Buscar

Livro Funcoes Psiquicas Comunidade Terapêutica D.W.Winnicot

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 55 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
Comunidade Terapêutica D.W.Winnicot 
Crianças e Adolescentes 
 
 
 
 
Funções Psíquicas - “Livro Preto” 
J. Outeiral 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2 
ATENÇÃO 
 
I - CONCEITO 
 
A reação seletiva pela qual o ego examina o mundo externo e o interno 
chama-se atenção. 
É a concentração do psiquismo diante de um estimulo, ou melhor, uma 
resultante psíquica, já que centraliza todas funções numa determinada direção. 
Há autores (2) que a consideram como um grau de consciência. Dizem, 
pois, que tudo que é focal no campo da consciência é vivido com a atenção, e, tudo 
que e franjal evoluiu no psiquismo sem a atenção. 
Nessas condições, compreendidas como grau de consciência, a atenção 
tem mais o caráter de qualidade das outras funções mentais do que função especial 
propriamente dita. 
É de interesse nos determos no estudo da primeira definição dada. 
Implica ela na existência de dois elementos: 
A - Estimulo: 
B - Capacidade de concentração do psiquismo 
 
Estímulo: 
Objeto para o qual pode convergir nossa atenção que pode ser interno ou 
externo. Interno em nosso corpo e externo, fora dele. 
 
Capacidade de concentração do psiquismo: 
É claro que, se o ego não está em condições de poder concentrar-se, 
esse psiquismo não poderá prestar atenção. É o que se observa em muitos doentes 
mentais, nos quais o processo mórbido produziu tal deterioração que os impediu de 
formar essa componente que se denomina atenção. 
 
II - CARACTERES DA ATENÇÃO 
 
1 - Amplitude 
 3 
2 - Intensidade 
3 - Duração 
 
A amplitude refere-se ao campo que pode abarcar a atenção. A 
intensidade, também chamada agudez da atenção, indica que esta é, às vezes 
superficial outras vezes, profunda. Finalmente, a última particularidade é a 
personalidade maior ou menor da atenção. 
Do predomínio, ora da intensidade, ora da amplitude, surge o conceito de 
concentração. Assim, quanto maior a intensidade, maior a concentração quanto 
maior a amplitude, menor a concentração. 
Além disso, distingue na atenção a tenacidade e a vigilância, que muitas 
vezes podem atuar antagonicamente. 
Tenacidade : 
É a propriedade da atenção de estar dirigida de um modo permanente em 
um mesmo sentido. 
Vigilância : 
Aquela de dirigir-se a atenção a um novo objeto. 
Do ponto de vista psiquiátrico, estas características da atenção não são 
de muita aplicação, ou pelo menos de menor aplicação que em psicologia normal e 
em disciplinas correlatas, como por exemplo na orientação profissional. 
 
III - FORMAS DE ATENÇÃO 
 
Em clínica psiquiátrica se reconhecem duas formas principais de atenção: 
Espontânea e Voluntária 
 
Espontânea: 
É aquela que se exerce ante um estímulo externo, sem intervenção da 
nossa vontade. O objeto impõe-se aos nossos sentidos e, mais ainda, ao nosso 
psiquismo. Exemplo: o ruído, o bater de uma porta quando estamos lendo. 
Entrando numa casa, uma pessoa dirigirá espontaneamente a atenção 
para aquelas coisas que impressionam mais suas inclinações; uma estátua para um 
 4 
turista, uma biblioteca para um estudioso, etc. 
―A atenção espontânea‖ diz Ribot (2) está, inteiramente subordinada a 
nossa sensibilidade afetiva, esta lei não sofre exceções. 
 
Voluntária: 
Assim denominamos a que se produz mediante a intervenção da vontade 
do indivíduo, quem, por sua própria iniciativa concentra-se num objeto. Ex.: a 
concentração forçada sobre as páginas de urna anatomia patológica. 
 
IV. PSICOPATOLOGIA DA ATENÇÃO 
 
A atenção é influenciada: 
 
1 - da parte do sujeito (atenção voluntária) 
a. pela afetividade. 
b. pelo cabedal de associações disponíveis em relação ao assunto. 
 
2 - da parte do objeto (atenção espontânea) 
a. intensidade do estimulo 
b. mobilidade 
c. variações bruscas 
d. proximidade 
e. novidade 
f. repetição 
g. desaparecimento súbito 
 
O contrário da atenção chama-se distração, que é fenômeno observado 
no indivíduo, que submerso em suas meditações , não percebe as impressões 
externas. 
Trata-se portanto, mais de concentração de atenção propriamente de que 
diminuição desta. 
Como variações patológicas da atenção temos: 
 5 
1- Disprosexia. 
2- Aprosexia. 
3- Hiperprosexia. 
4- Hipoprosexia. 
5- Paraprosexia. 
Examinaremos, sumariamente, cada um destes distúrbios, já que 
psiquiatricamente tem muito pouco valor. 
O termo disprosexia é a lentidão ou debilidade da atenção. 
Aprosexia – falta de atenção, dependendo de fatores tóxicos, afetivos e 
traumáticos. Em resumo indica uma perturbação do ego, passageira ou permanente. 
Autores há que procuram diferenciá-la da ausência de atenção, proveniente da 
indiferença afetiva ou do negativismo dizendo que, no último caso o indivíduo não 
aceita os fatos porque carece de interesse ou porque, simplesmente não quer. Na 
aprosexia verdadeira ele não poderia atentar. 
A Hiperprosexia ou hiperatividade da atenção, consiste na capacidade 
do atender, simultaneamente, as mais variadas impressões, sem que fixe a atenção 
sobre um objeto determinado. 
Os quadros de excitação maníaca nos fornecem ilustração mais perfeita 
desse sintoma. 
Esse termo é também usado por alguns autores, para designar o que 
outros chamam de abstração, isto é, excesso de concentração sobre um 
pensamento. 
A hipoprosexia é a diminuição global da atenção. A atenção está 
diminuída pela fadiga, estados tóxicos, lesões orgânicas e, exemplo mais típico, é o 
estado de obnubilação. 
Além das variações patológicas dizemos que o grau de atenção do 
mesmo indivíduo depende das variadas condições fisiológicas. 
A capacidade de atenção também oferece grandes diferenças individuais, 
guardando em geral certa relação com o desenvolvimento intelectual. 
Paraprosexia é empregada para designar um fenômeno paradoxal que 
consiste na diminuição da intensidade e clareza das demais percepções, quanto a 
atenção acha-se dirigida para um só objeto, graças a um esforço especial da 
 6 
vontade. O exemplo mais típico é a distração dos sábios. 
 
SENSOPERCEPÇÃO 
 
I. CONCEITO E CARACTERES 
Os órgãos terminais ou receptores, estão construídos de tal maneira que 
podem analisar e selecionar a energia ambiente, transformando-a dentro do mesmo 
receptor e dando origem ao impulso nervoso. Esse impulso ao chegar a zona 
apropriada do cérebro, produz uma imagem sensorial , auditiva, visual ou de outro 
tipo, cuja interpretação ou significado dependerá das experiências e interpretações 
previas do indivíduo. A isso, chamamos sensopercepção ou simplesmente 
percepção como querem alguns autores. 
A sensopercepção foi estudada como constituída por dois elementos: a 
sensação e a percepção, entendendo-se pela primeira, o trajeto que vai desde a 
percepção sensorial do estímulo até sua chegada a célula cortical e, por percepção, 
a transformação que este estímulo sofre ao converter-se em fenômeno psíquico. 
Dizemos pois, que a percepção é o fenômeno psíquico pelo qual a sensação se faz 
consciente. 
Até agora falamos dos estímulos externos e órgãos sensoriais. Em 
realidade pode haver estimulação interna (desejos instintivos do ID). 
As perturbações das sensações, quer dizer, a via centrípeta, 
apresentamsintomas que serão vistos mais tarde, como sintomas da doença mental 
que se expressam no plano orgânico, e pôr isso, não serão estudados aqui. 
Em rigor alguns autores estudam a sensopercepção como um único 
processo, e, sobre isso não existe ainda um acordo, embora seja evidente a relação 
estreita entre sensação e percepção. 
Se olharmos para uma laranja e sobre ela fixarmos a nossaatenção 
receberemos, através do órgão visual, uma série de impressões sensoriais que, se 
transformarão em sensações elementares. Esses dados sensoriais e elementares, 
agregados e superpostos nos vão dar um complexo, uma estrutura a qual está 
ligada também uma carga afetiva. A presença em nossa consciência de uma parte 
desses atributos, evoca a estrutura toda e surge conhecimento: o que está diante de 
 7 
nós é uma laranja. Desse exemplo podemos concluir que a percepção ou 
sensopercepção como todas as outras funções, não pode ser isolada do todo, pois, 
como se vê, para o reconhecimento da laranja como objeto foi lançada mão de 
outras funções, tais como: memória, associações, atenção, etc. 
Esse mesmo exemplo da laranja servirá para distinguirmos percepção de 
representação. Olhando uma laranja tivemos diante de nós sua imagem; ou seja, a 
percebemos. Esta imagem chama-se: imagem sensorial, isto é, determinada pela 
presença do próprio objeto, sendo então: 
 1 — nítida e delimitada, 
 2 — fixa e estável, 
 3 — extrojetada, isto é, situada no espaço objetivo externo. 
Há autores há (2-8) que fazem um estudo mais detalhado do tipo de 
imagem, que nos parecem sem maior importância. Assim simplesmente as 
nomeamos; além das demais acima: post-sensorial – a imagem minêmica 
fantástica, eidética, onírica pareidólicas. 
 
II. PSICOPATOLOGIA DA PERCEPÇÃO: 
A percepção do ego pode alterar-se em dois sentidos: 
 a. Quantitativamente. 
 b. Qualitativamente 
 
Perturbações quantitativas: 
Os distúrbios quantitativos da percepção podem ser: 
1 - Por aumento de número ou intensidade – todos os sons parecem 
altos, todas as cores parecem vivas. É o que ocorrem em estados neurastênicos, 
delírios tóxicos, pródomos da crise epiléptica, etc. 
2 - Por diminuição – tudo parece escuro ou cinzento, sem gosto, é o que 
ocorre nos estados depressivos ou melancólicos. 
 
