filadélfia, que a Declaração reitera. 2. De conformidade com este objetivo estritamente promocional, o presente seguimento deverá contribuir a identificar os âmbitos em que a assistência da Organização, por meio de suas atividades de cooperação técnica, possa resultar útil a seus Membros com o fim de ajudá-los a tornar efetivos esses princípios e direitos fundamentais. Não poderá substituir os mecanismos de controle estabelecidos nem obstar seu funcionamento; por conseguinte, as situações particulares próprias ao âmbito desses mecanismos não poderão discutir-se ou rediscutir-se no âmbito do referido seguimento. 24 3. Os dois aspectos do presente seguimento, descritos a seguir, recorrerão aos procedimentos existentes; o seguimento anual relativo às convenções não ratificadas somente suporá certos ajustes às atuais modalidades de aplicação do artículo 19, parágrafo 5, e) da Constituição, e o relatório global permitirá otimizar os resultados dos procedimentos realizados em cumprimento da Constituição. II. SEGUIMENTO ANUAL RELATIVO ÀS CONVENÇÕES FUNDAMENTAIS NÃO RATIFICADAS A. Objeto e âmbito de aplicação. 1. Seu objetivo é proporcionar uma oportunidade de seguir a cada ano, mediante um procedimento simplificado que substituirá o procedimento quadrienal introduzido em 1995 pelo Conselho de Administração, os esforços desenvolvidos de acordo com a Declaração pelos Membros que não ratificaram ainda todas as convenções fundamentais. 2. O seguimento abrangerá a cada ano as quatro áreas de princípios e direitos fundamentais enumerados na Declaração. B. Modalidades 1. O seguimento terá como base relatórios solicitados aos Membros em virtude do artigo 19, parágrafo 5, e) da Constituição. Os formulários de memória serão estabelecidos com a finalidade de obter dos governos que não tiverem ratificado alguma das convenções fundamentais, informação sobre as mudanças que ocorreram em sua legislação e sua prática, considerando o artigo 23 da Constituição e a prática estabelecida. 2. Esses relatórios, recopilados pela Repartição, serão examinadas pelo Conselho de Administração. 3. Com o fim de preparar uma introdução à compilação dos relatórios assim estabelecida, que permita chamar a atenção sobre os aspectos que mereçam em seu caso uma discussão mais detalhada, a Repartição poderá recorrer a um grupo de peritos nomeados com este fim pelo Conselho de Administração. 4. Deverá ajustar-se o procedimento em vigor do Conselho de Administração para que os Membros que não estejam nele representados possam proporcionar, da maneira mais adequada, os esclarecimentos que no seguimento de suas discussões possam resultar necessárias ou úteis para completar a informação contida em suas memórias. 25 III. RELATÓRIO GLOBAL A. Objeto e âmbito de aplicação. 1. O objeto deste relatório é facilitar uma imagem global e dinâmica de cada uma das categorias de princípios e direitos fundamentais observada no período quadrienal anterior, servir de base à avaliação da eficácia da assistência prestada pela Organização e estabelecer as prioridades para o período seguinte mediante programas de ação em matéria de cooperação técnica destinados a mobilizar os recursos internos e externos necessários a respeito. 2. O relatório tratará sucessivamente cada ano de uma das quatro categorias de princípios e direitos fundamentais. B. Modalidades 1. O relatório será elaborado sob a responsabilidade do Diretor-Geral sobre a base de informações oficiais ou reunidas e avaliadas de acordo com os procedimentos estabelecidos. Em relação aos países que ainda não ratificaram as convenções fundamentais, referidas informações terão como fundamento, em particular, no resultado do seguimento anual antes mencionado. No caso dos Membros que tenham ratificado as convenções correspondentes, estas informações terão como base, em particular, os relatórios (memórias) tal como são apresentados e tratados em virtude do artículo 22 da Constituição. 