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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DE AQUIDAUANA CURSO DE GEOGRAFIA - LICENCIATURA PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HEPATITES VIRAIS TIPOS B E C NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 2003 - 2013 AQUIDAUANA, MS 2017 DOUGLAS ORTIZ PAIXÃO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HEPATITES VIRAIS B E C NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 2003 – 2013 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como requisito para obtenção do título de Licenciado em Geografia sob a orientação da Profa. Dra. Eva Teixeira dos Santos. AQUIDAUANA, MS 2017 PAIXÃO, Douglas Ortiz. Perfil Epidemiológico de Hepatites Virais dos tipos B E C no Estado de Mato Grosso do Sul, 2003 - 2013. Monografia [Curso Licenciatura em Geografia]. Aquidauana-MS: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS/CPAQ), 2017. . PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HEPATITES VIRAIS B E C NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, 2003 - 2013 Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do grau Licenciado em Geografia e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Câmpus de Aquidauana Aquidauana-MS ____/____/2017 ________________________________ Orientador: Profa. Dra. Eva Teixeira dos Santos (UFMS) ______________________________ Profa. Mestre Lenita da Silva Vieira Ximenes (UFMS) ____________________________ Prof. Mestre Alfredo Aguirre da Paixão (IFMS) AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, fonte de sabedoria. Meus pais, pelos ensinamentos que me guiam na vida. Minha esposa, pelo apoio pleno para que eu retomasse os estudos. Meus professores, pelo auxilio constante, paciência e confiança. Minha orientadora, por nortear a linha de pesquisa, incentivar a reflexão, a curiosidade e o respeito pela Geografia da Saúde. No dia em que um professor deixar de provocar a mente dos seus alunos e não mais conseguir estimula-los a pensar criticamente, estará pronto para ser substituído por um computador. (Augusto Cury) RESUMO Esse trabalho apresenta o perfil epidemiológico das Hepatites virais B e C no estado de Mato Grosso do Sul. Teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico das Hepatites virais B e C no Estado de Mato Grosso do Sul no período de 2003 a 2013, a fim de contribuir para a compreensão da situação das hepatites no estado de Mato Grosso do Sul durante os últimos dez anos (2003 a 2013), bem como para a sensibilização sobre as formas de contaminação. A escolha do tema se justifica por compreender que as hepatites são doenças silenciosas, com sintomas assintomáticos, apresentam probabilidades de complicações das formas agudas, principalmente a hepatite C, considerada a mais perigosa e não tem vacina para esse tipo de hepatite. A hepatite B, mesmo tendo vacina, continua sendo motivo de preocupação para a saúde pública. A metodologia adotada é análise quantitativa, por meio de levantamento bibliográfico em referenciais teóricos que tratam do tema hepatites virais B e C, geografia da saúde e especialmente os relatórios de situações referentes Hepatites Virais do Sistema de Informação de Agravos Notificação (SINAN) de Mato Grosso do Sul, disponibilizados no banco de dados do Ministério da Saúde/ Serviços de Vigilância Sanitária em formato digital. Pelos dados coletados as hepatites virais B e C ainda estão presentes com relevância no Estado. A distribuição dos casos de hepatite B comparada a distribuição da Hepatite C, segundo faixa etária, a maioria dos casos de Hepatite B se concentra mas em indivíduos na faixa etária entre 20 a 39 anos e menos na faixa de 40 a 59 anos, enquanto a Hepatite C se concentra mais em indivíduos na faixa etária de 40 a 59 anos e menos na faixa etária de 20 a 39 anos. Os dados de contaminação da hepatite B e C por sexo observa-se que as mulheres são mais infectadas pela Hepatite B, enquanto os homens são mais infectados pela Hepatite C. Conclui-se que as campanhas de sensibilização realizadas para população são importantes mecanismos para a diminuição dos casos de contaminação. Neste contexto a Geografia da Saúde é uma área que pode contribuir com estudos dessa natureza para auxiliar nos trabalhos de prevenção da doença. Palavras-chave: Geografia da Saúde. Hepatites virais B e C. ABSTRACT This study presents the epidemiological profile of viral hepatitis B and C in the state of Mato Grosso do Sul. The objective of this study was to analyze the epidemiological profile of viral hepatitis B and C in the State of Mato Grosso do Sul from 2003 to 2013, in order to Contribute to the understanding of the situation of hepatitis in the state of Mato Grosso do Sul during the last ten years (2003 to 2013), as well as to the sensitization on the forms of contamination. The choice of the subject is justified by the understanding that hepatitis is a silent disease, with asymptomatic symptoms, and is likely to be a complication of acute forms, especially hepatitis C, considered to be the most dangerous and does not have a vaccine for this type of hepatitis. Hepatitis B, even having a vaccine, remains a concern for public health. The methodology adopted is a quantitative analysis, by means of a bibliographical survey in theoretical references that deal with the topic of viral hepatitis B and C, health geography and especially the reports of situations related to Viral Hepatitis of the Information System of Aggravated Diseases Notification (SINAN) of Mato Grosso Of the South, available in the database of the Ministry of Health / Sanitary Surveillance Services in digital