Perturbações Qualitativas: 
Podem ser: 
1 - ilusões 
 8 
2 - alucinações 
3 – pseudo-alucinações 
 
Ilusões - definimos como a percepção deformada do objeto. O objeto 
existe e é real, e o indivíduo o percebe, porém, o interpreta erroneamente. Pode 
ocorrer com clareza de consciência ou ser favorecido por perturbações desta 
(estados tóxicos ou infecciosos), mas sempre determinados por motivos afetivos, 
impulsos reprimidos, desejos, temores, etc. É o apaixonado que vê a namorada 
numa desconhecida para quem olha de repente ou um paciente carregado de 
sentimentos de culpa que ouve vozes acusadoras quando as árvores são agitadas 
pelo vento. A imagem ilusória é, pois, uma imagem sensorial deformada por 
elementos representativos. Parece-nos que o mecanismo de defesa utilizado na 
ilusão é a projeção. 
Alucinações - é a percepção sem objeto também chamadas por alguns 
autores de pseudo-percepção. É a projeção para o exterior de uma imagem 
representativa, implicando numa distorção do juízo da realidade, isto é, aceita como 
verdadeira. 
Sob o ponto de vista dinâmico parece-nos que pode ser considerado 
projeção para o exterior de conflitos, desejos inconscientes. Na ilusão a projeção 
momentânea é rápida e não implica em maior comprometimento do ego, ao 
contrário, na alucinação o ego se encontra seriamente comprometido. 
Nas alucinações, bem como nas ilusões, seu significado é passível de 
compreensão, como no sonho e outros produtos do inconsciente. 
 
III. CLASSlFICAÇÃO DAS ALUCINAÇÕES: 
As alucinações podem ser classificadas: 
a. Segundo o órgão ou sistema afetado 
b. Segundo o momento de produzir-se 
c. Segundo o conteúdo. 
 
Segundo o órgão ou sistema afetado podem ser: 
1. sensoriais (visuais, auditivas, gustativas, olfativas, táteis). 
 9 
2. Cenestésicas 
3. Cinestesicas ou motoras 
4. Psíquicas 
5. Combinadas 
 
Alucinações sensoriais – São aquelas que se produzem através dos 
órgãos dos sentidos, classificando-se, consequentemente, em: 
1. Visuais - o paciente crê ver objetos que não existem, sejam 
elementares (chamas, iluminações, etc.) ou complexas (pessoas, 
animais, etc.). Apresentam-se, principalmente, nos estados de 
confusão mental, psicoses epilépticas e psicoses esquizofrênicas, 
seria descrita por BLEURER (1), com o nome de ―extracampina’, nas 
quais o doente vê objetos que se encontram fora do campo visual. 
(―Vejo uma serpente atrás de mim‖). São próprias dos 
esquizofrênicos. 
2. Auditivas - do mesmo modo os pacientes ouvem ruídos ou sons, 
elementares ou complexos; esses últimos podem ser: comuns (ruídos 
de objetos individualizáveis, por exemplo o soar de urna campainha) 
ou verbais (vozes), encontram-se em delírios alucinatórios, certas 
formas de alcoolismo, estados esquizofrênicos principalmente em 
estados melancólicos. Quase sempre são do tipo auto-acusatório. Isso 
talvez se deva, em parte, que nosso superego seja formado 
preferencialmente através da audição. 
3. Gustativas e Olfativas — geralmente sua presença é simultânea, 
assim o paciente pode sentir cheiro de podre e gosto estranho na 
comida. Constata-se sua presença, em sindromes paranóides. 
Expressam, quase sempre, temores do paciente de ser envenenado 
4. Táteis — muito comum em tóxico-manias, (alcoolismo, cocainismo, 
etc.). 
 
Alucinações Cenestesicas - Compreendem aquelas dirigidas à 
sensibilidade interna que regem à inervação dos órgãos e vísceras. O paciente 
 10 
queixa-se de que seu estômago esta podre, os testículos não funcionam, etc. Alguns 
melancólicos, esquizofrênicos e neuróticos sofrem deste tipo de alucinações. 
 
Cinestésicas ou Motoras - o paciente crê efetuar um movimento, sente-
se erguido ou, assinala que lhe estão levantando um membro. São observadas em 
algumas formas de confusão mental, esquizofrênicos. 
 
Alucinações Psíquicas (Baillarger) Aperceptivas (Kahlbaum) ou 
Pseudo-Alucinações (kandinsky) - O doente percebe no ―interior do seu cérebro’, 
uma voz ou uma imagem visual ou sem chegar a isso, simplesmente uma idéia ou 
pensamento que atribui a algo ou alguém estranho a ele. Suas características são: 
falta de vivacidade, estabilidade maior que a alucinação verdadeira (influenciáveis, 
modificáveis); falta de crença persistente em sua realidade objetiva (J. Muller - E. 
Kandinsky, citado por MYRA Y LOPES). 
 
Alucinações Combinadas - Qualquer dos tipos citados podem combinar-
se ou apresentar-se simultaneamente. 
 
 Segundo o momento que se produzem podem ser diurnas, noturnas, 
hipnagógicas (imediatamente antes do sono), a hipenopompica (imediatamente 
depois do sono). 
 
Segundo seu Conteúdo – Podem ser elementares (indiferenciadas: 
chamas murmúrios contatos ou gostos indeterminados, etc.) e complexas 
(diferenciadas: visão concreta de objetos, audição de vozes contatos ou gostos 
determinados). 
 
Pseudo-Alucinações - também uma pseudo-percepção. Pois é sem 
objeto. Distingue-se da alucinação porque não é aceita pelo juízo da realidade como 
percepção real do objeto. É chamada pela escola francesa de (DUPRE E GELMA), 
citados por FIGUEIRAS E SIMAN de ―alucinoses‖ enquanto que a escola alemã e 
americana reservam esse termo a uma Síndrome classificando-as habitualmente 
 11 
entre as psicoses alcoólicas que se caracterizam por uma reação com alucinações 
auditivas, que se apresentam numa consciência clara e acompanhada, 
efetivamente, por marcado temor. 
Na pseudo-alucinação o paciente se dá conta de que é anormal o que 
sente. Parece-nos que há uma parte do ego que se mantém intacta e capaz de 
reconhecer a realidade. 
 
MEMÓRIA 
 
I. CONCEITO E CARACTERES 
 
Vimos até agora, as primeiras funções que emprega o ser humano para 
estabelecer contato como meio que o rodeia. Por meio delas, a personalidade 
concentra-se em um estímulo, que penetra num indivíduo, em forma de sensação. 
Quando este chega ao cérebro faz-se consciente, convertendo-se em percepção. 
Avançando um passo além, chegamos a conclusão de que o indivíduo 
possui a faculdade de fixar ou apreender este estimulo, conservar durante longo 
tempo, evocar quando necessita ou crê conveniente, isto é, colocá-lo em primeiro 
plano, e por último reconhecê-lo ou identificá-lo. Assim, por exemplo, a leitura de 
algumas páginas de um livro, provoca em nós um processo tal, nos permitindo 
conservar e fixar o que lemos ou grande parte dele. Do mesmo modo o evocarmos 
se necessário e finalmente, quando voltamos a repassar essa leitura a 
reconhecemos ou identificamos com a realizada pela primeira vez. Todos esses 
processos, cuja concatenação é evidente, integram uma função tão complexa como 
- as anteriores - denominada memória. Podemos definir esta, portanto, como 
capacidade de fixar, conservar, evocar e reconhecer um estímulo. 
Não devemos concluir que a memória seja uma faculdade ou função 
especial, mais ou menos isolada, senão um aspecto daquela parte, altamente 
integrada do organismo, que chamamos mental. Esse aspecto tem também a 
adaptação com o mínimo de esforço, pela ajuda que presta ao indivíduo para que 
tire proveito de sua experiência. 
 
 12 
II. ETAPAS DO PROCESSO MENÉSICO 
 
Como vimos acima, podemos distinguir, dentro da memória, quatro 
etapas: 
a – fixação 
b – conservação 
c – evocação 
d - reconhecimento 
 
Fixação: 
Consiste a fixação num estabelecimento de associações entre a 
experiência passada e o novo fenômeno, que é assim integrado na totalidade mental 
a isto Bleuler denominava ―engrama‖, sem definir, claramente, o que entendia pôr 
isso. A capacidade de formar e conservar esses engramas, foi designada pôr Wernik 
(citado por Bleuler) com o nome de memória de fixação. 
Todas as representações associadas com o elemento fixado, podem 
servir depois no ato da fixação, como evocadoras, e, tanto mais fácil será a 
reconstrução mnêmica quanto maior o número de evocadores associados. 
Bleuler, deu a esses evocadores o nome de ―ecforia de engrama‖. 
A fixação depende naturalmente da repetição do próprio ato de fixar. Esta 
é a razão pela qual o estudante, se por ocasião dos exames tem de se dar conta do 
que leu, repete o texto varias vezes e, quanto mais o faz, mais seguro sente-se. Pelo 
ato da fixação, se estabelece a ―disposição mnêmica‖, isto é, a potencialidade de 
recordar o fixado. A lei que estabelece a relação entre a força das disposições e o 
número de fixações repetidas é formulada por OFFNER (citado pôr Iracy Doyls) da 
seguinte maneira: ‖uma disposição torna-se tanto mais forte tanto mais freqüente se 
repete o processo psíquico, qualitativamente idêntico que lhe serve de base.‖ Lendo 
um texto científico pela primeira vez podemos conservar uma noção geral do 
assunto, mas, via de regra, não seremos capazes de reproduzi-lo. Repetindo a 
leitura outras vezes, aumentamos a força de disposição até o ponto em que 
conseguimos reproduzi-lo literalmente ou em seu significado, conforme seja a 
finalidade. Daí pôr diante, a repetição torna-se praticamente desnecessária, porque 
 13 
a fixação atingiu um ponto ótimo. Esse fato deu lugar a segunda lei de OFFNER: 
―uma disposição reforça-se pela repetição, tanto menos quanto mais forte já era ela 
antes da repetição‖ Esta lei é exata num limite, relativamente pequeno de tempo e, 
por isso somos obrigados a uma nova repetição, de tempos em tempos para que a 
disposição mnêmica se reestabeleça. 
Na prática, distinguimos três modalidades de fixação: mecânica, racional 
e mnemotécnica. Na primeira, procuramos, pela repetição automática acentuar o 
sulco deixado pelo elemento fixado. Nesse tipo de fixação, o texto fixado é repetido 
literalmente; dizemos que foi decorado, A fixação racional ou lógica dá-se quando ao 
fixar procuramos integrar os fatos em nosso cabedal intelectual. Quando durante a 
fixação inventamos relações esdrúxulas, mas que servem para facilitar a futura 
repetição mnêmica, especificamente falamos em relação mnemotécnica. 
Podemos distinguir ainda, a fixação consciente e a fixação pré-consciente 
também chamada subconsciente por alguns autores. Fixar com atenção e fixar sem 
atenção, são justamente, os termos que distinguem a fixação consciente da pré-
consciente. Do mesmo modo, influem sobre a fixação os sentimentos, as emoções e 
interesses afetivos. Todos os elementos coloridos afetivamente fixam-se com mais 
força do que os conteúdos indiferentes; e quanto maior a carga afetiva, tanto mais 
profunda a fixação. 
Na memória devemos considerar ainda, dosagens do material fixado, que 
varia individualmente. Cada pessoa tem a sua dose ótima de fixação, que não pode 
ser ultrapassada. A capacidade de fixação mnêsica constitue constante individual, 
enquanto houver rigidez. Não conseguimos, mesmo pelo treinamento, aumentar o 
número de conteúdos fixados. Entretanto, é possível aumentar o rendimento de 
fixação, ensinando a pessoa a sintetizar o material a fixar, nesse sentido é que são 
úteis os sumários e esquemas. 
 