2.Este relatório será apresentado à Conferência como um relatório do Diretor- Geral para ser objeto de uma discussão tripartite. A Conferência poderá tratá-lo de um modo distinto do inicialmente previsto para os relatórios aos que se refere o artigo 12 de seu Regulamento, e poderá fazê-lo numa sessão separada dedicada exclusivamente a esse informe ou de qualquer outro modo apropriado. Posteriormente, corresponderá ao Conselho de Administração, durante uma de suas reuniões subsequentes mais próximas, tirar as conclusões de referido debate no relativo às prioridades e aos programas de ação em matéria de cooperação técnica que deva implementar durante o período quadrienal correspondente. IV. FICA ENTENDIDO QUE: 1. O Conselho de Administração e a Conferência deverão examinar as emendas que resultem necessárias a seus regulamentos respectivos para executar as disposições anteriores. 26 2. A Conferência deverá, em determinado momento, reexaminar o funcionamento do presente seguimento considerando a experiência adquirida, com a finalidade de comprovar se este mecanismo está ajustado convenientemente ao objetivo enunciado na Parte I. 3. O texto anterior é o texto da Declaração da OIT relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho e seu seguimento devidamente adotada pela Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho durante a Octogésima sexta reunião, realizada em Genebra e cujo encerramento foi declarado em 18 de junho de 1998. É FÉ DO QUAL foi assinado neste décimo nono dia de junho de 1998. Presidente da Conferência JEAN-JACQUES OECHSLIN O Diretor Geral da Oficina Internacional do Trabalho MICHEL HANSENNE OIT 2001 27 UNIDADE 5 - POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Segundo Silva (2008), quando se fala da implantação, seja de um sistema de gestão ou então de uma cultura voltada à segurança do trabalho, o primeiro passo está relacionado ao estabelecimento de uma política de Segurança e Saúde no Trabalho (SST), onde esta pode ser definida como a linha de conduta adotada pela empresa para o desenvolvimento, o desempenho e os objetivos das suas atividades preventivas de infortúnios trabalho. Trata-se de uma orientação geral que ao ser desenvolvida deve levar em conta fatores como as características da organização, seus riscos, legislação e cultura. O principal aspecto que norteia este processo é o fato de que a política de segurança e saúde no trabalho deve ser desenvolvida e ratificada pela alta administração da empresa. Essa política deve atender no mínimo a alguns requisitos, tais como: Ser apropriada à natureza e escala dos riscos de saúde e segurança da organização; Incluir o comprometimento para melhoria contínua; Comprometer-se em cumprir com a legislação e regulamentos em vigor referentes à saúde e segurança, e com outros requisitos com os quais a organização se subscreva; Ser comunicada a todos os empregados para que se conscientizem de suas obrigações pessoais com relação à saúde e segurança; Estar disponível às partes interessadas; Ser revisadas periodicamente para assegurar que permaneça relevante e apropriada para organização Colocação da gestão da SST como uma primeira responsabilidade dos gerentes de linha, do mais alto executivo ao primeiro nível de supervisão; Garantia de treinamento de todos empregados; Análises críticas periódicas das políticas e auditorias; Garantia de seu entendimento, implementação e manutenção de todos os níveis da organização (SILVA, 2008). 28 5.1 Programa de Segurança Visando auxiliar na implantação da política e objetivo, devem ser criados programas de segurança direcionados a diversas atividades da empresa, sendo gerenciados conforme as atividades, produtos, serviços e condições operacionais a organização. Definem as principais ações relacionadas a este programa: Ações formadas e seu cumprimento; Definição de responsabilidades; Prazos Fixados; Recursos necessários. 5.2 Estrutura e Responsabilidade A principal responsabilidade sobre a segurança e saúde do trabalho é da alta administração da empresa, que deve garantir os recursos necessários para sua implementação. Esta deve também nomear um membro responsável pela perfeita implantação e manutenção do sistema de gestão de SST, e que repasse para cada empregado o seu papel perante esta atividade. Definem que estas atividade devem ser definidas, documentadas e comunicadas, a fim de facilitar a gestão da Segurança e Saúde do Trabalho (SILVA, 2008). 