format. From the data collected viral hepatitis B and C are still present with relevance in the State. The distribution of cases of hepatitis B compared to the distribution of Hepatitis C according to age group, the majority of cases of Hepatitis B is concentrated but in individuals between the ages of 20 and 39 years and less in the range of 40 to 59 years, while the Hepatitis C is most concentrated in individuals between the ages of 40 and 59 years and less in the age group of 20 to 39 years. The data on hepatitis B and C contamination by sex show that women are more infected with Hepatitis B, whereas men are more infected with Hepatitis C. It is concluded that awareness campaigns carried out for the population are important mechanisms for the Of contamination. In this context the Geography of Health is an area that can contribute with studies of this nature to help in the works of prevention of the disease.. Key-words: Health Geography. Viral hepatitis B and C. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 Hepatite B - por faixa etária Mato Grosso do Sul 2003-2013 21 Figura 02 Hepatite B - por sexo - Mato Grosso do Sul 2003-2013 22 Figura 03 Hepatite C - por faixa etária - Mato Grosso do Sul 2003-2013 23 Figura 04 HepatiteC - pro sexo Mato Grosso do Sul 2003-2013 23 LISTA DE TABELAS Tabela 01 Incidência de Hepatite B região Centro Oestes 2003 - 2013 20 Tabela 02 Incidência da Hepatite C região Centro Oeste 2003 - 2013 20 SIGLAS E ABREVIATURAS HBV Vírus Hepatite B HVC Vírus Hepatite C SINAN Sistema de Informações de Agravos Notificação SUS Sistema Único de Saúde SVS Sistema de Vigilância em Saúde VHB Vírus Hepatite B VHC Vírus Hepatite C SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11 1.1 Objetivo geral: ................................................................................................................ 12 1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 12 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 13 2.1 Da Geografia Médica à Geografia da Saúde .................................................................. 13 2.2 Espaço Geográfico .......................................................................................................... 14 2.3 Saúde e doença, conceitos vitais..................................................................................... 15 2.4 Hepatites Virais .............................................................................................................. 16 2.4.2 Hepatite C .................................................................................................................... 19 2.5 Hepatites B e C em Mato Grosso do Sul, Relatório de Situação.................................... 20 3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 22 4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 23 4.1 Incidências das Hepatites B e C no Estado de Mato Grosso do Sul ............................... 23 4.2 Hepatites B, por faixa etária e sexo ................................................................................ 24 4.3 Hepatite C, por faixa etária e sexo .................................................................................. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 28 REFERENCIAS ....................................................................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO As hepatites virais constituem um grave problema de saúde pública pela quantidade de notificações das doenças, competem como doenças crônicas. Os agentes etiológicos que causam hepatites virais são designados por letras do alfabeto (A, B, C, D e vírus E). As causadas pelos Vírus da Hepatite B (VHB o HBV) e da Hepatite C (VHC ou HCV), de distribuição universal, tem em comum a lesão das células hepáticas. Do ponto de vista clinico possuem semelhanças, mas, quanto as suas evoluções, são diferentes. Para ambas as hepatites existem tratamento quando detectada a tempo de evitar a destruição do fígado e o desenvolvimento de câncer e cirrose. No Brasil, por muito tempo os Estados adotaram terapia diferenciadas com o uso de medicamentos independente da recomendação do Ministério da Saúde. Com a instituição do Protocolo clinico e diretrizes terapêuticas para o tratamento da hepatite e coinfecções, a prescrição tornou-se mais segura e eficaz (BRASIL, 2010). A relevância do tema se justifica por ser as hepatites doenças silenciosas, com sintomas mascarados que apresentam grandes possibilidades de complicações das formas agudas. A hepatite C, considerada a mais perigosa das hepatites, se torna crônica na maioria dos casos. Não tem vacina para esse tipo de hepatite. A hepatite B, a segunda mais perigosa, tão grave quanto a Hepatite C, mesmo tendo vacina, continua sendo motivo de preocupação para a saúde pública, pois não se limitam à enorme quantidade de pessoas infectadas, mas, se estende às complicações agudas e crônicas como cirrose e câncer no fígado. A metodologia quantitativa com abordagem especificamente geográfica por meio de levantamento bibliográfico em referenciais teóricos que tratam do tema hepatites virais B e C, geografia da saúde e especialmente os relatórios de situações referentes Hepatites Virais do Sistema de Informação de Agravos Notificação (SINAN) de Mato Grosso do Sul, disponibilizados no banco de dados do Ministério da Saúde/Serviços de Vigilância Sanitária. Na estrutura desse estudo se apresentam os principais conceitos que relacionam a geografia médica com a geografia da saúde; os conceitos de hepatites virais B e C; a incidência dessas infecções no Estado de Mato Grosso do Sul comparado com os demais estados da Região Centro Oeste e a incidência por faixa etária e sexo. Visando assim, contribuir para o entendimento das situações das Hepatites B e C no Estado de Mato Grosso do Sul os objetivos foram: 12 1.1 Objetivo geral: Analisar o perfil epidemiológico das Hepatites virais B e C no Estado de Mato Grosso do Sul no período de 2003 a 2013, a fim de contribuir para a compreensão da situação das hepatites no Estado de Mato Grosso do Sul durante os últimos dez anos (2003 a 2013), bem como para a sensibilização sobre as formas de contaminação. 