Conservação: 
O estudo da conservação é muito difícil, pois essa fase do processo 
mnêmico confunde-se com a terceira etapa, ou seja a evocação, desde que 
apreciamos a conservação pelos relatos que o indivíduo fornece dos dados fixados: 
Notando falhas no relato, temos dificuldade em concluir se isso decorre da 
 14 
insuficiente conservação, ou de defeito de evocação. Alguns autores negam a 
existência dessa fase. Há, porém, aqueles que atestam o processo de conservação 
no material fixado. Ebinghus (citado pôr Iracy Doyle), após fixar na memória do 
examinando certa quantidade de material, deixava o indivíduo esquecer o fixado; 
depois de confirmar a impossibilidade da repetição, renovava a fixação. Verificou 
que tais casco, na segunda fixação, gastava-se muito menos tempo para refixar o 
material ―esquecido‖. 
Como se faz a conservação? Há duas correntes: os partidários da teoria 
estática consideram a memória latente como uma espécie de câmera fotográfica, 
que, de acordo com as necessidades, são retiradas para a reprodução. A teoria 
dinâmica das representações, mais aceita modernamente, estabelece que não são 
representações inteiras que se conservam mas sim unidades neles discriminadas no 
momento da fixação e que depois reconstroem a lembrança. Em realidade, vemos 
que o simples modo de olhar um determinado sinal ou cicatriz, orienta o 
reconhecimento uma pessoa que há muito não vemos. 
 
Evocação e Reconhecimento 
A evocação em sentido prático é a memória propriamente dita. Muitos 
autores costumavam descrever estes duas fases englobadas no conceito de 
reprodução. A evocação não é nada mais do que uma associação expontânea ou 
voluntária que traz, novamente a consciência o material previamente fixado e 
conservado, portanto, a evocação exige a existência de ―um evocador‖ (ecforia). 
Esse evocador pode ser consciente ou inconsciente. Sem exceção a evocação se 
faz associativamente e por isso as leis de evocação são os mesmas das 
associações. Quanto mais associações conduzem a uma fixação tanto mais fácil é a 
evocação. Por outro lado, quanto mais agradável forem os afetos ligadas a esse 
material fixado, tanto mais fácil será sua evocação. 
O esquecimento não será um processo passivo mas o efeito de forças 
que se opõem ativamente ao aparecimento de experiências desagradáveis ou por 
qualquer motivo, repelidas pelo ego. O mecanismo de defesa utilizado pelo ego é a 
repressão. Em ―psicopatologia da vida cotidiana‖,Freud demonstra que os distúrbios 
isolados da evocação dependem sempre de causas afetivas. 
 15 
O termo reconhecimento designa, especificamente, a possibi1idade de 
reproduzir as circunstâncias especiais e temporais que acompanham a fixação do 
material. Do mesmo modo que existe um ―juízo da realidade‖, distinguindo as 
percepções verdadeiras das falsas, dispomos também, de um ―juízo de 
identificação‖, que permita discriminar as recordações verdadeiras das falsas. 
 
III. PSICOPATOLOGIA DA MEMÓRIA 
 
Os distúrbios da memória, podem ser quantitativos e qualitativos: 
 
1. Perturbações Quantitativas. 
Referem-se ao número de representações mnêmicas, que podem variar 
para menos e para mais. Para mais quando um estado de excitação psíquica traz 
como conseqüência, uma exaltação da memória; para menos quando há uma 
inibição de causa orgânica ou afetiva que produz uma diminuição no número de 
representações: 
Classificam-se em: 
a. Hipermnésia. 
b. Dismnésia. 
c. Hipomnésia. 
d. Amnésia. 
 
Hipermnésia: 
Assim se denominam o aumento simples da memória, constituindo por si 
só um fato patológico. Observam-se ocasionalmente, nos estados maníacos e na 
paranóia. A capacidade mnemônica excessiva limita-se habitualmente a períodos 
específicos, ou a experiências relacionadas com afetos particularmente intensos. As 
impressões que se originam em fatos carregados emocionalmente registram-se, 
quase sempre, com intensidade maior que a habitual e, por isso, o paciente tem uma 
lembrança clara e detalhada. 
Há entretanto pessoas que apresentam um desenvolvimento acentuado 
do aspecto da memória em contraste com as demais formas de funcionamento da 
 16 
inteligência. 
A hipertrofia de um aspecto da memória, como por exemplo, o musical, a 
memória para números, etc; é comum ser encontrada em certos oligofrênicos. 
A hipermnésia da paranóia é chamada por alguns autores de hipermnésia 
seletiva. Esses acumulam toda a espécie de sinais mnêmicos e detalhes que 
servem de apoio a suas afirmações delirantes; entretanto ha quase sempre redução 
da memória, se testada em outros setores da atividade psicológica uma vez que 
todo o ego e a memória inclusive, estão a serviço do delírio. 
 
Dismnésia: 
Nela as representações estão diminuídas. O processo mental patológico 
influi sobre as diferentes fases da memória, restringindo seu funcionamento. Esse 
estreitamento que também encontramos na hipomnésia e amnésia, é de um colorido 
especial: - o paciente esquece alguns fatos em forma total e absoluta, outros em 
formas fragmentadas e outros não esquecem. 
J.T. Bordas (citado por Figueiras) em uma comparação feliz lembra o 
derramar de tinta sobre a areia, impregnando totalmente algumas particulas, 
parcialmente outras e não atingindo as demais. Esse fenômeno é típico nos 
paralíticos gerais, e costuma ser as vezes o primeiro sintoma a apresentar-se. São 
pequenos esquecimentos ou evocações um tanto confusas, que por semelhança 
com as que se produzem no indivíduo normal passam despercebidas. 
 
Hipomnésia 
A diminuição da memória, ou hipomnésia, quando global, uniforme e 
progressiva nos faz pensar na existência de um processo demêncial de natureza 
orgânica, como ocorre na arteriosclerose cerebral, demência senil, na paralisia geral, 
etc. 
Há casos de aparente amnésia observados nos neuróticos, que vivem 
queixando-se de insuficiência de memória, quando na realidade os testes 
demonstram ser normal tanto a fixação, a conservação como a evolução. 
Os mecanismos desse fenômeno são muito variados. Finalmente nos 
oligofrênicos também se pode achar hipomnésia: a falta de desenvolvimento 
 17 
cerebral traz como conseqüência um funcionamento de deficiência da memória. 
 
Amnésias: 
Assim se denomina a perda completa da memória. Trata-se de uma perda 
de lembrança seja por incapacidade de fixação, conservação ou de evocação, 
Segundo sua extensão classificam-se em parciais e gerais 
Parciais: são aquelas que produzem um determinado sentido: perda da 
memória, auditiva, gustativa, etc. 
Gerais: quando abrange todos os dados do conhecimento. 
A amnésia pode ser produzida tanto por fatores orgânicos como 
psicopatogênicos. Na amnésia orgânica as perturbações fisiológicas dos neurônios 
por toxina, traumas ou degenerações, dificultam os processos associativos. A perda 
da memória, por causa orgânica, deve ser um transtorno no processo da fixação e 
conservação, especialmente neste último. Na amnésia psicógena inibe-se a 
memória pôr razões psicológicas, estritamente falando, o paciente da amnésia 
psicógena não esquece; ele não pode recordar, pois assim liberta-se da angustia 
que está ligada a esses acontecimentos reprimidos. 
As grandes perdas da memória de origem psicogênica devem ser 
consideradas como de natureza histérica. O diagnóstico diferencial entre amnésia 
orgânica e psicogênica é importante. Na diferenciação temos que investigar a 
natureza da causa. Pode estar evidente, mas se não for será necessária fazer uma 
historia cuidadosa e uma exploração detalhada do sistema nervoso, antes de 
concluir que a amnésia é de origem psicogênica. Não havendo transtorno da 
consciência ou alteração das funções intelectuais a amnésia será de origem 
psicógena. Classicamente distingue-se três variedades de amnésia: 
a. Amnésia de fixação ou anterógrada. 
b. Amnésia de evocação ou retrógrada. 
c. Amnésia total ou retroanterograda. 
 