5.3 Treinamento, conscientização e competência Ao estabelecer uma política educacional na área da prevenção, a empresa estará garantindo pessoas mais capacitadas para o desenvolvimento de seu trabalho, utilizando-se de procedimentos mais seguros. Descreve que as pessoas devem compreender o que se espera delas na realização de suas tarefas e de como estas atividades contribuem para os resultados da organização, certamente terão um desempenho satisfatório na realização de seus serviços. Ao mesmo tempo, estes procedimentos servem de apoio para que os empregados tenham mais condições de participar no processo prevencionista, além de tirar lições do seu dia-a-dia para empregado ou grupo frente à segurança do trabalho. Desta forma, verifica-se a necessidade constante de treinamento e conscientização dos empregados, de forma a tornar a segurança do trabalho um processo contínuo no dia-a-dia do trabalho. 29 Prevenir é um processo e não um produto, um objeto acabado e palpável. É um processo à medida que é composto por cadeias de comportamento dos profissionais que ao final produzem como resultado, que é no caso da segurança no trabalho, a baixa probabilidade, ao final, de ocorrer acidentes após a execução de uma atividade. Os profissionais que atuam com segurança do trabalho e os empregados devem desenvolver competências adequadas, com o objetivo de capacitar este para agir em relação aos determinantes dos acidentes. Isto significa que a empresa deve relacionar os diversos cargos e atividades existentes em seus processos, visando detectar em cada um quais as variáveis relacionadas à segurança do trabalho, para com isso definir as competências necessárias para cada empregado em sua atividade (SILVA, 2008). Definem esta etapa como aquela relacionada com as competências necessárias para desempenhar tarefas que possuam ter algum impacto sobre a segurança e saúde do trabalho. Isto significa criar nos empregados uma consciência de garantir a concreta implementação e continuidade do programa, e qual sua importância para a melhoria da produtividade na empresa. Deve também ser garantida a formação específica sobre os riscos de sua atividade. 5.4 Consulta e Comunicação Devem ser considerados os seguintes aspectos quanto à consulta e comunicação aos empregados: Envolvimento no desenvolvimento e análise das políticas e procedimentos para a gestão dos riscos; Consulta quando existir qualquer mudança que afete sua segurança e saúde no local de trabalho; Representação nos assuntos de Segurança e Saúde; Informação quanto a quem são seus representantes nos assuntos SST e o representante nomeado pela alta administração. 5.5 Documentação A documentação relativa ao sistema de gestão deve ser criada e mantida, seja em papel ou meio eletrônico, objetivando a descrição dos principais elementos do sistema e sua interação, além de fornecer orientação sobre a documentação relacionada. 30 A organização deve documentar e manter atualizada toda a documentação necessária para assegurar que o seu sistema de gestão SST seja adequadamente compreendido e eficazmente implementado. Todos os documentos relativos ao sistema de gestão devem ser controlados de maneira a estar disponível, sempre que necessário, tanto para procedimentosinternos quanto de possível fiscalização dos órgãos competentes (SILVA, 2008). 5.6 Monitoração do Desempenho Entende-se por controle operacional as ações visando monitorar o desempenho garantindo o cumprimento do programa e o atendimento dos objetivos propostos. O controle operacional está estritamente relacionado com os riscos (mais críticos) e com a política, os objetivos e o programa de gestão SST. Serão identificadas as operações e atividades associadas aos riscos, e onde serão necessárias as medidas de controle. As operações específicas ligadas a esta ação são: Estabelecimento e manutenção de procedimentos documentados; Estipulação e manutenção de procedimentos relativos aos riscos de locais de trabalho, processo, instalações, equipamentos, procedimentos operacionais e organização de trabalho, incluindo suas adaptações às capacidades humanas, de forma a eliminar ou reduzir os riscos de SST na sua fonte (SILVA, 2008). 