1.2 Objetivos Específicos - Verificar a incidência de notificações das hepatites virais B e C, por sexo e faixa etária no Estado de Mato Grosso do Sul; - Identificar como o Estado de Mato Grosso do Sul se posiciona em relação aos demais Estados da região Centro Oeste; - Verificar o perfil (sexo e faixa etária) dos casos notificados das hepatites virais B e C no período estudado. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Da Geografia Médica à Geografia da Saúde A relação entre a medicina e a geografia, assumiu importância no final do século XIX, tendo como principal desafio o espaço geográfico, por compreender que não é possível isolar o enfermo do seu ambiente, que pode ser responsável pela causa das enfermidades, assim como, também pode o ambiente promover a cura (JUNQUEIRA, 2009). "Cabe ao geógrafo captar os problemas que ocorrem no espaço e as enfermidades que acometem diariamente a população" (SANTOS,2010, p. 47). Convém reforçar que o ambiente, por ser o local onde a pessoa mantém contato com tudo ao seu redor, ele exerce influência de várias maneiras, principalmente quando o espaço geográfico é modificado pelo homem por necessidades sociais e econômicas em diferentes lugares no mundo. Geografia da saúde é a denominação dada a uma especialização da geografia a serviço da análise da distribuição de agravos à saúde, do aprimoramento das técnicas de seu respectivo sistema. Ainda que útil, essa área apresenta aspectos difusos e abrangentes, porém, devido as novas questões manifestadas pela sociedade globalizada, principalmente, devido ao intercâmbio frequente de elementos vivos entre diferentes áreas, a geografia da saúde tornou- se um campo rico para o desenvolvimento de estudos e pesquisas no sentido de investigar velhas-novas epidemias, como por exemplo, a febre-amarela, erradicada no Brasil início do século XX, que acabou ressurgindo de forma avassaladora no final do mesmo século (SANTIAGO, 2012). De acordo com o estudo de Santana (2014), a geografia da saúde ou geografia médica,em vários países do mundo tem sido questão de debates no sentido de definir qual a referência mais apropriada. As divergências mais relevantes estão relacionadas acerca da metodologia, da epistemologia e da semântica, bem como dos conteúdos e de como essa disciplina se insere no contexto das ciências sociais e como se relaciona com as ciências naturais. Para a maioria dos autores, o termo aceito tem sido Geografia da Saúde, verificando ainda, variações em muitos países. No Brasil desde meados do século XX, vários trabalhos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos, os primeiros por médicos, com a finalidade de relacionar as condições socioeconômicas e ambientais com a saúde da população. Periodicamente eventos científicos 14 reúnem centenas de geógrafos. Em 1993, aconteceu o primeiro Simpósio Nacional de Geografia da Saúde/Fórum Internacional de Geografia da Saúde. Em 2013, o VI Simpósio, ocorreu em São Luís do Maranhão (SANTANA, 2014) Os conceitos reconhecidos na geografia da saúde estão diretamente ligados aos fatores sociais e ambientais e a influência que eles exercem, afetando a qualidade de vida das pessoas de várias maneiras, como por exemplo, ambiente insalubre, falta de saneamento básico entre outros. A conscientização da influência desses fatores na qualidade da saúde, talvez ainda seja muito recente na sociedade, alguns segmentos do poder público deve mostrar os reais prejuízos, e como eles intervém negativamente na saúde e na qualidade de vida das pessoas. Segundo Nogueira (2006 apud NOGUEIRA; REMOALDO, 2010) a Geografia da Saúde pode ser definida como subdisciplina geográfica, ao mesmo tempo especifica e abrangente devido à natureza do seu objeto de estudo e a diversidade teórica e metodológica. A especificidade se caracteriza por um lado pela dimensão espacial incorporada no estudo da saúde (resultados em saúde e planejamento dos serviços de saúde), por outro lado pela aplicação de ferramentas e abordagem da geografia ao seu objeto de estudo. 2.2 Espaço Geográfico A respeito do que seria exatamente o espaço geográfico, não há um consenso entre os geógrafos. Diferentes conceituações preservam entre si algumas características próprias da geografia, com ênfase nas relações entre a sociedade e a natureza, voltadas para preocupação espacial. Tradicionalmente o espaço era compreendido como uma extensão da superfície. Na geografia teórico-quantitativa, com base no positivismo lógico, o espaço era entendido como uma dimensão geométrica, passível de representação e análise cartográfica e matemática. Na Geografia Crítica o espaço se configura como histórico a partir das relações sociais. Finalmente, na Geografia humanista ou cultural, o conceito de espaço passa a ser secundário na análise geográfica, passando a ser valorizado a experiência e o comportamento do indivíduo ou do grupo (RAMOS, 2014). Sendo o espaço geográfico também um elemento de investigação no campo da Geografia da Saúde, compreender seus conceitos auxilia no entendimento dos aspectos relacionais do homem com o ambiente natural, com as mudanças em consequência