Amnésia anterógrada: 
O paciente não consegue lembrar-se dos fatos recentes, repetir 
imediatamente após as palavras que lhe foram ditas, fixar algum objeto que são 
 18 
apresentados, embora refira-se, com exatidão e precisão aos episódios de sua 
meninice. Caso típico da demência senil. As vezes a amnésia anterógrada constitui 
um sintoma secundário a outras alterações mentais: por exemplo, pode coincidir 
com estados de obnubilação da consciência, quando é natural que a fixação não se 
opere, uma vez que estímulos sensoriais não são percebidos claramente. 
 
Amnésia de evocação ou retrógrada: 
Caracteriza-se a amnésia retrógrada, pelo desaparecimento das 
lembranças antigas há muito fixadas pela memória, que, ou não podem ser 
evocadas, ou o são a custa de grande esforço. Esse o tipo de transtorno da memória 
que aparece consecutivamente a traumatismos e infecções cranianas, embora 
possa parecer também em certas intoxicações agudas e ataques epléticos. Iracy 
Doyle, cita o caso de um paciente esquizofrênico muito degregado e delirante, que 
vítima de traumatismo craniano severo, com fratura no parietal seguido de estado de 
coma e convulsões, após recuperar a consciência apresentava amnésia retrograda 
de intensidade máxima; não se recordava de detalhes algum de seu passado, 
inclusive os próprios dados de identificação pessoal. Durante o período que persistia 
a amnésia o paciente funcionou com absoluta lucidez, sem qualquer traço de 
desagregação ou delírio. Logo, entretanto, que a recuperação mnêsica se processou 
ameaçando trazer a memória dos conflitos reprimidos, instalou-se o quadro 
esquizofrênico. É este tipo de amnésia que se apresenta em pacientes submetidos 
ao eletrochoque e em pacientes submetidos a traumatismos emocionais intensos. 
Costuma ser freqüente o paciente portador desse tipo de amnésia a substituição do 
material esquecido por elementos de caráter imaginativos que constituem o que se 
chama confabulação. Entende-se, por confabulação um processo, mediante o qual 
o paciente substitui sua amnésia por expressões imaginativas as quais contam como 
verdadeiras. Esse fenômeno é muito freqüente na confusão mental e na demência 
senil. 
 
Amnésia total retroanterograda:Nesta amnésia a deterioração mental á tão grande que o paciente não 
pode fixar, conservar, evocar e reconhecer os estímulos; perdeu toda a capacidade 
 19 
mnêmica, será um sinal de grave prognostico. 
Um tipo particular de amnésia geral é a amnésia lacunar que se observa 
nas confusões mentais e correspondem a períodos de graves perturbações da 
consciência. A função mnêmica fica suspensa durante o período, sendo que, 
passado esse, os pacientes voltam a recordar os fatos anteriores a sua enfermidade 
assim como os posteriores, apresentando uma lacuna mnêmica que abrange 
períodos de duração do processo. 
 
2. Perturbações Qualitativas: 
Referem-se as qualidades da representação mnêmica, recebendo o nome 
genérico de paramnesicas ou falsos reconhecimentos, quer dizer, reconhecimentos 
que não correspondem a realidade, são: 
 
a - Deja Vu, ou fenômenos do já visto. 
b - Fenômeno do nunca visto (Criptomnésia de Bleuler) 
c - Ilusão da memória ou falsificação retrospectiva. 
d - Alucinação da memória 
 
Deja Vu: Impressão de já ter vivenciado antes o que na realidade já é 
visto pela primeira vez. Ocorre quando a situação presente encontra uma relação 
associativa com a experiência anterior reprimida no inconsciente. 
Fenômeno do nunca visto: ao contrário do caso anterior, o paciente 
acredita nunca ter visto algo que em realidade já vivenciou. Quando ocorre no 
terreno patológico tem a característica de que paciente não reconhece o erro, 
Entende-se facilmente que a fixação foi intensamente reprimida, por estar ligada a 
associações de conteúdos desagradáveis para o indivíduo. 
Ilusão da Memória ou Falsificação retrospectiva: Sob esse título 
entende-se a evocação deformada ou a evocação de detalhes imaginários, sob a 
influência de exigências afetivas, geralmente para corroborar uma interpretação 
delirante. É muito freqüente na paranóia. 
Alucinação de Memória: Na qual há uma evocação de algo que nunca 
se fixou nem conservou. É a chamada confabulação, já descrita anteriormente. Iracy 
 20 
Doyle (2), reconhece ainda, outros distúrbios qualitativos da memória, que serão 
somente citados, por nos parecerem de menor importância. Assim, por exemplo, fala 
no falso reconhecimento, ou seja, um indivíduo é confundido com outro, Parece-
nos que aqui trata-se mais de uma ilusão do que propriamente um fenômeno de 
memória. 
DIDE EGUIRAUD (2) descrevem com o nome de reminiscência, o fato 
de uma lembrança real não ser reconhecida como produto da memória e aparecer 
como idéia nova e pessoal. O inverso também pode acontecer, isso é um processo 
mental, que não é uma lembrança, ser reconhecida como tal. 
As criações de fantasia podem ser relatadas como realidades, seja na 
confabulação desenfreada dos presbiofrenicos e doentes de KORSAKOW, seja, de 
modo mais discreto, dos relatos dos mentirosos habituais, que acabam 
acreditando nos produtos da própria imaginação. Os sonhos podem adquirir tanta 
viveza e impôr-se de tal modo ao juízo de identificação, que sejam referidos como 
experiências reais da vida recordada. 
 
CONSCIÊNCIA 
 
I. CONCEITO E CARACTERES 
 
Denominamos consciência a este estado de clareza do sensório que 
possibilita o reconhecimento do próprio eu e do ambiente. Descritivamente talvez 
fosse mais acertado a expressão ―clareza mental‖ para indicar o que se designa com 
o nome de consciência. 
O sensório é claro, quer dizer, a função dos sentidos especiais está 
intacta e a apreensão dos estímulos externos não esta perturbada. Em outras 
palavras o indivíduo é capaz de captar as condições do meio ambiente, tais como 
lugar, tempo, situação pessoal e geral, e compreender perguntas e refletir sobre 
elas. 
O conceito é abstrato e, portanto, de difícil sistematização. Implica num 
funcionamento harmônico e completo das funções psíquicas, comportando a 
atenção, percepção, memória, associação de idéias, etc., mas fundamentalmente 
 21 
significa clareza do sensório. 
Didaticamente fala-se em campo, foco e limiar da consciência. 
Entende-se por campo de consciência a extensão que abarca o cenário 
onde a consciência atua. Se representamos esse campo por círculos concêntricos, 
como se fora um alvo de tiro, o centro do alvo corresponde ao máximo grau de 
consciência e é chamado foco. Os círculos mais próximos esprimem, 
esquematicamente, os processos pré-consciente, e os mais afastados os 
inconscientes. Os circulos intermediários entre o foco e os processos pré-consciente, 
seriam o limiar da consciência. 
São conceitos puramente abstratos e sem importância pratica, por isso, 
nos limitamos a comentá-los. 
 
II. PSICOPATOLOGIA DA CONSCIÊNCIA 
 
Os transtornos da consciência ocorrem, pôr: 
1 - Obscurecimento da consciência 
2 - Estreitamento da consciência 
 
1 - Obscurecimento: 
Esse transtorno ocasiona urna perda da claridade de nossas operações 
mentais, uma espécie de adormecimento em vigília e retarda a elaboração psíquica. 
Pode apresentar—se em diversos graus, desde a sonolência até o coma. 
Nos deteremos no estudo de: 
a - Obnubilação 
b - Confusão 
c - Estupor 
d - Coma 
 
a. Obnubilação: - é a incapacidade de responder 
É um transtorno na qual a clareza mental não é completa, devido 
habitualmente a alterações químicas ou físicas no sistema de associação do 
cérebro. O limiar da consciência é alto e os estímulos sensoriais que, comumente 
 22 
produzem percepções claras, não são agora capazes de fazê-lo. Está alterada a 
capacidade para pensar claramente, para perceber, esconder e recordar os 
estímulos comuns, com a rapidez habitual. As vezes é necessário sacudir o paciente 
para que compreenda uma pergunta, gritar-lhe e até repetir-lhe as coisas várias 
vezes, até entender a pergunta o suficiente para poder respondê-la. O sintoma 
aparece em pacientes que sofreram traumatismos cranianos ou processos 
infecciosos agudos. Observa-se também em transtornos psicogênicos como na 
histeria. 
 
b - Confusão: 
É uma alteração da consciência caracterizada pôr um embotamento do 
sensório, dificuldades de compreensão, atordoamento, perplexidade, desorientação, 
transtornos das funções associativas e pobreza ideativa. A face de um doente 
confuso apresenta uma expressão ansiosa enigmática e às vezes de surpresa. A 
confusão está confinada em grande parte a fase aguda de algumas doenças 
mentais, especialmente as associadas a fatores tóxicos infecciosos ou traumáticos, 
ainda qual, também, possa ocorrer em estados crepusculares, epilépticos ou 
histéricos e certas ocasiões em condições de grande tensão emocional. É um grau 
mais acentuado que a obnubilacão. 
 
c - Estupor: 
É um grau maior de obnubilação; estupor pode ocorrer tanto nas 
enfermidades mentais tóxicas e orgânicas como nas psicogênicas. Observa-se 
estupor em diversas enfermidades físicas e mentais, como as intoxicações, 
enfermidades orgânicas do cérebro, depressão profunda, interseptação, medo 
irresistível e, nas reações epilépticas e histéricas. Chamo atenção no estupor, a 
imobilidade do paciente. No estupor tóxico os processos do pensamento conscientes 
estão suspensos, enquanto que no estupor psicogênico há uma intensa 
preocupação do pensamento, mas não existe suspensão real da consciência. Uma 
passagem súbita do estupor à hiperatividade só ocorre no estupor psicogênico 
 
d - Coma: 
 23 
Este, finalmente, é a abolição completa da consciência. 
 