31 UNIDADE 6 - SISTEMA DE SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO – SGSST As mudanças que vêm ocorrendo no mundo impõem às organizações a necessidade da adoção de novas estratégias empresariais evidenciando que os modelos de gerenciamento atuais são insuficientes frente aos novos desafios surgidos (SENAC, 2006). Nas últimas décadas, em decorrência da globalização da economia que impulsionou a competição dos mercados, bem como o aumento da exigência dos clientes tanto públicos como privados, as empresas foram conduzidas a implementar Sistemas de Gestão da Qualidade, nos moldes da série ISO 9000, da International Organization for Standardization (ISO). Não obstante, as organizações perceberam que a implementação dos Sistemas de Gestão da Qualidade não era suficiente para diferenciá-las num mercado cada vez mais exigente, ou seja, não bastava se diferenciar somente nos quesitos “competitividade e lucro”, mas também demonstrar à sociedade como um todo, uma atuação ética e responsável no que diz respeito às condições de segurança e saúde no ambiente de trabalho e suas interfaces com o meio ambiente. Por essa razão, termos importantes, tais como sistema, gestão e sistema de gestão devem ser definidos, de maneira que as organizações possam vir a entendê-los de forma consistente. Essas definições são encontradas na norma NBR ISO 9000:2000, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2000, p. 8), que define: Sistema como um conjunto de elementos inter-relacionados ou interativos; Gestão como atividades coordenadas para dirigir e controlar uma organização; e, Sistema de gestão como um sistema para estabelecer política e objetivos e os meios para atingir estes objetivos. Portanto, um sistema de gestão de uma organização pode incluir diferentes sistemas de gestão, tais como um sistema de gestão da qualidade, um sistema de gestão financeira ou um sistema de gestão ambiental. Para o American Petroleum Institute (1998, p. 6), um sistema de gestão no modelo de gestão ambiental e de saúde e segurança (EHS) é definido como: 32 Um processo de melhoria contínua que aplica um enfoque de sistemas de qualidade à gestão de atividades ambientais, de saúde e segurança. Consiste de responsabilidades, procedimentos, processos e recursos que precisam estar implantados para integrar plenamente os problemas de segurança, saúde e ambientais nas operações de negócios. Ainda de acordo com a American Petroleum Institute (1998, p. 6) um sistema de gestão completo tem quatro características básicas: (1) escopo e objetivos, que definem as fronteiras do sistema; (2) procedimentos documentados e recursos responsáveis e que prestam contas de suas ações; (3) medição e verificação; e (4) feedback ou mecanismos de análise e revisão que levam ao aperfeiçoamento contínuo do sistema de gestão. A organização pode criar um modelo de sistema de gestão ou adotar um, já existente, e adaptá-lo às suas necessidades. Podem ser adotados vários sistemas de gestão independentes ou um modelo sistêmico de gestão integrado (COSTA, 2006). Dessa forma, um novo espaço surgiu para que as empresas começassem a reavaliar suas práticas de gestão o que possibilitou, em muitos casos, que Sistemas de Gestão Integrados fossem implementados, ou seja, sistemas de gestão da produção, qualidade, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho e responsabilidade social. A integração dos vários sistemas de gestão poderá resultar em vantagens, tais como simplificar sistemas, otimizar recursos, melhorar a performance da organização e integrar os objetivos ambientais e de saúde e segurança ao negócio. Tal integração pode ocorrer em diferentes graus, dependendo da natureza da organização, pois existem similaridades suficientes entre os outros sistemas, ou seja, da qualidade, do meio ambiente e de segurança e saúde no trabalho. Apesar dessas similaridades, a integração só se justifica onde fizer sentido para a organização (MCDONALD et al, 2000 apud COSTA, 2006). O Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST), um dos componentes do Sistema de Gestão Integrado, ganha importância, pois torna-se ferramenta essencial nas práticas gerenciais das organizações, permitindo a reavaliação de modelos já existentes ou até mesmo a criação de novos modelos 33 condizentes com o novo cenário da economia globalizada, trazendo, consequentemente, melhoria sistêmica e contínua no desempenho da SST por intermédio da redução e ou eliminação dos impactos negativos do trabalho sobre seus empregados e sobre o meio ambiente (COSTA, 2006). O modelo de Sistema de Gestão da SST criado em compatibilidade com os modelos de gestão da qualidade e do meio ambiente proposto pela International Organization for Standardization - ISO, respectivamente ISO 9000 e ISO 14000, é o guia da Occupational Health and