da globalização, que exige valorizar o contexto ambiental e promover ações de sustentabilidade 15 e, ainda o relacionamento afetivo entre as pessoas e o lugar que pode estar relacionado com a personalidade e a cultura de cada um. O conceito mais relevante de espaço geográfico para a compreensão da ocorrência e distribuição das doenças transmissíveis, foi elaborado por Pavlovsky na década de 1930, que expressa a apreensão espacial integrada ao conhecimento das doenças transmissíveis com a geografia e a ecologia (PAVLOVSKY, s/d, p. 19 Apud CZERESNIA ; RIBEIRO, 2000,p. 598): Um foco natural de doença existe quando há um clima, vegetação, solo específicos e micro-clima favorável nos lugares onde vivem vetores, doadores e recipientes de infecção. Em outras palavras, um foco natural de doenças é relacionado a uma paisagem geográfica específica, tais como a taiga com uma certa composição botânica, um quente deserto de areia, uma estepe, etc., isto é, uma biogeocoenosis. O homem torna-se vítima de uma doença animal com foco natural somente quando permanece no território destes focos naturais em uma estação do ano definida e é atacado como uma presa por vetores que lhe sugam o sangue. Pavlovsky apresenta uma teoria que estabelece o espaço geográfico como o ambiente onde circula naturalmente agentes infecciosos, tocados ou não pela mão do homem. Assim, os fatores ligados ao espaço geográfico, são indicadores de probabilidades de contaminação ou de boas respostas ao tratamento. Portanto o espaço geográfico oferece a possibilidade de infectar em momentos distintos e as condições necessárias para propagação de inúmeras doenças, assim como, permite desenvolver estratégias de prevenção. 2.3 Saúde e doença, conceitos vitais Em 1946 a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como sendo um estado completo de bem-estar físico, mental e social, não somente a ausência de doença e de incapacidade, mas, um estado positivo geral do indivíduo. O Ministério da Saúde, a partir de 2004, percebe a saúde como ausência de doença, um bem-estar ou aptidão funcional. Numa concepção mais moderna, a saúde pode ser o equilíbrio e a harmonia das condições biológicas, psicológicas e sociais do ser humano (NOGUEIRA; REMOALD0, 2010). A geografia também ampliou seu conceito e atua no estudo da superfície terrestre, da paisagem, da individualidade dos lugares, da natureza e da relação do homem e meio ambiente. Requer conhecimento multidisciplinar, por necessitar das contribuições de ouras ciências, particularmente do conhecimento médico, relacionados aos seus objetos principais, a saúde e a doença (PEITER, 2005). Na Lei Orgânica de Saúde (LOS), n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, que regula o Sistema Único de Saúde (SUS) em todo território nacional, a saúde é compreendida como um 16 direito fundamental do ser humano e reconhece em seu artigo 3º, que os fatores determinantes e condicionantes dos níveis de saúde estão relacionados a alimentação, moradia, saneamento básico, ambiente, trabalho, renda, educação, atividade física, transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990). Para Nogueira (2010), o estado de saúde resulta de um conjunto de diversos fatores que podem ser: (1) individuais: biológicos, imutáveis (por exemplo, sexo e idade), socioeconômicos, mutáveis (ocupação, educação, renda) e culturais (etnia); (2) ligados ao ambiente físico e social: fatores relacionados à qualidade do ambiente e o sistema de saúde (ar, água, solo, redes de suporte|) e, (3) comportamento e estilo de vida: se refere às influencias sofridas pelo comportamento individual, como por exemplo hábitos alimentares e vícios como álcool e tabagismo. Compreende-se que a saúde e a doença como resultado de uma escolha ou condição de vida que acarreta consequências positivas (saúde) e negativas (doença). Daí a necessidade de questionar a importância de viver de forma integrada ao ambiente, reformulando conceitos do cotidiano. Embora alguns fatores sejam imutáveis, novos conhecimentos podem reorganizar o dia a dia e promover a saúde. Não há um conceito exclusivamente biológico para “saúde”. Além da definição ligada à medicina, a saúde está estreitamente ligada com o bem estar e o desenvolvimento, entendida numa dimensão sociocultural (SANTANA, 2014). "As relações entre espaço e saúde vêm sendo se estudadas em diversas disciplinas dos campos da Saúde (principalmente na Epidemiologia) e na Geografia. Os estudos contribuem para compreender os processos saúde e doença[...]" (PEITER, 2005, p. 20). 2.4 Hepatites Virais Hepatites virais são doenças causadas por diferentes vírus que tem afinidade com o fígado, com características distintas e diferentes vias de transmissão. Em alguns, a doença só se manifesta décadas após o contágio. Incluídas na Lista de Doenças de Notificação Compulsória no Brasil, desde 1998, os agravos e fatores determinantes da doença vem sendo monitorado, com a finalidade de promover prevenção e avaliar o impacto. Os casos notificados e confirmados, inscritos na Ficha de Investigação das Hepatites Virais, são registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e, as análises descritivas dos casos de hepatites virais são publicadas no Boletim Epidemiológico – Hepatites Virais (BRASIL, 2010a; 2016). 