2 - Estreitamento da consciência: 
Ao conceituarmos o campo da consciência dissemos que era a extensão 
que abarca o cenário, onde a consciência atua, Em certos casos esta extensão sofre 
uma redução, emsuas dimensões que se denomina estreitamento da consciência. 
Essa se localiza numa determinada direção, em um objetivo ficando borradas, todas 
as outras representações mentais. LANGE, exemplifica esse fenômeno, 
comparando-o com um boxeador ―grogue‖, que pode aparar e dar golpes - seu 
objetivo - seguir as regras do pugilismo, mas incapaz de qualquer outra coisa, 
inclusive retirar-se para seu canto. 
Na clínica esse transtorno encontra-se nos chamados estados 
crepusculares oníricos. Observam-se mais freqüentemente os estados 
crepusculares, na epilepsia e na histeria; mas podem também aparecer, como 
conseqüência de traumatismos emocionais intensos e de lesões orgânicas cerebrais 
traumáticas. 
Consistem esses estados na substituição das impressões normais, 
corretas, pôr outras falsas de tal modo que a compreensão do mundo se torna 
parciais e errônea. Nessas condições o paciente pode executar atos 
incompreensíveis aparentemente até mesmo agressões perigosas. Varia a duração 
de tais estados, de minutos a horas, de dias a até meses. Inicia-se e termina-se 
subitamente, e é seguido de uma amnésia lacunar bem definida. A conduta explicita 
costuma ser coerente e a orientação no tempo e no espaço conservam-se, ainda 
que se faça de um modo automático. O resultado é que os pacientes podem 
executar uma séria de atos, que embora tenham uma finalidade, são absolutamente 
inconscientes. 
Passado o episódio, o indivíduo não se recorda do que lhe aconteceu 
mostra-se surpresa caso se encontre em lugar adverso da habitual, e nem sabe 
explicar como chegou até ali. Iracy Doyle cita o exemplo de um indivíduo que 
assumindo outra identidade, contraiu núpcias e já tinha um filho quando refez-se do 
estado crepuscular para descobrir que já era casado anteriormente. 
Os autores divergem quanto a esses fenômenos, dizendo uns que há, 
 24 
simplesmente um estreitamento do campo da consciência, sem obnubilação, 
enquanto afirmam outros que esta, está sempre presente. 
Alguns autores incluem ainda, as perturbações da consciência delírio 
confusional (delirum). Não é só a perturbação da consciência, senão um complexo 
sintomático, comumente agudo, tanto no seu início como em sua evolução; essa 
síndrome consiste na obnubilação da consciência, inquietação, desorientação, 
pensamento incoerente, ilusões e alucinações. Apresenta-se habitualmente em 
pacientes febris, e em estados tóxicos. Os sintomas pródromicos mais freqüentes 
são o sono inquieto, dificuldade para compreensão e diminuição para fixação. Se a 
obnubilação for intensa, ao recuperar-se, o paciente não recorda nada do ocorrido, 
durante este estado, O delírio confusional pode ser seguido ou interrompido pôr 
estados de estupor. 
 
III. CONCEITO DE LUCIDEZ MENTAL 
 
O que vimos atè agora, serve para. fixarmos o conceito psiquiátrico de 
lucidez, de tal importância que ambos autores classificavam os doentes mentais em 
lúcidos e não lúcidos. Cada autor tem sua maneira de defini-la, não existindo um 
acordo a esse respeito. JASPERS (6) diz que e lúcido aquele indivíduo capaz de 
entender e responder perguntas; outras chamam assim os capazes de atender e 
perceber. A AMEGHINO (citado pôr Figueiras) (3º), define a lucidez como a 
capacidade de atenção, percepção e memória; mediante o uso das quais o indivíduo 
pode estabelecer contato com o mundo exterior. Para BLEURER (1), o estado de 
lucidez seria simplesmente a falta de desordem na consciência, e uma boa 
orientação. 
 
ORIENTAÇÃO 
 
I. CONCEITO E CARACTERES 
 
Denominamos orientação a um complexo de funções psicológicas ―em 
virtude das quais temos consciência, em cada momento, de nossa vida e da 
 25 
situação real em que nos encontramos‖, (VALEJO-NAGERA). Em outras palavras, é 
o processo pela qual apreendemos o ambiente e nos situamos em relação a ele. 
Depende, principalmente, da atenção, da consciência, da percepção, da memória e 
do juízo. 
 
Distinguimos, classicamente dois tipos de orientação: 
1 - auto psíquica ou do mundo interno 
2 - alo psíquica ou do mundo externo 
 
1 -Autopsiquica: 
 
Refere-se a própria pessoa e compreende: 
 
a. consciência da situação (qual é a minha situação neste momento) 
b. consciência da enfermidade (noção de que realmente é um doente 
mental) 
c. noção da própria personalidade 
 
2 - Alopsquica: 
 Compreende por sua vez: 
 
 a. no tempo (dia, mês e ano) 
 b. no espaço (lugar onde se encontra) 
 
A orientação auto e alopsiquica servem, semilogicamente, para formar um 
conceito global de estado do psiquismo do paciente, pois, como já dissemos acima, 
nela intervém a maior parte das funções psíquicas. 
 
II. PSICOPATOLOGIA DA ORIENTAÇÃO 
 
A desorientação pode apresentar-se em qualquer enfermidade mental, na 
qual haja distúrbios da memória, das percepções, da consciência ou da atenção do 
 26 
paciente. Consequentemente, os transtornos da orientação observam-se tantos nos 
processos orgânico e tóxicos como nos psicogênicos. 
Quando a alteração acorre em um dos tipos de orientação, falamos em 
desorientação autopsiquica, respectivarncnte. Essa ultima será ainda espacial ou 
temporal, conforme o caso. Outras vezes a desorientação atinge ambos os tipos, 
falamos então, em desorientação completa ou falta de orientação. 
Segundo KARAEPELIN (citado pôr Iracy Doyle) (2), a desorientação pode 
respeitar vários mecanismos. Quando conseqüência de distúrbio da memória, ela á 
chamada desorientação amnésica, muito comum na demência senil, na síndrome de 
Korsakow, e também, em algumas outras demências. Quando decorre de idéias 
delirantes, fala-se em desorientação delirantes, observada freqüentemente em 
parafrênicos esquizofrênicos e em certos casos demenciais delirantes. 
 
PENSAMENTO 
 
I- CONCEITO E CARACTERES 
 
O Pensamento é o aspecto funcional da vida psicológica, mediante o qual 
os dados elaborados do conhecimento, isto é, as idéias, impulsionados por uma 
tendência determinante, selecionam-se e orientam-se ao redor de um propósito, 
mais ou menos consciente (tema) seguindo as vias estabelecidas pelo processo 
associativo. 
Mediante o pensamento elaboramos nossas idéias, as associamos 
estabelecemos a crítica que nos merecem e efetuamos as sínteses das coisas. Por 
este simples enunciado podemos nos dar conta da complexidade desta função. 
Estudaremos, sucessivamente, as distintas funções que integram o 
pensamento, para logo nos ocupar deste, como um fenômeno totalizador 
escreveremos, em primeiro lugar a ideação, em seguida associação de idéias e 
depois o juízo. 
 
a) IDEAÇÃO 
 
 27 
Denominamos idéia, toda a experiência psíquica que implica em 
conhecimento desde a vivência vaga até o mais claro conceito; em outras palavras, 
a concepção que forma na nossa mente de qualquer fato subjetivo ou objetivo. 
A ideação é o processo pelo qual nossa mente elabora idéias. Em 
psiquiatria as idéias interessam no que diz respeito a sua qualidade e quantidade. 
Quantitativamente interessa saber se um indivíduo tem muitas ou poucas idéias, em 
outras palavras, qual é o ―quantum‖ de seu capital ideativo. Do ponto de vista 
qualitativo, a investigação dirige-se a saber, se as idéias são simples, de índole 
concreta ou abstrata, de categoria superior. Nos estudos dos distúrbios do 
pensamento fazemos referência ao seu conteúdo patológico. 
 
b) ASSOCIAÇÕES DE ÍDEIAS 
 
Ao mecanismo psíquico, através do qual conectamos uma idéia com 
outra, denominamos, associação de idéias. As quatro leis que regulam o processo 
associativo são conhecidas desde a antigüidade e são: 
 
 1) Lei da contiguidade espacial 
2) Lei da contiguidade temporal3) Lei da semelhança externa 
 4) Lei da semelhança interna 
 
1) A lei da contiguidade espacial, postula que duas ou mais idéias se 
associam porque correspondem à fatos ou estímulos recebidos no mesmo lugar. 
Assim, por exemplo, se nos recordamos do céu, pensamos logo em estrelas. A 
lembrança da escola acompanha-se da imagem do professor e colegas, etc. 
2) Contiguidade temporal: estabelece esta lei, que duas ou mais idéias se 
associam porque correspondem a fatos e ou estímulos recebidos no mesmo 
momento. 
3) Semelhança externa: esta finalmente diz que duas ou mais idéias se 
associam porque correspondem a fatos ou estímulos recebidos, que tem para o 
indivíduo o mesmo valor significativo ou intrínseco. 
 28 
Se deixarmos que nossa mente associe livremente suas idéias, 
obteremos uma exposição ideativa pouco útil para o intelecto, mas é justamente a 
associação livre uma das fontes, de que se valeu FREUD para realizar o estudo do 
inconsciente. 
Do ponto de vista psiquiátrico, interessa observar se a associação de 
idéias realiza-se num ritmo normal e se seu conteúdo efetua-se de uma forma 
coerente. 
 
c) JUIZO: 
Por juízo se entende a capacidade para comparar os fatos, idéias, 
compreender suas relações e tirar conclusões. Representa uma síntese mental; 
integra todas as funções da personalidade, mas é particularmente influenciada pela 
compreensão do paciente e pôr fatores emocionais. 
É fácil compreender que o juízo é de grande importância, no que, diz 
respeito aos doentes mentais, pois representa a capacidade pessoal de resolver 
situações, aprovando-as ou desaprovando-as. Classicamente é o elemento de que 
se valem os psiquiatras para julgar se um paciente é psicótico ou não. 
Distingue-se juízo subjetivo (ou autocrítica, ou ainda introspecção) 
quando dirigido ao próprio indivíduo e juízo objetivo (hetero-crítica) quando se dirige 
ao mundo externo. 
Em psicanálise é comum o emprego do termo: juízo de realidade, ou 
exame da realidade para designar o processo mental mediante o qual somos 
capazes de distinguir um estímulo interno de um estímulo externo (GARMA). 
 