Safety Assessment Series – OHSAS 18001, que foi publicado pela British Standards Institution – BSI em 1999 (BSI, 1999). Podem ser citados, ainda, outros modelos de sistema de gestão da SST, tais como o proposto pela Organização Internacional do Trabalho – OIT, Guidelines on Occupational Safety and Health Management Systems – ILO-OSH 2001, (ILO, 2001) e o proposto pela British Standards Institution (BSI), BS 8800:1996, conhecida como BS 8800. Esses modelos também podem ser considerados compatíveis com as séries ISO 9000 e ISO 14000. Segundo a OIT (2005, p.1), os sistemas de gestão de SST, ao lado dos sistemas de gestão da qualidade e gestão ambiental, constituem iniciativas voluntárias das organizações para a melhoria da qualidade dos produtos, do meio ambiente e dos ambientes de trabalho para superar as limitações do modelo comando-controle tradicional. Eles não têm por objetivo substituir a estrutura legal, pois a implementação dos mesmos tem como requisito mínimo a conformidade com a legislação pertinente. Para Barreiros (2002), o Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho (SGSST) é um conjunto de iniciativas que engloba políticas, programas, procedimentos e processos integrados ao negócio da organização para auxiliá-la a estar em conformidade com as exigências legais e demais partes interessadas no que diz respeito à SST e, ao mesmo tempo, dar coerência a sua própria concepção filosófica e cultural para conduzir suas atividades com ética e responsabilidade social. ILO (2001 apud Costa, 2006), observa que em substituição aos modelos tradicionais de tratamento da questão da saúde e segurança no trabalho, há uma tendência crescente das organizações em implementar o sistema de gestão da SST, ao mesmo tempo em que as agências regulamentadoras de vários países tendem a 34 buscar alternativas para incentivar ações dessa natureza ou até mesmo para torná- las compulsórias. No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego vem incentivando e criando condições para que sistemas de gestão da SSTsejam adotados de forma voluntária pelas empresas, conforme sugerido pelo guia disponibilizado pela International Labor Organization. Segundo Barreiros (2002), essas normas e diretrizes trazem princípios gerais que podem ser adotados pelas empresas que desejam implementar a gestão da SST com vistas à melhoria contínua do desempenho da SST e eventualmente obter a certificação do sistema de gestão existente. Baseando-se nessas normas e diretrizes, muitas empresas constroem competências in company e desenvolvem um sistema de gestão da SST adequado às suas necessidades, considerando sua cultura organizacional e demonstram que é possível o emprego desses modelos para a promoção de melhorias no desempenho da SST. Outras empresas adquirem modelos de empresas privadas que prometem uma revolução nas práticas de segurança e saúde no trabalho, por meio da melhoria do desempenho dos resultados que muitas vezes não ocorrem ou não se sustentam por muito tempo, em razão das inconsistências do que preconizam esses modelos, além de possuírem incompatibilidade com a cultura preexistente na organização (COSTA, 2006). Apesar da constatação de que um número expressivo de empresas vem consolidando o sistema de gestão da SST como uma de suas práticas de gestão, observa-se que muitas organizações principalmente as pequenas empresas sequer imaginam como fazê-lo, ao passo que outras empresas se encontram em fase de transição da utilização dos modelos tradicionais de gestão da SST para os modelos chamados inovadores, representados pela concepção de sistemas de gestão concebidos com base na gestão para a qualidade total e nos modelos de sistema de gestão das normas ISO (BARREIROS, 2002). Assim, dentre as várias normas e diretrizes sobre gestão da SST, apesentaremos a seguir e de forma mais detalhada a British Standards 8800:1996 ou BS 8800, a Occupational Safety and Health Assessment Series ou OSHAS 18.001 e Guidelines on Occupational Safety and Health Management Systems ILO- OSH 2001 ou Diretrizes sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no 35 Trabalho da OIT – Organização Internacional do Trabalho, que são consideradas normas de referência para os SGSSTs. 