17 De modo geral, a hepatite é reconhecida como uma infecção viral que provoca a inflamação do fígado, decorrente do o uso abusivo de álcool, de drogas e de alguns medicamentos, bem como doenças hereditárias e autoimunes. Classificada como aguda e crônica. Sendo a icterícia1 (amarelão) o sintoma mais reconhecido da hepatite. O sintoma mais reconhecido da hepatite é a icterícia, o amarelão da pele, dos olhos e das mucosas, normalmente percebida em recém-nascidos. Em 2009, foi criado no Brasil o Programa Nacional de Hepatites Virais (PNHV), integrado ao Departamento de DST e Aids. Em 2010, o documento Hepatites virais: desafios para o período 2011-2012, estabeleceu metas para o controle dessas doenças no Brasil. Em 2011, o Ministério da Saúde intensificou ações programáticas pela reestruturação organizacional do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids Hepatites Virais, promovendo assim, metas e estratégias para o controle de três agravos (BRASIL, 2011b). Diversos tipos de hepatites virais são identificados pelas letras do alfabeto, (hepatite A, B, C, D, E, G) e reconhecidas como infecções que lesam o fígado. Para efeito dessa pesquisa, apenas as hepatites virais B e C serão estabelecidas para estudos. Em 2009, o Sistema Único de Saúde (SUS), realizou mais de 9 milhões de testes para as hepatites virais. No terceiro trimestre de 2010, 8.018 pacientes estavam em tratamento para a hepatite B e 10.507 em tratamento para a hepatite C. Em 2010 foi publicado pelo PNHV o documento “que estabeleceu metas para o controle dessas doenças no Brasil (BRASIL, 2010b) Os objetivos do governo (BRASIL, 2010b), consiste em prevenir novas infecções e melhorar a qualidade de vida dos portadores das hepatites B, C e D. Identificar os principais fatores de risco; ampliar estratégias de imunização da hepatite B; detectar, prevenir e controlar os surtos oportunamente; reduzir a prevalência de infecções e avaliar o impacto das medidas de controle são fatores fundamentais nessa resposta. As hepatites virais, têm distribuição universal, podendo fazer parte das características locais de algumas regiões, decorrente das condições sanitárias e de higiene. Por se tratar de uma preocupação da saúde púbica, o Brasil tem desenvolvido ações para promover prevenção de agravos. Nesse contexto reconhecer as características da relação entre a sociedade com a natureza, contribui para reduzir a prevalência de impactos das contaminações, além evitar a 1 Segundo WONG (1999), a icterícia, uma descoloração amarelada da pele e de outros órgãos, é uma das características da hiperbilirrubinemia, que se refere a um acúmulo excessivo de bilirrubina no sangue. Disponível em: < http://www.uff.br/disicamep/ictericia.htm> 18 perda de qualidade de vida das ´pessoas, no sentido de promover a saúde e a prevenção desses agravos. 2.4.1 Hepatites B Aproximadamente 1,5 milhão de brasileiros convivem com a Hepatite B, a maioria nem suspeita, só descobre quando o fígado já está esfacelado. Quando os recém-nascidos entram em contato com os VHB há 90% de chance de se tornarem cronicamente infectados. Quando a infecção ocorre aos cinco anos de idade, essa chance diminui para até 50%. Na fase adulta diminui para até 10% . O vírus da hepatite B (VHB), devido à alta especificidade, infecta o homem, que se constitui o reservatório natural, aumentando o risco de desenvolver a doença icterícia com o passar da idade. Cem vezes mais contagioso que o vírus da AIDS, o HIV. (FERREIRA; SILVEIRA, 2004; VARELLA, 2011). No Brasil mais de 36.000 salas de vacinação oferecem a vacina para a hepatite B. A imunização é realizada em três doses, com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e a terceira dose (0, 1 e 6 meses). Todo recém-nascido deve receber a primeira dose da vacina logo após o nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida. A testagem para a hepatite B é recomendada para vítimas de abuso sexual, de acidente com material biológico, profissionais de saúde, usuários de drogas injetáveis/inaláveis, homossexuais, coletadores de lixo hospitalar e domiciliar e doadores de sangue (BRASIL, 2010b). A principal via de transmissão da hepatite B é a sexual, seguida pela chamada transmissão vertical, quando há o risco da mãe transmitir ao filho durante a gravidez. Também pelo contato com sangue, pelas vias parenterais (transfusão) e percutâneas e por fluidos corporais; por meio do compartilhamento de seringas e agulhas, contaminadas, colocação de piercing, procedimentos de tatuagem, manicure com materiais não esterilizados, compartilhamento de objetos contaminados com sangue, transfusão de sangue, hemoderivados, hemodiálise ou ainda sêmen e secreção vaginal (BRASIL, 2011b). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010, p. 08), a transmissão predominante da hepatite B é a sexual e a população jovem é a mais vulnerável: " O inquérito nacional mostrou que sua prevalência é dez vezes maior na população jovem, na faixa etária entre 29 e 39 anos". Nem todos os portadores do vírus da Hepatite B vão ter a doença, cerca de 95% das pessoas o eliminam naturalmente. Os 5% se tornam portadores crônicos. O problema é que a 19 doença pode não aparecer por 20 ou 30 anos. Quando aparece, a barriga incha e a pessoa fica amarela, já pode estar com cirrose ou câncer de fígado, pois, o vírus provoca câncer, assim como o uso do cigarro (VARELLA, 2011). Na realidade não sabemos quantas pessoas realmente têm o vírus, porque o Ministério da Saúde só lida com dados notificados. Mesmo com estratégias de prevenção incluída no calendário do SUS, e a cobertura ampliada da vacinação, parece que a sensibilização sobre o agravo que a doença representa ainda não é percebido pelas pessoas. A imunização recomendada a ser realizada em três doses nem sempre é seguida à risca. Normalmente, a maioria procura atendimento quando ocorre destruição do fígado. 