II - PSICOPATOLOGIA DO PENSAMENTO 
 
O pensamento, como atividade psíquica, é uma. forma de expressão da 
personalidade, uma manifestação que implica na existência de um estímulo e de 
uma resposta, tendendo para um fim. Possue, pôr isso, uma força impulsora, de 
origem instintiva e uma tendência diretriz, uma forma de progressão e um conteúdo. 
De acordo com esses conceitos dividiremos os distúrbios do pensamento 
em; 
 29 
 
a) – distúrbio da produção 
b) – distúrbio do curso do pensamento 
c) – distúrbio do conteúdo 
 
a) Distúrbio da produção: 
 
O pensamento do homem adulto, civilizado, é orientado por um critério 
racional, de acordo com os princípios básicos de contradição e de causalidade. É 
um pensamento estatístico, no qual as tendências afetivas são corrigidas pela razão 
e pela lógica. Denomina-se, por isso, pensamento lógico (realista ou racional). Por 
oposição, temos o pensamento mágico que é o tipo de pensamento do homem 
primitivo , do selvagem de nossos dias e das crianças. 
O pensamento mágico não segue os princípios racionais da lógica; é pré-
lógico, mais depende das influências afetivas, representando uma etapa menos 
evoluída do funcionamento psíquico. Rege -se pôr princípios mágicos de prazer. 
1 - As coisas transmitem suas propriedades ao que se encontram próximo 
no espaço e no tempo assim a casa e os objetos do chefe da tribo 
adquirem as propriedades do mesmo e os talismãs que entram em 
contato com o feiticeiro passam a gozar de propriedades 
sobrenaturais. 
2 - Dois objetos que se parecem exteriormente tem propriedades 
semelhantes, e, finalmente 
3 - A parte tem o valor do todo. 
 
O pensamento mágico emprega os mitos e nas lendas da humanidade. É 
a forma. de pensar a que regride o homem normal no sono ,e o doente na psicose. É 
também chamado por BLEURER (1), autismo ou dereistico. Em doentes mentais, 
particularmente nos esquizofrênicos, encontramos esta forma de pensamento. 
 
b) Distúrbios no curso do pensamento 
 
 30 
O ritmo e a forma da atividade associativa, não pode ser conhecido, por 
suposto, sem o discurso do paciente. É fácil observar-se que, quando se expressam 
os pensamentos por meio da linguagem existe um constante encadeamento, de uma 
das idéias com a que a procede, isto é, o pensamento é conhecido, habitualmente 
com a denominação de curso do pensamento, ou curso da conversação. 
Normalmente a ordenação coerente e lógica das idéias e afins, e passa-se 
ininterruptamente e sem desvios, da idéia inicial a afim. Quando isso não ocorrer, 
teremos um dos seguintes distúrbios: 
 
1) Fuga de idéias: 
 
Em algumas enfermidades mentais existe uma perturbação do curso do 
pensamento, caracterizada por um aumento da atividade associativa, e por um 
desvio rápido de uma idéia à outra; as idéias então, seguem uma sucessão rápida, 
mas não progridem para uma idéia final, de modo que esta nunca é alcançada. A 
isso denomina-se fuga de idéias, quase sempre encontra-se associada a uma 
hiperprosexia que faz com que o paciente seja incapaz de manter a atenção 
necessária para guiá-lo a uma idéia final. O observador pode descobrir, geralmente, 
uma conexão entre alguma idéia ou algum estímulo fugaz, uma percepção ocasional 
do ambiente, recolhida no momento, ou também pode estar condicionada nas 
lembranças que não vem ao caso. Um exemplo esclarecerá melhor: 
 
Exemplo I - ―Boa tarde .Sim, boa tarde ,se a vida é tão doce como o mel 
.Também lhe agrada o açucar-fábrica de açucar-a-cana e a corda não queres te 
enforcar? Assassino - pai de assassino – pescoço - colarinho de camisa branca 
como a neve e a inocência - Ah, ingênua inocência, como uma jovenzinha, etc.‖ 
Exemplo II - ‖ A um doente se perguntou como estava passando: estou 
como sou - em que regimento servi? O senhor comandante está em casa— em 
minha casa, em minha sala— o senhor viu o doutor sala? o senhor Koch, o senhor 
conhece Virchow? o senhor está com a peste de cólera? Ah, que relógio mais 
bonito. Que horas são?‖ 
As vezes a associação se estabelece com uma palavra de som 
 31 
semelhante, mas sem ter o significado relacionado a este fenômeno. Este fenômeno 
se denomina associação por assonência. Vejamos um exemplo: 
 Exemplo III - Se perguntou a um paciente se estava triste, e este 
respondeu: Sim se tem que estar calado para se estar triste. Tudo que tem que ver 
com ―S‖ é silencioso: sentar-se, soluçar, suspirar, pesar, acabar-se, valor, doce 
amor-de-mãe, salvação. 
(Esse exemplo foi extraído de NOYES, e em inglês a letra inicial de triste, 
―sad‖, á a mesma que a de todos os outros termos traduzidos: sit, sob, sigh, sorrow, 
surcease, sought, sweet mother’s love,salvation.) 
A fuga de idéias é típica nos estados maníacos e é considerada um dos 
sintomas fundamentais do síndrome maníaco. 
 
2) Inibição do pensamento: 
 
Como acabamos de ver, na fuga de idéias o curso do pensamento é 
anormalmente rápido. Na inibição ocorre o contrário. É uma alteração na qual, tanto 
o início quanto o curso do pensamento são muito lentos. Encontra-se então um 
doente falando devagar e habitualmente em voz baixa. Algumas vezes o doente 
queixa-se que seus pensamentos vem muito lentamente ou que tem dificuldades 
para pensar. A inibição se observa mais freqüentemente em síndromes depressivos, 
mas pode ocorrer também na esquizofrenia. 
 
3) Perseveração: 
 
Esse sintoma consiste na repetição automática e freqüente de idéias que 
são introduzidas como um material de recheio, para preencher as falhas na 
evocaçãode novos elementos. Alguns autores chamam a perseveração verbal de 
uma ou duas palavras de embolia. 
A perseveração pode ocorrer nos estudos de inibição do pensamento, e 
nos débeis mentais. Normalmente ocorre entre nós: o ―naturalmente‖, o ―aliás‖, o 
―não é‖, que exercem a função de reduzir a insegurança do orador. 
 
 32 
4) Prolixidade: 
 
É o termo usado para designar a minuciosidade excessiva do 
pensamento ao contrário da fuga de idéias, o pensamento prolixo pouco muda de 
tema, exibindo uma espécie de aderência viscosa aos assuntos. Neste distúrbio o 
enfermo alcança, finalmente, seu objetivo ideatório, mas só depois de múltiplos 
detalhes triviais ou desnecessários, que o fazem em divagações tediosas. A 
prolixidade apresenta-se, principalmente, em pessoas que não formam conceitos 
definidos ou que são incapazes de distinguir o essencial do secundário. É 
freqüentemente observada nos débeis mentais, epilépticos e em casos pouco 
avançados de psicose senil. Um exemplo esclarecerá melhor: 
 
―Hoje faz oito dias que me encontro aqui, e digo a vocês que não se pode 
encontrar palavras de alcance suficiente para dizer, sem exagerar, quanto fizeram 
por mim, especialmente no curto tempo que aqui me encontro. Porque quando vim, 
me encontrava de um modo tal, que parecia impossível em tão curto tempo melhorar 
deste jeito. É possível que isto tenha contribuído, de grande maneira, minha colossal 
força de vontade e também seus excelentes métodos de cura. Mas de toda maneira 
sua conduta para comigo é tão digna de apreço que não se pode encontrar palavras 
para alcança-la, e pôr isso eu desejo dar-lhes os mais expressivos agradecimentos, 
assim como ao Dr. R., que tanto influiu para que eu viesse aqui. Pelo que faz 
referencia a minha pessoa, penso alcançar colossalmente os resultados que se 
obtém neste sanatório, cuja obra é digna de todos os elogios, ainda que a vocês 
acabe prejudicial financeiramente. Por isto vocês merecem por seus esforços não só 
um reconhecimento financeiro, como também o agradecimento e a moral mais 
manifesta e lhes posso assegurar que hei de fazer o possível para dar a conhecer 
sua excelente obra nos jornais locais‖. 
 
5) Desagregação do pensamento: 
 
Esse sintoma foi estudado, principalmente por BLEURER(l), e 
apresentado como um dos sintomas básicos da esquizofrenia. ―As associações 
 33 
perdem suas conexões normais e, dos milhares de fios que conduzem nosso 
pensamento, a doença rompe de um modo irregular, aqui e ali outro e mais além, 
um grande número deles.‖ Muitas vezes: duas idéias que casualmente se juntam 
são fundidas em uma só, e fragmentos de idéias se confundem também, 
incorretamente, para formar outra que torna-se absurda‖. (1) 
Interpretando este conceito de BLEURER, que o pensamento 
desagregado mostra-se despedaçado e desorganizado, vemos que, nele somente 
estão distribuídas as ligações associativas normais, como a estrutura das próprias 
idéias. Assim, no pensamento desagregado perde-se toda a coerência, não só no 
seu conjunto, como em seus termos ou idéias. BLEURER dá tão grande importância 
a esse sintoma que diz que sempre que tivermos uma desagregação coexistindo ao 
lado de uma boa orientação, no meio ambiente, estamos capacitados a fazer o 
diagnóstico de esquizofrenia. Veja-nos alguns exemplos: 
Exemplo I - ―Por obrigação de todo cidadão - reconhecia a profissão de 
torneiro - vencendo o mês presente - pendentes das enfermidades da membrana - e 
como toda a desordem procede da luxuria e o maltrato é incessante por não se ater 
aos preceitos da higiene - aqui ao dizer - que não se muda de conduta — e que 
ninguém responde por nós. 
Exemplo II – ―Um concurso de óperas e, portanto dos idiomas sem 
tradução difícil como sua música, fazendo esta a letra e a letra esta, senão os que 
se acreditavam capazes para construir uma grande vitória, alguns, sobretudo os que 
não tiveram arte nem honra, tal haviam fundido fazendo e compondo em cada país 
e...etc.‖(8) 
Diferencia-se da fuga de idéias, pois o examinador é capaz de perder a 
mudança do rumo do pensamento e, apesar de ter sido relegado a plano secundário 
a diretriz, se conservam as conexões normais, entre partes do discurso, enquanto 
que, na desagregação, diz BLEURER, ―parece que as idéias foram jogadas em um 
recipiente, intimamente misturadas logo, por ação da casualidade foram saindo, 
novamente sem relação alguma. 
 