6.1 BS 8800:1996 – BRITISH STANDARDS Norma britânica publicada em 15 de maio de 1996, atualizada em 2004, pela British Standards Institution (BSI). Foi desenvolvida pelo Comitê Técnico HS/1, sob a direção do Conselho Setorial de Sistemas de Gerenciamento, que contou com a representação dos principais segmentos da sociedade britânica afetados pela SST (sindicatos trabalhistas, seguradoras, órgãos governamentais, representações setoriais, universidades, dentre outros). Provê orientação sobre sistemas de gerenciamento de segurança e saúde ocupacional (SSO) a fim de auxiliar no atendimento a políticas e objetivos de SSO e como a SSO deve ser integrada dentro do sistema global de gerência da organização (BSI, 1996). Trata-se de uma norma que apresentou grande repercussão mundial e foi adotada nos mais diversos setores industriais para fundamentação dos SGSSTs, em razão de apresentar três objetivos básicos, a fim de: • minimizar os riscos para empregados e outros; • aprimorar o desempenho da empresa; e • ajudar as empresas a estabelecerem uma imagem responsável no mercado onde atuam (BSI, 1996). A BS 8800 compartilha princípios comuns de sistemas gerenciais com as das séries ISO 9000 “Gerenciamento de Qualidade” e ISO 14000 “Gerenciamento Ambiental”, pois para seu desenvolvimento foi considerada a experiência adquirida em relação às normas citadas, não só na estrutura de seu texto, mas também na coincidência de seus requisitos e pelos princípios de qualidade agregados ao seu conteúdo. Apesar disso, diferentemente das normas de SGQ e SGA a BS 8800 não permite que as empresas obtenham a certificação de seus sistemas de gestão da saúde e segurança no trabalho por intermédio de auditorias de órgãos certificadores, pois é formada por um conjunto de orientações e recomendações que não estabelecem requisitos auditáveis (BENITE, 2004). Para facilitar a integração com outros sistemas de gestão, a BS 8800 apresenta duas abordagens de gestão de SST, cabendo à organização escolher o modelo que melhor atenda às suas necessidades. A primeira abordagem detalhada, 36 com base no guia da HSE Successful Health and Safety Management (gerenciamento de Saúde e Segurança bem sucedidos) é destinada a organizações que desejam fundamentar o seu sistema de gerenciamento de SST neste enfoque. Uma abordagem alternativa detalhada tem o objetivo de atender às organizações que pretendem fundamentar os seus sistemas de gerenciamento de SST na ISO 14001, a norma para sistemas ambientais, e, como tal, identifica as áreas comuns em ambos os sistemas de gerenciamento. As orientações apresentadas em cada abordagem são essencialmente as mesmas, sendo a única diferença significativa a ordem de apresentação. Cada abordagem pode ser utilizada para integrar o gerenciamento de SST no interior do sistema global de gerência (BSI, 1996). Os principais elementos da BS 8800 são similares aos da OHSAS 18001. Eles se identificam por: levantamento da situação atual/periódica; política e objetivos de SST; organização; planejamento e implementação; operação, implementação e medição de desempenho. As Figuras 1 e 2, a seguir, mostram os modelos da BS 8800 com a abordagem da HS(G)65 e com a abordagem a ISO 14001. 37 FIGURA 1- Modelo BS 8800 abordagem HS(G)65 Fonte: Adaptado da BS 8800 (BSI, 1996). 38 FIGURA 2 - Modelo BS 8800 com abordagem ISO 14001 Fonte: BS 8800 (BSI, 1996) Segundo Benite (2004), a BS 8800 apresenta os requisitos de um SGSST, sem estabelecer critérios de desempenho ou especificações de como projetar o sistema (Quadro 1). Esses requisitos foram criados genericamente para que sua aplicação fosse possível em todos os tipos de organizações. Sua aplicação depende de fatores tais como porte, natureza das atividades, perigos existentes, cultura da organização e a complexidade das operações (COSTA, 2006). 39 QUADRO 1 - Requisitos da norma BS 8800 Fonte: Adaptado de Benite (2004). Pelo fato de não estabelecer requisitos auditáveis, os organismos certificadores e as entidades normalizadoras iniciaram o desenvolvimento de normas com fins de certificação para atender à demanda do mercado que exigia a melhoria de desempenho em SST e a realização de auditorias e a obtenção de certificação reconhecida nos moldes da ISO 9001 e ISO 14001. Assim, foram desenvolvidas várias normas com o fim de certificar as organizações quanto às condições de seus ambientes de trabalho. Dentre essas normas podem ser citadas: SGS&ISMOL ISA 2000:1997 – Requirements for Safety and Health Management Systems; BVQI SafetyCert Occupational Safety and Health Management Standard; DNV Standard for Certification of Occupational Health and Safety Management Systems (OHSMS) - 1997; BSI-OHSAS-18001 Occupational Health and Safety Assessment Series; dentre outras (BENITE, 2004). 