2.4.2 Hepatite C A transmissão do vírus da hepatite C ocorre fundamentalmente de forma parenteral (transfusão), o vírus é um patógeno exclusivamente humano. Principal causador de doenças hepática crônica nos pacientes em diálise, por serem pacientes constantemente expostos à contaminação em função dos procedimentos invasivos e exposição a outros pacientes infectados. Quanto maior o tempo de diálises, maior o risco. Os transplantados renais também são vítimas de doenças hepáticas. A cirrose é a terceira causa de óbito nos transplantados renais em longo prazo A hepatite C pode levar a fibrose hepática, a cirrose e ao câncer hepático. Nas fases avançadas, ao óbito (BABINSKI et al., 2008). A HVC é diagnosticada na fase crônica, geralmente em teste sorológico de rotina ou por doação de sangue. Isso ocorre porque ossintomas são inespecíficos e a doença evolui durante décadas sem diagnósticos. Daí a necessidade de uma equipe multiprofissional clínica especializada e o aumento da oferta de diagnóstico sorológico, principalmente para as populações vulneráveis aos sintomas. Os sintomas, raramente se apresentam antes da fase aguda hepatite C que pode envolver náuseas, vômitos, fadiga, febre baixa e cefaleia e posteriormente outras manifestações (BRASIL, 2015). No Brasil, a tecnologia capaz de diagnosticar essa infecção chegou aos bancos de sangue do país em 1993. Antes, quando não havia exames que permitisse diagnosticar o portador do VHC, o governo federal proibia a doação de sangue como forma de prevenir contágio. As pessoas que fazem uso de drogas injetáveis, são vistas como grupo de risco. Entretanto, a transmissão não está restrita somente a esses grupos, pode ocorrer também em procedimentos de manicure e pedicuro; piercing e tatuagens; tratamentos odontológicos (BRASIL, 2015). 20 Observa-se a Hepatite C é transmitida principalmente por sangue contaminado, mas, não é a única foram de contágio, pode também ser transmitida pelo contato sexual, pela mãe durante a gravidez e pelo compartilhamento de seringas, agulhas ou de instrumentos para manicure, pedicure, tatuagem e colocação de piercing e ainda não existe vacina para esse tipo de hepatite. De acordo com o Ministério da Saúde, quanto a seriedade e o impacto nos sistemas de saúde decorrente das hepatites virais, há um consenso internacional (BRASIL, 2011b, p. 8): Existe consenso internacional sobre a magnitude das hepatites virais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 170 milhões de pessoas são portadoras crônicas de hepatite C e 350 milhões portadoras crônicas de hepatite B. Esses agravos têm elevado impacto na saúde das populações, nos sistemas nacionais de saúde e na economia dos países. A hepatite C, doença tão silenciosa, quanto a hepatite B, é mais grave devido ao período que ela mantém o vírus na corrente sanguínea sem apresentar os sintomas, e também pelos sintomas serem quase que comuns a outros tipos de agravos. Como a forma de transmissão ocorre por meio do sangue infectado, principalmente pela via parenteral, a transmissão sexual e vertical não oferecem riscos como oferece para o vírus da hepatite B. Entretanto, a forma mais indicada para evitar a contaminação das hepatites virais é evitar comportamentos de alto risco com o uso indiscriminado de droga e álcool, bem como evitar compartilhar instrumentos não esterilizados para realização de piercing, tatuagem e manicure, além de objetos para higiene pessoal (escovas de dentes, lâminas de barbear e de depilar etc.). 2.5 Hepatites B e C em Mato Grosso do Sul, Relatório de Situação Para compreensão da epidemiologia das hepatites virais, especificamente o índice de prevalência no estado de Mato Grosso do Sul, as informações aqui apresentadas tiveram como fontes principais, os dados dos Boletins Epidemiológicos – hepatites virais e do Relatório de Situação/ Mato Grosso do Sul, documentos do Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS); os relatórios do SINAN e do Sistema de Informações sobre Mortalidade. Nos Boletins Epidemiológicos, são informados através de tabelas e gráficos, os casos em relação ao sexo, faixa etária e prováveis fontes/práticas de infecção para cada uma das hepatites virais, A, B, C e D. Também apresenta a situação epidemiológica das hepatites, a distribuição e o impacto da doença nas regiões brasileiras (BRASIL, 2016). 21 O SINAN é a principal base para o funcionamento do sistema de vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis, implantado no Brasil em 1993 e regulamentado em 1998, tornando-se obrigatória a alimentação regular da base de dados nacional pelos municípios, estados e Distrito Federal, para relevância de uma determinada doença, detectar surtos e epidemias e elaborar hipóteses epidemiológicas a serem testadas em estudos epidemiológicos específicos (MIYAZATO, 2010). De acordo com Relatório de Situação da SVS que reúne dados e análises concisas sobre as principais ações de vigilância, prevenção e controle de doenças, no período de 1999 a 2010, os casos confirmados de hepatite B no Estado de Mato Grosso do Sul totalizaram 2.097 e os casos confirmados de hepatite C, foram 448, dos quais, 67 foram detectados em 2010. Importante ressaltar que são considerados casos confirmados aqueles que apresentaram os testes anti-HCV e HCV-RNA reagentes (BRASIL, 2011a) . 