6) Interceptação 
 
 34 
Neste transtorno, que às vezes se denomina bloqueio ou perda de 
pensamento, tanto a expressão, como o curso de pensamento cessam 
bruscamente. Algumas vezes a. interrupção é só momentânea e passados alguns 
segundos se completa o pensamento, mas algumas vezes é definitiva e começa 
outro pensamento, completamente diferente. O bloqueio do pensamento é uma 
condição determinante de sua desagregação, mas pode observar-se, isoladamente, 
principalmente nas fases iniciais do processo esquizofrênico. A interceptação pode 
ser devida a um pensamento definido, ou melhor, ao afeto desagradável a que está 
ligado, mas rapidamente se generaliza de tal maneira, que nenhum pensamento 
pode ser iniciado. Este distúrbio é característico da esquizofrenia. 
 
C) Distúrbio no conteúdo do pensamento: 
 
1) Inclinações e idéias super valorizadas: 
 
A evolução associativa das idéias e naturalmente, o conteúdo do 
pensamento mostra urna tendência a ser determinada, mais por fatores afetivos, do 
que por fatores lógicos; as idéias que tem carga afetiva mais forte tendem a 
dominar. É a isto que se deve que o conteúdo do pensamento possa mostrar uma 
inclinação, ou seja, uma propensão para se centralizar ao redor de um tópico 
especial. Quando uma idéia chega a ter uma tonalidade afetiva muito intensa, ligada 
a ela, denomina-se idéias super valorizadas. A importância, o valor e o significado 
atribuídos a uma idéia, são diretamente proporcionais a necessidade interna de tal 
crença. Quando existe uma idéia super valorizada o indivíduo torna-se cego para 
todo o resto e selecionará, unicamente, aquelas lembranças e observações que 
convenham ao seu propósito de confirmá-la; toda a personalidade é absorvida pela 
idéia, e posta a sua disposição, resultando disso que a idéia super valorizada venha, 
a ser um determinante de grande importância na conduta. 
 
2) Delírios: 
 
Denomina-se delírio a uma idéia, ou conjunto de idéias erradas, aceitas 
 35 
pelo juízo de realidade. Em geral o delírio se caracteriza: 
a) Pela falta de consciência do Transtorno. 
b) Irredutibilidade 
c) Pela tendência à difusão 
 
Classificação dos delírios 
 
Dinamicamente, os delírios são a expressão deformada ou não de um 
impulso inconsciente. De acordo com sua estrutura, poderemos distinguir delírios 
não sistematizados, caracterizados pela ausência de uma interpretação total dos 
conteúdos delirantes, de tal modo, que o todo se apresenta como deformado de 
pequenos fragmentos, sem associação muito precisa, e delírios sistematizados em 
que existe interpretação total, a tal ponto que em muitos casos, todos os novos 
dados do conhecimento são elaborados pelo prisma delirante. 
Em relação à sua evolução, é clássico distinguir os delírios em agudos e 
crônicos. Quando os delírios evoluem por fases, aparecendo e desaparecendo, 
falamos em delírios intermitentes. Estáveis, são os que se mantêm sem alterações 
durante longos períodos e, as vezes, durante toda a evolução da doença. Quanto a 
forma descreveremos as seguintes variedades: 
 
1- Delírio de grandeza 
2- Delírio de auto-acusação 
3- Delírio persecutório 
4- Idéias de referência. 
5- Delírio de infIuência 
6- Delírio hipocondríaco7- Delírio niilista ou de negação 
8- Delírio melancólico 
9- Delírio místico 
10- Delírio reformador 
11- Delírio de invenção 
12- Delírio de ciúmes 
 36 
13- Delírio de descendência 
 
1 - Delírio de grandeza: 
Caracteriza-se pelo aumento subjetivo de todos os valores relativos à 
personalidade: o doente acredita-se poderoso, rico, belo, forte, amado, etc. 
característico dos estados maniacos e da paranóia. Dinâmicamente podem ser 
entendidos como uma reação aos sentimentos de onipotência 
 
2 - Delírio de auto-acusação 
Conforme o próprio nome indica, nesse tipo de atividade delirante o 
enfermo se arvora em juiz inflexível, severo de suas próprias ações, e pensamentos 
passados e presentes. Os atos mais insignificantes e aparentemente inocentes são 
considerados pelo próprio autor, como reveladores de grande maldade. Além disso, 
memórias falsas procuram convencer o indivíduo de que ele é responsável pôr 
crimes, que na realidade não foram cometidos. Muitas vezes o doente se apresenta 
à polícia pede que seja encarcerado, como um criminoso da mais baixa raIé. 
 
3 - Delírios melancólicos depressivos: 
Arquiteta-se sobre um fundo de tristeza e pessimismo. O tema delirante 
relaciona-se vida presente e futura que aparece com as cores mais escuras 
possíveis. O paciente e a família estão ou ficarão completamente arruinados; estão 
condenados e a morte apresenta-se como a melhor solução para todo o sofrimento. 
Tal forma de perturbação do pensamento, ocupa lugar intermediário, no ponto de 
vista descritivo, entre os delírios de perseguição, no qual a infelicidade é sempre 
proporcionada por terceiros, e o delírio de auto-acusação, em que o indivíduo torna-
se infeliz por suas próprias faltas; no delírio melancólico não se trata de inimigos, 
nem de expiação; o paciente é pura e simplesmente vítima da fatalidade ou do 
destino. Se quizermos apurar, superficialmente a razão de tantos infortúnios, não 
conseguiremos mais que evasivas; ―as coisas estão se passando como tem de se 
passar dentro do seu curso natural‖. 
 
4 - Delírios persecutórios: 
 37 
Constitui o mais frequente dos delírios da nossa cultura e se apresenta, 
especialmente, nas enfermidades mentais crônicas. Na formação dos delírios de 
perseguição o mecanismo utilizado é a da projeção. As idéias agressivas e hostís 
oue o doente atribui a outro, refletem seus próprios desejos. 
 
5 – Idéias de referência: 
Por meio delas, algumas ações ou observações de outras pessoas, que 
não se referem ao observador, são, entretanto, por ele interpretadas, como muito 
significativarnente relacionadas consigo, sendo seguidamente interpretadas como 
acusação ou desprezo. São frequentemente encontrados nos estados paranóides e 
depressivos. 
 
6 - Delírio de influência: 
Não raramente aparece associado a idéia de perseguição. Nesta forma 
delirante o indivíduo sente a modificação do EGO, mas a atribui à influência de 
forças naturais ou sobrenaturais, situadas fora dele; tais forças exteriores impõem-
lhe pensamentos, orientam suas ações, modificam o estado de suas visceras e 
podem chegar até a alterar-lhe a aparência física. O que caracteriza essa forma 
delirante do ponto de vista semiótico, é que ela exige para seu aparecimento, a 
desagregação do pensamento e o predominio do pensamento lógico. A entidade 
nosológica em que os delírios de influência campeiam com mais frequência e 
intensidade é a esquizofrenia, principalmente na forma paranóide. 
 
7 - Delírio místico: 
Embora se caracterize na superfície por idéias de natureza religiosa, que 
podem ser tão intensas que levem ao estado de êxtase, esse delírio, não raro, 
encobre a preocupação de natureza erótica, acompanhando-se de pseudo-
percepções cenestésicas e táteis,cujo caráter sexual é evidente. IRACY DOYLE cita 
um exemplo de um paciente que protegia as partes genitais com imagens de santos, 
explicando que, assim procurava defender-se do impulso da masturbação; no 
decorrer do tratamento explicou que o crucifíxo que tinha entre os membros 
inferiores não bastava para apaziguar seus impulsos eróticos, pois, experimentava 
 38 
excitação erótica quando o comprimia entre as coxas. 
A situação nosológica do delírio mistico é muito variada; podemos nos 
estados crepusculares epilépticos, nas psicoses tóxicas, na esquizofrenia e em 
certos psicopatas. 
 
8 - Delírio Hipocondríaco: 
Caracteriza-se pela presença de crenças e preocupações injustificadas e 
irredutíveis, em relação ao estado de saúde corporal. Os pacientes vitimas deste 
delírio declaram a sua convicção de que estão afetados de graves doenças; os 
sintomas subjetivos que acusam são quase sempre expressão de alterações 
cenestésicas ou interpretação mórbida de sensações normais. 
 
9 - Delírio niilista ou de negação 
Em casos graves de delírios hipocondríacos, como na depressão 
melancólica bem acentuada, o paciente pode chegar a negar a própria existência 
física, ou a realidade de um de seus órgãos. Um portador de delirio de negação 
afirma, pôr exemplo, que está morto; outro diz que não tem coração, nem cérebro, 
nem estômago; há os que afirmam que seu corpo há muito se decompôs. etc. 
As vezes a prórpria conduta do paciente se harmoniza com as 
preocupações delirantes; porque nega a existência dos olhos, um afirma que não 
pode ver, outro nega a audição não ouvindo ordens .Em casos graves os doentes 
fogem das correntes de ar e pedem encarecidamente que ninguém lhes toque, com, 
medo de que seu corpo se desfaça com simples contato. 
 