6.2 OHSAS 18.001 – Occupational Safety and Health Assessment Series Para atender à demanda das organizações por uma norma reconhecida para SGSST de abrangência internacional, foi constituído um grupo de trabalho coordenado pela British Standards Institution (BSI) e integrado por organismos certificadores internacionais, tais como Bureau Veritas Quality International, Det Norske Veritas, Lloyds Register, dentre outros, e de entidades nacionais de normalização da Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia. Esse grupo se 40 reuniu na Inglaterra e criou a primeira norma para certificação de SGSST de alcance global, a OHSAS 18001, que foi publicada pela BSI em abril de 1999 (DE CICCO, 1999). Essa norma visou à substituição de todasas normas e guias anteriormente desenvolvidos pelas entidades participantes e teve como base a norma BS 8800, norma essa que já estava disseminada e implementada em um grande número de empresas no mundo (BENITE, 2004). A OSHAS 18001 não é uma norma nacional nem internacional, pois não seguiu a tramitação usual da normalização vigente. Por essa razão, a certificação em conformidade com tal norma somente poderá ser concedida pelos organismos certificadores (OC) de forma “não acreditada”, isto é, sem credenciamento do OC para esse tema por entidade oficial (CICCO, 1999). Ainda segundo Cicco (1999, p. 6), a OHSAS é uma especificação que tem por objetivo prover às organizações os elementos de um Sistema de Gestão da SST eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos de segurança e saúde ocupacional. Ela define os requisitos de um Sistema de Gestão da SST, tendo sido redigida de forma a aplicar- se a todos os tipos e portes de empresas, e para adequar-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais. O sucesso do sistema depende do comprometimento de todos os níveis e funções, especialmente da alta administração. Um sistema desse tipo permite uma organização estabelecer e avaliar a eficácia dos procedimentos destinados a definir uma política e objetivos de SST, atingir a conformidade com eles e demonstrá-los a terceiros. A OHSAS 18001 contém apenas os requisitos que podem ser objetivamente auditados para fins de certificação e/ou autodeclaração. 41 A norma BSI OHSAS 18001 apresenta os requisitos conforme demonstrado no Quadro 2 a seguir: QUADRO 2 - Requisitos da norma BSI OHSAS 18001 Cicco (1999) observa que a OHSAS 18001 estabelece os requisitos de um SGSST que permite a uma organização controlar seus riscos ocupacionais e melhorar seu desempenho nessa área, porém não define critérios específicos de performance em SST, nem fornece requisitos detalhados para o projeto de um Sistema de Gestão nessa área. A OHSAS 18001 é composta pelos seguintes elementos: Política de SST; Planejamento e implementação; Operação, verificação e ação corretiva; Análise crítica feita pela administração. Os principais elementos são apresentados na Figura 3. 42 FIGURA 3 – Principais elementos do sistema de gestão da SST – OHSAS 18001 Fonte: Adaptado de OHSAS 18001 (BSI, 1999). A política de SST deve ser autorizada pela alta administração da empresa e deve definir os objetivos de segurança e saúde e o comprometimento para melhorar o desempenho da SST. O planejamento é necessário para a identificação dos perigos, avaliação e controle dos riscos. Nele os requisitos legais e demais normas intervenientes devem ser contemplados, além dos programas de gestão da SST com vistas ao atendimento dos objetivos propostos (COSTA, 2006). A implementação e operação devem contemplar: A estrutura e responsabilidades; O treinamento, a conscientização e competência do pessoal envolvido nas tarefas que possam ter impacto sobre a SST; A consulta e a comunicação, ou seja, os procedimentos para garantir que as informações de SST sejam comunicadas para e pelos trabalhadores e partes interessadas; A documentação e o controle da documentação e dos registros; O controle operacional; A preparação e atendimento a emergências. 