22 3 METODOLOGIA A metodologia adotada é análise quantitativa. Um estudo descritivo com abordagem especificamente geográfica por meio de levantamento bibliográfico em referenciais teóricos que tratam do tema hepatites virais B e C, geografia da saúde e especialmente os relatórios de situações referentes Hepatites Virais do Sistema de Informação de Agravos Notificação (SINAN) de Mato Grosso do Sul, disponibilizados no banco de dados do Ministério da Saúde/ Serviços de Vigilância Sanitária em formato digital. Os dados coletados através do estudo foram analisados através do Software Excel que serviu de suporte para a elaboração dos gráficos que apresentam os casos notificados na Região Centro Oeste e no estado de Mato Grosso do Sul no período de 2003 a 2013 referentes Hepatites Virais B e C, por sexo e faixa etária. De acordo com Malhotra (2012), a média equivale a um valor obtivo da soma de todos os elementos estudados, divididos pela mesma quantidade de elementos, após seleção do período de 2003 a 2013, os gráficos foram elaborados. Na análise quantitativa, os passos podem ser definidos a partir de uma sequência de atividades que pode envolver categorização de dados a partir de muitos fatores, tais como: a natureza dos dados coletados, a extensão da amostra, os instrumentos de pesquisa e os pressupostos teóricos que nortearam a investigação e a interpretação e redação do relatório (GIL, 2002). O recorte especial é o Estado de Mato Grosso do Sul, pela necessidade de sintetizar o percentual das hepatites virais B e C no Estado. O recorte temporal é o período compreendido de 2003 a 2013. A pesquisa foi complementada com uma revisão sistemática das notificações dos casos de hepatites no Estado de Mato Grosso do Sul e na região Centro Oeste, constantes na Base de Dados do Sistema de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde, que apresenta os gráficos com evidencias das notificações dos últimos dez anos das hepatites virais B e C. 23 4 RESULTADOS 4.1 Incidências das Hepatites B e C no Estado de Mato Grosso do Sul Em relação à Hepatite B e C no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2003 a 2013, comparados aos demais Estados da região Centro Oeste, foram encontrados 2.738 casos notificados de Hepatite B e 1582 casos de Hepatite C (Tabelas 01 e 02). Tabela 01 – Incidência de Hepatite B Região Centro Oeste – 2003 - 2013 Unidade da Federação 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total Mato Grosso do Sul 271 313 342 265 212 230 322 194 245 156 188 2738 Mato Grosso 224 244 422 540 367 468 676 593 707 576 691 5508 Goiás 469 522 767 606 524 442 522 415 373 294 371 5305 Distrito Federal 150 145 194 133 122 137 191 148 125 108 155 1608 Total 1114 1224 1725 1544 1225 1277 1711 1350 1450 1134 1405 15159 Observa-se na Tabela 01 a comparação do Estado de Mato Grosso do Sul, no que se refere à incidência de hepatite B no período de 2003-2013, com os demais Estados da região Centro- Oeste. O número expressivo de 2738 notificações do Estado de Mato Grosso do Sul supera as notificaçõesdo Distrito Federal, com 1608 casos e Estados de Goiás com 5305 e Mato Grosso com 5508 mostram um elevado número de notificações. Já na Tabela 02 estão apresentados os dados de incidência de hepatite C nos Estados de Mato Grosso do Sul comparados com os demais Estados da região. Tabela 02 – Incidência de Hepatite C Região Centro Oeste – 2003 – 2013 Região e Unidade da Federação 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total Mato Grosso do Sul 210 260 298 221 62 51 87 82 77 105 129 1582 Mato Grosso 54 70 81 90 54 35 50 68 163 114 141 920 Goiás 261 264 241 207 187 140 101 103 65 78 120 1767 Distrito Federal 93 111 299 146 103 88 155 154 122 58 68 1397 Total 618 705 919 664 406 314 393 407 427 355 458 5666 Os resultados revelam que a notificações de Hepatite C no Estado de Mato Grosso do Sul no período de 2003 a 2013 supera os Estados de Mato Grosso e do Distrito Federal e se 24 com 1582 casos notificados, se aproxima expressivamente do resultado do Estado de Goiás. Com 1767 notificações. Tendo maior incidência no ano de 2005, com 298 notificações e menor no ano de 2011, com 77 notificações. Entretanto, as notificações se elevaram nos anos de 2012 e 2013, com 105 e 129 notificações. Esse resultado confirma o consenso internacional da OMS, de que milhões de pessoas são portadoras crônicas tanto das Hepatites B quanto das Hepatites C, situação que eleva o impacto da saúde das pessoas e afeta os sistemas nacionais de saúde, bem como a economia dos países. 4.2 Hepatites B, por faixa etária e sexo De acordo com a Base de Dados do Serviço de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde, no período de 2003 a 2013 foram notificados 2738 casos Hepatite B mostrados por faixa etária e sexo nas figuras 01 e 02. A Figura 01 mostra 2738 casos de hepatite B notificados em Mato Grosso do Sul, segundo a faixa etária, notificados no período de 2003 a 2013. Os casos se concentraram mais nas idades de 20 a 39 anos, com 1538 notificações, seguido pela idade 40 a 59 anos com 733 notificações e 10 a 19 com 256 notificações. O ano de maior incidência da doença foi 2005, com 342 notificações. Figura 01- Hepatite B - por faixa etária - Mato Grosso do Sul - 2003-2013 Fonte: Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde(SVS) 25 A figura 02 mostra que dos 2.738 casos de hepatite B notificados, em Mato Grosso do Sul, segundo o sexo no período de 2003 a 2013, 1.191 não tem informação do sexo. Entre os sexos masculino e feminino, 865 dos casos é predominantemente feminino, sendo 682 casos masculinos, o que mostra que a diferença de 183 casos entre os sexos não é tão significativa para um juízo a respeito de quem está mais vulnerável. Figura 02- Hepatite B – por sexo – Mato Grosso do Sul - 2003-2013 Fonte: Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde(SVS) 4.3 Hepatite C, por faixa etária e sexo No período de 2003 a 2013, foram notificados em Mato Grosso do Sul 1.582 casos de Hepatite C, registrados por faixa etária e sexo, no Ministério da Saúde /Serviço de Vigilância em Saúde, mostrados nas figuras 03 e 04. A figura 