10 - Delírio da invenção: 
Na base de princípios, maís ou menos corretos, extraidos de livros 
científicos, ou do próprio conhecimento pessoaI, o inventor delirante chega à 
obtencão de resultados falsos, que são refugados por todo o mundo que conheça o 
assunto, com a indignação de seu criador. Na maioria dos casos trata-se de inventos 
com escasssa finalidade prática cuja importância teórica é acentuada por seu autor. 
Diante do pouco caso que dão à sua invenção, rápidamente se junta ao quadro, um 
delirio de perseguição. 
 39 
Parece que dinâmicamente, a invenção simbolizaria a masturbação. 
 
11 - Delirio de descendência 
O paciente crê-se filho de algum personagem ilustre, ao mesmo tempo 
que nega seus verdadeiros pais. 
 
12 - Delírio reformador: 
Conforme o nome indica, integram esse delirio, preocupações relativas à 
modificações da realidade ambiental. 
Naturalmente que o delirante reformador não se limita a fantasiar planos 
idealistas e colocá-los no papel, mas trata-se de propagar as suas idéias por todos 
os meios ao seu alcance. 
As idéias delirantes do verdadeiro reformador idealista são mais ou 
menos sistematizadas, e apresentam-se mescladas com ídéias filosóficas ou 
religiosas. 
O limite de separação entre esses enfermos e os reformadores sociais é 
muito tênue. Apresenta-se, frequentemente em pacientes paranóicos. 
 
13 - Delírio de ciúme: 
É a convicção inabalável de traição por parte da pessoa amada, embora 
não haja qualquer base real, no passado ou presente. 
Embora não seja privilégio de uma entidade nosológica definida, o delirio 
de ciúme é muito observado nos alcoolistas crônicos, nas personalidades psicóticas, 
e no transcurso de vários estados psicóticos, de tonalidade depressiva ou paranóide. 
 
3) Obsessões: 
Assim se denominam os pensamentos que por si só irrompem na 
consciência contra o desejo consciente do doente, que não compreende seu 
significado e se esforça em rechaça-los, sem conseguir. São três as características 
principais da obsessão: não são desejada, não são compreendidas e não podem ser 
rechaçadas, apesar de que o indlvíduo nãocompreende sua razão de ser. 
Apresentam-se com uma intensidade variada. Estes pensamentos em si de escassa 
 40 
tonalidade afetiva, despertam no paciente reações emocionais intensas que lhe são 
extremamente desagradáveis. Os pensamentos obsessivos estão estreitamente 
relacionados com atos compulsivos os quais depois de uma penosa resistência, o 
paciente vê-se obrigado a cometer atos que por sua elaboração e repetição parecem 
quase um ritual. 
Estes pensamentos obsessivos, tomam frequentemente o aspecto de 
repetidas dúvidas, de ter feito bem ou mal uma atividade qualquer. Frequentemente 
também, são as obsessões de contraste que, por exemplo ocorrem num individuo 
reIigioso quando em meio a uma oração lhe irrompem pensamentos obscenos. 
Exemplo I – Um jovem portador de uma grave neurose obsessiva, sentia-
se compelido subitamente a parar um momento enquanto caminhava, e desenvolvia 
a seguinte cadeia obsessiva de idéias: ―moverei primeíro meu pé esquerdo?—sim 
pisarei primeíro com meu pé esquerdo. Mas posso pisar prirneiro com meu pé 
direito, de maneira que pisarei primeiro com meu pé direito.‖ 
Estes pensamentos são derivados de impulsos reprimidos e realizam o 
conteúdo deles, a defesa ou ambos sucessiva ou simultaneamente. No conteúdo, 
avultam os conflitos masturbatórios, anais e edípicos. 
 
4) Fobias: 
As fobias, ou temores são semelhantes aos pensamentos obsessivos. 
Como no pensamento obsessivo, as fobias irrompem persistentemente na 
consciência, e como a ansiedade é acompanhante obrigatória da fobia a pessoa 
possuidora está constantemente angustiada apesar de reconhecer os absurdos de 
seus temores. 
A fobia é uma defesa que se faz mediante a projeção do conflito, sobre 
um conteúdo ideológico comumente neutro. Ao entrar o paciente em contato com as 
situações fóbicas as crises tendem a ser desencadeadas. A relação fobia-conflito, 
por vezes, é fácilmente compreensível, outras porém são mais dissimuladas. De um 
modo geral, ―o temido é inconscientemente desejado‖. 
 A eleição do objeto fóbico é determinada pela história individual. As 
fobias mais comuns são: medo de determinados alimentos, de andar, de viajar, 
medo de espaços abertos, de multidões, de espaços fechados (claustrofobia), medo 
 41 
de animais (zoofobia), medo de enrudescer (eritrofobia), medo de sujeira 
(misofobia), medo de morte (tanafobia), medo de doenças (nosofobia), etc.. 
 
5) Incoerência do pensamento: 
Incluida por alguns autores como transtorno do curso do pensamento, e 
por outros como de conteúdo. A nós parece mais razoável a segunda hipótese, já 
que a incoerência é a conseqüência de distúrbios do curso do pensamento, tais 
como fuga de idéias muito intensas, de desagregação, de interceptações freqüentes. 
Por causa desses distúrbios do curso, o conteúdo do pensamento pode tornar-se 
incoerente. 
 
LINGUAGEM 
 
I - CONCEITO E CARACTERES 
 
Linguagem é o conjunto de sinais convencionais que utiliza o homem para 
expressar seus pensamentos e sentimentos. Em outras palavras é o modo de 
expressar-se. 
Considerada pela maioria dos autores, em aspectos motores da conduta, 
é considerada por outros isoladamente . 
Constituindo a linguagem a forma de expressar os pensamentos e os 
sentimentos deduz-se que quando se acham perturbados estes transtornos se 
traduzem também na linguagem. Daí a importância de seu estudo. 
Tomando a linguagem como meio de expressão ela podem ser: 
1 – oral. 
2 – escrita. 
3 – mímica. 
Examinaremos a seguir a psicopatologia de cada uma destas formas. 
 
II) PSICOPATOLOGIA DA LINGUAGEM ORAL: 
 
Encontramos duas grandes perturbações da linguagem oral: 
 42 
1 ) Perturbações causadas nos processos afetivos com integridade dos 
elementos encarregados da articulação da linguagem (DISLOGIA) 
2 ) Modificações na emissão da linguagem oral. 
 
1- Perturbações da linguagem oral, por perturbações afetivas (dislogias) 
Incluem-se sob este título todos os casos nos quais a expressão verbal 
apresenta-se perturbada por causas afetivas, sem que haja comprometimento dos 
elementos encarregados da articulação da linguagem: 
 
a) Verborréia ou Taquilalia 
Aceleração da velocidade de expressão por aceleração associativa. 
Característica dos estados de excitação. Alguns autores distinguem a logorréia que 
se distinguiria da verborréia por: 
1- constituir sintomas conscientes e molestos para o paciente. 
2- e o conteúdo verbal é mais elementar e perseverante de que na 
verborrréia. 
 
b) Jargonofasia 
As vezes a verborréia adota a forma, na qual a linguagem realiza-se pela 
justaposição arbitrária e incompreensível de elementos verbais, sem a menor 
relação de significado. ―É a clássica salada de palavras‖. 
 
c) Verbigeração 
As vezes a verborréia adota esta forma, monólogo repetido 
monótonamente uma infinidade de vezes, e constituidas por pedaços de frases, ou 
de inflexões verbais sem sentido. 
Tanto a jargonofasia como a verbigeração encontram-se de preferência 
nos estados avançados da esquizofrenia. 
 
d) Bradilalia 
Diminuição da velocidade de expressão por lentidão associativa. Aparece 
nos melancólicos, nos confusos mentais, etc.. 
 43 
 
e) Mutismo 
Consiste na inibição voluntária ou semi-voluntária da palavra falada e 
deve ser distinguido da afasia, na qual o paciente não fala porque não pode falar e o 
no mutismo, seria capaz de falar se a isso se resolvesse. Naturalmente a atitude de 
silêncio sistemático obedece a vários mecanismos e motivações diversas, o mutismo 
pode ser consequência de desinteresse, como acontece em certos casos de 
esquizofrenia. Há o mutismo dos melancôlicos, que tanto não falam como não agem 
porque estão certos da inutilidade de qualquer esforço; É o mutismo pessimista. O 
mutismo pode ainda indicar uma forma disfarçada de agressão, etc.. 
 
f) Neologismos: 
A criação de palavras por condensação de outras, a deformação de 
vocábulos ou o emprego de novas palavras conhecidas em uma nova relação de 
significados chama-se neologismos. Distinguem-se os neologismos em ativos e 
passivos. Neologismos passivos são palavras consagradas pelo uso as quais o 
paciente imprime sentidos completamente novo; neologismo ativo consiste na 
criação de palavras. Este sintoma encontra-se com mais pureza e mais 
freqüentemente na esquizofrenia. 
 
g) Paralogia: 
Definida como o emprego de respostas verbais sistematicamente 
inadequadas as perguntas, mas ligadas a ela por uma certa relação o sentido, por 
exemplo perguntou-se a um doente onde ele nasceu e ele respondeu: - quando eu 
nasci estava chovendo, este sintoma é também chamado pararesposta ou ―reposta 
ao lado‖. 
 h) Ecolalia: 
Repetição como se fosse um eco, da última palavra do interlocutor. 
 
 i) Estereotipia Verbal: 
Forma parte dos grupos das estereotipias (de atitudes de movimento, 
etc.) e consiste na repetição automática de uma palavra, sílaba ou som. 
 44 
 
2 - MODIFICAÇÃO DA LINGUAGEM ORAL: 
 
Compreende um. vasto grupo de perturbações que podem ser 
classificadas em: 
 
A) Disartrias: 
Chama-se disartria a um verdadeiro tropeço ou ―engrolar‖ silábico que 
impede o correto pronunciamento das palavras. Distinguem-se dois tipos de 
Disartria: um caracterizado por tremor da palavra e o outro por ataxia. As vezes, a 
disartria é tão acentuada que se deixa perceber na simples palestra que mantemos 
com o paciente, outras vezes, há necessidade de aplicação de teste usando 
palavras que evidenciam o sintoma; especialmente úteis são os vocábulos que 
encerram consoantes labiais e palatais, como por exemplo, paralelepipedo, clinica

Continue navegando