43 A verificação e ações corretivas envolvem: O estabelecimento e mensuração do desempenho; O estabelecimento de procedimentos para a monitoração e avaliação do desempenho de SST; Definição de responsabilidades para a investigação de incidentes, acidentes e não conformidades; Controle de registros e relatórios de auditoria; O estabelecimento de auditorias periódicas do SGSST. A análise crítica pela Administração do SGSST deve ser periódica para assegurar sua conveniência, adequação e eficácia contínuas e deve ser devidamente documentada e abordar eventuais alterações na política, objetivos e outros elementos do SGSST, de acordo com os resultados de auditorias, da mudança das circunstâncias e do comprometimento com a melhoria contínua (COSTA, 2006). Por fim, Cicco (1999, p. 9) salienta que a OHSAS 18001 é, sobretudo, aplicável a uma empresa que deseja ou necessita: 1) estabelecer um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no Trabalho, para eliminar ou minimizar riscos aos trabalhadores e outras partes interessadas que possam estar expostos a riscos de acidentes e doenças ocupacionais associados a suas atividades; 2) implementar, manter e melhorar continuamente um Sistema de Gestão da SST; 3) assegurar-se de sua conformidade com sua política de SST definida; 4) demonstrar tal conformidade a terceiros; 5) buscar certificação de seu Sistema de Gestão da SST por uma organização externa; 6) realizar uma autoavaliação e emitir autodeclaração de conformidade com essa “norma”. 44 6.3 Guia ILO-OSH 2001 - Guidelines on Occupational Safety and Health Management Systems ou Diretrizes sobre Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho Segundo Benite (2004), em 1995, a ISO e a OIT iniciaram uma discussão visando a elaboração de normas internacionais sobre SGSST em razão da experiência da ISO com normas e a credibilidade da OIT perante às partes interessadas. Entretanto, em 1996, a ISO, por diversas razões, não continuou participando dos trabalhos, pois entendeu que a OIT seria o organismo mais apropriado para elaboração de normas de gestão da SST. Assim, em 1998, a OIT, por intermédio do grupo de trabalho para assuntos da segurança e higiene no trabalho, assumiu o processo de elaboração de um guia internacional com a participação da Associação Internacional de Higiene no Trabalho. O resultado desse trabalho foi finalmente publicado em abril de 2001, após alguns anos de preparação e discussões em fórum tripartite (COSTA, 2006). Dessa forma, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou o seu Guidelines on Occupational Safety and Health Management Systems, utilizando uma abordagem ampla, envolvendo seus constituintes tripartites e outras partes interessadas. (ILO, 2001 apud COSTA, 2006). Este guia foi definido com base nos princípios de segurança e saúde no trabalho internacionalmente acordados, estabelecidos em padrões internacionais de trabalho pertinentes, o que faz dele um instrumento poderoso para o desenvolvimento de uma cultura de segurança sustentável no âmbito interno e externo das empresas (OIT, 2005). O Guia ILO-OSH apresenta os requisitos que devem compor um SGSST como se observa no Quadro 3, a seguir: 45 QUADRO 3 - Requisitos do guia ILO-OSH Fonte: Adaptado de Benite (2004). Resumidamente, o Guia ILO-OSH possui as seguintes características: 1) é compatível com outras normas de sistemas de gestão da qualidade e ambiental, encorajando a integração dos sistemas de gestão; 2) exige um grande envolvimento e participação dos trabalhadores nas definições de políticas, metas, controles, entre outras; 3) não tem objetivo de substituir legislações e regulamentações nacionais; 4) reflete um valor tripartite, ou seja, a sua elaboração procurou atender às expectativas das três principais partes interessadas em sua efetiva criação (governo, empresas e trabalhadores); 5) não foi criado com intuito de ser utilizado como referência para certificação por organismos certificadores; porém, não elimina esta hipótese, desde que esse reconhecimento de boas práticas seja desejo do país que o adotou como guia; 6) apresenta dois níveis de implementação – um primeiro nacional que busca orientar os países a criarem estruturas que fomentem a implementação de SGSST pelas empresas por meio da criação e regulamentação de leis no país; e um segundo nível, um guia para a implementação do SGSST por parte das empresas;
Compartilhar