03 mostra que a ocorrência da Hepatite C por idade, é mais evidente na faixa etária dos 40 a 59 anos, onde foram registrados 717 casos, seguido de 628 casos para as idades de 20 a 39 anos. 26 Figura 03 - Hepatite C por faixa etária - Mato Grosso do Sul – 2003 - 2013 Fonte: Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde(SVS) Na figura 04, observa-se que a incidência de Hepatite C é maior para o sexo masculino com 869 casos e menor para o sexo feminino, com 712 casos., apenas um caso o sexo foi ignorado. Figura 04 - Hepatite C por sexo - Mato Grosso do Sul – 2003 - 2013 Fonte: Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde(SVS) 27 De acordo com esse estudo, a distribuição dos casos de hepatite B comparada a distribuição da Hepatite C, segundo faixa etária, a maioria dos casos de Hepatite B se concentra mais em indivíduos na faixa etária entre 20 a 39 anos e menos na faixa de 40 a 59 anos, enquanto a Hepatite C se concentra mais em indivíduos na faixa etária de 40 a 59 anos e menos na faixa etária de 20 a 39 anos. É possível compreender que apesar da via sexual não ser a única forma de contaminação do vírus da Hepatite B, é a principal, desse modo, os indivíduos mais jovens, com vida sexual ativa que não tomaram as devidas precauções estão mais expostos à contaminação. Os indivíduos mais velhos podem, sobretudo, contrair o vírus por outras formas de contaminação, como pelo uso de materiais pérfuro cortantes, seringas, agulhas ou de instrumentos para manicure, pedicure, tatuagem etc. Em relação à Hepatite C, de acordo com os estudos do Dr. Dráuzio Varella, a maioria dos casos dos casos, a doença é assintomática. Pode ocorrer uma forma aguda da enfermidade, antes da fase crônica, com mal-estar, vômitos, náuseas, pele amarelada (icterícia), dores musculares, perda de peso e muito cansaço, ou seja, nem sempre o portador do vírus apresenta a enfermidade precocemente (VARELLA, 2011). Os dados de contaminação da hepatite B e C por sexo observa-se que as mulheres são mais infectadas pela Hepatite B, enquanto os homens são mais infectados pela Hepatite C. é possível atribui esse resultado ao fato de já existe vacina para a Hepatite B, e essa providência diminui a incidência de contaminação, principalmente de mulheres que normalmente se protegem com mais assiduidade, principalmente quando engravidam. Como para a Hepatite C não existe vacina e a não contaminação depende de conhecer as formas de prevenções e evitá-las, como por exemplo, não compartilhe objetos de higiene pessoal, de manicure (alicates, lixas, espátulas), instrumentos para tatuagem que possam conter sangue, porque o vírus da Hepatite C chega sobreviver quatro dias fora do corpo humano, é possível verificar que entre os homens os cuidados são menos frequente, tendo também o fator consumo de bebida alcoólica que pode aumentar o risco de desenvolver a doença. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS As hepatites virais B e C, competem como doenças crônicas de distribuição universal, lesam o fígado. O vírus da hepatite pode ser transmitido por compartilhamento de agulhas, seringas e outros procedimentos como manicure e tatuagem e, principalmente, pela via sexual. Portanto é uma doença sexualmente transmissível. Muitas vezes a fase inflamatória da Hepatite B quando tratada a tempo, elimina o vírus e a pessoa se torna imune a novas infecções. Quando não eliminado pode causar inflamação crônica e no decorrer de ano levar a complicações hepáticas graves como a cirrose e o câncer de fígado. Como não foi foco de estudo as prováveis fontes ou mecanismos de infeção, existe por hipótese a chance de que os casos de contaminação da hepatite C, tanto entre homens quanto mulheres pelo vírus da hepatite C sejam por uso de objetos pérfuro-cortantes contaminados e a ingestão de bebida alcoólica, seguido daqueles que receberam transfusão sanguínea e dos que tiveram relações sexuais desprotegidas. Teoricamente não existe recomendação específica para evitar as hepatites virais B e C, uma vez que ambas são silenciosas em maior ou menor grau, sendo a via sexual a principal forma de transmissão da hepatite B e talvez a de maior incidência, entretanto a HepatiteC é mais grave pelo fato de que demora anos ou até décadas para que as complicações apareçam e quando ocorre, na maioria dos casos o fígado mesmo desempenhando suas funções está bem agredido e acaba determinando quadros graves de insuficiência hepática, cirrose ou câncer. Como o vírus existe em grande quantidade no sangue, permanece vivo no ambiente por bastante tempo e pode ser transmitido por pequenas lesões, sendo que a possibilidade de contágio é alta, principalmente para pessoas que convivem com infectados. Dessa forma, as campanhas de sensibilização realizadas para população são importantes mecanismos para a diminuição dos casos de contaminação. Neste contexto a Geografia da Saúde é uma área que pode contribuir com estudos dessa natureza para auxiliar nos trabalhos de prevenção da doença. 29 26 REFERENCIAS BRASIL, Presidência da República/ Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes . Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm> Acesso em: 11 dez 2016 ________, Ministério da Saúde/ Secretaria de Vigilância em Saúde/Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Tratamento da Hepatite Viral Crônica B e Coinfecções. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2010a. 132 p.(Série A. Normas e Manuais Técnicos) ISBN 978-85-334- 1687. Disponível em: < http://www.aids.gov.br/sites/default/files/hepatites_protocolo.pdf > Acessado em: 03 jan 2016 ________. 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